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sexta-feira, 15 de abril de 2011

Comentários – Prof. Fernando

Comentários – Prof. Fernando  17 de abril = Domingo da Quaresma 2011

Da Leitura de Mt 21, 1-11 (Procissão) As multidões gritavam: Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus! Quando Jesus entrou em Jerusalém a cidade inteira se agitou e diziam: Quem é este homem?

Da 1ª.Leitura Is 50,4-7

para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida...para prestar atenção como um discípulo o Senhor abriu-me os ouvidos ... não desviei o rosto de bofetões e cusparadas

Do Salmo  Sl 22

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? Riem de mim os que me vêem... Numerosos cães me rodeiam furiosos... furaram minhas mãos e pés... entre si repartem minhas vestes

Da 2ª.Leitura Fl 2,6-11

Jesus Cristo, de condição divina...ele esvaziou-se a si mesmo  assumindo a condição de escravo tornando-se igual aos homens... humilhou-se fez-se obediente até a morte e morte de cruz.

 

INTRODUÇÃO – A SEMANA SANTA

O "Domingo de Ramos" abre a "Semana Santa" que é a celebração mais importante do culto cristão, recordando a Paixão, a Morte e a Ressurreição de Jesus Cristo.

A Paixão começa na Quinta-feira quando recordamos o Sinal da entrega de Cristo em dois gestos interligados:

1)    o Serviço ("lavar os pés" dos discípulos em vez de "ser servido" como Mestre).

2)    a entrega (Eucaristia) é o dar-se de corpo e alma, como se diz, chegando a se tornar alimento a ser consumido pelos outros. Afinal, maior não tem senão aquele que entrega a vida pelos amigos –Jo15,13)

Essa entrega do Filho de Deus feito Homem, fez daquela "Última Ceia" uma Páscoa que não é mais apenas a memória da saída do Egito e passagem para a Terra Prometida mas da Passagem do Filho do Homem retomando o convívio com o Pai e uma vida que não mais lhe será tirada (Ressurreição) garantia de nossa própria esperança de vencer a morte.

Na Sexta-feira a Paixão de Jesus atinge seu clímax na morte de cruz.

A partir da "Vigília do Sábado Santo", iniciado com a bênção da Água e do Fogo, entramos na alegria da Ressurreição do "Domingo de Páscoa. O primeiro dia da semana, quando o túmulo foi encontrado vazio, passou a chamar-se no cristianismo "Domingo" (do latim dia do Senhor).

 

"DOMINGO DE RAMOS" – Da ENTRADA NA CIDADE à A PAIXÃO, segundo MATEUS

            Agitando ramos pelas ruas, o povo aplaude Jesus em sua entrada na tradicional capital do reino judaico. O que faziam era uma espécie de passeata política: sabemos que a multidão esperava era um a entronização do rei (messias) que viria restaurar a nação, então sob a ocupação romana. Na verdade eles continuavam perguntando conforme conta Mateus (21,10 na procissão dos Ramos): Quem é este homem?

            A leitura da Paixão segundo Mateus mostra o outro lado da medalha. O mesmo povo que aclamou o suposto futuro rei dos judeus será manipulado para pedir a morte de Jesus. Orientada pelos seus próprios chefes religiosos e políticos (que precisam bajular Pilatos pois só ele detinha o poder de sentença final) a multidão prefere seguir os políticos mentirosos e hipócritas, tantas vezes acusados pelo Mestre por causa da falsidade de comportamento e dos "pesados fardos" jogados sobre os ombros dos outros. Afinal essa é a "hora do poder das trevas". Muitos queriam vingar-se do Nazareno que condenava a dominação religiosa, econômica e social das massas.

            Na Sexta-feira, a leitura da Paixão seguirá o texto de João, que poderíamos considerar mais "existencial" e intimista. Ali, Jesus revela o seu sofrimento, de inocente injustiçado. Ali, Jesus só tem o conforto da presença de sua mãe e de poucos amigos e amigas. Ali, o carinho expresso na última ceia se cobre de sangue do justo injustamente torturado e assassinado.

            Mas, no domingo de Ramos, a leitura da Paixão segue o texto de outro evangelista (nesse ano de 2011: a narração segundo Mateus).

            Parece que a história de cada Homem se dá entre três relações fundamentais:

Primeiramente, fomos inseridos logo ao nascer numa cultura, numa comunidade cujos costumes e língua pátria aprendemos. É o universo das relações sociais e políticas dentro de uma "nação".

Também desde a infância, procuramos uma identidade pessoal e vamos construindo uma personalidade e, embora continuemos na interação social de uma Educação, buscamos mais liberdade e autonomia pessoal.

Transpassando esses dois mundos, o social e o pessoal, podemos dizer que cada um se defronta inevitavelmente com o mistério maior a que chamamos "Deus", que Santo Agostinho dizia constituir o núcleo "mais íntimo que nosso próprio íntimo". Era esse (nível) Deus que Jesus buscava no silêncio, retirando-se para a montanha, na experiência a que chamamos "oração".

 

            Os sofrimentos de Jesus na Paixão foram mais profundos do que pretende representar a piedade tradicional (vias-sacras ou procissão do Senhor morto). Nem a violência apresentada no cinema (nem as cenas mais realistas do filme de Mel Gibson) dá conta do sofrimento íntimo de Jesus. Hoje meditamos sobre o que teria sentido Jesus, abandonado pelo seu próprio povo e pelas multidões no meio das quais fez curas e sobre as quais chorava vendo que "eram como ovelhas sem pastor". A perseguição política e o sentimento de abandono daquela que deveria ser a "Cidade Santa" levam Jesus a gritar o Salmo que é a melhor expressão da sensação de se sentir esquecido pelo próprio Deus: Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?.

            Mais do que qualquer comentário, a seguinte seleção, feita sobre a leitura da Paixão, talvez possa conduzir hoje a nossa meditação e a nossa oração :

Do Evangelho Mt 26,14 até 27,66

31Jesus disse-lhes: Esta noite todos vós vos escandalizareis por minha causa como está escrito: 'Ferirei o pastor e as ovelhas se dispersarão'

 

50Jesus respondeu- lhe: Amigo, a que vieste?

55 Viestes com espadas e varapaus para Me prender como se fosse um salteador!

Eu estava sentado no templo a ensinar todos os dias e não Me prendestes...

56 …Então todos os discípulos O abandonaram e fugiram.

 

75Pedro lembrou-se das palavras de Jesus: Antes do galo cantar, tu Me negarás três vezes. E, saindo, chorou amargamente

 

20os sumos sacerdotes e anciãos convenceram as multidões para que pedissem Barrabás 21...Eles gritaram "Barrabás".

22...Todos gritaram "Seja crucificado!"

23...Eles gritaram com mais força "Seja crucificado"

25O povo respondeu: "Que o sangue dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos".

 

29Então se ajoelharam diante de Jesus e zombavam dizendo: "Salve, rei dos judeus!"

 

39 Os que passavam o insultavam balançando a cabeça

40 "Se és o Filho de Deus desce da cruz!"

41Do mesmo modo os sumos Sacerdotes, Mestres da Lei e Anciãos

também zombavam...

44Do mesmo modo os dois ladrões que foram crucificados com Jesus também o insultavam.

46Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito:

"Eli, Eli, lamá sabactâni?" que quer dizer

"Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?"

 

oooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo

( Prof. FernandoSM. – Rio de Janeiro – fesomor2@gmail.com )

domingo, 10 de abril de 2011

V DOMINGO DA QUARESMA– A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

 

ESTAMOS EM LUTO!

REZEMOS AO SENHOR:

DEUS PAI. EM NOME DE JESUS QUE DERRAMOU O SEU SANGUE EM PERDÃO PELOS NOSSOS PECADOS, NÓS VOSSUPLICAMOS PELAS CRIANÇAS VÍTIMAS DA CHACINA NO RIO, E TAMBÉM POR OUTROS JOVENS QUE FORAM ASSASSINADOS RECENTEMENTE.  POR VOSSA INFINITA BONDADE, CONSIDERE A INOCÊNCIA DELES E OS CONDUZA PARA JUNTO DE VÓS NA FELICIDADE ETERNA.

E PELAS CRIANÇAS QUE ESTÃO INTERNADAS, NÓS VOS IMPLORAMOS, Ó PAI. RESTITUA-LHES A SAÚDE SEM SEQUELAS.

QUANTO AOS PAIS DESSES JOVENS QUE ESTÃO VIVENDO TERRÍVEIS MOMENTOS DE DOR, NÓS VOS PEDIMOSQUE OS CONSOLE, E OS CONFORTE,  PARA QUE ELES NÃO SE REVOLTEM CONTRA DEUS.

 TUDO ISSO NÓS VOS PEDIMOS EM NOME DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO QUE CONVOSCO VIVE E REINA NA UNIDADE DO ESPÍRITO SANTO, AMÉM.

INTERNAUTAS MISSIONÁRIOS.

 

HOMILIAS PARA O

 PRÓXIMO DOMINGO

10 DE ABRIL – 2011

ROXO. 5º DOMINGO QUARESMA

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Comentários – Prof. Fernando

V  DOMINGO DA QUARESMA– A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

A ressurreição de Lázaro comentada por leigos teólogos, padres e bispos católicos.

Introdução

Jo 11,1-45

            O Evangelho de hoje mostra claramente as  duas pessoas de Jesus. Os seus dois lados o humano e o divino.  O Jesus-homem  ficou tão triste com a morte do amigo, que até chorou. O Jesus-Deus, apesar da demora, chegou na casa de Marta, mandou ver. Num grito forte, Ele devolveu a vida do seu amigo, para o espanto dos seus inimigos ali presentes. Lázaro. Vem para fora!  Reparem que Jesus antes de dizer esta frase, fez uma oração ao Pai, e pediu que aquela manifestação de seu poder divino fosse para que todos cressem que Ele era o enviado de Deus.   

            Como em todo velório, estavam presentes na casa de Lázaro pessoas que realmente eram amigas sinceras e, portanto pesarosas com a sua morte, por outro lado, também estavam ali, os falsos amigos, fingindo pesar pelo acontecido, porém cochichavam pelos cantos dizendo que se Jesus era mesmo poderoso e  tão amigo de Lázaro, porque não veio logo para o socorrer? Porque deixou o pior acontecer?

Lázaro, que era de Betânia, apesar de ser um judeu, era um homem honrado que tinha herdado uma boa herança, incluindo vinhedos e um sepulcro na propriedade que era uma caverna natural em uma pequena elevação do terreno de cerca de dez metros, no qual os seus ancestrais haviam sido sepultados.

Como naquele tempo não havia telefone, nem ônibus ou qualquer meio de comunicação, as irmãs de Lázaro,  Maria e  Marta, enviaram um mensageiro até Jesus para avisar-lhe da doença de seu amigo com relativa antecedência. Ao receber o recado, Jesus não esquentou a cabeça, e disse: 'Esta doença não leva à morte;
ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.'

          Ao contrário do que se esperavam, Jesus  não se apressou em ir à casa de seu amigo, pelo contrário, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava.

E muitos estranharam a calma de Jesus, a sua demora em atender ao pedido de socorro urgente da irmã de seu amigo.

Por que será que Jesus geralmente não atende os nossos pedidos de socorro prontamente? Na hora que lhe pedimos, do jeito que lhe pedimos?

  Outro dia uma senhora viúva estava se lastimando, dizendo que vieram morar ao lado de sua casa uns vizinhos injustos que lhe incomodavam  com muitos tipos de barulhos: festas e bebedeiras, gritos, aparelhos de sons ligados a todo volume até altas horas, cinco cachorros que não param de latir, entre outros abusos. Ela tentou dialogar no início, e eles a trataram mal e disseram para ela se mudar. Aquela pobre e desvalida senhora começou a rezar diariamente, mas nada mudou. Parece que Deus não me ouve! Disse ela com lágrimas nos olhos. Meu sofrimento  é muito grande! ...

Iguais a esse caso temos milhares de outros acontecendo neste momento pelo mundo inteiro. As pessoas injustiçadas rezam, e o sofrimento continua. Por que? Será que Deus nos abandona às vezes?

Caro leitor. O tempo de Deus é diferente do nosso tempo. Muitas vezes pedimos, mas pedimos mal. Muitas vezes só nos lembramos de Deus quando o circo pega fogo. Muitas vezes pedimos sem a devida fé, sem a devida caridade, ou seja, pedimos o mal para o nosso agressor, como por exemplo, a sua morte. Ou nos esquecemos dos nossos pecados, esquecemos que somos pecadores e que o sofrimento  nos é muito útil para a nossa purificação. Se você se encontra em uma situação semelhante a que mostramos, não se desespere. Não pare de rezar.  Não perca as esperanças, e jamais se revolte contra Deus! Pelo contrário, ofereça o seu sofrimento como penitência pelos seus pecados que, com certeza, não devem ser poucos, assim como os pecados de todos nós.

E, assim como aconteceu a Marta, Jesus vai atender os seus clamores, embora pareça de início, que Ele  nos ignora. Deus não nos abandona. Nós é que nos afastamos de Deus. Poderíamos repetir a frase de Marta quando Jesus finalmente chegou, com outras palavras: Dizendo: Jesus. Se você estivesse aqui, nada disso estaria acontecendo. E Jesus poderia nos responder. Se Você estivesse  realmente comigo, isso não teria acontecido.       

Ah! Aquela senhora hoje está fora de perigo. No terreno daquela casa maldita, está sendo construído um prédio. Espera-se que seus novos vizinhos não a incomodem também!

Jesus demorou para atender o pedido de Marta, porque sabia exatamente o que iria fazer.  'O nosso amigo Lázaro dorme. Mas eu vou acordá-lo.'

Mãe. Não se desespere se seu filho está preso,  baleado ou coisa parecida. Continue pedindo a Deus por ele! Pode demorar, mas o socorro de Deus não lhe faltará. Às vezes Deus permite o sofrimento para testar a nossa fé. Para ver até onde realmente somos fiéis. Para ver até onde somos realmente o que mostramos ser diante das pessoas. Apresentamo-nos confiantes, seguros, e diante do perigo molhamos as calças, amarelamos, porque na verdade, a nossa fé não é tão grande quanto parece. " ...por que temeis, homens de pouca fé?"  foi o que Jesus disse naquele dia em que os discípulos tremeram nas bases, acharam que iriam morrer afogados por causa daquela tempestade!

Caríssimos. Vamos ter mais confiança em Deus! Naquele que disse: 'Teu irmão ressuscitará.' 'Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?' 
            Para merecermos  o pronto atendimento de Jesus, além de crermos, também precisamos evitar o pecado.

Paulo em sua carta aos Romanos escreveu sob a inspiração do Espírito Santo que aqueles que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. E nos recomenda para que vivamos segundo o Espírito, para que este mesmo Espírito possa morar  em nós.

Prezados irmãos: Para não viver preso aos prazeres da carne, primeiro precisamos fazer o jejum dos olhos. Evitar olhar a toda a imagem que nos incita ao pecado carnal. Então se dominarmos os pecados da carne, poderemos então ser morada do Espírito Santo e realmente pertencer a Cristo, conforme as palavras inspiradas de Paulo.

Confiemos em Deus, porém faremos por onde merecer o que diariamente lhe pedimos.

Sal.

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A ressurreição de Lázaro  - Fonte: Revista Vida Pastoral – Paulus

A ressurreição de Lázaro é o sétimo sinal do quarto evangelho. A função dos sinais é levar as pessoas a tomar partido: a favor de Jesus e da vida ou contra ele e a favor da morte. De fato, Marta crê que Jesus é a Ressurreição e a Vida (vv. 25-27), ao passo que as autoridades político-religiosas dos judeus declaram a morte de Jesus (v. 45ss). A ressurreição de Lázaro é também o ponto alto da catequese batismal das primeiras comunidades cristãs. Esse episódio pretende conduzir as pessoas à profissão de fé em Jesus-Vida.

O episódio é o sétimo sinal, o mais importante, e situa-se no contexto da festa da Dedicação, na qual eram lidos textos do AT que falavam da ação de Javé-Pastor. Nesse sentido, o defunto Lázaro é a ovelha que ouve a voz do Pastor e sai para fora, para a vida. A ressurreição de Lázaro é apenas um sinal que aponta para uma realidade maior e mais profunda: a vitória de Jesus sobre a morte e sua glorificação. Este é o sentido do v. 4: "Esta doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela".Lázaro, Marta e Maria são a própria humanidade envolta em situações de morte. A doença dele é a doença do mundo; suas amarras (v. 44) são as amarras de todas as pessoas impossibilitadas de andar e viver (perda da liberdade que gera opressão política). E para todos eles Jesus dá a mesma ordem: "Desamarrem-no e deixem que ele ande". Marta e Maria recordam o sofrimento, esperança e fé dos sofredores de ontem e de hoje. E Betânia é toda comunidade com suas esperanças e temores de que a morte tenha a última palavra sobre nossas vidas.

 

a. Amor gera confiança… (vv. 1-16)

 

Entre Jesus, Lázaro, Marta e Maria, isto é, entre Jesus e a comunidade cristã, e entre os membros da comunidade, vigoram relações de amor e fraternidade. Maria era aquela que ungiu o Senhor com perfume e que tinha enxugado os pés dele com seus cabelos (v. 2). Ungir com perfume é gesto de amor. Além disso, o texto sublinha que Lázaro é amigo de Jesus (v. 3) e vice-versa. Amor gera confiança e solidariedade em situações difíceis. (Notar como nesses versículos iniciais se insiste nas palavras amor, amizade, irmão/irmã.)

A doença que provocou a morte de Lázaro não é sinal de que Jesus não ame a humanidade. Para ele, a doença que conduz à morte é de outro tipo: trata-se do pecado, da adesão a um arranjo social injusto (cf. 5,14: "Não peque de novo, para que não lhe aconteça alguma coisa pior"). Jesus não livra somente da morte física. Ao contrário, dá-lhe novo sentido. Assim, os que crêem não têm motivos para temer a morte.

A relação de amor culmina na Hora de Jesus. Nesse sentido, a ressurreição de Lázaro é apenas um sinal que aponta para a realidade profunda do evangelho, isto é, para a revelação de que a morte-ressurreição de Jesus é a prova maior do amor que Deus tem pelos seus. É por isso que Jesus tem coragem de voltar à Judéia, fato ao qual os discípulos se opõem, com medo de que ele seja morto. Jesus vai à Judéia a fim de ressuscitar seu amigo. Isso acarretará a morte de Jesus, a expressão máxima de sua solidariedade com os sofrimentos humanos. Mas o Pai o ressuscitará, e sua ressurreição é a prova definitiva de que a vida vence a morte.

À coragem de Jesus opõe-se o medo dos discípulos (v. 8), que relutam em aceitar o projeto de Deus. Na pessoa de Tomé, decidem ir ao encontro da morte (v. 16), pois não entendem que, para o Mestre, a morte é apenas sono (vv. 11-12).

Jesus é a luz. Se alguém caminha de dia, não tropeça. Mas quem caminha de noite tropeça, porque não há luz nele (v. 9). Essa afirmação de Jesus recorda toda sua atividade libertadora iniciada em Caná da Galiléia (cap. 2), onde realizou o primeiro de seus sinais. O dia de Jesus inicia-se em Caná e termina com a ressurreição de Lázaro. Depois disso começa a "noite", isto é, o tempo dos tropeços: os discípulos caem, as autoridades matam Jesus… O dia recomeça definitivamente na manhã da ressurreição… Jesus se alegra por causa disso, pois o contraste entre morte e alegria já prenuncia a vitória do Ressuscitado.

 

b. …que gera fé em Jesus, Ressurreição e Vida… (vv. 17-27)

 

Jesus chegou a Betânia quatro dias após a morte do amigo. Para o povo da Bíblia, o quarto dia após a morte significa a perda total de esperança. O diálogo de Jesus com Marta manifesta a precariedade da esperança, pois ela crê apenas que seu irmão vai ressuscitar no último dia, de acordo com a crença daquele tempo. Contudo, Marta é mais forte que a irmã, pois esta fica sentada em casa (v. 20), ao passo que a outra sai de casa (do ambiente de desespero) e toma a iniciativa de dialogar com Jesus.

Jesus convida Marta a crescer na fé. Para ela, teria sido necessária a presença física de Jesus para evitar a morte do irmão (v. 21), e ela interpreta as palavras do Mestre em termos de ressurreição no final dos tempos (v. 24).

O texto apresenta duas formas contrastantes de se solidarizar diante da morte. Em primeiro lugar, a solidariedade dos amigos e vizinhos (v. 19), que vão à casa das irmãs para dar pêsames e fazer lamentações em altos brados, símbolo do desespero. Em segundo lugar, a solidariedade de Jesus. Ele não entra nesse ambiente dominado pelo desespero. Fica fora e chama para fora, porque traz do Pai a forma perfeita de solidariedade: "Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que esteja morto, vai viver! E todo aquele que vive e crê em mim não ficará morto para sempre" (vv. 25-26). Marta é convidada à fé madura, passando da presença física à adesão à pessoa de Jesus. Esse processo, contudo, é gradual e lento (cf. v. 40).

 

c. …que faz passar da morte à vida (vv. 28-44)

 

Marta deu provas de que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus que veio ao mundo (v. 27), e testemunha isso à irmã sem esperança. Os que são dominados pelo desespero crêem que Maria estivesse indo ao túmulo para chorar (v. 31), mas ela foi para o lugar onde estava Jesus (v. 32a). Maria ainda pensa à semelhança de sua irmã, antes que esta declarasse sua fé em Jesus Ressurreição e Vida (v. 32b). Maria chora, e seu choro é acompanhado pelos judeus que com ela estavam (note-se que não se fala do choro de Marta!). Jesus também se comove (vv. 33.38), mas seu choro não é marcado pelo desespero. É um choro de solidariedade com os sofrimentos humanos. A casa do luto e desespero ficou vazia. O que virá?

Jesus manda tirar a pedra do túmulo, apesar de Marta lhe recordar que não há mais esperança (v. 39). Ela e todos os que aderem a Jesus são chamados a ler os sinais em profundidade: "Eu digo isso por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste" (v. 42; cf. v. 45 e leia 20,31).

Lázaro, ao apelo de Jesus, sai do túmulo de braços e pernas amarrados (v. 44a). São as amarras que impedem as pessoas de ser livres e viver. Jesus ordena que os presentes o desamarrem e o deixem ir (v. 44b). Para onde terá ido? Só descobriremos o rumo que ele tomou se lermos o fato na profundidade da fé.

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O retorno de Lázaro Frei Aloísio Antônio de Oliveira OFV Conv

"Todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais"

O retorno de Lázaro à vida não é ressurreição no sentido pleno, visto que ele, depois de receber de novo a vida mediante a intervenção de Jesus, veio a falecer normalmente como todos os mortais. Mas o fato revela um Jesus vencedor do último inimigo: a morte, e prefigura sua própria ressurreição e a ressurreição do fim dos tempos. Este é o pensamento do evangelista João ao apresentar este milagre como último e maior sinal realizado por Jesus, imediatamente antes da sua Paixão e Morte. Jesus, que se apresentava como vencedor da morte proclamando "eu sou a ressurreição e a vida", exorciza o pior mal que atormenta o espírito humano: a morte. Com Jesus a morte já não é a última palavra sobre o destino humano. A participação na vida plena, comunicada por Jesus, se dá mediante a união com ele na fé: " Todo aquele que, na sua vida, crer em mim, não morrerá, mas terá a vida eterna". Na teologia de São João, a fé antecipa a realidade escatológica (última, definitiva). Lázaro tornase, portanto, símbolo de todo cristão unido a Cristo pela fé. Aderir a Jesus é aderir à Vida em pessoa. Quem está ligado a Jesus, como o seu amigo Lázaro, já passou da morte para a vida (Jo 5,24). Adquiriu unia vida que não morre, mesmo se o corpo morre. Jesus é o Senhor da vida: peçamos na liturgia deste Domingo que possamos olhar sempre em frente e que, caminhando com Jesus obtenhamos o dom de uma vida nova que não terá mais fim.

 

  

 

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E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?

 

                              

                                 Evangelho de hoje mostra claramente as duas pessoas de Jesus. Os seus dois lados o humano e o divino. O Jesus homem ficou tão triste com a morte do amigo, que até chorou. O Jesus-Deus, apesar da demora, chegou na casa de Marta. Num grito forte, Ele devolveu a vida do seu amigo, para o espanto dos seus inimigos ali presentes. Lázaro. Vem para fora! Reparem que Jesus antes de dizer esta frase, fez uma oração ao Pai, e pediu que aquela manifestação de seu poder divino fosse para que todos cressem que Ele

era o  enviado de Deus.

 

                                         Estavam presentes na casa de Lázaro pessoas que realmente eram amigas sinceras e, portanto pesarosas com a sua morte, por outro lado, também estavam ali, os falsos amigos, fingindo pesar pelo acontecido, porém cochichavam pelos cantos dizendo que se Jesus era mesmo poderoso e tão amigo de Lázaro, porque não veio logo para o  socorrer?Por que deixou  o pior acontecer?

 


                                   Lázaro, que era de Betânia, apesar de ser um judeu, era um homem honrado que tinha herdado uma boa herança, incluindo vinhedos e um sepulcro na propriedade que era uma caverna natural em uma pequena elevação do terreno de cerca de dez metros, no qual os seus ancestrais haviam sido sepultados. As  irmãs de Lázaro, Maria e Marta, enviaram um mensageiro até Jesus para avisar-lhe da doença de seu amigo com relativa antecedência. Ao receber o recado, Jesus disse: 'Esta doença não leva à morte, ela serve  para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.Ao contrário do que se esperavam, Jesus não se apressou em ir à casa de seu amigo, pelo contrário, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava.

