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HOMILIAS PARA O

PRÓXIMO DOMINGO


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sábado, 2 de julho de 2011

Solenidade de são Pedro e são Paulo

 

HOMILIAS PARA O

 PRÓXIMO DOMINGO

03 DE JULHO – 2011

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Comentários – Prof. Fernando

Introdução

Solenidade de são Pedro e são Paulo

 

Neste domingo, celebramos a solenidade de São Pedro e São Paulo. O que podemos destacar destes dois grandes apóstolos, dos testemunhos de cada um deles? Pedro e Paulo são bastante diferentes quanto à personalidade, mas idênticos no amor a Cristo e à Igreja. Ambos dão a vida por Jesus Cristo até o martírio em Roma. Dois santos, podemos dizer, que nunca estão parados. Homens como nós, com tantas fraquezas, medos, capazes de trair, mas que tiveram plena confiança em Jesus. E Jesus aposta tudo neles. Dá sempre uma nova chance a Pedro, e Paulo não se cansa de repetir que se tornou apóstolo somente pela graça.

Falando de Pedro e Paulo, podemos falar da grandeza e santidade que eles representam, mas podemos também falar das suas fraquezas e dos seus pecados, e aí, descobrimos que uma coisa leva à outra, pois é exatamente a bondade e a misericórdia do Senhor que muda o coração deles e os transforma até se tornarem de pecadores a grandes santos e a transformar suas vidas num amor humilde e apaixonado pelo Senhor Jesus.

Pedro demonstrou várias vezes o seu caráter, a sua fraqueza, o seu cansaço para entender o coração de Jesus. Lembremo-nos quando Jesus lhe diz: "afasta-te de mim, Satanás!"; ou quando caminhando sobre as águas, duvida e Jesus lhe diz: "homem de pouca fé!" Mas, sobretudo é humano e fraco no momento da paixão de Jesus. Ele que tinha afirmado: "mesmo que todos os outros te abandonem, eu jamais te abandonarei", é o mesmo que na sua fraqueza nega por três vezes a Jesus, jurando nunca tê-lo visto. Entretanto, é esta pobreza de Pedro que encontra o olhar misericordioso de Jesus e por ele se deixa curar.

Depois da ressurreição, às perguntas repetidas de Jesus se ele o ama, responde: "sim, Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo, tu sabes como te amo". E a sua vida, mesmo em meio às dificuldades e fraquezas, será sempre a demonstração deste amor apaixonado pelo seu Senhor, até a prisão, às viagens, e, finalmente, ao martírio.

Também Paulo, fariseu convicto, fanático, perseguidor ferrenho dos cristãos, colaborador do martírio de Estevão, é transformado por Jesus, e, assim, vive o resto de vida numa missão contínua dirigida aos vários povos que ele pode alcançar. Até o momento no qual pode afirmar: "combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Não me resta outra coisa senão esperar a coroa da justiça que o Senhor, o justo juiz, preparou para mim. O Senhor veio em meu auxílio e me deu forças" (II leitura).

Homens frágeis, pecadores, transformados pela misericórdia do Senhor e pela força do seu Espírito. Deram a vida pelo Senhor e estabeleceram as bases da comunidade cristã, a Igreja, destinada a se espalhar por todo o mundo. Aquela de Pedro e de Paulo é a nossa humanidade resgatada; também nós não devemos nunca ficar desencorajados diante das nossas fraquezas, de nossas dúvidas, de nossa falta de fé, mas sempre renovar o nosso amor ao Senhor.

Dois apóstolos diferentes, colunas fundamentais da Igreja, garantindo a unidade desta. Pedro recebe o carisma, isto é, o dom e a tarefa, de ser referência para a unidade e a comunhão entre os que acreditam em Cristo, através do serviço à Verdade. Pedro é a pedra sobre a qual Cristo quis edificar a sua Igreja, a sua comunidade e a ele confia as chaves do Reino. Paulo recebeu a tarefa de difundir a palavra de Verdade, o Evangelho, até os confins da terra, pregando e fundando comunidades cristãs. São santos que encontram no Papa o continuador e o testemunho da missão de Cristo que continua em meio a nós. No Papa, encontra-se a autoridade de Pedro, chefe visível da Igreja e centro de unidade, e no Papa, encontramos o ardor missionário de Paulo. A festa de hoje nos ajuda a renovar a nossa fé. A fé cristã católica não é simplesmente uma fé em Deus ou em Cristo, mas é fé na Igreja. Dizemos no Credo: "Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica". É na Igreja que nós podemos ter uma relação autêntica com Cristo, único salvador e com Deus, o Pai, que Cristo nos revelou. A solenidade deste domingo nos chama a ser presença ativa, assumindo a nossa responsabilidade na Igreja, para que sejamos sempre mais "comunhão" no interior dela e sejamos sempre mais "missão" no mundo de hoje.

Ao comentário do ano passado como vimos acima, acrescento:

Pedro e Paulo. Simão e Saulo. Dois novos nomes, dois percursos de novidade. Quem encontra Jesus não pode permanecer como era. Porque o Senhor toma aquilo que mais detestamos em nós e nos transforma. A cabeça dura do pescador Simão se faz rocha sobre a qual é construída a Igreja. Disto, ninguém duvida, nem Dan Brown em "Anjos e demônios",quando o professor Langdon, da Universidade de Harvard, encontra-se na frente da basílica de São Pedro e os pensamentos em sua mente neste momento são: "Pedro é a pedra. A fé de Pedro em Deus foi tão firme, que Jesus o chamou de "a pedra", o discípulo sobre cujos ombros Jesus construiria sua Igreja. Neste lugar, pensou Langdon, na colina do Vaticano, Pedro havia sido crucificado e enterrado. Os primeiros cristãos construíram um pequeno santuário sobre o seu túmulo. À medida que o cristianismo se estendeu, o santuário cresceu, passo a passo, até converter-se nesta basílica colossal. Toda a fé católica havia sido levantada, literalmente, sobre são Pedro, a pedra" (Anjos e demônios, cap.118).

A paixão exagerada de Paulo pela lei se transforma em ardor por Jesus Cristo. O que pode unir estas duas figuras tão diferentes? O amor por Jesus Cristo. É Cristo quem coloca os dois em estreita colaboração porque a diversidade de carismas é o que faz crescer.

Em que sentido a trajetória da nossa vida espiritual se identifica com a de Pedro e a de Paulo?

Meus atos dão testemunho de que eu realmente amo a Jesus Cristo?

Meu serviço na minha Igreja local faz crescer a união e o amor na comunidade ou divide-a ainda mais?

padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento - www.pecarlos.blogspot.com

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E vós, quem dizeis que eu sou?"

 

                                                Deus Pai escolheu a Pedro para proclamar que Jesus era o Messias o Filho enviado por Ele, a quem todos esperavam e de quem as Escrituras profetizavam. "Tu és o Messias o Filho do Deus vivo!"  Com esta afirmação Pedro revelou ao mundo o que o Espírito Santo lhe soprava.    Jesus o congratulou, e o considerou feliz por escutar a Palavra do Pai e proclamar a sua verdadeira identidade.  E foi aí, então, que Jesus o conscientizou da sua missão aqui na terra, dando-lhe poder e autoridade para ser o chefe da Sua Igreja.  "Tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja"…Eu te darei as chaves do reino dos céus…"  No nome, a missão!

                                          Ao conferir a Pedro as chaves do reino dos céus, Jesus nos conscientiza de que o reino dos céus começa aqui na terra, na Igreja que Jesus fundou e que tem autoridade para ligar e desligar. Com efeito, todos nós, que pertencemos à Igreja de Jesus Cristo,. Precisamos estar atentos , porque  Jesus hoje, também,  nos indaga: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Para que nós conheçamos quem é Jesus e tudo o que Ele nos deixou como ordem,  precisamos conhecer a Sua Palavra e tê-La como referencial e bússola na nossa caminhada no reino dos céus.  Somos felizes na medida em que também reconhecemos que Jesus é o Filho do Deus vivo e que está no meio de nós. Reflitamos:Quem é Jesus para você? – Você o conhece e sabe o que Ele deixou escrito para que viva feliz? – Você acolhe a Palavra de Jesus em relação ao Chefe da Igreja? – Para você quem tem hoje as chaves do reino dos céus?

Amém

abraço carinhoso da professora

Maria Regina

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"Tu és Pedro que Construirá Minha Igreja" – Claudinei Oliveira

       

Domingo, 03 de julho de 2011.

 

Evangelho – Mt  16, 13-19

 

 

            Jesus distancia para uma região pagã, Cesárea de Fillipe, com seus discípulos e aproveita oportunidade para descobrir pela boca dos próprios seguidores de quem mais ouvia falar como  filho de Deus. "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?". As respostas voltaram-se para os homens do passado como Elias, João Batista, Jeremias ou outros profetas. Ainda não tinha pronunciado o nome de Jesus. Não que Jesus não soubesse disso, mas queria ter certeza de que sua missão ainda não tinha terminado. Afinal, em Cesárea o povo continuava alheio aos princípios do testemunho da verdade de Jesus: aquele que veio  dar nova roupagem no relacionamento entre os homens para que o pecado sucumbisse diante da austeridade da liberdade e da justiça sem distinção de raça ou classe econômica.

            Mas Jesus volta-se para os seus e faz a linda pergunta: "E vós, quem dizeis que eu sou?". Pedro  não hesitou em afirmar que era o grande homem, nascido para reinar entre os pobres "Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo". Pedro, grande amigo de Jesus não estava tentando  ganhar proveito da situação ou para ficar bem na "fita" diante dos colegas. Na verdade foi a força espiritual divina que iluminou Pedro para falar aquelas palavras. Sabia que aquele jovem era diferente e tinha uma proposta de grande valia. Não poderia ter outro homem com tanta sagacidade e veracidade nas suas ações que correspondesse ser filho de Deus. Era mesmo o Messias, de corpo e alma em sua frente, que já tinha provado sua eficácia persuasiva em tantas situações  complexas. Contudo, Jesus olha para Pedro e afirma:

"Feliz és tu, Simão, filho de Jonas,
 porque não foi um ser humano que te revelou isso,
 mas o meu Pai que está no céu.
Por isso eu te digo que tu és Pedro,
e sobre esta pedra construirei a minha Igreja,
e o poder do inferno nunca poderá vencê-la.
Eu te darei as chaves do Reino dos Céus:
tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus;
tudo o que tu desligares na terra
será desligado nos céus".

            São palavras que enaltecem a dedicação e eficiência  de um discípulo corajoso. Que soube dizer sim quando foi chamado para deixar tudo e seguir Jesus para ser "pescadores de homens em outros mares". Agora é chegado a hora de apresentar a cumpricidade entre o desejo de estar ao lado do Filho Homem e ser responsável pela construção da igreja viva, sem mácula e disposta a estar do lado da justiça.

            Nasce o primeiro papa da igreja Católica com o intuito de juntar o povo de Deus sob o mesmo teto e dar a eles a esperança, a comodidade e a retidão de uma vida salvadora. Ser chefe da igreja de Jesus não significa agir como os chefes de Estado: prepotente, autoritário, arbitrário e covarde. Agora tinha em sua mãos a responsabilidade de criar uma atmosfera de perfeita harmonia entre os céus – Deus – e a terra – cristãos mudanos – . Pedro passa ser a referencia para a nova comunidade de novos cristãos, seguidores da Justiça e do amor.

            Pedro tem em suas mãos  o poder de ligar e desligar do Pai celeste aqueles que não cumprirem suas ordens. Mas que ordens são estas? A ordem da justiça. Assim o reino de Deus será feito de Justiça entre os homens. Pois a justiça é sinônimo de paz, harmonia, solidariedade e sobriedade entre o povo de Deus. Aqueles que não aceitarem a viver de acordo com o Santo Evangelho não poderão ganhar a vida eterna, ou seja, terem o prazer de morar na casa do Pai depois de cumprir a vida terrena.

            A comunidade criada por Jesus deve prevalecer das glórias e da vivificação salvadora entre todos. A injustiça atropela o bom andamento da comunidade e da boa convivência. A união entre todos é a presença constante do salvador e, é também a animação da alma para o bem fazer e a realização das  boas ações.

            Agora nas mãos de Pedro esta a chave para abrir as novas portas. A nova caminhada oferecida pelo discípulo Pedro exige dedicação e  coerência. Tudo aquilo que atrapalha a vida consagrada a Deus não terá o carimbo de Pedro para alcançar a salvação. Desse modo a arrogância do homem deve dar espaço para o carinho  e a bondade. Abraçar os irmãos  que sofrem pela opressão e pelo descaso, colocar a serviço do Reino e fazer valer a verdade que salva e da esperança.

            Logo a igreja de Cristo é a igreja do homem solidário que não mede esforço para visualizar as grandes conquistas para o Reino. É uma igreja rica, que acolhe a todos com amor fraterno e ajuda solidificar o desejo ardente de conhecer o Criador. Temos certeza de que morreremos e quando isto acontecer nosso Ser estará preparado para estar nas glórias dos céus. Mas para tanto, devemos preparar nosso futuro em nossa caminhada na igreja verdadeira de Cristo.

            Pedro é o grande espelho que devemos seguir se quisermos ter a mansidão de Deus ao nosso lado. Ele estava preparado para dar a resposta a Jesus afirmando que era o Messias, filho do Deus Vivo. O Espírito Santo estava em seu Ser  para assegurar a cumpricidade deste novo projeto unificador. Seguir a proposta de um jovem que  combatia e denunciava os males entre os homens, deve partir de um sujeito muito determinado que tinha certeza do que estava fazendo. Valeu a pena, pois agora pode chamar para si a responsabilidade de ser o pai da comunidade aqui na terra com a missão de fazer cumprir o projeto de justiça entre os homens.

            Portanto, nesta festa de São Pedro e São Paulo, temos muito em acreditar na Palavra Revelada. São personagens da Igreja de Cristo que souberam amar a Deus e levar a boa notícia para todos. Eles são Santos porque enxergaram no Deus Vivo o caminho para uma vida de paz, amor, retidão e prazerosa. A mensagem ficou para nós, são seus feitos de dedicação. Cabe a nós sairmos do ostracismo  e lutar para termos uma nova comunidade interligada com o Cristo Ressuscitando cheia de vida. Amém.

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Claudinei M. de Oliveira

 Tenha a Paz de Cristo em seu Coração!

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"Exemplos de seguidores do caminho de cristo"

1. Paixão de Pedro, paixão de Jesus

Jesus deixara claro aos discípulos que aceitá-lo como Messias e testemunhá-lo significaria enfrentar e superar conflitos. Mas também deixara claro que é ele quem constrói a comunidade dos que creem e lhe confere o seu próprio poder. No livro dos Atos dos Apóstolos vemos de um lado a comunidade que sofre por causa dos conflitos e perseguições e do outro a experiência concreta da solidariedade de Deus, que a liberta de situações difíceis. Depois do capítulo 12, os Atos praticamente ignoram Pedro. Lucas passa a se preocupar com a dinâmica da evangelização na pessoa de Paulo itinerante.

O capítulo 12 fala de uma comunidade perseguida pelo poder opressor de Herodes Agripa I (neto de Herodes, o grande, aquele dos inocentes), que fere de morte os líderes cristãos (vv. 1-2). Herodes mata por interesses políticos (v. 3a): agradar aos judeus. Nesse clima de perseguição Pedro é posto na prisão pela terceira vez. A intenção de Herodes é apresentá-lo ao povo após a festa da Páscoa (o povo certamente teria pedido a morte de Pedro e, concordando, Herodes se isentava de culpa).

No plano de Lucas o episódio pode se chamar a "páscoa de Pedro" à semelhança da "páscoa de Jesus" (Lc. 22-24). Acontece com Pedro o mesmo que acontecera com Jesus. Há inclusive coincidência de datas: a referência à festa dos pães sem fermento (v. 3 com Lc. 22,1). Assim como o Pai libertou Jesus da morte, o anjo do Senhor liberta Pedro da prisão.

