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HOMILIAS PARA O

PRÓXIMO DOMINGO


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sábado, 13 de agosto de 2011

A CURA À DISTÂNCIA DA MULHER DA CANANÉIA

   

HOMILIAS PARA O

 PRÓXIMO DOMINGO

14 DE  AGOSTO – 2011

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Somos católicos, mas respeitamos a todas as religiões.

Cristãs e não cristãs.

Porém, infelizmente nem todos nos respeitam.

Prezados irmãos em Cristo. Esta semana vamos rezar pela pessoa que está pegando uma carona nos nossos Blogs para divulgar o seu Site. Estamos falando da vidente.

Rezemos a Deus Pai em nome de Jesus para que Ele faça com essa pessoa chegue a conclusão de que está perdendo o seu tempo fazendo isso, pois não estamos nem um pouco interessados em sua doutrina. Porque nós seguimos os ensinamentos de Deus que nos foi apresentado por Seu Filho Jesus, Deus e Homem e isto nos basta. Não precisamos procurar ou buscar nenhuma outra religião, (embora respeitamos todas) pois seguimos aquela criada pelo próprio Deus na pessoa de Jesus Cristo.

Introdução

A CURA À DISTÂNCIA DA MULHER DA CANANÉIA

Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas...

14-de agosto-

                        Na  fase da adolescência é que muitos jovens se afastam de Deus, muitos se tornam ovelhas perdidas. Naquela de ficar "ligado na parada", de imitar os outros adolescentes, de se desgarrar da proteção dos pais, de andar com suas próprias pernas, e seguir seu caminho no mundo, é que mora o perigo da perdição. Muitas vezes os próprios pais ficam sem forças para controlar a situação, ficam sem saber o que fazer, sendo que alguns partem para a agressão para os próprios filhos, outros expulsam as filhas de casa por não aceitar a perda da virgindade ou a gravidez precoce e fora do casamento, pelo descaminho, por uso de drogas, por participar de más companhias, etc.

            No Evangelho de hoje Jesus se refere às ovelhas perdidas do seu tempo, e nos mostra que devemos ir até as ovelhas perdidas.  'Eu fui enviado somente
às ovelhas perdidas da casa de Israel.'

Hoje também é grande  o números de ovelhas perdidas e que nós precisamos reconduzi-las, arrebanhá-las de novo à casa do Pai. Ovelhas que se perderam na imensidão da pornografia dos filmes, da internet, da televisão, dos bailes, etc. Ovelhas que estão perdidas num mundo de prazer pelo prazer, e que nos diz que quem age de maneira diferente não está com nada. Então é aí que o bicho pega! Pois o jovem fica numa situação muito difícil. Conhece aquela? "Se tirar rasga. Se deixar, o gato come"? É assim. O jovem consciente, participante de um grupo de outros jovens da sua idade, reage de forma positiva a esse estado de coisas. Mais no que se refere àqueles jovens que faz parte do grupo das ovelhas perdidas, a coisa é muito complicada. Como podemos atingi-los? Pescá-los?

Este é o grupo de ovelhas perdidas mais difícil da Igreja. Quanto às ovelhas perdidas do grupo dos adultos, talvez pudéssemos arrebanhá-los na hora do casamento, com os cursos para casamento, ou catequese de adultos. Já o grupo de ovelhas perdida da terceira idade, é o mais fácil, ou o menos difícil. Pois já se encontram no fim da caminhada vital, e os argumentos relacionados sua salvação sempre lhes cairão bem. Parece que nos esquecemos de mencionar as crianças. É que na verdade, elas ainda não fazem parte de nenhum grupo de ovelhas perdidas, pois estão sendo iniciadas na vida cristã.

ORAÇÃO:

Jesus. Diga-nos como podemos atingir aqueles que se desviaram do teu caminho. Que se perderam na imensidão das ilusões do mundo atual e nem pensam em se voltar para a Igreja. Amém.

Sal

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"Senhor, socorre-me!" A fé é o argumento que mantêm a nossa esperança na hora do desespero!

                                         Jesus veio para todos os homens e mulheres do mundo e a única condição que nos é proposta é a de que tenhamos Fé e O aceitemos como nosso Senhor e Salvador. Nesta passagem do Evangelho nós aprendemos com o exemplo de uma mãe que alcançou a graça da libertação de sua filha, porque insistiu e se humilhou diante de Jesus, pois acreditava e confiava em que o poder de Deus é muito maior do que as conveniências dos homens. Embora não fizesse parte do povo de Israel aquela mulher Cananéia não se intimidou e se apresentou diante de Jesus e, gritando, implorou a Sua piedade. Mesmo diante das sugestões dos Seus discípulos para que despedisse aquela mulher que os incomodava Jesus lhe deu atenção e escutou os seus argumentos.

                                     Por isso, Jesus elogiou a sua fé! Nós também não pertencíamos à casa de Israel, mas por Sua Morte e Ressurreição Jesus também nos acolhe como acolheu aquela mulher. Somos pecadores e por nós mesmos não temos merecimentos e não podemos cobrar nem exigir direitos. Entretanto, "grande é a nossa fé" e isto basta para que Jesus venha também alimentar a nós e a todos os que são humildes para implorar, gritando: "Senhor, socorre-me!" Jesus às vezes não costuma nos responder palavra alguma, mas nem por isso nós podemos afirmar que Ele nos abandonou porque assim dizendo, estaríamos dando provas de que não temos fé e a fé é o argumento que mantêm a nossa esperança na hora do desespero!

                                Muitas vezes nos acomodamos nas nossas mazelas porque não nos achamos dignos ou estamos afastados do convívio da Igreja. Nesses momentos nos isolamos e nos recolhemos na prisão que nós mesmos  construímos. Não vemos saída para os nossos problemas e não buscamos no Senhor o refúgio de que precisamos. Afastados  da Sua graça perdemos um tempo precioso da nossa vida. No entanto, sem perda de tempo Jesus espera que também nos aproximemos Dele, pois o Seu desejo é nos tirar da prisão. Reflitamos: – A sua fé também é grande como a da cananéia? – O que em atraído você para Deus? – Você se acha merecedor da Salvação que Jesus veio trazer ao mundo? – Alguma vez você relutou em pedir a Deus alguma coisa por se achar indigno ?- Você tem alguma coisa bem difícil para pedir hoje? Aproveita a graça dessa Palavra e faça o seu pedido.

Amém

Abraço carinhoso de

Maria Regina

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Homilia do D. Henrique Soares da Costa – XIX Domingo do Tempo Comum – Ano A

1Rs 19,9.11-13
Sl 85
Rm 9,1-5
Mt 14,22-23

A Escritura deste Domingo fala-nos de um Deus que é grande demais, misterioso demais, inesperado e surpreendente demais para que possamos enquadrá-lo na nossa lógica e no nosso modo de pensar. Eis, caríssimos! Uma grande tentação para o homem é achar que pode compreender o Senhor, enquadrar seu modo de agir e dirigir o mundo com a nossa pobre e limitada lógica… Mas, o Deus verdadeiro, o Deus que se revelou a Israel e mostrou plenamente o seu Rosto em Jesus Cristo, não é assim! Ele é Misterioso, é Santo, é livre como o vento do deserto!

Pensemos nesta misteriosa e encantadora primeira leitura, do Livro dos Reis. Elias, em crise, fugindo de Jezabel, caminha para o Horeb; ele quer encontrar suas origens, as fontes da fé de Israel. Recordem que o Horeb é o mesmo monte Sinai, a Montanha de Deus. Elias tem razão: nos momentos de dúvida, de crise, de escuridão, é indispensável voltar às origens, às raízes de nossa fé; é indispensável recordar o momento e a ocasião do nosso primeiro encontro com o Senhor e nele reencontrar as forças, a inspiração e a coragem para continuar. Pois bem, Elias volta ao Horeb procurando Deus. Lembrem que no caminho ele chegou a desanimar e pedir a morte: "Agora basta, Senhor! Retira-me a vida, pois não sou melhor que meus pais!" (1Rs 19,4). No entanto, o Senhor o forçou a continuar o caminho: "Levanta-te e come, pois tens ainda um longo caminho" (1Rs 19,7). Pois bem, Elias caminhou, teimou em procurar o seu Deus, mesmo com o coração cansado e em trevas; assim, chegou ao Monte de Deus! Mas, também aí, no seu Monte, Deus surpreende Elias – Deus sempre nos surpreende! O Profeta espera o Senhor e o Senhor se revela, vai passar… Mas, não como Elias o esperava: não no vento impetuoso que força tudo e destrói tudo quanto encontra pela frente, não no terremoto que coloca tudo abaixo, não no fogo que tudo devora… Eis: três fenômenos que significam força, que causam temor, que fazem o homem abater-se… E o Senhor não estava aí. Muito tempo antes, quando foi entregar a Moisés as tábuas da Lei, Deus se manifestara no fogo, no vento e no terremoto: "Houve trovões, relâmpagos e uma espessa nuvem sobre a montanha… E o povo estava com medo e pô-se a tremer… Toda a montanha do Sinai fumegava, porque o Senhor desceu sobre ela no fogo… e toda a montanha tremia violentamente" (Ex 19,16.18). Mas, agora, o Senhor não está no vento impetuoso nem no terremoto nem no fogo… Elias teve de reconhecê-lo, de descobrir sua Presença no murmúrio da brisa suave! – Ah, Senhor! Como teus caminhos são imprevisíveis! Quem pode te reconhecer senão quem a ti se converte? Quem pode continuar contigo se pensar em dobrar-te à própria lógica e à própria medida? Tu és livre demais, grande demais, surpreendente demais! Não há Deus além de ti; tu, que convertes e educas o nosso coração! Elias te reconheceu e cobriu o rosto com o manto, saiu ao teu encontro e te viu pelas costas… Pobres dos homens deste século XXI, que tão cheios de si mesmos, querem te enquadrar à própria medida e, por isso, não te vêem, não te reconhecem, não experimentam a alegria e a doçura da tua Presença!

E, no entanto, meus irmãos, as surpresas de Deus não param por aí! O mais surpreendente ainda estava por vir. Não havia chegado ainda a plenitude do tempo! Pois bem! Na plenitude do tempo, veio a plenitude da graça: Deus enviou o seu Filho ao mundo; ele veio pessoalmente! Não mais no vento, não mais no fogo, não mais no terremoto, não mais pelos profetas! Ele veio pessoalmente, ele, em Jesus: "Quem me vê, vê o Pai. Eu e o Pai somos uma coisa só" (Jo 14,9; 12,45). Por isso mesmo, São Paulo afirma hoje claramente que "Cristo, o qual está acima de todos, é Deus bendito para sempre!" É por essa fé que somos cristãos, meus irmãos! Jesus é Deus, o Deus Santo, o Deus Forte, o Deus Imortal, o Deus de nossos Pais! Nele o Pai criou todas as coisas, por Ele o Pai tirou Abraão de Ur dos Caldeus, por Ele o Pai abriu o Mar Vermelho, por Ele, deu o Maná ao seu povo, sobre Ele fez os profetas falarem e, na plenitude dos tempos no-lo enviou a nós! Surpreendente, o nosso Deus; surpreendente como vem a nós!

Lá vamos nós, lá vai a Igreja, no meio da noite deste mundo, navegando com dificuldade porque a barca da vida é agitada pelos ventos… e Jesus vem ao nosso encontro, caminhando sobre as águas! Em Jesus, Deus vem vindo ao nosso encontro, em Jesus, vem em nosso socorro… E, infelizmente, confundimo-lo com um fantasma, etéreo, irreal. E ele nos diz mais uma vez: "Coragem! Sou eu! Não tenhais medo!" Atenção para esta frase do Senhor: "Coragem, EU SOU! Não tenhais medo!" EU SOU! É o nome do próprio Deus como se revelou no deserto! Deus de Moisés, de Elias, Deus feito pessoalmente presente para nós em Jesus Cristo!

Então, caríssimos, digamos como Pedro: "Senhor, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre á água!" Ir ao encontro de Jesus, caminhando sobre as águas do mar da vida! Todos temos de pedir isso, de fazer isso! Peçamos sim, como Pedro, mas não façamos como Pedro que, desviando o olhar de Jesus, colocando a atenção mais na profundeza do mar e na força do vento que no poder amoroso e fiel do Senhor, começou a afundar! Assim acontecerá conosco, acontecerá com a Igreja, se medrosos, olharmos mais para o mar e a noite que para o Senhor que vem a nós com amor onipotente! E Deus é tão bom que, ainda que às vezes, façamos a tolice de Pedro, podemos ainda como Pedro gritar de todo o coração: "Senhor, salva-me!" Salva-nos, Senhor, porque somos de pouca fé! Salva tua Igreja, salva cada um de nós das imensas águas do mar da vida, do sombrio e escuro mar encrepado na noite opaca de nossa existência! Tu, que durante a noite oravas e vias o barco navegando com dificuldade, do teu céu, olha para nós e vem ao nosso encontro! E tu vens! Sabemos que vens na graça da Palavra, no dom da Eucaristia e de tantos outros modos discretos… Cristo-Deus, ajuda-nos a reconhecer-te, a caminhar ao teu encontro, vencendo as águas do mar da vida! Amém.

D. Henrique Soares da Costa

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Homilia do Padre Françoá Costa – XX Domingo do Tempo Comum – Ano A

O elogio da fé

A mulher do Evangelho de hoje não era israelita. Mesmo assim Jesus elogiou a fé daquela Cananéia mostrando algo da sua medida: "ó mulher, grande é tua fé" (Mt 15,28). Pode, portanto, dar-se um crescimento na fé? A fé pode ser maior ou menor? A partir das palavras de Jesus a resposta não pode ser mais que afirmativa. Além do mais, as orações da Igreja são constantes em pedir para nós o aumento da fé, da esperança e da caridade.

A fé se manifesta na vida e uma vida cheia de fé consegue expressar-se como vida em plenitude. Daí a importância de que a nossa fé seja cada vez maior. Todo o nosso ser pede a graça da fé porque nós, criados por Deus, não descansamos a não ser nos braços do Senhor. O ser humano está necessariamente aberto à fé, a Deus; toda pessoa está sedenta de graça e de eternidade.

Acreditar que os nossos pais são os que temos e crer que os outros não nos estão mentindo quando nos dizem algo são claras manifestações do que costumamos chamar "fé humana". A fé sobrenatural e cristã se dá quando o ser humano acredita que há um só em três Pessoas – o Pai e o Filho e o Espírito Santo – e que a do Filho se encarnou para salvar-nos. Mas esse "acreditar" não é somente um ato intelectual, mas também, simultaneamente, um lançar-se nos braços de Deus com confiança, amando-lhe e esperando em sua salvação. Quanto mais nos lançarmos nos braços do nosso Pai do céu mais estaremos crescendo em fé. É graça! Mas também podemos preparar-nos para a recepção dessa graça ao fazer de tudo para abrir-nos mais à ação de Deus em nós.

A fé não é coisa só de gente seleta, gnóstica, dotada de um sexto sentido. Deus quer conceder a graça da fé a todos os seres humanos. O cristianismo não é uma seita recluída. A Igreja Católica é universal desde as suas origens. Sábios e menos instruídos podem receber o dom da fé e nele crescer. Frequentemente a fé se assenta melhor nos mais simples. No entanto, há e houve grandes sábios que eras crentes em Deus.

Em conversas com amigos da universidade pude perceber muitas vezes como há uma preocupação em defender a própria fé cristã dos ataques daqueles que querem pontificar em temas de fé. Que um professor de física, por exemplo, queira dar uma de teólogo é tão ridículo quanto um teólogo querendo dar uma de físico. A ciência e a fé não têm porque brigarem; se cada uma permanece no seu campo próprio, podem até serem boas amigas. "A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade. Foi Deus quem colocou no coração do homem o desejo de conhecer a verdade, e em última análise, de conhecer a ele, para que conhecendo-o e amando-o, possa chegar à verdade plena sobre si próprio" (João Paulo II, Carta Encíclica Fides et Ratio, preliminar).