                                 E muitos estranharam a calma de Jesus, a sua demora em atender ao pedido de socorro urgente da irmã de seu amigo.Por que será que Jesus geralmente não atende os nossos pedidos de socorro prontamente? Na hora que lhe pedimos, do jeito que lhe pedimos?O tempo de Deus é diferente do nosso tempo. Muitas vezes pedimos, mas pedimos mal. Muitas vezes só nos lembramos de Deus quando estamos desesperados. Muitas vezes pedimos sem a devida fé, sem a devida caridade, ou seja,ou nos esquecemos dos nossos pecados, esquecemos que somos pecadores e que o sofrimento nos é muito útil para a nossa purificação.

                              Se você se encontra em uma situação  triste,senti-se aflito,não se desespere. Não pare de rezar. Não perca as esperanças, e jamais se revolte contra Deus! Pelo contrário, ofereça o seu sofrimento como penitência pelos seus pecados que, com certeza, não devem ser poucos, assim como os pecados de todos nós.

                         E, assim como aconteceu a Marta, Jesus vai atender os seus clamores, embora pareça de início, que Ele nos ignora. Deus não nos abandona. Nós é que nos afastamos de Deus. Poderíamos repetir a frase de Marta quando Jesus finalmente chegou, com outras palavras: Dizendo: Jesus. Se você estivesse aqui, nada disso estaria acontecendo. E Jesus poderia nos responder. Se Você estivesse realmente comigo, isso não teria acontecido. Jesus demorou para atender o pedido de Marta, porque sabia exatamente o que iria fazer. 'O nosso amigo Lázaro dorme. Mas eu vou acordá-lo.'

                                     Precisamos ter mais confiança em Deus! Naquele que disse: 'Teu irmão ressuscitará.' 'Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?'
Para merecermos o pronto atendimento de Jesus, além de crermos, também precisamos  evitar o pecado.Paulo em sua carta aos Romanos escreveu sob a inspiração do Espírito Santo que aqueles que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. E nos recomenda para que vivamos segundo o Espírito, para que este mesmo Espírito possa morar em nós.Confiemos em Deus, porém faremos por onde merecer o que diariamente lhe pedimos.

 

Amém

Abraço carinhoso

Maria Regina

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"EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA"

10 de Abril de 2011: domingo

Evangelho - Jo 11,1-45

"MUITAS VEZES TAMBÉM NÓS, 'HUMANOS', MANIFESTAMOS ATITUDES DE DESCRENÇA E INGENUIDADE DIANTE DAS PALAVRAS E OBRAS DO SENHOR" – Nancy

Os discípulos de Jesus, apesar de estarem sempre ao lado dele e presenciarem os seus prodígios e milagres, ainda manifestavam atitudes de descrença e de ingenuidade. Prestemos atenção à fala dos mesmos diante da morte de Lázaro: "Senhor, se ele dorme, vai ficar bom."

Oras! Jesus falava aqui da morte física, embora os discípulos se reportassem ao sono temporário. Como era possível que os discípulos – companhias constantes do Mestre – não compreendessem a preocupação e tristeza do Senhor?

Jesus nutria amizade e carinho especial por Lázaro, irmão de Maria e de Marta, por quem até havia chorado diante da notícia de sua morte. Porém, ELE era e é o Senhor da Vida e não da Morte, e por isso sabia que o ressuscitaria.

O evangelista João fala então do retorno de Jesus a Judéia. E narra que nesse lugar o Messias estivera, dias atrás, e quase fora apedrejado. Por isso a decisão de Jesus de retornar causa até estranheza aos seus discípulos. Eles temiam pelo Senhor; temiam por eles mesmos também.

O cenário deste acontecimento revela para nós, cristãos, um Jesus Cristo humano e divino. Como ser humano, de carne e osso, expressa emoções e sentimentos de amor, de dor, de tristeza, de fraqueza, de saudade nos momentos de perda – no caso a morte de Lázaro, por quem chora. Jesus divino, porém, manifesta atitude de confiança no Pai, por isso age firme e serenamente, dizendo: "Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela." Inclusive não se apressa ao encontro de Marta e Maria, apesar de compadecido.

Jesus sabia que na morte de Lázaro jazia também a confirmação da sua divindade perante os homens. E assim, olha para o céu, e ora, clamando o poder de Deus para ressuscitar Lázaro, conforme palavras do evangelista João: "Pai, eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste."

Somente Jesus era herdeiro do poder e a autoridade para devolver a vida aos que adormeceram. Então, ressuscita Lázaro, causando admiração ao povo judeu que começa a crer que ELE realmente era o Messias – o enviado do Pai.

Queridos irmãos em Cristo: Somente na crença há ressurreição. Evoquemos, pois,a lembrança das irmãs Marta e Maria como personagens significativas nesta narrativa para ilustrar a nossa postura cotidiana nos momentos de crença e descrença, fraqueza e fortaleza, vitória e derrota... Cada um de nós – Marta e/ou Maria – vive, se repercute nas imagens dessas irmãs: ora acreditando e ora duvidando, titubeando, negando, exaltando, testemunhando as palavras e obras de Jesus.

Humanos que somos, e parcos da divindade do Messias, não conseguimos, por muitas vezes, permanecer firmes e fortes diante das perdas, das tempestades, dos desafios desta contemporaneidade. Mas a ressurreição de Lázaro deve ser um dos maiores sinais de Jesus, manifestando a sua filiação divina, seu poder messiânico e sua missão salvadora.

Peçamos a Deus Pai que, através de seu filho Jesus Cristo, nos conceda a graça de acreditarmos no mistério da encarnação, de maneira que sejamos verdadeiros discípulos missionários na construção do Reino de Deus aqui na Terra.

Que possamos ressuscitar no dia a dia da nossa caminhada, empunhando e desfraldando a bandeira do amor a Deus e ao próximo, com atitudes de cuidado e servidão aos irmãos. Amém!

Abraços fraternos e carinhosos.

Nancy - professora

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"Sejamos Lázaros acordados!" – Claudinei Oliveira

 

Domingo,  10 de Abril de 2011.

 

Evangelho – Jo 11,1-45

 

     Neste domingo de descanso e de oração  encontramos na liturgia do Evangelho um Jesus comovido pela aflição de Maria e Marta por causa da morte de seu irmão Lázaro. As irmãs choravam a perca do irmão  e muitos judeus as consolavam. Jesus sabendo do acontecido partiu para Betânia, cidadela próxima a Jerusalém, reduto dos judeus, a fim de prestar apreço para a família enlutada. Porém, dias antes Jesus quase foi apedrejado pelos moradores da região por apresentar como o Filho do Deus Vivo e Salvador. Mesmo assim, partiu com os discípulos.

 

     A missão de pregar e levar à misericórdia as pessoas era a meta de Jesus. Não importava o meio ou situações complicadas que pudessem fazer desistir do compromisso. Mesmo alertado do perigo que estava correndo pelos discípulos, Ele mostrou que não poderia deixar uma família  desprotegida, não pela falta de Lázaro que morrera, mas desprotegida pela grande dor da perca e  pelo desespero de não ter podido socorrer o doente.

 

     Nota-se neste contexto a disposição  e a entrega pelo trabalho. Disposição em  colocar a serviço de alguém que necessita ou que está implorando a ajuda. A entrega  da doação de seu tempo para realizar algo que possa confortar o aflito. A deixa de Jesus é esta: não importa o local, a situação e os meios; o que importa é ajudar e prestar solidariedade a quem precisa de verdade. Para que esconder-se? Não temos razões em querer fugir da realidade, precisamos ser disponíveis para o trabalho.

 

     A comoção de Jesus está no pedido de salvamento da morte de Lázaro. Quando as irmãs falam que se estivesse presente, não teria morrido o irmão, Jesus não  conteve a decepção de não ter chegado a tempo, pois já fazia quatro dias que Lázaro foi sepultado. Mas a resposta sábia do mestre dos apóstolos colocara esperança na família. Seu irmão não morreu, ele está dormindo! Assim, surgiu uma luz, aquela luz que ilumina o caminho para quem anda de dia para não tropeçar, de que, algo de bom poderia acontecer. Estava ali, bem próxima delas o milagre que deixariam ainda com mais fé e provocasse nos judeus o acreditar na pessoa de Jesus da Galileia, Aquele homem que pregava palavras de salvamento,  nascera num lugarejo pobre de pouca expressão literária, mas por onde passava provocava a fúria de uma multidão que o seguia.

 

     A mensagem deste  Evangelho  é notório. A morte física acontece e desfalece todo um sonho da pessoa e da família. Mas quem acredita na ressurreição dos mortos, a morte física é a passagem de um estado para outro, ou seja, deixar a vida terrena, pois a missão do corpo já chegou ao fim, e, passar para a vida com Deus ou a vida eterna. Vida esta que desejamos e trabalhamos por ela. Tudo que fazemos na vida terrena é uma extensão para a vida pós morte. Assim, morremos para o mundo para viver para Deus.  Lázaro, não tinha morrido fisicamente, tinha sim, morrido para Deus.

 

     A doença de Lázaro  é a doença  do desprezo  para com a coisa de Deus. É não aceitar na plenitude de Deus e não crer nos ensinamentos que possam curar as feridas do cotidiano como a falta de fé, o stress, da maldade, a violência, o desrespeito, a discriminação e o abandono. São doenças que apagam a Luz que clareia o caminhar da pessoa para que não tropece nos obstáculos. O mal provoca a cegueira e não permite que enxergue a sua frente a misericórdia de Deus.

 

     Adormecido Lázaro distanciava  da concretude da missão do homem. Mas qual é a missão colocada para o homem temente à Deus? Talvez fosse a missão de encorajar o irmão medroso de que tem potencial para executar grandes obras divinizadas; talvez levar a caridade aquelas pessoas que tanto necessita da ajuda, seja ela financeira ou espiritual; talvez despertar a consciência para perceber o quanto é importante para Deus e para o mundo; enfim, talvez a missão deixada para o homem fosse  colocar a serviço da Palavra que não permite adormecer diante de tantas injustiças e maldades, como aquela cometida contra crianças inocentes na escola do Rio de Janeiro.

 

     Acreditar e crê na pessoa que liberta e salva deve ser a expressão da fé. Voltar-se para o Sagrado no amor infinito e dizer: nada de mal acontece comigo, pois sei que o Senhor está comigo. A fé das irmãs trouxe Lázaro de Volta para a vida, ou seja, acordou para do sono profundo. Vejam caros irmãos, quantos Lázaros adormecem em nós; quantos Lázaros não enxergam a necessidade de mudanças. Estes  Lázaros devem ser acordados e colocados a serviço do Pai. Não imitar Jesus que foi corajoso que foi junto aos judeus e enfrentou sem demonstrar medo, mas ver em Jesus o caminho que leva descobrir o encantamento e prazer de viver a verdade.

 

     Claro que os judeus ficaram assombrados quando Lázaro levantou da sepultura todo envolto do pano. Porém passaram a seguir Jesus. Acontecem que não precisamos ver para acreditar no milagre como os judeus. Assim afirmaremos que somos céticos e duvidamos da sua presença. Para que duvidar? Sabemos que não somos nada  diante do Pai se mostrarmos arrogância e inverdade. Devemos sim, mostrar o agrado e a paixão na criação. Ela esta aí para ser admirada, veja! Será que a natureza que nos cerca não é milagre?

 

     Portanto, colocar-se de pé como Lázaro fez é uma proposta para nós. Ao colocarmos de pé estamos dispostos a sai para algum lugar, mas esperamos que seja para fazer o bem e divulgar os ensinamentos de Cristo. Assim, não sejamos Lázaro morto, mas sejamos Lázaro acordado para a missão. Amém.  

    Abraços.

    Claudinei Oliveira

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"EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA"... Olívia Coutinho

10 de Abril de 2011

Evangelho - Jo 11,1-45

Estamos cada vez mais próximo da grande festa dos cristãos: A Páscoa do Senhor Jesus!

A riqueza das leituras deste tempo de graça, nos leva a um encontro conosco mesmo e a nos entregarmos ao mistério do infinito amor do Pai!

A belíssima cena da ressurreição de Lázaro vem mais uma vez, nos revelar a imensidão do amor de Deus, que se humanizou na pessoa de Jesus, trazendo-nos a certeza de que temos um Pai amoroso, que cuida de nós e que nunca nos abandona!

O evangelho de hoje nos traz vários ensinamentos, um deles é a importância de nos mantermos sempre firmes na fé diante do sofrimento.

Marta e Maria, embora sendo amigas de Jesus, não tinham uma fé firme.

Maria nem se levantou quando soube da presença de Jesus, para ela, já estava tudo consumado, Lázaro estava morto. Só depois que Jesus mandou chamá-la que ela foi ao seu encontro.

Certamente todos nós, já passamos por alguma experiência semelhante. Sabemos que não é fácil separarmos de quem amamos.

Quando perdemos um ente querido, parece que o mundo desaba sobre nós, ficamos sem chão, sem rumo e assim como Marta e Maria, às vezes, vacilamos na fé e até questionamos: porque Deus deixou isso acontecer? Não temos uma fé suficiente para aceitar os mistérios da vida!

Deus permite que estas separações bruscas nos aconteçam, mas nos carrega no colo enquanto fazemos esta travessia tão difícil! Jesus não nos trás de volta a vida terrena de quem se foi, assim como fez com Lázaro, mas mergulha conosco no mistério mais profundo da nossa dor, para depois nos reerguer e nos colocar novamente de pé. 

Quando tudo nos parece perdido, Jesus vem ao nosso encontro, nos abre uma janela e aponta-nos um novo horizonte!

O choro de Jesus vem nos mostrar a sua sensibilidade diante do sofrimento humano! Jesus chora pela perda do amigo e pelo sofrimento das irmãs diante da morte do irmão! O exemplo que Ele nos dá, mostra-nos a sua paixão e solidariedade pelos humanos, que requerem sua atenção e compaixão.

Sabemos que são muitos os irmãos e irmãs que hoje choram a perda de um ente querido, de valores humanos, da família e nem sempre estas pessoas encontram um ombro amigo para recostar e para chorar.

Jesus nos desperta para a solidariedade, para tornarmos sinais da sua presença no amparo aos que sofrem!

Às vezes, não há muito que fazer diante do sofrimento de alguém que passa por certas experiências dolorosas de perdas, mas  a nossa simples presença, o nosso chorar junto, pode amenizar o sofrimento de alguém!

Um ponto importante também, que podemos tirar como aprendizado neste evangelho, é que, mesmo quando tudo nos parece perdido, como Marta e Maria pensaram depois da morte do irmão, há sempre uma esperança, pois por mais escura e longa que seja à noite, o sol sempre voltará a brilhar!

A ressurreição de Lázaro, foi o prenuncio da ressurreição de Jesus, com uma grande diferença, é claro, Lázaro morreria novamente, enquanto que a ressurreição de Jesus seria definitiva!

A nossa vida não termina com a  morte, pois nós ressuscitamos com Jesus também!

 Para Deus, não existe ponto final, numa historia de amor iniciada na criação...

Olívia Coutinho

 

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Lázaro voltou à vida

 

1. Das profundezas clamo a Vós

 

Chegamos ao sinal (milagre) mais forte, apresentado por Jesus, para suscitar a atitude de fé. "Muitos judeus que tinham ido à casa de Maria, e viram o que Jesus fizera, creram nele" (Jo 11,45). O derradeiro e definitivo sinal será sua própria Ressurreição, razão de nossa fé (1Cor. 15,17), que é anunciada pela ressurreição de Lázaro.

Jesus é Vida, por isso pode dar a Vida! Ele ressuscitou três mortos (a menina, o jovem de Naim e Lázaro). Três significa plenitude. A narrativa conta que Jesus estava distante quando recebeu a notícia da doença de Lázaro. Ele não se apressa e diz: "Essa doença não leva à morte; mas serve para a glória de Deus e para que o Filho do Homem seja glorificado por ela" (Jo 11,4). Quando chegou a Betânia, Lázaro já estava morto há quatro dias. Já cheirava mal, como disse Marta. Jesus-Vida se contrapõe à morte do corpo e da alma. Esse milagre (sinal) demonstra a fragilidade da pessoa, como reza o salmo 129: "Das profundezas clamo a vós, Senhor, escutai minha voz".

Ezequiel faz uma profecia a partir do sinal dos ossos secos que cobriam a planície. Ele profetiza que eles se ajuntarão, serão cobertos de carne e que um Espírito de Vida lhes será infundido. Tornam-se um exército. Assim o povo sai da sepultura do sofrimento e vive (Ez. 37,1-14).

O milagre indica também a Vida. Jesus diz a Marta que Lázaro ressuscitará. Ela crê na ressurreição do último dia. Jesus vai além dessa "ressurreição" e afirma: "Eu sou a Ressurreição e a Vida, quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá, e todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá para sempre. Crês isso?" (v. 25). Marta fazendo sua profissão de fé, completa: "Eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que deveria vir ao mundo" (v. 27) (= Messias – Filho de Deus – o Prometido). A ressurreição de Lázaro é símbolo do poder de Jesus de dar a Vida divina pela fé, O batismo nos dá essa vida. É uma ressurreição. Ele venceu a morte, que é a personificação do mal, e conquistou-nos a Vida.

2. O Espírito de Cristo.

O Espírito de Deus ressuscita Jesus. Essa Ressurreição pede nossa fé. Se a acolhermos, viveremos.

A fé cristã não é um acúmulo de palavras ou atitudes. É uma vida dada pelo Batismo. Nele fazemos a profissão de fé e recebemos a Vida. "Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância" (Jo 10,10). Essa vida nos é dada pelo Espírito de Deus, que nos dá a mesma vida que deu a Jesus, quando estava há três dias na sepultura.

Paulo escreve: "E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós, então aquele que Ressuscitou Jesus dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que mora em vós" (1Cor 8,11). Além da vida divina, garante-nos a ressurreição do corpo. A doutrina católica afirma que nós ressuscitaremos com nosso corpo. Somos um corpo animado por uma alma espiritual, criada por Deus.

3. Vivos pela fé em Jesus

Paulo afirma que "os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus... Se alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo" (1Cor. 8,8-9). Os batizados recebem o Espírito de Cristo para viverem uma vida nova, coerente com a fé em Jesus.

O ritual do Batismo indica a vida pelas águas que, se por um lado afogam o mal, por outro, fazem germinar a Vida Nova pela fé em Jesus. Nossos corpos mortais são vivificados por meio do Espírito Santo que mora em nós (Rm 8,11). Jesus é a ressurreição e a vida. Com Ele nós ressuscitaremos e já vivemos sua Vida.

A mim, ó Deus, fazei justiça, defendei a minha causa contra a gente sem piedade; do homem perverso e traidor, libertai-me, porque sois, ó Deus, o meu socorro(cf. Sl. 42,1s).

Chegamos ao último domingo da Quaresma. Depois destes quarenta dias de profundo jejum, continuada penitência e grande retiro de oração vamos contemplar hoje o tema da Ressurreição e da Vida. Este quinto domingo da Quaresma, pelos antigos chamado de Domingo da Paixão, é ressaltado pelo grande episódio da Ressurreição de Lázaro. Ressurreição de Lázaro que causou ódio das autoridades civis daquele tempo contra Jesus, dando um sinal de como deveria ser a própria ressurreição do Senhor. O episódio de hoje conduz à Páscoa da morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

A primeira leitura (cf. Ez. 37,12-14) fala do tema da ressurreição, com a visão dos ossos revivificados pelo Espírito de Deus (cf. Ez. 37). Observamos, na leitura atenta desta perícope, que os ossos revivificados pelo sopro de Deus, explica uma visão precedente: a revivificação dos ossos (cf. Ez. 37,1-10). A morte serve aqui como figura de Israel, vivendo no Exílio, mais morto do que vivo. A revivificação é o gesto de Deus para reconduzi-lo a sua terra. Em tempos mais recentes, esta visão foi interpretada como a ressurreição dos mortos propriamente, e com razão, porque mais ainda que a volta do exílio, a ressurreição é obra do espírito vivificador de Deus e volta à plena comunhão com o Pai.

Por seu turno, a segunda leitura (cf. Rm. 8,8-11), fala do espírito que vivifica, mesmo se o corpo estiver morto; o espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos fará viver até os nossos corpos mortais. Assim, a missa de hoje, abre uma doce perspectiva que sustenta nossa conversão pascal, a partir da ressurreição do Cristo. A esperança no Senhor Ressuscitado que nos chama para a vida plena, para a ressurreição, a vida que não se acaba. O Espírito de Cristo nos faz viver pela justiça e sempre dá a vida aos corpos mortais. Em Romanos 6  que é a oitava leitura da vigília pascal  São Paulo falou da integração do cristo no Mistério da morte e ressurreição de Cristo. Quando o homem só vive de seu próprio Eu, ele é carne, existência humana precária e limitada. Não pode agradar a Deus. Mas com a integração em Cristo, pelo batismo, receber o Espírito, que ressuscitou Cristo dos mortos. Contudo, experimentamos em nós mesmo, que esta transformação ainda não tomou completamente conta de nós. Por isso, nossa fé é também esperança: o Espírito de Deus nos transformará sempre mais, se lhe dermos suficiente espaço.

Jesus hoje está a caminho de Jerusalém (cf. Jo 11,1-45 ou 11,3-7.17.20-27.33b-45). É a sua última viagem. Em Betânia, que fica distante apenas 3 km de Jerusalém, faz o grande milagre da ressurreição de Lázaro, a doação da plenitude da vida. O próprio Cristo nos anuncia: Eu sou a Ressurreição e a Vida (cf. Jo 11,25), ligando com a liturgia do domingo precedente: Eu sou a Luz do Mundo, quem me segue não andarás nas trevas, mas terá a Luz da Vida.

No terceiro domingo da Quaresma, no episódio da Samaritana se falou em água viva, em água que jorra para a vida eterna, e o Senhor se apresente como quem é capaz de dar de beber esta água salvadora. No quarto domingo da Quaresma, Jesus se apresentou como a Luz do Mundo. A água e a luz fazem crescer, vivificar os seres vivos. Sem água e sem luz, temos a morte. Por isso, a partir da água e da luz, Jesus reafirma a sua divindade e o seu poder de dar a vida, e a vida plena, que não se acaba. Exatamente, isso, com caridade extrema, foi à atitude de Jesus a ressuscitar Lázaro.

Da morte de Cristo irrompe e nasce a vida plena. Os mortos ouvirão a voz do Cristo e brotarão ressuscitados, porque todo o homem que crer no Senhor não ficará morto para sempre.

Betânia era parada obrigatória para os peregrinos que iam a Jerusalém. Ali eles tomavam banho, se preparavam para entrar em Jerusalém. E não podia ser diferente com Jesus e com os apóstolos. E a parada de Jesus era a carta de Maria, de Marta e de Lázaro, seus amigos íntimos.

Mas, qual seria a grande lição do Evangelho deste domingo:  as palavras de Jesus: Eu sou a Ressurreição e a Vida.

A mesma pergunta de Jesus a Marta é a pergunta que devemos nos fazer hoje: Crês isto?

E, também, a resposta de Marta é a mesma resposta que Cristo espera de cada um de nós: Creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus!

Diante de um túmulo fechado, com choros e lamentações dos irmãos e dos conhecidos de Lázaro, estava a humanidade perdida e sem esperança. O homem é inerte perante a morte se não a contemplar com os olhos da doce alegria cristã, a esperança na vida eterna. Jesus chega diante do túmulo. Jesus, o homem-Deus, dá uma ordem e Lázaro revive. A morte não é obstáculo para Jesus, porque Ele a venceu, vence e sempre a vencerá, porque Ele é a vida sem fim. Neste gesto cândido e santo, de dar a vida a um mortal fiel, Jesus nos anuncia o nosso destino, se cremos Nele, vivermos Para Ele e Seguirmos os Seus Mandamentos, a sua Palavra de Salvação.

Ressurreição e Luz são dois temas intimamente ligados, porque são sinônimos da salvação: Se alguém caminha de dia, não tropeça; mas tropeçará, se andar de noite(cf. Jo 11,10).

O tema central do Evangelho de hoje é a vida. Vida que foi restituída a Lázaro e que está ligada à amizade, ao amor fraterno, a compaixão, atitudes cristãos que estão presentes na glorificação de Deus, que é o destino dos homens e mulheres que crêem verdadeiramente. A vida verdadeira, que o Cristo trouxe, tem face humana e face divina, que se misturam.

A ressurreição de Lázaro é um dos maiores sinais de Jesus. Jesus, assim, vai manifestando a sua filiação divina, seu poder messiânico, sua missão salvadora, e provoca, cada vez mais, a admiração, a fé, o testemunho daqueles que são beneficiados pela sua ação evangelizadora. O próprio Evangelista João anuncia que Jesus fez muitos outros sinais, e que Estes sinais foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, em crendo, tenhais a vida (cf. Jo 20,30-31).

Assim, poderíamos afirmar que a vida do homem é a razão de ser da encarnação de Jesus. Os milagres e sinais de Jesus foram efetuados para destacar a vida plena, a vida que só ele pode nos dar.

Na sua mensagem para a Quaresma de 2011, com sabedoria, nos preleciona o Santo Padre Bento XVI: Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto? (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27).A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n'Ele. A fé na ressurreição dos mortos a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência: Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança. O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas batismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos da água e do Espírito Santo, e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à ação da Graça para sermos seus discípulos.

