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sábado, 18 de fevereiro de 2012

7º DOMINGO DO TEMPO COMUM


7º DOMINGO DO TEMPO COMUM

DOMINGO DIA 19 DE FEVEREIRO
Leitura Orante do Evangelho de Mc 2,1-12 - Diocese de Santos - Pe. Fernando Gross

Comentários-Prof.Fernando


LEVANTA PEGA TUA CAMA E ANDA
Introdução
E chegou o carnaval!

O carnaval é a mega festa popular  do povo brasileiro! A expressão pública dos impulsos reprimidos. Exemplo, vestir-se  de mulher.  É diversão sem freios, sem controle moral, e de costas para Deus. É a grande festa de satanás, disse alguém. A vontade de diversão a qualquer preço é tão forte  que leva o  folião a dançar em plena chuva torrencial sem se importar com a saúde.  E  aquela garota perguntou ao padre se era mesmo pecado brincar o carnaval? Resposta: brincar, pular, dançar em si, não tem nada a ver com  pecado. O pecado consiste nos efeitos colaterais, nos excessos cometidos durante o reinado de momo: São noites sem dormir, alimentação insuficiente, ausência quase que total de limites, incluindo no comportamento sexual. Durante a folia, pela força da juventude, e pela ingestão de bebidas e outras substâncias alucinógenas, quase nem se percebe o  estrago que se está fazendo em detrimento da própria saúde. É na quarta, na quinta e na sexta feira de cinzas que se descobre que “o nosso namoro virou cinzas porque o nosso amor foi uma brasa!”

Um  carnaval   sem polícia?  
Este ano de 2012 temos um freio a menos na folia do reinado de momo! A greve dos policiais, vai dar mais margens à plena libertinagem e a nossa segurança estará ameaçada durante 24 horas.
Sei que você está revoltado com essa greve, e já repetiu várias vezes que um serviço essencial como o da polícia, não pode entrar em greve. Ah é? Então me responda: Você arriscaria a sua vida por um salário de mil e poucos reais?  É isso mesmo! Enquanto um vereador ganha vários salários mínimos desprendendo  o mínimo de suor, um policial correndo o risco da própria vida e arriscando a segurança de sua família, tem de  sobreviver por um salário insuficiente para o seu sustento.
É claro que é um serviço essencial, é a nossa segurança em jogo, e por isso não deveria entrar em greve. Porém, a sobrevivência fala mais alto. E tem mais. Se existe corrupção policial, a origem está exatamente nestes salários.
E o carnaval sem polícia? Como será? Você está pensando nisso?  Os seus filhos vão sair por aí nas noites de folia? Como será o seu sono? Sua tranquilidade?
Você vai viajar? Quem tomará conta de sua residência? 
Parece que diante de tanta injustiça gerada pelo abuso de poder, pelo egoísmo, só resta-nos pedir a você que é cristão cristã praticante, que durante as noites de folia, vai estar de forma contrita na presença de Deus, seja num retiro espiritual, seja em sua casa, que reze sem cessaar pela nossa juventude que nesses dias está sendo manobrada pelos inimigos da família e pelos descrentes.
Sal.


Somos escolhidos - Sal


19 de fevereiro

Domingo

Prezados irmãos. Paulo hoje nos diz que Deus também nos ungiu, derramando o Espírito Santo sobre nós. Nós que somos escolhidos para pregar o  Evangelho para o mundo. Portanto, não sejamos exibidos, porém, não sejamos tímidos. Com o coração contrito e com a devida humildade, nos apresentemos diante das pessoas, seja na Igreja, seja na catequese ou onde for possível, para anunciar Cristo aos nossos irmãos. E devemos fazer isso com decisão, coragem, e com a certeza de que somos escolhidos de Deus para essa santa tarefa.
            Então Jesus disse àquele paralítico. “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Jesus disse uma frase que nenhum daqueles presentes esperava ouvir. O paralítico esperava ouvir algo do tipo: Seja curado... os demais, amontoados e espremidos ali para ver e ouvir o Filho do Homem, com certeza era a última coisa que esperavam ouvir.
Apesar de que na maneira de interpretar a Lei os judeus acreditavam que a doença era causada pelos pecados da pessoa, todos esperavam ouvir palavras de consolo e de cura. Mas Jesus pronunciou aquelas palavras para provocar os mestres da Lei que estavam ali sentados. E não deu outra. Eles murmuraram em suas mentes, sem pronunciar palavra alguma, dizendo:” Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecado senão Deus”.
No Evangelho de hoje, portanto, temos três provas da divindade de Cristo. Ele perdoa os pecados do paralítico, Ele advinha os pensamentos dos mestres da Lei, e finalmente Jesus cura aquele pobre homem, libertando-o da paralisia de nascença, deixando-o tão feliz e contente que saiu dando pulos de alegria, de forma que nem se lembrou de agradecer ao autor daquele grande milagre.
Vocês eu também somos assim. Por vezes, nos esquecemos de agradecer no final do dia, por tantas graças recebidas. Tem gente que diz: Que graça? Nada de especial aconteceu! Nem mesmo ganhei na Mega Sena, nem fui promovido nem tive o meu salário aumentado... no dia de hoje tudo não passou de mera rotina...
Pois é aí que nos enganamos, é assim que  somos ingratos para com Deus. Porque durante o dia todo Deus nos preservou a vida, cuidou de cada momento de nossa existência, de forma que até os sofrimentos que experimentamos, foram para a nossa santificação, e para caíssemos na realidade e corrigíssemos os nossos passos errados, como por exemplo, não beber demais, não comer tanta gordura, etc. Por isso, no final do dia, não nos esqueçamos de agradecer tudo, oferecendo os sofrimentos em perdão dos nossos muitos pecados. Por agradecer tudo, podemos incluir o fato de não ter sido assaltados, de não ter sofrido acidentes, de não ter nos desentendido ou entrado em atrito com nenhuma pessoa, entre outras coisinhas simples que no conjunto, completou o nosso dia.
Porém, é bom lembrar que não devemos ser egoístas em nossas orações, pois existe muita gente sofrendo em nossa volta, em outros lugares e em todo o mundo. Rezemos pois por nós e pelos nossos irmãos.   
Sal.
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Jesus perdoou e curou o paralítico – José da Cruz


                                         " Um perdão que escandaliza..." -Diácono José da Cruz
A Comunidade Judaica acreditava no perdão Divino dos pecados, mas era um perdão sempre reservado aos justos e piedosos observadores da Lei de Moisés, ou seja, se quisermos entender na linguagem de hoje, era um perdão dado a quem merecia e a ele fazia jus. Podemos dizer que é um perdão condicionado, igual aquele que muitas vezes damos a um filho, ao esposo ou esposa, quando pensamos ou até dizemos "olha, DESTA vez eu te perdôo"
Acreditar em um Deus assim, manifestado em Jesus Cristo, cuja relação para com os homens é marcado sempre pela gratuidade e incondicionalidade, é uma questão de Fé, hoje quase ninguém duvida da existência de Deus, porém, acreditar e se relacionar com um Deus totalmente amoroso e misericordioso, que nunca impõe mas que propõe, que nunca obriga mas convida, são poucos os que crêem.
Nossas comunidades são, ou deveriam ser sempre, um reflexo desse amor de Deus, igualmente nossas famílias, onde as relações de amor fraterno sabe sempre perdoar e ser paciente com  os irmãos. Para atingir esse ideal de Vida Cristã é sempre preciso superar muitas barreiras, subir em altos telhados, fazendo a experiência de Jesus em nossa vida.
Viver em comunidades cristãs nos dias de hoje é um grande desafio, justamente porque essas duas coisas são a essência que marca as nossas relações: gratuidade e alteridade, pois o mundo da pós modernidade nos direciona e impulsiona ao egocentrismo, mesmo n o âmbito religioso sofremos essa forte influência.
Por esta razão Jesus elogia a Fé daquela comunidade, que é capaz de enormes sacrifícios para levar cada pessoa a essa experiência pessoal com Jesus Cristo, a cura da enfermidade e o perdão dos pecados é consequência disso. O pecado do egoísmo nos faz paralíticos porque não nos deixa caminhar com os irmãos e irmãs. O perdão, a misericórdia e o amor Divino, que experimentamos na relação fraterna, nus cura e nos liberta de toda e qualquer paralisia.
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EM JESUS DEUS REVELA SUA MISERICÓRDIA PARA COM A HUMANIDADE
Pe. Erivaldo Gomes de Almeida
eri_gomesseminarista@yahoo.com.br
1-Quando olhamos para a história do Povo de Deus, percebemos por um lado a misericórdia de Deus e por outro o pecado e a infidelidade do povo. Apesar da infidelidade, Deus não se esquece do povo que escolheu para Si. Através de nossas fraquezas podemos perceber a presença misericordiosa de Deus.
Diante da possibilidade de castigar o Seu povo, Deus não o faz, antes, revela-se como aquele que está sempre disposto a perdoar: “Meu coração se comove dentro de mim, meu intimo freme de compaixão. Não darei largas ao ardor da minha ira” (Os 11,8-9).
2-A primeira leitura (Is 43,18-19.21-22.24b-25) é um lindo poema que delineia a relação entre Deus e o seu povo. Deixando evidente que Deus sempre nos oferece a possibilidade de refazer a nossa história. Não importa o que tenha feito no passado, importa o que estamos dispostos a fazer daqui para frente. Quando Jesus perdoava e acolhia os pecadores, ele não trazia à tona o passado destas pessoas para dar-lhes lição de moral, apenas as acolhia com amor. Quando Deus perdoa, não fica com ressentimentos, perdoa de verdade. É isso que ele quer fazer com cada um e nós, é isso que devemos fazer com as pessoas que vêm até nós em busca da reconciliação com Deus. Quando ficamos apegados somente ao nosso passado pecaminoso colocamos em nossa frente uma barreira que nos impede de reescrever nossa história a partir do encontro com Cristo.
3-No evangelho (Mc 2,1-12) encontramos uma cena no mínimo curiosa e cheia de simbolismos: Jesus em uma casa ensinando em meio a um aglomerado de pessoas. Um grupo que traz um paralítico e não encontrando espaço para aproximar-se de Jesus supera todas as barreiras e entra pelo teto.
4-Neste episódio, o evangelista Marcos apresenta Jesus revelando sua verdadeira identidade. É no Filho que o Pai revela sua face misericordiosa. Vejamos três pontos que revelam a divindade de Jesus:
·        Jesus perdoa os pecados daquele homem e provoca burburinhos de que está blasfemando. Só Deus tem o poder de perdoar os pecados e Jesus, diferentemente dos profetas que tudo faziam em nome de Deus, o faz em nome próprio, usando sempre a primeira pessoa, mostrando que Ele e o Pai são um. Quem me vê, vê o Pai.
·        Jesus percebe o que estão pensando em seu íntimo e antes que digam qualquer coisa os provoca. Eis mais uma qualidade divina. Só Deus conhece o mais profundo do ser humano. Só Ele tem o poder de perscrutar o interior do nosso coração.
·        Ele cura o enfermo.
ü Diante destas ações de Jesus, os presentes perceberam que não estavam diante de um homem comum, nele existia algo extraordinário.
ü Jesus se revela não somente através do que diz, mas, sobretudo, através de seus atos.
5-Os milagres não são um fim em si mesmo. Jesus os usa como sinais para que as pessoas pudessem conhecer quem ele era. Hoje muitas pessoas buscam os milagres em proveito próprio, somente para serem beneficiadas pelo poder de Deus. Na bíblia a principal função dos milagres era revelar que em Jesus Deus operava. O grande milagre que Cristo realiza é a nossa salvação, portanto, a cruz! A cruz é o grande e o maior milagre de Deus, foi no alto da cruz que ele foi reconhecido como Deus pelo centurião romano: de fato ele era mesmo filho de Deus (Mc 15,39).
6-Chama-nos atenção ainda neste evangelho, a atitude dos amigos que levaram este homem a Jesus. Como foi difícil carregar a cama com este moribundo e ainda escalarem o telhado para que o paralítico chegasse perto de Jesus. Esta operação não foi nada fácil, poderiam cair ou mesmo serem considerados invasores e serem expulsos pelos que rodeavam Jesus.
A este gesto amoroso destes homens Jesus chama de fé. A fé acontece quando o amor se transforma em serviço. A fé acontece quando existe um amor que se transforma em serviço. Interessante que Jesus cura este homem por força da súplica de terceiros, sem que este manifeste sua fé. Podemos afirmar que nossa fé é autêntica quando somos capazes de fazer de tudo que estiver ao nosso alcance para que outras pessoas possam ter vida e vida em abundância.
Ao chegar à casa onde Jesus estava, estes homens encontraram barreiras que os impediram de aproximar-se. Entre as pessoas que se constituíram em barreiras estavam os fariseus. Hoje não é diferente, muitos fariseus modernos e piedosos tomam conta das comunidades e com seus moralismos, impedem que os “pecadores” se aproximem de Jesus. A comunidade que deve ser uma ponte entre Cristo e as pessoas, pode também ser uma barreira! Como é a nossa comunidade, é uma barreira ou uma ponte? Ela permite que as pessoas se aproximem de Jesus?
7-O exemplo de comunidade hoje são os quatro homens, comunidade pequena que é solidária com os sofrimentos alheios. Comunidade pequena que vence as barreiras e conseguem aproximar-se de Jesus. Os quatro são uma referência para as nossas comunidades, onde muitas vezes falta-nos o amor e a fé, para carregar nossos paralíticos e superar os obstáculos, passando por cima dos preconceitos.
Caros irmãos, diante dos problemas e dificuldades da vida, Jesus pode parecer distante e as barreiras podem ser muitas e intransponíveis, temos então que acredita e buscar saídas alternativas. Sempre podemos dar um jeito.
Este evangelho nos mostra que quem tem amigos têm um tesouro, tem a chave da felicidade. Não foram os familiares que levaram este homem para ser curado, foram os amigos. Talvez os parentes fossem religiosos, fiéis à lei e como a doença era considerada conseqüência do pecado, excluiu aquele membro do convívio familiar. Quantas vezes nossas famílias excluem aqueles que por algum motivo não vivem do jeito dos demais?
8-É interessante que quando o homem é curado, Jesus o envia à sua casa, à sua família. Com certeza Cristo quis reestruturar aquela família. É no seio da família que devemos ser acolhidos. Nossas famílias hoje são espaços de acolhida ou de exclusão? Como tratamos os membros que por um ou outro motivo se desviaram? A própria família não poderia ter levado aquele homem para encontrar Jesus? Se os amigos o fizeram foi por que a família se omitiu.
Sou padre Andaraí e Itaetê, Ba. Em Itaetê tenho percebido que algumas famílias e a população em geral não dão a mínima atenção para com alguns membros, principalmente os loucos, os idosos e os doentes, os que mais precisam de cuidado. É preciso que alguém de fora faça alguma coisa por eles. Graças a Deus alguém que veio como freira, deixou a congregação e ficou como missionária faz essa função de chamar à responsabilidade as pessoas.
O que seria destas pessoas se não fossem os amigos? Quando somos amigos de Deus automaticamente nos tornamos amigos da humanidade! Uma boa semana para todos!
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O perdão do Senhor nos cura, e realiza a purificação do nosso coração, da nossa mente, da nossa alma - Maria Regina



                                                               Jesus Cristo veio ao mundo para revelar o poder amoroso de Deus Pai, a Sua grandeza e a Sua justiça. No entanto, parece ser muito difícil para nós, homens e mulheres reconhecermos a santidade de Deus e os Seus propósitos para nós. Os mestres da lei dão uma amostra de como nós também nos comportamos quando não acreditamos nas promessas de Deus: “Ele está blasfemando – como Ele pode perdoar pecados? Só Deus pode perdoar”. Nós também pensamos assim quando desconfiamos dos sacerdotes, aqueles que têm na terra o poder de perdoar os nossos pecados em Nome de Jesus. Nós dizemos que cremos em Deus, mas não aceitamos a Sua regência por meio daqueles que são Seus instrumentos. O Senhor quer salvar a humanidade dando o Seu perdão e usa a pessoa do padre, Seu representante, consagrado ao ministério e ungido para recuperar a nossa saúde espiritual.
                                    O perdão do Senhor nos cura, pois realiza a purificação do nosso coração, da nossa mente, da nossa alma. A nossa alma é curada e libertada da “ameaça” do inimigo que toma conta da nossa carne. O perdão do Senhor apaga o nosso pecado e transforma o nosso ser infundindo em nós a Luz do Espírito Santo que nos motiva a caminhar. Quando somos curados pelo perdão do Senhor nós também nos levantamos, pegamos a nossa cama, isto é, a nossa carga e voltamos para a nossa casa, prontos para escrever uma nova história.
                                  Finalmente, devemos nos lembrar de que aquele paralítico foi perdoado e curado por causa dos seus amigos que o apresentaram a Jesus. Quantos “paralíticos” (pecadores públicos), talvez estejam perto de nós e apenas os censuramos sem tomar a iniciativa de levá-los a Jesus, Aquele que tem poder para libertá-los e dá-lhes uma nova vida. Pense nisso! – Você já levou algum paralítico para que Jesus o curasse? – Você já aconselhou a alguém a procurar um sacerdote? – Você acredita no perdão de Deus por meio do ministério de um sacerdote? – Na sua opinião, aqui na terra, quem é que tem autoridade para perdoar os seus pecados?
Amém
Abraço carinhoso