Conta-se que um jovem universitário sentou-se no trem frente a um senhor de idade, que devotamente passava as contas do rosário. O jovem, com a arrogância dos poucos anos acompanhada da ignorância de um iniciante na ciência, disse-lhe: "Parece mentira que o senhor ainda acredita nestas coisas antiquadas…". "Eu acredito. Você " – respondeu o ancião. "Eu! – disse o estudante lançando uma? não gargalhada – acredite: jogue esse rosário pela janela e aprenda o que  – perguntou o ancião com surpresa – não?diz a ciência". "A ciência ". "Me dá o? entendo dessa maneira. Talvez poderia me dar uma explicação seu endereço – disse-lhe o jovem, fazendo-se de importante e em tom protetor –, que eu enviarei alguns livros para que possa aprender". O ancião tira então da sua carteira um cartão de visita e o entrega ao estudante que lê assombrado: "Louis Pasteur. Instituto de Investigações Científicas de Paris".

Louis Pasteur, que descobrira a vacina anti-rábica e prestou grandes benefícios à humanidade, não ocultava a sua fé nem sua devoção a Nossa Senhora. Como Pasteur, muitos homens de ciência acreditavam em Deus: Albert Einstein, Isaac Newton, Werner K. Heisenberg, Max Planck, Von Braun, Paul Davies, Alexis Carrel etc.

Houve um tempo em que era até mesmo elegante a profissão do ateísmo, era sinônimo de vida inteligente ao quadrado. Hoje em dia já não é assim, como toda moda também essa já passou. Além do mais o verdadeiro cientista não está preocupado em ser elegante, a sua paixão é a verdade. Se dissermos, por outro lado, que não há verdade, então… o  C. S. Lewis, que foi professor em? Por que tanto estudo?que se procura Oxford, fez ver como é atitude infantil aquela de acreditar sem mais em tudo o que os outros dizem sem questionar de maneira alguma. Assim como a fé cristã é questionada por muitos, oxalá fosse também questionado, a bem da verdade, o dogmatismo ateu e agnóstico. Não é sensato começar a defender tais posturas que brilham pela ausência de Deus levado simplesmente pela autoridade de um experto que, quando se trata de Deus, é um ignorante. Não será isso certo complexo de inferioridade em ? em relação ao mundo dos assim chamados cientistas

Jesus elogiou a fé daquela cananéia e quer elogiar também a nossa, mas pessoalmente, quando chegarmos na visão da glória. Da fé à glória, desse mundo ao céu, para escutarmos esse elogio da boca do Senhor: "grande foi a tua fé".

Pe. Françoá Costa

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Homilia do Mons. José Maria – XX Domingo do Tempo Comum – Ano A

A Oração da Mulher Pagã

O Evangelho (Mt 15, 21-28) nos apresenta um comovente diálogo da mulher Cananéia, considerada pagã pelos judeus, e o Cristo que exalta a sua fé. A preocupação da mulher é a saúde da filha!

Jesus permanece em silêncio, aparentemente insensível aos apelos da mulher… os apóstolos, impacientes, insistem para que resolva o problema: ou cure de uma vez, ou então mande embora…

Cristo declara com sinceridade e firmeza sua posição: "Fui enviado só para as ovelhas perdidas de Israel…" Mas a mulher insiste nesse diálogo que parece impossível… Diz ela: "Senhor, vem em meu socorro…" E Cristo lhe dirige uma afirmação dura: "Não é bom tomar o pão da mesa dos filhos e lançá-los aos cães…" E ela não se ofende, pelo contrário, com HUMILDADE prossegue:"Sim, Senhor, mas também os cães comem as migalhas que caem da mesa de seus donos…"

No final, Jesus conclui: "Ó mulher, grande é tua FÉ! Seja feito como queres!" E desde esse momento sua filha ficou curada. Impressiona-nos a grande fé e humildade dessa mulher!

A mulher que o Evangelho de hoje nos apresenta é um modelo perfeito de constância, em que devem meditar aqueles que logo se cansam de pedir.

A constância na oração nasce de uma vida de fé, da confiança em Jesus, que nos ouve mesmo quando parece que se cala. E, por fim, da humildade, que é mais uma qualidade da boa oração.

Santo Agostinho conta-nos no livro Confissões como a sua mãe, Santa Mônica, santamente preocupada com a conversão do seu filho, não cessava de chorar e de pedir a Deus por ele; e também não deixava de pedir a pessoas boas e sábias que falassem com ele para que abandonasse os seus erros. Um dia, um bispo disse-lhe estas palavras que tanto a consolaram: "Vai  em paz, mulher!, pois é impossível que se perca o filho de tantas lágrimas". Mais tarde, o próprio Santo Agostinho dirá:"Se eu não pereci no erro, foi devido às lágrimas cotidianas, cheias de fé de minha mãe" (Confissões, 3, 12, 21).

A oração de petição ocupa um lugar muito importante na vida dos homens.Temos que pedir também a outras pessoas que rezem pelas intenções santamente ambiciosas que trazemos no nosso coração. O próprio São Tomás explica que uma das causas pelos quais Jesus não respondeu imediatamente à Cananéia, foi porque Ele queria que os discípulos intercedessem por ela, para nos mostrar como é necessária a intercessão dos santos para alcançarmos algumas coisas.

O milagre que a mulher pedia ao Senhor necessitou também de uma oração persistente acompanhada de muita fé e de muita humildade. Perseverar é a primeira condição de toda a petição: "É preciso orar sempre, sem nunca desistir"(Lc 18, 1), ensinou o próprio Jesus."Perseverar na oração.-Persevera, ainda que o teu esforço pareça estéril.-A oração é sempre fecunda"(São Josemaria Escrivá, Caminho nº 101).

Temos de pedir com fé. A própria fé, ensina Santo Agostinho,"faz brotar a oração, e a oração, logo que brota, alcança a firmeza da fé"; ambas estão intimamente unidas.

Podemos pedir para a alma a graça para lutar contra os defeitos, maior retidão de intenção no que fazemos, fidelidade à nossa vocação, luz para receber com mais fruto a Sagrada Comunhão, uma caridade mais delicada, docilidade na direção espiritual,mais ardor apostólico… O Senhor quer também que lhe peçamos por outras necessidades: ajuda para superarmos um fracasso, saúde, emprego e tantas outras coisas… Mas tudo na medida em que nos sirva para amar mais a Deus. Não queremos nada que, talvez com o passar do tempo, nos afastaria do que verdadeiramente nos deve importar: estar sempre junto de Cristo."Diz- Lhe: -Senhor, nada quero fora do que Tu quiseres. Não me dês nem mesmo aquilo que te venho pedindo nestes dias, se me afasta um milímetro da Tua vontade" (São Josemaria, Forja, nº 512).

Agrada a Jesus que rezemos pelas outras pessoas. Ensina São João Crisóstomo: "A necessidade obriga-nos a rogar por nós mesmos, e  a caridade fraterna a pedir pelos outros; mas é mais aceitável a Deus a oração recomendada pela caridade do que aquela que é motivada pela necessidade".

Ao iniciar a SEMANA da FAMÍLIA rezemos por nossas famílias. Que elas se fortaleçam no amor, no diálogo, no perdão e na FÉ. Abençoados os pais que assumem a missão de educar na fé. Rezemos para que todas as nossas famílias possam ser a família que Deus quer…

Mons. José Maria Pereira

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A CURA À DISTÂNCIA DA FILHA DA CANANÉIA

"Ó Deus, nosso protetor, volvei para nós o vosso olhar, e contemplai

a face do vosso Ungido, porque um dia em vosso templo vale mais

do que outros mil" (Sl. 83,10-11)

Celebramos neste domingo o dia dos Pais. Jesus veio para salvar a todos.

Na primeira Leitura o profeta apresenta o universalismo do Templo no tempo messiânico.Logo depois do exílio, tudo está parado na Judéia. Reina a desordem social. Neste contexto social, proclama-se a proximidade da salvação. Deus ajudará: ele é justo; mas só pode ajudar se os homens colaboram e são justos também com os seus semelhantes. A esta idéia acrescenta-se um oráculo sobre a acolhida aos estrangeiros no Templo. O critério da salvação não mais será a descendência judaica, mas a fidelidade à Lei.

Jesus, no Evangelho deste domingo (Mt. 15,21-28), apresenta a grande fé da mulher pagã. Nas andanças de Jesus por sua terra natal, ele não apenas dominou as forças do mar. Jesus fez algo que, talvez, era bem mais difícil: ultrapassar as fronteiras humanas, fronteiras de raça, de religião e de preconceito. A narração do episódio da Cananéia está cheio de detalhes que nos enriquecem na reflexão litúrgica. Jesus caminha pelo território pagão, na região de Tiro e de Sidon. Por conseguinte é normal encontrar nesta região uma mulher Cananéia, que é habitante deste lugar, que não professa a religião dos israelitas. É importante ter presente todo o precedente histórico dos cananeus e dos israelitas: sempre foram inimigos. Entretanto, o grande sinal que o Evangelho ressalta é que a mulher Cananéia, que não entendia nada da Religião Judaica, chama Jesus de "Filho de Davi", que é um título messiânico israelita por excelência. A mulher Cananéia está tão angustiada que ela se humilha até invocar o Messias dos israelitas. Aqueles que acompanham Jesus, os seus discípulos, não vêem neste diálogo da cananéia com Jesus nada de digno e pedem que Jesus dispense ou mande embora a cananéia.

Mas, qual foi à atitude de Jesus? Numa mensagem dirigida aos discípulos e a Cananéia Jesus insiste em seu messianismo: "Eu fui enviado para todas as ovelhas e não só para as eleitas, mas para as ovelhas perdidas de Israel". Isso tem um duplo significado: que Jesus quer acolher a todos, israelitas e não israelitas, demonstrando que a salvação veio para todos sem distinção e que os apóstolos e discípulos devem ser os primeiros a aceitar o irmão que não está na Igreja, que não caminha na comunidade, porque na Igreja de Cristo há lugar para todos.

A novidade da pregação de Jesus é que Ele foi enviado para pregar o Reino de Deus a um povo pequeno, para realizar uma esperança limitada nos seus termos, ilimitada, porém, no seu significado: é o que aconteceu no episódio de hoje. Jesus é o Messias de Israel. É o que a mulher proclamou e anunciou. Portanto, ela estabeleceu uma plataforma de conversa, apesar de os ciumentos discípulos não gostarem disso. Jesus então, em vez de rejeitar a Cananéia, por sua resposta lhe dá razão diante dos discípulos, mas, ao mesmo tempo, a provoca ainda para maior confiança, pois ela não é israelita. Se a mulher Cananéia expressou a consciência de que Jesus é o Messias de Israel, agora ela deverá dar mais um passo. E com a irresistível simplicidade de uma mãe preocupada, ela pergunta: "Não ganham os cachorrinhos às migalhas que caem da mesa dos filhos?" Jesus a congratula com sua grande fé e cura seu filho, pois ela fez o que Jesus quis provocar: derrubou as fronteiras do messianismo nacionalista de Israel.

Jesus quis transpor as fronteiras de Israel, isto porque o Reino de Deus não tem porteiras. Mas para que isso acontecesse aqueles que acompanhavam o Mestre tinham que transgredir as fronteiras que tinham demarcado dentro do seu coração e de seus conceitos. É preciso sempre dar um passo a mais, é preciso sempre ter a atitude da mulher Cananéia que, confiante na graça de Deus, anunciou que Jesus é o Messias, o Salvador.

A salvação e o Reino de Deus nunca foram pregados como um privilégio do povo eleito de Israel. O povo de Deus é todos os homens e mulheres que aderem ao seguimento de Cristo. A salvação é universal. A primeira leitura de hoje traz uma página magnífica a respeito disso: universalismo salvífico onde Jerusalém está no centro: o Templo será a casa de oração para todos os povos; aos estrangeiros é permitido se unirem aos costumes de Israel. Jesus estendeu seu universalismo aonde houvesse fé, longe de Jerusalém e seu Templo. No coração de cada um está "a casa de oração para todos os povos".

A segunda leitura, retirada da carta aos Romanos 11,12-15.29-32, anuncia a pergunta se Israel ficou agora excluído da salvação?

Devemos, de início, afirmar que a vocação de Israel é irrevogável. Israel não correspondeu a sua eleição e nos seus privilégios. Mas isso não significa que Deus desistiu de suas promessas: primeiro um resto de Israel já se salvou, por exemplo, o próprio Paulo; segundo Deus aplica uma pedagogia "sui generis", inclui todos na desobediência, para incluir na sua misericórdia também; terceiro, vendo os gentios aceitar a misericórdia de Deus, os judeus ficarão com ciúmes e acolherão também. O importante é que Israel seja salvo, não por causa de seus "privilégios", mas pela misericórdia de Deus, assim como os pagãos.

Paulo, na sua lúcida e madura vida de fé anuncia que Deus é fiel à sua promessa, raciocina do seguinte modo: Deus não repudiou seu povo, mas realizou sua promessa num pequeno resto. Os outros israelitas tropeçaram. Mas não definitivamente, pois Deus foi astuto: deixou os outros tropeçarem para que, vendo os pagãos acolherem a salvação, se enchessem de ciúme e se salvassem também. Depois, apresenta a maravilhosa alegoria da oliveira selvagem e da oliveira doméstica. Esta última é Israel. Alguns de seus ramos foram cortados fora, para que fossem enxertados ramos de uma oliveira selvagem: os pagãos. Alimentem-se com a seiva da raiz boa, as promessas feitas a Israel. Deus concederá misericórdia aos que crerem, porque em Cristo, todos os seres humanos, independentemente de raça ou de cultura, são salvos pela ação da misericórdia divina.

As nossas relações, muitas vezes, infelizmente, não são marcadas pelo universalismo que advém do Evangelho. As barreiras de raça, cor, riqueza, cultura, religião, poder, condição social... estão claramente presentes de maneira escandalosa no mundo cristão, ao ponto de afirmar que o escandalosamente o Evangelho anunciado e pregado não é vivido.

Celebramos neste domingo o dia dos pais. E junto a esta cândida e merecida celebração queremos iniciar, em união com toda a Igreja no Brasil, as reflexões da Semana Nacional da Família. Em dias turvos como os que vivem a nação brasileira a Igreja quer valorizar a família, tendo em vista que na família se manifesta a verdadeira justiça e paz que vem de Deus e se fundamenta na misericórdia, na acolhida e na compaixão. Deus quer bem aos nossos queridos pais, sejam eles vivos ou já na visão beatífica. A nossa família, por mais simples ou mais sofisticada que seja, é a melhor família do mundo e aí está o cerne da Igreja doméstica. Que Deus, pai das misericórdias, cujo amor se derrama com largueza por toda a humanidade, abençoe todos os nossos pais, para que eles se comprometam com uma vida autenticamente cristã. Amém!

padre Wagner Augusto Portugal

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Prezado leitor: O evangelho de hoje é uma repetição do dia 03 de agosto de 2011– Quarta-feira. Veja:

"Senhor, socorre-me!" A fé é o argumento que mantêm a nossa esperança na hora do desespero! – Maria Regina

Mais uma cura à distância - Rita Leite

Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim..." – Nancy

Mulher, grande é a tua fé!