Enxertados em Cristo pelo batismo, vencemos nossa morte na sua morte; co-ressuscitados no Cristo ressuscitado. É a vitória de cada homem batizado sobre a morte. É a vitória de toda a história sobre a morte, história que, na perspectiva cristã, não caminha para o caos final, mas para a ressurreição final. É a vitória da criatura sobre a morte; ela escapa à condenação na perspectiva dos céus novos e da nova terra. Essa perspectiva dá à vida tranqüilidade, serenidade interior, paz profunda, confiança e esperança. Em Cristo não há uma parcela de vida, por menor que seja, que não se destine à ressurreição.

Jesus afirmou: EU SOU A VIDA; EU SOU O PÃO DA VIDA, EU SOU A LUZ DA VIDA. Jesus veio ao mundo para despertar a criatura humana do sono.

E esta vida nova só será possível àqueles que viverem, com dignidade, a grandeza do seu batismo. Aderindo a Cristo o batizado deve viver uma vida realmente nova, animada pelo espírito de Cristo. Mas sem a fé, traduzida em obras, o batismo ficará morto. A vida da fé batismal se verifica, se atualiza, por exemplo, quando ela transforma a sociedade de morte numa comunidade viva de vida, de fraternidade e de comunhão.

padre Wagner Augusto Portugal

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As leituras deste V Domingo da Quaresma garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte.

Na primeira leitura, Jahwéh oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.

O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser "amigo" de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.

A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu Batismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem "segundo o Espírito".

 

Comentário - Com Jesus cristo, é muito melhor

As leituras deste último domingo da Quaresma têm uma força especial. Aquele que nos domingos anteriores aparecia como Água capaz de saciar a sede ou como Luz que devolve a visão, aparece hoje como Aquele que pode nos dar a Vida. Quem bebe de seu poço, jamais volta a ter sede; quem caminha a sua luz, fica curado de sua cegueira; quem crê nele, Vive. A mensagem da Quaresma  parece clara: com Jesus cristo, é muito melhor.

Saia fora

Um provérbio chinês diz que "nada assenta melhor ao corpo que o crescimento do espírito". E é verdadeiro. Quando nosso espírito está tranqüilo, sereno e forte, se sente cheio de vida e energia. Quando nosso espírito está débil, ou anda inquieto pelos trancos que - às vezes injustamente - nos submete a vida, nos sentimos como uma "soda" sem gás, abatidos, como sem forças… sem vida. É então, no meio da dificuldade, escutamos a voz poderosa daquele que nunca dá nada por perdido; daquele que é o mais interessado em que seu plano de salvação vá adiante. São palavras de promessa e esperança: "Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor". Quem senão Ele pode nos levar para além de nós mesmos? Quem senão Ele poderá derramar em nós esse espírito vivificador?  É uma voz forte que grita: "Saia fora". Não fiques encerrado, por trás da lousa. Saia fora e Viva. Vem comigo. Eu sou o água, a luz e a Vida que precisas.
Como recusar esta oferta?

Apesar dos incrédulos

Com tudo, sempre há e se terão incrédulos ou cépticos que  pensem que "já cheira", que não há nada que fazer.  São aqueles que não esperam e que, talvez, não cheirem nem de longe de que vão à festa. São aqueles que vivem enroscados em si mesmos, que não descobriram ainda que para Ele, nada é impossível, nem sequer sua própria conversão. São esses homens e mulheres, às vezes também eclesiásticos, que falam muito da secularização da sociedade e da própria Igreja e que, paradoxalmente, com suas palavras, com seus fatos e com seus rostos, refletem bem sua própria "secularização" ou falta de confiança no Espírito. Às vezes, dada à dificuldade que supõe de se deixar levar pelo vento do Espírito, não é difícil cair na tentação de se agarrar a uma ou outra bandeira. Sempre é mais fácil se agarrar a uma bandeira que se deixar levar pelo vento do Espírito.  

Pronto, já e Páscoa

Chegam cedo as festas de Páscoa e já preparamos o caminho. Combatemos contra aqueles demônios que nos tentam e nos convidam sempre a viver como se Deus não existisse em nossa vida. O Senhor preparou-nos o melhor. Cedo chega a alegria da Páscoa, e a primavera. Já estão as flores a ponto de se abrirem com cheiro de Ressurreição. O dramatismo da paixão e da morte de nosso  Senhor e de tantos e tantos homens e mulheres de toda a terra (ainda que seja fácil escrever desde este primeiro mundo) não tem comparação nem com a Esperança nem com a exultante Alegria de ir saboreando já  a promessa. Ele ressuscitará. Nós, também.

Fernando Prado Ayuso

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Homilia de Mons. José Maria Pereira – V Domingo da Quaresma – Ano A

Jesus e a Morte

No evangelho (Jo 11, 1-45) Jesus se apresenta como o SENHOR DA VIDA. A doença e a morte do amigo Lázaro constituem ótima oportunidade para uma profissão de fé em Jesus Cristo, que se apresenta como a ressurreição e a vida. Entre as ressurreições  operadas por Cristo, a de Lázaro tem uma importância fundamental, pois se trata de um morto que está no sepulcro há quatro dias. A resposta dada por Jesus àqueles que Lhe anunciam a doença de Lázaro: "Essa doença não leva à morte; é antes para a glória de Deus" (Jo 11,4): A glória de que fala Cristo, diz Santo Agostinho, "não foi um ganho para Jesus, mas proveito para nós. Portanto, diz Jesus que a doença não é de morte,porque aquela morte não era para morte, mas antes em ordem a um milagre, pelo qual os homens cressem em Cristo e evitassem assim a verdadeira morte." É encantador o diálogo entre Jesus e Marta: "Disse Marta a Jesus: Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas, mesmo assim eu sei que o que pedires a Deus, Ele te concederá. Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressuscitará. Eu sei , disse Marta, que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia! Disse-lhe Jesus:Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais! Crês isto? Disse ela: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus que devia vir ao mundo" (Jo 11, 21-27). Segundo Santo Agostinho, o pedido de Marta é um exemplo de oração confiante e de abandono nas mãos do Senhor que sabe melhor que nós o que nos convém. Por isso, "não Lhe disse: Rogo-Te agora que ressuscites meu irmão (…) Somente disse: Sei que tudo podes e fazes tudo o que queres; mas fazê-lo fica ao Teu juízo, não aos meus desejos." "Eu sou a ressurreição e a vida …" (Jo 11, 25). Estamos diante de uma das definições concisas que o Senhor deu de Si mesmo! É a ressurreição porque com a Sua Vitória sobre a morte é causa da ressurreição de todos os homens. O milagre que vai realizar com Lázaro é um sinal desse poder vivificador de Cristo. Assim, pela fé em Jesus Cristo que foi o primeiro a ressuscitar de entre os mortos, o cristão está seguro de ressuscitar também um dia, como Cristo (1 Cor 15,23; Col. 1,18). Por isso para quem tem fé a morte não é o fim, mas a passagem para a vida eterna, uma mudança de morada como diz um dos Prefácios da Liturgia dos defuntos: "Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada. E, desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado nos céus, um corpo imperecível." " E Jesus chorou" (Jo 11, 35). Podemos contemplar a profundidade e delicadeza dos sentimentos de Jesus. Se a morte corporal do amigo arranca lágrimas ao Senhor, que não fará a morte espiritual do pecador, causa da sua condenação eterna? Disse Santo Agostinho: " Cristo chorou: chore também o homem sobre si mesmo. Por que chorou Cristo senão para ensinar o homem a chorar?" Choremos nós também, mas pelos nossos pecados, para que voltemos à vida da graça pela conversão e pelo arrependimento. Não desprezemos as lágrimas do Senhor, que chora por nós, pecadores. Disse São JosemariaEscrivá: "Jesus é teu amigo.   – O Amigo. – Com coração de carne, como o teu. – Com olhos de olhar amabilíssimo, que choraram por Lázaro… E tanto como a Lázaro, quere-te a Ti" (Caminho, nº 422). Ao aproximar-se a Páscoa, o relato da ressurreição de Lázaro é uma exortação para que nos libertemos, cada vez mais, do pecado, confiando no poder vivificador de Cristo que quer tornar os homens participantes de Sua própria ressurreição. Santo Agostinho vê na ressurreição de Lázaro uma figura do Sacramento da Penitência (Confissão): como Lázaro do túmulo "sais tu quando te confessas. Pois, que quer dizer sair senão manifestar-se como vindo de um lugar oculto? Mas para que te confesses, Deus dá um grande grito, chama-te com uma graça extraordinária. E assim como o defunto saiu ainda atado, também o que se vai confessar ainda é réu. Para que fique desatado dos seus pecados disse Senhor aos ministros: Desatai-o e deixai-o andar. Que quer dizer desatai-o e deixai-o andar? O que desligares na terra, será desligado no céu" Podemos aplicar esse fato à ressurreição espiritual da alma em pecado que recobre a graça. Deus quer a nossa salvação (1Tm 2,4), portanto, jamais havemos de desanimar no nosso afã e esperança por alcançar essa meta: "Nunca desesperes. Morto e corrompido estava Lázaro: já fede, porque há quatro dias que está enterrado (Jo 11, 3-9), diz Marta a Jesus. "Se ouvires a inspiração de Deus e a seguires (Lázaro vem para fora!), voltarás à Vida" (Caminho, nº 719). Pela fé em Jesus Cristo, Vida e Ressurreição, resolve-se a questão mais fundamental do homem: a vida. Jesus nos garante: " Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que morra, viverá. Que a Quaresma nos ajude na conversação ruma à Páscoa! Como discípulos missionários ajudemos os muitos Lázaros que estão no sepulcro, esperando por quem grite: "Lázaro, vem para fora!"

Mons. José Maria Pereira

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Homilia do Padre Françoá Costa – V Domingo da Quaresma – Ano A

Protesto! A quantidade também é importante!

Não gosto de visões estreitas e pessimistas dentro do cristianismo. Talvez se poderia dizer que esse sacerdote tem uma visão triunfalista. Então, que se diga! Não me importa. O fato é que você e eu nascemos para dominar, para conquistar, para dar sentido a esse mundo. É urgente que cumpramos essa nossa missão. Já chega de ficar num anonimato morticínio. Um cristão que não tenha fome apostólica de "comer o mundo", ou seja, um filho de Deus que não deseje evangelizar, "já cheira mal, pois há quatro dias que ele está aí…" (Jo 11,39), na tumba; está num estado cadavérico.

Já estamos no quinto domingo da quaresma e temos que sentir a urgência daquilo que o Papa lembrava para esse domingo, que "Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança" (Papa Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).

Concretamente, nesses últimos dias: a quantas pessoas vamos fazer a proposta de que tenham uma vida cristã comprometida? A quantos dos nossos amigos convidaremos a fazer uma boa confissão? A quantos companheiros de profissão insistiremos para que participem conosco de algum meio de formação cristã? Por quantos familiares estamos fazendo penitência para que durante essas celebrações quaresmais e de semana santa tenham um encontro com Deus? Eu quero números. Não podemos conformar-nos com aquele ditado que reza assim: "o importante é a qualidade, não a quantidade". Eu protesto! A quantidade também é importante! A Igreja Católica não é uma espécie de oligarquia, de gente selecionada porque seria o melhor da society, de gente chique e inteligente que forma um gueto de iluminados. Não! Na Casa de Deus cabem todos.

O cristão que não sente os interesses de Deus como sendo os seus próprios interesses ainda não saiu da casca do ovo do egoísmo. Deus quer salvar a todos. Jesus morreu por todos. O nosso Salvador não se contenta em ficar com noventa e nove ovelhas, ele quer as cem dentro do rebanho. Quem somos nós para diminuir a vontade salvífica e universal de Deus? Seria uma pretensão boba, sem sentido e destinada ao fracasso. Deus quer a todos! A todos!

Como é importante examinar-nos para que deixemos pra trás o nosso sepulcro, o nosso fedor pessoal, a nossa visão míope! Como? Começando com uma boa confissão? Poderia ser. Também é importante ter um pequeno plano de vida espiritual no qual esteja presente momentos de oração pessoal, de devoção a Nossa Senhora e de tempo para a leitura daqueles bons livros que nos vão dando formação. Sem dúvida, a Missa, pelo menos dominical, e a santa comunhão, ocuparão o centro da nossa vida. Um cristão forte no seu interior, vivo pela graça de Deus, sempre sentirá o desejo de compartir com os demais a alegria que vive e que sente. Somente quem tem vida interior experimenta de verdade o que é ser apóstolo, evangelizador no século XXI.

Fora os fedores! Ao contrário, levemos sempre em todo o nosso ser o "perfume de Cristo" (2 Cor 2,15), esse perfume da graça que atrai e que satisfaz, que nos transporta à eternidade fazendo-nos permanecer com uma dedicação intensa às nossas ocupações habituais. A graça de Deus vai trabalhar justamente dentro daquelas realidades na quais nós nos encontramos imersos. Não nos tirará do mundo, mas nos pedirá espalhar o cheiro de Cristo nesse mundo, assim o mundo será mais agradável. O viver social, a cultura, a política, a economia também devem cheirar bem; e essa é uma tarefa encarregada especialmente aos cristãos que estão nesses ambientes.

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Pe. Françoá Costa

Homilia do D. Henrique Soares da Costa – V Domingo da Quaresma – Ano A

Ez 37,12-14
Sl 129
Rm 8,8-11
Jo 11,1-45

De hoje a oito estaremos entrando na Semana Santa, com a solenidade dos Ramos e da Paixão do Senhor. Agora, neste último Domingo antes dessa Grande Semana, a Liturgia nos apresenta o Senhor Jesus como nossa Ressurreição e nossa Vida. Aqui, não estamos falando de modo figurado, metafóricos! Jesus é realmente, propriamente, a nossa Vida, a nossa Ressurreição! Ele é o cumprimento do sonho de vida e felicidade que o Pai, desde o início, tem para nós: "Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel. Porei em vós o meu Espírito, para que vivais!" É em Jesus que esta promessa se cumpre, é nele que somos arrancados das sepulturas da vida e da sepultura da morte; é no seu Espírito Santo, derramado sobre nós, que o Pai nos vivifica!

Caríssimos, Jesus é a própria Ressurreição; ele é a própria Vida, Vida plena, Vida divina, Vida eterna! Jesus é a plenitude da vida, da nossa existência: nele, o nosso caminho termina não no Nada do absurdo, do vazio, mas na plenitude da Glória. Sem ele, seríamos nada, sem ele, tudo quanto vivemos terminaria no aniquilamento: "De que nos valeria ter nascido, se não nos redimisse em seu amor?" – é o que vai perguntar a liturgia da Igreja daqui a poucos dias, na noite da Páscoa. Num mundo que procura desesperadamente a vida, a felicidade; numa época como a nossa, em que se tem sede de um motivo para viver, de um sentido para a existência, Jesus se nos apresenta como a própria vida!

Mas, escutemo-lo falar, ele mesmo nos Evangelho deste Domingo. Deixemos que ele nos fale da vida, que ele mesmo nos ensine a viver!

Lázaro estava doente, sofrendo; depois, morreu. Suas irmãs estavam sofridas, angustiadas, imploraram tanto pela vinda do Senhor para curar o irmão… E Jesus não vai; Jesus demora-se. Quantas vezes fazemos, nós também, esta mesma experiência em nossa vida. "Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela!" E, pensemos bem: "Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. Quando ouviu que estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar em que se encontrava"… Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos, os nossos tempos e modos não são os dele. "Senhor, se estivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido…" Jesus sentiu a morte de Lázaro, Jesus"ficou profundamente comovido" e chorou por Lázaro, mas não impediu sua doença e sua morte! Vede, irmãos: nosso Deus não é tapa-buracos; jamais compreenderemos seu modo de agir! Ele nos ama, ele é fiel, ele se preocupa conosco, ele conhece nossas dores. Mas, jamais compreenderemos seu modo de agir no mundo e na nossa vida! Uma coisa é certa: se crermos, veremos sempre a glória de Deus, em tudo no mundo e em tudo na nossa vida Deus será glorificado!

Então, Jesus consola Marta e Maria. Jesus lhes promete a Ressurreição. Como todo judeu, as irmãs esperam a Ressurreição no Último Dia, no final dos tempos. Jesus, então, faz uma das revelações mais impressionantes de todo o Evangelho: "Eu sou a Ressurreição! Eu sou a Vida!" Atenção! Levemos a sério esta afirmação! Detenhamo-nos diante dela, admirados! A Ressurreição que os judeus esperavam chegou: é Jesus! A Ressurreição não é uma coisa, uma realidade impessoal! Não! A Ressurreição é uma pessoa: ela tem coração, rosto, voz e amor sem fim! A Ressurreição é Jesus em pessoa: "Eu sou a Ressurreição e a Vida! Quem crê em mim, mesmo que esteja morto, viverá!" É ele quem vem nos buscar, é na força dele que seremos erguidos da morte, é nele que nossa vida é salva do Absurdo, do Nada, do Vazio: "quem vive e crê em mim, não morrerá para sempre!" Nunca será demais a surpresa, a admiração, a grandeza dessas palavras! Caríssimos, "Deus nos deu a Vida eterna, e essa Vida está no seu Filho" (1Jo 5,11), esta Vida é o seu Filho!

Caríssimos, estamos para celebrar a Páscoa. Não esqueçamos que é para que tenhamos a vida que o nosso Jesus se entregou por nós: morto na carne foi vivificado no Espírito Santo pela sua ressurreição (cf. 1Pd 3,18). Ressuscitado, plenificado no Espírito Santo, derramou sobre nós esse Espírito de vida, dando-nos, assim, a semente de Vida eterna: "Se o Espírito do Pai que ressuscitou Jesus dentre os mortos já habita em vós, então o Pai que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do Espírito que habita em vós!"

É esta a nossa esperança: a Ressurreição! Por ela vivemos, dela temos certeza! E já possuímos, como primícias, como garantia o Espírito Santo de ressurreição. Então, vivamos uma vida nova, uma vida de ressuscitados em Cristo Jesus: "Os que vivem segundo a carne, segundo o pecado, não podem agradar a Deus! Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito" do Cristo Jesus! Então, vida nova! Deixemo-nos guiar pelo Espírito! Renovemo-nos! Convertamo-nos! Que as observâncias da santa Quaresma, o combate aos vícios, a abstinência dos alimentos e a confissão dos pecados nos preparem para celebrar de coração renovado a Santa Páscoa – esta, de 2005 e aquela, da Vida eterna! Amém.

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E JESUS CHOROU!

 

Diz o lema da Campanha da Fraternidade 2011: "a criação geme em dores de parto" (Rm 8,22). Apesar de refletir sobre a vida no Planeta com uma ênfase ambiental-ecológica, falar de dores de parto imediatamente nos leva a pensar no nascimento, principalmente de um ser humano. A mãe que sofre as dores do parto e dá a luz o seu bebê. A Igreja católica é sempre a favor da vida. Em qualquer situação, a pessoa humana deve ser protegida desde a sua concepção até a morte natural. Mesmo uma gravidez fruto de um estrupo ou que ponha em risco a vida da mãe, a Igreja católica é a favor da vida da criança (como grande testemunha santa GiannaBeretta, médica italiana que preferiu morrer para dar vida a sua filha).

Jesus sempre pregou a vida. Aliás, Deus no Antigo Testamento sempre é apresentado como o Deus da Vida e a vinda de Jesus a este mundo encontra o seu ápice na vitória da Vida sobre a morte: a Ressurreição que estamos para celebrar daqui a alguns dias na Páscoa. Então de onde vem essa grande propagação da morte? Hoje em dia, cada vez mais a chamada cultura de morte vem se alastrando espantosamente no nosso mundo atual. Muitas vezes, o argumento principal gira em torno do interesse e do lucro de alguma maneira, inclusive quando a interrupção da vida humana proporciona isso. Algumas pessoas querem manipular a vida das outras em seu benefício próprio, achando-se no direito de decidir interromper a vida de um não-nascido (aborto) ou de proporcionar uma "morte sem sofrimento" (eutanásia) a um doente incurável, como se estas pessoas fossem inferiores, e por isso, pudessem ser desconsideradas.

Mas o ponto da questão é que nesses casos ou em qualquer outro a morte espanta e faz sofrer. Quando ela surpreende improvisadamente nossos entes queridos, ficamos tristes, e refletimos sobre a vida. Já a cultura de morte faz esquecer o significado que a vida tem. Perdemos o sentido da vida, por isso, cada vez mais abortos. Pior ainda, quando essa cultura é pregada por líderes religiosos que se dizem seguidores de Jesus Cristo, vida e ressurreição.

Como, por exemplo, o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, que em uma de suas pregações, e dizendo que o que está prestes a dizer não é para contrariar a Igreja Católica, diz que apoia "em alto e bom tom" que é a favor do aborto, citando as palavras de Jesus sobre Judas o qual traiu o Mestre, que segundo Macedo, teria sido melhor que a mãe de Judas o tivesse abortado: "O Filho do homem vai, como está escrito a seu respeito, mas ai daquele por intermédio de quem o Filho do homem está sendo traído! Melhor lhe fora não haver nascido!" (cf. Mateus 26). Palavras que Macedo usa para justificar sua posição, propagar a ideia através de sua Rede Record em nome da responsabilidade social - ação e incentivo, e ultimamente através de seu blog pessoal.

Como seguidores autênticos de Jesus Cristo que nos esforçamos para ser, não podemos julgar ou condenar a pessoa de Edir Macedo ou quem provoca um aborto, pois Deus condena o pecado e não o pecador e só quem pode julgar é Deus, só Ele conhece tudo profundamente; mas temos o direito e o dever de manifestar nossa indignação com a atitude de um cristão pregar a favor da morte de um inocente, seja lá qual for o motivo.

No Evangelho de hoje, Jesus promove uma cultura diferente. O episódio da morte e ressurreição de Lázaro, o irmão de Marta e Maria, amigos caríssimos a Jesus, é único no seu gênero. Logo no início do texto, Jesus esclarece como no relato do cego de nascença, que a doença de Lázaro não existe para levar à morte, mas serve para que o Filho de Deus seja glorificado através dela. Que a morte seja um dos acontecimentos que mais nos desconcertam na nossa vida, o próprio Jesus nos confirma com a sua atitude: ele ficou profundamente comovido, estremeceu interiormente e caiu num pranto de choro. Mesmo tendo a consciência de poder vencer a morte e ressuscitar (reanimar) Lázaro, Jesus chora a morte do amigo.

Marta indo ao encontro de Jesus, diz: "Senhor, se você estivesse aqui, meu irmão não teria morrido". Marta acreditava na Ressurreição dos mortos no último dia e sabia que Jesus curava os enfermos, mas que ele não chegara a tempo de curar o amigo. Mas a pergunta que Jesus fez a Marta, ele a faz a cada um de nós: "eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. Você acredita nisso?". Marta dá uma resposta que, à primeira vista, parece fora de contexto. Em vez de responder simplesmente com um sim, ela acrescenta que acredita firmemente que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. Em outras palavras, ela nos ensina que basta acreditar nele e pronto. É a fé em Jesus que nos salva.

O que Jesus faz com Lázaro é um sinal. Ele o chama: "Lázaro, vem para fora!". E Lázaro volta a viver. Através desta ação, ele quer mostrar que a morte não é um limite para ele, mas que ele tem poder até sobre ela. Porém, o que ele quer nos oferecer não é uma vida terrena que se prolongue para sempre, até porque Lázaro morreu de novo. O que Jesus quer oferecer é a vida eterna em comunhão com Deus. E aqui é bom chamar a ressurreição de Lázaro de reanimação ou ressuscitamento porque foi uma volta para a mesma vida, com o mesmo corpo, diferentemente da Ressurreição do último dia com o corpo glorioso.

Outro particular deste relato é que Jesus antes de chamar Lázaro à vida agradece ao Pai por tê-lo escutado. Isso mostra que o ponto central da fé é a relação de confiança que Jesus tem com o Pai. O que se torna um exemplo para nós, que às vezes pedimos tanto e nada agradecemos. Se acreditarmos em Jesus, não temeremos a morte, pois ele é sinônimo de Vida. Cristo é a Ressurreição porque é a vida. Ele constitui o critério e o ponto de referência para o nosso dia-a-dia, oferecendo resposta aos nossos problemas e nos predispondo para a dor e para a possibilidade da morte. Vida eterna quer dizer vida infinita e esta certeza de fé nos encoraja a defender o dom da nossa própria vida e também a do outro, mesmo nas circunstâncias nas quais ela parece perder o próprio sentido, tipo quando há o sentido de vazio e a ausência de dignidade. O Deus da vida quer que vivamos a vida plenamente. Porque todos, absolutamente todos nós, incluindo todos os inocentes que ainda estão no ventre de suas mães, têm direito à vida. Exatamente nada justifica tirarmos esse direito dessas crianças.

padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento

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VIDA NOVA

 

A liturgia desse domingo continua a catequese batismal da Quaresma. Depois de apresentar:

- Cristo, Água para a nossa sede (Samaritana);

- Cristo, Luz para as nossas trevas (cura do cego);

hoje nos fala de Cristo, Ressurreição para a vida (Lázaro).

A liturgia responde à pergunta: "Como chegar a ser cristão?" Começamos com a recepção do dom de Deus, na água viva da graça, com uma iluminação e com uma ressurreição à vida verdadeira.