O aparato repressivo de Herodes (dezesseis soldados vigiando, Pedro amarrado com duas correntes, dois soldados amarrados às correntes de Pedro) ressalta: de um lado, o medo da sociedade estabelecida frente a quem luta pela justiça; e, de outro lado, a intervenção maravilhosa de Deus, que imobiliza e rompe as cadeias do poder opressor de modo inesperado. Até o fato de Pedro achar que tudo não passa de uma visão põe em primeiro plano a perfeita solidariedade de Deus para com os seus fiéis.

Face à perseguição que se dirige à alta direção da Igreja, às testemunhas imediatas de Jesus, a resistência da comunidade se dá em forma de fervorosa oração que sobe constantemente a Deus (v. 5) e de confiança de que ele não abandona os que lhe são fiéis. Deus é aquele que liberta continuamente a comunidade dos seus seguidores. Da mesma forma que libertou Jesus da morte, também conduzirá a comunidade através dos conflitos, na continuidade do anúncio do projeto de Deus. E a comunidade, por sua vez, reproduzirá em sua vida a paixão e a páscoa de Jesus, que é uma "paixão" por um mundo novo e libertado.

2. Paixão de Paulo, paixão de Jesus

O trecho pertence ao chamado "testamento de Paulo". Ele está acorrentado, prestes a morrer. E aproveita para fazer uma revisão de sua vida, olhando o passado e olhando o futuro. Para ele, tudo é graça de Deus.

Chegou o momento de dar o grande testemunho. Seu sangue derramado, ele interpreta como sacrifício de valor expiatório: "já fui oferecido em libação" (v.6a). A libação de vinho, água ou óleo era, nos sacrifícios judaicos, derramado sobre a vítima (Ex. 29,40; Nm. 28,7). O sangue, que Paulo irá derramar, fará aumentar e incrementar a evangelização. A partida do apóstolo é descrita como dissolução, ou seja, soltar as velas, permitindo ao barco partir. A morte não é o fim, mas o início da nova viagem. É o último gesto de auto-entrega, a porta de entrada para a meta definitiva. Qual meta? "O Senhor… me levará para o seu Reino eterno" (4,18b).

Olhando o passado, Paulo tem consciência de ter cumprido sua missão de forma exemplar, com garra e constância. Usa o exemplo do soldado: "combati o bom combate", e do atleta que corre no estádio: "terminei minha corrida". Mas o fundamental para ele é ter corrido em vista da evangelização: "guardei a fé!" (v.7).

Olhando para o futuro tem esperança de receber a coroa da justiça. Como o atleta vitorioso recebia a coroa da vitória, Paulo receberá a coroa da justiça, que é símbolo da imortalidade, da vitória, da alegria e da recompensa que Deus, justo juiz, conferirá a ele e a todos os que esperam e lutam com amor para que o projeto de Deus seja conhecido e aceito (v.8)

A seguir relata os últimos acontecimentos de sua vida e o que se passou no tribunal. Como aconteceu com Jesus, também aconteceu com ele: "todos me abandonaram" (cf. Mt. 26,31). Ele não teve advogado de defesa. Prisioneiro sem advogado,… sem amigos,… sem recursos. Contudo, Paulo não se ressente disso, e pede que "isto não lhes seja levado em conta" (v. 16) como Jesus: "Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem" (Lc. 23,24).

O comparecimento de Paulo perante o tribunal é motivo de testemunho "a fim de que a mensagem fosse proclamada e ouvida por todas as nações" (v. 17b; cf. Lc. 21,13). A paixão de Paulo é o prolongamento da paixão de Jesus (cf. Cl. 2,14: "completo em minha carne o que falta nas tribulações de Cristo").

O apóstolo não tem mais esperança de viver, embora sua sentença tenha sido retardada por um pouco de tempo (v. 17c). Contudo, sua esperança se fundamenta – não numa salvação momentânea, – mas na intervenção definitiva de Deus que o levará salvo para o seu Reino (v. 18a). Abandonado por todos, sua única esperança é Jesus. E isso se torna motivo de profunda alegria, que o leva a render graças e a dar glória a Deus enquanto viver (v. 18b).

3. E vós, quem dizeis que eu sou?

Pedagogicamente Jesus leva os discípulos para longe de Jerusalém, centro do poder político, econômico e ideológico. Cesaréia de Filipe é uma espécie de "periferia" e terra que espera um anúncio qualificado acerca de quem é Jesus. Assim, a partir dessa realidade, – longe das influências ideológicas do centro, – é que os discípulos são convidados a dar uma resposta plena de quem é Jesus ( será que hoje nós podemos dizer plenamente quem é Jesus se estivermos comprometidos com os centros de poder?)

Dois momentos do episódio. Primeiro Jesus pergunta o que as pessoas (os outros) dizem dele (v. 13). A diversidade das respostas revela a insuficiência em responder à pergunta "quem é Jesus", qualificando-o mais como um precursor dos tempos messiânicos. A sociedade e as pessoas tem uma visão distorcida de Jesus exatamente por causa da sua humanidade. O título de "Filho do Homem" o situa no chão da vida de todos os mortais, ele é carne e osso como qualquer um de nós. Por isso acontecem as distorções: João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas (v. 14). Eles o situam na tradição profética, não ultrapassam a barreira do antigo, do velho (não há nada de novo ou de boa nova).

Num segundo momento Jesus interpela diretamente os discípulos: "para vocês quem sou eu?" (v. 15). Pedro responde: "Tu és o Messias (o Cristo), o Filho do Deus vivo!"(v. 16). Essa resposta é um dos pontos altos do evangelho de Mateus que tem a preocupação de mostrar Jesus enquanto Emanuel (=Deus conosco) e o Salvador (Jesus = Deus salva – cf.1,25). Jesus é a realização das expectativas messiânicas, o portador da justiça que cria sociedade e história novas. Ele supera, portanto, a barreira do velho e introduz a grande "novidade" (o novo).

Victor Hugo Oliveira

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ELES PLANTARAM A IGREJA

"Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus".

Celebramos hoje a festa das duas colunas da Igreja: são Pedro e são Paulo. Pedro: Simão responde pela fé dos seus irmãos (cf. Evangelho de Mateus 16,13-19). Por isso, Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa sua vocação de ser "pedra", rocha, para que Jesus edifique sobre ele a comunidade daqueles que aderem a ele na fé. Pedro deverá dar firmeza aos seus irmãos (cf. Lc. 22,32). Esta "nomeação" vai acompanhada de uma promessa infalível: as "portas" (que corresponde à cidade, reino) do inferno (o poder do mal, da morte) não poderão nada contra a Santa Igreja de Cristo, que é uma realização do "Reino do Céu" (de Deus). A libertação da prisão ilustra esta promessa na primeira Leitura. Jesus lhe confia também "o poder das chaves", ou seja, o serviço de "mordomo" ou administrador de sua casa, de sua família, de sua comunidade ou cidade. Na medida em que a Igreja é a realização, provisória, parcial, do Reino de Deus, Pedro e seus sucessores, os papas, são administradores dessa parcela do Reino de Deus. Eles têm a última responsabilidade do serviço pastoral. Pedro, sendo aquele que responde "pelos doze", administra ou governa as responsabilidades da evangelização. Pedro recebe, ainda, o poder de ligar e de desligar, o poder de decisão, de obrigar ou deixar livre. Não se trata de um poder ilimitado, mas da responsabilidade pastoral, que concerne à orientação dos fiéis para a vida em Deus, no caminho de Cristo.

Paulo aparece mais na qualidade de fundador carismático da Igreja. Sua vocação se dá na visão de Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, transforma-se em mensageiro de Cristo, "apóstolo", grande pedagogo da missão e da vida de Cristo. É Paulo que realiza, por excelência, a missão dos apóstolos, de serem testemunhas de Cristo até os confins da terra. As cartas a Timóteo, escritas da prisão de Roma, são a prova disto, pois Roma é a capital do mundo, o trampolim para o Evangelho se espalhar por todo o mundo civilizado daquele tempo. Paulo é o apóstolo das nações. No fim da sua vida, pode oferecer uma vida como oferenda adequada a Deus, assim como ele ensinou. Como Pedro, Paulo experimentou Deus como um que liberta da tribulação, conforme nos ensina a segunda leitura.

Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. Os artistas da iconografia católica colocaram as chaves da Igreja em sua mão, para distinguir o seu encargo de possuidor das chaves da salvação. Paulo foi morto decapitado por ser cidadão romano o que impedia de ser crucificado. Os artistas da iconografia católica lhe põem sempre na mão uma espada, além de um livro, para simbolizar as várias epístolas teológicas que legou para a Igreja de Cristo.

Por isso o Evangelho de hoje nos fala da confissão de fé de Pedro e a promessa de Jesus para seu futuro. Jesus apelidara Simão de Cefas, que, em aramaico, significa pedra. O apelido pegara a ponto de todos o chamarem de Simão Pedro ou simplesmente de Pedro. Pedro assim será o fundamento da Igreja, do novo Povo de Deus. A pedra na Bíblia significava e significa a segurança, a solidez e a estabilidade, como régio és meu penedo de salvação. Mas Jesus sabia que, sendo criatura humana, Pedro, por mais fiel que lhe fosse, seria sempre uma criatura fraca. Por isso, se faz de Pedro o fundamento, reserva para si todo o peso e todo o equilíbrio da construção e sem a qual o inteiro edifício viria abaixo.

O simbolismo das chaves é claro. A chave abre e fecha. Possuir a chave significa garantia, propriedade, poder de administrar. Isaías tem uma profecia sobre a derrubada do administrador. Sobe na  sua substituição pelo obscuro empregado Eliaquim. Põe na boca de Deus estas palavras: "Colocarei as chaves da casa de Davi sobre seus ombros: ele abrirá e ninguém fechará, ele fechará e ninguém abrirá" (cf. Is 22,22). O texto aproxima-se muito à promessa de Jesus, até mesmo na escolha de um humilde pescador para administrar a nova casa de Deus. Assim como Eliaquim não se tornou o dono da casa de Davi, também Pedro não será o dono da nova comunidade. O dono continuará sempre sendo o próprio Deus. Em linguagem jurídica, diríamos que Pedro tornou-se o fiduciário de Cristo. O binômio ligar-desligar repete o abrir-fechar das chaves. Pedro recebe o direito e a obrigação de decidir sobre a autenticidade da doutrina e comportamento dos cristãos diante dos ensinamentos de Jesus. Esta missão de todos os Papas, sucessores de Pedro, que bem podem ser definidos como os guardiões da verdade e da caridade. Celebrar são Pedro, para os cristãos, é também celebrar o Papa.

A primeira leitura desta solenidade nos fala da prisão e da libertação de Pedro (cf. At. 12,1-11). Acerca de 43 d.C., Herodes Agripa I manda executar Tiago, filho de Zebedeu. Depois, manda aprisionar Pedro. Mas o "anjo do Senhor" o liberta – como libertou os israelitas do Egito. A comunidade recorreu à arma da oração: é Deus quem age. Ele é o libertador, conforme cantamos no salmo responsorial: "O Senhor me livrou de todas as minhas angústias" (Sl. 34).

A segunda leitura (cf. 2Tm. 4,6-8.17-18) apresenta a oferenda da vida de Paulo. O Apóstolo das Gentes, que sempre trabalhou com as suas próprias mãos, está agrilhoado; na defesa, ninguém o assistiu. Contudo, fala cheio de gratidão e de esperança. "Guardou a fidelidade": a sua e a dos fiéis a ele confiados. Aguarda com confiança o encontro com o Senhor. Ofereceu a sua vida no amor, e o amor não tem fim (cf. 1Cor. 13,8). Seu último ato religioso é a oferenda de sua vida. Mas sua vida está nas mãos de Deus, que a arrebata da boca das feras.

Pedro e Paulo representam duas dimensões da vocação apostólica, diferentes, mas complementares. As duas foram necessárias, para que pudéssemos comemorar hoje os fundadores da Igreja Universal. Esta complementaridade dos carismas de Pedro e Paulo continua atual na Igreja de Cristo hoje: a responsabilidade institucional e criatividade missionária, responsabilidade de todos nós!

padre Wagner Augusto Portugal

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Pedro e Paulo

Celebrando hoje a festa de são Pedro e são Paulo, exaltamos seu exemplo de fidelidade a Jesus Cristo e seu ardoroso testemunho no projeto libertador de Deus.

Na pessoa de Pedro, destaca-se o Pastor das comunidades, aquele que é referência da fé para os irmãos.

Na pessoa de Paulo, aparece mais o líder missionário, que forma comunidades e faz expandir a fé em todas as nações. Pedro recorda mais a instituição... Paulo, o carisma...

As leituras bíblicas nos falam dos dois apóstolos: na 1ª leitura, vemos são Pedro: (At. 12,1-11). Preso pelas autoridades... "para agradar os judeus"... Guardado como "perigoso" por 16 homens... e libertado por Deus... O texto mostra que o testemunho dos discípulos gera oposição e morte.   Mas a oposição não pode calar esse testemunho.

- Mostra uma comunidade cristã unida e solidária, na oração. E Deus escuta a oração da comunidade... Mostra a presença efetiva de Deus na caminhada da Igreja e o cuidado de Deus para os que lhe dão testemunho. O nosso Deus não nos abandona...

Na 2ª leitura vemos são Paulo: (2Tm. 4,6-8.17-18) Também está preso, pela última vez: está ciente da própria condenação. Faz um balanço final de sua vida a serviço do Evangelho:

- "Estou pronto... chegou a minha hora... combati o bom combate ... terminei a corrida... conservei a fé...

- E agora aguardo o prêmio dos justos...

- O Senhor esteve comigo... a ele Glória..."

A própria Morte ele a vê como a Libertação definitiva...

* Suas palavras são um "testamento espiritual" sereno e alegre, consciente do dever cumprido. Modelo de Missionário ardoroso e entusiasta...

No Evangelho, Pedro faz a profissão de fé e recebe o Primado. (Mt. 16,13-19). O texto tem duas partes:

- A primeira de caráter cristológico: centra-se em Cristo e na definição de sua identidade: "Tu é o Cristo, o Filho de Deus Vivo".

- Na segunda de caráter eclesiológico: centra-se na Igreja que Jesus convoca à volta de Pedro: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja".

A base ("rocha") firme sobre a qual vai se assentar a Igreja de Jesus é a fé que Pedro e a Comunidade dos discípulos professaram: a fé em Jesus como o "Messias, Filho de Deus vivo".

Dessa adesão, nasce a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro.

A Pedro e à comunidade dos discípulos é confiado o poder das chaves, isto é, a autoridade para interpretar as palavras de Jesus, às novas necessidades e situações e para acolher ou não novos membros na dos discípulos do Reino.

Pedro torna-se assim uma figura de referência para os primeiros cristãos e desempenha uma papel de primeiro plano na animação da igreja nascente.

+ Pedro e Paulo são figuras gigantescas da Igreja primitiva, que tinha a missão de continuar a obra salvadora de Cristo.

Na Igreja, Pedro recebe poderes para desempenhar a sua missão: por isso, nem o poder do inferno terá vez contra ela. E essa promessa de Cristo não é apenas à pessoa de Pedro.

Se a Igreja deve permanecer, mesmo depois da morte de Pedro, devemos admitir que os poderes concedidos a Pedro, passem também aos seus legítimos sucessores, que são os papas.

Por isso, nesse dia celebramos também o dia do papa, que ainda hoje continua sendo sinal de unidade e de comunhão na fé. O papa é o chefe visível da Igreja na terra. Sua missão é espinhosa, sobretudo hoje, com mudanças rápidas e violentas... com contestações dentro e fora da Igreja.