Mulher, grande é a tua fé! - Padre Queiroz

Jesus perde na "Queda de Braço" - Dac. José da Cruz

Outra cura à distância - Sal

A fé da mulher da Cananéia - Pe. Claudio

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Domingo – 14/08/2011                                    Gilberto Silva

Mt 15, 21-28

"Mulher, grande é a tua fé"

 Caríssimos irmãos e irmãs,

 1-     Vamos primeiramente analisar o aspecto geográfico onde se deu este encontro: Tiro e Sidônia eram duas metrópoles fenícias, situadas na costa do mar mediterrâneo, hoje o Líbano. Estas nunca fizeram parte da Galileía, porém eram fronteiriças.

2-     Jesus queria afastar-se temporariamente dos judeus devido a um certo temor de uma perseguição de Herodes Antipas, que dias atrás havia mandado decapitar o seu primo, João Batista. Esta região que Jesus adentrava era uma região pagã, dominada pelos romanos, porém fora do território de Herodes e uma das principais colônias dos cananeus.

3-     Os cananeus haviam muitos anos atrás sido expulsos de Israel para não contaminar os judeus com suas práticas pagãs. Talvez por isso fossem chamados de cães por causa da sua idolatria. Jesus ao ouvir o grito de desespero daquela mãe Cananéia emudeceu. Ficou apreensivo, pois não queria dar motivo aos outros de O caluniarem se ajudasse aquela mulher.

4-     Jesus ao mesmo tempo replica: "Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel." Mas, a fé daquela mãe a faz dobrar seus joelhos e suplicar com mais força em favor da sua filha. Meus irmãos e irmãs, quantas vezes nós dobramos nossos joelhos diante de Jesus eucarístico e suplicamos-Lhe a misericórdia em favor de alguém necessitado?

5-     Esta mulher se identifica na sua condição miserável, de até mesmo de ser chamada de animal, uma cadela, para obter de Jesus a benção para cura de sua filha atormentada por um demônio. Diante da força de fé daquela mulher, Jesus a contempla e compadece imediatamente por ela. Ele que veio para trazer a salvação e esperança para os judeus, compreende que também toda a humanidade independente da sua condição pode ser beneficiada também com o Seu poder, como ovelhas desgarradas do redil do seu Pai.

6-     Quando temos um problema, uma dificuldade que foge da solução em nossas mãos devemos nos agarrar Àquele que sempre auxilia quando Lhe pedimos

7-     Com fé, humildade e confiança. Com diz  o Santo Afonso: "Deus é rico. E Deus é imensamente liberal."  O Seu desejo é fazer o bem a todos. São Paulo, o evangelizador dos gentios que inicialmente pregava a Boa Nova para os judeus, viu que a salvação era para todos e que não poderia deixar de lado as outras criaturas humanas, pois todos eram filhos de um único Pai.

 Vamos aproveitar esta passagem do evangelho e colocar praticar com altruísmos nossa ajuda em  favor do irmão necessitado.

 Gilberto Silva

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O Grito de quem quer Liberdade...- Diac. Jose da Cruz

14 de Agosto

Evangelho Mateus 15, 21-28   20º Domingo do TC

                               

Há um hino muito bonito sobre o Povo de Deus, onde uma das estrofes diz "Há um só grito, preso a garganta, não engoliu sua dor..." Quem grita quer ser ouvido, quem grita é porque está no fundo do poço, quem grita é porque ainda tem esperança. Às vezes o grito do pobre desesperado vem na forma de um silêncio que denuncia, pois o grito as vezes é também silêncio.

O Grito de quem está sofrendo pode causar indiferença, mas pode também incomodar, os discípulos de Jesus já estavam incomodados com aquela mulher gritona, chegaram a pedir para que Jesus desse o jeito e a fizesse calar a boca. A mulher estava gritando para pessoas erradas, que aparentemente não poderiam e nem deveriam resolver o seu problema: libertar a Filha que estava sendo atormentada por um demônio. O Povo de Israel tinha uma história e uma tradição, o Messias libertador pertencia a essa tradição, surgido das promessas de Deus.

A sua ação libertadora seria sempre a favor de Israel, buscar as ovelhas perdidas e reconduzi-las ao Rebanho. Há muitos gritos ao nosso redor, gritos de protesto, grito de quem quer justiça, grito de revolta, grito que reivindica algum direito, grito que denuncia, são gritos que trazem em si mesmo uma certa legitimidade, o cristão não pode ser "Vaquinha de Presépio" que engole tudo e diz Amém a quem oprime ou comete injustiça, a quem viola os sagrados direitos da Vida.

Mas o grito dessa mulher é diferente de todos esses gritos, ela não grita a uma Instituição, mas grita a um Deus, por isso é um Grito de Fé! A resposta inicial de Jesus tem um caráter institucional, de um Messianismo que pertencia primeiramente as tradições de Israel e isso é verdadeiro, Deus falou aos Judeus em primeiro lugar, o primeiro povo escolhido para sentir o amor de Deus e ser dele um sinal a toda a humanidade realmente foram os Judeus, esse privilégio ninguém nunca lhes conseguirá tirar. Entretanto, o grito dessa mulher vislumbra em Jesus algo que vai além da instituição, é um prenúncio da universalidade da Salvação, aquela mulher que pertencia a uma região pagã, superou as autoridades Religiosas e enxergou longe, por isso gritou, porque viu em Jesus a presença Divina, ele não era um enviado de Deus mais era o próprio Deus, por isso não estava fechado dentro de uma instituição religiosa ou da tradição restrita de um povo.

O seu diálogo com Jesus, apesar do tom da humildade, revela a ele uma Fé grandiosa, capaz de mudar o imutável. Essa mulher não é alguém que se contenta com migalhas, ao contrário, vindo de Jesus essas migalhas tornam-se grandes riquezas, e o Poder Libertador irá se manifestar. É uma belíssima profissão de Fé de alguém que crê que Deus ama a todos de maneira indistinta, e o seu amor cura e liberta qualquer um que Nele Crer.

Hoje em nossas comunidades devemos estar muito atentos aos gritos que se fazem ouvir entre lágrimas, há muitos Demônios atormentando a vida de uma infinidade de jovens, esse processo libertador só é possível quando sabemos acolher todos os que gritam, oferecendo-lhes solidariedade e um trabalho pastoral que os faça vislumbrarem libertação, como o diálogo de Jesus com a mulher. A Comunidade deve sempre testemunhar um Deus que ama a todos, com um amor que supera as barreiras de qualquer preconceito , caso contrário, a exemplo dos discípulos, estaremos sempre procurando uma desculpa, as vezes de ordem religiosa, para as nossas eternas omissões diante dos que gritam...(20º Domingo do TC) Mt 15, 21-28

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Domingo,14 de Agosto de 2011

Evangelho - Mt 15,21-28

Mulher, grande é a tua fé!

Este Evangelho narra a cena de uma mulher pagã que pede a Jesus a cura de sua filha. De início, Jesus recusa, dizendo que foi enviado para as ovelhas perdidas da casa de Israel. E ele fala uma frase que, à primeira vista, parece dura, mas era um dito popular: "Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos".

Entretanto, a mulher não se deu por vencida e respondeu de forma criativa. "É verdade, Senhor, mas os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!" Diante dessa resposta, Jesus lhe disse: "Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!" E desde aquele momento sua filha ficou curada.

Ter fé é vencer os obstáculos, venham de onde vierem, até da parte de Deus. Exemplos de obstáculos que podem chocar-se com a nossa fé: Aparente recusa de Deus em nos atender, como o caso de uma pessoa doença que reza e, em vez de sarar, fica ainda pior fisicamente. Claro que a cura de Deus é mais para o doente, não tanto para a doença. Mas a pessoa pode não conhecer essa distinção e pensar que Deus não lhe está atendendo.

Jó (Cf seu livro, na Bíblia) é um exemplo nesse ponto, pois, mesmo não sendo atendido, persistiu na oração, na fé e na esperança.

A nossa fé não fica parada. Ela é como uma planta: ou cresce ou morre. E ela cresce na direção da fidelidade, isto é, da firmeza diante dos obstáculos.

Aquela mulher era pagã, não pertencia à descendência de Abraão, que era o povo eleito. Entretanto, ela tinha uma fé correta e bonita. Pagãos, para nós, são os não batizados. É uma situação cuja superação é aberta a todos e é facílima, basta receber o batismo. Já ser pagão no tempo de Jesus era um estigma indelével, uma barreira intransponível, pois dependia da raça, da família em que nasceu, que ninguém pode mudar.

Sabemos que a primeira Aliança, feita com o povo hebreu, era provisória. Ela tinha o objetivo de preparar a vinda do Messias. Com a chegada de Jesus, ela caducou e passou a valer a nova e eterna Aliança, que Deus fez definitivamente com a humanidade toda, em Cristo. Esta não tem distinção de raça, é baseada na fé e na obediência aos mandamentos. Como disse S. Paulo: "Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus" (Gl 3,28).

Mas, apesar da primeira Aliança já ter caducado, Deus, na sua extrema fidelidade, quis que seu Filho, inicialmente, desse preferência ao povo de Israel. Entretanto, Jesus sempre acolhia bem os pagãos que o procuravam. Inclusive, várias vezes, elogiou a fé dos pagãos, como a do centurião romano: "Nunca encontrei tamanha fé em Israel".

Esta fato da mulher cananéia nos mostra a força que tem a oração perseverante e feita com fé. A oração é mais forte que as estruturas humanas, inclusive as religiosas. Pela oração, nós somos capazes de "transportar montanhas", como disse Jesus. Contra tudo e contra todos, devemos continuar pedindo a Deus as coisas, mesmo com a impressão de que ele virou as costas para nós; e argumentar com Deus, como fez a mulher: "Os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!"

A mesma mensagem vemos em algumas parábolas de Jesus, como a da viúva pedindo para o juiz a solução do seu caso judicial (Cf Lc 18,1-8), a do vizinho que, altas horas da noite, bate na porta do outro

pedindo pães (Cf Lc 11,5-8)...

Havia, certa vez, um pequeno lago que tinha muitos peixes. Por isso faltava comida para eles. Viviam magros e famintos. Um peixinho não se conformou com a situação e queria sair dali. Como havia uma pequena corrente de água que saía do lago, ele arriscou e entrou nessa corrente. Para surpresa sua, chegou a um grande lago, onde havia comida à vontade, pois os peixes ali eram poucos. Que delícia! O peixinho estava exultante de alegria. Quanto espaço para nadar! Isso que é vida! Mas logo se lembrou dos colegas e ficou com dó. Decidiu: Quando der uma chuva grande e aumentar a água dessa corrente, voltarei lá para convidá-los. Assim ele fez. Após uma chuva, com grande esforço e destreza, subiu pela corrente de água e voltou ao pequeno lago onde nascera e vivera. Foi logo contando para os colegas a sua descoberta. Entretanto, teve uma surpresa: ninguém acreditou! Triste, voltou para o lago da fartura que havia descoberto. Dias depois, alguns peixes mais jovens, da sua turminha antiga apareceram. E começou um intercâmbio, que mudou a vida dos peixes dos dois lagos.

Ter fé é ter coragem. Não podemos ficar acomodados ou desanimados, como aquele homem da mão seca que estava marginalizado, em um cantinho da sinagoga (Cf Mc 3,1-5). "Levanta-te e fica de pé no meio", disse-lhe Jesus. Precisamos arriscar um pouco e enfrentar a correnteza. A vida é bela e cheia da fartura das bênçãos de Deus!

Peçamos a Maria Santíssima: "Ensina teu povo a rezar, Maria Mãe de Jesus, que um dia teu povo desperta e na certa vai ver a luz!"

Mulher, grande é a tua fé!

 Padre Queiroz

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Não excluir o estrangeiro e o diferente

 

Neste segundo domingo de agosto, as famílias brasileiras se reúnem para celebrar o dia dos pais. Eis mais uma vocação: ser pai. No Segundo Testamento, Jesus nos ensina a rezar, dirigindo-se a Deus como Pai nosso. Nos evangelhos, sobretudo em João, Jesus se dirige a Deus como Pai. Ele morre invocando Deus, a quem chama: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23,46). Jesus foi inovador e – por que não? – revolucionário ao atribuir essa expressão familiar a Deus. Em hebraico, pai se diz Abba. Pai é porto seguro dos filhos. Todos necessitamos da segurança paterna. O pai não exclui o seu filho, mas o acolhe com suas diferenças e o educa para uma missão sublime no mundo. Vejamos como essa questão aparece nas leituras de hoje.

1ª leitura (Isaías 56,1.6-7)

Israel deve ser luz para as nações e não excluí-las do projeto de salvação

O contexto da primeira leitura é a volta do exílio da Babilônia, onde o povo estivera escravo por volta de 50 anos (587 a.C.-536 a.C.). Vários projetos, vários sonhos foram traçados pelo povo de Deus para reconstruir a sua identidade como povo da aliança, no pós-exílio. Destacamos dois deles: "luz das nações", encabeçado pelo profeta Isaías; "purificação da raça por meio da Lei", de Esdras e Neemias, projeto que exigia do povo o abandono e a expulsão das mulheres estrangeiras com as quais os judeus houvessem contraído matrimônio (Esd 9-10; Ne 10,31). O projeto "luz das nações" fazia que o povo judeu passasse a ver os estrangeiros como irmãos de convivência e membros do povo eleito. Os estrangeiros podiam também ensinar valores culturais ao povo israelita e participar da mesma fé. Vingou o projeto de Esdras e Neemias. Na leitura de hoje, vemos o profeta Isaías denunciando o fato de que o povo, ao rejeitar o estrangeiro, estaria violando a aliança que Deus havia feito com eles – a de agir com justiça e não com a exclusão de outras pessoas – e estaria atando Javé a um único povo, Israel, considerado santo e puro. Outros livros bíblicos da época, como Rute e Cântico dos Cânticos, também se opõem a Esdras e Neemias. Discriminar a mulher ou associar a pureza a ritos e observâncias de leis não garante a salvação.

Evangelho (Mt 15,21-28)

Uma mulher muda a mentalidade de Jesus

O evangelho de hoje é a continuidade da temática do acolhimento do estrangeiro. A cena é marcada por uma mulher cananeia, de um lado, e por Jesus, do outro. Os discípulos são os figurantes que pedem a expulsão da inoportuna estrangeira. A cena recebe a marca da profissão de fé judaica em Deus que veio salvá-los. Dignas de nota são as três intervenções da mulher, contrastadas com as três respostas de Jesus. Esse pormenor levaria o judeu a pensar no Shemá Israel: "Amarás o Senhor teu Deus com as suas posses, coração e ser" (Dt 6,4-9). Não poucas vezes, encontramos essa estrutura de narrativa no Segundo Testamento.

Não seríamos ousados se afirmássemos que a mulher cananeia mudou o modo de pensar de Jesus e de seus discípulos em relação aos estrangeiros, considerados como cães pelos judeus por serem, em sua ótica, impuros e não merecedores do pão reservado aos filhos. Em outras palavras, a comunidade de Mateus quis demonstrar que a salvação, em Jesus, veio somente para os judeus, de forma exclusivista. A mulher, em Mateus chamada de cananeia, representa os pagãos, aqueles que não têm fé nem aceitam a proposta de Jesus. E o evangelho termina de forma contundente: "Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como queres!" (v. 28). Aquela que era considerada pagã torna-se testemunha viva de que Jesus, o filho de Davi, podia agir com misericórdia e curar-lhe a filha, o que de fato ocorreu. A fé da mulher é tamanha, que Jesus não vê outra saída a não ser atender o seu pedido. A sua fé contrasta com a pouca fé dos discípulos de Jesus. A mulher de fé pode. Ela acabou mudando a visão da comunidade sobre a missão fora de Israel. A cananeia ensinou que a misericórdia de Deus está para além das fronteiras. 