Na 1ª leitura, Ezequiel anuncia Vida nova. (Ez 37,12-14)

O Povo, exilado na Babilônia, desesperado e sem futuro, vivia uma situação de Morte. O profeta Ezequiel procurou alimentar a esperança dos exilados e transmitir a certeza de que Deus não os abandonou.

O texto apresenta a famosa visão dos ossos ressequidos, que saem dos "túmulos". O Espírito do Senhor sopra sobre eles e eles ganham vida. Deus vai transformar a morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em libertação. É Deus prometendo ao povo o regresso à sua terra, restaurando a esperança dos exilados num futuro de felicidade e de Paz.

O Espírito de Deus nos faz sair dos "túmulos" da desesperança, do medo.

Deus é o Deus da vida em plenitude.

Na 2ª leitura, Paulo lembra que o Espírito de Deus ressuscitou Cristo e o introduziu na glória do Pai. No Batismo, nós recebemos o mesmo Espírito, que dá vida. (Rm. 8,8-11)

No Evangelho, Jesus se apresenta como o Senhor da Vida. (Jo 11,1-45)

O fato: mandam dizer: "Lázaro está doente..." Jesus: aparentemente não se preocupa... Os apóstolos até estranham... Jesus tranqüiliza: "Essa doença é para a glória de Deus... Ele está dormindo" e fica com eles mais dois dias...

No Encontro com Marta, Jesus se comove e chora... Não é choro ruidoso, desesperado... mas de afeto e solidariedade... O povo até comenta: "Vede como ele o amava".

O diálogo: Jesus afirma: "Eu sou a ressurreição e a Vida. Aquele que crer, ainda que estiver morto viverá... "Você crê nisso?" Marta professa sua fé: "Sim, eu creio", que tu és o Cristo..."

No sepulcro... "Tirai a pedra..." (que separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos...)

A oração: "Pai, eu te dou graças, porque me ouvistes..."

A ordem: "Lázaro, vem para fora... Desatai-o... e deixai-o andar". E Lázaro recupera a Vida.

Duas formas de solidariedade diante da morte:

- os amigos e vizinhos vão à casa de Marta e Maria, para dar os pêsames e fazer lamentações em altos brados: símbolo do desespero.

- Jesus nem entra na casa, nesse ambiente dominado pelo desespero. Ele fica fora e chama para fora...

Os dois choram... mas muito diferente...

A família de Betânia representa a comunidade cristã, formada por irmãos e irmãs, não tem pais... Todos conhecem Jesus, são amigos de Jesus e acolhem Jesus na sua casa e na sua vida. Essa família faz a experiência da morte. Mas os amigos de Jesus sabem que Ele é a Ressurreição e a Vida, e que dá a vida plena aos seus. A morte é apenas a passagem para a vida plena.

Ressurreição de Lázaro é um sinal: (7º e último antes da paixão)

A Ressurreição de Lázaro é uma prefiguração da Ressurreição de Cristo.

O batismo é um morrer e ressuscitar com Cristo.

O "sinal" de Betânia é também um convite a crer na Vida e a lutar por ela em todas as expressões.

O discípulo de Jesus, renascido à Vida no batismo,   carrega em si o germe da verdadeira Vida.

O prefácio resume o sentido do fato: "Verdadeiro homem, Jesus chorou o amigo Lázaro; Deus e Senhor da Vida, o tirou do túmulo; hoje estende a toda a humanidade a sua misericórdia e com os seus sacramentos nos faz passar da morte à Vida"

A liturgia da Palavra nesta Quaresma é uma retomada de nossa "iniciação batismal", que certamente precisa ser aprofundada:

- um encontro com Cristo;

- um diálogo;

- uma profissão de fé, a exemplo da Samaritana, do cego e de Marta.

padre Antônio Geraldo Dalla Costa

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O ÚLTIMO SINAL

 

A ressurreição de Lázaro conclui a série dos sinais realizados por Jesus, ao longo do seu ministério, e, de certo modo, prepara o caminho para o sinal definitivo: sua ressurreição. O último sinal contém elementos importantes para a correta compreensão do que estava para acontecer.

Jesus é apresentado como vencedor da morte e doador da vida. Não importava que o amigo estivesse doente, morresse e depois passasse quatro dias sepultado. O Messias Jesus era suficientemente poderoso para chamá-lo de volta à vida.

Quem estivera morto levanta-se do sepulcro e volta para a vida, obedecendo à ordem dada por Jesus. Este se apresenta como o princípio e a causa da ressurreição da Lázaro. A ressurreição de Jesus acontecerá por que traz dentro de si uma força divina, que faz jorrar a vida onde reina a morte.

A ressurreição de Lázaro possibilitará aos discípulos solidificarem sua própria fé. Jesus se alegra por eles não terem encontrado Lázaro com vida. Assim, teriam a chance de testemunhar uma manifestação inquestionável do poder do Mestre, e, por conseguinte, crerem nele.

Por sua vez, o diálogo com Marta e Maria, em torno da fé na ressurreição dos mortos, põe as bases para a compreensão da gloriosa ressurreição do Senhor.

Desta forma, os discípulos foram preparados para enfrentar o impacto da morte iminente do Mestre.

padreJaldemir Vitório

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Deus criou o Universo e nele o nosso planeta Terra com toda a sua beleza. Em nosso planeta há vida, aconchego e amor. Ele é um berço de aconchego e de vida. Jesus falou da água com a samaritana, mostrou a luz ao cego de nascença, tirou Lázaro da casa da morte e lhe devolveu a vida. Quando a nossa terra geme de dor é porque está agonizando ou porque está dando à luz. Nossa Terra é criatura viva, que respira, se alimenta e sofre. Ela tem florestas e ar puro, mas há gazes e aquecimento. Há rios de águas férteis e limpas, maltratados e poluídos. A Terra reclama pela vida, vida mineral, vegetal, animal, vida humana com inteligência e vontade livre.

A esperança permanece porque da semente que morre na Terra surge a vida. A morte de Jesus Cristo se torna garantia de vida para tudo e todos em nosso mundo e no que há de vir. O que parece morrer pode se tornar fonte de vida. Reanimados pelo Espírito, os corpos das sepulturas tendem a recobrar a vida e a vontade de provocar um grande movimento em favor do bem-estar de todos. Unidos, os seres humanos revivificados podem imprimir movimento ao que está parado e inerte, e renovar a face da Terra.

Não basta viver a materialidade deste mundo, por mais importante que ela seja. Sem o Espírito, ela é morta. O Espírito pairou sobre as águas, um sopro de Espírito animou o barro inicial, o vento do Espírito reanimou os ossos secos dos exilados. O Espírito se traduz em ideias, valores, utopias, que animam a matéria.

Caso contrário, comemos, bebemos, respiramos o ar puro e voltamos ao pó da terra. A convicção de fé em torno de valores mantém a dignidade do ser humano, mesmo em situações aviltantes.

Não queremos, porém, voltar a esta vida para repetir o passado já vivido. Buscamos o novo na ressurreição. A volta de Lázaro a esta vida é apenas indicativa de que a morte não tem mais poder sobre os amigos de Jesus, nenhum tipo de morte. A caminhada dos catecúmenos, dos penitentes, dos fiéis chega ao fim. Passa pela morte e ressuscita para a vida que não tem fim.

Ez 37,12-14 – O profeta Ezequiel reanima a esperança do povo desanimado no exílio da Babilônia: "Vocês vão sair da sepultura, vão receber um Espírito que lhes devolverá a vida".

Sl 129 (130) – Com o Salmista, descemos às profundezas da miséria da vida sem perder a esperança no Senhor em quem se encontra o perdão.

Rm 8,8-11 – Vivemos segundo o Espírito, isto é, damos passos movidos pelo Amor. A realidade teológica é que o Espírito de Deus está em nós. O resultado humano dessa realidade é que vibramos por alguma coisa. Há algo que nos impulsiona e que nos puxa, que torna a vida interessante e dá sabor à existência. Vivemos por alguma razão e por alguma causa.

Jo 11,1-45 – Jesus tira seu amigo Lázaro da casa da morte. A morte não tem poder sobre os amigos de Jesus. O preço é caro: Jesus vai ter que entregar a sua vida à morte, mas ressuscitará. A morte não tem poder sobre Jesus. Nosso Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos. Ele quer que vivamos plenamente, aqui e depois. Lázaro volta para esta vida por algum tempo, como sinal do que virá depois: a vida que perdura para sempre.

cônego Celso Pedro da Silva

 

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MORREMOS COM CRISTO PARA VIVER COMO RESSUSCITADOS EM CRISTO

Neste texto, o evangelista João faz uma prefiguração da morte e ressurreição de Jesus. Na primeira parte temos o diálogo de Jesus com os discípulos, a partir da notícia da doença de Lázaro. Criando um estranho suspense, Jesus não reage de imediato a esta noticia, minimizando-a com a simples afirmação simbólica de que Lázaro dorme. Neste diálogo destaca-se a ameaça de morte que paira sobre o próprio Jesus a partir dos judeus. Na segunda parte, Jesus chegando em Betânia, temos o edificante diálogo de Jesus com Marta (cf. 29 jul), encerrando-se com a ressurreição de Lázaro. Em seu texto, o evangelista João com seu gênio literário apresenta uma detalhada e expressiva análise da ressurreição comunicada por Jesus. Aquele que Jesus ama, não está morto mas é resgatado para a vida. Na teologia paulina (segunda leitura), pelo ato de fé, no batismo, morremos com Cristo para viver como ressuscitados em Cristo. Na perspectiva do batismo de João, assumido por Jesus, pela conversão, na prática da justiça, da fraternidade e do amor, já vivemos como ressuscitados. As categorias escatológicas do morrer e ressuscitar (primeira leitura) deixam de ser uma realidade do último dia. Passam a ser uma realidade atual. Jesus é, na história, a ressurreição e a vida. Quem crê nele viverá, não morrerá jamais.

José Raimundo Oliva

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Lázaro volta à vida

 

Neste quinto domingo da Quaresma, contemplamos um dos milagres mais relevantes, narrado pelos Evangelhos, pois confirma o poder de Jesus sobre a morte. Didaticamente, podemos dividir esta narrativa em três momentos:

1) Particularidades do acontecimento (vv. 1-16);

2) Diálogo de Jesus com as irmãs de Lázaro (vv. 17-37);

3) Ressurreição de Lázaro, quatro dias após sua morte (vv. 38-45).

1. Particularidades do acontecimento (vv. 1-16)

Vale a pena, pegar um texto de santo Agostinho († 430), que comenta a citação no v.4 "… mas tem por finalidade a glória de Deus". "A glória, não foi um ganho para Jesus, mas proveito para nós. Jesus diz que a doença não é de morte, porque aquela morte não era para morte, mas sim um milagre, pelo qual as pessoas cressem em Cristo e evitassem assim a verdadeira morte" (In Ioann. Evang., 49,6).

Nos vv. 8-10, vemos os discípulos preocupados, pois querem lapidar (atacar ou matar com pedras) a Jesus, conforme dizia a lei: "Aquele que blasfemar o nome de Iahweh deverá morrer, e toda a comunidade o apedrejará" (Lv 24,16). Dentro de uma sociedade como a nossa, é difícil falar de Jesus, é difícil viver como Jesus, muitas coisas colaboram para nos afastar. Aí está o segredo de quem quer segui-lo, será conseguir dar este salto e ser liberto das coisas do mundo e ser contemplativo na ação, como se tudo dependesse de Deus. Nos tempos de Jesus, na cultura daquele povo, havia uma mistura cultural muito acentuada, pois havia a cultura grega, judaica e romana. E, nesta diversidade, aparece Jesus, dizendo ser Filho de Deus e que sua existência é eterna, e manifesta sua unidade com o Pai. Que escândalo, para a época. E, hoje, será diferente? Haja vista, os embates, sobre questões mais candentes, como natalidade, aborto etc. E, ainda, nos deixa boquiabertos, os desentendimentos, dentro da própria comunidade, parecendo um programa de Big Brother, onde um quer eliminar o outro. Este tempo de quaresma, é tempo de conversão, tempo de revermos nossos gestos e atitudes. Aproveitemos este tempo, para deixarmos a graça de Deus agir em nós.

O v.16, nos mostra algo, que muito refleti, quando tive a graça, de um dia, ter ido a Terra Santa. Justamente, o trecho que Tomé diz aos outros discípulos "vamos também nós para morrermos com ele". Quantas vezes, nós também juramos "fidelidade" aos compromissos assumidos.  Inclusive, no hino dos Congregados Marianos, cantamos: "E te juramos ó Mãe querida, fidelidade por toda a vida". Assim, como Pedro, Tomé irá fraquejar.

Então, na Terra Santa, quando, no interior do Santo Sepulcro, me deparei com o altar da crucificação, na Igreja Ortodoxa Grega, local exato da crucificação. Onde, na parte debaixo um disco de prata, marca o ponto sob a rocha onde a cruz estava; peregrinos do mundo inteiro se ajoelham para beijar o local (ver foto), os ícones de prata da Virgem Maria e são João, estão do lado de Jesus. Passou-me pela cabeça, em colocar a fita azul de congregado mariano, no ícone de São João, pelo exemplo de fidelidade. Onde estavam os outros discípulos? Só estava lá, João, o discípulo que Jesus amava. Este, sim, teve fidelidade por toda a vida.

Mas, Jesus, ama a cada um de nós, e o que fazemos com nossa "fidelidade" aos compromissos que assumimos ao longo da vida?

2. Diálogo de Jesus com as irmãs de Lázaro (vv. 17-37)

Novamente, peguemos a interpretação que santo Agostinho, nos deixou, a luz dos vv. 21-22, mostrando que o pedido de Marta é um exemplo de oração confiante e de abandono nas mãos do Senhor, ensino este que serve a todos nós, pois só o Senhor sabe o que melhor que nos convém. (In Ioann. Evang. 49,13)

Nos vv. 24-26, nos deparamos com as colocações de Jesus a Marta, onde Ele diz que é "a ressurreição e a vida". Jesus é a Ressurreição, devido a sua vitória sobre a morte e por este motivo, todos nós que cremos que ressuscitaremos com ele. E, o milagre que realizará em Lázaro, será um sinal de seu poder vivificador. Para nós cristãos, que rezamos no Credo, que "cremos na ressurreição da carne e na vida eterna", nos coloca na mesma fé de Marta.

E quando Jesus diz que é a Vida, está querendo dizer, se temos parte com Ele, já estamos na vida da graça que opera em nossa alma, fazendo de nós seus discípulos e missionários.

Nos vv. 33-36, Jesus se comove e chora, e como dizia Santo Agostinho: "Cristo chorou: chore também o homem sobre si mesmo. Por que chorou Cristo senão para ensinar o homem a chorar?" (In Ioann. Evang., 49,19). Choremos nós também, mas pelos nossos pecados, para que, neste tempo da Quaresma, voltemos a vida da graça pela conversão e arrependimento.

3. Ressurreição de Lázaro, quatro dias após sua morte (vv. 38-45)

Na ressurreição de Lázaro, veremos despontar o poder divino de Jesus sobre a morte, com dois objetivos básicos:

1) Confirmar a fé dos discípulos;

2) Manifestar Jesus, como a ressurreição e a vida.

Devemos acrescentar, que a volta de Lázaro à vida, além de ser um acontecimento real, histórico, será um sinal de nossa ressurreição futura. E, assim, quando Lázaro ressuscita, aumenta fé dos discípulos, de Marta e de Maria e da multidão. Mas, sem esquecer que a ressurreição gloriosa de Cristo, é o modelo e a causa de nossa ressurreição. Pois, Cristo ressuscitado já não morre mais e Lázaro irá morrer outra vez.

Santo Agostinho vê na ressurreição de Lázaro uma figura do sacramento da penitência (In Ioann. Evang., 49,24). Momento oportuno a todos nós.

 

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1ª leitura: Ezequiel 37,12-14

VOU ABRIR SEUS TÚMULOS E FAREI QUE VOCÊS RESSUSCITEM DELES

Estes poucos versículos de Ezequiel afirmam a ressurreição dos mortos de Israel e a volta do povo ao seu país depois do exílio da Babilônia. O povo, escravo na Babilônia, chorava a segunda queda de Jerusalém, conquistada pelos soldados de Nabucodonosor (588 a.C.).

Israel, no exílio, tomou consciência da sua situação. Sentia-se um povo morto, um monte de ossos ressequidos no túmulo (v. 11). Por meio do profeta, Deus lhe anuncia que vai abrir o túmulo tirando o povo da sepultura e conduzindo-o à vida.

Na visão dos ossos ressequidos, vê-se a força de um Espírito misterioso que os revitaliza, tornando-os um exército de Deus que dará a vida do povo.

Na imagem da ressurreição, vê-se a volta de Israel à pátria (edito de Ciro, em 538 a.C.). O profeta a vê como a presença de Deus, que vê a desgraça do povo e age para mudar a situação.

 

2ª leitura: Romanos 8,8-11

DEUS DARÁ VIDA AOS SEUS CORPOS MORTAIS, PELO SEU ESPÍRITO

Este capítulo tem como tema central a vida no Espírito, que se opõe à vida segundo os instintos. A vida no Espírito é aquela conforme Jesus viveu, doando-se plenamente, vivendo o projeto de Deus.

Neste capítulo, Paulo coloca o Espírito Santo como o grande protagonista. Ele é citado 18 vezes em 34 encontradas em toda a carta. Ele é o artífice da nossa filiação divina (vv. 14-17). Anima a nossa oração (vv. 26-27). É o libertador da Lei, do pecado e da morte (v.2).

A vida segundo o Espírito se opõe à vida segundo a carne (sarx). Carne significa aqui a pessoa abandonada a si própria, com o seu egoísmo, fazendo de si mesma um ídolo, fazendo com que o mundo gire em torno de si, segundo os seus interesses, vendo só a sua própria auto-afirmação. Adora a si mesma e como conseqüência desta práxis nascem os instintos egoístas e com isso não pode agradar a Deus (v.8). O cristão recebeu o Espírito Santo e deixa ser movido e conduzido por ele, e assim tem a pessoa de Jesus Cristo como centro da sua vida.

 

Evangelho: João 11,1-45

MORTE E RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

A ressurreição de Lázaro é o sétimo sinal do quarto evangelho. Com ele se conclui o livro dos sinais (2-12) e é introduzido o livro da glória (13-20), no qual Jesus é apresentado como Aquele que doa o bom vinho, a água para a vida, a saúde aos doentes, o pão vivo...

A função dos sinais em João é levar o cristão a tomar partido a favor de Jesus ou contra ele. A ressurreição de Lázaro é para João o ponto alto da catequese batismal das primeiras comunidades cristãs. É o último milagre de Jesus antes da sua morte.

João apresenta os milagres de Jesus como sinais reveladores da sua messianidade e do seu relacionamento estreito com o Pai. Eles são sinais da glória (doxa) de Deus.

A ressurreição de Lázaro é apenas um sinal que aponta para uma realidade maior e mais profunda, isto é, a sua vitória e glorificação (v. 14).

Lázaro, Marta e Maria representam a própria humanidade em situação de morte. Entre os três e Jesus havia um relacionamento de fraternidade e Maria foi aquela que ungiu os pés dele com perfume (v.2). Marta acredita somente na ressurreição final (v.22) e aconselha que a pedra do sepulcro não seja movida, lembrando que Lázaro havia morrido há quatro dias. Segundo a tradição rabínica, a alma do defunto vagava ao redor do corpo durante três dias, depois não havia mais esperança de sobrevivência. Diante das palavras de Jesus, Marta fez uma profissão de fé que só se compara à de Pedro em Mateus 16,16. Marta proclama que Jesus é o Messias.

REFLEXÃO

Na primeira parte do Evangelho de hoje parece que Jesus faz o propósito de não ser entendido pelos discípulos. Permanece ainda dois dias onde está, em vez de ir logo à Betânia, e por fim lhes diz que está contente por não estar junto de Lázaro (João 11,15).

Na segunda parte, Marta e Maria, amigas de Jesus, destacam-se na galeria das personagens. Elas crêem em Jesus, mas não entendem porque Ele não veio logo ver Lázaro. Jesus dá a Marta uma catequese conduzindo-a a uma profissão de fé completa: "Eu creio que Tu és o Filho de Deus". E neste contexto Jesus reza.

O homem procura com todos os meios mais modernos e eficientes a vida física, anseia por defendê-la, preservá-la, prolongá-la, mas somente Cristo é o Senhor da vida. Jesus é vida e ressurreição, sinal luminoso para quem o acolhe com os olhos da fé, pois com a fé, mesmo diante da dor e da morte encontra-se Deus. É o que nos fala numa poesia o poeta Saadi, persa do ano 1000, ao escrever: "Quando nasci a vida me ofereceu uma taça. Bebi-a toda e encontrei uma pérola, a juventude. A juventude me deu uma outra taça e depois de a ter bebido encontrei em meus lábios o rubi do amor. O amor, por sua vez, também me ofereceu uma taça. Bebi-a toda e encontrei no fundo o diamante da dor. Desesperado, bebi também essa taça da dor até a última gota e com suma alegria encontrei a Deus".

A liturgia de hoje, último domingo da Quaresma, continua realçando o Batismo. A leitura litúrgica de hoje, desde os primórdios da tradição litúrgica da Igreja, foi relacionada com o Batismo e associada ao terceiro escrutínio dos catecúmenos.

Como nos domingos anteriores sob o sinal da água e da luz, também hoje Cristo se autodefine como Vida através do milagre-sinal da ressurreição de Lázaro. A ressurreição que ele opera é sinal de vida nova no Espírito que nos é dado no Batismo como antecipação da nossa ressurreição final (2ª leitura).

Cristo se proclamou como Vida para todo aquele que Nele crer e confirmou isso com o milagre-sinal da ressurreição de Lázaro. No contexto desse milagre, Jesus revela abertamente a sua filiação divina: "Eu sou a ressurreição e a vida" (v.25) e, por ser divino, não deixou de ser solidário com os homens: "Ele chorou sobre Lázaro..." (prefácio).

Quem crê em Jesus Cristo fica livre e é salvo por Ele. É libertado do pecado e de suas conseqüências. Não é uma libertação da morte física, pois Jesus também morreu, mas da escravidão da morte que é o pecado. Para quem crê, o futuro não é uma esperança ou uma surpresa mais ou menos certa, mas a plenitude de vida, pois o homem não é um ser para a morte, mas para a vida com Deus, pois Deus é o Deus dos vivos (João 12,24).

padre José AntonioBertolin, OSJ

 

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Jesus acorda seu amigo Lázaro

 

Vamos nos aproximando da Semana Santa e os temas quaresmais cada vez mais nos prepararam para viver o mistério pascal de Cristo e de cada um de nós. Hoje é o domingo de Lázaro. Hoje é o domingo do Cristo que afirma ser ele a vida e a ressurreição.

Lázaro adoecera e suas irmãs mandaram avisar a Jesus. Os mensageiros usam uma linguagem delicada e a frase que dizem revela o afeto entre Jesus e o doente: "Senhor aquele que amas está doente!"

Muitas vezes Jesus esteve diante do mistério da doença e da morte.  Estes são sempre acontecimentos mais ou menos trágicos na trajetória humana. Há essas doenças que chegam e passam na passarela da vida. Algumas chegam para ficar. A realidade é mais doída quando vem a morte: entes queridos que levamos ao cemitério, pessoas que morrem inopinadamente vítimas de tiros de assaltantes desalmados,  famílias inteiras soterradas nos desbarrancamentos, gente que morre em acidentes de estrada.  A morte é sempre um mistério.

O amigo de Jesus, Lázaro, tinha morrido. O sono de Lázaro e o sono da morte se conjugam. Os discípulos têm ainda dúvidas a respeito da morte do amigo de Jesus. Abertamente Jesus  diz:  Lazaro está morto.

Há o encontro com Marta. "Se tivésseis aqui meu irmão não teria morrido". O Jesus do evangelista João muda da plano. Não fala da morte corporal, mas de uma vida para além dessa morte. Inquire a respeito da fé de sua amiga nessa transmutação dos planos: "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá.  Crês isso? Respondeu ela: "Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo".  Jesus aponta para um horizonte diferente. Para uma vida em plenitude.   Maria que estava casa sabendo que Jesus chegara vai ao seu encontro  e caindo de joelhos aos pés de Jesus diz o mesmo que a irmã:  "Se tivésseis estado aqui o meu irmão não teria morrido".

Lá está Jesus com a notícia da morte do amigo, com a dor de Marta e essa Maria que se ajoelha diante dele toda encolhida de dor... Ah! A ]morte...Jesus está com as cordas da sensibilidade tensas. Ele mesmo em breve deveria enfrentar essa dura realidade. Ele estava diante do túmulo de seu amigo mas pensava, quem sabe, nos pormenores de sua morte que, segundo tudo indicava, poderia acontecer a cada instante.  Maria chorava. "Quando Jesus a viu chorar, e também os que estavam com ela, estremeceu interiormente, ficou profundamente comovido e perguntou: "Onde o colocastes?" Responderam: "Vem ver, Senhor". E Jesus  chorou. Então os judeus disseram: "Vede como ele os amava!"

Jesus coloca o gesto da reanimação do cadáver do amigo. Olha para o Pai, afirma que vai realizar o sinal para que os circunstantes creiam. Grita: "Lázaro, vem para fora!"

Jesus acordou seu amigo do sono da morte e o entregou aos seus.