Como é difícil saber discernir, no meio de tantas turbulências!...

Ele merece o nosso amor... mas que não seja um amor só de palavras, mas um amor concreto...

Rezando por ele, escutando a sua voz e praticando seus ensinamentos.

Relembrando as figuras de são Pedro e são Paulo, perguntemo-nos:

- damos testemunho de Cristo, como eles, no ambiente em que vivemos?

- acreditamos que somos responsáveis pela continuação do Projeto de Deus?

Relembrando a figura do papa, continuemos a nossa oração, pedindo a Deus que lhe dê: muita Luz para apontar sempre o melhor caminho para a Igreja... e muita Força para enfrentar com otimismo e alegria as contestações do mundo moderno.

Graças ao entusiasmo de Paulo, a Igreja avançou no espaço e no tempo. Sejamos continuadores dessa maravilhosa obra inaugurada por Cristo.

padre Antônio Geraldo Dalla Costa

Fé e missão

A missão de liderança confiada a Pedro exigiu dele uma explicitação de sua fé.

Antes de assumir o papel de guia da comunidade, foi preciso deixar claro seu pensamento a respeito de Jesus, de forma a prevenir futuros desvios.

Se tivesse Jesus na conta de um messias puramente humano, correria o risco de transformar a comunidade numa espécie de grupo guerrilheiro, disposto a impor o Reino de Deus a ferro e fogo. A violência seria o caminho escolhido para fazer o Reino acontecer.

Se o considerasse um dos antigos profetas reencarnados, transformaria a Boa-Nova do Reino numa proclamação apocalíptica do fim do mundo, impondo medo e terror. De fato, pensava-se que, no final dos tempos, muitos profetas do passado haveriam de reaparecer.Se a fé de Pedro fosse imprecisa, não sabendo bem a quem havia confiado a sua vida, correria o risco de proclamar uma mensagem insossa, e levar a comunidade a ser como um sal que perdeu seu sabor, ou uma luz posta no lugar indevido.

Só depois que Pedro professou sua fé em Jesus, como o "Messias, o Filho do Deus vivo", foi-lhe confiada a tarefa de ser "pedra" sobre a qual seria construída a comunidade dos discípulos: a sua Igreja. Entre muitos percalços, esse apóstolo deu provas de sua adesão a Jesus, selando o seu testemunho com a própria vida, demonstração suprema de sua fé. Portanto, sua missão foi levada até o fim.

padre Jaldemir Vitório

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Confissão de Pedro

Esta narrativa da "confissão de Pedro" se completa e encontra seu sentido pleno com a narrativa seguinte sobre o primeiro "anúncio da paixão", com o diálogo conflitivo entre Jesus e Pedro. Estas narrativas são encontradas nos três evangelhos sinóticos, Marcos, Mateus, e Lucas, porém com destaques próprios em cada um destes evangelistas.

Marcos, que é o primeiro dos evangelhos canônicos a ser escrito, situa a passagem narrada no momento em que Jesus encerra seu ministério entre os gentios da Galiléia e das regiões vizinhas, iniciando o caminho para Jerusalém, em ambiente de exclusividade judaica, onde se dará o confronto final com os chefes de Israel. Marcos se preocupa em mostrar que Jesus rejeita o título messiânico, indicativo de ambição e poder, afirmando-se como o simples e humilde humano, cheio do amor de Deus e comunicador deste amor que dura para sempre. Um sinal de seu despojamento é a sua vulnerabilidade à morte programada pelos chefes do Templo e das sinagogas. Lucas, por sua vez, despreocupa-se com a situação temporal e geográfica do episódio narrado, colocando-o em um momento de oração de Jesus, e conclui sua narrativa, como Marcos, registrando a rejeição sumária de Jesus ao título messiânico.

No texto de Mateus, acima, encontramos duas de suas características dominantes. Mateus acentua a dimensão messiânica de Jesus e já apresenta sinais da instituição eclesial nascente. Mateus escreve na década de 80, quando os discípulos de Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das sinagogas que até então freqüentavam. Mateus pretende convencer estes discípulos de que em Jesus se realizavam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga tradição de Israel. Daí o acentuado caráter messiânico atribuído a Jesus por Mateus. Os cristãos, afastados das sinagogas, começam a estruturar-se em uma instituição religiosa própria, na qual a figura de referência é Pedro, já martirizado em Roma. Embora no Segundo Testamento se perceba conflitos entre Pedro e Paulo (cf. Gl. 2,11-14), a liturgia os reúne em uma só festa. Pedro é lembrado pelo seu testemunho corajoso diante da perseguição e Paulo, por seu empenho missionário em territórios da diáspora judaica.

José Raimundo Oliva

No mês de junho celebram-se alguns dos santos mais queridos da devoção popular: santo Antônio, são João Batista e são Pedro. São festas marcadas por elementos de sabor folclórico, como as fogueiras, as quadrilhas, as comidas típicas: as festas juninas. A Igreja olha tudo isso com maternal compreensão, dentro daquela linha pedagógica ensinada por Jesus: não apagar a mecha que ainda está fumegando, nem quebrar o caniço que está apenas rachado (cf. Mt. 12,20). Ela sabe que por debaixo dessas manifestações menos "canônicas" há sempre implícito algum traço de fé. E os santos festejados acabam sendo uma espécie de padrinhos da fé, que levam o povo à Igreja nos dias de suas festas.

Mas evidentemente a Igreja espera e deseja resgatar cada vez mais o verdadeiro valor dessas festas, para que apresentem aos fiéis o sentido da vida desses santos na caminhada do Povo de Deus. Agora, por exemplo, estamos celebrando São Pedro - transferido de 29 de junho. Na verdade, a festa é de são Pedro e são Paulo, os dois apóstolos que estão nas raízes da Igreja de Roma e do mundo, como está anunciado no cântico de sua festa, lembrando o martírio dos dois, na perseguição de Nero: "Roma feliz, tornada cor de púrpura - destes heróis no sangue tão fecundo". Mas, por motivos óbvios, prevalece nesta data a homenagem a são Pedro, ficando são Paulo para ser mais festejado no dia de sua conversão, que é 25 de janeiro.

Hoje festejamos, então, são Pedro. Aquele que Jesus constituiu chefe visível da Igreja na terra, quando lhe disse: "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja" (Mt. 16,18); e a quem confiou a guarda universal do rebanho, na aparição à beira do lago de Tiberíades, depois da Ressurreição: "Apascenta as minhas ovelhas ...apascenta os meus cordeiros" (Jo 21,15.16). E é importante conferir no Evangelho e nos Atos dos Apóstolos a indiscutível posição primacial de Pedro entre os Apóstolos. Como - só para dar um exemplo - quando ele convocou a comunidade para escolher um apóstolo que ocupasse o lugar de Judas, o traidor.

E, na festa de são Pedro, a Igreja espontaneamente volta seu olhar para o Papa, o sucessor de Pedro no governo da Igreja. E é uma porfia de orações, "para que o Senhor o conserve, lhe dê longa vida, e o faça feliz na terra, e jamais permita que as forças inimigas prevaleçam contra ele" .E é uma tomada de consciência sobre o sentido da autoridade do Papa na Igreja.

Começa pela figura da "pedra", de que se serviu Jesus, mudando até o nome de "Simão" para "Cefas", palavra hebraica que significa "pedra" , possibilitando o jogo de palavras na fórmula da promessa do primado, que em nossas línguas ocidentais encontra similar em francês, onde "Pierre" é Pedro, e "pierre" é pedra. Pedra é sinônimo de unidade e de firmeza. A autoridade do Papa é como um robusto bloco de granito, que simboliza a firmeza e a unidade da Igreja; e que dá aos fiéis uma profunda sensação de segurança, em face das investidas do erro e da violência. O Papa João Paulo gosta de usar a expressão consagrada pelo Vaticano II: "(Cristo) propôs aos demais apóstolos o bem-aventurado Pedro, e nele instituiu o perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade de fé e comunhão (LG 18/41 a).

Essas duas palavras - fé e comunhão - foram sabiamente escolhidas para definir a natureza da autoridade do Papa. Ela é uma autoridade de fé. Para que se conserve na Igreja sem confusão nem dubiedades a pureza da doutrina que Jesus nos ensinou. É a autoridade de magistério que o Papa exerce na Igreja. Para nossa total confiança. Jesus dissera a Pedro: "Eu roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. E tu, por tua vez, confirma teus irmãos na fé" (Lc. 22,32). Sua palavra é para nós sinal da verdade. Mesmo fora dos casos em que ele declare estar praticando um ato definitivo de pastor e mestre supremo da Igreja - caso em que ele goza pessoalmente da infalibilidade que Cristo prometeu a sua Igreja - sua palavra é sempre luz que guia o Povo de Deus pelo caminho da verdade.

E a sua é uma autoridade de comunhão. Que une a Igreja como uma grande família. O papa é o vigário do amor pastoral de Cristo. Cristo lhe confiou o seu rebanho. E, antes desse gesto de entrega de tão grande poder, quis ouvira declaração de Pedro: "Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo" (Jo 21,29). E nossa obediência ao papa é uma obediência de filhos. Uma obediência de amor. Não a subserviência de bajuladores. Nem mesmo a obediência fria de meros observadores de leis. É a entrega nas mãos da paternidade universal do Santo Padre.

padre Lucas de Paula Almeida, CM

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Pedro e Paulo

 

1º leitura – At. 12,1-11 - AMBIENTE

O texto que nos é hoje proposto encerra praticamente a primeira parte do livro dos Atos dos Apóstolos (a história da expansão do cristianismo dentro das fronteiras palestinas – cf. At. 1-12). Lucas narra, neste texto, uma nova perseguição à Igreja de Jesus.

Esta perseguição é obra de Herodes Agripa I, neto do famoso Herodes, o Grande. O imperador Calígula deu-lhe, por volta do ano 37, os antigos territórios de Filipe (Itureia, Traconítide, Bataneia, Gaulanítide e Auranítide); mais tarde (ano 40), confiou-lhe ainda os antigos territórios de Herodes Antipas (Galileia e Pereia). Depois do assassínio de Calígula, Herodes Agripa prestou vários serviços ao imperador Cláudio, o qual lhe ofereceu o governo da Samaria e da Judeia (ano 41). Assim, Herodes Agripa I reinou praticamente sobre toda a Palestina entre os anos 41 e 44. Morreu subitamente no ano 44, durante uma cerimónia pública.

Herodes Agripa I preocupou-se bastante em não se incompatibilizar com os líderes judaicos. Por isso, foi muito cuidadoso em observar as prescrições da Lei de Moisés (embora essa preocupação tenha sido mais por política do que por convicção: fora do território judaico, Herodes Agripa I vivia à maneira helénica). Foi, provavelmente, com o mesmo objetivo que ele tentou suprimir a "seita cristã", mandando executar Tiago e prendendo Pedro.

Este Tiago de que se fala no nosso texto é o filho de Zebedeu, irmão de João. Tiago era, com toda a certeza, um pregador ativo do Evangelho de Jesus e um membro importante da comunidade cristã de Jerusalém. Com esta morte violenta, Tiago "bebeu do mesmo cálice", conforme lhe foi anunciado pelo próprio Jesus (cf. Mc. 10,38).

Estamos no ano 42.

Esta perseguição atingiu também outros membros da comunidade cristã de Jerusalém. O próprio Pedro foi preso, neste contexto, embora tenha sido, posteriormente, libertado. Os dados avançados por Lucas – no texto que nos é hoje proposto – sobre a prodigiosa libertação de Pedro não devem ser rigorosamente históricos; mas devem ser, sobretudo, uma catequese sobre a forma como Deus cuida da sua Igreja e dos discípulos que dão testemunho da salvação.

MENSAGEM

No Livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas procura mostrar como o plano salvador de Deus para os homens continua a cumprir-se, mesmo depois da partida de Jesus para junto do Pai. Os discípulos de Jesus são agora, no meio do mundo, as testemunhas desse projeto de libertação que Deus ofereceu aos homens através de Jesus Cristo.

Como é que o mundo acolhe o testemunho dos discípulos? Deus deixa as testemunhas do seu projeto de salvação entregues à sua sorte, à mercê da perseguição e da incompreensão do mundo? O texto que nos é proposto como primeira leitura procura responder a estas questões.

1. Os elementos históricos avançados por Lucas sobre a morte de Tiago e a prisão de Pedro, no contexto da perseguição contra a Igreja durante o reinado de Herodes Agripa I (vs. 1-4), mostram como o testemunho do projeto libertador de Deus no mundo gera sempre confronto com as forças da opressão e da morte. Trata-se de uma realidade que não deve deixar os discípulos surpreendidos, pois o próprio Jesus teve que percorrer o caminho da cruz (a indicação de que Pedro foi preso no dia dos

Ázimos e, portanto, muito próximo do dia de Páscoa, pode sugerir uma correspondência com a Páscoa de Jesus: o caminho que Pedro está a seguir é o mesmo caminho do Mestre). Por outro lado, a oposição do mundo não pode nem deve calar o testemunho que os discípulos são chamados a dar.

2. Enquanto Pedro estava na prisão, a Igreja orava por ele (v. 5). A indicação mostra uma comunidade cristã unida, em que os crentes estão próximos e solidários, apesar da distância e das grades da prisão. Por outro lado, o fato de a libertação de Pedro acontecer enquanto a Igreja "orava instantemente a Deus por ele" mostra como Deus escuta a oração da comunidade.

3. A maravilhosa história da libertação de Pedro (vs. 6-11) mostra a presença efetiva de Deus na caminhada da sua Igreja e a solicitude com que Deus cuida daqueles que dão testemunho do seu projeto de salvação no meio dos homens. O relato está construído com elementos maravilhosos e prodigiosos que não são, certamente, de caráter histórico (o aparecimento do "anjo do Senhor", a luz que iluminou a cela da cadeia, a passagem pelos guardas sem que nenhum deles se tivesse apercebido da fuga do prisioneiro, a abertura milagrosa da porta da prisão);

mas pretendem sublinhar a presença de Deus e apor no testemunho dos apóstolos o "selo de garantia" de Deus. Não há dúvida: Deus está com os apóstolos e, diante da oposição do mundo, garante a autenticidade da proposta apresentada por eles.

ATUALIZAÇÃO

· Como cenário de fundo da nossa primeira leitura, está o fato de a comunidade cristã (aqui representada por Pedro) ser uma comunidade que tem como missão dar testemunho do projeto libertador de Deus no meio dos homens. A Igreja que nasce de Jesus não é uma comunidade fechada em si própria, ou que vive apenas de olhos postos no céu à espera que Deus, de forma mágica, renove o mundo; mas é uma comunidade comprometida com a transformação do mundo, que testemunha – com palavras e com gestos concretos – os valores de Jesus, do Evangelho e do mundo novo.

· O nosso texto mostra que o anúncio da proposta de salvação que Deus faz aos homens gera sempre oposição. Essa oposição vem, especialmente, daqueles que querem perpetuar os mecanismos de exploração, de injustiça, de morte; mas também pode vir de quem está comodamente instalado na escravidão e não tem a coragem de questionar as cadeias que o prendem… Em qualquer caso, a oposição traduz-se sempre em atitudes de incompreensão, de desrespeito, ou mesmo de perseguição declarada. Uma Igreja que procura ser fiel ao mandato de Jesus e testemunhar a libertação de Deus ver-se-á sempre confrontada com esta realidade. Todos nós, discípulos de Jesus, chamados a testemunhar a vida de Deus na sociedade, no nosso local de trabalho, na nossa família, conhecemos a oposição, as calúnias, os sarcasmos, a dificuldade em que levem a sério o nosso testemunho… Tal fato não deve preocupar-nos demasiado: é a reação lógica do mundo quando se sente questionado pelos valores de Jesus. Para nós, o que é importante é afirmar, com sinceridade e verticalidade, os valores em que acreditamos.