Maria Regina
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Homilia do Pe. Françoá Costa – VII Domingo do Tempo Comum – Ano B
Paralisia-raiz
Jesus está em Cafarnaum. A multidão está pendente dos seus lábios. Cada uma das suas palavras ressoa no silêncio expectante do povo sedento da Palavra de Deus. De repente rompe-se o silêncio e se começa a ouvir um barulho estranho no teto. Incrível! Os primeiros raios de sol perpassam o pequeno buraco até que se vai fazendo maior e a casa fica totalmente iluminada, naturalmente iluminada. Mas, desde quando os tetos se abrem sozinhos? Há algo por trás.
Verdade é que algumas daquelas pessoas, acostumadas a andar com Jesus, não se assustariam tanto, pois sabiam que quando este novo Rabi fala algo acontece. Ordinária ou extraordinariamente, as suas palavras sempre se fazem críveis pelas obras. De todas as maneiras, seja para essas pessoas seja para aquelas que vieram ao encontro de Jesus pela primeira vez, é preciso dizer que nem todos os dias se vê uma cama descendo pelo telhado! É algo verdadeiramente estranho! Mas, como se não bastasse, extremamente estranhas ressoam aquelas palavras ditas com excelente dicção e força extraordinária: “Filho, perdoados te são os pecados” (Mc 2,5).
Imagino como estaria o pobre paralítico! Num momento se vê descoberto diante de Jesus de Nazaré. Bem que ele tinha dito aos seus quatro amigos que o deixassem quieto, que ele não queria ser incomodado nem queria incomodar o Rabi, que já fazia muitos anos que ele estava paralítico e que já estava conformado com a situação! A meu ver e segundo a minha fluente imaginação, foram os amigos que insistiram com ele para que fosse ao encontro de Jesus. Quando o paralítico lhes objetara que ele não podia andar, os amigos, em sua prudente teimosia, pegaram o leito do homem e, não sei se entre um querer e um não querer, o paralítico foi carregado ao encontro de Jesus.
Mas, nova dificuldade! Quando chegam à casa de Simão, onde Jesus estava, “não podiam encontrar lugar nem mesmo junto à porta” (Mc 2,2). Tal era a multidão! Mas, desistir agora? Depois de tantos esforços para convencer o paralítico e do suor para trazer-lhe no próprio leito… Desistir agora? Não. O que fazer? Simples, se não se pode entrar pela porta, vamos entrar pelo teto. É lógico! Mas não segundo a lógica humana!
Que trabalhão! Subir com uma cama contendo um enfermo pelo teto de uma casa! Ainda bem que eram quatro… mas, ainda assim! Aqueles caras eram amigos do paralítico, valiam diamantes, pois somente uma pessoa que se interessa pelos outros de verdade pode fazer tal coisa. Neste momento, cresce em mim a convicção de que devemos imitar os amigos do paralítico: não podemos deixar que os nossos amigos continuem paralíticos em seus pecados, em seus vícios e numa vida sem sentido, temos que levá-los ao encontro com Jesus. E se eles disserem que não querem e que os deixemos em paz, tenhamos uma santa teimosia e insistamos para que esse encontro se dê, pois Jesus é a verdadeira paz (cf. Ef 2,14). E se for preciso, subiremos aos telhados! É preciso que sejamos teimosamente apostólicos, evangelizadores aferrados, homens e mulheres que não desistem perante as dificuldades, pessoas dispostas a “comer o mundo” visto desde o amplo panorama do apostolado!
“Filho, perdoados te são os pecados!” O paralítico e seus amigos se interessavam pela cura corporal e escutam palavras que vão à raiz de todos os males, o pecado. Ainda que não exista uma conexão necessária entre paralisia e pecado, existe uma conexão necessária entre pecado e paralisia: todo pecado nos paralisa!
Diante do milagre, os que ali estavam “ficaram admirados e glorificaram a Deus” (Mc 2,12). Jesus surpreende: perdoa o pecado e manda ir para casa (cf. Mc 2,11). Somente os reconciliados podem viver em casa. Estar em casa, em família, é característica intrínseca daquelas pessoas que estão na graça de Deus, que vivem uma vida segundo Deus porque o Senhor fez delas templos sagrados.
Vamos ajudar os nossos amigos – caso alguns deles estejam fora de casa ou dela afastado pelo pecado mortal – a retornar, a morar em casa, em família, na Igreja. Aqui, sim, se é feliz! E, se algum dia nós mesmos estivermos paralisados, peçamos ao Senhor que nos conceda um amigo, uma pessoa que, carinhosa e teimosamente, nos conduza novamente ao coração de Deus, à sua casa.
Pe. Françoá Costa
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Homilia do Mons. José Maria – VII Domingo do Tempo Comum – Ano B
Jesus, o Pecado e a Confissão
O Evangelho (Mc 2, 1-12) apresenta Jesus e o Pecado.
Quatro amigos levam à presença do Senhor um paralítico desejoso de ver-se livre da doença que o mantém preso ao leito. Depois de inúmeros esforços para consegui-lo, ouvem as palavras dirigidas ao amigo enfermo: “Filho, os teus pecados estão perdoados” (Mc 2, 5). É muito possível que não fossem essas as palavras que esperavam ouvir do Mestre; mas Cristo indica-nos que a pior de todas as opressões, a mais trágica das escravidões que um homem pode sofrer é o pecado, pois este não é apenas mais um dentre os males que podem afligir as criaturas, mas é o único mal absoluto.
Os amigos que levaram o paralítico à presença de Jesus compreenderam que acabava de ser-lhe concedido o maior de todos os bens: a libertação dos seus pecados! E nós não podemos esquecer a grande cooperação para o bem que significa empregarmos todos os meios ao nosso alcance para desterrar o pecado do mundo. Muitas vezes, o maior favor, o maior benefício que podemos fazer a um amigo, ao irmão, aos pais, aos filhos, é ajudá-los a ter muito em conta o sacramento da misericórdia divina (a confissão). É um bem para a família, para a Igreja, para a humanidade inteira, ainda que aqui na terra muito pouca gente se aperceba disso.
Cristo liberta do pecado com o seu poder divino: Quem pode perdoar pecados senão só Deus? Ele veio à terra para isso: “Deus, porém, rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, e estando nós mortos pelos nossos pecados, deu-nos a vida por Cristo” (Ef. 2, 4-5). Depois de perdoar ao paralítico os seus pecados, o Senhor curou-o também dos seus males físicos. Este homem não deve ter demorado a compreender que a sua grande sorte fora a primeira: sentir a sua alma trespassada pela misericórdia divina e poder olhar para Jesus com um coração limpo.
O paralítico ficou curado de alma e de corpo! E os seus amigos são hoje um exemplo para nós de como devemos estar dispostos a prestar a nossa ajuda para o bem das almas – sobretudo mediante um apostolado pessoal de amizade – e a potenciar o bem humano da sociedade por todos os meios ao nosso alcance: oferecendo soluções positivas para anular o mal, colaborando com qualquer obra a favor do bem, da vida, da cultura…
A cura do corpo testemunha o perdão dos pecados; é sinal externo, ao alcance de todos, do perdão concedido e, ao mesmo tempo, demonstra a grandeza do perdão de Deus, que não destrói somente os pecados do homem, mais também o cumula de maravilhosos bens.
O perdão dos pecados é uma iniciativa da misericórdia de Deus que procura todos os caminhos para salvar o homem, criatura do Seu amor.
O poder de perdoar pecados, que Jesus tinha, continua na Igreja a quem foi entregue, na primeira aparição do Cristo Ressuscitado, na tarde do dia de Páscoa (Jo 20, 19-23): “Recebam o Espírito Santo, a quem perdoardes… serão perdoados…”. Os apóstolos foram enviados a perdoar em nome de Deus… Daí a beleza e a grandeza do Sacramento da Reconciliação ou Penitência (Confissão). É o Sacramento da Alegria: Nasceu no dia de Páscoa, num clima de alegria e vitória (sobre a morte e o pecado). A alegria de experimentar o Perdão do Senhor e a Comunhão com os irmãos; sentir-se perdoado e aceito por um Deus, Pai e Amigo, que nos repete: “Filho, teus pecados estão perdoados…”
Não podemos reduzir o Sacramento da confissão a apenas um ritualismo de contar os pecados ao padre. Precisa de um processo de conversão, pelo qual o cristão se reconhece pecador e deseja refazer sua vida cristã.
O Sacramento da Confissão constitui uma forma especial de ação de graças pelo mistério do Cristo que perdoou ou que manifestou à humanidade a misericórdia do Pai através do perdão aos pecadores. Como Deus, Ele pode perdoar pecados e deseja perdoá-los, bastando que as pessoas, arrependidas, reconheçam o seu pecado. Para que esta reconciliação adquira uma forma perceptível ou sacramental, Jesus transmitiu o seu poder de perdoar os pecados aos apóstolos e seus sucessores.
Demos graças a Deus por todas as vezes que fomos perdoados no Sacramento da Penitência (Confissão) e por toda graça que já recebemos através desse sacramento.
Mons. José Pereira
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Evangelhos Dominicais Comentados

19/fev/2012  --  7o Domingo do Tempo Comum

Evangelho: (Mc 2, 1-12)

Este evangelho deixa claro que para Deus, o deficiente não é paralítico, surdo ou cego. Deus conhece os milhares de "deficientes" que caminham, ouvem e enxergam.
Deus abençoe sua semana!



Hoje encontramos Jesus curando um paralítico. A fama de Jesus crescia rapidamente. Seus milagres atraiam multidões. Por isso, milhares de pessoas se reuniam em frente da casa onde Jesus estava. Aglomerava-se tanta gente ao seu redor que, parecia impossível aproximar-se de Jesus.

Difícil sim, mas não impossível! É o que nos mostra os quatro amigos do paralítico deste evangelho. É louvável a persistência desses desconhecidos. Poucas vezes teremos oportunidade de presenciar tão grande demonstração de fé.

Quantas vezes que, diante dos problemas, nos sentimos exatamente assim. Jesus parece tão distante e as barreiras intransponíveis. Sobra pessimismo, falta coragem, falta ânimo, falta fé. Desistimos facilmente diante das muralhas humanas que nos separam do Senhor.

Essa aglomeração de pessoas que se interpõe entre nós e Jesus tem realmente a pretensão de afastar-nos. As barreiras humanas são formadas por aqueles "amigos" (entre aspas) que, nos arrastam para os vícios, drogas, infidelidade conjugal... São os divulgadores dos atrativos que destroem a família.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

O mesmo acontece diante das doenças. Formam-se enormes barreiras entre o doente, médico e farmácia. Parece impossível o acesso aos remédios, internações e exames complementares; além da aglomeração dos entraves burocráticos.

Assim como neste evangelho, também nas portas dos nossos hospitais, milhares aguardam uma mão amiga. Na maioria das vezes, a cura não depende de milagre, bastam atendimento e medicamento. O milagre que pode salvar muitas vidas, não depende só de intervenção divina, depende também de intervenção humana.

O milagre que depende do homem tem nome: chama-se amor, partilha, dignidade e, até mesmo, direito. Se os direitos forem respeitados, se prevalecer o que está escrito na constituição e, se é verdade que todo cidadão tem direito à saúde, certamente tudo vai mudar.

Como por milagre, irão desaparecer aquelas filas enormes nos postos de saúde e hospitais públicos. Milagrosamente os remédios poderão ser adquiridos por preços acessíveis. Haverá atendimento e vagas para internações, inclusive em UTI. Os pobres não mais serão amontoados nos corredores dos hospitais.

Antes de curar o paralítico, Jesus perdoa seus pecados. Com esse gesto Jesus quer nos mostrar que, antes de curar o físico, é preciso consertar o espírito. Para Deus, o deficiente não é paralítico, surdo ou cego. Deus conhece os milhares de "deficientes" que caminham, ouvem e enxergam.

Caminham, porém caminham solitários e sem rumo. Suas estradas são atalhos que não levam a Jesus. Eles não ouvem suas Palavras nem enxergam seus irmãos. É preciso, urgentemente, apresentá-los ao Deus misericordioso.

Quem conhece o poder de Jesus, e sabe onde encontrá-lo, passa por cima de barreiras, escala paredes e telhados, aproxima-se e deposita aos seus pés todos seus problemas.

Fé, muita fé, acreditar sempre!!! Essa é a Boa Notícia de hoje.

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“A fé curou o paralítico” – Claudinei M. Oliveira

Domingo, 19 de fevereiro de 2012
Evangelho: Mc  2, 1-12

            Buscamos na Eucaristia a força para continuar caminhando na estrada rumo ao céu e o perdão dos erros cometidos por descuido ou por arrogância. Na sintonia com o Cristo Ressuscitado aprendemos a ser solidário com os mais pobres e aprendemos a colocar a serviço da messe.
            Também na Eucaristia sentimos a presença do libertador ao ser curado de todos os males que atormentam a vida feliz em comunidade. Somente através da fé, acreditando na promessa feita ao pai Abraão, Isaac e Jacó de que o filho do Deus Altíssimo viria na terra trazer a misericórdia e o perdão dos pecados, elevemos nossos pensamentos e nossos pedidos até a misericórdia de Deus. Enquanto cristão, crente, na Sagrada Escritura e, retiramos os ensinamentos para o bem viver e nos sentimos  curados dos enfermos.
            Uma situação  importante para sentirmos acolhido pelo Pai está no reconhecimento da fragilidade e o quanto somos dependentes do mistério de Deus. Como Paulo escreveu na Carta aos Coríntios: “pregamos entre vós, nunca foi ‘sim e não’, mas somente o ‘sim’. Com efeito, é nele que todas as promessas de Deus têm o seu ‘sim’ garantido”. O único que tem a certeza do “sim” é Deus. Ele jamais enfraquece e/ou tornou-se frágil diante dos homens, logo, Nele está a força e a determinação dos caminhos a serem trilhados.
            O “sim” de Deus transcende o ser da humanidade. Como gerador de vidas e doador das graças para seu povo Deus estendeu as mãos para todos aqueles que buscaram através da fé a certeza de serem atendidos nas suas necessidades. Prova desta máxima está no Filho Jesus que encarou com coragem destemida  os fariseus e os doutores da Lei que na arrogância não sentiam-se satisfeitos com o projeto de vida de Jesus.  O “sim” de Jesus pôs em risco sua vida física diante dos projetos do Reino, mas lutou até o fim para contemplar as promessas feitas às gerações passadas.
            Por isso sentimos protegidos pelas graças de Deus em suas magnitudes. Não precisamos temer das dificuldades, ademais, elas foram criadas pelos homens e cabe aos homens destruí-las.
            Mesmo acusando  o Senhor pelas desavenças inseridas no seio da sociedade, Ele não desiste em cuidar do rebanho. No livro do Profeta Isaias o Senhor pede para os descendentes de Jacó e todo o povo de Israel, mesmo não terem invocados e fatigados, chegando a tratá-Lo como servo, abrirá uma estrada no deserto e fará correr rios na terra seca. Este é o Senhor que devemos elevar nas orações e reverenciá-Lo com toda fé e esperança. O nosso Deus não olha para os defeitos dos homens, não regurgita o passado, não usa o passado para cobrar novas atitudes, nosso Deus quer a justiça e o bem caminhar. Ele quer que assumamos a vida cheia de amor e de carinho.
            Tanto que no Evangelho de Marcos Jesus ousa os doutores da Lei e os sacerdotes ao perdoar os pecados do paralítico. Claro que era uma blasfêmia, somente o Senhor poderia conceder o perdão dos pecados, ou no Templo por meio de sacrifícios feitos a Deus, através dos sacerdotes.  Mas Jesus contradiz a Lei farisaica e concede o perdão dos pecados ao paralitico e ordena que pegue sua cama e sai caminhando entre a multidão para sua casa. Tudo foi consumado pela FÉ do paralítico.
            A indignação tomou todo o espaço da casa onde Jesus se encontrava. A casa era apertada e estava cheia de seguidores. Mas os quatro homens não encontraram dificuldades para levar o paralitico até a presença de Jesus. Se não conseguisse passar pela multidão que se abrisse no telhado um espaço para descer o acamado. Está cena demonstra a tamanha fé dos homens na possibilidade da cura do enfermo. Caso não tivesse a fé não teria como sujeitar o tamanho esforço para aproximar de Jesus. Mas valeu a pena. A enfermidade foi curada.
            O Evangelista Marcos narra esta passagem para alertar sua comunidade quanto a fé no Filho do Homem. Não adianta querer fazer as coisas sozinhas, é perca de tempo, mas pede socorro a Jesus. Ele como filho do Senhor tem o poder de intervir nas causas impossíveis. Para alcançar o que deseja basta acreditar de corpo e alma Naquele que tudo pode e tudo tem para solucionar os problemas.
            Marcos relata a admiração dos seguidores dizendo: “nunca vimos uma coisa assim”. Sabe porquê nunca viram coisa assim? Por que estavam com os olhos vendados diante da graça de Deus! Não eram capazes de enxergar as maravilhas do Filho do Homem porque estavam consumindo o fermento dos fariseus. As ideologias farisaicas fermentavam o ódio, o mal-estar entre a comunidade, a ganância do poder e a exploração dos pequenos e oprimidos. Por isso os seguidores ficaram admirados, pois Jesus, na sua simplicidade, soube impor a virtude do bem, do acolhimento e do afastamento dos males que enrijeciam as pernas dos cristãos.
            A cena do paralítico remete-nos a compreensão da paralisia. Quantas pessoas têm saúde física,  com excelentes membros para o trabalho missionário, mas por causa da paralisia, do comodismo e da inércia são incapazes de agilizar ou colocar a serviço da comunidade. Far-se-á necessário a cura da paralisia, deste mal-estar que não remete o homem para o capricho do auxilio e do serviço em prol da vida. Muitos preferem fazer como os fariseus, não mover uma palha para libertar os males, mas provocar percalços com a finalidade de derrubar aqueles que vão ao encontro do Mestre.
            Assim, não ajudam a construir o Reino, mas sim a destruição. Falam mal o tempo todo. Encontram defeito em tudo. Espionam o trabalho alheio para criticar. Criam atmosfera  demoníaca para ver o circo pegar fogo. Depois, saem de mansinho e batem no peito: não falei que esta cambada só queria aproveitar!
              Enfim, cheguemos a conclusão de que na “casa”, esconderijo de Jesus, é uma comunidade de marginalizados;  nesta comunidade está presente a graça e a fé; o sinal do perdão está na prática que liberta a pessoa dos males e os marginalizados se alegram porque está sentindo a presença do Reino em seu meio.
            Que este Jesus que curou o paralítico aumenta nossa fé e nos ajuda a caminhar com as próprias pernas para o Reino da Salvação com discernimento, alegria e amor. Amém!
             Felicidades, Claudinei M. Oliveira.
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Domingo, 19-02-2012                            Gilberto Silva