2ª leitura (Rm. 11,13-15.29-32)

Deus é misericordioso e salva a todos

Paulo, o grande apóstolo dos gentios, dos não judeus, brinda-nos hoje com bela reflexão. Os judeus, aos quais foi enviado o Messias, Jesus, o rejeitaram. Os pagãos, por sua vez, tornaram-se os escolhidos para o projeto salvífico. Deus não abandonou o seu povo, mas, por meio dos apóstolos, como Paulo, oferece a salvação aos pagãos do império romano. O projeto de Deus é muito maior que o povo judeu. Paulo reflete que a conversão dos pagãos abre caminho de salvação para os judeus. Tremenda ousadia e ironia paulina. Deus é misericordioso e salva a todos. Assim como a mulher mãe do evangelho de hoje, que implora a misericórdia de Jesus para obter a cura de sua filha.

PISTAS PARA REFLEXÃO

1. Discriminação de nenhuma espécie é aceita por Deus. Israel foi escolhido como povo eleito, mas não pode se valer dessa prerrogativa para discriminar os estrangeiros. Mostrar à comunidade que nós, os cristãos, podemos incorrer nesse mesmo erro quando nos julgamos os melhores e os únicos que serão salvos.

2. Mostrar que Deus será reconhecido universalmente, como nos propôs a primeira leitura e o evangelho, quando a justiça e a misericórdia imperarem entre todos os povos.

3. No dia dos pais, vale lembrar que agir com a justiça do decálogo é oferecer dignidade de vida aos pais idosos, seja do ponto de vista humano, seja do ponto de vista econômico. Assim como um dia fomos indefesas crianças que poderiam morrer se não fosse o amparo dos pais, agora, na velhice ou na doença, eles merecem a nossa atenção redobrada, como forma de gratidão a eles e a Deus, que nos deu a vida.

frei Jacir de Freitas Faria, ofm

Minha casa será chamada casa de oração

Queremos nos fixar no final do texto de Isaías proclamado na liturgia deste domingo. O profeta fala do culto de adoração a ser prestado ao Senhor Deus. Fala de povos estrangeiros que aderem ao Senhor. "A esses conduzirei ao meu monte santo e os alegrarei em minha casa de oração; aceitarei com agrado em meu altar seus holocaustos e vítimas, pois minha casa será chamada casa de oração para todos os povos". Este texto nos dá ocasião de refletir sobre a nossa vida de oração.

Todos os homens de boa vontade sentem em seu coração um desejo de Deus, uma vontade de jogar-se nos braços desse Alguém que vislumbra como o Belo, o Magnífico, o Luminoso.

Uma bela página de Santo Anselmo (século XII) fala dessa busca do Altíssimo: "Vamos, coragem, pobre homem. Foge um pouco de tuas ocupações. Esconde-te um instante do tumulto de teus pensamentos. Põe de parte os cuidados que te absorvem e livra-te das preocupações que te afligem. Dá um pouco de tempo a Deus repousa nele. Entra no íntimo de tua alma, afasta tudo de ti, exceto Deus ou o que possa ajudar-te a procurá-lo ; fecha a porta e põe-te à sua procura. Agora fala, meu coração, abre-te e diz a Deus; busco a vossa face: Senhor, é a vossa face que eu procuro (Sl. 26,8)". O primeiro dos templos de Deus é a intimidade de cada pessoa.

Pensamos aqui em nossas igrejas e capelas. Não somos homens e mulheres da religião do templo, é bem verdade. Temos, no entanto, todo o respeito e carinho por nossos templos de pedra. Antes de tudo deparamos com o altar. É para lá que se voltam nossos olhares ao atravessarmos os umbrais do templo. Sobre este altar se realiza o sacrifício do altar, a renovação incruenta do sacrifício do Senhor. Sobre a toalha branca o pão e o vinho, por detrás a figura do sacerdote ordenado que oferece os dons em nome do povo na Igreja e o coração dos fiéis se torna alegre oferenda.    No seio de nossos templos ouvimos a Palavra, seja durante a celebração da missa ou em outros espaços. De modo especial é no seio de nossas igrejas que ecoam os textos do Novo e do Antigo Testamento de uma forma mais contundente. Gostamos de guardar silêncio antes de ouvir aquele que tem tudo a dizer ao nosso coração.

Os templos católicos conservam o Santíssimo. Quando entramos no templo procuramos o sacrário e nos colocamos de joelhos dizendo aquela oração tão cara a São Francisco: "Nós vos adoramos Santíssimo Senhor Jesus Cristo aqui e em todas as vossas igrejas que estão em todo o mundo e vos bendizemos porque pela vossa santa cruz remistes o mundo".

Há muitos que buscam a tranquilidade do templo: uns querem simplesmente estar com o Senhor, outros querem salmodiar em louvor do Altíssimo, outros se sentem perdidos ou então perderam entes queridos e querem estar com o Senhor.

Seja nas belas e grandiosas catedrais medievais, seja nas modestas capelinhas, nossos templos pretendem ser, de alguma forma, antessalas da glória de Deus.

Sim, "minha casa será chamada casa de oração para todos os povos".

frei Almir Ribeiro Guimaeães

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O Dom de Deus também para os estrangeiros

Nas andanças por sua terra natal, Jesus não apenas dominou as forças do mar, mas fez algo bem mais difícil: ultrapassou fronteiras humanas, fronteiras de raça, religião e preconceito. A história da cananeia, narrada no evangelho de hoje (Mt. 15,21-28), está cheia de detalhes que nos fazem refletir. Andando em território pagão, perto de Tiro e Sídon, Jesus encontra uma moradora da região não-israelita, uma "cananeia". Surpreendentemente - visto as guerras dos israelitas contra os cananeus, seus inimigos hereditários -, a mulher o chama de "Filho de Davi". Ela está tão angustiada que se humilha a invocar o Messias dos israelitas! Os discípulos querem que Jesus a mande embora. Jesus, numa pedagogia de duplo efeito, destinada tanto aos discípulos quanto à mulher, insiste no messianismo israelita. "Não fui enviado senão às ovelhas perdidas de Israel" (Mt. 15,24). Era verdade: Jesus não foi mandado às nações em geral, mas a um povo pequeno, para realizar uma esperança, limitada nos seus termos, ilimitada, porém, no seu significado. Ele era o Messias de Israel- "filho de Davi", diz a mulher -, e Jesus, em vez de rejeitá-la, dá-lhe razão diante dos discípulos incomodados. Mas, ao mesmo tempo, ele a provoca a mostrar confiança maior ainda. Não basta que essa pagã reconheça em Jesus o Messias de Israel, mas ela deve dar mais um passo. E, com a irresistível simplicidade de uma mãe angustiada, ela pergunta: "Não ganham os cachorrinhos as migalhas que caem da mesa dos filhos?" Jesus congratula sua grande fé e cura sua filha. Ela fez o que Jesus quis provocar: derrubou as fronteiras do messianismo nacionalista de Israel. Jesus quis transgredir as fronteiras de Israel. Mas era preciso que, antes, as pessoas abolissem as fronteiras demarcadas no coração. Para isso, usou de uma pedagogia divina, provocando a fé total, ultrapassando os conceitos feitos e acabados.

Que a salvação não podia ser reservada a Israel só, também os profetas antigos já o tinham pressentido. De maneira balbuciante expressaram os primeiros traços de universalismo.

A 1ª leitura de hoje é um exemplo disso. Mas é ainda um universalismo onde Jerusalém está no centro: o Templo será casa de oração para todos os povos; os estrangeiros são permitidos a se unirem aos costumes de Israel! Para o tempo do exílio babilônico, quando esta profecia foi proclamada, isso já era muita coisa! Mas Jesus, embora mandado concretamente a Israel, estendeu seu universalismo a todos que tivessem fé, longe de Jerusalém e seu templo. A "casa de oração para todos os povos" está no coração de cada um.

Na 2ª leitura encontramos uma pergunta que vem completar o tema do universalismo: Israel ficou agora excluído da salvação?

Paulo, certo de que Deus é fiel à sua promessa, raciocina assim: Deus não repudiou seu povo, mas realizou sua promessa num pequeno resto (Rm. 11,1-7). Os outros israelitas tropeçaram (v. 8-10), mas não definitivamente, pois Deus foi astuto: deixou os outros tropeçarem para que, vendo os pagãos acolherem a salvação, se enchessem de ciúme e se salvassem também (v. 11-15). É como a oliveira selvagem e a oliveira doméstica. Esta última é Israel. Alguns de seus ramos foram cortados para que no seu lugar fossem enxertados ramos de uma oliveira selvagem: os pagãos. Estes alimentam-se com a seiva da raiz boa, as promessas feitas a Israel. Não terá Deus então o poder de reenxertar os ramos originais no seu próprio pé ... (v. 16,24)? Assim, Paulo conclui (e é esta a parte lida hoje): se os pagãos uma vez eram desobedientes e agora obtiveram graça, os israelitas também, incentivados pela graça que os pagãos receberam, obterão misericórdia (v. 32). Frase paradoxal, que significa: ninguém pode apelar para a sua própria justiça diante de Deus: tudo é graça. Sendo a mensagem de hoje a universalidade da salvação, devemos perguntar:

1) Não concebemos esta universalidade do modo do Antigo Testamento, esperando ou obrigando os outros a aderirem ao nosso sistema?

2) Deixamos pelo menos algumas "migalhas" para os não-cristãos?

3) Somos capazes de reconhecer a realidade crística fora de nosso ambiente católico institucional?

4) Acreditamos que Deus pode fazer obra salvífica fora do âmbito cristão, por exemplo, nos movimentos de emancipação e nas revoluções libertadoras, muitas vezes tachados de ateísmo?

Johan Konings "Liturgia dominical"

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MULHER, GRANDE É A TUA FÉ

Evangelho: Mt. 15,21–28

1. Continuamos neste domingo a parte narrativa do 4º livrinho (13,53 a 17,27) de Mateus: o seguimento do Mestre da Justiça. No trecho de hoje em terra estrangeira, contra todos os preconceitos farisaicos, surge uma discípula qualificada de Jesus.

2. As comunidades de Mateus tomaram este texto do Evangelho de Marcos (Mc. 7,24-30) e o modificaram (pois as narrativas não são exatamente iguais) e o conservaram com carinho por se tratar de uma mulher "conterrânea". De fato, as comunidades de Mateus, fugindo da destruição de Jerusalém no ano 70, instalaram-se ao norte da Galiléia e sul da Síria, terra dessa mulher Cananéia.

3. Jesus vai a um território pagão. O fato quer recordar um episódio da vida do profeta Elias (1Rs. 17,7ss: viúva de Sarepta). Detalhes que chamam a atenção: além de mencionar que a mulher é pagã, Mateus chama a atenção para outro aspecto: "Prestem atenção. Tudo é puro para quem é puro", ligando, desse modo, este episódio ao anterior (15,10-20, a discussão sobre puro/impuro).

4. É a primeira vez que, no texto grego, esse evangelho emprega a palavra "mesa". E não é a mesa da cultura judaica (normalmente um tapete ou toalha estendidos no chão) nem uma mesa no estilo romano (cf. 8,10), mas uma mesa com pernas e vão, no qual misturam-se pernas de pessoas, rabos, patas e bocas de cães domésticos, disputando migalhas.

5. Para o judeu, isso seria bastante improvável e até inadmissível, pois os cachorros eram contados entre os animais impuros, aos quais eram atiradas carnes impuras. Normalmente, na cultura dos judeus, os cães não tinham donos, menos ainda casa.

6. Diferentemente de Marcos que quer esconder Jesus em casa, Mateus coloca a mulher Cananéia em primeiro plano e gritando: "Senhor, Filho de Davi, tem piedade de mim. Minha filha está sendo cruelmente atormentada por um demônio" (v. 22). Chama a atenção: a sensibilidade da mulher/mãe, cujo sofrimento da filha repercute nela como se fosse seu, por isso pede piedade por ela mesma. Ao chamar Jesus de Senhor e Filho de Davi parece reconhecer nele o Messias servidor da vida (e não o Messias poderoso e guerreiro de Pedro: cf.16,21-23). Por fim, é útil observar que se trata de duas mulheres (mãe e filha) dentro de um contexto patriarcal.

7. A coragem dessa mulher pagã a associa ao grupo dos intercessores, que não pedem para si, mas para os outros (8,6: centurião pede pelo criado; 9,18: chefe pede pela filha; 17,15: pai pede pelo filho epilético). Sua atitude contrasta com a cegueira dos discípulos de um lado e com o policiamento das lideranças por outro. Assim se entende o pedido dos discípulos: "mande embora essa mulher, porque ela vem gritando atrás de nós" (v. 23).

8. A reação de Jesus:

- primeiro responde aos discípulos, dizendo ter sido enviado somente às ovelhas perdidas do povo de Israel;

- a seguir, responde à mulher, reforçando o tema com a oposição filhos x cachorrinhos.

9. Conversa e argumentação entre Jesus e a mulher:

9.1. Jesus havia estabelecido prioridades. A mulher crê que estabelecer prioridades não significa criar exclusões. Se na casa dela o pão era prioritariamente destinado às crianças, isso não significa que os cachorrinhos devessem morrer de fome.

9.2. Jesus responde em nível de prioridade; a mulher rebate em termos de direito: na cultura dela, também os cães "fazem parte" da família (o que não acontecia na cultura dos judeus). E como toda dona de casa, sabe que – cotidianamente – tem de pensar no pão para os filhos e também para os cachorrinhos.

10. Atrás dessa metáfora esconde-se a importante questão: Para quem Jesus é Boa Notícia? Somente para os judeus? E como fica a parábola da semente de mostarda, que se torna árvore e acolhe as "aves": quando estas chegam, o que se tem a fazer é espantá-las? (13,31-32).

11. Vários estudos desse trecho deixam entrever o jeito estranho de Jesus se comportar, sobretudo em se tratando de uma mulher pagã. Talvez se entenda melhor se, – na linha dos livros sapienciais – virmos um homem sábio (Jesus) e uma mulher sábia (uma pagã) conversando. Assim em Eclesiástico 21,15 temos: "quando o inteligente ouve uma palavra sábia, ele a louva e acrescenta outra; o imbecil a ouve, zomba e a joga para trás das costas".

12. Nunca se duvidou da sabedoria de Jesus, mas também nunca se relevou a sabedoria dessa mulher. Jesus a provocou a dar um salto de qualidade, superando o preconceito judaico em relação aos estrangeiros (mulheres e cachorros). E ela não o decepcionou. Deu um salto de qualidade que nenhum conterrâneo de Jesus foi capaz de dar. Isso se evidencia na afirmação de Jesus: "Mulher, grande é a sua fé! Seja feito como você quer" (v. 28 – Ver também a fé do oficial romano, em 8,10: "eu garanto a vocês: nunca encontrei fé igual a essa em ninguém de Israel).

13. Aquela que era considerada impura (mulher e pagã) mostrou-se mais pura do que todos nós. Sem dúvida, nessa região "pagã" Jesus passa a ter mais uma discípula, uma terra boa, um terreno fértil que pode render trinta, sessenta ou cem por um (cf. 13,8).

1ª leitura: Is. 56,1.6-7

14. Com o fim do exílio da Babilônia (538 a.C.), a maioria dos judeus pôde voltar à terra (Esd. 1,1ss) e reconstruir, a duras penas (ainda sob o domínio persa) sua identidade nacional. É nesse tempo que surge o judaísmo, construído sobre algumas bases sólidas: a Lei, o Templo e a nítida separação de raças (geradora de um nacionalismo fanático e excludente).

15. A política de Esdras e Neemias (líderes da reconstrução) obrigava os judeus a desfazerem os casamentos com estrangeiras (Esd. 9-10) e ao abandono total dessa pratica para o futuro. Nem todos concordavam com essa determinação de tornar a religião dos judeus uma religião de raça, que fazia do Deus de Israel uma divindade presa a uma terra, a uma raça, a uma cultura. Os livros de Rute e Cântico dos Cânticos são dessa época e também se opõem a esse integrismo racial.