· A história de Pedro que hoje nos é proposta garante-nos que, nos momentos de perseguição e de oposição, o nosso Deus não nos abandona. Ele será sempre uma presença reconfortante e libertadora ao nosso lado, dando-nos a coragem para continuarmos a nossa missão e para darmos testemunho dos valores do Reino. O cristão não tem medo porque sabe que Deus está com ele e que, por isso, nenhum mal lhe acontecerá.

· A nossa história sugere também a importância da união e da solidariedade da comunidade, sobretudo para com os irmãos que estão longe ou que estão em situações dramáticas de sofrimento. A oração é uma forma de manifestar essa solidariedade e a comunhão que deve unir todos os irmãos, membros da mesma família de fé.

2º leitura – 2 Timóteo 4,6-8.17-18 - AMBIENTE

O Timóteo destinatário desta carta é um cristão nascido em Listra (Ásia Menor), de pai grego e de mãe judeo-cristã. A partir de certa altura, tornou-se um companheiro inseparável de Paulo; foi a ele que Paulo confiou importantes missões e a quem encarregou da responsabilidade pastoral das Igrejas da Ásia Menor. Segundo a tradição, foi o primeiro bispo da comunidade cristã de Éfeso.

É muito duvidoso que seja Paulo o autor desta carta: a linguagem, o estilo e mesmo a doutrina apresentam diferenças consideráveis em relação a outras cartas paulinas; além disso, o contexto eclesial em que esta carta nos situa é mais do final do séc. I ou princípios do séc. II do que da época de Paulo (o grande problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o "conservar a fé", frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).

De qualquer forma, quem escreve a carta refere-se à vida de Paulo como uma vida integralmente preenchida pelo amor a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. Estamos numa época em que as comunidades cristãs se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes e as falsas doutrinas… Ao recordar, desta forma, o exemplo de Paulo, o autor desta carta pretende convidar os crentes em geral (e os animadores das comunidades, em particular) a redescobrirem o entusiasmo por Jesus e pelo testemunho da Boa Nova libertadora que Jesus veio propor aos homens.

MENSAGEM

O autor da carta apresenta-se na pele de Paulo, prisioneiro em Roma; e, nessa pele, faz um balanço final da sua vida e da sua entrega ao serviço do Evangelho.

A vida de Paulo foi, desde o seu encontro com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, uma resposta generosa ao chamamento e um compromisso total com o Evangelho. Por Cristo e pelo Evangelho, Paulo lutou, sofreu, gastou e desgastou a sua vida num dom total, para que a salvação de Deus chegasse a todos os povos da terra.

No final, ele sente-se como um atleta que lutou até ao fim para vencer e está satisfeito com a sua prestação. Resta-lhe receber essa coroa de glória, reservada aos atletas vencedores (e que Paulo sabe não estar reservada apenas a ele, mas também a todos aqueles que lutam com o mesmo denodo e o mesmo entusiasmo pela causa do "Reino").

Para definir a sua vida como dom total a Deus e aos irmãos, Paulo utiliza aqui uma imagem bem sugestiva: a imagem da vítima imolada em sacrifício. Paulo fez da sua vida um dom total, ao serviço do Evangelho; a sua entrega foi um sacrifício cultual a Deus. Agora, para que o sacrifício seja total, só resta coroar a sua entrega com o dom do seu sangue… A referência à oferta "em libação" faz referência aos sacrifícios em que se vertia o vinho sobre o altar, imediatamente antes de ser imolada a vítima sacrificial.

Há duas maneiras de dar a vida por Cristo: uma é gastá-la dia a dia na tarefa de levar a libertação que Cristo veio propor a todos os povos da terra; outra é derramar, de uma vez, o sangue por causa da fé e do testemunho de Cristo… Paulo conheceu as duas modalidades; imitar Paulo é um desafio que o autor da carta a Timóteo faz aos discípulos do seu tempo e de todos os tempos.

Na segunda parte do nosso texto (vs. 16-18), o autor desta carta põe na boca de Paulo o lamento desiludido de um homem cansado que, apesar de ter oferecido a sua vida como dom aos irmãos se sente, no final, votado ao abandono e à solidão… Mas, apesar de tudo, Paulo tem consciência de que Deus esteve a seu lado ao longo da sua caminhada, lhe deu a força de enfrentar as dificuldades, o livrou de todo o mal e lhe dará, no final da caminhada, a vida definitiva. Daí o louvor com que Paulo termina: "glória a Ele por todo o sempre. Ámen". É esta a atitude que o autor da carta pede aos seus irmãos: apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, descubram a presença de Deus, confiem na sua força, mantenham-se fiéis ao Evangelho: assim recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que Deus reserva a quem combateu o bom combate da fé.

ATUALIZAÇÃO

· Paulo foi uma das figuras que marcou, de forma decisiva, a história do cristianismo. Ao olharmos para o seu exemplo, impressiona-nos como o encontro com Cristo marcou a sua vida de forma tão decisiva; espanta-nos como ele se identificou totalmente com Cristo; interpela-nos a forma entusiasmada e convicta como ele anunciou o Evangelho em todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a tortura, a prisão, a morte; questiona-nos a forma como ele quis viver ao jeito de Cristo, num dom total aos irmãos, ao serviço da libertação de todos os homens. Paulo é, verdadeiramente, um modelo e um testemunho que deve interpelar, desafiar e inspirar cada crente.

· O caminho que Paulo percorreu continua a não ser um caminho fácil. Hoje, como ontem, descobrir Jesus e viver de forma coerente o compromisso cristão implica percorrer um caminho de renúncia a valores a que os homens dos nossos dias dão uma importância fundamental; implica ser incompreendido e, algumas vezes, maltratado; implica ser olhado com desconfiança e, algumas vezes, com comiseração… Contudo, à luz do testemunho de Paulo, o caminho cristão vivido com radicalidade é um caminho que vale a pena, pois conduz à vida plena.

· Concordo? É este o caminho que eu me esforço por percorrer? Convém ter sempre presente esse dado fundamental que deu sentido às apostas de Paulo: aquele que escolhe Cristo não está só, ainda que tenha sido abandonado e traído por amigos e conhecidos; o Senhor está a seu lado, dá-lhe força, anima-o e livra-o de todo o mal. Animados por esta certeza, temos medo de quê?

Evangelho – Mateus 16,13-19 - AMBIENTE

O Evangelho deste domingo situa-nos no Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe (na zona da atual Bânias). A cidade tinha sido construída por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto.

O episódio que nos é proposto ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus.

Aparece num momento de viragem, quando começa a perfilar-se no horizonte de Jesus um destino de cruz. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida senão por um pequeno grupo – o grupo dos discípulos.

É, então, que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre Si próprio.

Não se trata, tanto, de medir a sua quota de popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.

O relato de Mateus é um pouco diferente do relato do mesmo episódio feito por outros evangelistas (nomeadamente Marcos – cf. Mc. 8,27-30). Mateus remodelou e ampliou o texto de Marcos, acrescentando a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus e a missão confiada a Pedro.

MENSAGEM

O nosso texto pode dividir-se em duas partes. A primeira, de caráter mais cristológico, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda, de caráter mais eclesiológico, centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.

Na primeira parte (vs. 13-16), Jesus interroga duplamente os discípulos: acerca do que as pessoas dizem d'Ele e acerca do que os próprios discípulos pensam.

A opinião dos "homens" vê Jesus em continuidade com o passado ("João Baptista", "Elias", "Jeremias" ou "algum dos profetas"). Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso. Na perspectiva dos "homens", Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d'Ele (vs. 13-14). É muito, mas não é o suficiente: significa que os "homens" não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.

A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (v. 16). Nestes dois títulos, resume-se a fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é "o Cristo" (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não é apenas o Messias: é também o "Filho de Deus". No Antigo Testamento, a expressão "Filho de Deus" é aplicada aos anjos (cf. Dt. 32,8; Sal. 29,1; 89,7; Job. 1,6), ao Povo eleito (cf. Ex. 4,22; Os 11,1; Jer. 3,19), aos vários membros do Povo de Deus (cf. Dt. 14,1-2; Is. 1,2; 30,1.9; Jer. 3,14), ao rei (cf. 2 Sm. 7,14) e ao Messias/rei da linhagem de David (cf. Sal. 2,7; 89,27). Designa a condição de alguém que tem uma relação particular com Deus, a quem Deus elegeu e a quem Deus confiou uma missão. Definir Jesus como o "Filho de Deus" significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai e que Jesus conhece e realiza os projetos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.

Na segunda parte (vs. 17-19), temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro (isto é, a comunidade) pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus ("não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus" – v. 17). Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos "pobres", dos "simples", abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas de Deus (esses "pobres" e "simples" estão em contraposição com os líderes – fariseus, doutores da Lei, escribas – instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, incapazes de abrir o coração aos desafios de Deus).

O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é "a rocha" (o nome "Pedro" é a tradução grega do hebraico "Kephâ" – "rocha") sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está, portanto, a afirmar que a base firme e inamovível, sobre a qual vai assentar a Ekklesia de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.

Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe "as chaves do Reino dos céus" e o poder de "ligar e desligar". Aquele que detém as chaves, no mundo bíblico, é o "administrador do palácio"… Ora o "administrador do palácio", entre outras coisas, administrava os bens do soberano, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano… Por outro lado, a expressão "atar e desatar" designava, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou re-introduzir alguém na comunidade do Povo de Deus. Assim, Jesus nomeia Pedro para "administrador" e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (atenção: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).

Trata-se, aqui, de confiar a um homem (Pedro) um primado, um papel de liderança absoluta (o poder das chaves, o poder de ligar e desligar) da comunidade dos discípulos? Ou Pedro é, aqui, um discípulo que dá voz a todos aqueles que acreditam em Jesus e que representa a comunidade dos discípulos? É difícil, a partir deste texto, fazer afirmações concludentes e definitivas. O poder de "ligar e desligar", por exemplo, aparece noutro contexto, confiado à totalidade da comunidade e não a Pedro em exclusivo (cf. Mt. 18,18). Provavelmente, o mais correto é ver em Pedro o protótipo do discípulo; nele, está representada essa comunidade que se reúne em volta de Jesus e que proclama a sua fé em Jesus como o "Messias" e o "Filho de Deus". É a essa comunidade, representada por Pedro, que Jesus confia as chaves do Reino e o poder de acolher ou excluir. Isso não invalida que Pedro fosse uma figura de referência para os primeiros cristãos e que desempenhasse um papel de primeiro plano na animação da Igreja nascente, sobretudo nas comunidades da Síria (as comunidades a que o Evangelho de Mateus se destina).

ATUALIZAÇÃO

· Quem é Jesus? O que é que "os homens" dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável "mestre" de moral, que tinha uma proposta de vida "interessante", mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenômeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingênuo e inconseqüente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o "statu quo". Estas visões apresentam Jesus como "um homem" – embora "um homem" excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um "homem" que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?

Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que "um homem". Ele foi e é "o Messias, o Filho de Deus vivo". Definir Jesus dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é, apenas, uma proposta de "um homem" bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o "homem bom" e o "Messias, Filho de Deus", é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.

· "E vós, quem dizeis que Eu sou?" É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para O seguir… Quem é Cristo para mim?

· É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como "o Messias, o Filho de Deus". Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?

· A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do "Messias, Filho de Deus"; mas existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão "profética" e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contatamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?

· A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.

p. Joaquim Garrido, p. Manuel Barbosa, p. José Ornelas Carvalho

Três amores irrenunciáveis: eucaristia, Maria, papa

Pedro e Paulo emergem como anunciadores do Evangelho aos povos, fundadores de comunidades cristãs e testemunhas de Cristo até ao martírio. A festa de hoje associa-os na fé em Cristo e na fundação da Igreja de Roma. Com uma atenção privilegiada de alto valor teológico, o autor dos Atos evidencia a sintonia entre Pedro na prisão e a comunidade cristã (1ª leitura): "Da Igreja subia incessantemente a Deus uma oração por ele" (v. 5). A libertação milagrosa de Pedro do cárcere na Palestina deixa-o livre para outros horizontes missionários. Paulo, no cárcere, faz um balanço da sua vida (2ª leitura), agradece a Deus que ficou sempre perto dele e lhe deu a força para poder "completar o anúncio do Evangelho e para que todos os povos o aceitassem" (v. 17).

O serviço missionário de Pedro, dos apóstolos e de cada cristão afunda necessariamente as suas raízes na experiência vivida de um chamamento e de uma resposta de amor. "Dei bem em quem pus a minha confiança", afirma Paulo sem hesitar (2Tim. 1,12). Pedro cresce progressivamente na confiança e o abandono ao seu Mestre. Em Cesaréia de Filipe (Evangelho) é claro que a gente colocava Jesus ao nível de um dos profetas de Israel (v. 13-14); o que já se aproxima da sua verdade, mas ainda ao nível do espetacular, fixados no passado. Pedro passa além da opinião corrente, a ponto de acolher a novidade  de Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo" (v. 16). Uma tal resposta supera o entendimento humano (a carne e o sangue), porque é fruto de uma revelação que vem do Pai (v. 17). Jesus, então, naquele clima de abertura, revela a Pedro e aos outros discípulos o seu projeto para uma nova comunidade: a sua Igreja, que durará nos séculos (v. 18). Depois da crise da paixão, a confiança de Pedro em Cristo será total: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo" (Jo 21,17).

Apesar das dificuldades históricas e das resistências oposta a estes textos de Mateus e de João, o plano de Jesus a respeito da sua Igreja subsiste no tempo, segundo a interpretação católica tradicional das três metáforas: a pedra (v. 18), as chaves (v. 19), o binômio ligar-desligar (v. 19), que se completam na entrega post-pascal a Pedro do serviço de apascentar, no amor, no povo da nova aliança (cf. Jo 21,15s). Porém, nem toda a autoridade é boa para o povo. Segundo Jesus, que é "o Senhor e o Mestre" (Jo 13,14), que "não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida" (Mt. 20,28), a autoridade (as chaves) é dada a Pedro e à Igreja para um serviço ao povo de Deus numa diaconia de amor sem fim.

O Concílio apresenta-nos a dimensão teológica e missionária deste projeto: "Em todos os tempos e em todas as nações é bem aceite a Deus quem o teme e opera a justiça (cf. Atos 10,35). Todavia, Deus quer santificar e salvar os homens não individualmente e sem ligação entre eles, mas quis constitui-los como um povo" (LG 9). De fato, "A Igreja peregrina é missionário por sua própria natureza" (AG 2). Porque "ela existe para evangelizar" (EN 14). Não é marginal o fato que Jesus fale deste seu projeto encontrando-se num território pagão (região de Cesaréia de Filipe), num contexto geográfico semelhante ao da mulher cananeia: estes dois fatos narrados por Mateus revelam o caráter universal da missão de Cristo e da Igreja.

Quanto mais ampla é a autoridade tanto mais intenso deve ser o amor, generoso o serviço, aberto o acolhimento, plural a capacidade de harmonizar dons diferentes. O bispo Tonino Bello, de Molfetta (+ 1993) aspirava à "convivialidade das diferenças". E o papa Bento XVI, ao lado do túmulo do dom Tonino Bello, recorda os apóstolos Pedro e Paulo, que foram pescados por Cristo para se tornarem por sua vez pescadores, fala, significativamente, da "comunhão das diversidades".

A festa dos dois apóstolos e o dia do Santo Padre recordam-nos o tema da pertença à Igreja. Em 30 anos de vida missionária na África e na América Latina, convenci-me que temos três elementos típicos no identikit do católico, que o caracterizam neste mundo religioso um pouco confuso do nosso tempo, identificando-o perante ele mesmo, perante os não cristãos e perante outros grupos cristãos (protestantes, ortodoxos, anglicanos...). São estes os valores: a fé na eucaristia, a devoção a Nossa Senhora, o amor ao papa. São três amores irrenunciáveis que enchem de alegria e dão consistência à vida e à missão do cristão católico no mundo inteiro.