Evangelho Mc 2,1-12

Os pecados te são perdoados


Caríssimos irmãos e irmãs,


Jesus retorna a Cafarnaum após breve passagem pela Galileía e arredores onde proclamava a Boa Nova, realizava curas e sinais. A sua procura era tamanha que o impossibilitava ás vezes de entrar nas cidades. Como um homem público, sua presença era imediatamente percebida por onde quer que passe.
A palavra AMIGO é destinada a alguém com forte sentimento de amor e amizade existente nos corações dos homens, de uma pessoa para com a outra pessoa. Quem tem um amigo, tem-se um tesouro.
Assim é por amizade e pela fé em Jesus existente entre estes quatro homens em torno do amigo paralítico, que sobrepondo a todas as dificuldades de se chegar até a presença do Filho de Deus, estes homens sobem nos telhados para descer o amigo e que este fosse curado. É a manifestação da fé e do amor superando os obstáculos sejam religiosos, incredulidades, materiais afim de se acessar a este Jesus amoroso, salvador e libertador.
Os demais fariseus ficam irados quando Jesus perdoa os pecados daquele pobre homem.
Estavam acostumados a rotular de pecador, todos aqueles que eram doentes ou deficientes. E blasfemavam: Quem pode perdoar pecados, senão Deus?
Jesus perscruta seus íntimos com tristeza, porém com autoridade diz: O que é mais fácil dizer ao paralítico: Os teus pecados te são perdoados, ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda? Ora para que conheceis o poder concedido ao Filho do homem sobre a terra (disse ao paralítico): Eu te ordeno, levanta-te toma o teu leito e vá para casa.
Os fariseus como o resto do povo judeu, queriam e esperavam O messias e não UM messias. Eles tinham planos de conquistas  e Jesus no pensar deles, não tinha o perfil ou qualificação a altura: Ser um conquistador e militante.
Ás vezes, também em nossas vidas, nós ficamos na espera de um Jesus libertador das nossas clausuras tais como: medo, desemprego, fome, doenças e tantas outras coisas que tiram o nosso sossego no dia-a-dia.
Ficamos a todo momento colocando a nossa fé em check perante este Jesus, desejando que as coisas se passem conforme a nossa vontade, do nosso jeito, ao nosso tempo.
Jesus quando perdoa os pecados daquele paralítico, Ele sabia o que fazia. Este era o milagre. O fato de o homem andar seria uma conseqüência deste milagre que se tornaria visível.
O fato é que todos nós sem exceção temos alguma deficiência. Não que seja um defeito físico, mas de outra ordem. Afinal somos humanos e sujeitos a imperfeição. Entretanto, quando admitimos no fundo do nosso coração estas imperfeições, Deus nos envolve em um bálsamo chamado Espírito Santo que faz com que todas as pessoas que nos rodeia não veja mais os nossos defeitos, mas sim as nossas virtudes. Isso mesmo, como a daqueles quatro homens, que tão somente enxergava o amor e a amizade para com o paralítico.
Por isso, quando estiver a sós, no seu íntimo reze a Jesus agradecendo e suplicando pelos amigos que tens. A nossa Igreja está repleta de milagres, nós é que não os enxergamos: Olhe o batismo por exemplo: É o milagre que traz a vida e vida nova para alma pelo o poder do Espírito Santo.
Quando vir um doente  recuperando a saúde em casa ou no hospital, lembre-se que é Jesus perdoando os pecados, curando e libertando a alma primeiramente.

Jesus habite em seu coração.




                   
 Díacono Gilberto Silva
       (33)-8828-5673-(33)-3279-8709
"Meu Senhor e meu Deus, refúgio e fortaleza"
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“Jesus cura o paralítico por inteiro” – Claudinei M. Oliveira


            O evangelista Marcos continua falando de Jesus que está servindo a comunidade. Em Cafarnaum  está em casa com seu povo. Sente-se acolhido e protegido. Não era para menos: de tanto esclarecer  e conscientizar o povo da situação de miséria, Jesus atraia multidões  para ouvi-lo. Tanto que os fariseus, doutores da Lei e os sacerdotes se rendiam para ouvir suas mensagens.

            Cercados por muita pessoa, numa casa pequena, Jesus falava de um Reino que abraçaria todos para uma vida feliz. A fala de Jesus sempre esclarecia as atitudes dos poderosos da cidade que geravam morte com ações interesseiras. Os homens que  eram colocados em xeque  na proposta de Jesus, estavam na casa disputando espaço para aprender algo. Não que os poderosos iriam converter-se para atender a fala do mestre.

            Diante da assembléia  assistindo sua pregação aconteceu uma cena inusitada. Um paralítico desce do telhado sustentado por quatro homens para pedir a cura da enfermidade. A fé era tamanha que todo o sacrifício valeria a pena. O desejo da cura nada poderia impedir. Mas sua fé o curou. Jesus ordenou que levantasse e carregasse sua cama.

            Aos olhos dos fariseus  o que Jesus tinha acabado de fazer era uma blasfema. Somente os sacerdotes poderiam aliviar os pecados e jamais curar um enfermo. Jesus fez ao contrário: além de perdoar os pecados Ele também libertava os males pela raiz para não se alastrar.  Para confirmar o acerto cometido Jesus fala para seus opositores: o que é mais fácil dizer ao paralítico: os seus pecados estão perdoados, ou dizer, levanta-se, pegue a sua cama e ande?Na verdade, Jesus está mostrando para os fariseus doutores que Ele tem o poder para perdoar e curar. Ele era realmente o Filho de Deus que veio assistir os irmãos necessitados. O serviço não consistia em somente  mostrar oposição aos homens sabidos, mas orientar e indicar ações corretas para a humanidade.

            Nesta ação de Jesus há indicativo da denúncia da hipocrisia dos  fariseus. Sempre afirmando que os pecados seriam perdoados por Deus, mas para consolidar o perdão deveria ofertar algo valoroso para o templo. Assim, consumia o suor do povo a partir da falsidade usando o nome do Senhor. Não deixava a vida reina no seio do cidadão. Prezava a morte para acalentar os privilégios.

            Ao contrário Jesus mostrou aos olhos dos aproveitadores a libertação do mal pela fé. Esta libertação se dá por dentro. Elimina todo vestígio da impureza que aniquila o individuo. Oferece vida, alegria e prazer para viver. Assim deveria ser a sociedade: livre para viver a solidariedade, a justiça e a fraternidade.

            Assim, ao curar o paralítico diante dos olhos dos doutores da Lei  Jesus está denunciando a sociedade dos fariseus que não atende as necessidades dos marginalizados. A sociedade deve prevalecer do bem-estar de todos e se alguém cair na caminhada, não pense duas vezes em ajudar, coloque-se a serviço para realizar o Reino da solidariedade. Amém.

Felicidades. Claudinei M. Oliveira.
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Quatro idéias dominam hoje a liturgia da Palavra.
A primeira: a humanidade é pecadora. Claramente e de modo comovente, o Senhor se queixa do seu povo na primeira leitura: “Tu, Jacó, não me invocaste, e tu, Israel, de mim te fatigaste. Com teus pecados, trataste-me como servo, cansando-me com tuas maldades”. Não é esta, caríssimos em Cristo, a nossa situação? Quantas vezes não invocamos o Senhor, isto é, não nos abrimos para ele, vivemos e decidimos como se ele não existisse... Isto, porque somos auto-suficientes, porque, na prática, nos julgamos donos da nossa vida e senhores do nosso próprio destino. “De mim te cansaste” - queixa-se Deus. Será irreal, tal queixa? Será sem razão, tal reclamação? O mundo de hoje aborreceu-se de Deus, cansou-se dele. Pronto! Simplesmente virou-lhe as costas... E nós, na nossa existência, quantas vezes já não fizemos isto?
Se a Palavra tem insistido em nos mostrar nossos pecados, nossas lepras, nossas infidelidades, não é para nos deprimir ou humilhar inutilmente. É para que tomemos consciência de nossa situação de infidelidade e, arrependidos, voltemo-nos para o Senhor, que é bom, que enche nosso coração, que salva a nossa vida da falta de sentido e da morte eterna. Vivemos tanto mergulhados numa humanidade orgulhosa de si mesma, consigo mesma satisfeita, que corremos o grave risco de nem mais perceber que somos pecadores e infiéis. Tudo vai parecendo normal, lícito, aceitável, tudo tem uma desculpa psicológica, tudo vai sendo colocado na conta do inconsciente e no direito de ser feliz e não se reprimir... Esse discurso, essa conversa não serve para um cristão! Olhemo-nos à luz da Palavra de Deus, avaliemos nossa vida com os olhos e o coração fixos na cruz, que nos revela até onde Deus nos ama e nos leva a sério e, então, veremos que não amamos a Deus o bastante, que não lhe demos tudo, como ele tudo nos deu em Jesus; veremos que somos egoístas, incoerentes, presos pelas paixões, lentos para crer, tardos para nos abandonar nas mãos do Senhor. Então, diremos: Senhor, sou pecador! Piedade de mim!
E aqui nos deparamos com a segunda idéia deste domingo: Deus é carinho, é misericórdia, é vontade e desejo de nos perdoar. Basta que nos reconheçamos pecadores, basta que lhe estendamos as mãos e ele está disposto a apagar os pecados que mancham nosso passado. Ouvi que palavras comoventes, que declaração de amor o Senhor nos faz: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas! Sou eu, eu mesmo, que cancelo tuas culpas por minha causa e já não me lembrarei de teus pecados!”. Eis como o Senhor age conosco: desde que nos reconheçamos pecadores e lhe imploremos o perdão, ele nos perdoa! Se formos cínicos, se dissermos: “Não tenho pecado”, ficaremos sem o perdão; mas, se, humildemente, reconhecermos o que somos, pecadores, o Senhor inclina-se para nós com o bálsamo do seu perdão. Notai bem: Deus não desculpa o nosso pecado; ele o perdoa! Tem diferença? Muita! Qual? Ei-la: desculpar seria fazer de conta que não pecamos, seria passar a mão na nossa cabeça. Primeiro, seria uma falta de verdade, um mascaramento da nossa realidade. Depois, seria nos desvalorizar, não acreditar que somos capazes de nos superar, de caminhar para o melhor, de crescer sempre mais em direção a uma plenitude, a uma maior humanização. Quanto ao perdão, é diferente da desculpa, é de Deus: perdoar é dizer: Você errou, mas eu continuo acreditando em você; dou-lhe a oportunidade de melhorar, de crescer de ser mais maduro, ser mais livre em relação às suas incoerências; eu perdôo porque espero muito de você e sei que você poderá crescer! Eis aqui, caríssimos, o modo de agir de Deus: ele perdoa, ele é perdão. É assim também que ele espera que façamos com os outros. De modo particular, assim os pais deveriam fazer com seus filhos...
Agora, sim, podemos entrar na terceira idéia deste hoje. É em Cristo – e somente em Cristo – que podermos ver toda gravidade do nosso pecado e toda força do perdão de Deus. Na segunda leitura, São Paulo nos disse que “o Filho de Deus, Jesus Cristo, nunca foi ‘sim-e-não’, mas somente ‘sim’. Com efeito, é nele que todas as promessas de Deus têm o seu ‘sim’ garantido”. Caríssimos, que idéia tão profunda! Tudo quanto Deus preparou e prometeu no Antigo Testamento encontra sua realização plena em Cristo morto e ressuscitado! Contemplemos Jesus, cravemos os olhos na sua cruz! Aí veremos o quanto somos pecadores, aí compreendemos o quanto nosso pecado é grave, o quanto nossa infidelidade fere o coração de Deus! O homem nunca descobrirá a gravidade do pecado se não olhar para a cruz, fruto do pecado meu e do mundo! Mas, também na cruz, todas as promessas de amor de Deus encontram seu “sim”, sua verdade, sua confirmação! A cruz nos mostra a dimensão da gravidade do pecado, mas nos revela simultaneamente, a profundidade e magnitude da misericórdia de Deus. Na cruz, Deus não esqueceu nosso pecado; antes, mostrou sua gravidade – tão grande a ponto de provocar a morte do Senhor! Mas, também na cruz, o Senhor mostra toda a seriedade do seu amor, do seu perdão e da sua misericórdia. Se o Senhor Jesus disse hoje ao paralítico: "Filho, tem confiança, teus pecados te são perdoados", é porque estava disposto a morrer por ele, para que ele tivesse o perdão e, curado, pudesse caminhar, caminhar na vida, caminhar para Deus! Eis, portanto: na cruz, Cristo, o “Sim” do Pai para nós, torna-se também nosso “sim” ao Pai, desde que, unidos a ele, nos deixemos por ele curar, por ele perdoar, como o paralítico do Evangelho de hoje.
Finalmente, a quarta idéia que a Palavra nos apresenta. Por que Jesus curou o paralítico? Que diz o Evangelho? Escutai: "Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico..." É surpreendente: é pela fé dos homens que carregavam o paralítico que Jesus vai perdoar e curar! Eis o mistério da comunhão dos santos! Nós somos fruto não somente da cruz do Senhor, mas também da oração e da santidade de tantos irmãos que formam a Igreja do Senhor! Por isso, podemos dizer: "Senhor, não olhes os meus pecados, mas a fé da tua Igreja!" Quando fraquejamos, quando estamos em  crise, é a fé da Igreja, é a santidade e a força de tantos irmãos que, misteriosamente, na comunhão dos santos, nos mantêm! - Obrigado, Jesus, por sermos membros do teu Corpo, que é a Igreja! Obrigado porque nesse Corpo encontramos o perdão e a paz, nesse Corpo encontramos a força para nos levantarmos do pecado que nos paraliza!
Eis as lições que o Senhor hoje nos dá! Saberemos aproveitá-las? Saberemos vivê-las? Que o Senhor no-lo conceda pela sua graça.
dom Henrique Soares da Costa