16. Também o Terceiro Isaías (56-66) se posiciona contra essa rigidez de Esdras e Neemias. O Terceiro Isaías pode ser chamado de profeta da reconstrução e está aberto à participação dos não-judeus. Assim a identidade do povo de Deus não passa pela questão da raça (que exclui as demais) e sim pela inclusão de quantos haviam sido postos à margem por serem mutilados (eunucos) ou pertencerem a outras raças (estrangeiros).

17. É disso que trata o trecho de hoje. É lamentável que tenham sido omitidos os versículos 2 a 5. Eles são um apelo muito forte que pode ser interpretado como dirigido aos judeus em geral ou aos eunucos e estrangeiros.

17.1. Se for dirigido aos judeus: os vv. soam como um puxão de orelha contra o nacionalismo fechado de Esdras e Neemias, e consequentemente uma violação das cláusulas da Aliança. Em outras palavras: os judeus, ao excluírem os eunucos e estrangeiros, estão violando o compromisso da Aliança com Javé, isto é, o compromisso com o direito e a justiça: "observem o direito e a justiça" diz o versículo 1 (o Lecionário, estranhamente, traz: "cumpri o dever e praticai a justiça").

17.2. Se o apelo for dirigido aos eunucos e estrangeiros, temos, então, a grande novidade: não é necessária a integridade física nem a pertença à raça dos judeus; imprescindível, sim, é o compromisso com o direito e a justiça.

18. Os vv. 6-7 referem-se ao estrangeiro, que, nesse período da história, começa a ser tachado de impuro justamente por causa da religião do puro/impuro. Deus aceita e se agrada com o culto, os holocaustos e sacrifícios que os estrangeiros lhe oferecem – (portanto, não são impuros), – desde que os estrangeiros amem a Javé e observem o sábado sem profaná-lo. Eles serão hospedes felizes na casa de Deus aberta para todos (cf.ap. 21,24-25).

19. Os oráculos do Terceiro Isaías dirigem-se aos habitantes da Judéia, onde reina a desordem social (cf. 56,9-12; 58,1-5). Nessa situação proclama-se a proximidade da salvação (56,1). Deus ajudará pois é justo; mas só pode ajudar se os homens colaborarem e forem justos também para com os seus semelhantes. Nesse contexto fica bem claro o oráculo dos vv. 6-7 sobre a acolhida dos estrangeiros no templo de Jerusalém, no tempo messiânico. O critério da salvação não mais será a descendência judaica, mas a fidelidade à Lei (56,1.6-8)

2ª leitura: Rm. 11,13 –15.29-32

20. Os caps. 9-11 de Romanos tratam da fidelidade de Deus e da incredulidade de Israel. A vida inteira de Paulo foi atormentada pela angústia da rejeição que seus irmãos de carne (judeus) opuseram ao anúncio do Evangelho. Do começo ao fim da vida esforçou-se por anunciar o projeto de Deus aos de sua raça. Em troca, porém, só recebeu rejeições, acusações e muitas vezes perseguição (cf. 2Cor. 11,24ss).

21. Estando em Corinto (ano 56), escreve aos Romanos, fazendo-os partilhar de sua angústia e dor. A rejeição por parte dos judeus criava obstáculos à própria evangelização no meio dos pagãos. De fato, em Roma, cristãos de origem pagã se perguntavam: por que justamente os judeus rejeitaram o Messias? E por que rejeitaram também o Evangelho de Paulo? Não é isso um escândalo? (escândalo = algo que faz tropeçar, desanimar, desistir).

22. Paulo conhece todas essas objeções dos cristãos oriundos do paganismo e se dirige a eles, tentando argumentar a partir de sua experiência missionária em meio aos pagãos, atividade que ele chama de "ministério" (em grego diakonia; 11,13). Evangelizando os pagãos ele espera provocar ciúmes nos judeus, de modo que alguns deles dêem sua adesão a Jesus Cristo. Não que Paulo tenha por princípio provocar ciúmes, mas crê que "Deus escreve direito por linhas tortas".

23. Antes, na carta aos Filipenses, usara o mesmo critério, ao falar dos que evangelizam para provocar ciúmes nele, que está na cadeia (Fl. 1,17s). Rejeitando o Messias (cf. Jo 1,11), sem querer os judeus abriram o caminho para os pagãos (é uma constante em Atos) e Paulo prevê uma "ressurreição" geral, de judeus e não-judeus, provocada pela adesão dos pagãos (v. 15).

24. Sem perder a esperança e ancorado nas promessas irrevogáveis de Deus (v.29), Paulo encerra sua argumentação retomando o tema dos primeiros capítulos da carta: tanto judeus quanto não-judeus foram, em tempos diferentes, desobedientes a Deus (vv. 30-31). A desobediência de ambos ressalta a compaixão divina: "Deus encerrou todos na desobediência, para ser misericordioso com todos" (v. 32).

R e f l e t i n d o

1. Quando os judeus estavam voltando do exílio babilônico, guardavam um trauma e rancor contra os estrangeiros que, durante cinqüenta anos, os tinham reduzido à escravidão e ocuparam suas terras. É nessas circunstancias que Deus lhes faz saber que ele está acima disso e que a sua casa – o templo – será uma casa de oração para todos os povos (1ª leitura).

2. Que a salvação não podia ser reservada só a Israel, também os profetas antigos já o tinham pressentido. De maneira balbuciante expressaram os primeiros traços do universalismo. Mas um universalismo onde (ainda) o templo de Jerusalém está no centro. O templo será casa de oração para todos, mas os estrangeiros serão admitidos se aceitarem os costumes de Israel. Para o tempo do exílio babilônico (quando esta profecia foi proclamada) isso já era muita coisa! Mas Jesus (embora mandado para Israel) estendeu o universalismo a todos que tivessem fé, longe de Jerusalém e seu templo. A "casa de oração para todos os povos" está no coração de cada um.

3. Na 2ª leitura, Paulo vem completar esse universalismo. Judeu de coração vê na realidade, os pagãos tomarem a dianteira dos judeus, no que concerne à fé em Jesus Cristo. A incredulidade dos judeus deu aos pagãos (aos não-judeus) até maiores chances (veja 11,32). Mas um dia, diz Paulo, os judeus também vão entrar…

4. Fortemente apegados às suas tradições, os conterrâneos de Jesus tinham tendência a monopolizar a graça de Deus: queriam-na como privilégio exclusivo. Mas a graça é de graça, ela não pode ser apropriada com exclusividade por ninguém. Ela pode ser dada a todos aqueles que a ela se abrem, e essa abertura se chama fé.

5. Hoje também nós temos tendência a limitar a salvação aos cristãos, aos pertencentes ao nosso grupo. O que não é do nosso grupo não presta…

6. É difícil, mas é imprescindível abandonar de uma vez para sempre, atitudes exclusivistas.

6.1. Deus não é propriedade de ninguém. Aliás, a presença de Deus é sempre gratuita – o nosso Deus é, por essência, amor gratuito! – e se manifesta onde menos esperamos.

6.2. Deus, o nosso Deus, – o meu, o seu, o deles, o Deus verdadeiro, – não está apegado unicamente a alguns, não. Deus ama a todos, protege a todos, salva a todos (leva todos na palma da mão). E isso é lindo: um Deus de amor e misericórdia infinitas capaz de acolher a todos com carinho imenso, ou melhor, infinito! E não se esqueça … ele disse que ia preparar uma morada para todos na sua casa!

7. Nas suas andanças por sua terra natal, Jesus não apenas dominou as forças do mar, mas fez algo bem mais difícil: ultrapassou as fronteiras humanas: fronteiras de raça, de preconceito. A história da Cananéia do evangelho de hoje está cheia de detalhes interessantes. Andando em território pagão, perto de Tiro e Sidon, Jesus encontra uma moradora da região não-israelita, uma "Cananéia". Surpreendentemente (embora inimigos por causa das guerras entre israelitas cananeus) a mulher o chama de "Filho de Davi". Ela está tão angustiada que se humilha a invocar o messias dos israelitas (o Deus do seu inimigo!).

8. E Jesus, usando de uma pedagogia toda sua, insiste num messianismo israelita: "não fui enviado senão às ovelhas perdidas de Israel" (Mt. 15,24). Era verdade. Jesus não fora mandado às nações em geral, mas a um povo pequeno, escolhido por Deus, que tinha a missão de levar a mensagem a todos os povos, uma esperança ilimitada. Ele era o Messias de Israel – Filho de Davi, diz a mulher – e Jesus, em vez de rejeitá-la, dá-lhe razão diante dos discípulos incomodados.

9. E, – ao provocá-la, – Jesus a faz dar um passo a mais na fé: "não ganham os cachorrinhos as migalhas que caem da mesa dos filhos?" Jesus admira sua grande fé e cura sua filha. Ela fez o que Jesus queria: derrubar as fronteiras do messianismo nacionalista de Israel e estendê-lo a todos os povos. Para ultrapassar as fronteiras de Israel era preciso derrubar as fronteiras demarcadas no coração. Provocando a uma fé total e sem fronteiras, Jesus ultrapassa conceitos mesquinhos e nacionalistas, arraigados nos corações.

10. Os discípulos ainda tem muito a aprender. Como no episódio dos pães, em que eles queriam despedir as multidões, aqui também eles querem mandar embora a Cananéia. Interessante!!! Eles – os amigos de Jesus – querem dispensar quem busca o pão. E a mulher se demonstra uma pessoa "de muita fé" (muito mais do que eles). Também para os pagãos há lugar na mesa messiânica (cf. Mt. 9,27: dois cegos gritavam: Filho de Davi tem compaixão de nós; Mt. 10,6 :dirigi-vos antes, às ovelhas perdidas da casa de Israel; Mt. 8,10: em Israel, não achei ninguém que tivesse tal fé; Mt. 8, 13: disse ao centurião: vai!. Como creste, assim te seja feito!).

A mulher Cananéia ensinou que a misericórdia de Deus está para além das fronteiras.

11. Uma ocasião para o amor de Deus! Mais uma. Aliás, sempre é ocasião para o amor de Deus! A insistência da mulher revela a sua profunda fé naquele homem de Deus (estrangeiro e seu inimigo). A sua fé é maior que qualquer obstáculo ou empecilho. E vai ser justamente pela sua fé (e não pela sua insistência e ousadia) que Jesus a vai atender (salva sua filha) e a vai elogiar. Fica bem adequada para essa circunstância a oração do dia: "Ó Deus, preparastes para quem vos ama bens que nossos olhos não podem ver!"

12. Jesus foi capaz de transpor todo e qualquer limite, mesmo que fizesse parte da sagrada tradição judaica, quando se tratava de anunciar o Reino de Deus. O absoluto para Jesus era o amor que Deus, seu Pai, dedicava às suas criaturas ( quaisquer que fossem) . . . amor este, que se exprimia concretamente no cuidado dispensado às pessoas ao seu entorno, beneficiárias do seu ministério. "Aos estrangeiros que aderem ao Senhor… a esses conduzirei ao meu monte santo e os alegarei em minha casa de oração" (Is. 56,6).

13. No dia dos Pais, vale lembrar que agir com justiça é oferecer aos pais idosos uma vida com dignidade, seja do ponto de vista humano, seja do ponto de vista econômico. Assim como, – um dia, – fomos crianças indefesas (-que poderiam morrer se não fosse o amparo dos pais-), agora, na velhice e na doença, eles merecem a nossa atenção redobrada, como forma de gratidão a eles e a Deus, que nos deu a vida.

prof. Ângelo Vitório Zambon

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Uma mesa redonda como o mundo

A chegada a um país estrangeiro implica sempre grandes dificuldades. Quem chega desconhece, geralmente, a língua, os usos e os costumes da nova nação. A comunicação se torna muito difícil. Além disso, em muitas ocasiões, os que vivem no país tendem a olhar o estrangeiro com desconfiança. Pensam que o recém-chegado vem para lhes tomar aquilo que é deles: postos de trabalho, direitos sociais etc. O estrangeiro, o imigrante, é uma ameaça. Por isso, alguns pensam que se lhes deve negar até mesmo os mínimos direitos. Há até mesmo quem chegue a dizer que as fronteiras deveriam ser fechadas para que ninguém mais pudesse entrar.

Jesus era judeu. Viveu toda a sua vida na Judeia e entre judeus. Mas o evangelho de hoje nos relata seu encontro com uma estrangeira. Os cananeus, além de estrangeiros, eram o povo mais odiado e menosprezado pelos judeus. Além disso, Jesus pensava que sua missão era dirigida fundamentalmente aos judeus. Não havia nenhuma razão para fazer alguma coisa por uma Cananéia. Ela insiste e insiste. Está com sua filha muito doente. Jesus compreende a sua necessidade, mas responde que ele foi enviado para os judeus. Mas a mulher insiste: "Até os cães comem as migalhas da mesa de seus senhores". Situa-se, assim, em uma posição de humildade completa e de confiança. E Jesus não pode fazer outra coisa a não ser atender ao pedido da mulher. O próprio Jesus teve que aceitar que a sua missão rompia os limites das fronteiras, raças, culturas e religiões. O amor de Deus dirige-se para toda a humanidade, sem exceção. Ninguém é desprezado por Deus. Todos são chamados para sentar-se à sua mesa. E não como cães, mas como filhos. Abrir fronteiras, abrir corações, e não desprezar ninguém por ser diferente é a grande lição do evangelho deste domingo. Diante de Deus não há ninguém diferente. Todos nós somos necessitados de salvação, de perdão, de reconciliação. E Deus nos senta à sua mesa como filhos que somos, porque nela há lugar para todos. Reconhecer as pessoas que, perto de nós e de muitas maneiras, gritam tal como a cananeia: "Tem compaixão de mim". Acolhê-las e nos compadecermos delas é nossa missão como discípulos de Jesus. Assim vamos preparando, desde já, o grande banquete do Reino para o qual Deus convidou toda a humanidade.

Preocupo-me com as dores e com os problemas daqueles que estão ao meu redor? E com os problemas da sociedade? O que faço para acolher e ajudar os que vivem essas necessidades? Sinto-me irmão de todos os homens e mulheres?

Victor Hugo Oliveira

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A FÉ DA CANANÉIA

Jesus começou suas pregações junto ao povo escolhido por Deus, povo que teve origem nas doze tribos de Israel. Quando Ele atravessa o lago de Genesaré, vai ao encontro do povo pagão e, é entre esse povo que Jesus se encontra no evangelho de hoje, fato que mostra que não está preso às amarras dos preconceitos, mas que veio para salvar a todos.

A mulher que clama por Jesus pertence ao povo cananeu, historicamente inimigo dos israelitas, devido a guerras ocorridas entre esses dois povos no passado. Mas esse fato não a desanima e nem se afasta, mas humilha-se jogando-se aos pés de Jesus e implorando ajuda ao Messias dos israelitas.

São João Crisóstomo escreveu que a mulher perdeu a vergonha de falar com o Senhor, feliz vergonha!

Por isso O segue e vem gritando atrás e se aproxima. A atitude dela abre um novo horizonte. Ao sustentar um diálogo de enfrentamento com Jesus em defesa de si e de outros, ela ultrapassa os preconceitos de gênero, raça, condição social e religiosa, desafiando corajosamente as convenções do seu tempo pelo fato de ser mulher.

São Jerônimo escreve: Note como esta mulher Cananéia está confiante e chama a Jesus de filho de Davi, em seguida Senhor e por último O adora. E por isto não Lhe diz: Roga ou suplica a Deus, mas, 'ó Senhor, ajuda-me'. São louvadas a fé, a humildade e a paciência admiráveis desta mulher. A fé, porque acreditava que o Senhor podia curar sua filha. A paciência, porque fora desprezada muitas vezes e outras tantas

persevera em suas súplicas. A humildade, porque não só se compara aos cachorros, mas aos cachorrinhos, e apenas diz que não merece o pão dos filhos, nem pode tomar seus alimentos, nem sentar-se à mesa com o pai, mas se contenta com o que é dado aos cachorrinhos, a fim de chegar, mediante sua humildade, até a mesa onde se serve o pão inteiro.