"O Pescador, pescado por Jesus, lançou as suas redes até aqui, e nós hoje agradecemos por termos sido objetos desta pesca milagrosa, que dura desde há dois mil anos, uma pesca que, como escreve o próprio São Pedro, "nos chamou das trevas à luz admirável [de Deus]" (1Pd. 2,9). Para sermos pescadores com Cristo é preciso antes sermos pescados por Ele. São Pedro é testemunha desta realidade, como o é são Paulo, grande convertido, de quem (celebramos) o bimilenario do nascimento. Como sucessor de Pedro e Bispo da Igreja fundada sobre o sangue destes dói eminentes Apóstolos, vim confirmar a vossa fé em Cristo... A Igreja não tem confins, é universal. E os confins geográficos, culturais, étnicos, e mesmo os confins religiosos são para a Igreja um convite à evangelização na perspectiva da comunhão das diversidade". (Benedetto XVI – Homilia em Santa Maria de Leuca (Brindisi), 14 de junho de 2008) "Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus".

Estas palavras que o missal propõe como antífona de entrada desta solenidade, resumem admiravelmente o significado de são Pedro e são Paulo. A Igreja chama a ambos de "corifeus", isto é líderes, chefes, colunas. E eles o são.

Primeiramente, porque são apóstolos. Isto é, são testemunhas do Cristo morto e ressuscitado. Sua pregação plantou a Igreja, que vive do testemunho que eles deram. Pedro, discípulo da primeira hora, seguiu Jesus nos dias de sua pregação, recebeu do Senhor o nome de Pedra e foi colocado à frente do colégio dos Doze e de todos os discípulos de Cristo. Generoso e ao mesmo tempo frágil, chegou a negar o Mestre e, após a ressurreição, teve confirmada a missão de apascentar o rebanho de Cristo. Pregou o Evangelho e deu seu último testemunho em Roma, onde foi crucificado sob o imperador Nero. Paulo não conhecera Jesus segundo a carne. Foi perseguidor ferrenho dos cristãos, até ser alcançado pelo Senhor ressuscitado na estrada de Damasco. Jesus o fez se apóstolo. Pregou o Evangelho incansavelmente pelas principais cidades do império romano e fundou inúmeras igrejas. Combateu ardentemente pela fidelidade à novidade cristã, separando a Igreja da sinagoga. Por fim, foi preso e decapitado em Roma, sob o imperador Nero.

O que nos encanta nestes gigantes da fé não é somente o fruto de sua obra, tão fecunda. Encanta-nos igualmente a fidelidade à missão. As palavras de Paulo servem também para Pedro: "Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé". Ambos foram perseverantes e generosos na missão que o Senhor lhes confiara: entre provações e lágrimas, eles fielmente plantaram a Igreja de Cristo, como pastores solícitos pelo rebanho, buscando não o próprio interesse, mas o de Jesus Cristo. Não largaram o arado, não olharam para trás, não desanimaram no caminho... Ambos experimentaram também, dia após dia, a presença e o socorro do Senhor. Paulo, como Pedro, pôde dizer: "Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar..."

Ambos viveram profundamente o que pregaram: pregaram o Cristo com a palavra e a vida, tudo dando por Cristo. Pedro disse com acerto: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo"; Paulo exclamou com verdade: "Para mim, viver é Cristo. Minha vida presente na carne, eu a vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim". Dois homens, um amor apaixonado: Jesus Cristo! Duas vidas, um só ideal: anunciar Jesus Cristo! Em Jesus eles apostaram tudo; por Jesus, gastaram a própria vida; da loucura da cruz e da esperança da ressurreição de Jesus, eles fizeram seu tesouro e seu critério de vida.

Finalmente, ambos derramaram o sangue pelo Senhor: "Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus". Eis a maior de todas a honras e de todas as glórias de Pedro e de Paulo: beberam o cálice do Senhor, participando dos seus sofrimentos, unido a ele suas vidas até o martírio em Roma, para serem herdeiros de sua glória. Eis por que eles são modelo para todos os cristãos; eis por que celebramos hoje, com alegria e solenidade o seu glorioso martírio junto ao altar de Deus! Que eles intercedam por nós na glória de Cristo, para que sejamos fiéis como eles foram.

Hoje também, nossos olhos e corações voltam-se para a Igreja de Roma, aquela que foi regada com o sangue dos bem-aventurados Pedro e Paulo, aquela, que guarda seus túmulos, aquela, que é e será sempre a Igreja de Pedro. Nós sabemos que ela é a esposa do Cordeiro, imagem da Jerusalém celeste. Conhecemos e veneramos o ministério que o Senhor Jesus confiou a Pedro e seus sucessores em benefício de toda a Igreja: ser o pastor de todo o rebanho de Cristo e a primeira testemunha da verdadeira fé naquele que é o "Cristo, Filho do Deus vivo". Sabemos com certeza de fé que a missão de Pedro perdura nos seus sucessores em Roma. Hoje, a missão de Pedro é exercida por Bento XVI. Ao santo Padre, nossa adesão filial, por fidelidade a Jesus, que o constituiu pastor do rebanho. Não esqueçamos: o papa será sempre, para nós, o referencial seguro da comunhão na verdadeira fé apostólica e na unidade da Igreja de Cristo. Quando surgem, como ervas daninhas, tantas e tantas seitas cristãs e pseudo-cristãs, nossa comunhão com Pedro é garantia de permanência seguríssima na verdadeira fé. Quando o mundo já não mais se constrói nem se regula pelos critérios do Evangelho, a palavra segura de Pedro é, para nós, uma referência segura daquilo que é ou não é conforme o Evangelho.

Rezemos, hoje, pelo nosso santo Padre, Bento. Que Deus lhe conceda saúde de alma e de corpo, firmeza na fé, constância na caridade e uma esperança invencível. E a nós, o Senhor, por misericórdia, conceda permanecer fiéis até a morte na profissão da fé católica, a fé de Pedro e de Paulo, pala qual, em nome de Jesus, "Cristo Filho do Deus vivo", os santos apóstolos derramaram o próprio sangue.

Ao Senhor, que é admirável nos seus santos e nos dá a força para o martírio, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

Solenidade de são Pedro e são Paulo

Hoje celebramos o glorioso martírio dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, aqueles "santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus". Pedro, aquele a quem o Senhor constituiu como fundamento da unidade visível da sua Igreja e a quem concedeu as chaves do Reino; Paulo, chamado para ser apóstolo de um modo único e especial, tornou-se o Doutor das nações pagãs, levando o Evangelho aos povos que viviam nas trevas. Um pela cruz e o outro pela espada, deram o testemunho perfeito de Cristo, derramando seu sangue e entregando a vida em Roma, por volta do ano 67 da nossa era.

Esta solenidade hodierna dá-nos a oportunidade para algumas ponderações importantes.

A Igreja é apostólica. Esta é uma sua propriedade essencial. João, no Apocalipse, vê a Jerusalém celeste fundada sobre doze alicerces com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (cf. 21,14). Eis: a Igreja não pode ser fundada por ninguém, a não ser pelo próprio Senhor, que a estabeleceu sobre o testemunho daqueles Doze primeiros que ele mesmo escolheu. Seu alicerce, portanto, sua origem, seu fundamento são o ministério e a pregação apostólicas que, na força do Espírito Santo, deverão perdurar até o fim dos tempos graças à sucessão apostólica dos bispos católicos, transmitida na consagração episcopal. Dizer que nossa fé é apostólica significa crer firmemente que a fé não pode ser inventada nem tampouco deixada ao bel-prazer das modas de cada época; crer que a Igreja tem como fundamento os apóstolos significa afirmar que não somos nós, mas o Cristo no Espírito Santo, quem pastoreia e santifica a Igreja pelo ministério dos legítimos sucessores dos apóstolos. O critério daquilo que cremos, a regra da nossa adesão ao Senhor Jesus, a norma da nossa fé é aquilo que recebemos dos santos apóstolos uma vez para sempre. Só a eles e aos seus legítimos sucessores o Senhor confiou a sua Igreja, concedendo-lhes a autoridade com a unção do Espírito para desempenharem o ofício de guiar o seu rebanho pelos séculos a fora. Olhemos para Pedro e Paulo e renovemos nosso firme propósito de nos manter alicerçados na fé católica e apostólica que eles plantaram juntamente com os demais discípulos do Senhor. Hoje, quando surgem tantas comunidades cristãs que se auto-intitulam "igrejas" e se auto-denominam "apostólicas", estejamos atentos para não perder a comunhão com a verdadeira fé, transmitida de modo ininterrupto e fiel na única Igreja de Cristo, santa, católica e apostólica.

Um outro aspecto importante é o significado de ser apóstolo: ele não é somente aquele que prega Jesus, mas, sobretudo, aquele que, escolhido pelo Senhor, com ele conviveu, nele viveu e, por ele, entregou sua vida. Os apóstolos testemunharam Jesus não somente com a palavra, mas também com o modo de viver e com a própria morte. Por isso mesmo, seu martírio é uma festa para a Igreja, pois é o selo de tudo quanto anunciaram. O próprio são Paulo reconhecia: "Não pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor. Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila para que esse incomparável poder seja de Deus e não nosso. Incessantemente trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo. Assim, a morte trabalha em nós; a vida, porém, em vós" (2Cor. 4,5.7.10.12). Eis o sinal do verdadeiro apóstolo: dar a vida pelo rebanho, com Jesus e como Jesus, gastando-se, morrendo, pra que os irmãos vivam no Senhor! Por isso a alegria da Igreja na festa de hoje: Pedro e Paulo não só falaram, não só viveram, mas também morreram pelo seu Senhor; e já sabemos pelo próprio Cristo-Deus que não há maior prova de amor que dá a vida por quem amamos! Bem-aventurado é Pedro, bendito é Paulo, que amaram tanto o Senhor a ponto de darem a vida por ele! Nisto são um exemplo, um modelo, uma norma de vida para todos nós. Aprendamos com eles!

Um terceiro aspecto que hoje podemos considerar é a ação fecunda da graça de Cristo na vida dos seus servos. O exemplo de Pedro, o exemplo de Paulo servem muito bem para nós. Bento XVI, ao ser eleito, afirmou humildemente que se consolava com o fato de Deus saber trabalhar com instrumentos insuficientes: quem era Simão, chamado Pedro? Um pescador sincero, mas rude, impulsivo e de temperamento movediço. No entanto, foi fiel à graça, e tornou-se Pedra sólida da Igreja, tão apegado ao seu Senhor, a ponto de exclamar, cheio de tímida humildade: "Senhor tu sabes tudo; tu sabes que te amo" (Jo 21,17). Quem era Saulo de Tarso, chamado Paulo? Um douto, mas teimoso e radical fariseu, inimigo de Cristo. Tendo sido fiel à graça, tornou-se o grande Apóstolo de Jesus Cristo, tão apaixonado pelo seu Senhor, a ponto de nos desafiar: "Sede meus imitadores como eu sou de Cristo!" (1Cor 11,1). Eis, caros meus, abramo-nos também nós à graça que o Senhor nos concede para a edificação da sua obra, para a construção do seu Reino, e digamos como são Paulo: "Pela graça de Deus sou o que sou, e sua graça em mim não foi em vão" (1Cor. 15,10).

Ainda um derradeiro aspecto, amados no Senhor. Nesta hodierna solenidade somos chamados a refletir sobre o ministério de Pedro na Igreja. Simão por natureza foi feito Pedro pela graça. Pedro quer dizer pedra. Eis, portanto, Simão Pedra. "Tu és Pedro e sobre esta Pedra eu edificarei a minha Igreja. Eu te darei as chaves do Reino" (Mt. 16,16 ss). O ministério petrino é mais que a pessoa de Pedro. Seu serviço será sempre o de confirmar os irmãos na fé em Cristo, Filho do Deus vivo, mantendo a Igreja unida na verdadeira fé apostólica e na unidade católica. É este o ministério que até o fim dos tempos, por vontade do Senhor, estará presente na Igreja na pessoa do sucessor de Pedro, o bispo de Roma, a quem chamamos carinhosamente de papa, pai. O papa é o Pastor supremo da Igreja de Cristo porque somente a ele o Senhor entregou de modo supremo o seu rebanho. Aquilo que entregou aos doze e a seus sucessores, os bispos, entregou de modo especial a Pedro e a seus sucessores, o papa: "Tu me amas mais que estes? Apascenta as minhas ovelhas!" (Jo 21,15). Estejamos atentos, caríssimos: nossa obediência, nossa adesão, nosso respeito, nossa veneração pelo santo Padre não é porque o achamos simpático, sábio, ou de pensamento igual ao nosso, mas porque ele é aquele a quem o Senhor confiou a missão de confirmar os irmãos. Nossa certeza de que ele nos guia em nome de Cristo vem da promessa do próprio Senhor: "Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos" (Lc. 22,31-32). É porque temos certeza da eficácia da oração de Jesus por Pedro e seus sucessores, que aderimos com fé ao ensinamento do Santo Padre. Estejamos certos de uma coisa: quem não está em comunhão com o papa está fora da plena comunhão visível com a Igreja de Cristo, que é a Igreja católica.

dom Henrique Soares da Costa - www.padrehenrique.com 

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Solenidade de são Pedro e são Paulo

Neste domingo, celebramos a solenidade de São Pedro e São Paulo. O que podemos destacar destes dois grandes apóstolos, dos testemunhos de cada um deles? Pedro e Paulo são bastante diferentes quanto à personalidade, mas idênticos no amor a Cristo e à Igreja. Ambos dão a vida por Jesus Cristo até o martírio em Roma. Dois santos, podemos dizer, que nunca estão parados. Homens como nós, com tantas fraquezas, medos, capazes de trair, mas que tiveram plena confiança em Jesus. E Jesus aposta tudo neles. Dá sempre uma nova chance a Pedro, e Paulo não se cansa de repetir que se tornou apóstolo somente pela graça.

Falando de Pedro e Paulo, podemos falar da grandeza e santidade que eles representam, mas podemos também falar das suas fraquezas e dos seus pecados, e aí, descobrimos que uma coisa leva à outra, pois é exatamente a bondade e a misericórdia do Senhor que muda o coração deles e os transforma até se tornarem de pecadores a grandes santos e a transformar suas vidas num amor humilde e apaixonado pelo Senhor Jesus.

Pedro demonstrou várias vezes o seu caráter, a sua fraqueza, o seu cansaço para entender o coração de Jesus. Lembremo-nos quando Jesus lhe diz: "afasta-te de mim, Satanás!"; ou quando caminhando sobre as águas, duvida e Jesus lhe diz: "homem de pouca fé!" Mas, sobretudo é humano e fraco no momento da paixão de Jesus. Ele que tinha afirmado: "mesmo que todos os outros te abandonem, eu jamais te abandonarei", é o mesmo que na sua fraqueza nega por três vezes a Jesus, jurando nunca tê-lo visto. Entretanto, é esta pobreza de Pedro que encontra o olhar misericordioso de Jesus e por ele se deixa curar.

Depois da ressurreição, às perguntas repetidas de Jesus se ele o ama, responde: "sim, Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo, tu sabes como te amo". E a sua vida, mesmo em meio às dificuldades e fraquezas, será sempre a demonstração deste amor apaixonado pelo seu Senhor, até a prisão, às viagens, e, finalmente, ao martírio.