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Libertar pela raiz
O Evangelho de Marcos surgiu com um objetivo claro: responder à pergunta “Quem é Jesus?”, de modo que os adultos que desejassem tornar-se cristãos tivessem nesse evangelho um caminho seguro. A pergunta vai sendo respondida aos poucos e somente no fim é que estará completa. No trecho de hoje, contudo, aparecem alguns traços muito importantes.
a. Na casa (vv. 1-2)
Marcos gosta de mostrar Jesus em casa, em Cafarnaum, ponto de referência para sua ação. Aos poucos, em Marcos, a casa vai se opondo à sinagoga e aos que nela instruem o povo, até que seja tramado o primeiro atentado contra Jesus (3,6). De fato, as sinagogas eram reduto de doutores da Lei e fariseus. Já na primeira vez em que Jesus foi à sinagoga de Cafarnaum (1,21-28), o povo reconheceu que ele trazia um ensinamento novo, dado com autoridade, diferente e superior ao dos doutores da Lei (1,22.27). Há, portanto, um conflito de autoridade: de um lado, a de Jesus, que liberta, e, de outro, a dos doutores da Lei, incapaz de libertar. De fato, no episódio de hoje estão presentes os doutores da Lei (2,6), que levantam a seguinte questão: Quem tem poder para perdoar pecados? (v. 7).
A casa vai atraindo as pessoas por causa da ação libertadora de Jesus. Diante dela o povo da cidade já se havia aglomerado (1,33), e agora novamente o pátio está cheio de gente. Essa informação prepara a cena seguinte e mostra Jesus ensinando (2b). Novamente Marcos omite o conteúdo desse ensinamento. Mas quem lê atentamente esse texto descobre que o conteúdo de seu ensinamento é sua prática libertadora, diferentemente do que faziam fariseus e doutores da Lei.
b. Libertando pela raiz (vv. 3-5)
Acreditava-se, naquele tempo, que as doenças fossem castigo por causa dos pecados. Haveria, na pessoa, um mal escondido e invisível (para as pessoas, mas não para Deus), causador dos males externos, visíveis a todos. Por isso os doentes eram vistos como grandes pecadores, capazes de esconder seu pecado às pessoas, mas não a Deus. A doença – neste caso, a paralisia – seria o sinal pelo castigo de algo invisível aos olhos humanos.
A paralisia é uma doença cruel, sobretudo quando acompanhada de outra doença, a do preconceito. Lido em profundidade, o episódio faz pensar em todas as formas de paralisia suportadas pelo povo no tempo de Jesus e também hoje. Hoje, sabe-se que os males que afligem o povo não vêm de Deus. Jesus nos ensinou, nesses casos, a inocentar Deus e buscar as verdadeiras causas que mantêm o povo paralítico e dependente. A solidariedade com quem sofre, como a desses quatro homens que carregam o paralítico, aliada à criatividade (destelhar o teto), abre caminho para a superação de todos os males que afligem o povo. O paralítico teve sorte de encontrar pessoas que o amavam e se preocupavam com ele, corajosas a ponto de destelhar uma casa para obter-lhe a cura.
Jesus não fica indiferente a esse detalhe, e Marcos observa ele que viu a fé que eles tinham (v. 5a). E vai à raiz de todas as paralisias, curando o paralítico: “Filho, os seus pecados estão perdoados” (v. 5b). Responde-se, dessa forma, à insistente pergunta do Evangelho de Marcos: “Quem é Jesus?” Ele vence o pecado com o perdão.
c. O conflito (vv. 6-11)
Estão aí sentados alguns doutores da Lei (6a). Há um conflito de autoridade, de poder. Eles já são conhecidos no Evangelho de Marcos, pois, como vimos, o povo tem um conceito formado a respeito deles, sobretudo quando são comparados com Jesus: ensinam, mas seu ensinamento não liberta. Sua ligação profunda com a Lei, da qual são peritos, não significa que tenham chegado ao cerne dela. O povo, desconhecedor da Lei, entende mais dela do que os peritos, pois, quando Jesus se apresenta com um ensinamento que liberta, logo o povo reconhece que está diante do novo.
Os doutores da Lei acusam Jesus de estar blasfemando, pois somente Deus tem poder para isso. A blasfêmia era punida com a sentença capital (Lv. 24,16). Jesus, porém, conhecia o íntimo do paralítico e sabia que não estava sofrendo por causa do pecado; conhece também o íntimo dos doutores da Lei, que secretamente o acusam de blasfêmia e de ser réu de morte. E passa ao ataque. De fato, naquele tempo, de acordo com as prescrições da Lei, o perdão era obtido mediante sacrifícios. Jesus perdoa ao paralítico sem necessidade de sacrifícios. Abole-os, portanto. E, indiretamente, acusa os letrados. Eles, apesar do amparo da Lei, são incapazes de, libertando as pessoas de suas paralisias, devolver-lhes a vida.
O Evangelho de Marcos nada fala da reação dos doutores da Lei diante da resposta de Jesus. Logo à frente (3,22) aparecerá a reação venenosa deles, acusando Jesus de estar agindo sob as ordens de belzebu, comandante dos demônios. Marcos simplesmente mostra Jesus fazendo antes o mais difícil (perdoar pecados, fato que o situa em pé de igualdade com Deus), para depois fazer o mais fácil (ordenar ao paralítico que pegue sua cama e vá para casa).
d. Resultado (v. 12)
Jesus curou o paralítico por dentro e por fora, para que seja plenamente senhor de suas ações. Ele começa vida nova, fazendo o que nunca tinha feito, ou seja, carregar a própria cama. Antes, vivia de favores e dependente. Agora está livre e pode, como a sogra de Pedro (1,31), servir os outros. Chegou carregado, saiu carregando.
O povo reage positivamente, louvando a Deus, tal como fazem muitos salmos de cura. E reconhece estar diante de uma novidade absoluta: “Nunca vimos coisa assim!”
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A autoridade de Jesus e o pecado
I. Introdução geral
Um sinal é um objeto ou um fato que significam outra coisa. Geralmente, a gente já pode ver algo do significado no próprio sinal: a doença no sintoma, a felicidade no sorriso, levando em conta que os sintomas podem ser traiçoeiros e os sorrisos, falsos.
No evangelho de hoje, presenciamos um típico “sinal” de Jesus, e esse sinal nos faz entender o sentido dos outros sinais dele. Quando se esperava que Jesus curasse o aleijado, Jesus o perdoou – coisa que não foi nem poderia ter sido pedida, pois, para perdoar, era preciso uma “autoridade” especial, que só Deus tem (cf. 1ª leitura). Arrogando-se tal autoridade, Jesus não comete blasfêmia, como pensam os escribas, mas revela sua verdadeira missão, que transparece na “autoridade” que o povo observou nele (cf. 2,12): “Para que saibais que o Filho do homem tem autoridade na terra...”.
Naqueles tempos de esperança apocalíptica, esperava-se vingança, condenação, fogo. Mas Deus tem outros meios para sanar a situação. A 1ª leitura lembra a situação de Israel no exílio babilônico. Aí Deus resolveu jogar longe de si o pecado com o qual o povo o cansara. Resolveu trazer Israel de volta à sua terra, mas isso não serviria para nada se, primeiro, o povo não “voltasse” interiormente. Precisava de perdão como de uma nova criação.
Entendemos, assim, melhor a “autoridade” escatológica que se manifesta em Jesus; não apenas um poder judicial, mas um eflúvio do poder criador. O último juízo é uma nova criação: “Eis que faço tudo novo” (AP. 21,5). O comportamento verdadeiramente divino para com a criatura não é destruí-la, mas reconstruí-la e recriá-la; Deus não quer a morte do pecador, e sim que se converta e viva (Ez. 18,23). Por isso, o Filho do homem não vem destruir, mas perdoar. A “autoridade” que ele recebeu de Deus é marcada por aquela outra qualidade de Deus, mais característica: a “misericórdia” (cf. Mc. 1,41; 6,34 etc.).
A 2ª leitura é tomada do início da 2ª carta aos Coríntios. Paulo se defende da acusação de inconstância. Ele deve explicar por que lhes prometera uma visita e não a realizou. A razão não é inconstância. O “sim” de Deus é “sim” mesmo, e assim deve ser também o “sim” do apóstolo, cuja atuação deve ilustrar o conteúdo de sua pregação. Sua firmeza é dom divino, não mérito humano. E esse dom é muito útil para nosso tempo, em que a inconstância é alçada a modelo cultural e econômico.
II. Comentário dos textos bíblicos
1. I leitura (Is. 43,18-19.21-22.24b-25)
A história de Israel nos mostra a justiça de Deus, mas também a fidelidade de seu amor. Aliás, a justiça faz parte do amor. Is. 43,18-21 é uma mensagem ao povo exilado, que não sabe se tem ainda um porvir. Nos versículos 22-25, o profeta deixa Deus desabafar: Israel cansou-se de procurá-lo e, com seus pecados, cansou-o. Poderia esperar de Deus vingança, condenação, fogo. Mas Deus tem outros meios para sanar a situação. O povo, exilado na Babilônia, estava no desespero. Aí, Deus resolveu jogar longe de si o pecado com o qual o povo o cansara (em vez de não se cansar de procurar Deus!): “Não mais me lembrarei de teus pecados” (Is. 43,22-25). Este é o juízo no qual Deus sai vencedor (43,26): ele perdoa! Deus queria trazer Israel de volta à sua terra; mas isso não serviria para nada se o povo, primeiro, não “voltasse” interiormente. Precisava de perdão, como de uma nova criação.
Deus mesmo agirá, abrirá um caminho pelo deserto, como no tempo do êxodo, e seu povo poderá de novo proclamar sua glória.
2. Evangelho (Mc. 2,1-12)
A aclamação ao evangelho lembra Lc. 4,18-19 (“O Senhor me enviou para levar a boa-nova”). O exercício do “poder-autoridade” inerente à missão de Jesus (cf. domingos anteriores) começa a revelar sua verdadeira personalidade: ele perdoa o pecado – o que só Deus pode – e comprova sua autoridade pelo sinal da cura do aleijado. Esse sinal nos faz entender também o sentido dos outros sinais. A história do paralítico começa como uma cura um tanto pitoresca: um homem é baixado pelo teto diante dos pés de Jesus, porque a multidão entupia a porta. Mas, onde a gente esperava uma cura, Jesus faz o que nem foi pedido: perdoa. Também não poderia ter sido pedido a Jesus, pois perdoar, só Deus o pode (cf. 1ª leitura). Por isso, “as autoridades” acusam Jesus de blasfêmia. Na verdade, porém, não é blasfêmia, senão a revelação da verdadeira missão de Jesus, que transparecia na “autoridade” que o povo observou nele (cf. 2,12): “Para que vejais que o Filho do homem tem autoridade na terra...”. Todos os termos são importantes: “Filho do homem” é a figura celestial de Dn. 7,13-14, a quem é dada a “autoridade” (exousía), não lá no céu, mas aqui “na terra”, na execução da intervenção escatológica de Deus. É a hora do Juízo, aqui na terra. Mas esse Juízo não serve para destruir os impérios, como em Dn. 7, e sim para perdoar e restaurar, pois Deus não quer a morte; pelo contrário, como Pai e criador, renova a vida. O sinal que Jesus faz significa: “Para que vejais que tenho esta autoridade (e agora fala ao paralítico): Levanta-te, toma tua cama e anda”. Não sabemos nada do pecado do homem; o importante é ser ele destinatário e ocasião de uma revelação do amor criador do Pai em Jesus, que exerce o poder do Filho do homem de modo inesperado, aqui na terra. “Jamais vimos tal coisa”, exclama o povo.
3. II leitura (2Cor. 1,18-22) 
Esta leitura é tomada do início da 2ª carta aos Coríntios. Os coríntios sentiam-se magoados porque Paulo lhes anunciara uma visita que não executou (cf.1Cor. 16,5) em decorrência dos problemas na comunidade (1,23-2,4). Acusam-no de ser inconstante, mas ele se defende (1,17), pois não é apenas sua pessoa que é alvo de crítica, mas também o evangelho que ele apregoa. Os destinatários devem reconhecer no mensageiro o absoluto “sim” de Deus: Jesus Cristo. Mas então também a vida dos fiéis, selada pelo Espírito, deve deixar transparecer esse “sim”. 
Paulo se defende da acusação de inconstância. Ele deve explicar por que lhes prometera uma visita e não a realizou. Não por inconstância. O “sim” de Deus é “sim” mesmo, e assim deve ser também o “sim” do apóstolo. A razão é que Paulo não quis visitar os coríntios com o coração magoado por causa das polêmicas que alguém lá estava conduzindo contra ele. Portanto, o adiamento da visita confirmava o “sim” do carinho de seu coração. Este era constante. Paulo atribui sua firmeza a Deus, que nos sela com o Espírito. Sua firmeza é dom divino, não mérito humano. É graça. Nestes tempos de inconstância, consumismo e alta rotatividade, convém pedir a Deus o dom da firmeza, para amar e servir de modo coerente e para resistir à injustiça, sobretudo àquela que se aninha na própria estrutura da sociedade.
III. Dicas para reflexão
No domingo passado, Marcos nos mostrou Jesus como possuidor do poder de superar a marginalização (do doente de lepra). Hoje, mostra-o vencendo uma exclusão pior: a do pecado (evangelho). Jesus é mais que um curandeiro. Ele tem poder sobre o pecado. Ele é o “Filho do homem”. O que ele veio fazer não era tanto tirar as doenças físicas, mas expulsar o pecado. Deus já não quer nem se lembrar do pecado do povo (1ª leitura). Curar, até os médicos conseguem. Perdoar, só Deus… e o Filho, que executa sua vontade.
Também o povo messiânico, como se concebe a Igreja, deve em primeiro lugar combater o pecado, ora denunciando, ora perdoando – nunca tapeando. Deve apontar o mal fundamental que está no coração das pessoas e na própria estrutura da sociedade. Para mostrar que tem moral para fazer isso, servem os sinais: dar o exemplo, aliviar a miséria material do mundo, lutar por estruturas justas, por mais humanidade, por tudo o que cure e enobreça os filhos e filhas de Deus. O empenho para melhorar, em todos os sentidos, a vida das pessoas autoriza a Igreja a denunciar o mal moral e a urgir a terapia adequada, que é a conversão das pessoas e da sociedade.
A sociedade, hoje, mostra descaradamente que pretende solucionar os problemas materiais pela via do cinismo, pelo poder do mais forte. A própria medicina não hesita em se autopromover à custa da ética, recondicionando a casca, mas deixando apodrecer os valores pessoais por dentro. Há quem ache que a Igreja deveria primeiro melhorar as condições materiais, a saúde, a cultura etc., para dar maior “base” à sua mensagem “espiritual”. Mas Jesus pronuncia primeiro o perdão do pecado e depois mostra ter poder para tratar da enfermidade material. O mais urgente é livrar as pessoas do mal fundamental, o pecado. Então, a libertação total deitará raízes num chão livre da erva daninha do pecado.

