Comentários – Prof. Fernando 15 de maio = Quarto Domingo da Páscoa 2011
Da 1ª leitura:At 2,14.36-41 - E vós recebereis o dom do Espírito Santo
Do Salmo de resposta: Sl 23 –
O Senhor é o pastor que me conduz me preparais uma mesa bem à vista do inimigo
Da 2ª leitura: Pd 2,20-25 –
Éreis ovelhas desgarradas, agora voltastes ao pastor e guarda de vossas vidas
Da leitura do Evangelho: Jo 10,1-10 –
Quem entra pela porta é o pastor; as ovelhas escutam a sua voz
ele as chama pelo nome elas o seguem porque conhecem a sua voz.
o ladrão só vem para roubar, matar e destruir.
Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância".
O CONTEXTO AGROPECUÁRIO E POÉTICO DOS TEXTOS DE HOJE
Em Atos nos é dito que recebemos uma doação magnífica: o próprio Espírito de Deus. As demais leituras traduzem que dom é esse (que é nosso mas doqual geralmente nem nos damos conta). Para apontar o dom de Deus é usada uma imagem tão antiga quanto a cultura do Oriente e a própria Bíblia: a imagem do Pastor.
Nossa cultura não entende bem essa figura. Nossas crianças e muitas gerações nem sabem às vezes o que é uma ovelha. Ou a conhecem apenas pelo desenho animado ou pela televisão. Antes de meditar sobre as leituras do dia lembremos que a imagem do Pastor e das ovelhas era bem conhecida no mundo antigo e, portanto, dos ouvintes de Jesus. Em geral à noite, enquanto os pastores encontravam algum descanso, um aprisco ou em pasto cercado podia Sr guardado pelos "mercenários" que eram pagos para ser com vigias da noite. Nesse aprisco podiam misturar-se rebanhos diversos. Pela manhã cada pastor podia chamar suas próprias ovelhas porque elas distinguiam a voz do seu pastor e então o seguiam em busca de melhores pastagens durante o dia. Nesse contexto podemos retomar os versos do Salmo, a carta de Pedro e o cap.10 do texto de João.
O PARADOXO PARECE UMA CONTRADIÇÃO
Entretanto, mesmo para os ouvintes de Jesus, havia na parábola do Bom Pastor um paradoxo. É que ser pastor era uma atividade econômica e comercial e os rebanhos representavam lã, leite e carne para o consumo nessa sociedade agropecuária. Mas nessa parábola, é o Pastor que dá sua vida pelas suas ovelhas. Foi isso que meditamos na Semana Santa. Essa inversão dos símbolos constitui a Páscoa.
Mas tudo parece confuso nos textos do evangelho pois o Cristo é ovelha entregue ao matadouro, como nos poemas de Isaías. Mas é também o Pastor. E é também a Porta do aprisco por onde nós podemos entrar e sair. Ele, com lembra Pedro em sua carta, é pastor e guardião de nossa vida. E, no final do texto diz Jesus: Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.
NOSSO CONTEXTO: OVELHA TAMBÉM TEM LIBERDADE
Vivendo na roça ou na cidade, hoje nos defrontamos com muitos pastores e muitas vozes, muitos meios de comunicação, muitas igrejas, muitas práticas paroquiais e sermões. E até muitos textos e muitos comentários... como aqui...
Diz Jesus que há muitos ladrões e assaltantes (essa, sim, imagem bem conhecida, infelizmente, até por nossas crianças e tão diária na TV e noticiários. Eles têm uma característica para a gente poder distinguí-los: como nas chamadas de "falso sequestro" podem entrar até pelo telefone (ou pela internet). Mas não "entram pela porta". Não nos conhecem nem nós os conhecemos. Porém Jesus nos dá uma dica: podemos distinguir "sua voz".
Como em toda comparação, metáfora ou parábola, há mensagens e também cenários e adereços. Na vida precisamos também de um marcador de texto para sublinhar onde está o suco da mensagem sem nos perder em detalhes. Por exemplo, o termo "rebanho" nos remete à imagem negativa: seguir a massa, dispensa de pensar ou decidir por conta própria. Mas aqui se trata de Pastor e de ovelhas especiais. "Ele" nos conhece e nós - capazes de reconhecer sua voz. Ou não somos? Mas, foi para isso (primeira leitura) que o Espírito nos foi dado !
Repito um alerta apontado pelo teólogo M.Domergue (croire/ponto/com):
Ao usarmos o termo "igreja" cuidado para não pensarmos "massa", "multidão" e até mesmo "povo", na medida em que essas palavras indicarem o sentido de coletividade anônima. Ora, "Igreja" tem raízes tanto nas línguas bíblicas, por exemplo, pelo Hebraico, como pelo Grego ou Latim significando "convocação", isto é "chamado". De fato, Ele chama cada um "pelo seu nome". A unidade do "rebanho" não se reduz a nos sentirmos como um grande e poderoso corpo. O que experimentamos numa torcida de futebol, num show de rock ou música sertaneja, num auditório onde aplaudimos com entusiasmo. Até pode haver ocasião se sentir isso numa celebração religiosa.
Nossa unidade, porém – continua o autor acima citado – deve ser conjugação de diversidades. O que é difícil, começando por duas pessoas num casal. Somente Cristo pode chamar cada um pelo próprio nome. Só esse "único Pastor" pode nos ensinar, primeiro a escutar sua voz. Depois, a tentar e tentar sem descanso, procurar imitá-lo na relação com nossos companheiros e companheiras de estrada. Na vida e na sociedade. Na família e no trabalho. Em nossos grupos e comunidades. Na nossa cidade, mesmo no sofrimento e na dificuldade para distinguir a "voz do pastor" no meio da violência e do barulho.
A liturgia dominical de nada vale se não oportunidade de interiorização, sendo, ao mesmo tempo, síntese da semana e preparação para nossa oração particular onde temos a intimidade inviolável para conversar no Espírito que nos foi dado.
O resto é folclore. Pode ser festa mas pode ser também só diversão ou programa social. Impossível esquecer que não convivemos só com as "mansas ovelhas" nossos "semelhantes" como se diz. E que nem todos os governantes e pastores vieram "para servir e não para ser servidos"... Na parábola Jesus insistiu mais de uma vez: Cuidado para não abrir a porta para o ladrão e o assaltante>
Eu sou a porta.
Quem entrar por mim estará a salvo,
entrará e sairá e encontrará alimento.
O ladrão só vem para roubar, matar e destruir
Eu vim para que tenham vida
e a tenham em abundância.
oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo
( Prof. FernandoSM. – Rio de Janeiro – fesomor2@gmail.com )
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