Concluímos nossa reflexão com palavras do prefacio deste domingo: "Verdadeiro homem, Jesus chorou o amigo Lázaro, Deus vivo e eterno ele o ressuscitou, tirando-o do túmulo. Compadecendo-se da humanidade que jaz na morte do pecado, por seus sagrados mistérios ele nos eleva ao reino da vida nova".

frei Almir Ribeiro Guimaeães

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Ressurreição e vida

 

Como nos dois domingos anteriores, também o 5º domingo quaresmal, antigamente chamado "da Paixão", é marcado por um dos grandes episódios do Quarto Evangelho: a ressurreição de Lázaro (evangelho).

Com isso, não só se narra um dos últimos episódios antes da morte de Jesus, provocando ódio mortal nas autoridades judaicas, mas ainda se prefigura a sua ressurreição: o episódio de Lázaro conduz à Páscoa da morte e ressurreição de Cristo (11,55).

Também a 1ª leitura está sob o signo da ressurreição: a visão dos ossos revivificados pelo Espírito de Deus (Ez. 37).

A 2ª leitura, de Rm. 8, fala do espírito que vivifica, mesmo se o corpo está morto; o espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos fará viver até os nossos corpos mortais. A liturgia de hoje, portanto, abre uma perspectiva tanto sobre nossa ressurreição quanto sobre a de Cristo, perspectiva que sustenta nossa conversão pascal.

O salmo responsorial, Sl. 130 (129), ilustra isso, como também a exortação de Paulo no começo da 2ª leitura: já não podemos viver segundo a carne. A presentificação do Mistério Pascal deve se tornar eficaz em nós. Melhor, o Mistério só se torna presente, na medida em que opera algo em nós. A comemoração da ressurreição de Cristo é a celebração da nossa renovação, da nossa vida de ressuscitados pelo Espírito. Hoje podemos meditar sobre um antiqüíssimo tema batismal: morrer em Cristo para com ele ressuscitar (Rm. 6,1ss). Morrer e ressuscitar, pois a glória é alcançada através da doação, por amor, até a morte, como lembra a oração do dia.

Podemos meditar também as palavras misteriosas do evangelho: "eu sou a ressurreição e a vida". A realidade disso depende do crer em Jesus: "Todo aquele que, na sua vida, crer em mim, não morrerá, mas tem a vida eterna". Para João, na fé já se torna presente a realidade definitiva (escatologia presente, antecipada). Aderir a Jesus Cristo, como seu amigo Lázaro fez, significa aderir à Vida em pessoa (cf. Jô 1,3s). Por ser o amigo de Jesus, Lázaro é escolhido para ser o sinal de uma vida que não morre, mesmo se o corpo morre (cf. 11,25). Todo o que adere assim a Cristo já passou da morte para a vida (Jo 5,24). É esse o significado profundo de nossa fé – fé que os catecúmenos abraçam na noite pascal e nós proclamamos, renovada, na mesma ocasião: confiar-se a Jesus, que enfrenta o ódio, as trevas, o pecado....até a morte por amor aos que ele veio salvar. Confiar que Jesus teve realmente razão em ter-se esgotado pelos seus em fidelidade até o fim (cf. Jo 13,1); e assumir as conseqüências disso, ou seja, enveredar no mesmo caminho, ainda que não se tenha a pureza nem a radicalidade da doação do filho unigênito, que Deus permitiu que morresse para provar até onde vai o amor (Jo 3,16; 1Jo 3,16). Portanto, a vida eterna se torna uma realidade para nós, desde já, quando vivenciamos, pela fé em Jesus Cristo, a sua doação até a morte. Este é o sentido de nossa fé, de nosso batismo, de nossa páscoa. O Espírito faz viver os nossos corpos mortais apesar da morte; faz-nos viver a vida de Deus no meio da morte. No meio da morte, estamos na Vida...

Ora, convém considerar não apenas o alto teor teológico deste evangelho, mas também seu profundo humanismo. Embora Jesus veja na doença de Lázaro uma oportunidade de Deus revelar sua glória, é verdadeira a emoção por causa da morte do amigo. Isso significa que os sinais de Deus se encarnam em autêntica humanidade. Foi o amor de Jesus por Lázaro que o fez rezar ao Pai e o devolver seu amigo à vida. Assim, a nossa vida renovada em Cristo deverá ser não menos, mas mais profundamente humana ainda, para "encarnar" sempre melhor o amor de Deus em nós (prefácio, oração do dia).

Johan Konings "Liturgia dominical"

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Muitos povos da terra, no passado e no presente, foram ou são forçados a abandonar suas terra e caminhar para o exílio. Seus habitantes forma as legiões de excluídos e refugiados que, ainda hoje, as Nações Unidas, através do seu Alto Comissariado para os Refugiados (ACNUR), se esforça por atender. Para um migrante não existe pior desgraça que morrer no desterro, longe do solo pátrio, da paisagem familiar, da terra natal.

O profeta Ezequiel, na primeira leitura, enfrenta essa situação diante do seu povo de Judá, há 26 séculos: começam a morrer os anciãos, os enfermos, os mais débeis, longe de Jerusalém, da terra que Deus prometera aos patriarcas, a terra na qual Moisés tinha conduzido o povo e que Josué tinha conquistado. À dor pela morte dos entes queridos se soma à de vê-los morrer em solo estrangeiro, e ter que sepultá-los entre estranhos.

Porém, a voz do profeta se converte em consolo de Deus: ele mesmo tirará das tumbas o seu povo, abrirá seus sepulcros e os fará voltar à amada terra de Israel. Conhecerá seu povo que Deus é o Senhor quando ele derrame em abundancia seu Espírito sobre os sobreviventes.

No AT não aparece claramente uma expectativa de vida eterna, de vida mais além da morte. Os israelitas esperavam as bênçãos divinas para este tempo da vida terrena: vida longa, descendência numerosa, habitar na terra que Deus deu a seu povo, riquezas suficientes para viver folgadamente. Para além da morte somente restava deitar e dormir com os pais, com os antepassados; as almas dos mortos habitavam no "sheol", o abismo subterrâneo onde não havia alegria nem sofrimento.

Somente nos últimos livros do AT, por exemplo em Daniel, em Sabedoria e em Macabeus, encontramos textos que falam mais ou menos confusamente de uma esperança de vida para além da morte, de uma possibilidade de voltar a viver por vontade de Deus, de ressuscitar. Esta esperança tímida surge no contexto da pergunta pela retribuição e o exercício da justiça divina: quando Deus premiará o justo, o mártir da fé, por exemplo, ou castigará o ímpio perseguidor de seu povo, se a morte os levou a todos? Quando Deus realizará plenamente as promessas a favor de seu povo eleito?

Algumas correntes do judaísmo contemporâneo de Jesus, como o farisaísmo, acreditavam firmemente na ressurreição dos mortos como um acontecimento escatológico dos últimos tempos, um acontecimento que faria brilhar a insubornável justiça de Deus sobre justos e pecadores.

Os saduceus, ao contrário, atinham-se à doutrina tradicional. Bastava-lhes esta vida de privilégios para os de sua casta, e consideravam cumprida a justiça divina no "status quo" que eles defendiam: o mundo estava bem como estava, em nãos dos dominadores romanos que respeitavam seu poder religioso e sacerdotal sobre o povo.

A segunda leitura, da carta aos Romanos, considerada como seu testamento espiritual, escrita com categorias antropológicas complicadas, muito longe das nossas, que se prestam facilmente a confusão. O fragmento de hoje foi escolhido para fazer referencia ao tema da primeira leitura: os cristãos recebemos o Espírito que o Senhor havia prometido nos antigos tempos do exílio, não estamos já na "carne", na linguagem de Paulo, já não estamos no pecado, no egoísmo estéril, na cobiça, desenfreada.

Estamos no Espírito, ou seja, na vida verdadeira do amor, do perdão, e do serviço, como Cristo, que possui plenamente o Espírito para derramá-lo sem medida. E se o Espírito ressuscitou Jesus dentre os mortos, também nos ressuscitará, para que participemos da vida de Deus.

A passagem do evangelho lida hoje, a "revivescencia" de Lazaro, narra o último dos sete "sinais" ou "obras" que constituem o esquema do quarto evangelho. Segundo João, antes de enfrentar-se com a morte, se manifesta como Senhor da vida, declara solenemente em público, que ele é a ressurreição e a vida, que os mortos pela fé nele reviverão, que os vivos que crerem nele não morrerão para sempre.

Bonita a cena, bem construído o relato, tremendas e lapidares as palavras de Jesus, rico em simbolismo o conjunto, porém difícil o texto para nós hoje, quando nos movemos em uma mentalidade tão distante daquela de João e de sua comunidade. Não chama tanto a nossa atenção os milagres de Jesus como suas atitudes e sua pratica ou práxis ordinária.

Preferimos olhá-lo no seu lado imitável, mas que em seu aspecto simplesmente admirável que não podemos imitar. Não somos tampouco muito dados em crer facilmente na possibilidade de milagres. Para a mentalidade adulta e crítica de uma pessoa de hoje, uma pessoa do povo, este texto não é fácil. (Pode ser mais fácil para religiosas de clausura, ou para as crianças da catequese infantil).

Na sofisticada elaboração do evangelho de João, este é o "sinal" culminante de Jesus, não somente por ser muito mais chamativo que os outros (nada menos que uma revivescencia), mas porque está apresentado como o que derrama a gota de paciência dos inimigos de Jesus, que por este milagre decidem matar Jesus. Talvez por isso foi escolhido para este último domingo antes da semana santa. Estamos nos aproximamos do clímax do drama da vida de Jesus, e este fato de sua vida é apresentado por João como o que provoca o desenlace final.

A causa da morte de Jesus foi muito mais que uma decisão de alguns inimigos temerosos do crescimento da popularidade de um Jesus taumaturgo, como aqui o apresenta João. Esse pode ser um viés da reflexão de hoje: "Por que morre Jesus e por que o matam?"

Outro tema possível de ser tratado é o da "fé" ou do "crer em Jesus", contanto que não se identifique a fé em "crer que Jesus pode fazer milagres" ou "crer nos milagres de Jesus". A fé é algo muito mais serio e profundo. Poderia alguém crer em Jesus e crer que o Jesus histórico talvez não tenha feito nenhum milagre. Não podemos propor a fé como se um Deus "de cima" ficasse atento para ver se os de "baixo", os humanos, dão crédito ou não às suas tradições referentes a Jesus de Nazaré e seus milagres. A fé em Jesus tem que ser algo muito mais profundo.

Um terceiro tema, ainda mais complexo, para nossa reflexão, pode ser o da ressurreição. Precisamente porque a de Lazaro não foi uma ressurreição. Logicamente, a Lázaro simplesmente foi dado uma prerrogativa, um "propina", um suplemento da própria vida.

Lazaro "ressuscitado" um dia voltaria a morrer. Porque para nós "viver é morrer". Cada dia que vivemos é um dia que morremos, um dia a menos na nossa vida, um dia a mais gasto de nossa vida. Porém, "ressuscitar" é outra coisa. Aqui teríamos que sublinhar e proclamar e denunciar que é bem provável que na cabeça da maior parte de nós a idéia de "ressurreição" que existe é uma idéia equivocada, por esta mesma razão, pela qual dizemos que Lázaro era indevidamente chamado "ressuscitado": porque pensamos, ou melhor, "imaginamos" a vida ressuscitada um pouco como "prolongamento, suplemento, continuação" desta de agora.

E não é bem assim. Não é somente a diferença de que "aquela vida não se acaba", ou que "não tem necessidades materiais" porque "aí serão como os anjos do céu". Não é assim. É outra coisa. É, sobretudo, um mistério. Nossa chamada "fé na ressurreição não é um crer que há um "segundo piso" ao qual subimos depois da morte e aí "continuamos vivendo".

Poderíamos dizer que todas essas "imagens" não correspondem ao mistério no qual cremos e como tal, podem ser deixadas de lado. Também aqui, eu posso crer no que denominamos "ressurreição" sem aceitar a interpretação simplista de que Deus nos criou aqui primeiro para depois levar-nos a um lugar definitivo. Muitos povos primitivos pensaram isto, uma forma plausível de interpretação da vida humana em um determinado contexto cultural.

Porém, hoje, se não queremos seguir presos nas "crenças "típicas das religiões da idade agrária é necessário fazer um esforço de purificação e talvez também necessitemos aceitar a ascese de um não saber/poder expressar bem aquilo no qual cremos. É um ponto por demais importante e muito sutil a pretensão de falar diretamente da ressurreição de Lazaro.

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O amigo morto

 

Enquanto Jerusalém abria suas doze portas para receber os peregrinos que chegavam para celebrar a Páscoa, nós estivemos vivendo escondidos em Peréia, do outro lado do Jordão. As coisas na capital ficaram difíceis para nós e pensamos que durante alguns dias se tornaria muito perigoso ensinar as orelhas por lá...

Mensageiro: Psst...! Amigo, me disseram que aqui encontraria Jesus, o profeta...

Pedro: E disseram bem. O que você quer?

Mensageiro: Vê-lo. Tenho que lhe dar um recado.

Pedro: E de onde você vem...?

Mensageiro: De Betânia.

Pedro: Santo e senha...?

Mensageiro: Nem santo nem senha! Quanto mistério vocês arranjam. Tenho que ver Jesus e o verei... É urgente.

Jesus estava doente. As águas salobras de Peréia lhe provocaram febres. Quando aquele mensageiro de Betânia entrou na casa onde nos haviam dado albergue, o encontrou prostrado sobre uma esteira, pálido e com olheiras...

Mensageiro: Até que enfim topei com você, nazareno. Você se esconde melhor que as topeiras em seus buracos. Ainda que, na verdade, não esperava encontra-lo assim...

Jesus: Nem eu pensava encontrar-me assim e, você bem vê... faz uns dias que estou doente...

Mensageiro: Pois eu venho lhe falar de outro doente. Marta e Maria, de Betânia, me mandaram dizer que Lázaro está muito mal.

Jesus: Então aquele safado também está de cama?... E o que é que ele tem?

Mensageiro: Uma doença bem ruim. Já faz três dias que nenhuma maldição sai de sua boca. Nem ri, nem come. Acho que vai morrer...
Pedro: Bah, praga ruim nunca morre. Acontece que essa Maria é muito espevitada. Aposto que foi ela quem fez você vir aqui todo cheio de pressa...

Mensageiro: Não é só ela... A Marta também. A situação de Lázaro é muito séria. As duas estão muito preocupadas. E não sabem o que fazer...

E quando o mensageiro de Betânia foi embora...

Pedro: Mas, Jesus, moreno, você não se dá conta que é perigoso?

Tiago: Na semana passada quiseram prendê-lo, caramba. Se voltarmos agora, vamos colocar nossos pescoços a prêmio.

Pedro: Espere até que a Páscoa esteja mais próxima. Com Jerusalém abarrotada de gente é outra coisa. Quando o rio estiver bem revolto, então sim poderemos lançar os anzóis...

Após dois dias de ter recebido o mensageiro de Betânia, Jesus já se sentia melhor e nos falou em voltar à Judéia. Para alguns do grupo aquela idéia pareceu descabida...

Jesus: Vamos, companheiros, esqueçam-se do medo e amarrem as sandálias, que a luz do sol brilha só doze horas e temos de aproveitá-la bem. Sairemos amanhã ao amanhecer. Lázaro está nos esperando. Amigos são amigos.

Tiago: E inimigos são inimigos, Jesus. Eles também estão nos esperando.

Jesus: Pois vamos andar com os olhos e os ouvidos bem abertos, Tiago, para que não nos peguem na armadilha.

Tomé: E se nos ma-ma-matarem, que nos ma-matem. Algum dia temos de mo-mo-morrer!

Pedro: Ao menos desta vez estou com Tomé. Vamos para a Judéia, camaradas, e que saia o sol por onde sair!

No dia seguinte saímos de Peréia. Atravessamos o Jordão à altura de Jericó. Depois de longas horas de caminho, vimos as muralhas de Jerusalém. Mas passamos perto delas sem entrar na cidade. Queríamos chegar o quanto antes à taberna de Lázaro... Deixamos atrás o monte das Oliveiras e, quando já víamos bem perto as casinhas brancas de Betânia, Marta, levantando o pó do caminho, veio nos receber...

Maria: Jesus, até que enfim você chegou!

Jesus: Como anda Lázaro, Marta...?

Marta: Mas, você ainda não está sabendo? Ele morreu, Jesus, ele morreu... Já faz quatro dias... Por que você não veio antes? Mandamos lhe avisar... Lázaro perguntava por você... Sofreu muito... Ai, Jesus, que dor tão grande!

Marta, com os cabelos revoltos e a túnica de luto, abraçou-se a Jesus, chorando. Os soluços sacudiam seu corpo robusto como o vento da manhã, lá ao longe, sacudia as folhas das tamareiras... A mãe de Jesus e as mulheres se uniram em seguida ao seu pranto... Os olhos de Felipe e de Natanael foram os primeiros a umedecer-se... Pelo rosto de Jesus também corriam as lágrimas... Todos nós gostávamos muito de Lázaro.

Marta: Por que Deus o levou, Jesus...? Por que...? Maria e eu precisávamos tanto dele...

Jesus: Onde está Maria?

Marta: Lá em casa. Não faz mais que chorar... Já faz quatro dias que não come nem dorme... Vou chamá-la... Ficará contente em vê-los.

Com a energia que seu corpo conservava, apesar da tristeza, Marta saiu correndo para a taberna. Todos, angustiados, sem saber o que dizer, a seguimos devagar por aquele caminho empoeirado que tantas vezes havíamos percorrido com alegria em nossas viagens à capital... Quando cruzamos o portão da taberna, Maria saiu ao nosso encontro e, com ela, muitos dos vizinhos que estavam com as irmãs consolando-as depois do enterro de Lázaro.

Maria: Jesus, por que você não veio antes? Por que?

Maria, no chão, arrancava os cabelos e se batia no peito contra a terra...

Maria: Maldita seja a vida e mais maldita a morte!

Uma velha: Que Deus tenha misericórdia de todos nós, que também vamos terminar na cova!

Mensageiro: Pobres mulheres... ficaram sozinhas. Agora, quem vai cuidar delas?

Uma moradora: E você, profeta, por que não veio quando ele ainda estava doente? Não dizem que você curou tanta gente? Pois você podia também ter sarado a ele!

Velha: O gordo Lázaro era um bom homem. Que nosso pai Abraão o tenha em seu seio!

A taberna de Betânia não cheirava, como das outras vezes, a cordeiro, vinho e cebola. Estava de luto. E o perfume do incenso queimado durante aqueles dias ainda recendia pelos quartos. Já se haviam apagado os lamentos das carpideiras e a música das flautas. Um grupo de vizinhos e alguns hóspedes acompanhavam Marta e Maria chorando com elas. Quando lavamos os pés e nos sentamos no quarto grande, perto da cozinha, nos parecia que Lázaro, com seu sorriso de sempre, iria aparecer por qualquer canto de sua taberna, para nos dar as boas vindas...

Um homem: A maior barriga de Betânia e também o maior coração...!

Uma mulher: Pode dizer,Serápio! Se houve um homem honrado neste povoado esse era o irmão de vocês, meninas... Mais reto que um cipreste e melhor que o mel, sim senhor...

Maria: E não tinha que ter morrido, não... Era jovem e forte...

Velha: Paciência, minha filha, paciência.

Pedro: E que demônios de doença foi essa...?

Marta: De repente. Caiu ali na cozinha, com o caldeirão na mão, como se um raio o tivesse atingido... Uns dias na cama sem se mexer, e se acabou...

Pedro: Que desgraça... E agora, o que vocês vão fazer?

Maria: O que vamos fazer, Pedro...? Meu irmão era o coração desta taberna. Agora tudo se acabou...

Jesus: Não, Maria. O Lázaro gostaria de ver vocês continuarem trabalhando, que seu negócio fosse adiante...

Velha: E como pode ser isso, se os vermes vão lhe comer os olhos?

Jesus: Vovó, os mortos continuam nos vendo e nos amando porque... continuam vivos.

Maria: Você diz isso para nos consolar, Jesus, mas... isso não é verdade.

Jesus: Sim, é verdade, Maria. A morte é uma despedida curta, nada mais que isso. Um pouco de tempo e vamos nos ver novamente... Agora choramos, mas chegará o dia em que nos encontraremos todos juntos na casa de Deus e ali se acabarão as lágrimas... Acredite, Maria: os mortos não estão mortos; continuam vivos com Deus.

Maria: Meu irmão também?

Jesus: Seu irmão também. Lázaro não está morto. Está dormindo. E Deus se encarregará de desperta-lo. Ele está vivo, Maria!

Maria: Vivo!... Mas eu não o escuto rir nem o vejo entrar nem sair por esta porta, com o avental cheio de gordura!... Faz só quatro dias e me parece que quatro anos se foram...

Jesus: Você voltará a vê-lo, Maria.

Maria: Não Jesus, não me engane. Com a morte tudo se acaba.

Jesus: Ao contrário, começa tudo. Veja, Maria, se uma criança, quando vai nascer, pudesse falar, diria que não, que ela não quer sair... pensaria que já se acabou tudo para ela... Sim, acabou-se o calor, a tranqüilidade junto ao coração de sua mãe. Mas quando vem para fora, começa uma nova vida, vendo a luz do sol, vendo as cores do mundo... Quando nós morremos acontece a mesma coisa: nos dá medo, choramos... a verdade é que estamos nascendo pela segunda vez, nascendo para uma vida muito melhor e que agora não podemos nem sonhar...

Maria: Isso parece bonito, Jesus. Mas eu sempre vi que quando alguém morre o jogam na terra e ele apodrece.

Jesus: Também apodrece a semente e dela nasce uma árvore nova que dá flores e frutos.

Jesus se voltou até Marta, a outra irmã de Lázaro, que permanecia silenciosa, junto à engordurada mesa da taberna, com os olhos vermelhos de tanto chorar...

Jesus: Onde o enterraram, Marta?

Marta: Ali, Jesus, no jardim do terreiro, atrás do quintal... Quer ir lá?

Jesus: Sim, vamos...

Todos nós fomos para fora. Era meio dia e o sol nos irritou os olhos. Ao chegarmos ao jardim e nos aproximarmos da rocha onde estava escavada a sepultura, Marta e Maria, no chão, choravam sem consolo... Jesus, ao vê-las, levou as mãos até o rosto e começou a chorar também...

Velha: Bem se vê que o profeta gostava muito dele...

Jesus: Lázaro, como é que você não nos esperou para celebrar juntos esta Páscoa?... Por que teve tanta pressa, companheiro?

Jesus, com os olhos cheios de lágrimas, ficou olhando fixamente a branca e redonda pedra do sepulcro. Estava rezando... Nós também rezávamos entre sussurros diante da tumba de nosso amigo...

Jesus: Pai, eu te dou graças porque tu não queres que a terra trague os mortos. É tua mão que os leva da morte para a vida, como levaste nossos pais através do Mar Vermelho... Tu és a ressurreição e a vida e todo aquele que crê em ti, ainda que esteja morto viverá... Sim, Pai, os ossos secos se levantarão. Que venha teu espírito dos quatro ventos e que sopre sobre os mortos para que vivam!

Nenhuma folha sequer se mexia. Jesus tremia.

Jesus: Por favor, rolem a pedra da sepultura...

Marta: Mas, Jesus...

Jesus: Sim, Marta, para que possa entrar o vento...

Marta: Jesus, mas o que você está dizendo? Já faz quatro dias... vai cheirar mal.

Jesus: Confie em mim, Marta. Por favor, rolem a pedra...

Estávamos desconcertados... Mas Tiago, Judas, Simão e o ferreiro se aproximaram do sepulcro e começaram a fazer força para rodar a pedra... Todos nós estremecemos, como se estivéssemos à beira de um precipício... Já ninguém mais chorava. Tínhamos os cabelos em pé. E já não podíamos afastar o olhar daquele buraco negro que começava a se abrir diante dos nossos olhos... Quando ficou aberto, sentimos na cara a baforada de ar frio misturado com o cheiro penetrante de mirra...

Jesus: Lázaro, irmão, venha! Volte para a vida!

Betânia fica a um par de milhas de Jerusalém, bem perto do vale de Josafá, onde, segundo a tradição de meus conterrâneos, Deus levantará os mortos na hora derradeira do mundo. Naquela manhã de primavera, em um jardim de Betânia, Jesus nos adiantou alguma coisa do que será a alegria e a surpresa do grande dia de Deus.

Comentários

Na última etapa de sua vida Jesus conheceu a clandestinidade. Teve que se esconder como medida de precaução diante do crescente ódio das autoridades (Jô 10,39-40; 11,54). Da Peréia, do outro lado do Jordão, teria ido à Betânia, ao ficar sabendo da enfermidade de Lázaro. Betânia é uma pequena aldeia situada a uns seis quilômetros a leste de Jerusalém. Atualmente se pode visitar em Betânia uma tumba que a tradição venera com sendo a de Lázaro. Por umas escadarias profundas e estreitas se desce a um reduzido espaço onde há uma mesa de pedra. Nela teria estado o cadáver do irmão de Marta e Maria. Em uma das úmidas paredes estão escritas as palavras de Jesus segundo o evangelho de João: "eu sou a ressurreição e a vida..."

O relato da ressurreição de Lázaro só aparece narrado no evangelho de João. O mesmo acontece com outras cenas que somente este evangelista conta. Estamos diante de uma densa e cuidada elaboração teológica em forma de narração com a qual, por meio de numerosos detalhes, se nos quer deixar gravada uma importante idéia. A comunidade dos discípulos de Jesus esteve escutando sua mensagem de libertação e comprovando-a também nos gestos, nas atividades e nos sinais. Mas ainda vê na morte a interrupção da vida, o fracasso invencível de todo projeto de libertação. Nesta narração teológica, João quer dar uma resposta de fé a esta angústia: a morte não é a fronteira. Para quem crê em Jesus não é nunca o final definitivo.