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Fazendo coisas novas
Existe uma velhice das coisas e das pessoas. Existe uma busca da juventude, da eterna juventude, nem sempre tão sadia. E existe um Deus que torna novas todas as coisas. “Não relembreis as coisas passadas, não olheis os fatos antigos.  Eis que eu farei coisas novas e que já estão surgindo: acaso  não as reconheceis?” Estas palavras de Isaías devem ter feito vibrar o povo que andava cansado e olhando para um amanhã sem vida.  A razão desse desalento lhes vinha da consciência do pecado e das infidelidades do povo. “Com teus pecados, trataste-me como servo, cansando-me  com tuas maldades. Sou eu mesmo que cancelo tuas culpas por minha causa e já não me lembrarei de teus pecados”. O novo que está a despontar surge da pagina virada. Com o perdão do Senhor começa  algo novo. O Senhor está fazendo coisas novas.
Parece que Jesus, segundo os relatos dos evangelhos, andava fazendo coisas novas. Os primeiros tempos de sua pregação provocaram impacto sobretudo devido ao “inaudito” de seus milagres. Lá está ele em Cafarnaum. “Logo se espalhou a notícia que ele estava em casa. E reuniram-se ali tantas pessoas que já não havia lugar nem mesmo diante da porta”. No meio de todo esse burburinho o evangelista pontua:  “E Jesus anunciava-lhes a palavra”. Essa era sua missão. Falar da novidade da visita de Deus aos seus através dele.
E vem o momento curioso da descida de um paralítico teto abaixo. Evidentemente ele e seus parentes vieram ter com Jesus para que o doente pudesse caminhar outra vez.  Afinal de contas esse Jesus andava  fazendo maravilhas. Ele, no entanto, não cura de imediato as pernas inertes do homem que desce teto abaixo. Ele quer começar dando uma alegria especial ao doente. Jesus ficou impressionado com a fé-confiança e dos que o desceram. “Filho, os teus pecados estão perdoados”. Sim, o doente não havia pedido isto… mas Jesus quer dar o mais importante  antes do importante. Perdoa os pecados.  Dá ao interior do doente a vida nova, a reconciliação. Como o Deus do Antigo  Testamento de Isaias:  Cancelo  a tua culpa… já não me lembrarei de teus pecados….
Perdão dos pecados e cura das pernas…. “O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama saiu diante de todos. E ficaram todos admirados e louvavam a Deus dizendo: Nunca vimos uma coisa assim”. Para ele começava vida nova…
Em outras palavras: Em Jesus Deus anda fazendo coisas novas e inauditas…
frei Almir Ribeiro Guimarães
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Poder sobre o pecado
Um sinal é um objeto ou um fato que significa outra coisa. Geralmente, a gente já pode ver algo do significado no próprio sinal: a doença no sintoma, a felicidade no sorriso. Isso sem negar que os sintomas possam ser traiçoeiros e os sorrisos, falsos…
No evangelho de hoje presenciamos um típico “sinal” de Jesus, e este sinal nos faz também entender o sentido dos outros sinais dele. A história do paralítico poderia ser uma “simples” cura de um homem que foi baixado pelo teto diante dos pés de Jesus, porque havia tanta gente que não existia outro jeito. Mas, onde a gente esperava uma cura, Jesus perdoa. O que nem foi pedido. Também não poderia ter sido pedido, pois, para perdoar, é preciso uma “autoridade”especial e esta, só Deus a tem (cf. 1ª leitura). Por isso, “as autoridades” acusam Jesus de blasfêmia. Mas, na verdade, não é uma blasfêmia, senão a revelação da verdadeira missão de Jesus, que transparecia na “autoridade” que o povo observou nele (cf. 1,22): “Para que vejais que o Filho do Homem tem autoridade na terra…”. Todos os termos são importantes: “Filho do Homem”: a figura celestial de Dn. 7, a quem é dada a “autoridade”(exousia), porém, não lá no céu, mas aqui “na terra”, portanto, na execução da intervenção escatológica de Deus. É a hora do Juízo, aqui na terra. Mas este Juízo não serve para destruir os impérios, como em Dn. 7, mas para perdoar e restaurar, pois Deus não quer a morte; pelo contrário como Pai e criador, renova a vida. E o sinal que deixa transparecer este sentido último é o seguinte: “Para que vejais que tenho esta autoridade (e agora fala ao paralítico): Levanta-te, toma tua cama e anda”. Não convém perguntar se o homem era pecador (quem é justo diante de Deus?), o importante é que ele é destinatário e ocasião de uma revelação do amor criador do Pai em Jesus, exercendo o poder do Filho do Homem de um modo inesperado, aqui na terra. “Jamais vimos tal coisa”, exclama o povo.
Jesus se revela como plenipotenciário de Deus. Mas não apenas isso. Revela também uma dimensão do Juízo de Deus que facilmente era esquecida naquele tempo de esperança apocalíptica. Esperava-se vingança, condenação, fogo. Mas Deus tem outros meios para sanar a situação de desespero. Aí, Deus resolveu jogar longe de si o pecado com o qual o povo o cansara (em vez de o povo se cansar em procurar Deus!) (Is. 43,22-25; 1ª leitura). Este é o Juízo do qual Deus sai vencedor (43,26): ele perdoa! Deus queria trazer Israel de volta à sua terra; mas isto não serviria para nada, se o povo, primeiro, não “voltasse” (se convertesse) interiormente. Precisava de perdão, como de uma nova criação.
Entendemos, assim, melhor a “autoridade” escatológica que se manifesta em Jesus, o Filho do Homem. Certo, é um poder judicial, mas este é apenas uma explicitação do poder criacional. Pois o último juízo é, em última análise, uma nova criação: “Eis que faço tudo novo” (AP. 21,5). Ora, o comportamento verdadeiramente divino para com a criatura não é destruí-la, mas reconstruí-la e recriá-la; não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva (Ez. 18,23). Por isso, o Filho do Homem não vem destruir, mas perdoar. A “autoridade”que ele recebeu de Deus é marcada por aquela outra qualidade de Deus, que é mais característica: a “misericórdia” (cf. Mc. 1,41;6,34 etc).
A 2ª leitura é do início da 2Cor. Paulo se defende da acusação de inconstância. Paulo deve explicar por que lhes prometeu uma visita e não a realizou. A razão não é inconstância. O “sim” de Deus é “sim” mesmo, e igualmente deve ser também o “sim” do apóstolo, cuja atuação deve ilustrar o conteúdo de sua pregação. A razão é que Paulo não quis visitar os coríntios com o coração magoado por causa das polêmicas, que alguém lá estava conduzindo contra ele. Portanto, o adiamento da visita confirmava o “sim” do carinho de seu coração. Este era constante. Paulo atribui sua firmeza a Deus, que nos sela com o Espírito. Sua firmeza é dom divino, não mérito humano. É graça. Num tempo de inconstância, provocada por uma cultura de consumo e alta rotatividade, convém pedir a Deus o dom da firmeza. Firmeza como instrumento de amor, para poder amar e servir de modo coerente. Firmeza também como fortaleza permanente na resistência à injustiça, sobretudo quando ela se aninha firmemente na própria estrutura da sociedade.
Johan Konings "Liturgia dominical"
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Cura do paralítico e perdão dos pecados
Marcos 2,1-12
Alguns dias depois, Jesus entrou de novo em Cafarnaum. Logo se espalhou a notícia de que ele estava em casa. E reuniram-se ali tantas pessoas, que já não havia lugar, nem mesmo diante da porta. E Jesus anunciava-lhes a Palavra.
Trouxeram-lhe, então, um paralítico, carregado por quatro homens. Mas não conseguindo chegar até Jesus, por causa da multidão, abriram então o teto, bem em cima do lugar onde ele se encontrava. Por essa abertura desceram a cama em que o paralítico estava deitado. Quando viu a fé daqueles homens, Jesus disse ao paralítico: “Filho, os teus pecados estão perdoados”.
Ora, alguns mestres da Lei, que estavam ali sentados, refletiam em seus corações: “Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar pecados, a não ser Deus”. Jesus percebeu logo o que eles estavam pensando no seu íntimo, e disse: “Por que pensais assim em vossos corações? O que é mais fácil: dizer ao paralítico: ‘Os teus pecados estão perdoados’, ou dizer: ‘Levanta-te, pega a tua cama e anda’? Pois bem, para que saibais que o Filho do Homem tem, na terra, poder de perdoar pecados, – disse ele ao paralítico: – eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama, e vai para tua casa!” O paralítico então se levantou e, carregando a sua cama, saiu diante de todos. E ficaram todos admirados e louvavam a Deus, dizendo: “Nunca vimos uma coisa assim”.
Desenvolvimento do Evangelho
De volta a Cafarnaum, Jesus é novamente muito procurado. A multidão cerca a casa onde Ele está e, é nesse quadro de impossibilidade de chegar até Jesus que quatro amigos se reúnem e criam um meio extraordinário para fazer chegar seu amigo paralítico até Jesus que estava pregando seus ensinamentos a todos.
Quando Jesus viu o que estava acontecendo, e a dificuldade que estavam passando, acreditou na fé sem limites do doente e de seus amigos, e responde a este ato de fé não curando o homem de imediato, mas perdoando-o, antes mesmo que isso Lhe fosse pedido.
Provavelmente não eram os pecados que preocupavam o homem paralítico naquele momento, mas a sua doença. Porém, Jesus cura-o espiritualmente em primeiro lugar, livra-o do peso de suas culpas que prendem seu espírito, mais do que a paralisia que tolhe os movimentos de seus membros.
Quando Jesus lhe diz, ‘os seus pecados estão perdoados’, é o mesmo que estivesse dizendo: “É de Deus que você se aproxima”. No Antigo Testamento, só Deus pode perdoar os pecados, e é por isso que os fariseus e escribas, ali presentes, demonstram seus escrúpulos para com a pessoa de Jesus, pois para eles Jesus estava blasfemando contra Deus ao alegar o seu poder de perdoar os pecados, revelando assim, a sua identidade como Filho de Deus muito mais do que os milagres que realiza.
Ele, consciente da censura que sua palavra de perdão havia provocado nos escribas, responde: ‘O Filho do Homem tem autoridade para perdoar os pecados na terra’, ordenando ao homem que se levante e vá para casa, à vista de todos. Chegou carregado e saiu carregando.
A cura do corpo demonstra o perdão dos pecados. É o sinal externo, visível, do perdão que foi alcançado. O perdão de Deus destrói o pecado e reconstrói o ser. Deus não restaura, mas cria de novo. E é isso o que Jesus faz no paralítico, uma nova criação, assim como diz o profeta Isaías na Primeira Leitura: ‘Assim fala o Senhor: Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas…’
E vendo o que estava acontecendo, a multidão deu glória a Deus pela presença de Jesus que perdoa e cura e, reconhece estar diante de uma novidade absoluta.
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Fé e incredulidade
É chocante o contraste entre a fé do paralítico e dos que o traziam até Jesus, para ser curado, e a incredulidade de alguns escribas, presentes nesta ocasião.
Para que o homem fosse curado, pessoas de boa vontade superaram todos os obstáculos a fim de fazê-lo chegar até Jesus. Mas, a presença da multidão impedia-lhes o acesso. Por isso, resolveram abrir um buraco no teto, por onde puderam descer a maca do paralítico. Só uma fé profunda pode explicar este gesto quase desesperado. E Jesus o descobre, e o recompensa.
Por sua vez, os escribas ruminam, em seus corações, pensamentos malévolos a respeito da ação de Jesus. Tomam-no por usurpador de um poder exclusivo de Deus, porque perdoa os pecados daquele pobre homem, antes mesmo que lhe solicitassem a cura. Sua incredulidade leva-os a acusar Jesus de blasfemo. É que, no fundo, não suportavam conviver com a misericórdia que jorrava do coração do Mestre.
A incredulidade dos escribas não foi suficientemente forte para bloquear Jesus. Ele continuou a agir com absoluta liberdade, sempre conforme o querer do Pai. Não só perdoou todos os pecados do paralítico, como também, devolveu-lhe a saúde, recompensando-lhe a fé.
Os incrédulos podem até permanecer firmes em sua incredulidade. Só não podem dizer que não tinham motivos para crer. O milagre de Jesus não dava margem para dúvidas.
Oração
Espírito que desfaz toda incredulidade, afasta do mim tudo quanto me impede de reconhecer, na ação de Jesus, a manifestação do amor do Pai.
padre Jaldemir Vitório
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Deus nos confirma em nossa adesão a Cristo
Estamos terminando a primeira parte do Tempo Comum, que será interrompido para dar início à Quaresma. O evangelista São Marcos nos apresentou Jesus como Aquele que vem revelar a misericórdia e o amor do Pai para com todas as suas criaturas. Deus criou o ser humano e quer que ele seja humano no pleno sentido da palavra, por isso Jesus cura os doentes e os liberta do poder do demônio. Curou a sogra de Pedro, curou o leproso, e hoje cura o paralítico.
Não foi fácil para o paralítico chegar perto de Jesus. Além de não poder andar, havia muita gente aglomerada na casa. Quatro homens abriram um buraco no teto e ajudaram o paralítico a descer bem onde Jesus estava. Jesus viu que os quatro eram homens de fé e imediatamente perdoou os pecados do paralítico.
Lá estava, no meio de tanta gente, um paralítico sem pecados. Seus pecados foram perdoados, mas ele continuava paralítico. Quem pode perdoar pecados a não ser Deus? Se Jesus perdoa os pecados do paralítico é porque
Ele é Deus e está mostrando que Deus quer perdoar. Ele cura o homem também da paralisia para mostrar que tem o poder de perdoar os pecados. Quando, porém, Ele separa e dissocia a paralisia do pecado, está transmitindo com autoridade um ensinamento não feito pelos escribas. A paralisia não é necessariamente castigo do pecado pessoal do paralítico. Ela pode ser consequência do pecado da sociedade. Se alguma responsabilidade ele tem por estar naquela situação, ele está agora perdoado. O movimento do corpo lhe é devolvido, não para pecar, mas para louvar a Deus.
O povo estava acostumado com um ensinamento religioso que atribuía ao pecado pessoal todos os males da vida. Pobreza e doença eram punição de Deus ou simples resultado do desinteresse ou da indolência. Ainda hoje fazemos julgamentos rápidos da situação alheia: é assim, ou está assim, porque é preguiçoso! Jesus mostra claramente que os males da vida podem ser resultado do poder demoníaco que se abate sobre o ser humano, vítima de uma ação demolidora.
Na realidade, em todas as circunstâncias, temos que sair da esfera do pecado. Que Deus cure a nossa paralisia para podermos andar. A morte, consequência do pecado, paralisa. A vida, ao contrário, é movimento. "Levanta-te, pega a tua cama e anda!", sem olhar para trás.
Não fique preso ao passado, olhando para fatos antigos, remoendo dores sofridas, atormentando a consciência. Anda e vai para frente. O Senhor cancelou as nossas culpas e delas já não se lembra. Não fiquemos nós a lembrá-las sem descanso! O pecado paralisa a vida. Eu sou pecador, mas há quem me coloca em situações desumanas. Em todos os casos, é preciso que o Senhor diga primeiro: "Teus pecados estão perdoados".
O ensinamento apostólico que recebemos não foi uma mistura de "sim" e "não". Foi um ensinamento positivo e de convicção. Jesus é o "sim" e por isso dizemos "amém". Não podemos ficar no meio do caminho na eterna indecisão.
Deus nos confirma em nossa adesão a Cristo, a quem imitamos. Não posso ser diferente do Mestre. Minha adesão de fé me coloca frente aos males do mundo, não para aumentá-los e multiplicá-los, mas para curá-los. O testemunho cristão provocará a exclamação: "Nunca vimos uma coisa assim".
O Salmista nos ajuda a enfrentar o poder demoníaco e sair da esfera do mal, orientando-nos a pensar no pobre e no fraco e a pedir a cura, porque somos pecadores.
cônego Celso Pedro da Silva
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Jesus "anuncia a palavra" à multidão
A cena nos apresenta Jesus em casa, em Cafarnaum, e uma multidão que se aglomera à sua porta. Como é característico a Marcos, é a "casa", e não a sinagoga, o lugar do encontro de Jesus com as multidões. Em seu convívio com estas multidões, Jesus diferenciava-se do "pequeno resto de Israel", como assim se julgavam as elites religiosas, instaladas no Templo e nas sinagogas, separadas do povo. Marcos, nesta sua narrativa rica em detalhes, de início realça que Jesus "anunciava a palavra" à multidão que enchia sua casa. É próprio de Marcos o destaque maior à palavra de Jesus, que liberta e comunica vida. Entra em cena um paralítico, carregado por quatro homens, e segue a cena pitoresca da sua descida, deitado na maca, por um buraco feito no teto da casa. Jesus é tocado pela fé, não só do paralítico, mas também daqueles que o acompanhavam. As ações e diálogos que se seguem não são uma interrupção do anúncio, mas exprimem concretamente o seu próprio conteúdo: a libertação dos pecados. O núcleo da Boa-Nova é a manifestação do infinito amor de Deus. A palavra que corresponde a "pecado" no Antigo Testamento, em hebraico, é het'. O seu significado corresponde ao ato de errar o alvo, sair do caminho, perder. O alvo, no caso, era a Lei. Assim, na doutrina dos chefes religiosos do Templo e das sinagogas, o pecado tinha um sentido predominantemente legalista. Era considerado pecado qualquer ato ou omissão que contrariasse as observâncias legais religiosas (Torá e as inúmeras tradições a ela anexadas).
Ainda mais, a prosperidade era considerada uma bênção de Deus, enquanto a pobreza e miséria, bem como as doenças, eram consideradas castigo de Deus por pecados cometidos (o que é contestado no Livro de Jó). Jesus vem remover esta humilhação que submetia o povo ao poder religioso do Templo de Jerusalém, resgatando a sua dignidade. A prática de Jesus tem duas dimensões: isenta de qualquer culpabilidade os acusados de pecado e acolhe-os com grande amor e amizade, rejeitando a sua exclusão religiosa e social. Jesus, diante daquele paralítico, prioriza a sua libertação da condição humilhante e excludente de "pecador". E a libertação da paralisia é decorrente de sua dignidade restaurada. São os novos laços de relacionamento humano que vencem um mundo onde tem prevalecido o privilégio de minorias que moldam uma cultura de poder e submissão, que atende a seus interesses particulares. Pelo "sim" que nos une a Jesus (segunda leitura), todas as coisas se fazem novas (primeira leitura) pela remoção de toda exclusão, na libertação e na promoção da vida.
José Raimundo Oliva
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A liturgia do 7º domingo do tempo comum convida-nos, uma vez mais, a tomar consciência de que Deus tem um projecto de salvação para os homens e para o mundo. Esse projecto (que em Jesus se torna vivo, palpável, realmente libertador) é um dom de Deus que o homem deve acolher com fé.
A primeira leitura fala-nos de um Deus que, em todos os momentos da história, está ao lado do seu Povo, a fim de o conduzir ao encontro da liberdade e da vida verdadeira. Sugere, no entanto, que o Povo necessita de percorrer um caminho de conversão e de renovação, antes de poder acolher a salvação/libertação que Deus tem para oferecer.
O Evangelho retoma a mesma temática. Diz que, através de Jesus, Deus derrama sobre a humanidade sofredora e prisioneira do pecado a sua bondade, a sua misericórdia, o seu amor. Ao homem resta acolher o dom de Deus, ir ao encontro de Jesus e aderir a essa proposta libertadora que Jesus veio apresentar.
A segunda leitura recomenda àqueles que aderiram à proposta de Jesus que vivam com coerência, com verdade, com sinceridade o seu compromisso, sem recurso a subterfúgios ou a lógicas de oportunidade.
1ª leitura – Is. 43,18-19.21-22.24b-25 - AMBIENTE
O Deutero-Isaías (autor deste texto) é um profeta anónimo, da escola de Isaías, que provavelmente cumpriu a sua missão profética entre os exilados na Babilônia.
Estamos na fase final do Exílio, entre 550 e 539 a.C.. Os judeus exilados estão frustrados e desorientados, pois a libertação tarda e Deus parece ter-se esquecido do seu Povo. Sonham com um novo Êxodo, no qual Jahwéh se manifeste, outra vez, como o Deus libertador. O “Livro da Consolação” do Deutero-Isaías (cf. Is. 40-55) apresenta a mensagem de consolação e de esperança que o profeta dirigiu a esse Povo desanimado.
Na primeira parte do “livro da Consolação” (Is 40-48), o profeta anuncia a iminência da libertação e compara a saída da Babilónia e a volta à Terra Prometida com o Êxodo do Egipto. É neste contexto que deve ser enquadrada a primeira leitura de hoje.
O texto que nos é proposto como primeira leitura apresenta, de forma incompleta, dois oráculos diversos. O primeiro (cf. Is. 43,14-21) é um oráculo de salvação, no qual Jahwéh anuncia a ruína da Babilónia e a iminência de um “novo Êxodo” para o Povo de Deus. No segundo (cf. Is 43,22-28), Deus acusa o Povo de indiferença e de infidelidade, provavelmente para lhe sugerir a necessidade da conversão.
MENSAGEM
O oráculo de salvação da primeira parte (vs. 18-19. 21) começa por recordar a “mãe de todas as libertações” (a libertação da escravidão do Egipto). Mas avisa que evocar essa realidade não pode ser uma fuga nostálgica para o passado, um repousar inerte na saudade, um refúgio contra o medo do presente (se assim for, esse passado vai obscurecer a perspectiva do Povo, impedindo-o de reconhecer os sinais que já se manifestam e que anunciam um futuro de liberdade e de vida nova)… A lembrança do passado é válida quando alimenta a esperança e prepara para um futuro novo. O que é importante é que o israelita crente que olha para o passado descubra, na acção libertadora de Deus em favor do Povo oprimido pelo faraó, um padrão: o Deus que assim agiu é o Deus que não tolera a opressão e que está sempre do lado dos oprimidos; por isso, não deixará de se manifestar em circunstâncias análogas, operando a salvação do Povo escravizado.
De fato – diz o profeta – o Deus libertador em quem acreditamos e em quem esperamos não demorará a actuar. Aproxima-se o dia de um novo êxodo, de uma nova libertação. Esse novo êxodo será, até, algo de grandioso, que eclipsará o antigo êxodo: o Povo libertado percorrerá um caminho fácil no regresso à sua Terra e não conhecerá o desespero da sede e da falta de comida, porque Jahwéh vai fazer brotar rios na paisagem desolada do deserto. A actuação de Deus manifestará, de forma clara, o seu amor e a sua solicitude pelo Povo. Diante da acção de Jahwéh, o Povo tomará consciência de que é o Povo eleito e dará a resposta adequada: louvará o seu Deus pelos dons recebidos.
Na segunda parte (vs. 22.24b-25), temos um convite de Deus a que Israel reconheça as suas transgressões e iniquidades. É um dos poucos textos do Deutero-Isaías onde Deus assume uma atitude decididamente crítica para com o seu Povo.
O sentido global do texto não é totalmente claro (aliás, o texto que nos é proposto apresenta-se incompleto, truncado, com versículos tirados aqui e ali, o que aumenta ainda mais a dificuldade de compreensão). Provavelmente, deve ser entendido como resposta às críticas que os exilados faziam a Jahwéh. Porquê o Exílio? Jahwéh não estava a ser injusto? Se Israel tinha cumprido sempre com as suas obrigações cultuais, em que é que Jahwéh Se fundamentava para castigar tão duramente o seu Povo?
Na verdade, Israel cumpria as suas obrigações cúlticas, oferecendo a Jahwéh abundantes sacrifícios de animais (que, aliás, nem tinham qualquer importância para Deus); mas continuava a multiplicar os seus pecados e as suas iniquidades. Convicto de que com abundantes ofertas cultuais podia “acalmar” e “comprar” Deus, o Povo vivia comodamente instalado na infidelidade, sentindo que não haveria problema porque Jahwéh era “obrigado” a fazer uso da sua misericórdia e a apagar as faltas do Povo. Na verdade, Deus não pode ser manipulado dessa forma. Ele não aceita ser (com o engodo das abundantes ofertas cultuais) um pára-raios atrás do qual o Povo se esconde para não cumprir os seus compromissos.
A verdade é que Israel foi castigado porque assumiu e percorreu um caminho de rebeldia e de infidelidade (vs. 27-28). O Exílio foi o resultado lógico dessa opção.
Ao abordar desta forma a questão, o profeta está claramente a dizer aos exilados que o Exílio não é culpa de Deus, mas do próprio Povo. Provavelmente, estará também a sugerir ao Povo que é preciso reconhecer as suas faltas e iniciar um caminho de conversão e de renovação, antes de poder acolher a salvação/libertação que está para chegar.
ATUALIZAÇÃO
• A leitura mostra-nos, antes de mais, a atitude de Deus em relação aos homens. Fala-nos de um Deus atento, solícito, interveniente, a quem os homens e os seus dramas não são indiferentes e que Se preocupa, a todos os instantes, em indicar ao seu Povo o caminho da vida verdadeira e definitiva… Numa leitura atenta do texto, impressiona, especialmente, o amor e a ternura com que Deus Se dirige a esse Povo desanimado e frustrado e lhe dá os seus conselhos, como se fosse um pai a preparar o filho para as duras batalhas da vida (“não vos lembreis…”; “não presteis atenção…”). É preciso que descubramos, também nós, este Deus cheio de solicitude e de amor que caminha ao nosso lado; é preciso que aprendamos a detectar as suas indicações e os seus sinais – esses sinais quase sempre discretos, através dos quais Ele revela a sua presença ao nosso lado e através dos quais Ele nos indica os caminhos a percorrer.
• A vida cristã é uma caminhada permanente rumo a essa “coisa nova que já começa a aparecer” e que é o mundo novo do Homem Novo. É preciso, no entanto, que os crentes tenham a coragem de deixar o seu pequeno mundo de instalação e de comodismo, para aceitar o desafio de Deus e para ir mais além. O que é que, na minha vida, necessita de ser transformado? O que é que ainda me mantém alienado, prisioneiro e escravo? O que é que me impede de imprimir à minha vida um novo dinamismo, de forma a que o Homem Novo se manifeste em mim?
2ª leitura – 2Cor. 1,18-22 - AMBIENTE
A primeira carta aos Coríntios (que criticava alguns membros da comunidade por atitudes pouco condizentes com os valores cristãos) provocou uma reacção extremada na comunidade. Aproveitando a ocasião, alguns adversários de Paulo (pelo contexto, não se percebe exactamente se são esses “judaizantes” que queriam impor aos pagãos convertidos as práticas da Lei, ou se são cristãos que aceitam o laxismo da vida dos coríntios e que criticam a severidade de Paulo) organizaram uma campanha no sentido de o desacreditar. Acusaram-no de anunciar o Evangelho por interesses pessoais e ainda de apresentar uma mensagem que não estava em consonância com a doutrina dos outros apóstolos. Paulo, informado de tudo, dirigiu-se apressadamente para Corinto e teve um violento confronto com os seus detractores. O choque deve ter deixado marcas na comunidade. Depois, Paulo dirigiu-se para Éfeso.
Algum tempo depois, Tito, amigo de Paulo, fino negociador e hábil diplomata, partiu para Corinto, a fim de acalmar os ânimos dos coríntios e tentar a reconciliação. Paulo, entretanto, deixou Éfeso e foi para Tróade. Foi aí que reencontrou Tito, regressado de Corinto. As notícias trazidas por Tito eram animadoras: o diferendo fora ultrapassado e os coríntios estavam, outra vez, em comunhão com Paulo.
Reconfortado, Paulo escreveu uma “carta de reconciliação” na qual fazia uma tranquila apologia do seu apostolado (cf. 2Cor. 1,3-7,16) e desmontava os argumentos dos adversários (cf. 2Cor. 10,1-13,10). Juntou também, no mesmo escrito, algumas instruções acerca de uma colecta em favor dos pobres da Igreja de Jerusalém (cf. 2Cor. 8,1-9,15). Apareceu, assim, a nossa segunda carta de Paulo aos Coríntios. Estamos nos anos 56/57.
O texto que nos é proposto integra a primeira parte da carta (cf. 2Cor. 1,3-7,16). Aí, Paulo procura desfazer alguns mal-entendidos com os coríntios, dá notícias e, sobretudo, explica quais os princípios que sempre nortearam a sua acção apostólica.
Mais concretamente, o nosso texto faz parte de uma perícopa (cf. 2Cor. 1,12-2,13) onde Paulo se defende das acusações de volubilidade e de oportunismo. Em 1 Cor 16,5-9, Paulo falara da sua intenção de visitar a comunidade de Corinto e de se demorar por lá. Entretanto, por razões desconhecidas, teve de alterar os seus planos de viagem. Tal bastou para que os seus detractores o acusassem de ser uma pessoa em cuja palavra não se podia confiar. Do ponto de vista pessoal, Paulo não se preocuparia muito com a acusação; mas, dado que ela podia pôr em causa a sinceridade, a validez e a eficácia do seu ministério, Paulo apressou-se a explicar a situação e a reiterar a sua fidelidade aos princípios que sempre nortearam a sua vida.
MENSAGEM
Invocando o testemunho do próprio Deus, Paulo recusa a acusação de ser um oportunista e de dizer “sim” ou “não” conforme as circunstâncias. Paulo nunca conduzirá a sua vida desse modo. Porquê? A razão é simples: Paulo (e o mesmo acontece com Silvano e Timóteo) é um discípulo fiel de Jesus Cristo; e ser discípulo de Cristo exclui qualquer tipo de oportunismo ou de volubilidade.
O raciocínio de Paulo é simples… Deus é totalmente fiel às promessas que fez ao seu Povo. Todas as suas promessas realizaram-se através de Jesus Cristo, o Filho, que percorreu um caminho linear, marcado pela coerência, pela verdade, pela sinceridade, sem recurso a subterfúgios ou a lógicas de oportunidade. Ora, Paulo aderiu totalmente a Cristo, tornou-se discípulo de Cristo e aceitou percorrer o mesmo caminho de coerência e de fidelidade que Cristo percorreu. Quando Deus chamou Paulo a seguir Jesus Cristo (como aconteceu, aliás, com todos os outros cristãos), ungiu-o, marcou-o com o sinal de Cristo, imprimiu no seu coração o penhor do Espírito. Isso constitui uma espécie de certificado que garante a sinceridade, a coerência e a linearidade da vida de Paulo.
ATUALIZAÇÃO
• É importante que Paulo nos recorde o exemplo de Cristo e a coerência da sua vida. Cristo não moldou a sua vida de acordo com os seus interesses pessoais, os gostos das multidões, as indicações dos líderes ou as exigências da moda da época; nunca se preocupou em resguardar-se, em não escandalizar, em não perder adeptos, mas preocupou-se apenas com oferecer aos homens a verdade. Fiel ao projecto de salvação que o Pai lhe confiou, foi frontal, coerente, sincero, verdadeiro. Ele morreu porque nos seus olhos brilhava a verdade. Paulo recorda-nos, também, que ser cristão é seguir a Cristo e percorrer, com Ele, esse caminho de coerência e de sinceridade.
• Nos nossos dias, no entanto, estes valores não são demasiado apreciados. Certas figuras públicas que ditam a moda e moldam a opinião pública defendem que aquilo que hoje é verdade, amanhã é mentira; e cria-se uma certa cultura de oportunismo, de incoerência e de mentira. Qual o nosso papel de cristãos – de seguidores de Jesus – neste mundo?
• Nós crentes afirmamos repetidamente – nas nossas celebrações, nas nossas orações e cânticos – o nosso “sim” a Deus e ao seguimento de Jesus… A nossa vida de todos, os nossos valores e atitudes, os nossos gestos e palavras são coerentes com esses “sins”?
• Para Paulo, a coerência e a sinceridade são valores absolutamente imprescindíveis para todo aquele que se dedica ao ministério apostólico. Se um animador da comunidade não leva uma vida coerente, sincera, sem mentira, está a desautorizar e a causar danos irreparáveis à proposta que anuncia.
Evangelho – Mc. 2,1-12 - AMBIENTE
Voltamos a Cafarnaum, a cidade situada na margem ocidental do Lago de Tiberíades. Jesus continua a propor o “Reino” através das suas palavras e, sobretudo, dos seus gestos. Os “milagres” que Ele faz são sinais da presença compassiva e amorosa de Deus no meio dos homens e anunciam o mundo novo do “Reino”.
Entramos, no entanto, numa secção (cf. Mc. 2,1-3,6) onde os gestos de Jesus já não provocam apenas assombro e admiração, mas também repulsa e obstinação. A proposta de Jesus começa a questionar seriamente as pessoas e a provocar reacções desencontradas. De uma forma geral, o Povo acolhe Jesus e vê na sua proposta uma resposta para a sua sede de vida e de liberdade; mas os fariseus e os doutores da Lei (que a partir daqui aparecerão, cada vez mais em cena), instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, recusam Jesus e buscam todos os pretextos para O atacar. Começa a desenhar-se o conflito decisivo que vai levar Jesus à cruz.
A história que o Evangelho deste domingo nos apresenta é uma história estranha e, do ponto de vista lógico, cheia de incongruências. Porque é que os acompanhantes do paralítico tiveram que descobrir o tecto e não puderam esperar que Jesus saísse de casa? As pessoas que estavam na casa ficaram impávidas a ver o tecto ser levantado no meio de uma chuva de terra e ramos secos de árvore e não fizeram nada?
A nossa história não é, naturalmente, uma reportagem jornalística de acontecimentos. Marcos parte, eventualmente, do fato histórico da cura de um paralítico, mas a sua finalidade é, antes de mais, oferecer-nos uma lição de catequese. Os pormenores estranhos não são históricos, mas fazem parte da representação cénica montada por Marcos; são apenas elementos simbólicos que Marcos introduz no relato para tornar mais rica e expressiva a sua lição de catequese sobre Jesus e sobre a missão de Jesus no meio dos homens.
MENSAGEM