No tempo do Antigo Testamento, quando havia rivalidade entre os povos, um povo costumava chamar o outro povo de "cachorro" (1Sm. 17,43). Também nas páginas do Evangelho há muitos povos misturados,

por isso os cachorrinhos significam o povo pagão, e os filhos eram considerados o povo judeu que tinha dificuldade em conviver com os pagãos.

Jesus não atende de imediato ao pedido da mulher, e essa atitude tem dois objetivos: testar até onde vai a fé dela, e por outro lado testar os seus discípulos, para saber até que ponto eles são capazes de superar o preconceito judaico em relação aos estrangeiros, mulheres e doentes, entendendo a extensão da Sua missão que é chegar a todos os povos.

O Pe. Francisco Fernández-Carvajal comenta: Jesus diz à mulher que não se pode tomar o pão dos filhos e dá-lo aos cachorrinhos. Ela considera-se um cachorrinho que se alimenta das migalhas que caem da

mesa do seu Senhor. Reconhece a superioridade do povo escolhido e a sua falta de méritos, mas confia na misericórdia de Cristo, para quem conceder esta graça é como permitir que um cachorrinho coma as migalhas da sua mesa. Com esta argumentação, Jesus não pôde continuar com a sua 'fingida' dureza.

A mulher por insistência e pela fé, por acreditar que Jesus tem o poder de Deus para libertar do mal, foi atendida. Aquela que era considerada impura mostrou-se a mais pura e, nesta região "pagã", Jesus passa a ter mais uma discípula. Ele provocou a mulher e ela não o decepcionou, dando um salto de qualidade que nenhum conterrâneo de Jesus e nem os discípulos foram capazes de dar.

Quem são as ovelhas perdidas?

O encontro com a mulher pagã, como que obrigou Jesus a alargar as dimensões de sua missão. No diálogo tenso com a mulher Cananéia, ele deu a entender que os destinatários de sua missão era o estreito grupo das "ovelhas perdidas da casa de Israel". Sua salvação tinha um destino certo: única e exclusivamente, o povo judeu, povo da predileção divina com o qual Deus havia feito uma aliança. Esta predileção levou à idéia do exclusivismo: só Israel seria objeto da salvação. Jesus também pensava assim.

A Cananéia convenceu-o com um argumento irrefutável: se aos filhos é reservado o pão, pelo menos sobram as migalhas para os cachorrinhos. Nem se importou de comparar-se aos cachorrinhos, à espreita de um pedacinho de pão caído da mesa de seu dono. Existia fé maior do que esta? Este incidente bastou para que Jesus tomasse consciência de que existem muitas ovelhas perdidas, fora da casa de Israel. Assim como viera para os de Israel, era mister acolher indistintamente a quantos dele se aproximavam. Ovelha perdida era qualquer pessoa carente de ajuda, que não tinha com quem contar; era o povo abandonado, espoliado e explorado, largado à mercê dos prepotentes; era o povo marginalizado, sem distinção de raça. Jesus compreendeu que tinha sido enviado para todos. Que os discípulos aprendessem esta lição e deixassem de lado seus preconceitos.

padre Jaldemir Vitório

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A fé da mulher Cananéia

A correta observância da Lei não acontece sem a fé. A fé não vem substituir a Lei ou as obras. Ambas caminham unidas como corpo e alma ou matéria e espírito. Os povos estrangeiros serão abençoados se observarem a Lei de Moisés. A mulher Cananéia alcança a cura de sua filha porque teve fé. Jesus, que veio a Israel, não abriu uma exceção atendendo a mulher pagã. Ela mostrou que tinha fé em Jesus e a fé realizou o que ela queria. Os membros do povo eleito não estão dispensados da fé.

Eles mostram a sua fé quando observam a Lei de Deus. Jesus não nos dispensou dos mandamentos nem das boas obras. Ele resumiu tudo no amor efetivo que temos uns para com os outros. Deus manifesta a sua bondade e sua misericórdia nesse amor prático existente entre nós. Os observantes, que tratarão a Cananéia não como um cachorrinho, mas como um ser humano, serão para ela um estímulo constante, para que sua fé não desfaleça. Quem tem fé sabe, e assim os profetas ensinaram que profanarão o sábado se nele desrespeitarem o próximo. A fé faz ver todas as coisas com luz nova.

Mt. 15,21-28 – Uma mulher que não pertencia ao povo de Israel pediu que Jesus curasse a sua filha que estava muito doente. Ela dizia que a menina estava possuída por um demônio. Essa mulher era estrangeira, de origem pagã. Ela insistia muito em seu pedido, chegando até a gritar. Os discípulos mandavam que ela fosse embora, e Jesus lhe dizia que tinha sido enviado para os judeus. "Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogar aos cachorrinhos". Quando ouviu isso, a mulher não teve dúvida e respondeu: "Os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos". Essa mulher tinha fé, acreditava em Jesus, por isso, naquele momento, sua filha ficou curada.

Is. 56,1.6-7 – Pela boca do profeta Isaías, Deus chama assim o Templo de Jerusalém: da Casa de Oração para todos os povos. Os estrangeiros que praticarem a Lei de Israel poderão participar da salvação e da justiça de Deus que estão prestes a chegar e se manifestar. O texto parece dizer que a salvação é para todos, desde que observem a Lei de Moisés. A ideia não é nova. Deus fez a aliança com Abraão, por meio dele abençoando todos os povos. Mais tarde a bênção parece se restringir à Aliança do Sinai: "Serão abençoados se observarem os mandamentos dados por Moisés". Ao curar a filha da mulher Cananéia, Jesus faz da fé a alma de qualquer observância, estendendo a todos a salvação prometida.

Sl. 66 (67) – Que Deus nos abençoe e todas as nações o glorifiquem. Sua salvação seja conhecida em todos os povos.

Rm. 11,13-15.29-32 – São Paulo tinha grande veneração e respeito para com o seu povo, e desejava de coração que todo o Israel tivesse aceitado Jesus como o Messias prometido. Isso não aconteceu e o resultado foi a reconciliação dada ao mundo pagão. A "desobediência" dos judeus teve como resultado uma abundância de graça para os pagãos. Imaginem, então, diz Paulo, o que acontecerá quando os judeus obedecerem? A realidade, porém, é que todos, judeus e pagãos, estão na desobediência e a misericórdia de Deus se exerce para todos. Assim, judeus e não judeus necessitam igualmente da bondade de Deus.

cônego Celso Pedro da Silva

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Ao querer a libertação da filha, identifica-se com a vontade do Pai

 

Jesus parte para Tiro e Sidônia, cidades gentílicas execradas pela tradição do judaísmo. Conforme o evangelho de Marcos (cf. 10 fev.) Jesus entra em uma casa desta região, o que não era permitido pela tradição de Israel. As viagens de Jesus pela Galiléia e pelos territórios gentílicos vizinhos indicam o caráter da universalidade do Reino por ele anunciado, dirigido a todos os povos, sem fronteiras e sem exclusões. Neste sentido, particularmente, esta cena do evangelho destaca a cura da filha de uma mulher do mundo gentílico por Jesus, a qual entra na casa onde ele se encontrava. Ela é relatada nos evangelhos de Marcos e de Mateus. Mateus, contudo, ampliando-a, transforma-a em um diálogo que realça a exclusividade de Israel. Trata-se de uma adaptação para a sua comunidade formada principalmente por cristãos convertidos do judaísmo. No seu texto Mateus recorre a expressões típicas do judaísmo, estranhas a uma mulher Cananéia: "Senhor", "filho de Davi", "Senhor, socorre-me!" (Sl. 93,18), características de um uso litúrgico nas comunidades cristãs oriundas do judaísmo. A narrativa, tem o sentido de instruir a comunidade no sentido de acolher os cristãos convertidos do mundo gentílico, sem descartar a prioridade de Israel ao chamado de Deus. A frase: "Eu fui enviado somente às ovelhas perdidas da casa de Israel", é exclusiva de Mateus. O apóstolo Paulo também vê o anúncio aos gentios como uma extensão ao anúncio prioritário aos judeus (segunda leitura). A universalidade pretendida no texto do profeta Isaias (primeira leitura), na realidade significava a centralização e o reducionismo do culto de todos os povos ao culto de Israel em Jerusalém, como servos, conforme o direito e a justiça prescritos pela Lei do Templo, com seus holocaustos e oferendas, na observância do repouso sabático. No retorno do Exílio o exclusivismo judaico de manifesta, com Esdras, na sua exclusão das mulheres cananéias (Esd. 9-10), e com Nehemias, na expulsão de Jerusalém de todos aqueles que eram originários de Tiro (Ne. 13,16-21). Embora o texto exprima uma rejeição inicial de Jesus à cura da mulher cananéia, já haviam ocorrido duas curas de gentios por parte de Jesus: a do servo do centurião romano, em Cafarnaum e a do homem possesso na região gentílica de Gerasa. Do ponto de vista de Mateus, tendo em vista sua comunidade de judeus cristãos, o texto é um apelo a que, mantendo seu caráter de povo eleito, se abram à acolhida aos gentios. Contudo, do ponto de vista de Jesus, o texto revela, de maneira mais ampla e abrangente, simplesmente o anúncio da universalidade do Reino. Fica bastante em evidência a acolhida de Jesus por parte dos gentios enquanto os judeus, na sua maioria, o rejeitaram. A expressão final, "como queres te seja feito" lembra a oração do Pai Nosso. Indica que aquela mulher gentílica, ao querer a libertação da filha, identifica-se com a vontade do Pai.

José Raimundo Oliva

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Mulher! Grande é a tua fé...

A liturgia da Palavra deste domingo fala-nos de atitudes do coração de Deus e revela algumas atitudes do nosso coração.

Primeiro, as atitudes do coração de Deus: largueza, misericórdia, providência, fidelidade. Vejamos. O Senhor escolheu Israel para ser o seu povo. Se fôssemos resumir as palavras da Escritura que exprimem isso, poderíamos dizer assim: "Dentre todos os povos da terra, eu te escolhi. Eu serei o teu Deus e tu serás o meu povo, minha propriedade exclusiva!" Eis: Israel foi escolhido gratuitamente pelo Senhor para ser sua herança, sua propriedade exclusiva. Deus amou apaixonadamente Israel! Ora, essa escolha poderia nos fazer pensar numa estreiteza do coração do Senhor, um Deus que escolhe um povo abandonando os demais à própria sorte. Mas, não é verdade! Primeiramente, várias vezes os profetas falam nos desígnios de Deus para os outros povos: o Senhor tem os olhos sobre toda a terra e nada escapa do seu cuidado e do seu carinho, mesmo que ele se tenha revelado somente a Israel. E, mais ainda: a própria escolha de Israel não é somente para o benefício do próprio Israel. Nada disso! Deus escolheu o povo de Israel em vista dos outros povos. Escutemos o que o Senhor afirmou na primeira leitura de hoje: "Aos estrangeiros que aderem ao Senhor, a esses conduzirei ao meu santo monte e os alegrarei em minha casa de oração... Minha casa será chamada casa de oração para todos os povos". A vocação de Israel é como a da cada um de nós: um dom e um serviço; um dom que Deus nos faz livremente, mas para o bem de outros! Foi assim com o povo de Israel: no meio das nações deveria ser um povo sacerdotal, um povo para servir e amar a Deus em nome dos outros povos, até que desse, como fruto maduro, o Messias, Salvador de todos os povos! Nunca esqueçamos isso: desde o início, o desejo de Deus é que todos se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade!

Em Jesus, nosso Senhor, esse desígnio aparece claramente: Deus voltou-se para os pagãos abertamente; eles, que eram não-povo, pela fé em Jesus e aceitação do batismo, são tornados povo de Deus. Somos nós, caríssimos; é a nossa graça! É verdade que Jesus, durante o seu ministério neste mundo, não se dirigiu aos pagãos: ele prega somente em Israel (quando sai da Terra Santa é para descansar ou ensinar aos seus em particular) e diz claramente que não foi enviado a não ser para as ovelhas perdidas da casa de Israel. Depois da ressurreição, sim: ele espera os seus na Galiléia, região considerada misturada com os pagãos e envia seus discípulos pelo mundo inteiro: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura!" Repito: é a nossa graça, é a nossa vez, é o sonho carinhoso do coração largo e generoso de Deus que nos é manifestado!

Mas, como seria errado pensar que Deus, no Antigo Testamento, desprezou e esqueceu os outros povos, é também errado pensar que Deus agora desprezou Israel! Nada disso! Mesmo que o povo d a Antiga Aliança não tenha acolhido Jesus e o tenha entregado aos romanos para crucificarem-no, Deus continua amando Israel; seus dons são sem volta, sua escolha é sem arrependimento. São Paulo diz claramente que "os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis!"

Os cristãos não têm o direito de desprezar Israel! Os primeiros cristãos foram judeus, os apóstolos também; a Virgem Maria era filha do povo de Israel. Nós não compreenderemos nunca porque o povo santo não acolheu o Messias que tanto tinha pedido e esperado! O próprio são Paulo, na segunda leitura de hoje, diz que, pregando aos pagãos, esperava despertar o ciúme de Israel para fazê-lo crer em Jesus. Diz também que foi graças a desobediência de Israel que os discípulos pregaram para os pagãos, fazendo-nos tornar obedientes ao Senhor. Vejam, meus irmãos, todos pecamos – Israel e pagãos -, todos fomos agraciados, todos somos devedores a Deus, todos somos salvos por pura misericórdia do Senhor! O que temos que não tenhamos recebido! Eis os sentimentos do nosso Deus, eis o seu plano, eis o seu amor largo e misericordioso para com todos nós!

Mas, a Palavra de Deus também nos revela hoje algumas atitudes do nosso coração para com Deus. Recordem o Evangelho! Jesus estava descansando na região de Tiro e Sidônia, no atual Líbano. Está fora da Terra Santa, entre os pagãos. Não foi lá pregar, não queria ser reconhecido... Uma mulher cananéia descobre quem ele é e implora a cura de sua filha. Insiste, lamente, teima, perturba. Jesus testa a sua fé, dando-lhe uma resposta duríssima, humilhante mesmo: Não fica bem tirar o pão dos filhos para jogá-lo aos cachorrinhos!" Em outras palavras: não fica bem eu pegar os milagres que vim fazer para os judeus, filhos de Deus pela Lei e dá-lo a vocês, cães pagãos! O que eu faria com uma resposta dessas? O que você faria? Somos tão cheios de sensibilidades e direitos diante de Deus... tão cheios de exigências e melindres... Mas, essa pagã é melhor que nós, que eu, que vocês. Humildemente, ela responde: "É verdade, meu Senhor! Vocês judeus são os filhos; nós somos apenas cachorros que não têm direito ao pão! Mas, recorda, meu Senhor: os cachorrinhos também comem as migalhas que caem da mesa de seus donos!"É impressionante! Jesus foi vencido totalmente, Jesus foi desarmado! "Mulher, grande é a tua fé! Seja feito como tu queres!" Eis, aqui, irmãos, uma mulher pagã que venceu o Senhor pela persistência, pela paciência, pela humildade! Não deveríamos nós ser assim também? Não deveriam ser esses os nossos sentimentos para com o Senhor? Não deveria ser assim a nossa oração de súplica: persistente, paciente e humilde?