Quando Jesus decide voltar a Betânia, tão perto de Jerusalém, os apóstolos se opõem. Têm medo. As autoridades já procuram Jesus para mata-lo. Mas ele vai desafiá-las, arriscando-se ao perigo para estar perto de seu amigo Lázaro, que precisa dele. João também quer dizer algo importante neste detalhe do relato: para que a vida resplandeça em sua plenitude é preciso superar o medo de morrer.

Na mentalidade popular pensava-se que a morte era totalmente definitiva a partir do terceiro dia, quando a decomposição começava a apagar os traços pessoais do defunto. Quando Jesus chega a Betânia, Lázaro já estava morto há "quatro dias". Quer dizer, estava definitivamente morto, não havia dúvida sobre isso. Com esses detalhes, João quer explicar que a fé em Jesus não prolonga indefinidamente a vida física do ser humano. Jesus não é nem um médico nem um mago que possa impedir a morte. Mas a fé nele dá ao homem uma vida definitiva, que se prolongará para além da morte física. Para o justo, a morte não é mais que "passagem", como dirá Jesus. Como a passagem do Mar Vermelho que levou os israelitas de uma terra de escravidão para a terra da liberdade. Jesus – com sua vida e suas palavras – veio revelar ao homem qual é o projeto de Deus: não fez o ser humano para que morresse definitivamente, seu destino não é a morte mas a vida plena e definitiva. Daí a solenidade deste relato do evangelho de João. Poucos dias antes de sua própria morte, Jesus revela em Lázaro a totalidade do evangelho: Deus nos libertará também da morte.

No tempo de Jesus as tumbas eram construídas escavando-as em rochas naturais, em forma de grutas. Na entrada, para tampa-las, colocava-se geralmente uma pedra redonda que podia girar como uma enorme roda. Diante da tumba de seu amigo, Jesus chora. Gostava de Lázaro e sente profundamente sua morte e o sofrimento de suas irmãs. Deus, a quem vemos em Jesus, chora diante da dor humana, é solidário com as nossas tristezas. Diante da tumba Jesus também invoca o Deus da vida e o faz com as palavras do profeta Ezequiel (Ez. 37,1-14), nas quais se anunciava para os tempos messiânicos a superação de todas as dores e também da morte. Nelas o profeta proclamava a solene ressurreição dos "ossos secos" do povo oprimido de Israel. A pedra que fecha a entrada da tumba é um símbolo da desesperança. Estabelece uma fronteira definitiva entre a vida e a morte. Mas Deus é capaz de romper esta fronteira. Por isso Jesus manda retirar a pedra. E assim pode entrar o "vento" símbolo bíblico por excelência do Espírito de Deus. É um momento de extraordinária solenidade, pois o que esta narração quer dizer é talvez a palavra última de toda a mensagem de Jesus, o que é a mais profunda convicção da fé cristã. A morte como final de nossa vida é o ponto máximo da debilidade humana. Se tudo acabasse com ela, se obscurece o sentido de toda nossa existência. E isso não só do ponto de vista individual, da "minha" vida, mas do ponto de vista coletivo. Como poderá haver plena alegria nesta terra nova "onde habitará a justiça" (1Pd. 3,13) que esperamos, se os mortos que a tornaram possível a terra tragou... Daí que a fé na vida depois da morte é essencial inclusive para agora, para a história. (João 11,1-44)

1. Não é um caso que a liturgia de quaresma do ano litúrgico A, que estamos celebrando, é a mais antiga e é a liturgia que antigamente era utilizada como preparação para os catecúmenos. A seqüência dos temas encontrados ao longo dos domingos apresenta, de fato, uma linda catequese pré-batismal. Começando com o tema clássico das tentações, passando para o Evangelho da transfiguração do Senhor, continuando com o tema da água e depois da luz, pra chegarmos hoje ao tema da vida. Sem duvida este itinerário foi pensado para os catecúmenos em vista do dia do batismo, que antigamente era realizado na noite de Páscoa. Por isso a celebração do tempo de quaresma é importante para todos nós batizados: nos permite, de renovar o sentido do nosso batismo, para pudermos assumi-lo com mais clareza e determinação.

A reflexão de hoje depara sobre o tema central da vida, daquela vida verdadeira que vem de Deus e que vence a morte. Precisamos parar para deixarmos que as palavras do Evangelho penetrem em nós moldando a nossa mente e incentivando ações novas.

2. "Esta doença não leva a morte; ela serve para a gloria de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela" (Jo 11,4).

Aprender a ver tudo aquilo que humanamente se apresenta como doença, morte, fraqueza como caminhos que podem manifestar a vida: este é o primeiro grande ensinamento de Jesus no evangelho de hoje. O problema é entender como isso pode acontecer, ou seja, como podemos vislumbrar vida naquilo que humanamente se apresenta como morte. Naquilo que os homens enxergam como finito, doente, morto, Jesus percebe possibilidade de Vida, manifestação da gloria de Deus. É um olhar totalmente diferente sobre a realidade, que Jesus tem e que exige dos seus apóstolos. Além do mais, esta capacidade de olhar a vida também em situações de morte, em Jesus não foi somente um olhar externo, mas também interno, na sua mesma experiência. O encontramos, de fato, no Getsêmani agarrado ao Pai, para fugir a tentação de olhar como morte aquela situação horrorosa que estava enfrentando. Também em cima da cruz Jesus esbanjou vida para todos aqueles que encostavam ao madeiro. O exemplo mais deslumbrante disso foram as palavras de perdão que Jesus declarou pelos seus algozes (cfLc 23, 39s.).

A vida espiritual deveria produzir nos discípulos este novo olhar sobre a realidade. Pra isso acontecer é preciso ser mergulhados na vida que vem de Deus. Ninguém é capaz de enxergar vida se ele mesmo trilha os caminhos da morte. O primeiro milagre deste tempo de quaresma deveria ir muito além do afastamento do pecado; deveria produzir em nós a capacidade de ver aquilo que Deus enxerga na humanidade. Somente pessoas vivas, somente cristãos mergulhados na vida de Cristo arregaçarão as mangas para tirar a humanidade dos caminhos de morte. O compromisso com uma política mais justa, o envolvimento nos projetos sociais é fruto deste novo olhar dos cristãos. Apesar do tamanho do nosso pecado, seja ele qual for, Deus não descarta nada, mas sempre almeja a recuperação. Isso vale não apenas num sentido físico, mas também espiritual. Aprender a acompanhar pessoas espiritualmente mortas, até que elas possam voltar a viver cheias da esperança que vem de Deus: é este um grande serviço que a Igreja é chamada a realizar no mundo de hoje. Devolver vida, esperança a um mundo mergulhado na morte: é isso que Jesus nos pede hoje.

3. "De novo Jesus ficou interiormente comovido" (Jo 11,38).

Ninguém entra no mundo da morte como anunciador da vida de Deus se não tiver um mínimo de compaixão no coração. Ser discípulo não é um trabalho qualquer: requer amor para o próximo, envolvimento emotivo, um coração sadio. Talvez o primeiro, ou pelo menos um dos sinais no caminho de conversão, seja mesmo esta transformação do coração, a capacidade de sentir com o outro, de viver o relacionamento com os irmãos as irmãs com empatia, e não com frieza. Como discípulos somos chamados a comunicar vida nos aproximando dos outros, sentindo e vivendo por dentro o drama da humanidade. Somente assim, com um coração compassivo, podemos nos aproximar á humanidade, não para julgá-la, mas sim para amá-la, sofrendo com ela e por ela. Por isso chama atenção a comoção de Jesus pelo seu amigo Lazaro: as suas lagrimas são um balsamo de amor pela humanidade. Que o Senhor, neste tempo de quaresma, possa moldar o nosso coração, abrandar as nossas almas, para conseguirmos sentir como ele sentia e, assim, anunciar o Evangelho não citando versículos a toa, querendo passar de especialistas da Bíblia, mas sim amando o povo, sentindo com ele.

4. "Disse Jesus: tirai a pedra!... Tendo dito isso, exclamou com voz forte: Lázaro vem para fora!" (Jo11,39.43).

O grito de Jesus, pedindo tirar a pedra do tumulo de Lazaro, é sem duvida uma das mais sugestivas e, ao mesmo tempo, das mais carregadas de simbolismo de todo o Novo Testamento. Lazaro pode simbolizar, do ponto de vista geral, a humanidade ainda não encontrada pelo Senhor. Acho, porém mais sugestivo e espiritualmente mais frutuoso, pensar aquilo que da nossa humanidade está ainda dentro do tumulo e que demora pra sair. Jesus grita para o morto sair: o que de nós está apodrecendo no tumulo da vida? De uma certa forma o trabalho do discípulo missionário consiste em dar continuidade á mesma ação de Jesus, de tirar as pedras dos túmulos que impedem as pessoas de viverem conforme ao plano de Deus. É nesse sentido que encontra valor todo o trabalho social que a Igreja desenvolve: tira as pedras da injustiça, da ignorância, as pedras da malandragem dos homens desonestos, as pedras que o mundo cego continuamente coloca, massacrando as possibilidades de vida dos irmãos, das irmãs. A humanidade cega e desnorteada sabe somente esconder os problemas (a pedra do tumulo), pois não consegue enxergar a luz da vida verdadeira e propor assim caminhos de saída. O grito de Jesus é como se fosse um grito terapeuta, que chega ao coração da consciência, para acordá-la, despertá-la. Existe toda uma humanidade (a multidão) que fica assistindo inerme a morte tomando conta do mundo: e nós de que lado estamos? O grito de Jesus expressa toda a força que a evangelização exige, toda a firmeza para que a morte não tenha a melhor sobre a vida. O amor quando é autentico é uma força irresistível, quando é mergulhado com as paixões humanas vira aquela fraqueza que abre o caminho para a morte da alma. Nos últimos versículos do Evangelho de hoje é expressada com a máxima evidencia a força que o amor de Deus realiza, um amor que passa através de pedidos claros ( "Desatai-o e deixai-o caminhar!"), de voz alta. O amor não é apenas um sentimento, mas sim a manifestação da presença de Deus na historia, uma presença que esbanja vida, transformando as aparências de morte. É este o caminho que Jesus quer que percorramos, para sermos no mundo testemunhas da vida.

padre Paolo Cugini

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Neste 5º domingo da Quaresma, a liturgia garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitivaque supera a morte.

Na primeira leitura, Jahwéh oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.

O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser "amigo" de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.

A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu batismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem "segundo o Espírito".

1ª leitura – Ez. 37,12-14 – AMBIENTE

Ezequiel é chamado "o profeta da esperança". Desterrado na Babilônia desde 597 a.C. (no reinado de Joaquim, quando Nabucodonosor conquista, pela primeira vez, Jerusalém e deporta para a Babilônia um primeiro grupo de jerusalimitanos), Ezequiel exerce aí a sua missão profética entre os exilados judeus.

A primeira fase do ministério de Ezequiel decorre entre 593 a.C. (altura em que sentiu o chamamento de Deus) e 586 a.C. (data em que Jerusalém é arrasada pelas tropas de Nabucodonosor e uma nova leva de exilados é encaminhada para a Babilônia). Nesta fase, Ezequiel procura destruir falsas esperanças e anuncia que, ao contrário do que pensam os exilados, o cativeiro está para durar… Eles não só não vão regressar em breve a Jerusalém, mas os que ficaram em Jerusalém (e que continuam a multiplicar os pecados e infidelidades) vão fazer companhia aos que já estão desterrados na Babilônia.

A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrola-se a partir de 586 a.C., até cerca de 570 a.C. Instalados numa terra estrangeira, sem Templo, sem sacerdócio e sem culto, os exilados estão desesperados e duvidam da bondade e do amor de Deus. Nessa fase, Ezequiel procura alimentar a esperança dos exilados e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus libertador e salvador não os abandonou.

O texto que nos é proposto como primeira leitura pertence à segunda fase. Faz parte da famosa "visão dos ossos calcinados" (cf. Ez. 37). Ezequiel descreve a visão de uma planície cheia de ossos calcinados e sem vida; mas, na visão do profeta, o Espírito do Senhor sopra sobre os ossos calcinados e eles são revestidos de pele, de músculos e ganham vida. Nesta parábola, os ossos calcinados representam o Povo de Deus, que jaz abandonado, sem esperança e sem futuro, no meio da planície mesopotâmica.

MENSAGEM

A situação de desespero em que estão os exilados é uma situação de morte. Eles sentem-se próximos da ruína e do aniquilamento e não vêem no horizonte quaisquer perspectivas de futuro. O texto define esta situação de ausência total de esperança como "estar no túmulo".

No entanto, é aqui que Deus entra. Jahwéh vai transformar a morte em vida, o desespero em esperança, a escravidão em libertação. O que é que Deus vai fazer, nesse sentido?

Em termos concretos, Jahwéh promete ao Povo o regresso à sua terra, restaurando a esperança dos exilados num futuro de felicidade e de paz… Mas Deus vai fazer ainda mais: vai derramar o seu Espírito (o "ruah") sobre o Povo condenado à morte.

Esta referência à ação do Espírito de Deus na revivificação do homem coloca-nos no mesmo contexto de Gn 2,7: no homem que criou do barro, Deus infundiu o seu "hálito de vida" ("neshamá") para o tornar um ser vivente; aqui, sobre o Povo que jaz no túmulo, Deus "infunde o seu Espírito" ("ruah" - Ez 37,14). Trata-se, portanto, de uma nova criação.
No entanto, o "ruah", que aqui é transmitido ao Povo que jaz no túmulo, é mais do que a simples "força vital", que dá vida física ao homem: é a vida divina que transforma completamente os homens, fazendo com que os corações de pedra – duros, insensíveis, auto-suficientes – se transformem em corações de carne, sensíveis e bons, capazes de amar Deus e os irmãos (cf. Ez. 36,26-27). Esta nova criação vai, portanto, muito mais longe do que a antiga criação.

Então, com um coração de carne capaz de compreender o amor, o Povo reconhecerá a bondade de Deus, a sua fidelidade à Aliança e às promessas que fez ao seu Povo.

A questão mais significativa é que, apesar das aparências, Deus não abandona o seu Povo à morte. Mesmo quando tudo parece perdido e sem saída, Deus lá está, transformando o desespero em esperança, a morte em vida. Jahwéh é o Deus da vida, que encontra sempre formas de transmitir vida ao seu Povo. Em cada instante da história Ele está presente, recriando o seu Povo, transformando-o, renovando-o, encaminhando-o para a vida plena.

ATUALIZAÇÃO

• Na nossa existência pessoal passamos, muitas vezes, por situações de desespero, em que tudo parece perder o sentido. A morte de alguém querido, o desmoronar dos laços familiares, a traição de um amigo ou de alguém a quem amamos, a perda do emprego, a solidão, a falta de objetivos lançam-nos muitas vezes num vazio do qual não conseguimos facilmente sair. A Palavra de Deus garante-nos: não estamos perdidos e abandonados à nossa miséria e finitude… Deus caminha ao nosso lado; em cada instante Ele lá está, tirando vida da morte, "escrevendo direito por linhas tortas", dando-nos a coragem de "sair do sepulcro" e avançar mais um passo ao encontro da vida plena.

• Mais: Deus recria-nos, cada dia, oferecendo-nos o Espírito transformador e renovador, que elimina dos nossos corações o orgulho e o egoísmo (afinal, os grandes responsáveis pelo sofrimento, pela injustiça, pela violência) e transformando-nos em pessoas novas, com um coração sensível ao amor e às necessidades dos outros.

• Ver os telejornais ou ler os jornais é – mais do que nos mantermos a par dos passos que o mundo vai dando – um autêntico exercício de masoquismo: parece que só há dramas, sofrimentos, injustiças e violências, como se o mundo fosse um imenso campo de morte. No entanto, nós os crentes sabemos que, apesar do sofrimento que faz parte da condição de fragilidade em que vivemos, Deus está presente na história humana, criando vida e oferecendo a esperança aos homens nesses mil e um gestos de bondade, de ternura e de amor que acontecem a cada instante (e que não chegam aos jornais ou às objetivas da televisão porque "não vendem" e, por isso, não são notícia). A Palavra Deus que hoje nos é proposta sugere que o crente – pelo simples fato de acreditar em Deus – deve ser um arauto da esperança.

• É sempre Deus – e só Deus – que oferece aos homens a vida e a esperança… No entanto, Deus age no mundo através de homens – como Ezequiel – que distribuem a vida nova de Deus, com palavras e com gestos. Já pensei que Deus me chama a ser uma luz de esperança no mundo? Tenho consciência de que é através dos meus gestos e das minhas palavras que Deus oferece a sua vida aos homens meus irmãos?

2ª leitura – Rom 8,8-11 – AMBIENTE

Já dissemos, noutras circunstâncias, que a Carta aos Romanos é um texto sereno e didáctico, no qual Paulo faz uma espécie de resumo do seu pensamento teológico e expõe a sua concepção daquilo que é essencial na mensagem cristã. Numa época (anos 57/58) em que existem problemas graves de entendimento e de perspectiva entre os cristãos vindos do judaísmo e os cristãos vindos do paganismo, Paulo sublinha a unidade da revelação e da história da salvação: Deus tem um projeto de salvação e de vida plena, que se destina a todos os homens, sem exceção.

Depois de provar que todos os homens (judeus e pagãos) vivem no domínio do pecado (cf. Rm. 1,18-3,20), mas que a "justiça de Deus" oferece a vida a todos, sem distinção (cf. Rm. 3,21-5,11), Paulo mostra como é que, através de Jesus Cristo, essa vida se comunica ao homem (cf. Rm. 5,12-8,39).

Indo mais ao pormenor: como é, então, que a vida de Deus se comunica ao homem? Paulo desenvolve o seu pensamento de acordo com a seguinte sequência: a obediência de Cristo ao plano do Pai fez com que a graça da salvação fosse oferecida a todos os homens (cf. Rom 5,12-20); acolhendo essa graça e aceitando receber o batismo, os homens tornam-se todos participantes do dom de Deus (cf. Rm. 6,1-23); a adesão a Cristo faz os homens livres das cadeias do egoísmo e do pecado e transforma-os em homens novos (cf. Rm. 7,1-25); e é o Espírito (dado ao crente no batismo) que potencia essa vida nova (cf. Rm. 8,1-39).

MENSAGEM

O Espírito é, verdadeiramente, a personagem central do capítulo 8 da Carta aos Romanos (o termo "pneuma" – "espírito" – aparece trinta e quatro vezes na Carta aos Romanos; e, dessas trinta e quatro, vinte e uma são neste capítulo). De acordo com a perspectiva teológica de Paulo, o Espírito é o responsável pelo fato de a vida nova que Deus oferece ao homem crescer e se desenvolver.

este capítulo, Paulo desenvolve uma das suas mais famosas antíteses: "carne"/"Espírito". "Viver segundo a carne" significa, em Paulo, uma vida conduzida à margem de Deus: o "homem da carne" é o homem do egoísmo e da auto-suficiência, cujos valores são o ciúme, o ódio, a ambição, a inveja, a libertinagem (cf. Gal. 5,19-21); "viver segundo o Espírito" significa, em Paulo, uma vida vivida na órbita de Deus, pautada pelos valores da caridade, da alegria, da paz, da fidelidade e da temperança (cf. Gal. 5,22-23).

Paulo recorda aos crentes, no texto que nos é proposto, que o cristão, no dia do seu batismo, optou pela vida do Espírito. A partir daí, vive sob o domínio do Espírito – isto é, vive aberto a Deus, recebe vida de Deus, torna-se "filho de Deus". Identifica-se, portanto, com Cristo; e assim como Cristo – depois de uma vida vivida "no Espírito" (isto é, depois de uma vida de renúncia ao egoísmo e ao pecado e de opção por Deus e pelas suas propostas) – ressuscitou e foi elevado definitivamente à glória do Pai, assim o cristão está destinado à vida nova, à vida plena, à vida eterna.

É, pois, o Espírito – presente naqueles que renunciaram à vida da "carne" e aderiram a Jesus – que liberta os crentes do pecado e da morte, que os transforma em homens novos e que os leva em direção à vida plena, à vida definitiva.

ATUALIZAÇÃO

• Na verdade, no dia do meu batismo, eu escolhi a vida "segundo o Espírito" (provavelmente, fui batizado muito pequenino, numa altura em que não tinha consciência plena do que isso significava; mas, mais tarde, tive a oportunidade – em vários momentos da minha caminhada cristã – de validar e confirmar essa opção inicial). A minha vida tem sido coerente com essa opção? A minha vida tem-se desenrolado à margem de Deus e das suas propostas ("vida segundo a carne") ou na escuta atenta e consequente dos projetos de Deus ("vida segundo o Espírito")?

• O batizado é alguém que escolheu identificar-se com Cristo – isto é, alguém que escolheu viver na obediência aos planos do Pai e no dom da vida em favor dos irmãos. O exemplo de Cristo garante-me: uma vida gasta desse jeito não termina no fracasso, mas na vida definitiva, na felicidade total. A realização plena do homem não está nos valores efêmeros (muitas vezes propostos como os valores mais fundamentais), mas no amor e no dom da vida. É daí que brota a ressurreição.

Evangelho – Jo 11,1-45 – AMBIENTE

O Evangelho segundo João procura apresentar Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Homem Novo. No "Livro dos Sinais" (cf. Jo 4,1-11,56), o autor apresenta – recorrendo aos "sinais" da água (cf. Jo 4,1-5,47), do pão (cf. Jo 6,1-7,53), da luz (cf. Jo 8,12-9,41), do pastor (cf. Jo 10,1-42) e da vida (cf. Jo 11,1-56) – um conjunto de catequeses sobre a ação criadora e vivificadora do Messias.

O texto que hoje nos é proposto é, exatamente, a quinta catequese (a da vida) do "Livro dos Sinais". Trata-se de uma narração única, que não tem paralelo nos outros três Evangelhos.

A cena situa-nos em Betânia, uma aldeia a Este do monte das Oliveiras, a cerca de três quilômetros de Jerusalém. O autor da catequese coloca-nos diante de um episódio – um triste episódio – familiar: a morte de um homem. A família mencionada, constituída por três pessoas (Marta, Maria e Lázaro), parece conhecida de Jesus: no vers. 5, diz-se que Jesus amava Marta, a sua irmã Maria e Lázaro. A visita de Jesus a casa desta família é, aliás, mencionada em Lc. 10,38-42; e João tem o cuidado de observar que a Maria, aqui referenciada, é a mesma que tinha ungido o Senhor com perfume e lhe tinha enxugado os pés com os cabelos (v. 2, cf. Jo. 12,1-8).

MENSAGEM

A família de Betânia apresenta algumas características dignas de nota…

Em primeiro lugar, o autor da narração não faz qualquer referência a outros membros, para além de Maria, Marta e Lázaro: não há pai, nem mãe, nem filhos. Além disso, João insiste no grau de parentesco que une os três: são "irmãos" (vs. 1.2b.3.5.19.21.23.28.32.39). A palavra "irmão" ("adelfós") será a palavra usada por Jesus, após a ressurreição, para definir a comunidade dos discípulos (Jo. 20,17); e este apelativo será comum entre os membros da comunidade cristã primitiva (Jo. 21,23).

Por outro lado, notemos a forma como é descrita a relação entre Jesus e esta família de irmãos… Trata-se de uma família amiga de Jesus, que Jesus conhece e que conhece Jesus, que ama Jesus e que é amada por Jesus, que recebe Jesus em sua casa.

Um fato abala a vida desta família: um irmão (Lázaro) está gravemente doente. As "irmãs" mostram o seu interesse, preocupação e solidariedade para com o "irmão" doente e informam Jesus.

A relação de Jesus com Lázaro é de afeto e amizade; mas Jesus não vai imediatamente ao seu encontro; parece, até, atrasar-se deliberadamente (v. 6). Com a sua passividade, Jesus deixa que a morte física do "amigo" se consume. Provavelmente, na intenção do nosso catequista, o pormenor significa que Jesus não veio para alterar o ciclo normal da vida física do homem, libertando-o da morte biológica; veio, sim, para dar um novo sentido à morte física e para oferecer ao homem a vida eterna.

Depois de dois dias, Jesus resolve dirigir-se à Judeia ao encontro do "amigo". No entanto, a oposição a Jesus está, precisamente, na Judeia e, de forma especial, em Jerusalém. Os discípulos tentam dissuadi-l'O: eles não entenderam, ainda, que o plano do Pai é que Jesus dê vida ao homem enfermo, mesmo que para isso corra riscos e tenha de oferecer a sua própria vida. Jesus não dá atenção ao medo dos discípulos: a sua preocupação única é realizar o plano do Pai no sentido de dar vida ao homem. Jesus não pode abandonar o "amigo": Ele é o pastor que desafia o perigo por amor dos seus.

Ao chegar a Betânia, Jesus encontrou o "amigo" sepultado há já quatro dias. De acordo com a mentalidade judaica, a morte era considerada definitiva a partir do terceiro dia. Quando Jesus chega, Lázaro está, pois, verdadeiramente morto. Jesus não elimina a morte física; mas, para quem é "amigo" de Jesus, a morte física não é mais do que um sono, do qual se acorda para descobrir a vida definitiva.