Também Paulo, fariseu convicto, fanático, perseguidor ferrenho dos cristãos, colaborador do martírio de Estevão, é transformado por Jesus, e, assim, vive o resto de vida numa missão contínua dirigida aos vários povos que ele pode alcançar. Até o momento no qual pode afirmar: "combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Não me resta outra coisa senão esperar a coroa da justiça que o Senhor, o justo juiz, preparou para mim. O Senhor veio em meu auxílio e me deu forças" (II leitura).

Homens frágeis, pecadores, transformados pela misericórdia do Senhor e pela força do seu Espírito. Deram a vida pelo Senhor e estabeleceram as bases da comunidade cristã, a Igreja, destinada a se espalhar por todo o mundo. Aquela de Pedro e de Paulo é a nossa humanidade resgatada; também nós não devemos nunca ficar desencorajados diante das nossas fraquezas, de nossas dúvidas, de nossa falta de fé, mas sempre renovar o nosso amor ao Senhor.

Dois apóstolos diferentes, colunas fundamentais da Igreja, garantindo a unidade desta. Pedro recebe o carisma, isto é, o dom e a tarefa, de ser referência para a unidade e a comunhão entre os que acreditam em Cristo, através do serviço à Verdade. Pedro é a pedra sobre a qual Cristo quis edificar a sua Igreja, a sua comunidade e a ele confia as chaves do Reino. Paulo recebeu a tarefa de difundir a palavra de Verdade, o Evangelho, até os confins da terra, pregando e fundando comunidades cristãs. São santos que encontram no Papa o continuador e o testemunho da missão de Cristo que continua em meio a nós. No Papa, encontra-se a autoridade de Pedro, chefe visível da Igreja e centro de unidade, e no Papa, encontramos o ardor missionário de Paulo. A festa de hoje nos ajuda a renovar a nossa fé. A fé cristã católica não é simplesmente uma fé em Deus ou em Cristo, mas é fé na Igreja. Dizemos no Credo: "Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica". É na Igreja que nós podemos ter uma relação autêntica com Cristo, único salvador e com Deus, o Pai, que Cristo nos revelou. A solenidade deste domingo nos chama a ser presença ativa, assumindo a nossa responsabilidade na Igreja, para que sejamos sempre mais "comunhão" no interior dela e sejamos sempre mais "missão" no mundo de hoje.

Ao comentário do ano passado como vimos acima, acrescento:

Pedro e Paulo. Simão e Saulo. Dois novos nomes, dois percursos de novidade. Quem encontra Jesus não pode permanecer como era. Porque o Senhor toma aquilo que mais detestamos em nós e nos transforma. A cabeça dura do pescador Simão se faz rocha sobre a qual é construída a Igreja. Disto, ninguém duvida, nem Dan Brown em "Anjos e demônios",quando o professor Langdon, da Universidade de Harvard, encontra-se na frente da basílica de São Pedro e os pensamentos em sua mente neste momento são: "Pedro é a pedra. A fé de Pedro em Deus foi tão firme, que Jesus o chamou de "a pedra", o discípulo sobre cujos ombros Jesus construiria sua Igreja. Neste lugar, pensou Langdon, na colina do Vaticano, Pedro havia sido crucificado e enterrado. Os primeiros cristãos construíram um pequeno santuário sobre o seu túmulo. À medida que o cristianismo se estendeu, o santuário cresceu, passo a passo, até converter-se nesta basílica colossal. Toda a fé católica havia sido levantada, literalmente, sobre são Pedro, a pedra" (Anjos e demônios, cap.118).

A paixão exagerada de Paulo pela lei se transforma em ardor por Jesus Cristo. O que pode unir estas duas figuras tão diferentes? O amor por Jesus Cristo. É Cristo quem coloca os dois em estreita colaboração porque a diversidade de carismas é o que faz crescer.

Em que sentido a trajetória da nossa vida espiritual se identifica com a de Pedro e a de Paulo?

Meus atos dão testemunho de que eu realmente amo a Jesus Cristo?

Meu serviço na minha Igreja local faz crescer a união e o amor na comunidade ou divide-a ainda mais?

padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento

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Uma festa no céu e outra na Terra – São Pedro e São Paulo

 

Mt  16, 13-19

  

Caríssimos irmãos e irmãs,

  

Hoje nos celebramos em todo o mundo, uma grande festa no céu e outra na terra, para os apóstolos São Pedro e São Paulo. Este que um dia foi Simão, mas a quem Jesus o renomeou como Cefas = Pedra (antigamente cavavam buracos e retiravam as pedras para fazer as fundações das casas) por isso Pedro = Pilar de uma fundação. Este a quem Cristo outorgou a liderança para a fundação da sua igreja.

São Pedro divulgou, orientou (lembrem-se do Concílio de Jerusálem  – At 15,7) a Boa Nova de Jesus, o Reino de Deus, mesmo entregando sua própria vida e sendo martirizado na cruz, preferiu fazê-lo de cabeça para baixo, pois sentia-se indigno e merecedor de ser crucificado como o seu mestre o foi.

Apesar de tudo isto, este judeu que a principio não quis permitir que Jesus lavasse os seus pés na véspera da última ceia, também O negou por 3 vezes no seu martírio e ainda por pensar como HOMEM foi chamado de Satanás.

Contudo, São Pedro sempre se destacou por suas virtudes de liderança, tanto que enfrentou os romanos, chegando ao ponto de sacar sua espada e cortar a orelha de Malco, o soldado, na defesa de Jesus. Foi o primeiro a entrar no túmulo e o primeiro a comtempla-Lo na sua 1ª aparição ressurreto, mas principalmente por que foi a ele, Pedro, a quem o Pai celestial revelou quem era Jesus.

Assim, o próprio Jesus entrega a este judeu de característica rústica ( pescador) e iletrado, as chaves que ligam e desligam tudo entre o céu e a terra. Reafirma-se assim uma das pregações de Jesus " escondendo dos sábios e revelando-se aos pequeninos o Reino de Deus."

"Jesus pergunta aos discípulos:" Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?" E questiona diretamente a Pedro: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Este grifo nos arremessa ao encontro de Deus teve com Moisés na montanha, quando o Pai se revela, EU SOU, não é mesmo?

Qual a resposta que daremos a Jesus se Ele nos fizer esta pergunta? Possívelmente alguns dirão que Ele é nosso irmão: que é o nosso Senhor e Salvador: que é o Filho de Deus: outros não darão a atenção necessária à pergunta e fingirão que não ouviu. Será que temos uma resposta honesta a dar-Lhe?

São Paulo, o apóstolo que mais evangelizou, que mais criou comunidades entre os pagãos e gentios, o perseguidor que virou a perseguido, nos diz: "Combati o bom combate" – lutou até os últimos instantes da sua vida como uma atleta de Cristo para receber ao final a grande coroa para a glória de Cristo.

Suas viagens, seus momentos, dificuldades e alegrias estavam sempre alicerçadas como pedras na sua vida em Cristo, após o Encontro na estrada para Damasco. Isto nos leva a refletir será que somos os atletas que Jesus espera de nós? Temos O auxiliado na evangelização e buscando o Reino de Deus para os excluídos? Qual será a coroa que vamos receber ao final da nossa jornada? É nossa responsabilidade continuar a missão destes dois ícones e referência obrigatória para nós cristãos no processo de evangelização a partir dos excluídos.

 

Gilberto Silva

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03 DE Julho

 

Evangelho  Mateus 16, 13-19

 

Festa de São Pedro e São Paulo  

A Festa de São Pedro e São Paulo, celebrada nesse domingo, confirma a autenticidade da Igreja instituída por Jesus. Todos se orgulham e ficam felizes quando falamos de uma Igreja Santa, mas as fisionomias mudam quando a referência é a instituição, essa parte institucional, que representa o lado humano da Igreja, sempre duramente criticada, não só pelos que não comungam da sua doutrina, como infelizmente até por alguns de seus membros. Jesus não edificou a sua igreja sobre homens especiais, dotados de super-poderes, mas sobre Pedro, pescador da Galiléia, que representa bem os homens de todos os tempos da história da Igreja, pela sua fragilidade, pelos seus enganos, pelas decisões erradas, o apóstolo Pedro, com suas palavras e gestos, consegue arrebatar o leitor da Sagrada Escritura, nele tem-se em um determinado momento um testemunho belíssimo, e em outro, uma incoerência total , como quando Jesus anuncia-lhes a paixão e a morte, e o apóstolo quer convence-lo do contrário, sendo chamado de Satanás.

Provavelmente muita gente pensa que após pentecostes o nosso apóstolo criou juízo e transformou-se em modelo de santidade e perfeição, mas basta ver o seu relacionamento conturbado com o apóstolo São Paulo, por causa de divergências e desentendimentos, pensamentos contrários em relação à doutrina. A ação da graça de Deus e do Espírito Santo em nossa vida, não anula aquilo que é humano, assim é também com a Igreja, não existem duas igrejas, uma humana e outra divina, que competem entre si para ver quem é mais poderosa, mas uma só igreja, edificada sobre homens como Pedro, a quem o Senhor promete dar as chaves do céu, palavras que mostram a confiança que Jesus deposita no apóstolo.

Certamente não entregamos a chave da nossa casa para qualquer pessoa, mas tem de ser alguém de nossa plena confiança. O amor verdadeiro sempre confia e ajuda o outro a crescer, assim é Deus em relação ao homem, desde os primórdios da história da Salvação, na aliança com homens como Abraão, apenas ele promete e do homem apenas exige uma coisa: a fé! Como nos afirma a carta aos Hebreus, Jesus é o autor e o consumidor da nossa fé.

Os atributos humanos de Jesus sempre foram e serão exaltados pelos homens de todos os tempos, até mesmo pelos não crentes. Ele é apontado como excelência em liderança, comunicação, educação, psicologia, terapeuta, pedagogia. A sua inteligência e raciocínio, o seu modo de agir e de ensinar, demonstrando uma sabedoria insuperável, encanta e fascina aos homens de todos os tempos, ao longo da História.

João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas, eram celebridades entre o povo de Israel, ao confundir Jesus com esses personagens, o povo estava manifestando na verdade o inegável reconhecimento do seu poder e da sua sabedoria, porém, Pedro, iluminado pela fé, vê muito além de todos esses atributos humanos, para ele Jesus é o Filho de Deus! Pedro não havia chegado a essa conclusão por causa das promessas ou de alguma evidência histórica, mas sim pela sua experiência com Cristo. Da mesma forma a Vida de Paulo é toda transformada pela Força Operante da Graça de Deus, diferente de Pedro, Paulo tem cultura e formação e uma profunda convicção religiosa, que o coloca como um Zeloso Fariseu, além disso, tem poder e influência entre os Romanos sendo um cidadão do Império, com um título comprado pelo Pai, conhece a cultura grega. Enfim, já estava com a sua vida traçada, e esse projeto de Vida não incluía a "Virada" que aconteceu em sua vida a partir da experiência com Jesus.É este apóstolo, abortivo, como ele mesmo se define, o primeiro a atender o mandato missionário deixado por Jesus, "Evangelizai a todas as nações...."

Professar a fé em Jesus Cristo não é apenas ser seu admirador ou fã, mas sim aceitar o discipulado que o seu chamado nos traz, aprendendo de Jesus, todos e cada um dos seus ensinamentos, moldando-nos e configurando-nos a ele, transformando a própria vida em um evangelho vivo. A Fé reconhece em Jesus nosso Deus e Senhor e isso não é fruto do esforço humano, mas dom do próprio Deus que se revela, assim é com Pedro, assim é com o apóstolo Paulo, e assim é também com todos nós...

A Fé não é ponto de chegada, mas sim de partida, ela nos faz vislumbrar um caminho novo a ser percorrido, exatamente nas pegadas de Jesus, colocando-nos disponíveis e perseverantes, aceitando todos os riscos que a mesma nos implica. E por fim, podemos dizer que a fé também não é comodismo, tranqüilidade, solução mágica para problemas humanos, ou conquistas impossíveis.

É na fé que percebemos a ação de Deus em nossa vida como Pedro, no relato da primeira leitura, que foi liberto de maneira prodigiosa da prisão por um anjo do Senhor.

A primeira  leitura traz uma rica reflexão a partir de um fato histórico, alguém libertou Pedro da prisão, e o fez sob o poder e a proteção divina, quantas vezes estamos em uma situação complicada e aparece alguém que nos ajuda. Um anjo andou á frente do povo de Deus conduzindo-o para longe da escravidão do Egito, esse anjo enviado por Deus era Moisés e Deus agiu na escuridão da noite mostrando-nos que quando por causa da nossa fragilidade, não conseguimos enxergar o que vem pela frente, o próprio Deus toma á nossa frente, conduzindo-nos à libertação.

A verdadeira fé nos leva a esse reconhecimento "agora sei que Deus enviou-me o seu anjo que me libertou dos meus inimigos", também Paulo, no final da sua jornada reconhece que o Senhor nunca o abandonou, mas esteve ao seu lado em todos os momentos, mesmo nos mais difíceis. A fidelidade da fé nos dá sempre essa certeza, de que o Senhor caminha conosco, vem daí a afirmação de Jesus de que "as portas do inferno não prevalecerão sobre a igreja".

Diac. José da Cruz

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"Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus".

Celebramos hoje a festa das duas colunas da Igreja: são Pedro e são Paulo. Pedro: Simão responde pela fé dos seus irmãos (cf. Evangelho de Mateus 16,13-19). Por isso, Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa sua vocação de ser "pedra", rocha, para que Jesus edifique sobre ele a comunidade daqueles que aderem a ele na fé. Pedro deverá dar firmeza aos seus irmãos (cf. Lc. 22,32). Esta "nomeação" vai acompanhada de uma promessa infalível: as "portas" (que corresponde à cidade, reino) do inferno (o poder do mal, da morte) não poderão nada contra a Santa Igreja de Cristo, que é uma realização do "Reino do Céu" (de Deus). A libertação da prisão ilustra esta promessa na primeira Leitura. Jesus lhe confia também "o poder das chaves", ou seja, o serviço de "mordomo" ou administrador de sua casa, de sua família, de sua comunidade ou cidade. Na medida em que a Igreja é a realização, provisória, parcial, do Reino de Deus, Pedro e seus sucessores, os papas, são administradores dessa parcela do Reino de Deus. Eles têm a última responsabilidade do serviço pastoral. Pedro, sendo aquele que responde "pelos doze", administra ou governa as responsabilidades da evangelização. Pedro recebe, ainda, o poder de ligar e de desligar, o poder de decisão, de obrigar ou deixar livre. Não se trata de um poder ilimitado, mas da responsabilidade pastoral, que concerne à orientação dos fiéis para a vida em Deus, no caminho de Cristo.

Paulo aparece mais na qualidade de fundador carismático da Igreja. Sua vocação se dá na visão de Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, transforma-se em mensageiro de Cristo, "apóstolo", grande pedagogo da missão e da vida de Cristo. É Paulo que realiza, por excelência, a missão dos apóstolos, de serem testemunhas de Cristo até os confins da terra. As cartas a Timóteo, escritas da prisão de Roma, são a prova disto, pois Roma é a capital do mundo, o trampolim para o Evangelho se espalhar por todo o mundo civilizado daquele tempo. Paulo é o apóstolo das nações. No fim da sua vida, pode oferecer uma vida como oferenda adequada a Deus, assim como ele ensinou. Como Pedro, Paulo experimentou Deus como um que liberta da tribulação, conforme nos ensina a segunda leitura.

Pedro foi crucificado de cabeça para baixo. Os artistas da iconografia católica colocaram as chaves da Igreja em sua mão, para distinguir o seu encargo de possuidor das chaves da salvação. Paulo foi morto decapitado por ser cidadão romano o que impedia de ser crucificado. Os artistas da iconografia católica lhe põem sempre na mão uma espada, além de um livro, para simbolizar as várias epístolas teológicas que legou para a Igreja de Cristo.