Toda a cena se passa numa “casa”. Que casa é essa? É uma casa onde Jesus está a “pregar a Palavra” e é uma casa onde se juntou (Marcos diz “congregou”) um tão grande número de pessoas, “que já não cabiam sequer em frente da porta” (v. 2). É também uma casa onde estão sentados/instalados alguns especialistas da Lei (escribas – v. 6). A “casa” onde Jesus prega, onde se congrega a comunidade judaica e onde há escribas instalados, poderia ser uma figura da sinagoga, entendida como assembleia do Povo de Deus. O facto de se referir que a “casa” em questão estava situada na cidade de Cafarnaum (o centro a partir do qual irradia a actividade de Jesus na Galileia) poderia indicar que Marcos está a falar da comunidade judaica da Galileia, em cujas sinagogas Jesus acabou de passar (cf. Mc. 1,39), anunciando a Boa Nova do Reino. Em qualquer caso, a “casa” representa essa comunidade judaica a quem Jesus dirige a pregação do “Reino”.
Depois de definido o cenário, entram em palco os actores. À “casa” chega “um paralítico transportado por quatro homens” (v. 3). Desde que entram em cena, o paralítico e os que o transportam apresentam-se como uma equipa inseparável, como peças de uma única máquina. O paralítico, personagem anónimo e sem voz, é o protótipo da invalidez, do homem que não pode mover-se por si mesmo e que não tem liberdade de acção. Os que transportam o paralítico, também anónimos e sem fala, têm como único traço característico serem “quatro”. Este dado, à primeira vista supérfluo, é importante: o “quatro” é um número carregado de simbolismo, que representa os quatro pontos cardeais e, em consequência, o mundo e a humanidade inteira. Os cinco (os quatro transportadores, por um lado, e o paralítico, por outro) representam duas facetas de uma mesma personagem – a humanidade inteira. É uma humanidade passiva e marcada por um mal que lhe rouba a vida e que lhe impede a liberdade (paralítico); e é uma humanidade activa, que não se conforma com o mal que a impede de ser livre e que busca ansiosamente a salvação (os quatro que transportam o paralítico).
Desde logo fica claro que o episódio pretende apresentar Jesus como “o salvador”; mas a presença do “paralítico” e dos “quatro” homens que o transportam sugere que a salvação que Jesus oferece não se destina apenas à comunidade judaica, mas à humanidade inteira.
Essa humanidade que sofre e que quer libertar-se da escravidão em que vive, procura ir ao encontro de Jesus para receber d’Ele a salvação… Mas “a casa” (isto é, a comunidade judaica) cobre Jesus e oculta-O ao resto da humanidade. Será preciso abrir um buraco no tecto da casa, forçando o obstáculo que o judaísmo representava (vers. 4). Nos esforços quase patéticos dos homens que transportam o paralítico, no sentido de colocá-lo frente a frente com Jesus, Marcos representa a ânsia com que o mundo espera a libertação que Cristo lhe veio oferecer.
A decisão e a tenacidade com que esta humanidade sofredora supera os obstáculos recebem o nome de “fé” (“ao ver a fé daquela gente” – vers. 5). A fé, no Novo Testamento, é aderir a Jesus, segui-l’O, acolher a proposta do Reino. Em todo o processo, essa humanidade ansiosa pela libertação manifesta uma vontade indomável de se aproximar de Jesus, de acolher a salvação que Ele tinha para oferecer, de entrar na dinâmica do “Reino”. Manifesta, portanto, a sua fé.
Essa vontade real de acolher a vida nova de Jesus indica que a humanidade escravizada está disposta a essa mudança de vida que é condição para o reinado de Deus. Jesus está plenamente consciente disso. Por isso diz: “Filho, os teus pecados estão perdoados” (v. 5). As palavras de Jesus significam que Deus aceita essa vontade de mudança, que o passado pecador deixa de pesar sobre o homem e que este pode começar uma vida nova. Pela adesão a Jesus, a humanidade “pecadora”, “impura”, fica totalmente purificada e reconciliada com Deus.
Segundo Marcos, os escribas presentes começaram a dizer no seu interior: “porque fala Ele deste modo? Está a blasfemar. Não é só Deus que pode perdoar os pecados?” (vs. 6-7). A objecção dos escribas representa a doutrina oficial de Israel. Segundo os dogmas de Israel, somente Deus podia perdoar os pecados. Jesus está a querer ocupar o lugar de Deus? Está a assumir-Se como um rival de Deus?
Para resolver o conflito, Jesus não Se socorre de argumentos teóricos, mas convida os que estão à sua volta a medir o alcance da sua autoridade. Na verdade, o perdão dos pecados é algo que só Deus pode dar… E curar um paralítico? Não será um sinal da presença de Deus em Jesus? Ao dizer ao paralítico “levanta-te, toma a tua enxerga e vai para casa” (v. 11), Jesus está a fazer algo totalmente novo, que será uma prova decisiva da sua autoridade divina. Demonstra, dessa forma, que Ele tem a autoridade de Deus para dar vida em plenitude ao homem que jaz prisioneiro da morte e da escravidão.
Que acontece a esse homem que recebeu de Jesus vida? O instrumento que representava a sua escravidão (a cama) já não o sujeita mais. Purificado e reconciliado com Deus, é agora um homem novo, livre, que rejeitou a escravidão do egoísmo e do pecado e que aderiu a Jesus e ao Reino. Da acção de Jesus resultou, para o homem, vida verdadeira e definitiva, vida total.
A reacção da multidão é glorificar a Deus. Perceberam finalmente que, através de Jesus, actua o próprio Deus. Jesus não é um rival que está a usurpar o lugar de Deus, mas Aquele que revela aos homens o amor de Deus.
Em conclusão: Deus, pelo seu amor universal, oferece o seu Reino a todos os homens por igual, sem distinção de povo ou raça, por meio de Jesus. Pela adesão a Jesus, fica apagado o passado pecador do homem e este recebe uma nova vida. O relato mostra a resistência e a incredulidade inicial dos ouvintes judeus diante desta mensagem; mas a vida nova que aparece naquele que se supunha indigno e excluído do Reino demonstra que o perdão/salvação que Jesus oferece tem o selo de Deus. Em Jesus, Deus manifestou a sua bondade e o seu amor pelo homem pobre e desvalido e inaugurou já o processo de plena libertação para a humanidade inteira.
O texto reflecte, sem dúvida, a experiência que se tinha na época de Marcos da vitalidade das novas comunidades formadas pelos antes excluídos de Israel (os doentes, os pecadores) e pelos pagãos que deram a sua adesão a Jesus.
ATUALIZAÇÃO
• O ponto de partida da nossa reflexão é, evidentemente, a constatação de que Deus tem um plano de salvação destinado a toda a humanidade. Essa humanidade que percorre diariamente estradas de sofrimento e de angústia, que penosamente caminha no meio de fracassos e de contradições, que é prisioneira do medo, da violência, da opressão, que vê tantas vezes frustrados os seus direitos a uma vida digna e feliz, que dia a dia experimenta na pele as consequências do egoísmo e do pecado, precisa de conhecer esta Boa Nova: Deus caminha, desde sempre, ao lado dos homens, preocupa-Se em proporcionar a cada pessoa a possibilidade de ser livre e feliz, quer que todos integrem a comunidade dos filhos amados de Deus… Para isso, Ele está sempre disposto, de forma totalmente gratuita e incondicional, a oferecer o perdão que purifica, que liberta e que coloca o homem numa órbita de vida nova.
• O plano de Deus para os homens não é uma declaração de boas intenções, mas uma realidade que assume forma histórica e concreta através de Jesus Cristo… Jesus, o Deus que veio ao nosso encontro, mostrou aos homens oprimidos e sofredores, com palavras e com gestos concretos, o empenho de Deus na salvação/libertação de todos os homens. Jesus fez-Se solidário com os sofredores, os excluídos, os oprimidos, os escravizados, e disse-lhes que Deus não os condenava. Convidou-os a integrar a família do “Reino”, apresentou-lhes um caminho de amor e de liberdade, ofereceu-lhes o acesso à vida verdadeira e definitiva. É este Jesus que, com palavras e com gestos, ama, liberta e salva que nós testemunhamos no meio dos nossos irmãos?
• Qual deve ser a nossa resposta à proposta que Deus nos faz através de Jesus? O Evangelho deste domingo fala, a propósito, da “fé” – isto é, de uma decisão consciente e indomável de adesão a Jesus e à sua proposta do “Reino”. Deus oferece-nos o seu amor – amor que nos integra na família de Deus, que nos liberta do egoísmo e do pecado e que introduz em nós mecanismos de vida eterna; mas nós temos de ultrapassar o imobilismo que tolhe os dinamismos de vida nova, o comodismo que nos impede de acolher os desafios de Deus, a auto-suficiência que não nos deixa estar disponíveis para Deus… Temos de nos colocar numa atitude de sincera abertura ao dom de Deus.
• Através de Jesus, Deus oferece a sua proposta libertadora a todos os homens. Mas, para que esta proposta tenha um impacto verdadeiramente libertador no mundo e na vida dos nossos irmãos, Deus conta com o nosso testemunho. Se muitos dos nossos irmãos continuam afundados no sofrimento e numa dor sem esperança, é porque nós não somos, verdadeiramente, sinais da ternura e da bondade de Deus; se muitos dos nossos irmãos são vítimas de sistemas de exclusão e de marginalização, é porque nós não conseguimos testemunhar os valores do “Reino”… Não teremos, às vezes, encerrado Jesus numa “casa” onde nem todos os homens têm acesso? Não teremos, às vezes, “domesticado” Jesus, impedindo que a sua proposta se torne verdadeiramente questionadora e libertadora? A forma cómoda, instalada, medíocre, como vivemos e testemunhamos a nossa fé não será impeditiva para que a proposta de Jesus transforme o mundo? Não estaremos a contribuir, com os nossos preconceitos, os nossos esquemas legalistas, os nossos juízos apressados, para que muitos dos nossos irmãos possam encontrar Jesus e experimentar a alegria da libertação que Ele veio oferecer?
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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Evangelho: Mc. 2, 1–12
1. O evangelho de Marcos quer responder à pergunta “quem é Jesus” para aqueles que desejassem tornar-se cristãos. Esta pergunta é respondida aos poucos e somente no fim é que estará completa. No trecho de hoje aparecem alguns traços importantes.
Veremos:
a. na casa – vv. 1-2
b. liberdade pela raiz – vv. 3-5
c. o conflito – vv. 6-11
d. o resultado – v. 12
a. na casa – vv. 1-2
2. Marcos gosta de mostrar Jesus em casa, em Cafarnaum, ponto de referência para sua ação. Aos poucos, em Marcos, a casa, vai se opondo à sinagoga e aos que nela instruem o povo, até que seja tramado o primeiro atentado contra Jesus (3,6).
3. De fato, as sinagogas eram reduto de doutores da Lei e fariseus. Já na primeira vez em que Jesus foi à sinagoga de Cafarnaum (1,21-28), o povo reconhece que ele trazia um ensinamento novo, dado com autoridade, diferente e superior ao dos doutores da Lei (1,22.27).
4. Há, portanto, um conflito de autoridade: a de Jesus que liberta e a dos doutores da Lei, incapaz de libertar. De fato, no episódio de hoje estão presentes os doutores da Lei (2,6) que levantam a seguinte questão: quem tem poder para perdoar pecados? (v7).
5. A casa vai atraindo as pessoas por causa da ação libertadora de Jesus. Diante dela o povo da cidade já se havia aglomerado (1,33), e agora novamente o pátio está cheio de gente. Essa informação prepara a cena seguinte, e mostra Jesus ensinando (v.2b). Novamente Marcos omite o conteúdo desse ensinamento. Mas quem lê atentamente esse texto descobre que o conteúdo de seu ensinamento é sua prática libertadora, diferentemente do que faziam fariseus e doutores da Lei.
b. liberdade pela raiz – vv. 3-5
6. Acreditava-se naquele tempo, que as doenças fossem castigo por causa dos pecados. Haveria, na pessoa, um mal escondido e invisível (para as pessoas, mas não para Deus), causador dos males externos, visíveis a todos. Por isso os doentes eram vistos como grandes pecadores, capazes de esconder seu pecado às pessoas, mas não a Deus. A doença – neste caso, a paralisia – seria sinal pelo castigo de algo invisível aos olhos humanos.
7. A paralisia é uma doença cruel, sobretudo, quando acompanhada de outra doença, a do preconceito. Lido em profundidade, o episódio faz pensar em todas as formas de paralisia suportadas pelo povo no tempo de Jesus e também hoje. HOJE sabe-se que os males que afligem o povo não vem de Deus. Jesus nos ensinou, nesses ca-sos, a inocentar Deus e a buscar as verdadeiras causas que mantêm o povo paralítico e dependente.
8. A solidariedade com quem sofre, como a desses quatro homens que carregam o paralítico, aliada à criatividade (destelhar o teto) abre caminho para a superação de todos os males que afligem o povo. O paralítico teve sorte de encontrar pessoas que o amavam e se preocupavam com ele, corajosas a ponto de destelhar uma casa para obter-lhe a cura.
9. Jesus não fica indiferente a esse detalhe, e Marcos observa que viu a fé que eles tinham (v.5a). E vai à raiz de todas as paralisias, curando o paralitico: “Filho, os seus pecados estão perdoados” (v.5b). Responde-se, dessa forma à insistente pergunta do evangelho de Marcos: “quem é Jesus?”. Ele vence o pecado com o perdão.
c. o conflito – vv. 6-11
10. Estão aí sentados alguns doutores da Lei (v.6a). Há um conflito de autoridade, de poder. Eles já são conhecidos do Evangelho de Marcos, pois, como vimos, o povo tem um conceito formado a respeito deles, sobretudo quando são comparados com Jesus: eles ensinam, mas seu ensinamento não liberta. Sua ligação profunda com a Lei, da qual são peritos, não significa que tenham chegado ao cerne da mesma. O povo, desconhecedor da Lei, entende mais dela do que os peritos, pois, quando Jesus se apresenta com um ensinamento que liberta, logo o povo reconhece que está diante do “novo”.
11. Os doutores da Lei acusam Jesus de estar blasfemando, pois somente Deus tem poder para isso. A blasfêmia era punida com sentença capital (Lv 24,16). Jesus, porém, conhecia o íntimo do paralítico e sabia que não estava sofrendo por causa do pecado; e conhece também o intimo dos doutores da Lei, que secretamente o acusam de blasfêmia e de ser réu de morte. E passa ao ataque.
12. De fato, naquele tempo, de acordo com as prescrições da Lei, o perdão era obtido mediante sacrifícios. Jesus, porém, perdoa o paralítico sem necessidade de sacrifícios. Abole-os, portanto. E indiretamente acusa os letrados. Eles, apesar do amparo da Lei, são incapazes de, libertando as pessoas de suas paralisias, devolver-lhes a vida.
13. O Evangelho de Marcos nada fala da reação dos doutores da Lei diante da resposta de Jesus. Logo adiante (3,22) aparecerá a reação venenosa deles, acusando Jesus de estar agindo sob as ordens de Belzebu, comandante dos demônios. Marcos simplesmente mostra Jesus fazendo antes o mais difícil (perdoar pecados, fato que o situa em pé de igualdade com Deus), para depois fazer o mais fácil (ordenar ao paralítico que pegue sua cama e vá para casa).
d. o resultado – v. 12
14. Jesus curou o paralítico por dentro e por fora, para que ele seja plenamente senhor de suas ações. Ele começa vida nova, fazendo o que nunca tinha feito, ou seja, carregar a própria cama. Antes, vivia de favores e dependente. Agora está livre e pode, como a sogra de Pedro (1,31) servir a outros. Chegou carregado, saiu carregando. O povo reage positivamente, louvando a Deus, exatamente como fazem muitos salmos de cura. E reconhece estar diante de uma novidade absoluta: “Nunca vimos coisa assim!”.
1ª. Leitura: Is. 43, 18-19 . 21-22 . 24b – 25
15. O trecho pertence ao Segundo Isaías (Is 40-55), profeta anônimo que acompanhou o povo de Deus durante o exílio na Babilônia (586-538 a.C.), esforçando-se por manter de pé a confiança no Deus que liberta e dá a vida.
16. No horizonte da história vai aparecendo nova potência, o império persa. Ciro, rei dos persas, se agiganta, de modo que os tempos do domínio dos babilônios vão se encurtando. A ascensão de Ciro e dos persas serviu de lição ao Segundo Isaías. Aos poucos adquire-se clareza a respeito de nova percepção de Deus como Senhor da história e de todos os povos. Ciro libertará os judeus do cativeiro, mas o Senhor de tudo e de todos é somente um: Deus.
17. Estamos dentro desse panorama histórico. Apesar de terem sido feitos cortes no texto, pode-se dividi-lo em dois momentos: 18 a 21 (a liturgia omitiu o v.20) e 22-28 (deste segundo momento lêem-se apenas os vv. 22.24b.25). O primeiro momento fala da novidade que está para acontecer, ou seja, o profeta sente que o exílio está acabando. Tem a coragem de pedir às pessoas que esqueçam o passado e as coisas antigas (v.18). Esse detalhe é interessante, pois o povo da Bíblia sempre fez questão de conservar a memória histórica, porque, sem ela, nenhum povo mantém a própria identidade. É o que o Segundo Isaías prevê: um retorno glorioso à terra da liberdade e da vida, a ponto de fazer esquecer a epopéia do livro do Êxodo. Nesse sentido, pode-se tranquilamente esquecer essas coisas, pois o novo as superará (19a). Nota-se aqui a superação da saída do Egito. Naquela ocasião o povo vagou pelo deserto (aqui, ao contrário, haverá uma estrada) e sofreu com a escassez de água (aqui, em pleno deserto, jorrarão rios).
18. No segundo momento, (22-28) temos uma queixa de Deus contra seu povo. A conversão do povo a Deus e à novidade que traz deveria estabelecer a ponte entre o primeiro momento e o segundo. Contudo, o povo não só deixou de invocar Javé, mas cansou-se dele, desistindo de servi-lo. Mais ainda: o povo comportou-se em relação a Deus como patrão cruel e despótico. Deus jamais deu trabalho ao povo, exigindo oferendas, sacrifícios e incenso. (De fato, no exílio não havia culto, nem templo, nem sacrifícios). Mas o povo, sim, deu trabalho e canseira a Deus com seus pecados (v.24).
19. O que fará Deus a esse povo que o tratou tão duramente? Ao invés de responder com castigo aos pecados do povo, responde com a misericórdia e o perdão gratuito: “sou eu, eu mesmo, que cancelo tuas culpas por minha causa e já não me lembrarei de teus pecados” (v.25). A libertação do jugo da Babilônia revela o amor e o perdão gratuitos de Deus.
2ª. Leitura: 2Cor. 1, 18–22
20. A segunda carta aos coríntios é uma coleção de pelo menos cinco cartas que Paulo escreveu a essa comunidade em momentos e contextos diferentes. Os versículos da leitura de hoje pertencem à carta da reconciliação escrita após a superação do conflito (descrito na atual 2Cor. 10-13).
21. Essa carta de consolo e de reconciliação está assim distribuída: 2Cor. 1,1-2,13 + 7,5-16. Teria sido escrita na Macedônia (2Cor. 7,5-7), às vésperas da terceira visita de Paulo à comunidade de Corinto (cf. 13,1), no ano 55 ou 56. O clima, portanto, é de consolo em meio à tribulação (note-se como se fala insistentemente disso em 1,1-9) e de reconciliação.
22. Paulo justifica por que não foi a Corinto no calor do conflito com a comunidade. Não fugiu do conflito nem tremeu de medo. Parece que alguns coríntios, sobretudo quem ofendeu violentamente a Paulo, teriam afirmado que o fundador dessa comunidade tinha um comportamento ambíguo, oscilando entre o sim e o não: ora diz uma coisa, ora outra; ora faz isso, ora faz aquilo; ora diz isso, mas faz aquilo; ora diz aquilo, mas faz isso … Ambigüidade total.
23. Paulo se defende e defende seu ensinamento, chamando como testemunha o Deus fiel. E, querendo defender-se, acaba nos oferecendo um retrato grandioso de Jesus. Esquece-se de si e fala da fidelidade de Jesus ao projeto do Pai. É dessa forma que prefere se defender: mostrando-se discípulo do Jesus fiel. A palavra e a ação de Jesus nunca sofreram de ambigüidade. Pelo contrário, Jesus é a realiza-ação de todas as promessas de Deus e a garantia de que Deus é plenamente fiel.
24. Paulo se aproxima muito do Jesus de João, que diz: “Quem me viu, viu o Pai” (Jo. 14,9). Nessa linha, em outro lugar, Paulo pede aos coríntios: “sejam meus imitadores, como eu também o sou de Cristo” (1Cor. 11,1). Se Jesus é a prova cabal da fidelidade de Deus para com a humanidade, só existe para nós uma resposta cabível: dizer “amém” a Deus Pai. Em outras palavras, dando nossa adesão a Jesus, estaremos dizendo “amém” a Deus.
25. “Amém!” Essa palavra nada tem de passividade ou resignação. É um termo hebraico (‘emunah) traduzido como verdade ou fidelidade. A fidelidade é uma das características do Deus da aliança. Dizer “amém” a Deus não é assinar um cheque em branco, mas assinar uma declaração consciente de que sabemos e experimentamos que Deus é plenamente fiel. Ao dizer “amém” estamos dizendo: “isto é verdade, e eu me comprometo com ela”. O Espírito, dado aos cristão e posto no coração (=consciência) deles, é a garantia de tudo isso. Notemos a dimensão trinitária, fruto da ação do Espírito (unção, v. 21) presente nos cristãos.
R e f l e t i n d o . . .
1. A Eucaristia que celebramos é o ponto alto da misericórdia e do perdão divinos. Não a celebramos porque somos melhores do que os outros; não somos perdoados porque merecemos, mas porque Deus é perdão gratuito (I leit.).
2. Na Eucaristia Jesus nos restaura plenamente, curando-nos por dentro e por fora. Ensina-nos a ser solidários com quem sofre, compadecendo-nos (ev.). Nela encontramos Jesus, a realização de todas as promessas do Pai, expressão máxima e insuperável de fidelidade. Por meio dele, e ungidos pelo Espírito, dizemos nosso “amém” ao Pai (II leit.).
3. No evangelho de hoje presenciamos um típico “sinal” de Jesus, e este sinal nos faz também entender o sentido dos outros sinais dele. A história do paralitico poderia ser uma “simples” cura de um homem que foi baixado pelo teto diante dos pés de Jesus, porque havia tanta gente que não existia outro jeito. MAS onde a gente esperava uma cura, Jesus perdoa. O que nem foi pedido. (Jesus sempre faz mais do que pedimos ou esperamos … ele sempre nos surpreende!) Também não poderia ter sido pedido, pois, para perdoar, é preciso uma “autoridade” especial e esta, só Deus a tem (I leit.). Por isso, as “autoridades” acusam Jesus de blasfêmia.
4. Na verdade, porém, não é uma blasfêmia, senão a revelação da verdadeira missão de Jesus, que transparecia na “autoridade” que o povo observou nele (cf. 1,22): “Para que vejais que o Filho do Homem tem autoridade na terra …”. Todos os termos são importantes: “Filho do Homem” : a figura celestial de Dn. 7, a quem é dada a “autoridade”(exousia), porém, não lá no céu, mas aqui “na terra”, portanto, na execução da intervenção escatológica de Deus. É a hora do juízo aqui na terra. Mas este Juízo não serve para destruir os impérios, como em Dn. 7, mas para perdoar, restaurar, pois Deus não quer a morte; pelo contrário, como Pai e Criador, renova a vida.
5. E o sinal que deixa transparecer este último sentido é o seguinte: “Para que vejais que tenho esta autoridade (e agora fala ao paralítico): Levanta-te, toma tua cama e anda”. Não convém perguntar se o homem era pecador (quem é justo diante de Deus?), o importante é que ele é destinatário e ocasião de uma revelação do amor criador do Pai em Jesus, exercendo o poder do Filho do Homem de um modo inesperado, aqui na terra. “Jamais vimos tal coisa”, exclama o povo.
6. Jesus se revela como plenipotenciário de Deus. Mas não apenas isso. Revela também uma dimensão do Juízo de Deus que facilmente era esquecida naquele tempo de esperança apocalíptica. Esperava-se vingança, condenação, fogo. Mas Deus tem outros meios para sanar a situação. No tempo do exílio babilônico, Israel estava numa situação de desespero. Aí, Deus resolveu jogar longe de si o pecado com o qual o povo o cansara (em vez de o povo se cansar em procurar Deus!) (Is. 43,22-25; 1ª. leit.). Este é o juízo do qual Deus sai vencedor (43, 26): ele perdoa! Deus queria trazer Israel de volta à sua terra; mas isto não serviria para nada, se o povo , primeiro, não “voltasse” (se convertesse) interiormente. Precisava de perdão, como de uma nova criação.
7. Entendemos, assim, melhor a autoridade escatológica que se manifesta em Jesus, o Filho do Homem. Este poder de juiz nada mais é do que uma explicitação do poder creacional. Pois o último juízo, é, em última análise, uma nova criação: “Eis que eu faço novas todas as coisas!” (Ap. 21,5). Ora, o comportamento verdadeiramente divino para com a criatura não é destruí-la, mas reconstruí-la e recriá-la; não quer a morte do pecado, mas que se converta e viva (Ez. 18,23). Por isso, o Filho do Homem não vem destruir, mas perdoar. A “autoridade” que ele recebeu de Deus é marcada por aquela outra qualidade de Deus, que é mais característica: a “misericórdia” (cf. Mc. 1,41; 6,34, etc.).
8. No domingo passado, Marcos nos mostrou Jesus como tendo o poder de superar a marginalidade do leproso. Hoje, mostra-o vencendo uma exclusão pior: a do pecado. É uma história pitoresca. Jesus contando suas parábolas, o povo apinhado em torno dele, o pessoal chegando com o paralítico deitado numa maca, subindo ao telhado, abrindo o teto de pau recoberto. O paralítico baixado com cordas diante dos pés de Jesus, a consternação dos que sentavam na primeira fila, os escribas, os teólogos … E aí a surpresa do paralítico: em vez de curá-lo, Jesus lhe perdoa o pecado.
9. E quando os teólogos na primeira fila (que sabem mais sobre Deus que ele mesmo!) começam a protestar, dizendo que só Deus pode perdoar o pecado, Jesus realiza o sinal da cura para mostrar sua autoridade: a autoridade do “Filho do Homem” (o executor do juízo de Deus na visão de Dn. 7, 13-14).
10. A história não contou que o aleijado era pecador. Mas Jesus o sabia. Aliás, quem não é? Jesus se revela como detentor do poder-autoridade de Deus. Ele é mais que um curandeiro. Ele tem poder sobre o pecado. Ele é o “Filho do Homem”. O que ele veio fazer não era tanto tirar as doenças físicas, mas cassar o pecado. Deus não quer nem mais se lembrar do pecado do povo (I leit.). Curar, até os médicos conseguem. PERDOAR, só Deus . . . e seu “executivo!”.
11. Também a Igreja (povo messiânico) deve combater o pecado. Deve apontar o mal fundamental que está no coração das pessoas e na própria estrutura da sociedade. Para mostrar que tem moral para fazer isso, servem os sinais: dar o exemplo, aliviar a miséria material do mundo, lutar por estruturas justas, por mais humanidade, por tudo o que cure e enobreça os filhos e filhas de Deus. O empenho para melhorar, em todos os sentidos, a vida das pessoas autoriza a Igreja a denunciar o mal moral e a urgir a terapia adequada, que é a conversão das pessoas e da sociedade.
12. Há quem ache que a Igreja deveria primeiro melhorar as condições materiais, a saúde, a cultura, etc., para dar mais “base” à sua mensagem “espiritual”. MAS Jesus pronuncia primeiro o perdão do pecado, e depois, mostra que ele tem poder para tratar da enfermidade material. Observando com lucidez nossa sociedade, parece que o mais urgente é livrar as pessoas do mal fundamental, que é o pecado. Então, a libertação total, inclusive histórica e material, deitará raízes num chão livre da erva daninha do pecado, e não faltarão recursos para dignificar a vida em todas as suas dimensões.
“Aquele que nos confirma, a nós e a vós, na nossa adesão a Cristo é Deus, que nos ungiu, e nos marcou com um selo e pôs em nossos corações o penhor do Espírito.”
prof. Ângelo Vitório Zambon
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1. “E Jesus anunciava-lhes a palavra” (Mc. 2,2)
Chama atenção este dato importante da vida de Jesus, ou seja a extrema consciência da sua missão: anunciar a Palavra. Enquanto meditava este versículo, lembrei aquilo que são Paulo afirma na primeira carta aos Coríntios: “É pelo Evangelho que vocês serão salvos” (1Cor. 15,2). Jesus, então, não perde tempo: logo que se reúne um grupinho de pessoas, Ele anuncia-lhe a Palavra, na consciência que esta, se for acolhida, produzirá a salvação. É um versículo forte, que mexe bastante com o meu ministério, pois perante a postura de Jesus, sou obrigado a me questionar: será que também eu sou tão pressuroso e solicito no anuncio do Evangelho? Lembrei também do trecho de Isaias, que a liturgia proclama no dia de Natal, que diz assim: “Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz” (Is. 52,7). Quantas vezes experimentamos a alegria de sermos anunciadores da paz, levando a Palavra de Deus para os nossos amigos, amigas ou em vários contextos. Só que pra nós não é algo de constante; pra nós não é espontâneo falar de Deus, do mistério do Reino de Deus com as pessoas que encontramos. Talvez seja o pecado que mora em nós, a atenção a nossa vida, aos nossos projetos, que enfraquece o élan, a força para anunciar o Evangelho. É nessa altura que se torna importante refletir sobre as leituras de hoje, que aprofundam o tema do pecado e da misericórdia infinita de Deus.
2. “Jesus disse ao paralítico: filhos os teus pecados estão perdoados” (Mc. 2,5).
O texto do Evangelho de hoje apresenta muitos elementos para uma compreensão do mistério do pecado. Em primeiro lugar, num sentido espiritual, este versículo nos revela que o pecado produz uma espécie de paralisia, que afeta a nossa vontade. O pecado é um projeto antagonista ao projeto de Deus. Por isso, quando deixamos que a tentação se transforme em ação, é todo o complexo da nossa existência que fica afetado. Se sentirmos falta de vontade de rezar, pouco entusiasmo com os trabalhos da Igreja, vontade de desistir de tudo, podemos ficar certos: é o pecado que, de uma forma ou de outra, entrou na nossa vida e está afetando os centros vitais da nossa vida espiritual, paralisando a nossa existência. É interessante observar que, na perspectiva aberta no Evangelho de hoje, o pecado não visa colocar o homem num projeto de vida diferente, mas simplesmente tirá-lo do caminho de Deus, deixando-o paralisado, sem forças. A situação do homem, da mulher, que se deixa vencer do pecado é, então, isso mesmo: uma vida amorfa, sem vontade de fazer nada, desnorteada, preguiçosa. É nesse sentido que é possível entender a ligação, que Jesus aponta, entre situação física e espiritual da pessoa. Curando a alma do paralítico, Jesus recoloca nele a vida, a força de vontade, o desejo de viver, a vontade de proclamar o Evangelho. Por isso, os santos são tão zelosos com as coisas de Deus, cheios de vontade, esbanjando saúde espiritual de todo lado: é a vida em Deus que dá a pessoa a vontade de viver.
3. Se na pagina do Evangelho encontramos claros elementos, que nos ajudaram a esclarecer os efeitos devastadores do pecado na nossa vida, no texto de Isaias, que escutamos na primeira leitura, descobrimos em que sentido deve ser entendida a misericórdia de Deus.
“Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos” (Is. 43,18).
Conforme a quanto acabamos de escutar, o perdão de Deus se manifesta antes de mais nada como um esquecimento. Para quem procura Deus para se arrepender dos próprios pecados, encontrará um Pai bondoso disposto a esquecer os erros do filho. Isso é magnífico, porque aquilo que nós não conseguimos fazer, Ele o realiza de uma vez. De fato, se pensarmos com atenção, quando caímos no pecado, não conseguimos esquecê-lo e continuamos nos condenando o tempo todo, com medo de nos aproximarmos a Deus, com vergonha dEle.
A manifestação do perdão de Deus é o esquecimento dos nossos pecados, também porque se não esquecermos os nossos erros, não conseguiremos nunca realizar o plano de Deus. “Eis que eu farei coisas novas, e que já vão surgindo” (Is 43,19). A vocação é isso mesmo: deixar que Deus faça de nós algo de novo, nunca visto. Para isso acontecer, precisamos largar a brilha da nossa vida, deixando que seja Deus a segurá-la. O pecado se manifesta nessa forma também, ou seja, na teimosia de querermos dirigir a nossa existência do jeito que queremos. Se nos arrependermos da nossa teimosia, Deus nosso Pai irá esquecer para fazer de nós algo de novo, imprevisto, que ninguém podia imaginar, pois os mistérios de Deus são escondidos com Cristo em Deus (cf. Col. 3,3).
4. Na pagina da segunda carta aos Coríntios, que hoje ouvimos na segunda leitura, são Paulo confirma tudo aquilo que acabamos de colocar.
 “É Deus que nos confirma, a nós e a vós, em nossa adesão a Cristo, como também é Deus que nos ungiu” (2Cor. 1,21).
Tudo é de Deus e tudo vem de Deus. A consciência dessa realidade, nos deve levar sempre mais a entregar a nossa existência nele, sem tentar de recuperá-la para segurá-la. O pecado manifesta-se, também nessa forma, na tentativa implícita ou explicita, de querer dominar a nossa vida, de poder controlá-la. “Foi Cristo que nos marcou com o seu selo”(2Cor1,22). Se de verdade levamos na nossa alma o selo de Cristo, então, com Ele e atrás dele, devemos seguir o caminho da cruz, que é o caminho da entrega total. Se percebermos algumas resistências nesse caminho, é porque fragmentos do pecado, que é o egoísmo, estão ainda escondidos dentro de nós. Percebendo isso não devemos ficar tristes (seria um claro sinal do nosso orgulho machucado), mas prontos e disponíveis para o arrependimento e disponíveis ao perdão de Deus, que esquece o nosso pecado a ponto de colocá-lo no mais profundo abismo dos mares (é uma imagem extremamente linda da sabedoria israelita, que se encontra em um texto de Isaias e também num salmo).
Deus quer fazer de nós algo de novo, por isso o seu olhar é sempre dirigido ao futuro. Pedimos ao Senhor que esta Eucaristia produza em nós o desejo de colocar toda a nossa vida nas mãos de Deus, para sermos assim capazes de olharmos sempre na nossa frente e esquecer o nosso passado de pecado.
padre Paolo Cugini