Por esta altura, entram em cena as "irmãs" de Lázaro. Marta é a primeira. Vem ao encontro de Jesus e insinua a sua reprovação: Jesus podia ter evitado a morte do amigo, se tivesse estado presente, pois onde Ele está reina a vida. No entanto, mesmo agora, Jesus poderá interceder junto de Deus, Deus atendê-lo-á e devolverá a vida física a Lázaro. Marta acredita em Deus; acredita que Jesus é um profeta, através de quem Deus atua no mundo; mas ainda não tem consciência de que Jesus é a vida do Pai e que Ele próprio dá a vida.

Jesus inicia a sua catequese dizendo-lhe: "teu irmão ressuscitará". Marta pensa que as palavras de Jesus são uma consolação banal e que Ele se refere à crença farisaica, segundo a qual os mortos haveriam de reviver, no final dos tempos, quando se registrasse a última intervenção de Deus na história humana. Isso ela já sabe; mas não chega: esse último dia ainda está tão longe…

Jesus, no entanto, não fala da ressurreição no final dos tempos. O que Ele diz é que, para quem é amigo de Jesus, não há morte, sequer. Jesus é "a ressurreição e a vida". Para os seus amigos, a morte física é apenas a passagem desta vida para a vida plena. Jesus não evita a morte física; mas Ele oferece ao homem essa vida que se prolonga para sempre. Para que essa vida definitiva possa chegar ao homem é necessário, no entanto, que o homem adira a Jesus e O siga, num caminho de amor e de dom da vida ("todo aquele que vive e acredita em mim, nunca morrerá"). A comunidade de Jesus (a comunidade dos que aderiram a Ele e ao seu projeto) é a comunidade daqueles que já possuem a vida definitiva. Eles passarão pela morte física; mas essa morte será apenas uma passagem para a verdadeira vida. E é essa vida verdadeira que Jesus quer oferecer. Confrontada com esta catequese ("acreditas nisto?"), Marta manifesta a sua adesão ao que Jesus diz e professa a sua fé no Senhor que dá a vida ("acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus que havia de vir ao mundo").

Maria, a outra irmã, tinha ficado em casa. Está imobilizada, paralisada pela dor sem esperança. Marta – que falara com Jesus e encontrara n'Ele a resposta para a situação que a fazia sofrer – convida a irmã a sair da sua dor e a ir, por sua vez, ao encontro de Jesus. Maria vai rapidamente, sem dar explicações a ninguém: ela tem consciência de que só em Jesus encontrará uma solução para o sofrimento que lhe enche o coração. Também nas palavras de Maria há uma reprovação a Jesus pelo facto de Ele não ter estado presente, impedindo a morte física de Lázaro. Jesus não pronuncia qualquer palavra de consolo, nem exorta à resignação (como é costume fazer nestes casos): vai fazer melhor do que isso e vai mostrar que Ele é, efetivamente, a ressurreição e a vida.

A cena da ressurreição de Lázaro começa com Jesus a chorar (v. 35). Não é pranto ruidoso, mas sereno… Jesus mostra, dessa forma, o seu afecto por Lázaro, a sua saudade do amigo ausente. Ele – como nós – sente a dor, diante da morte física de uma pessoa amada; mas a sua dor não é desespero.

Jesus chega junto do sepulcro de Lázaro. A entrada da gruta onde Lázaro está sepultado está fechada com uma pedra (como era costume, entre os judeus). A pedra é, aqui, símbolo da definitividade da morte. Separa o mundo dos vivos do mundo dos mortos, cortando qualquer relação entre um e outro.

Jesus, no entanto, manda tirar essa "pedra": para os crentes, não se trata de duas realidades sem qualquer relação. Jesus, ao oferecer a vida plena, abate as barreiras criadas pela morte física. A morte física não afasta o homem da vida.

A ação de dar vida a Lázaro representa a concretização da missão que o Pai confiou a Jesus: dar vida plena e definitiva ao homem. É por isso que Jesus, antes de mandar Lázaro sair do sepulcro, ergue os olhos ao céu e dá graças ao Pai (vs. 41b-42): a sua oração demonstra a sua comunhão com o Pai e a sua obediência na concretização do plano do Pai. Depois, Jesus mostra Lázaro vivo na morte, provando à comunidade dos crentes que a morte física não interrompe a vida plena do discípulo que ama Jesus e O segue.

A família de Betânia representa a comunidade cristã, formada por irmãos e irmãs. Todos eles conhecem Jesus, são amigos de Jesus, acolhem Jesus na sua casa e na sua vida. Essa família também faz a experiência da morte física. Como é que deve lidar com ela? Com o desespero de quem acha que tudo acabou? Com a tristeza de quem acha que a morte venceu, por algum tempo, até que Deus ressuscite o "irmão" morto, no final dos tempos (perspectiva dos fariseus da época de Jesus)?

Não. Ser amigo de Jesus é saber que Ele é a ressurreição e a vida e que dá aos seus a vida plena, em todos os momentos. Ele não evita a morte física; mas a morte física é, para os que aderiram a Jesus, apenas a passagem (imediata) para a vida verdadeira e definitiva. Para os "amigos" de Jesus – para aqueles que acolhem a sua proposta e fazem da sua vida uma entrega a Deus e um dom aos irmãos – não há morte… Podemos chorar a saudade pela partida de um irmão, mas temos de saber que, ao deixar este mundo, ele encontrou a vida plena, na glória de Deus.

ATUALIZAÇÃO

• A questão principal do Evangelho deste domingo – e que é uma questão determinante para a nossa existência de crentes – é a afirmação de que não há morte para os "amigos" de Jesus – isto é, para aqueles que acolhem a sua proposta e que aceitam fazer da sua vida uma entrega ao Pai e um dom aos irmãos. Os "amigos" de Jesus experimentam a morte física; mas essa morte não é destruição e aniquilação: é, apenas, a passagem para a vida definitiva. Mesmo que estejam privados da vida biológica, não estão mortos: encontraram a vida plena, junto de Deus. A história de Lázaro pretende representar essa realidade.

• No dia do nosso batismo, escolhemos essa vida plena e definitiva que Jesus oferece aos seus e que lhes garante a eternidade. A nossa vida tem sido coerente com essa opção? A nossa existência tem sido uma existência egoísta e fechada, que termina na morte, ou tem sido uma existência de amor, de partilha, de dom da vida, que aponta para a realização plena do homem e para a vida eterna?

• Ao longo da nossa existência nesta terra, convivemos com situações em que somos tocados pela morte física daqueles a quem amamos… É natural que fiquemos tristes pela sua partida e por eles deixarem de estar fisicamente presentes a nosso lado. A nossa fé convida-nos, no entanto, a ter a certeza de que os "amigos" não são aniquilados: apenas encontraram essa vida definitiva, longe da debilidade e da finitude humanas.

• Diante da certeza que a fé nos dá, somos convidados a viver a vida sem medo. O medo da morte como aniquilamento total torna o homem cauteloso e impotente face à opressão e ao poder dos opressores; mas libertando-nos do medo da morte, Jesus torna-nos livres e capacita-nos para gastar a vida ao serviço dos irmãos, lutando generosamente contra tudo aquilo que oprime e que rouba ao homem a vida plena.

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho - www.ecclesia.pt

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"EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA"

 

Para entender melhor este texto, temos que situá-lo no seu contexto dentro do Quarto Evangelho, o do Discípulo Amado.  Cumpre lembrar a divisão literária e teológica deste Evangelho. Nele os primeiros onze capítulos formam o que  é normalmente entitulado "O livros dos Sinais" ou seja, relatam sete sinais (tradução melhor do que "milagres") operados por Jesus.  Um sinal aponta para algo mais além, e os sinais relatados por João apontam para uma realidade mais profunda – eles revelam algo mais profundo sobre a pessoa e missão de Jesus. São: a mudança de água em vinho em Caná (2,1-11), a cura do filho dum funcionário real (4,46-54), a cura do paralítico em Betesda (5,1-18), a partilha de pães (6,1-15), caminhar sobre as águas (6,16-21), a cura do cego de nascença (9,1-41), e o sinal culminante, a Ressurreição de Lázaro (11,1-45), o texto de hoje. Como bloco, formam o Livro dos Sinais, preparação para Capítulos 13-20, O Livro da Glorificação.
Portanto devemos sempre ter presente que o relato de um sinal sempre quer revelar algo sobre Jesus.  Diferente dos milagres em Marcos, onde não se faz milagre a não ser que já se tem fé em Jesus, os sinais em João revelam uma verdade sobre Jesus e leva as pessoas a aprofundar a sua fé nele.  Assim, no texto de hoje, não devemos centralizar-nos sobre a pessoa de Lázaro, ou sobre os pormenores da história, mas descobrir o que João quer dizer sobre a pessoa de Jesus e a sua missão, através do texto.

Talvez possamos dizer que o centro do relato se encontra nos versículos 21-27. Partindo da fé na ressurreição dos mortos, já corrente desde o tempo dos Macabeus entre as camadas populares do judaísmo, mas rejeitada pela classe dominante dos saduceus, João tece um diálogo entre Jesus e Marta, que culmina com a declaração que a Ressurreição e a vida acontece através da fé nele, o Enviado de Deus, que veio para que todos tivessem plena vida, dando a sua vida para que isso acontecesse (cf. Jo 10,10-11). Vale a pena notar que, no Evangelho de João, a primeira pessoa a professar fé no messianismo divino de Jesus é uma mulher, Marta.  Nos Sinóticos, isso cabe a Pedro (Mc. 8,29). Como a cegueira do cego de nascença servia para que a glória de Deus fosse revelada através da sua cura, revelando Jesus como Luz do mundo (Jo9, 3-5), a morte de Lázaro serve para revelar Jesus como  Ressurreição e Vida ( 11,25-27).

Mas Jesus traz esta Vida para todos, através da entrega da sua própria vida. Pois o relato de João enfatiza que ele dará a sua vida para que todos tenham a vida eterna, colocando na boca do Sumo Sacerdote a frase famosa "É melhor um homem morrer pelo povo do que a nação toda perecer" (11,50). A libertação total que Jesus trouxe não  acontece sem que ele se esbarre contra os interesses dos poderosos da sociedade que procurarão conter esta libertação, matando-o. É  a maneira joanina de dizer a verdade que Marcos sublinha quando ele faz Jesus dizer "se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga me"(Mc. 8,34). A verdadeira vida exige luta contra tudo que é de morte, de dominação, de exploração, de exclusão.
Vale notar que no fim da história, Lázaro é desatado dos panos e sudário – pois ele vai precisá-los de novo, passarando pela morte! A Ressurreição de Jesus, que logo celebraremos, é diferente.  Cap. 20 de João faz questão de mencionar que, quando os discípulos entram no túmulo vazio, eles vêem o sudário e os panos no chão – pois Jesus não foi simplesmente ressuscitado, mas passou pela ressurreição, para a vida definitiva!  O que aconteceu com Lázaro simplesmente prefigura o que aconteceria com Jesus de uma maneira mais definitiva, e por conseguinte a todos nós. Que a nossa fé naquele que é "a Ressurreição e a Vida", que veio "para que todos tenham vida e a vida plena" nos leve, não à religião intimista e individualista, mas a um engajamento na construção do mundo que Deus quer, o mundo da verdadeira "Shalôm" – um conceito que vai muito além do sentido do termo Português "paz", para indicar a plenitude do bem-estar, tudo que Deus deseja para todos os seus filhos e filhas, incluindo um profundo respeito para o nosso planeta e toda a criação de Deus, como nos lembra a Campanha da Fraternidade deste ano.

João convida sua comunidade a acreditar na vida acima da morte. Morrer e ressuscitar são as verdades teológicas apresentadas: morrer em Cristo para ressuscitar na sua glória.

Jesus liga a ressurreição de Lázaro à fé na ressurreição da sua própria pessoa quando diz: "Eu sou a ressurreição e a vida."

Este evangelho narra uma das poucas vezes em que Jesus chora, o que demonstra a relação de amor e fraternidade que existe entre Ele, Lázaro, Marta e Maria que representam toda a humanidade. Um amor que gera confiança e solidariedade em situações difíceis.

A mensagem de aflição das irmãs de Lázaro vai de Betânia, que fica perto de Jerusalém, até Jesus: "Senhor aquele que tu amas está doente". É uma mensagem tão simples e esperançosa que bem podia

ser de tantas pessoas que hoje em dia tem seus entes queridos doentes, mas apesar de toda aflição das irmãs, Jesus espera mais dois dias antes de seguir até Betânia para que se cumpra o propósito existente na doença de Lázaro.

A doença que provoca a morte não é sinal de que Deus não ama a humanidade. Para Ele, a doença que conduz à morte é de outro tipo: trata-se do pecado, que é conseqüência de uma vida social injusta. Jesus não livra somente da morte física, ao contrário, Ele dá novo sentido a ela. Assim, os que crêem não têm motivos para temer a morte.

Quando Jesus chega em Betânia, já se completaram quatro dias da morte de Lázaro, o que para o povo de Deus significava o fim de todas as esperanças, pois, o corpo já estava em decomposição. Marta, em desespero, é a primeira a se apresentar diante de Jesus, acreditando ser a morte, o fim. Ele, porém, a faz acreditar na vida que é eterna, e ela como uma missionária, leva à sua irmã a boa nova, trazendo-a a presença Dele. A partir daí existe um movimento voltado para a vida: Jesus, seus discípulos, Marta, Maria e todos os que se encontram, consolando as duas irmãs, se dirigem ao túmulo onde Jesus, de fora, chama Lázaro para voltar à vida. Lázaro, ouvindo ao chamado, dirige-se para fora do túmulo, para junto da presença de Jesus que é a própria vida, mas ainda está preso às ataduras da morte. Jesus, então, ordena que todos o ajudem a se livrar delas e, com isso, deixa a mensagem de compromisso para todo cristão, de manter seu irmão livre das ataduras do pecado que leva à morte.

De hoje a oito estaremos entrando na Semana Santa, com a solenidade dos Ramos e da Paixão do Senhor. Agora, neste último domingo antes dessa grande semana, a liturgia nos apresenta o Senhor Jesus como nossa Ressurreição e nossa Vida.

Aqui, não estamos falando de modo figurado, metafóricos! Jesus é realmente, propriamente, a nossa Vida, a nossa Ressurreição! Ele é o cumprimento do sonho de vida e felicidade que o Pai, desde o início, tem para nós: "Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra de Israel. Porei em vós o meu Espírito, para que vivais!" É em Jesus que esta promessa se cumpre, é nele que somos arrancados das sepulturas da vida e da sepultura da morte; é no seu Espírito Santo, derramado sobre nós, que o Pai nos vivifica!

Jesus é a própria Ressurreição; ele é a própria Vida, Vida plena, Vida divina, Vida eterna! Jesus é a plenitude da vida, da nossa existência: nele, o nosso caminho termina não no Nada do absurdo, do vazio, mas na plenitude da Glória. Sem ele, seríamos nada, sem ele, tudo quanto vivemos terminaria no aniquilamento: "De que nos valeria ter nascido, se não nos redimisse em seu amor?" – é o que vai perguntar a liturgia da Igreja daqui a poucos dias, na noite da Páscoa. Num mundo que procura desesperadamente a vida, a felicidade; numa época como a nossa, em que se tem sede de um motivo para viver, de um sentido para a existência, Jesus se nos apresenta como a própria vida!

Mas, escutemo-lo falar, ele mesmo nos Evangelho deste domingo. Deixemos que ele nos fale da vida, que ele mesmo nos ensine a viver!

Lázaro estava doente, sofrendo; depois, morreu. Suas irmãs estavam sofridas, angustiadas, imploraram tanto pela vinda do Senhor para curar o irmão... E Jesus não vai; Jesus demora-se. Quantas vezes fazemos, nós também, esta mesma experiência em nossa vida. "Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela!" E, pensemos bem: "Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. Quando ouviu que estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar em que se encontrava"... Os caminhos de Deus não são os nossos caminhos, os nossos tempos e modos não são os dele. "Senhor, se estivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido..." Jesus sentiu a morte de Lázaro, Jesus "ficou profundamente comovido" e chorou por Lázaro, mas não impediu sua doença e sua morte! Vede, irmãos: nosso Deus não é tapa-buracos; jamais compreenderemos seu modo de agir! Ele nos ama, ele é fiel, ele se preocupa conosco, ele conhece nossas dores. Mas, jamais compreenderemos seu modo de agir no mundo e na nossa vida! Uma coisa é certa: se crermos, veremos sempre a glória de Deus, em tudo no mundo e em tudo na nossa vida Deus será glorificado!

Então, Jesus consola Marta e Maria. Jesus lhes promete a Ressurreição. Como todo judeu, as irmãs esperam a Ressurreição no Último Dia, no final dos tempos. Jesus, então, faz uma das revelações mais impressionantes de todo o Evangelho: "Eu sou a Ressurreição! Eu sou a Vida!" Atenção! Levemos a sério esta afirmação! Detenhamo-nos diante dela, admirados! A Ressurreição que os judeus esperavam chegou: é Jesus! A Ressurreição não é uma coisa, uma realidade impessoal! Não! A Ressurreição é uma pessoa: ela tem coração, rosto, voz e amor sem fim! A Ressurreição é Jesus em pessoa: "Eu sou a Ressurreição e a Vida! Quem crê em mim, mesmo que esteja morto, viverá!" É ele quem vem nos buscar, é na força dele que seremos erguidos da morte, é nele que nossa vida é salva do Absurdo, do Nada, do Vazio: "quem vive e crê em mim, não morrerá para sempre!" Nunca será demais a surpresa, a admiração, a grandeza dessas palavras! Caríssimos, "Deus nos deu a Vida eterna, e essa Vida está no seu Filho" (1Jo. 5,11), esta Vida é o seu Filho!

Estamos para celebrar a Páscoa. Não esqueçamos que é para que tenhamos a vida que o nosso Jesus se entregou por nós: morto na carne foi vivificado no Espírito Santo pela sua ressurreição (cf. 1Pd. 3,18). Ressuscitado, plenificado no Espírito Santo, derramou sobre nós esse Espírito de vida, dando-nos, assim, a semente de Vida eterna: "Se o Espírito do Pai que ressuscitou Jesus dentre os mortos já habita em vós, então o Pai que ressuscitou Jesus Cristo dentre os mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do Espírito que habita em vós!"

É esta a nossa esperança: a Ressurreição! Por ela vivemos, dela temos certeza! E já possuímos, como primícias, como garantia o Espírito Santo de ressurreição. Então, vivamos uma vida nova, uma vida de ressuscitados em Cristo Jesus: "Os que vivem segundo a carne, segundo o pecado, não podem agradar a Deus! Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito" do Cristo Jesus! Então, vida nova! Deixemo-nos guiar pelo Espírito! Renovemo-nos! Convertamo-nos! Que as observâncias da santa Quaresma, o combate aos vícios, a abstinência dos alimentos e a confissão dos pecados nos preparem para celebrar de coração renovado a Santa Páscoa – deste ano e aquela, da Vida eterna!

dom Henrique Soares da Costa

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Domingo, 10 de Abril de 2011

Evangelho - Jo 11,1-45

            A ressurreição de Lázaro é o sétimo sinal do quarto evangelho. A função dos sinais é levar as pessoas a tomar partido: a favor de Jesus e da vida ou contra ele e a favor da morte. De fato, Marta crê que Jesus é a Ressurreição e a Vida (vv. 25-27), ao passo que as autoridades político-religiosas dos judeus declaram a morte de Jesus (v. 45ss). A ressurreição de Lázaro é também o ponto alto da catequese batismal das primeiras comunidades cristãs. Esse episódio pretende conduzir as pessoas à profissão de fé em Jesus-Vida.

O episódio é o sétimo sinal, o mais importante, e situa-se no contexto da festa da Dedicação, na qual eram lidos textos do AT que falavam da ação de Javé-Pastor. Nesse sentido, o defunto Lázaro é a ovelha que ouve a voz do Pastor e sai para fora, para a vida. A ressurreição de Lázaro é apenas um sinal que aponta para uma realidade maior e mais profunda: a vitória de Jesus sobre a morte e sua glorificação. Este é o sentido do v. 4: "Esta doença não é para a morte, mas para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela".Lázaro, Marta e Maria são a própria humanidade envolta em situações de morte. A doença dele é a doença do mundo; suas amarras (v. 44) são as amarras de todas as pessoas impossibilitadas de andar e viver (perda da liberdade que gera opressão política). E para todos eles Jesus dá a mesma ordem: "Desamarrem-no e deixem que ele ande". Marta e Maria recordam o sofrimento, esperança e fé dos sofredores de ontem e de hoje. E Betânia é toda comunidade com suas esperanças e temores de que a morte tenha a última palavra sobre nossas vidas.

 a. Amor gera confiança… (vv. 1-16)

            Entre Jesus, Lázaro, Marta e Maria, isto é, entre Jesus e a comunidade cristã, e entre os membros da comunidade, vigoram relações de amor e fraternidade. Maria era aquela que ungiu o Senhor com perfume e que tinha enxugado os pés dele com seus cabelos (v. 2). Ungir com perfume é gesto de amor. Além disso, o texto sublinha que Lázaro é amigo de Jesus (v. 3) e vice-versa. Amor gera confiança e solidariedade em situações difíceis. (Notar como nesses versículos iniciais se insiste nas palavras amor, amizade, irmão/irmã.)

A doença que provocou a morte de Lázaro não é sinal de que Jesus não ame a humanidade. Para ele, a doença que conduz à morte é de outro tipo: trata-se do pecado, da adesão a um arranjo social injusto (cf. 5,14: "Não peque de novo, para que não lhe aconteça alguma coisa pior"). Jesus não livra somente da morte física. Ao contrário, dá-lhe novo sentido. Assim, os que crêem não têm motivos para temer a morte.

A relação de amor culmina na Hora de Jesus. Nesse sentido, a ressurreição de Lázaro é apenas um sinal que aponta para a realidade profunda do evangelho, isto é, para a revelação de que a morte-ressurreição de Jesus é a prova maior do amor que Deus tem pelos seus. É por isso que Jesus tem coragem de voltar à Judéia, fato ao qual os discípulos se opõem, com medo de que ele seja morto. Jesus vai à Judéia a fim de ressuscitar seu amigo. Isso acarretará a morte de Jesus, a expressão máxima de sua solidariedade com os sofrimentos humanos. Mas o Pai o ressuscitará, e sua ressurreição é a prova definitiva de que a vida vence a morte.

À coragem de Jesus opõe-se o medo dos discípulos (v. 8), que relutam em aceitar o projeto de Deus. Na pessoa de Tomé, decidem ir ao encontro da morte (v. 16), pois não entendem que, para o Mestre, a morte é apenas sono (vv. 11-12).

Jesus é a luz. Se alguém caminha de dia, não tropeça. Mas quem caminha de noite tropeça, porque não há luz nele (v. 9). Essa afirmação de Jesus recorda toda sua atividade libertadora iniciada em Caná da Galiléia (cap. 2), onde realizou o primeiro de seus sinais. O dia de Jesus inicia-se em Caná e termina com a ressurreição de Lázaro. Depois disso começa a "noite", isto é, o tempo dos tropeços: os discípulos caem, as autoridades matam Jesus… O dia recomeça definitivamente na manhã da ressurreição… Jesus se alegra por causa disso, pois o contraste entre morte e alegria já prenuncia a vitória do Ressuscitado.

 b. …que gera fé em Jesus, Ressurreição e Vida… (vv. 17-27)

            Jesus chegou a Betânia quatro dias após a morte do amigo. Para o povo da Bíblia, o quarto dia após a morte significa a perda total de esperança. O diálogo de Jesus com Marta manifesta a precariedade da esperança, pois ela crê apenas que seu irmão vai ressuscitar no último dia, de acordo com a crença daquele tempo. Contudo, Marta é mais forte que a irmã, pois esta fica sentada em casa (v. 20), ao passo que a outra sai de casa (do ambiente de desespero) e toma a iniciativa de dialogar com Jesus.

Jesus convida Marta a crescer na fé. Para ela, teria sido necessária a presença física de Jesus para evitar a morte do irmão (v. 21), e ela interpreta as palavras do Mestre em termos de ressurreição no final dos tempos (v. 24).

O texto apresenta duas formas contrastantes de se solidarizar diante da morte. Em primeiro lugar, a solidariedade dos amigos e vizinhos (v. 19), que vão à casa das irmãs para dar pêsames e fazer lamentações em altos brados, símbolo do desespero. Em segundo lugar, a solidariedade de Jesus. Ele não entra nesse ambiente dominado pelo desespero. Fica fora e chama para fora, porque traz do Pai a forma perfeita de solidariedade: "Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em mim, mesmo que esteja morto, vai viver! E todo aquele que vive e crê em mim não ficará morto para sempre" (vv. 25-26). Marta é convidada à fé madura, passando da presença física à adesão à pessoa de Jesus. Esse processo, contudo, é gradual e lento (cf. v. 40).

 c. …que faz passar da morte à vida (vv. 28-44)

 Marta deu provas de que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus que veio ao mundo (v. 27), e testemunha isso à irmã sem esperança. Os que são dominados pelo desespero crêem que Maria estivesse indo ao túmulo para chorar (v. 31), mas ela foi para o lugar onde estava Jesus (v. 32a). Maria ainda pensa à semelhança de sua irmã, antes que esta declarasse sua fé em Jesus Ressurreição e Vida (v. 32b). Maria chora, e seu choro é acompanhado pelos judeus que com ela estavam (note-se que não se fala do choro de Marta!). Jesus também se comove (vv. 33.38), mas seu choro não é marcado pelo desespero. É um choro de solidariedade com os sofrimentos humanos. A casa do luto e desespero ficou vazia. O que virá?