Pensemos bem e voltemos para casa com essas lições que revelam o coração de Deus e nos falam dos sentimentos do nosso coração! Amém

dom Henrique Soares da Costa

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Jesus cura a filha da mulher  cananéia

Neste domingo a Palavra de Deus quer levar a Comunidade eucarística a uma atitude de abertura para todos, sem exceção. O Evangelho traduz um problema que se apresentava nas comunidades cristãs a quem se dirigia Mateus: deveriam ou não abrir-se para os não-judeus? Ele apela para a atitude de Jesus, que se retira para a região de Tiro e de Sidônia. Lá, encontra-se com a mulher cananéia, que veio gritando: "Senhor, filho de Davi, tem compaixão de mim". E segue aquela cena tão enternecedora! Jesus parece não dar atenção. Os discípulos querem despedi-la. Jesus declara que não veio senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Finalmente, Jesus atende aos seus rogos em favor da filha: "Mulher, grande é a tua fé. Seja feito como queres". E, a partir daquele momento, sua filha ficou curada. Não só por palavras, mas por sua ação Jesus responde que a salvação veio para todos, sem distinção. Esta universalidade da salvação já fora anunciada por Isaías. O critério para se pertencer ao povo de Deus é a fé e a prática da caridade. O Salmo responsorial também convida todos os povos a louvarem a Deus. Paulo, por sua vez, dedica-se aos gentios, com a esperança de que através deles ele possa atingir também os judeus, herdeiros da promessa. A comunidade eucarística é chamada a imitar o exemplo de Jesus Cristo, bem como o de Paulo.

Trata-se de abrir as portas do coração para todos, especialmente os distantes, os que não crêem, os afastados, os viciados, os pecadores. Sua conversão a Cristo há de revigorar a fé, a esperança e a caridade de seus membros, pois a misericórdia de Deus está se manifestando neles. Esta abertura e acolhimento exige o cultivo do ecumenismo e da missão. Sair do próprio território, deixar-se interrogar pelos de fora, ter compaixão para com eles. Como Jesus, somos chamados a sair de nós mesmos, a ir para outras regiões, a fim de partilhar pela palavra e pelo exemplo. Para isso devemos pedir a graça de reconhecer que a misericórdia de Deus quer atingir a todos igualmente. Que o Senhor nos dê a graça desta abertura.

A liturgia do 20º Domingo do Tempo Comum reflete sobre a universalidade da salvação. Deus ama cada um dos seus filhos e a todos convida para o banquete do Reino.

Na primeira leitura, Jahwéh garante ao seu Povo a chegada de uma nova era, na qual se vai revelar plenamente a salvação de Deus. No entanto, essa salvação não se destina apenas a Israel: destina-se a todos os homens e mulheres que aceitarem o convite para integrar a comunidade do Povo de Deus.

O Evangelho apresenta a realização da profecia do Trito-Isaías, apresentada na primeira leitura deste domingo. Jesus, depois de constatar como os fariseus e os doutores da Lei recusam a sua proposta do Reino, entra numa região pagã e demonstra como os pagãos são dignos de acolher o dom de Deus. Face à grandeza da fé da mulher cananeia, Jesus oferece-lhe essa salvação que Deus prometeu derramar sobre todos os homens e mulheres, sem exceção.

A segunda leitura sugere que a misericórdia de Deus se derrama sobre todos os seus filhos, mesmo sobre aqueles que, como Israel, rejeitam as suas propostas. Deus respeita sempre as opções dos homens; mas não desiste de propor, em todos os momentos e a todos os seus filhos, oportunidades novas de acolher essa salvação que Ele quer oferecer.

1ª Leitura – Is. 56,1.6-7 - Ambiente

A primeira leitura deste domingo faz parte de um bloco de textos a que se convencionou chamar "Trito-Isaías" (cfr. Is. 56-66). Para alguns, são textos de um profeta anônimo, pós-exílico, que exerceu o seu ministério em Jerusalém, entre os retornados da Babilônia, nos anos 537-520 a.C.; para a maioria, trata-se de textos que provêm de uma pluralidade de autores, e que foram redigidos ao longo de um arco de tempo relativamente longo (provavelmente entre os séc. VI e V a.C.). Estamos, em qualquer caso, na época pós-exílica.

Não é uma época fácil. Os retornados estão desiludidos, pois a tarefa da reconstrução apresenta-se demorada e difícil. O país está arruinado, as cidades destruídas e desabitadas, os campos incultos e abandonados. Os ricos bem depressa começam a oprimir os pobres e a esmagar os humildes. Do ponto de vista religioso, o ambiente caracteriza-se pela incompreensão dos planos de Deus, pelo cepticismo e desconfiança, por um culto meramente exterior e pelo retorno às práticas idolátricas. Nesta fase, desempenham um papel fundamental o sacerdote Josué e o governador Zorobabel, responsáveis pelos trabalhos de reconstrução do Templo.

Como é que os regressados a Jerusalém se relacionam, nesta fase, com os outros povos? A resposta não é clara, até porque não conhecemos bem este período da história do Povo de Deus. Alguns textos desta época mostram uma certa abertura à universalidade, sugerindo que o exílio, ao permitir o contacto com outras realidades culturais e religiosas, levou o Povo de Deus a uma certa tolerância para com as outras nações… No entanto, outros textos da época manifestam um fechamento cada vez mais acentuado (além da experiência dramática do exílio, a oposição dos povos vizinhos na altura em que os retornados tentam reconstruir Jerusalém aumenta a desconfiança em relação aos estrangeiros), que culminará na política xenófoba de Esdras e Neemias, na segunda metade do séc. V a.C. (os casamentos mistos entre judeus e estrangeiros são anulados e proibidos – cf. Esd. 9,1-10,44; Ne. 13,23-31).

Não podemos situar exatamente, em termos cronológicos, o texto que nos é proposto. Provavelmente, ele aparece nos primeiros decênios após o exílio, quando a comunidade discute se os eunucos e os estrangeiros devem ou não integrar a comunidade do Povo de Deus (cf. Is 56,3). De qualquer forma, o texto leva-nos coloca-nos, sem dúvida, nesse ambiente – rico de desafios, mas cheio de contradições – da época pós-exílica.

Mensagem

A essa comunidade desiludida e decepcionada, o profeta anuncia que está para chegar um tempo novo. O que caracterizará essa nova era é a presença na comunidade do Povo de Deus da salvação e da justiça.

A comunidade precisa, no entanto, de se preparar para receber o dom de Deus. Como? Guardando o direito e praticando a justiça ("mishpat" e "zedaqa" – as decisões justas dos tribunais, que fundamentam uma reta ordem social). Até aqui, a "promessa" não apresenta nada de verdadeiramente novo. A "justiça" foi pregada e anunciada, vezes sem conta (com estas mesmas palavras ou com outras semelhantes), por todos os profetas de Israel…

A verdadeira novidade aparece a seguir… A salvação que Deus vai oferecer não se destina apenas a Israel, mas também aos estrangeiros. Trata-se de uma espantosa revolução no universo religioso do Povo de Deus.

Para os autores do livro do Deuteronômio, os estrangeiros deveriam ser vencidos e votados à destruição; Israel não podia jamais fazer qualquer pacto, nem aceitar qualquer aliança matrimonial com eles. Os altares dos povos estrangeiros deveriam ser destruídos, os seus monumentos quebrados, os seus postes sagrados cortados, os seus ídolos queimados no fogo. Se Israel não procedesse dessa forma e tolerasse os estrangeiros, a cólera de Jahwéh inflamar-se-ia contra o seu Povo e exterminá-lo-ia rapidamente (cf. Dt. 7,2-5).

Agora, é o próprio Deus que quer oferecer a sua salvação a todos os povos, inclusive aos estrangeiros. O que é necessário aos estrangeiros para entrarem na comunidade do Povo de Deus ("os estrangeiros que desejam unir-se ao Senhor para O servirem, para amarem o seu nome e serem seus servos" – vers. 6)? Duas coisas: "guardarem o sábado, sem o profanarem" e serem "fiéis à Aliança". Serão, então, membros de pleno direito da comunidade do Povo de Deus. Participarão plenamente na vida litúrgica do Povo de Deus e o próprio Jahwéh os conduzirá ao Templo, onde poderão oferecer holocaustos e sacrifícios, como os israelitas. O Templo não será, então, um condomínio fechado a que só Israel tem acesso, mas será a "casa de oração para todos os povos" (esta perspectiva deve ter conhecido uma tal dificuldade para se firmar em Israel que, mesmo na época neo-testamentária, os estrangeiros que visitavam Jerusalém não podiam passar da esplanada exterior do Templo – o "átrio dos gentios" – e em nenhum caso podiam penetrar no "átrio dos israelitas").

Atualização

Também nós vivemos num mundo de contradições. Por um lado, o intercâmbio de ideias, de experiências, de notícias, o contacto fácil, rápido e direto com qualquer pessoa, em qualquer canto do mundo, contribuem para nos abrir horizontes, para nos ensinar o respeito pela diferença, para nos fazer descobrir a riqueza de cada povo e de cada cultura… Por outro lado, o egoísmo, a auto-suficiência, o medo dos conflitos sociais, o sentimento de que um determinado estilo de vida pode estar ameaçado, provocam o racismo e a xenofobia e levam-nos a fechar as portas àqueles que querem cruzar as nossas fronteiras à procura de melhores condições de vida… Não é, evidentemente, uma questão simples e que possa ser objeto de demagogia… No entanto, o nosso Deus convida-nos a abrir o nosso coração à universalidade, à diferença. Os outros homens e mulheres – estrangeiros, diferentes, com outra cor de pele, com outra língua, com outros valores ou com outra religião – são irmãos nossos, que devemos acolher e amar.

A Igreja é a comunidade do Povo de Deus. Todos os seus membros são filhos do mesmo Deus e irmãos em Jesus, embora pertençam a raças diferentes, a culturas diferentes e a extratos sociais diferentes. No entanto: todos são lá acolhidos da mesma forma? O rico e o pobre são sempre tratados da mesma forma nas recepções das nossas igrejas? Aqueles que têm comportamentos considerados social ou religiosamente incorretos são sempre tratados com amor e acolhidos com respeito nas nossas comunidades cristãs, ou são tratados como cristãos de segunda?

2ª leitura – Rm. 11,13-15.29-32 - Ambiente

Continuamos, com Paulo, a refletir a questão posta pela segunda leitura do passado domingo… Israel, apesar de ser o Povo de eleito de Deus e o Povo da Promessa, recusou a salvação que Cristo veio oferecer. Que lhe acontecerá, então? Ficará, devido a essa recusa, à margem da salvação?
Vimos como esse problema afetava Paulo e como o fazia sofrer. Na introdução a esta questão (cf. Rm. 9,1-5), Paulo confessava a sua dor e tristeza ao ver o seu povo obstinado na recusa da vida nova de Deus. Paulo admitia, até, aceitar ser separado – ele próprio – de Cristo, se isso servisse para que o Povo judeu aceitasse a salvação que Deus não desiste de lhe oferecer.

A desilusão e a tristeza de Paulo significarão a convicção de que não há mais saída, que Israel vai manter-se fechado aos dons de Deus e que está, definitivamente, à margem da salvação? Deus terá rejeitado o seu Povo?

De modo nenhum. Paulo vai, aliás, constatar que a questão não está encerrada. Em primeiro lugar, porque uma parte (uma parte pequena, um "resto") de Israel aderiu a Jesus (cf. Rm. 11,1-6) e entrou na comunidade do Reino (o próprio Paulo faz parte desse grupo); em segundo lugar, porque o endurecimento de Israel face à oferta de salvação feita por Deus já estava prevista na Escritura e insere-se, certamente, nos planos de Deus (cf. Rm. 11,7-10). De resto, a recusa de Israel fez com que o Evangelho fosse proposto aos gentios (cf. Rm. 11,11-12). Há males que vêm por bem; Deus escreve direito por linhas tortas…

Mensagem

Entretanto, Paulo continua o seu ministério entre os gentios, com a esperança de que os israelitas sintam ciúmes e acolham os dons de Deus (vers. 13-14). De resto, Paulo está convencido de que, um dia, todo o Israel será salvo. Assim será, não só porque está anunciado na Escritura (cf. Rom. 11,26-27), mas sobretudo porque Deus permanece fiel às suas promessas. Da sua parte, os gentios não têm nada que se sentir superiores aos israelitas. Israel foi chamado por Deus desde os seus inícios e o chamamento de Deus é irrevogável (vers. 29). Os gentios, que antes estavam longe de Deus, agora tiveram acesso à sua graça; e os judeus, que agora se afastaram dos dons de Deus, hão-de também alcançar a graça. Parece enquadrar-se tudo no projeto salvífico de um Deus que permitiu que todos sejam rebeldes, a fim de sobre todos deixar cair a sua misericórdia. E Israel, o Povo eleito, chamado por Deus desde os seus inícios, não pode deixar de ser objeto especial da misericórdia de Deus.

Atualização

Em primeiro lugar, o nosso texto convida-nos a ter sempre presente que a misericórdia de Deus não abandona nenhum dos seus filhos, mesmo aqueles que numa determinada fase da caminhada rejeitam as suas propostas. Deus respeita sempre as opções livres dos homens; mas não desiste de propor oportunidades infindáveis de salvação, que só esperam o "sim" do homem.

Em segundo lugar, o nosso texto sugere que "Deus escreve direito por linhas tortas". Do mal, Ele é sempre capaz de retirar o bem (se os judeus – com a sua mentalidade fechada aos estrangeiros e com a sua mentalidade de que a salvação era uma proposta exclusiva, só a eles destinada – tivessem aderido em massa ao Evangelho, dificilmente teriam aceite que a proposta de salvação se tornasse universal). Aquilo que, muitas vezes, nos parece ilógico e sem sentido, talvez faça parte dos projetos de Deus – projetos que nem sempre conseguimos entender e enquadrar nos nossos esquemas mentais. Temos de aprender a confiar em Deus e na forma como Ele dirige a história, mesmo quando não conseguimos entender os seus projetos.

Em terceiro lugar, o nosso texto convida-nos – implicitamente – a não nos arvorarmos em juízes dos nossos irmãos. Por um lado, porque o comportamento tolerante de Deus nos convida a uma tolerância semelhante; por outro, porque aquilo que nos parece estranho e reprovável pode fazer parte, em última análise, dos projetos de Deus.

Evangelho – Mt. 15,21-28 - Ambiente

Continuamos na secção da "instrução sobre o Reino" (cf. Mt. 13,1-17,27). Depois de apresentar a pregação sobre o Reino em parábolas (cf. Mt. 13,1-52), Mateus descreve a resposta dos interlocutores de Jesus à proposta que lhes foi transmitida (cf. Mt. 14,1-17,27). De uma forma geral, a comunidade judaica responde negativamente ao desafio apresentado por Jesus. Quer os nazarenos (cf. Mt. 13,53-58), quer Herodes (cf. Mt. 14,1-12), quer os escribas, quer os fariseus, quer os saduceus (cf. Mt. 15,1-9; 16,1-4.5-12) recusam embarcar na aventura do Reino. Começa a tornar-se, cada vez mais claro, que a comunidade judaica não está disposta a acolher a proposta de Jesus.

O episódio que nos é proposto é, precisamente, antecedido de um confronto entre Jesus, por um lado, os fariseus e doutores da Lei, por outro, por causa das tradições judaicas (cf. Mt. 15,1-9). Em ruptura com os fariseus e os doutores da Lei, Jesus "retirou-Se dali e foi para os lados de Tiro e de Sídon". A recusa de Israel em acolher a proposta do Reino vai fazer com que a pregação de Jesus se dirija para fora das fronteiras de Israel. A comunidade dos discípulos – esse grupo que escutou atentamente a proposta do Reino e a acolheu – acompanha Jesus.