Por isso o Evangelho de hoje nos fala da confissão de fé de Pedro e a promessa de Jesus para seu futuro. Jesus apelidara Simão de Cefas, que, em aramaico, significa pedra. O apelido pegara a ponto de todos o chamarem de Simão Pedro ou simplesmente de Pedro. Pedro assim será o fundamento da Igreja, do novo Povo de Deus. A pedra na Bíblia significava e significa a segurança, a solidez e a estabilidade, como régio és meu penedo de salvação. Mas Jesus sabia que, sendo criatura humana, Pedro, por mais fiel que lhe fosse, seria sempre uma criatura fraca. Por isso, se faz de Pedro o fundamento, reserva para si todo o peso e todo o equilíbrio da construção e sem a qual o inteiro edifício viria abaixo.

O simbolismo das chaves é claro. A chave abre e fecha. Possuir a chave significa garantia, propriedade, poder de administrar. Isaías tem uma profecia sobre a derrubada do administrador. Sobna e sua substituição pelo obscuro empregado Eliaquim. Poe na boca de Deus estas palavras: "Colocarei as chaves da casa de Davi sobre seus ombros: ele abrirá e ninguém fechará, ele fechará e ninguém abrirá" (cf. Is 22,22). O texto aproxima-se muito à promessa de Jesus, até mesmo na escolha de um humilde pescador para administrar a nova casa de Deus. Assim como Eliaquim não se tornou o dono da casa de Davi, também Pedro não será o dono da nova comunidade. O dono continuará sempre sendo o próprio Deus. Em linguagem jurídica, diríamos que Pedro tornou-se o fiduciário de Cristo. O binômio ligar-desligar repete o abrir-fechar das chaves. Pedro recebe o direito e a obrigação de decidir sobre a autenticidade da doutrina e comportamento dos cristãos diante dos ensinamentos de Jesus. Esta missão de todos os Papas, sucessores de Pedro, que bem podem ser definidos como os guardiões da verdade e da caridade. Celebrar são Pedro, para os cristãos, é também celebrar o Papa.

A primeira leitura desta solenidade nos fala da prisão e da libertação de Pedro (cf. At. 12,1-11). Acerca de 43 d.C., Herodes Agripa I manda executar Tiago, filho de Zebedeu. Depois, manda aprisionar Pedro. Mas o "anjo do Senhor" o liberta – como libertou os israelitas do Egito. A comunidade recorreu à arma da oração: é Deus quem age. Ele é o libertador, conforme cantamos no salmo responsorial: "O Senhor me livrou de todas as minhas angústias" (Sl. 34).

A segunda leitura (cf. 2Tm. 4,6-8.17-18) apresenta a oferenda da vida de Paulo. O Apóstolo das Gentes, que sempre trabalhou com as suas próprias mãos, está agrilhoado; na defesa, ninguém o assistiu. Contudo, fala cheio de gratidão e de esperança. "Guardou a fidelidade": a sua e a dos fiéis a ele confiados. Aguarda com confiança o encontro com o Senhor. Ofereceu a sua vida no amor, e o amor não tem fim (cf. 1Cor. 13,8). Seu último ato religioso é a oferenda de sua vida. Mas sua vida está nas mãos de Deus, que a arrebata da boca das feras.

Pedro e Paulo representam duas dimensões da vocação apostólica, diferentes, mas complementares. As duas foram necessárias, para que pudéssemos comemorar hoje os fundadores da Igreja Universal. Esta complementaridade dos carismas de Pedro e Paulo continua atual na Igreja de Cristo hoje: a responsabilidade institucional e criatividade missionária, responsabilidade de todos nós!

padre Wagner Augusto Portugal - www.catequisar.com.br

Pedro e Paulo

Celebrando hoje a festa de são Pedro e são Paulo, exaltamos seu exemplo de fidelidade a Jesus Cristo e seu ardoroso testemunho no projeto libertador de Deus.

Na pessoa de Pedro, destaca-se o Pastor das comunidades, aquele que é referência da fé para os irmãos.

Na pessoa de Paulo, aparece mais o líder missionário, que forma comunidades e faz expandir a fé em todas as nações. Pedro recorda mais a instituição... Paulo, o carisma...

As leituras bíblicas nos falam dos dois apóstolos: na 1ª leitura, vemos são Pedro: (At. 12,1-11). Preso pelas autoridades... "para agradar os judeus"... Guardado como "perigoso" por 16 homens... e libertado por Deus... O texto mostra que o testemunho dos discípulos gera oposição e morte.   Mas a oposição não pode calar esse testemunho.

- Mostra uma comunidade cristã unida e solidária, na oração. E Deus escuta a oração da comunidade... Mostra a presença efetiva de Deus na caminhada da Igreja e o cuidado de Deus para os que lhe dão testemunho. O nosso Deus não nos abandona...

Na 2ª leitura vemos são Paulo: (2Tm. 4,6-8.17-18) Também está preso, pela última vez: está ciente da própria condenação. Faz um balanço final de sua vida a serviço do Evangelho:

- "Estou pronto... chegou a minha hora... combati o bom combate ... terminei a corrida... conservei a fé...

- E agora aguardo o prêmio dos justos...

- O Senhor esteve comigo... a ele Glória..."

A própria Morte ele a vê como a Libertação definitiva...

* Suas palavras são um "testamento espiritual" sereno e alegre, consciente do dever cumprido. Modelo de Missionário ardoroso e entusiasta...

No Evangelho, Pedro faz a profissão de fé e recebe o Primado. (Mt. 16,13-19). O texto tem duas partes:

- A primeira de caráter cristológico: centra-se em Cristo e na definição de sua identidade: "Tu é o Cristo, o Filho de Deus Vivo".

- Na segunda de caráter eclesiológico: centra-se na Igreja que Jesus convoca à volta de Pedro: "Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja".

A base ("rocha") firme sobre a qual vai se assentar a Igreja de Jesus é a fé que Pedro e a Comunidade dos discípulos professaram: a fé em Jesus como o "Messias, Filho de Deus vivo".

Dessa adesão, nasce a Igreja, a comunidade dos discípulos de Jesus, convocada e organizada à volta de Pedro.

A Pedro e à comunidade dos discípulos é confiado o poder das chaves, isto é, a autoridade para interpretar as palavras de Jesus, às novas necessidades e situações e para acolher ou não novos membros na dos discípulos do Reino.

Pedro torna-se assim uma figura de referência para os primeiros cristãos e desempenha um papel de primeiro plano na animação da igreja nascente.

+ Pedro e Paulo são figuras gigantescas da Igreja primitiva, que tinha a missão de continuar a obra salvadora de Cristo.

Na Igreja, Pedro recebe poderes para desempenhar a sua missão: por isso, nem o poder do inferno terá vez contra ela. E essa promessa de Cristo não é apenas à pessoa de Pedro.

Se a Igreja deve permanecer, mesmo depois da morte de Pedro, devemos admitir que os poderes concedidos a Pedro, passem também aos seus legítimos sucessores, que são os papas.

Por isso, nesse dia celebramos também o dia do papa, que ainda hoje continua sendo sinal de unidade e de comunhão na fé. O papa é o chefe visível da Igreja na terra. Sua missão é espinhosa, sobretudo hoje, com mudanças rápidas e violentas... com contestações dentro e fora da Igreja.

Como é difícil saber discernir, no meio de tantas turbulências!...

Ele merece o nosso amor... mas que não seja um amor só de palavras, mas um amor concreto...

Rezando por ele, escutando a sua voz e praticando seus ensinamentos.

Relembrando as figuras de são Pedro e são Paulo, perguntemo-nos:

- damos testemunho de Cristo, como eles, no ambiente em que vivemos?

- acreditamos que somos responsáveis pela continuação do Projeto de Deus?

Relembrando a figura do papa, continuemos a nossa oração, pedindo a Deus que lhe dê: muita Luz para apontar sempre o melhor caminho para a Igreja... e muita Força para enfrentar com otimismo e alegria as contestações do mundo moderno.

Graças ao entusiasmo de Paulo, a Igreja avançou no espaço e no tempo. Sejamos continuadores dessa maravilhosa obra inaugurada por Cristo.

padre Antônio Geraldo Dalla Costa - buscandonovasaguas.com

 

1º leitura – At. 12,1-11 - AMBIENTE

O texto que nos é hoje proposto encerra praticamente a primeira parte do livro dos Atos dos Apóstolos (a história da expansão do cristianismo dentro das fronteiras palestinas – cf. At. 1-12). Lucas narra, neste texto, uma nova perseguição à Igreja de Jesus.

Esta perseguição é obra de Herodes Agripa I, neto do famoso Herodes, o Grande. O imperador Calígula deu-lhe, por volta do ano 37, os antigos territórios de Filipe (Itureia, Traconítide, Bataneia, Gaulanítide e Auranítide); mais tarde (ano 40), confiou-lhe ainda os antigos territórios de Herodes Antipas (Galileia e Pereia). Depois do assassínio de Calígula, Herodes Agripa prestou vários serviços ao imperador Cláudio, o qual lhe ofereceu o governo da Samaria e da Judeia (ano 41). Assim, Herodes Agripa I reinou praticamente sobre toda a Palestina entre os anos 41 e 44. Morreu subitamente no ano 44, durante uma cerimónia pública.

Herodes Agripa I preocupou-se bastante em não se incompatibilizar com os líderes judaicos. Por isso, foi muito cuidadoso em observar as prescrições da Lei de Moisés (embora essa preocupação tenha sido mais por política do que por convicção: fora do território judaico, Herodes Agripa I vivia à maneira helénica). Foi, provavelmente, com o mesmo objetivo que ele tentou suprimir a "seita cristã", mandando executar Tiago e prendendo Pedro.

Este Tiago de que se fala no nosso texto é o filho de Zebedeu, irmão de João. Tiago era, com toda a certeza, um pregador ativo do Evangelho de Jesus e um membro importante da comunidade cristã de Jerusalém. Com esta morte violenta, Tiago "bebeu do mesmo cálice", conforme lhe foi anunciado pelo próprio Jesus (cf. Mc. 10,38).

Estamos no ano 42.

Esta perseguição atingiu também outros membros da comunidade cristã de Jerusalém. O próprio Pedro foi preso, neste contexto, embora tenha sido, posteriormente, libertado. Os dados avançados por Lucas – no texto que nos é hoje proposto – sobre a prodigiosa libertação de Pedro não devem ser rigorosamente históricos; mas devem ser, sobretudo, uma catequese sobre a forma como Deus cuida da sua Igreja e dos discípulos que dão testemunho da salvação.

MENSAGEM

No Livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas procura mostrar como o plano salvador de Deus para os homens continua a cumprir-se, mesmo depois da partida de Jesus para junto do Pai. Os discípulos de Jesus são agora, no meio do mundo, as testemunhas desse projeto de libertação que Deus ofereceu aos homens através de Jesus Cristo.

Como é que o mundo acolhe o testemunho dos discípulos? Deus deixa as testemunhas do seu projeto de salvação entregues à sua sorte, à mercê da perseguição e da incompreensão do mundo? O texto que nos é proposto como primeira leitura procura responder a estas questões.

1. Os elementos históricos avançados por Lucas sobre a morte de Tiago e a prisão de Pedro, no contexto da perseguição contra a Igreja durante o reinado de Herodes Agripa I (vs. 1-4), mostram como o testemunho do projeto libertador de Deus no mundo gera sempre confronto com as forças da opressão e da morte. Trata-se de uma realidade que não deve deixar os discípulos surpreendidos, pois o próprio Jesus teve que percorrer o caminho da cruz (a indicação de que Pedro foi preso no dia dos Ázimos e, portanto, muito próximo do dia de Páscoa, pode sugerir uma correspondência com a Páscoa de Jesus: o caminho que Pedro está a seguir é o mesmo caminho do Mestre). Por outro lado, a oposição do mundo não pode nem deve calar o testemunho que os discípulos são chamados a dar.

2. Enquanto Pedro estava na prisão, a Igreja orava por ele (v. 5). A indicação mostra uma comunidade cristã unida, em que os crentes estão próximos e solidários, apesar da distância e das grades da prisão. Por outro lado, o fato de a libertação de Pedro acontecer enquanto a Igreja "orava insistentemente a Deus por ele" mostra como Deus escuta a oração da comunidade.

3. A maravilhosa história da libertação de Pedro (vs. 6-11) mostra a presença efetiva de Deus na caminhada da sua Igreja e a solicitude com que Deus cuida daqueles que dão testemunho do seu projeto de salvação no meio dos homens. O relato está construído com elementos maravilhosos e prodigiosos que não são, certamente, de caráter histórico (o aparecimento do "anjo do Senhor", a luz que iluminou a cela da cadeia, a passagem pelos guardas sem que nenhum deles se tivesse apercebido da fuga do prisioneiro, a abertura milagrosa da porta da prisão);

mas pretendem sublinhar a presença de Deus e apor no testemunho dos apóstolos o "selo de garantia" de Deus. Não há dúvida: Deus está com os apóstolos e, diante da oposição do mundo, garante a autenticidade da proposta apresentada por eles.

ATUALIZAÇÃO

· Como cenário de fundo da nossa primeira leitura, está o fato de a comunidade cristã (aqui representada por Pedro) ser uma comunidade que tem como missão dar testemunho do projeto libertador de Deus no meio dos homens. A Igreja que nasce de Jesus não é uma comunidade fechada em si própria, ou que vive apenas de olhos postos no céu à espera que Deus, de forma mágica, renove o mundo; mas é uma comunidade comprometida com a transformação do mundo, que testemunha – com palavras e com gestos concretos – os valores de Jesus, do Evangelho e do mundo novo.

· O nosso texto mostra que o anúncio da proposta de salvação que Deus faz aos homens gera sempre oposição. Essa oposição vem, especialmente, daqueles que querem perpetuar os mecanismos de exploração, de injustiça, de morte; mas também pode vir de quem está comodamente instalado na escravidão e não tem a coragem de questionar as cadeias que o prendem… Em qualquer caso, a oposição traduz-se sempre em atitudes de incompreensão, de desrespeito, ou mesmo de perseguição declarada. Uma Igreja que procura ser fiel ao mandato de Jesus e testemunhar a libertação de Deus ver-se-á sempre confrontada com esta realidade. Todos nós, discípulos de Jesus, chamados a testemunhar a vida de Deus na sociedade, no nosso local de trabalho, na nossa família, conhecemos a oposição, as calúnias, os sarcasmos, a dificuldade em que levem a sério o nosso testemunho… Tal fato não deve preocupar-nos demasiado: é a reação lógica do mundo quando se sente questionado pelos valores de Jesus. Para nós, o que é importante é afirmar, com sinceridade e verticalidade, os valores em que acreditamos. · A história de Pedro que hoje nos é proposta garante-nos que, nos momentos de perseguição e de oposição, o nosso Deus não nos abandona. Ele será sempre uma presença reconfortante e libertadora ao nosso lado, dando-nos a coragem para continuarmos a nossa missão e para darmos testemunho dos valores do Reino. O cristão não tem medo porque sabe que Deus está com ele e que, por isso, nenhum mal lhe acontecerá.

· A nossa história sugere também a importância da união e da solidariedade da comunidade, sobretudo para com os irmãos que estão longe ou que estão em situações dramáticas de sofrimento. A oração é uma forma de manifestar essa solidariedade e a comunhão que deve unir todos os irmãos, membros da mesma família de fé.

2º leitura – 2 Timóteo 4,6-8.17-18 - AMBIENTE

O Timóteo destinatário desta carta é um cristão nascido em Listra (Ásia Menor), de pai grego e de mãe Judeo-cristã. A partir de certa altura, tornou-se um companheiro inseparável de Paulo; foi a ele que Paulo confiou importantes missões e a quem encarregou da responsabilidade pastoral das Igrejas da Ásia Menor. Segundo a tradição, foi o primeiro bispo da comunidade cristã de Éfeso.