Jesus manda tirar a pedra do túmulo, apesar de Marta lhe recordar que não há mais esperança (v. 39). Ela e todos os que aderem a Jesus são chamados a ler os sinais em profundidade: "Eu digo isso por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste" (v. 42; cf. v. 45 e leia 20,31).

Lázaro, ao apelo de Jesus, sai do túmulo de braços e pernas amarrados (v. 44a). São as amarras que impedem as pessoas de ser livres e viver. Jesus ordena que os presentes o desamarrem e o deixem ir (v. 44b). Para onde terá ido? Só descobriremos o rumo que ele tomou se lermos o fato na profundidade da fé.

 Fonte: Revista Vida Pastoral – Paulus

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Domingo, 10 de abril de 2011

 

5º Domingo da Quaresma

 

Santos do Dia: Apolônio de Alexandria (presbítero, mártir), Bademo da Pérsia (abade, mártir), Beda, o Jovem (monge), Ezequiel (profeta bíblico do Antigo Testamento), Fulberto de Chartres (bispo), Macário de Antioquia (bispo), Madalena de Canossa (virgem, fundadora), Malco de Waterford (monge, bispo), Miguel dos Santos (trinitário), Paládio de Auxerre (bispo), Paterno de Abdinghof (eremita), Teodoro de Cartago (mártir), Terêncio, Africano, Pompeu e Companheiros (mártires de Cartago).

 

Primeira leitura: Ezequiel 37,12-14
Porei em vós o meu espírito para que vivais

Salmo responsorial: Salmo 129(130),1-2.3-4ab.5-6.7-8 (R. 7)

No Senhor, toda graça e redenção

Segunda leitura: Romanos 8,8-11
O Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre os mortos mora em vós

Evangelho: João 11,1-45

Eu sou a ressurreição e a vida

 

Muitos povos da terra, no passado e no presente, foram ou são forçados a abandonar suas terra e caminhar para o exílio. Seus habitantes forma as legiões de excluídos e refugiados que, ainda hoje, as Nações Unidas, através do seu Alto Comissariado para os Refugiados (ACNUR), se esforça por atender. Para um migrante não existe pior desgraça que morrer no desterro, longe do solo pátrio, da paisagem familiar, da terra natal.

O profeta Ezequiel, na primeira leitura, enfrenta essa situação diante do seu povo de Judá, há 26 séculos: começam a morrer os anciãos, os enfermos, os mais débeis, longe de Jerusalém, da terra que Deus prometera aos patriarcas, a terra na qual Moisés tinha conduzido o povo e que Josué tinha conquistado. À dor pela morte dos entes queridos se soma à de vê-los morrer em solo estrangeiro, e ter que sepultá-los entre estranhos.


Porém, a voz do profeta se converte em consolo de Deus: ele mesmo tirará das tumbas o seu povo, abrirá seus sepulcros e os fará voltar à amada terra de Israel. Conhecerá seu povo que Deus é o Senhor quando ele derrame em abundancia seu Espírito sobre os sobreviventes.


No AT não aparece claramente uma expectativa de vida eterna, de vida mais além da morte. Os israelitas esperavam as bênçãos divinas para este tempo da vida terrena: vida longa, descendência numerosa, habitar na terra que Deus deu a seu povo, riquezas suficientes para viver folgadamente. Para além da morte somente restava deitar e dormir com os pais, com os antepassados; as almas dos mortos habitavam no "sheol", o abismo subterrâneo onde não havia alegria nem sofrimento.


Somente nos últimos livros do AT, por exemplo em Daniel, em Sabedoria e em Macabeus, encontramos textos que falam mais ou menos confusamente de uma esperança de vida para além da morte, de uma possibilidade de voltar a viver por vontade de Deus, de ressuscitar. Esta esperança tímida surge no contexto da pergunta pela retribuição e o exercício da justiça divina: quando Deus premiará o justo, o mártir da fé, por exemplo, ou castigará o ímpio perseguidor de seu povo, se a morte os levou a todos? Quando Deus realizará plenamente as promessas a favor de seu povo eleito?

Algumas correntes do judaísmo contemporâneo de Jesus, como o farisaísmo, acreditavam firmemente na ressurreição dos mortos como um acontecimento escatológico dos últimos tempos, um acontecimento que faria brilhar a insubornável justiça de Deus sobre justos e pecadores.


Os saduceus, ao contrário, atinham-se à doutrina tradicional. Bastava-lhes esta vida de privilégios para os de sua casta, e consideravam cumprida a justiça divina no "status quo" que eles defendiam: o mundo estava bem como estava, em nãos dos dominadores romanos que respeitavam seu poder religioso e sacerdotal sobre o povo.


A segunda leitura, da carta aos Romanos, considerada como seu testamento espiritual, escrita com categorias antropológicas complicadas, muito longe das nossas, que se prestam facilmente a confusão. O fragmento de hoje foi escolhido para fazer referencia ao tema da primeira leitura: os cristãos recebemos o Espírito que o Senhor havia prometido nos antigos tempos do exílio, não estamos já na "carne", na linguagem de Paulo, já não estamos no pecado, no egoísmo estéril, na cobiça, desenfreada.

Estamos no Espírito, ou seja, na vida verdadeira do amor, do perdão, e do serviço, como Cristo, que possui plenamente o Espírito para derramá-lo sem medida. E se o Espírito ressuscitou Jesus dentre os mortos, também nos ressuscitará, para que participemos da vida de Deus.


A passagem do evangelho lida hoje, a "revivescência" de Lazaro, narra o último dos sete "sinais" ou "obras" que constituem o esquema do quarto evangelho. Segundo João, antes de enfrentar-se com a morte, se manifesta como Senhor da vida, declara solenemente em público, que ele é a ressurreição e a vida, que os mortos pela fé nele reviverão, que os vivos que crerem nele não morrerão para sempre.


Bonita a cena, bem construído o relato, tremendas e lapidares as palavras de Jesus, rico em simbolismo o conjunto, porém difícil o texto para nós hoje, quando nos movemos em uma mentalidade tão distante daquela de João e de sua comunidade. Não chama tanto a nossa atenção os milagres de Jesus como suas atitudes e sua pratica ou práxis ordinária.

Preferimos olhá-lo no seu lado imitável, mas que em seu aspecto simplesmente admirável que não podemos imitar. Não somos tampouco muito dados em crer facilmente na possibilidade de milagres. Para a mentalidade adulta e crítica de uma pessoa de hoje, uma pessoa do povo, este texto não é fácil. (Pode ser mais fácil para religiosas de clausura, ou para as crianças da catequese infantil).


Na sofisticada elaboração do evangelho de João, este é o "sinal" culminante de Jesus, não somente por ser muito mais chamativo que os outros (nada menos que uma revivescencia), mas porque está apresentado como o que derrama a gota de paciência dos inimigos de Jesus, que por este milagre decidem matar Jesus. Talvez por isso foi escolhido para este último domingo antes da semana santa. Estamos nos aproximamos do clímax do drama da vida de Jesus, e este fato de sua vida é apresentado por João como o que provoca o desenlace final.


A causa da morte de Jesus foi muito mais que uma decisão de alguns inimigos temerosos do crescimento da popularidade de um Jesus taumaturgo, como aqui o apresenta João. Esse pode ser um viés da reflexão de hoje: "Por que morre Jesus e por que o matam?"


Outro tema possível de ser tratado é o da "fé" ou do "crer em Jesus", contanto que não se identifique a fé em "crer que Jesus pode fazer milagres" ou "crer nos milagres de Jesus". A fé é algo muito mais serio e profundo. Poderia alguém crer em Jesus e crer que o Jesus histórico talvez não tenha feito nenhum milagre. Não podemos propor a fé como se um Deus "de cima" ficasse atento para ver se os de "baixo", os humanos, dão crédito ou não às suas tradições referentes a Jesus de Nazaré e seus milagres. A fé em Jesus tem que ser algo muito mais profundo.


Um terceiro tema, ainda mais complexo, para nossa reflexão, pode ser o da ressurreição. Precisamente porque a de Lazaro não foi uma ressurreição. Logicamente, a Lázaro simplesmente foi dado uma prerrogativa, um "propina", um suplemento da própria vida.


Lazaro "ressuscitado" um dia voltaria a morrer. Porque para nós "viver é morrer". Cada dia que vivemos é um dia que morremos, um dia a menos na nossa vida, um dia a mais gasto de nossa vida. Porém, "ressuscitar" é outra coisa. Aqui teríamos que sublinhar e proclamar e denunciar que é bem provável que na cabeça da maior parte de nós a idéia de "ressurreição" que existe é uma idéia equivocada, por esta mesma razão, pela qual dizemos que Lázaro era indevidamente chamado "ressuscitado": porque pensamos, ou melhor, "imaginamos" a vida ressuscitada um pouco como "prolongamento, suplemento, continuação" desta de agora.

E não é bem assim. Não é somente a diferença de que "aquela vida não se acaba", ou que "não tem necessidades materiais" porque "aí serão como os anjos do céu". Não é assim. É outra coisa. É, sobretudo, um mistério. Nossa chamada "fé na ressurreição não é um crer que há um "segundo piso" ao qual subimos depois da morte e aí "continuamos vivendo".


Poderíamos dizer que todas essas "imagens" não correspondem ao mistério no qual cremos e como tal, podem ser deixadas de lado. Também aqui, eu posso crer no que denominamos "ressurreição" sem aceitar a interpretação simplista de que Deus nos criou aqui primeiro para depois levar-nos a um lugar definitivo. Muitos povos primitivos pensaram isto, uma forma plausível de interpretação da vida humana em um determinado contexto cultural.

Porém, hoje, se não queremos seguir presos nas "crenças "típicas das religiões da idade agrária é necessário fazer um esforço de purificação e talvez também necessitemos aceitar a ascese de um não saber/poder expressar bem aquilo no qual cremos. É um ponto por demais importante e muito sutil a pretensão de falar diretamente da ressurreição de Lazaro.

 

Oração comunitária


Deus Pai e mãe universal, que inspiras desde sempre nos seres humanos o desejo de felicidade plena, inclusive "eterna", uma felicidade que triunfe sobre a morte. Nós te expressamos humildemente nosso desejo de ser coerentes com esta força interior que habita em nós, para buscar sua realização com os meios mais honestos e pelos caminhos que seja mais benéfico para nós e para aqueles que nos rodeiam. Em união com todos os homens e mulheres de todas as religiões, nós te pedimos por Jesus, teu filho e irmão nosso

 

Missionários Claretianos

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                        A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

João 11. 1-17

Obs. O texto é longo, e rico em mensagem, por isso vamos abordá-lo em três etapas.  

1 Estava, porém, enfermo um certo Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta. 2 E Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com ungüento, e lhe tinha enxugado os pés com os seus cabelos, cujo irmão Lázaro estava enfermo.  3 Mandaram-lhe, pois, suas irmãs dizer: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas. 4

E Jesus, ouvindo isto, disse: Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.

Explicação: Antes do relato do milagre, o evangelho de João - faz umas observações interessantes que nos  trazem alguns ensinamentos. Por exemplo, Maria foi lembrada como àquela mulher, que "ungiu os pés de Jesus e secou-os com os seus cabelos". E Lázaro era "aquele que Jesus amava". Disso concluímos que, o crente é aquele que faz a diferença, pois, pode parecer que não, mas é observado pelas pessoas por meio de suas ações e estilo de vida. Seria muito bom que as pessoas que fazem parte do nosso convívio a olharem para nós, nos vejam como adoradores e discípulos de Jesus. Até mesmo, as lutas e as dificuldades, pelas quais passamos são para a glória de Deus, como no caso da perda de Lázaro - seria apenas momentânea - pois, logo Jesus estaria ressuscitando-o. Por isso, podemos dizer que, os verdadeiros amigos de Jesus vêm às dificuldades como meios para glorificarem a Deus e nunca para ficarem murmurando. Precisamos crer que tudo o que passamos, por mais difícil que seja, tenha a finalidade de glorificar a Deus. Assim, como Maria foi reconhecida como "aquela que ungiu a Jesus e secou com os seus cabelos" – que sejamos, pois reconhecidos como os que adoram verdadeiramente a Deus. Que fazem das mais diferentes circunstâncias um meio para glorificar a Deus. Como você tem vivido isso?

5 Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro. 6 Ouvindo, pois, que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde estava. 7 Depois disto, disse aos seus discípulos: Vamos outra vez para a Judéia. 8 Disseram-lhe os discípulos: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e tornas para lá?  9 Jesus respondeu: Não há doze horas no dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;  10 Mas, se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.

Explicação:Jesus nunca tarda. Ele age no momento certo. Ele amava àquela família, e por isso, poderia assim que soube do amigo que estava doente imediatamente ter ido à sua casa, mas, não foi, pois não era o momento exato. Jesus também nos ensina sobre quem anda na luz, é capaz de discernir as coisas; vê e observa com cuidado e critério todas as coisas. Quem não anda na luz tropeça nas suas precipitações.  Paciência e cautela são atitudes de quem age na luz. Jesus ensinou algo pra aquela gente. Os que andam nas trevas tropeçam. "Andar nas trevas" é andar no seu pecado, nos seus maus hábitos, vícios, compulsões. O escravo de seus próprios instintos e desejos estará sempre tropeçando.

11 Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono. 2 Disseram, pois, os seus discípulos: Senhor, se dorme, estará salvo. 13 Mas Jesus dizia isto da sua morte; eles, porém, cuidavam que falava do repouso do sono.  14 Então Jesus disse-lhes claramente: Lázaro está morto; 15 E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis; mas vamos ter com ele. 16Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele. 17

Explicação: Jesus logo após ter falado a respeito da luz, fez menção de que o amigo Lázaro, estava dormindo. Os seus ouvintes não tinham entendido. "Estar na luz" é entender as coisas espirituais. Quem vive segundo o Espírito e não segundo a carne entende a situação em que se encontra; entende as coisas de Deus. O contrário percebe apenas o concreto, e não é capaz de perceber as coisas profundas e essenciais da vida. O discípulo Tomé que aparece nessa passagem, é o mesmo que vai duvidar da ressurreição de Jesus mais tarde. Tomé, não manifestou incredulidade, mas uma incompreensão. Ele achou que Jesus iria morrer. Quando não entendemos as coisas de Deus não podemos desfrutar de suas bênçãos. Ficamos limitados e julgamos segundo nossa falta de conhecimento. Jesus estava falando da morte de Lázaro e de sua ressurreição a qual Jesus iria operar. Mas, Tome que representa nossa incredulidade, distorceu, ou não soube de fato discernir o que Jesus estava dizendo.

Tópicos da lição de hoje:

1.     Ser reconhecido pelos outros como discípulos de Jesus. O mau testemunho depõe contra nós e contra Deus. Precisamos ser luz do mundo e sal da terra, e nunca pedra de tropeço...

2.     Precisamos aprender que Jesus age no momento certo. No livro de Isaias 60.4 a Bíblia fala que Deus trabalha em nosso favor. No salmo 121, ele é o nosso guarda. Ele nunca tarda. Mas age no momento certo.

3.     Precisamos aprender "andar na luz". As trevas são nossos pecados e estilos de vida que desapontam a Deus. Alimentar-se disso – é caminhar sem direção e sem comando. Quando andamos na luz – Jesus é essa luz – a vida fica mais transparente e nem um pouco confusa. Temos a clareza de tudo, pois Jesus nossa luz nos ilumina e ilumina nossos caminhos.

4.     Quem não "anda na luz" não entende o agir de Deus. Interpreta às coisas ao seu jeito e erra muito.

Por hoje, esses são alguns tópicos que podem ser abordados.

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 EU SOU A RESSUREIÇÃO E A VIDA

A liturgia da Comemoração dos Fiéis Defuntos convida-nos a descobrir que o projeto de Deus para o homem é um projeto de vida. No horizonte final do homem não está a morte, o fracasso, o nada, mas está a comunhão com Deus, a realização plena do homem, a felicidade definitiva, a vida eterna.

A ressurreição de Cristo sustenta nossa fé e dá-nos este sentido de vida e de comunhão. Somos unidos com Cristo e com os irmãos, na vida e na morte. A existência é dom divino, e nosso destino é a eternidade, onde não haverá dor nem pranto, apenas paz e plenitude da vida. É esta fé que hoje vamos celebrar como Povo de Deus.

Evangelho de Jesus Cristo, segundo João (Jo 11,17-27)

rio

Qual é o Caminho?

A comemoração dos Fieis Defuntos nos convida a pensar em nossa meta definitiva, depois de concluirmos nossa passagem aqui na terra, meta da qual nos falou Jesus Cristo durante a Última Ceia, na noite de sua morte: "Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais. E vós conheceis o caminho para ir aonde vou." ( João 14 ,2-4).

E qual é esse "Caminho"? É o caminho da Vontade de Deus que nos leva a esse Céu prometido. Consiste em busca a Vontade de Deus para mim, isto é, em tratar de ser como Deus quer que eu seja e fazer o que Deus deseja que eu faça, em preferir a Vontade de Deus em vez da própria vontade, em dizer "sim" a Deus e "não" a mim mesmo.

Os fieis defuntos que recordamos neste Domingo e também durante este mês de novembro, são aquelas pessoas que nos precederam na caminhada para a eternidade, e que chegaram à presença de Deus no Céu.

A recordação de nossos entes queridos já falecidos nos convida também a fazermos uma reflexão sobre o que acontece depois da morte.

Primeiro devemos recordar que a morte é o mais importante momento da vida do ser humano: é precisamente a passagem desta vida temporal e finita para a vida eterna e definitiva. Também devemos pensar que a morte não é um momento desagradável, mais um passo para a vida definitiva.

Bem diz o Prefacio dos Defuntos: "a vida não termina, é desfeito o nosso corpo mortal, e nos é dado nos céus um corpo imperecível".

A morte não é um momento desagradável, mais um passo a uma vida distinta. Por tanto, não devemos temer a morte. Esta afirmação se baseia, não somente nos ensinamentos da Igreja, mais nos múltiplos testemunhos daqueles que dizem ter passado pelo dintel da morte e que regressaram a esta vida.

Sabemos que fomos criados para a eternidade, que nossa vida sobre a terra é passageira e que Deus nos criou para quem o conhecendo, o amado e o servindo nesta vida, desfrute Dele, de sua presença e de seu Amor Infinito no Céu, para toda a eternidade... para sempre, sempre, sempre...   

Padre Claudio

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LÁZARO FOI RESSUSCITADO – ANOA

As leituras deste V Domingo da Quaresma garante-nos que o desígnio de Deus é a comunicação de uma vida que ultrapassa definitivamente a vida biológica: é a vida definitiva que supera a morte.

Na primeira leitura, Jahwéh oferece ao seu Povo exilado, desesperado e sem futuro (condenado à morte) uma vida nova. Essa vida vem pelo Espírito, que irá recriar o coração do Povo e inseri-lo numa dinâmica de obediência a Deus e de amor aos irmãos.

O Evangelho garante-nos que Jesus veio realizar o desígnio de Deus e dar aos homens a vida definitiva. Ser "amigo" de Jesus e aderir à sua proposta (fazendo da vida uma entrega obediente ao Pai e um dom aos irmãos) é entrar na vida definitiva. Os crentes que vivem desse jeito experimentam a morte física; mas não estão mortos: vivem para sempre em Deus.

A segunda leitura lembra aos cristãos que, no dia do seu Batismo, optaram por Cristo e pela vida nova que Ele veio oferecer. Convida-os, portanto, a ser coerentes com essa escolha, a fazerem as obras de Deus e a viverem "segundo o Espírito".

Com Jesus cristo, é muito melhor

As leituras deste último domingo da Quaresma têm uma força especial. Aquele que nos domingos anteriores aparecia como Água capaz de saciar a sede ou como Luz que devolve a visão, aparece hoje como Aquele que pode nos dar a Vida. Quem bebe de seu poço, jamais volta a ter sede; quem caminha a sua luz, fica curado de sua cegueira; quem crê nele, Vive. A mensagem da Quaresma  parece clara: com Jesus cristo, é muito melhor.

Saia fora

Um provérbio chinês diz que "nada assenta melhor ao corpo que o crescimento do espírito". E é verdadeiro. Quando nosso espírito está tranqüilo, sereno e forte, se sente cheio de vida e energia. Quando nosso espírito está débil, ou anda inquieto pelos trancos que - às vezes injustamente - nos submete a vida, nos sentimos como uma "soda" sem gás, abatidos, como sem forças… sem vida. É então, no meio da dificuldade, escutamos a voz poderosa daquele que nunca dá nada por perdido; daquele que é o mais interessado em que seu plano de salvação vá adiante. São palavras de promessa e esperança: "Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos; e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas, sabereis que eu sou o Senhor". Quem senão Ele pode nos levar para além de nós mesmos? Quem senão Ele poderá derramar em nós esse espírito vivificador?  É uma voz forte que grita: "Saia fora". Não fiques encerrado, por trás da lousa. Saia fora e Viva. Vem comigo. Eu sou o água, a luz e a Vida que precisas.Como recusar esta oferta?

Apesar dos incrédulos

Com tudo, sempre há e se terão incrédulos ou cépticos que  pensem que "já cheira", que não há nada que fazer.  São aqueles que não esperam e que, talvez, não cheirem nem de longe de que vão à festa. São aqueles que vivem enroscados em si mesmos, que não descobriram ainda que para Ele, nada é impossível, nem sequer sua própria conversão. São esses homens e mulheres, às vezes também eclesiásticos, que falam muito da secularização da sociedade e da própria Igreja e que, paradoxalmente, com suas palavras, com seus fatos e com seus rostos, refletem bem sua própria "secularização" ou falta de confiança no Espírito. Às vezes, dada à dificuldade que supõe de se deixar levar pelo vento do Espírito, não é difícil cair na tentação de se agarrar a uma ou outra bandeira. Sempre é mais fácil se agarrar a uma bandeira que se deixar levar pelo vento do Espírito.  

Pronto, já e Páscoa

Chegam cedo as festas de Páscoa e já preparamos o caminho. Combatemos contra aqueles demônios que nos tentam e nos convidam sempre a viver como se Deus não existisse em nossa vida. O Senhor preparou-nos o melhor. Cedo chega a alegria da Páscoa, e a primavera. Já estão as flores a ponto de se abrirem com cheiro de Ressurreição. O dramatismo da paixão e da morte de nosso  Senhor e de tantos e tantos homens e mulheres de toda a terra (ainda que seja fácil escrever desde este primeiro mundo) não tem comparação nem com a Esperança nem com a exultante Alegria de ir saboreando já  a promessa. Ele ressuscitará. Nós, também.

 

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Crer  no poder amoroso de Deus,nos leva à vida nova e nos tira das situações  de morte e não tememos  coisa alguma – Maria Regina.

 

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                                          Jesus se apresenta com a ressurreição e a vida, mostrando que a morte é apenas uma necessidade física. Para a fé cristã a vida não é interrompida com a morte, mas caminha para a sua plenitude. A vida plena da ressurreição já está presente naqueles que pertencem á comunidade de Jesus.

 

                                         Há momentos na nossa vida em que achamos que tudo acabou e nos parece muito escuro. No entanto, é justamente nestas horas que nós temos de "esperar até mesmo a esperança". Esperar a própria esperança quando não temos nada para esperar e recusar o desespero.

 

                                         Esta é a grande mensagem do Evangelho. A fé em Jesus Cristo gera em nós esperança, mesmo em presença da morte, como aconteceu com Marta.

 

                                       Diante do fato consumado da morte do seu irmão, Marta foi ao encontro de Jesus e acreditou quando Ele lhe disse: "Teu irmão ressuscitará". "Crês isso"? E ela respondeu: "Sim, Senhor, eu creio firmemente…" Na nossa vida também nós nos deparamos com situações de morte, no entanto, Jesus vem ao nosso encontro e nos propõe uma vida nova mediante a nossa fé.

 

                                       A nossa resposta de fé diante das propostas de Jesus é o grande segredo para permanecermos firmes nas horas das grandes provações. O nosso coração fica triste, porém "aos olhos do Pai ainda deve haver razão para alegria". Quem crê em Jesus também crê que Ele pode ressuscitar em nós tudo o que nos parece ter morrido.

 

                                    Diante do fato consumado nós precisamos crê para acolher as graças que nos vêm do céu. Mesmo que alguém muito querido tenha morrido nós nunca poderemos duvidar da força do amor de Jesus que quer nos salvar e nos fazer ver estrelas no céu de uma noite escura.    

                   

                                      Quando nós caminhamos na vida tendo convicção de que o poder amoroso de Deus pode nos conceder vida nova e nos tirar das situações de morte nós não tememos coisa alguma.

 

                                      Crer em Jesus é o troféu mais valioso que nós podemos empunhar, pois é a condição prevista por Ele próprio para que tenhamos a vida eterna desde já. "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais. Crês isto?"

                                                  

                                      E você meu irmão, minha irmã, crê nisto também?  É assim que você pensa e espera?  Como você entende isto que Jesus falou: ainda que morra, viverá? E aquele que vive e crê em mim não morrerá jamais?  A que tipo de morte Jesus se refere?

 

                                   Peçamos ao Pai,que iluminados Pelo Espírito Santo Pai, possamos   compreender a ressurreição de Jesus como vitória da vida e como sinal de que a morte não tem a última palavra sobre o destino daqueles que crêem

 

Amém

Abraço carinhoso

Maria Regina 

 

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