O episódio narrado no Evangelho deste domingo situa-nos na "região de Tiro e Sídon". Diante de Jesus apresenta-se uma mulher "cananeia". O apelativo "Cananéia" designa, no Antigo Testamento, uma mulher pagã (neste caso, trata-se de uma mulher fenícia, provavelmente residente na região de Tiro e Sídon).

A Fenícia não era, aos olhos dos judeus, uma região "recomendável". De lá tinham vindo, frequentemente, exércitos inimigos; de lá tinham vindo, muitas vezes, influências religiosas nefastas, que afastavam os israelitas da fé em Jahwéh e os levavam a correr atrás dos deuses cananeus. A famosa Jezabel, mulher do rei Acab, que potenciou o culto a Baal e Asserá (meados do séc. IX a.C., na época do profeta Elias) e que tão má memória deixou entre os fiéis a Jahwéh era filha de um rei de Sídon. Não admira, portanto, que os fariseus e doutores da Lei, defensores intransigentes da Lei e da pureza da fé, considerassem os habitantes dessa zona como "cães" (designação que, para os judeus, tinha um sentido altamente pejorativo). O apelo da mulher fenícia vai no sentido de que ela possa, também, ter acesso a essa salvação que Jesus veio propor. Jesus passará por cima dos preconceitos religiosos dos judeus e oferecerá a salvação a esta pagã? Uma mulher fenícia (estrangeira, inimiga, oriunda de uma região com má fama e, ainda por cima, "mulher") merecerá a graça da salvação?

Mensagem

Consideremos, em primeiro lugar, a figura da mulher fenícia… As suas três intervenções mostram, por um lado, a sua ânsia de salvação; e, por outro, a fé firme e convicta que a anima (as designações "filho de David" – que equivale a "Messias" – e "Senhor" – "Kyrios" – com que ela se dirige a Jesus, lidas em contexto cristão, equivalem a uma confissão de fé). É uma figura que nos impressiona pela fé, pela humildade e também pelo sofrimento que transparece no seu apelo. Surpreende-nos depois, numa primeira leitura, a forma dura como Jesus trata esta mulher que pede ajuda. Ele começa por passar em silêncio, aparentemente insensível aos apelos da mulher (v. 23). Depois, perante a insistência dos discípulos, responde: "não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (v. 24). Finalmente, diante do dramático último apelo da mulher ("socorre-me, Senhor"), responde: "não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cães" (v. 26).

Como entender esta atitude rude e insensível do mestre galileu, sempre preocupado em traduzir em gestos concretos o amor e a misericórdia de Deus pelos homens? A reação de Jesus será fruto da convicção de que, de acordo com o plano de Deus, a salvação devia derramar-se, em primeiro lugar, pelos judeus, antes de alcançar os gentios?

A atitude de Jesus faz sentido, se a virmos como uma estratégia pedagógica, destinada a mostrar o sem sentido dos preconceitos judaicos contra os pagãos. Jesus conduziu o jogo de forma a demonstrar como eram ridículas as atitudes de discriminação dos pagãos, propostas pela catequese oficial judaica. Endurecendo progressivamente a sua atitude face ao apelo que lhe foi feito pela "Cananéia", Jesus dá à mulher a possibilidade de demonstrar a firmeza e a convicção da sua fé e prova aos judeus que os pagãos são bem dignos – talvez mais dignos do que esses "santos" membros do Povo de Deus – de se sentar à mesa do Reino. Esta mulher, na sua humildade, nem sequer reivindica equiparar-se a esse Povo eleito, convidado por Deus para o banquete do Reino… Ela está disposta a ficar apenas com "as migalhas" que caem da mesa (v. 27); mas pede insistentemente que lhe permitam ter acesso a essa salvação que Jesus traz. Ao contrário, os fariseus e doutores da Lei, fechados na sua auto-suficiência e nos seus preconceitos, rejeitam continuamente essa salvação que Jesus não cessa de lhes oferecer.
No final de toda esta caminhada de afirmação da "bondade" e do "merecimento" desses pagãos que a teologia oficial de Israel desprezava, Jesus conclui: "Mulher, grande é a tua fé. Faça-se como desejas". A afirmação de Jesus significa: "na verdade tu estás disposta a acolher-Me como o enviado do Pai e a aceitar o pão do Reino, o pão com que Deus mata a fome de vida de todos os seus filhos. Recebe essa salvação que se destina a todos aqueles que têm o coração aberto aos dons de Deus".

É possível que Mateus esteja, nesta catequese, a responder a uma situação concreta da sua comunidade… Nos finais do século primeiro (o Evangelho segundo Mateus aparece durante a década de oitenta), alguns judeo-cristãos ainda tinham dificuldade em aceitar a entrada dos pagãos na Igreja de Jesus. Mateus recorda-lhes, então, que para Jesus o que é decisivo não é a raça, a história, a eleição, mas a adesão firme e convicta à proposta de salvação que, em Jesus, Deus faz aos homens. O texto mostra que a proposta de Jesus é para todos. A comunidade de Jesus é, verdadeiramente, uma comunidade universal. Aquilo que é decisivo, no acesso à salvação, é a fé – isto é, a capacidade de aderir a Jesus e à sua proposta de vida.

Atualização

A primeira questão que o nosso texto põe prende-se com a definição daquilo que é essencial na experiência cristã. Quem é que é cristão? Quem é que pode fazer parte da comunidade de Jesus? A resposta está implícita na história da mulher Cananéia: torna-se membro da comunidade de Jesus quem aceita a sua oferta de salvação, quem acolhe o Reino, adere a Jesus e ao Evangelho. O que é determinante, para integrar a comunidade do Reino, não é a raça, a cor da pele, o local de nascimento, a tradição familiar, a formação acadêmica, a capacidade intelectual, a visibilidade social, o cumprimento de ritos, a recepção de sacramentos, a amizade com o pároco, os serviços prestados à "fábrica da igreja", mas a fé (entendida como adesão a Jesus e à sua proposta de salvação). Para mim, o que é que é ser cristão? O que está no centro da minha experiência cristã é a pessoa de Jesus e a sua proposta de salvação? Em que é que se fundamenta a minha fé?

O exemplo da mulher Cananéia leva-nos a pensar, por contraste, nesses "fariseus e doutores da Lei" que rejeitam a oferta de salvação que Deus lhes faz, em Jesus. Estão cheios de certezas, de convicções firmes, de preconceitos; mas não têm o coração aberto aos desafios que Deus lhes faz… Conhecem bem a Palavra de Deus, têm ideias definidas acerca do que Deus quer ou não quer, são orgulhosos e auto-suficientes porque se consideram um povo santo, eleito de Deus, mas não têm esse coração humilde e simples para acolher a novidade de Deus… Atenção: o verdadeiro crente é aquele que se apresenta diante de Deus numa atitude de humildade e simplicidade, acolhendo com um coração agradecido os dons de Deus e a graça da salvação. O verdadeiro crente não se barrica em certezas imutáveis ou em chavões doutrinais, mas procura descobrir, cada dia, com humildade e simplicidade, a verdade eterna de Deus e as suas propostas para o mundo e para os homens.

Teoricamente, ninguém põe em causa que a Igreja nascida de Jesus seja uma comunidade aberta a todos os homens e mulheres, de todas as raças, culturas, classes sociais, quadrantes políticos… Na prática, será que todos encontram na Igreja um espaço de comunhão, de amor, de fraternidade? Os homens e as mulheres, os casados e os divorciados, os pobres e os ricos, os instruídos e os analfabetos, os conhecidos e os desconhecidos, os bons e os maus, os novos e os velhos, todos são acolhidos na comunidade cristã sem discriminação e todos são convidados a pôr a render, para benefício dos irmãos, os talentos que Deus lhes deu? Independentemente do que os documentos da Igreja dizem, do que o Papa ou os bispos dizem o que é que eu faço para que a minha comunidade cristã seja um espaço de fraternidade, onde todos se sentem acolhidos e amados?

Como a primeira leitura, também o Evangelho sugere uma reflexão sobre a forma como acolhemos o estrangeiro, o irmão diferente, o "outro" que, por razões políticas, econômicas, sociais, laborais, culturais, turísticas, vem ao nosso encontro. Se Deus não discrimina ninguém, mas aceita acolher à sua mesa todos os homens e mulheres, sem distinção, porque não havemos de proceder da mesma forma? Particular cuidado e atenção devem merecer-nos os imigrantes que não falam a nossa língua, que não têm casa, que não têm trabalho, que sentem a ausência da família e dos amigos, que são perseguidos pelas redes que exploram o trabalho escravo… O convite que Deus nos faz é que vejamos em cada pessoa um irmão, independentemente das diferenças de cor da pele, de nacionalidade, de língua ou de valores.

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

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Domingo, 14 de agosto de 2011

20º Domingo do Tempo Comum

São Maximiliano Maria Kolbe, Presbítero e Mártir (Memória)

Outros Santos do Dia: Atanásia de Constantinopla (mãe de família), Demétrio da África (mártir), Eusébio da Palestina (mártir), Eusébio de Roma (mártir), Marcelo de Apamaea (bispo, mártir), Ursício da Nicomédia (mártir), Werenfrido de Arnheim (monge)

Primeira leitura: Isaías 56,1.6-7
Os estrangeiros, eu os conduzirei ao meu monte santo.
Salmo responsorial: Salmo 66(67),2-3.5.6.8 (R. 4)
Que as nações vos glorifiquem, ó Senhor, que todas as nações vos glorifiquem.
Segunda leitura: Romanos 11,13-15.29-32
O dom e o chamado de Deus a Israel são irrevogáveis.
Evangelho: Mateus 15,21-28
Mulher, grande é a tua fé!.

Na volta do exílio, os discípulos de Isaias recuperam os ensinamentos do profeta do século VII e propõem ao novo Israel em processo de formação, que se abra aos valores da universalidade e do ecumenismo. A abertura, contudo, não se baseia no compromisso diplomático nem em uma ilusão quimérica, mas na causa universal da Justiça.

A terceira parte do livro de Isaias propõe que todas as religiões de sua época se reúnam sob a única bandeira do pontificado de Jerusalém, e que o povo que está nascendo depois de cinqüenta anos de exílio seja o aglutinador das aspirações mais legítimas da humanidade. Os discípulos de Isaias estão conscientes do perigo que subjaz no nacionalismo exacerbado.

A unidade étnica, cultural e ideológica de um povo não lhe dá direito a desprezar os demais, sob o pretexto de uma falsa superioridade. Cada povo pode somente ser superior a si mesmo em cada momento da historia. E esta superioridade consiste em transformar todas as decadentes tendências centralizadoras, alienantes e classistas, em uma consciência de suas próprias potencialidades de abertura universalista e de esforço de comunhão.

O novo Templo, como símbolo da esperança e da ressurreição de um povo, devia converter-se em uma instituição que animaria os processos de integração universal. O Templo, como casa de Deus, devia estar aberto aos crentes no Deus da Justiça e do Amor, cuja religião se inspira no respeito pelos mais débeis, na defesa dos excluídos.

Contudo, esta proposta não teve quase nenhuma ressonância e se converteu em um sonho, em uma esperança para o futuro, em uma utopia que impaciente aguarda seu realizador. Quando Jesus expulsa os mercadores do Templo, proclama em voz alta "minha casa será casa de oração", conforme a proposta do livro do profeta Isaias.

O Templo, bem antes que aparecesse Jesus, se havia convertido no centro de operações dos grandes proprietários e o local de deposito dos fundos econômicos de toda a nação. Deixara de ser patrimônio do povo para ser uma cova onde os exploradores colocavam a salvo suas riquezas mal adquiridas.

O enfrentamento com os mercadores tinha por objetivo, não somente reivindicar a sacralidade do espaço, como também e sobretudo, a necessidade de devolver ao Templo sua função como baluarte da justiça e da abertura econômica. Os guardas do templo fechavam a passagem aos crentes de outras nacionalidades, porém abriam as portas aos traficantes que realizavam negócios sujos.

Esse processo de ruptura com a decadência do Templo e com a elite que o manipulava marca o episodio da mulher Cananéia. Jesus se havia retirado para uma região estrangeira, não muito longe da Galiléia. A pressão do poder central impunha fortes limitações à sua atividade missionária. Sua obra a favor dos pobres, enfermos e marginalizados encontrava uma grande resistência, inclusive entre o povo mais simples e entre seus próprios seguidores.

O encontro com a mulher Cananéia, duplamente marginalizada, por sua condição de mulher e por ser estrangeira, transforma todos os paradigmas com os quais Jesus interpretava sua própria missão. A mulher estrangeira rompe todos os esquemas de cortesia e bom gosto que nas sociedades antigas tinham um caráter, não somente indicativo, mas obrigatório.

Existiam regras estritas para controlar o trato entre uma mulher e um homem que não fosse da própria família. Os gritos desesperados da mulher e suas exigências confrontavam, não somente os discípulos, como o próprio evangelista que narra o relato. Contudo, a cena nos comove porque mostra como a autêntica fé ultrapassa todos os esquemas e persegue, com veemência, o objetivo a que se propõe alcançar.

Os discípulos, desesperados, mais pela impaciência do que pela compaixão, se tornam mediadores diante de Jesus para colocar fim às súplicas da mulher. O evangelista, então, coloca nos lábios de Jesus uma resposta típica de um pregador judeu: "Eu fui enviado somente às ovelhas da casa de Israel", parta explicar qual deveria ser a atitude de Jesus. Por sorte, a mulher, deixando de lado os preconceitos raciais alheios, obriga Jesus a dialogar.

Qual não seria a surpresa de Jesus ao encontrar nessa mulher, sozinha e com uma filha enferma, uma fé que contrastava com a incredulidade de seus conterrâneos. Como Elias no inicio de usa missão, Jesus compreende que ainda que a missão comece em casa, não pode excluir aqueles autênticos crentes no Deus da Solidariedade, da Justiça e do Direito.

Por esta razão, sua palavra abandona o pedantismo do discurso nacionalista e acolhe a universal comunhão dos seguidores do Deus da Vida. Paulo, na mesma linha, abandona os esforços inúteis por abrir Israel à esperança profética, aceita a proposta dos crentes de outras nações que estão dispostos a formar novas comunidades abertas, ecumênicas e solidarias.

Em nosso tempo continuamos sem romper com tantos mecanismos que marginalizam e excluem a tantos e autênticos crentes no Deus da Vida, unicamente porque são diferentes de nós por sua nacionalidade, classe social, estado civil ou preferência afetiva. Esperamos que alguma boa mulher nos dê a catequese da misericórdia e da solidariedade.

Pelo que se refere à ação "missionária" dos cristãos, bem sabemos que a letra do texto do evangelho de hoje bem poderia induzir-nos a erro, pois a missão não pode estar centrada em nenhuma classe restritiva de ovelhas, nem as de Israel, nem as do cristianismo, nem muito menos as "católicas". A missão rompeu as fronteiras e somente reconhece como objetivo o reinado do Deus da vida e da Justiça. A missão já não pode ser chauvinista. Só se pode entender a missão senão como "Missão para o Reino", pela Utopia do Reinado do Deus da Vida, que é sempre um Deus inabacavelmente plural em suas manifestações, em suas revelações, em seus caminhos.

ORAÇÃO

Ó Deus de todos os povos, que escolheste e chamaste a todos para que cada um se encontre contigo por seu próprio caminho, o caminho ancestral, através do qual tu nos acompanhas sempre com carinho paterno e proximidade materna. Dá-nos o otimismo da fé que sabe descobrir a presença do Reino e da fé também em homens e mulher de outros Povos que até agora nos pareciam equivocadamente excluídos. Ajuda-nos a tornar nossa a esperança e o otimismo que Jesus nos manifesta no Evangelho. Tudo isto te pedimos, apoiados no exemplo de Jesus, teu Filho e irmão nosso. Amém.

Missionários Claretianos

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