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Jesus  nos ensina  um jeito novo de amar e expressar esse amor para com as pessoas com quem convivemos. Maria Regina.

                                Chama-nos atenção, hoje, a ordem de Jesus ao paralítico. Com apenas uma palavra Ele curou aquele homem: "Levanta-te, pega o leito e vai para casa!" Não foram os parentes que levaram o paralítico a Jesus, foram os seus amigos, mas Jesus o enviou primeiramente à sua casa. Deus está querendo resgatar as famílias e é na nossa casa, junto à nossa família, onde primeiro nós precisamos espalhar o amor que recebemos de Deus. O maior objetivo de Deus é nos curar e curar os nossos amigos para que tenham uma nova vida no seio da sua família. O pecado nos paralisa, por isso, todos que estão paralíticos precisam conhecer Jesus para que sejam libertos, a começar dentro da nossa casa e de nós mesmos .
                                 Somos curados para amar, Jesus nos tira da paralisia que nos impede de expressar carinho e atenção para com aqueles que nos são mais preciosos e nos convida a pôr em prática um projeto novo de reconciliação e entendimento junto à nossa família. Pegar o leito significa assumir a vida, os encargos, o jeito de ser e enfrentar a família e o mundo com "outros olhos". O Senhor quer nos ensinar um jeito novo de amar e expressar esse amor para com as pessoas com quem convivemos. Perdoar as suas faltas, ter compreensão com as suas falhas e ajuda-las a caminhar ajudando-as a levar a sua carga. Esse é o projeto de Deus para a sua família! Reflitamos:– Você tem tido o cuidado de tornar convincente o projeto de Deus dentro da sua casa? – Você é daqueles que se sentem melhor com os de fora? – Você ainda está paralítico ? – Você sente-se preso dentro da sua casa? – O tempo do Natal é tempo de reconciliação: você precisa se reconciliar com alguém?
Amém
Abraço carinhoso
Maria Regina 
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"NOSSOS PARALÍTICOS..." – Diac. José da Cruz

Certa ocasião, quando refletíamos esse evangelho em grupo, alguém perguntou se na casa onde Jesus estava pregando, havia elevador ou coisa parecida, se olharmos o relato em si mesmo, vamos acabar fazendo outras perguntas como, “Será que eles não podiam pedir licença para passar no meio das pessoas e entrar na casa?” e mais ainda... Seria normal que as pessoas que estavam aglomeradas á entrada, quando vissem o esforço dos quatro homens, subindo na parede com o paralítico deitado em uma cama, oferecessem ajuda, buscando uma alternativa mais fácil...
O próprio Jesus, não poderia ter dado um jeito de sair para atender o paralítico, sem precisar tanto esforço de subir e ainda ter de abrir um buraco no telhado? Fazer perguntas como essas, é muito importante para a nossa reflexão, pois vamos e convenhamos, o modo que eles encontraram para colocar o paralítico á frente de Jesus, não foi o mais fácil, aliás, correu-se até o risco de um grave acidente.
Hoje em dia a gente sabe que nossos templos existentes, ou os que estão em construção, devem ter em seu projeto, a construção de rampas, para facilitar o acesso de nossos irmãos deficientes. Mas com certeza, não é este o tema do evangelista, ele está querendo dizer alguma coisa as suas comunidades e aos cristãos do nosso tempo.
Dia desses, alguém bastante estressado dizia-me que certas pessoas só atrapalham a vida da comunidade, porque são muito radicais, geniosas, incomodam a rodos, e o tempo todo só arranjaram encrencas e mais encrencas, concluindo, dão muito trabalho, são sempre do contra, enfim, chatas e duras de engolir, e que sem elas, a comunidade é uma maravilha, o conselho deveria tomar providência, ou quem sabe, o padre impor a sua autoridade.
Pessoas com essas características não caminham, e ainda dificultam a vida de quem quer caminhar: pronto, já começamos a descobrir os paralíticos e paralíticas de nossas comunidades, irmãos e irmãs que não se emendam de seus defeitos, nunca mudam o seu jeito de ser, não se convertem e precisam portanto, ser acolhidas e carregadas. Há irmãos na comunidade que a gente tem prazer de encontrar, é sempre uma alegria imensa, mas há também esses, que nos perturbam, incomodam, e a gente não fica a vontade, se estão conosco em uma reunião da pastoral ou do movimento, a troca de “farpas” será inevitável...
Há no texto duas coisas que chamam a nossa atenção, primeiro o esforço desse quarteto, subir pela parede, desfazer o telhado e descer a cama com cordas. Jesus elogia-lhes a fé, parece até que fez o milagre como retribuição a tanto esforço. Eles tinham fé em Jesus Cristo, sabiam que se o levassem diante dele, seria curado, mas por outro lado, embora o texto não cite isso, a gente percebe que o amavam muito, tiveram com ele muita paciência, sei lá quantos quilômetros tiveram que andar, carregando aquela cama que deveria ser pesada, e ainda, ao deparar com a multidão aglomerada á frente da casa, poderiam ter desistido, já tinham feito a sua parte. Mas a força do amor e da fé, fez com que não desistissem, e se preciso fosse, seriam capazes de derrubar a casa.
Os quatro são uma referência para as nossas comunidades, onde muitas vezes falta-nos o amor e a fé, para carregar nossos paralíticos e superar os obstáculos, passando por cima dos preconceitos. Nas comunidades há pessoas amorosas, pacienciosas, que aceitam conviver com todos, amando-os como eles são, sem exigências, preconceitos ou radicalismo, mas há também a turma de “nariz empinado”, como aqueles doutores da lei, que não crê em um Deus que é misericórdia, e que perdoa pecados, seguem normas e preceitos, até trabalham na comunidade, mas são extremamente exigentes com os “paralíticos”, acham-se perfeitos e não aceitam a convivência com os imperfeitos.
Jesus elimina o problema pela raiz, “Filho, teus pecados te são perdoados...”, a cura física vem em segundo plano, e se a enfermidade impede que o paralítico se aproxime de Jesus, a comunidade os carrega, possibilitando que ele também faça a experiência do Deus que perdoa, ora, se houver na comunidade intolerância, preconceitos, e ranços ocultos, como é que essas pessoas poderão experimentar o amor, o perdão e a misericórdia? Os intolerantes têm sempre um olhar extremamente crítico e severo, para com os paralíticos, e não aceitam que outras pessoas tenham por eles amor e ternura, manifestada na paciência e tolerância.
Por isso Jesus ordena – levanta-te, toma o teu leito e vai para casa. Deus nunca faz as coisas pela metade, na obra da salvação, Jesus não fez simplesmente uma reforma no ser humano, mas o transforma em uma nova criatura, na graça santificante do Batismo, fazendo com que deixe de se relacionar com Deus na religião normativa, porque crê no Deus que é todo amor e misericórdia, que perdoa pecados e os liberta com a sua santa palavra, em Jesus de Nazaré.