É muito duvidoso que seja Paulo o autor desta carta: a linguagem, o estilo e mesmo a doutrina apresentam diferenças consideráveis em relação a outras cartas paulinas; além disso, o contexto eclesial em que esta carta nos situa é mais do final do séc. I ou princípios do séc. II do que da época de Paulo (o grande problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o "conservar a fé", frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).

De qualquer forma, quem escreve a carta refere-se à vida de Paulo como uma vida integralmente preenchida pelo amor a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. Estamos numa época em que as comunidades cristãs se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes e as falsas doutrinas… Ao recordar, desta forma, o exemplo de Paulo, o autor desta carta pretende convidar os crentes em geral (e os animadores das comunidades, em particular) a redescobrirem o entusiasmo por Jesus e pelo testemunho da Boa Nova libertadora que Jesus veio propor aos homens.

MENSAGEM

O autor da carta apresenta-se na pele de Paulo, prisioneiro em Roma; e, nessa pele, faz um balanço final da sua vida e da sua entrega ao serviço do Evangelho.

A vida de Paulo foi, desde o seu encontro com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, uma resposta generosa ao chamamento e um compromisso total com o Evangelho. Por Cristo e pelo Evangelho, Paulo lutou, sofreu, gastou e desgastou a sua vida num dom total, para que a salvação de Deus chegasse a todos os povos da terra.

No final, ele sente-se como um atleta que lutou até ao fim para vencer e está satisfeito com a sua prestação. Resta-lhe receber essa coroa de glória, reservada aos atletas vencedores (e que Paulo sabe não estar reservada apenas a ele, mas também a todos aqueles que lutam com o mesmo denodo e o mesmo entusiasmo pela causa do "Reino").

Para definir a sua vida como dom total a Deus e aos irmãos, Paulo utiliza aqui uma imagem bem sugestiva: a imagem da vítima imolada em sacrifício. Paulo fez da sua vida um dom total, ao serviço do Evangelho; a sua entrega foi um sacrifício cultual a Deus. Agora, para que o sacrifício seja total, só resta coroar a sua entrega com o dom do seu sangue… A referência à oferta "em libação" faz referência aos sacrifícios em que se vertia o vinho sobre o altar, imediatamente antes de ser imolada a vítima sacrificial.

Há duas maneiras de dar a vida por Cristo: uma é gastá-la dia a dia na tarefa de levar a libertação que Cristo veio propor a todos os povos da terra; outra é derramar, de uma vez, o sangue por causa da fé e do testemunho de Cristo… Paulo conheceu as duas modalidades; imitar Paulo é um desafio que o autor da carta a Timóteo faz aos discípulos do seu tempo e de todos os tempos.

Na segunda parte do nosso texto (vs. 16-18), o autor desta carta põe na boca de Paulo o lamento desiludido de um homem cansado que, apesar de ter oferecido a sua vida como dom aos irmãos se sente, no final, votado ao abandono e à solidão… Mas, apesar de tudo, Paulo tem consciência de que Deus esteve a seu lado ao longo da sua caminhada, lhe deu a força de enfrentar as dificuldades, o livrou de todo o mal e lhe dará, no final da caminhada, a vida definitiva. Daí o louvor com que Paulo termina: "glória a Ele por todo o sempre. Ámen". É esta a atitude que o autor da carta pede aos seus irmãos: apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, descubram a presença de Deus, confiem na sua força, mantenham-se fiéis ao Evangelho: assim recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que Deus reserva a quem combateu o bom combate da fé.

ATUALIZAÇÃO

· Paulo foi uma das figuras que marcou, de forma decisiva, a história do cristianismo. Ao olharmos para o seu exemplo, impressiona-nos como o encontro com Cristo marcou a sua vida de forma tão decisiva; espanta-nos como ele se identificou totalmente com Cristo; interpela-nos a forma entusiasmada e convicta como ele anunciou o Evangelho em todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a tortura, a prisão, a morte; questiona-nos a forma como ele quis viver ao jeito de Cristo, num dom total aos irmãos, ao serviço da libertação de todos os homens. Paulo é, verdadeiramente, um modelo e um testemunho que deve interpelar, desafiar e inspirar cada crente.

· O caminho que Paulo percorreu continua a não ser um caminho fácil. Hoje, como ontem, descobrir Jesus e viver de forma coerente o compromisso cristão implica percorrer um caminho de renúncia a valores a que os homens dos nossos dias dão uma importância fundamental; implica ser incompreendido e, algumas vezes, maltratado; implica ser olhado com desconfiança e, algumas vezes, com comiseração… Contudo, à luz do testemunho de Paulo, o caminho cristão vivido com radicalidade é um caminho que vale a pena, pois conduz à vida plena.

· Concordo? É este o caminho que eu me esforço por percorrer? Convém ter sempre presente esse dado fundamental que deu sentido às apostas de Paulo: aquele que escolhe Cristo não está só, ainda que tenha sido abandonado e traído por amigos e conhecidos; o Senhor está a seu lado, dá-lhe força, anima-o e livra-o de todo o mal. Animados por esta certeza, temos medo de quê?

Evangelho – Mateus 16,13-19 - AMBIENTE

O Evangelho deste domingo situa-nos no Norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe (na zona da atual Bânias). A cidade tinha sido construída por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto.

O episódio que nos é proposto ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus.

Aparece num momento de viragem, quando começa a perfilar-se no horizonte de Jesus um destino de cruz. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida senão por um pequeno grupo – o grupo dos discípulos.

É, então, que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre Si próprio.

Não se trata, tanto, de medir a sua quota de popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.

O relato de Mateus é um pouco diferente do relato do mesmo episódio feito por outros evangelistas (nomeadamente Marcos – cf. Mc. 8,27-30). Mateus remodelou e ampliou o texto de Marcos, acrescentando a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus e a missão confiada a Pedro.

MENSAGEM

O nosso texto pode dividir-se em duas partes. A primeira, de caráter mais cristológico, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda, de caráter mais eclesiológico, centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.

Na primeira parte (vs. 13-16), Jesus interroga duplamente os discípulos: acerca do que as pessoas dizem d'Ele e acerca do que os próprios discípulos pensam.

A opinião dos "homens" vê Jesus em continuidade com o passado ("João Baptista", "Elias", "Jeremias" ou "algum dos profetas"). Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso. Na perspectiva dos "homens", Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d'Ele (vs. 13-14). É muito, mas não é o suficiente: significa que os "homens" não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.

A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" (v. 16). Nestes dois títulos, resume-se a fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é "o Cristo" (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não é apenas o Messias: é também o "Filho de Deus". No Antigo Testamento, a expressão "Filho de Deus" é aplicada aos anjos (cf. Dt. 32,8; Sal. 29,1; 89,7; Job. 1,6), ao Povo eleito (cf. Ex. 4,22; Os 11,1; Jer. 3,19), aos vários membros do Povo de Deus (cf. Dt. 14,1-2; Is. 1,2; 30,1.9; Jer. 3,14), ao rei (cf. 2 Sm. 7,14) e ao Messias/rei da linhagem de David (cf. Sal. 2,7; 89,27). Designa a condição de alguém que tem uma relação particular com Deus, a quem Deus elegeu e a quem Deus confiou uma missão. Definir Jesus como o "Filho de Deus" significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai e que Jesus conhece e realiza os projetos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.

Na segunda parte (vs. 17-19), temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro (isto é, a comunidade) pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus ("não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus" – v. 17). Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos "pobres", dos "simples", abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas de Deus (esses "pobres" e "simples" estão em contraposição com os líderes – fariseus, doutores da Lei, escribas – instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, incapazes de abrir o coração aos desafios de Deus).

O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é "a rocha" (o nome "Pedro" é a tradução grega do hebraico "Kephâ" – "rocha") sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está, portanto, a afirmar que a base firme e inamovível, sobre a qual vai assentar a Ekklesia de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.

Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe "as chaves do Reino dos céus" e o poder de "ligar e desligar". Aquele que detém as chaves, no mundo bíblico, é o "administrador do palácio"… Ora o "administrador do palácio", entre outras coisas, administrava os bens do soberano, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano… Por outro lado, a expressão "atar e desatar" designava, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou re-introduzir alguém na comunidade do Povo de Deus. Assim, Jesus nomeia Pedro para "administrador" e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (atenção: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).

Trata-se, aqui, de confiar a um homem (Pedro) um primado, um papel de liderança absoluta (o poder das chaves, o poder de ligar e desligar) da comunidade dos discípulos? Ou Pedro é, aqui, um discípulo que dá voz a todos aqueles que acreditam em Jesus e que representa a comunidade dos discípulos? É difícil, a partir deste texto, fazer afirmações concludentes e definitivas. O poder de "ligar e desligar", por exemplo, aparece noutro contexto, confiado à totalidade da comunidade e não a Pedro em exclusivo (cf. Mt. 18,18). Provavelmente, o mais correto é ver em Pedro o protótipo do discípulo; nele, está representada essa comunidade que se reúne em volta de Jesus e que proclama a sua fé em Jesus como o "Messias" e o "Filho de Deus". É a essa comunidade, representada por Pedro, que Jesus confia as chaves do Reino e o poder de acolher ou excluir. Isso não invalida que Pedro fosse uma figura de referência para os primeiros cristãos e que desempenhasse um papel de primeiro plano na animação da Igreja nascente, sobretudo nas comunidades da Síria (as comunidades a que o Evangelho de Mateus se destina).

ATUALIZAÇÃO

· Quem é Jesus? O que é que "os homens" dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável "mestre" de moral, que tinha uma proposta de vida "interessante", mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenômeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingênuo e inconseqüente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o "statu quo". Estas visões apresentam Jesus como "um homem" – embora "um homem" excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um "homem" que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?

Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que "um homem". Ele foi e é "o Messias, o Filho de Deus vivo". Definir Jesus dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é, apenas, uma proposta de "um homem" bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o "homem bom" e o "Messias, Filho de Deus", é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.

· "E vós, quem dizeis que Eu sou?" É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para O seguir… Quem é Cristo para mim?

· É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como "o Messias, o Filho de Deus". Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?

· A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do "Messias, Filho de Deus"; mas existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão "profética" e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contatamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?

· A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.

p. Joaquim Garrido, p. Manuel Barbosa, p. José Ornelas Carvalho - www.ecclesia.pt

 

Três amores irrenunciáveis: eucaristia, Maria, papa

Pedro e Paulo emergem como anunciadores do Evangelho aos povos, fundadores de comunidades cristãs e testemunhas de Cristo até ao martírio. A festa de hoje associa-os na fé em Cristo e na fundação da Igreja de Roma. Com uma atenção privilegiada de alto valor teológico, o autor dos Atos evidencia a sintonia entre Pedro na prisão e a comunidade cristã (1ª leitura): "Da Igreja subia  incessantemente a Deus uma oração por ele" (v. 5). A libertação milagrosa de Pedro do cárcere na Palestina deixa-o livre para outros horizontes missionários. Paulo, no cárcere, faz um balanço da sua vida (2ª leitura), agradece a Deus que ficou sempre perto dele e lhe deu a força para poder "completar o anúncio do Evangelho e para que todos os povos o aceitassem" (v. 17).

O serviço missionário de Pedro, dos apóstolos e de cada cristão afunda necessariamente as suas raízes na experiência vivida de um chamamento e de uma resposta de amor. "Dei bem em quem pus a minha confiança", afirma Paulo sem hesitar (2Tim. 1,12). Pedro cresce progressivamente na confiança e o abandono ao seu Mestre. Em Cesaréia de Filipe (Evangelho) é claro que a gente colocava Jesus ao nível de um dos profetas de Israel (v. 13-14); o que já se aproxima da sua verdade, mas ainda ao nível do espetacular, fixados no passado. Pedro passa além da opinião corrente, a ponto de acolher a novidade  de Jesus: "Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo" (v. 16). Uma tal resposta supera o entendimento humano (a carne e o sangue), porque é fruto de uma revelação que vem do Pai (v. 17). Jesus, então, naquele clima de abertura, revela a Pedro e aos outros discípulos o seu projeto para uma nova comunidade: a sua Igreja, que durará nos séculos (v. 18). Depois da crise da paixão, a confiança de Pedro em Cristo será total: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo" (Jo 21,17).

Apesar das dificuldades históricas e das resistências oposta a estes textos de Mateus e de João, o plano de Jesus a respeito da sua Igreja subsiste no tempo, segundo a interpretação católica tradicional das três metáforas: a pedra (v. 18), as chaves (v. 19), o binômio ligar-desligar (v. 19), que se completam na entrega post-pascal a Pedro do serviço de apascentar, no amor, no povo da nova aliança (cf. Jo 21,15s). Porém, nem toda a autoridade é boa para o povo. Segundo Jesus, que é "o Senhor e o Mestre" (Jo 13,14), que "não veio para ser servido mas para servir e dar a sua vida" (Mt. 20,28), a autoridade (as chaves) é dada a Pedro e à Igreja para um serviço ao povo de Deus numa diaconia de amor sem fim.

O Concílio apresenta-nos a dimensão teológica e missionária deste projeto: "Em todos os tempos e em todas as nações é bem aceite a Deus quem o teme e opera a justiça (cf. Atos 10,35). Todavia, Deus quer santificar e salvar os homens não individualmente e sem ligação entre eles, mas quis constitui-los como um povo" (LG 9). De fato, "A Igreja peregrina é missionário por sua própria natureza" (AG 2). Porque "ela existe para evangelizar" (EN 14). Não é marginal o fato que Jesus fale deste seu projeto encontrando-se num território pagão (região de Cesaréia de Filipe), num contexto geográfico semelhante ao da mulher cananeia: estes dois fatos narrados por Mateus revelam o caráter universal da missão de Cristo e da Igreja.

Quanto mais ampla é a autoridade tanto mais intenso deve ser o amor, generoso o serviço, aberto o acolhimento, plural a capacidade de harmonizar dons diferentes. O bispo Tonino Bello, de Molfetta (+ 1993) aspirava à "convivialidade das diferenças". E o papa Bento XVI, ao lado do túmulo do dom Tonino Bello, recorda os apóstolos Pedro e Paulo, que foram pescados por Cristo para se tornarem por sua vez pescadores, fala, significativamente, da "comunhão das diversidades".

A festa dos dois apóstolos e o dia do Santo Padre recordam-nos o tema da pertença à Igreja. Em 30 anos de vida missionária na África e na América Latina, convenci-me que temos três elementos típicos no identikit do católico, que o caracterizam neste mundo religioso um pouco confuso do nosso tempo, identificando-o perante ele mesmo, perante os não cristãos e perante outros grupos cristãos (protestantes, ortodoxos, anglicanos...). São estes os valores: a fé na eucaristia, a devoção a Nossa Senhora, o amor ao papa. São três amores irrenunciáveis que enchem de alegria e dão consistência à vida e à missão do cristão católico no mundo inteiro.

"O Pescador, pescado por Jesus, lançou as suas redes até aqui, e nós hoje agradecemos por termos sido objetos desta pesca milagrosa, que dura desde há dois mil anos, uma pesca que, como escreve o próprio São Pedro, "nos chamou das trevas à luz admirável [de Deus]" (1Pd. 2,9). Para sermos pescadores com Cristo é preciso antes sermos pescados por Ele. São Pedro é testemunha desta realidade, como o é são Paulo, grande convertido, de quem (celebramos) o bimilenario do nascimento. Como sucessor de Pedro e Bispo da Igreja fundada sobre o sangue destes dói eminentes Apóstolos, vim confirmar a vossa fé em Cristo... A Igreja não tem confins, é universal. E os confins geográficos, culturais, étnicos, e mesmo os confins religiosos são para a Igreja um convite à evangelização na perspectiva da comunhão das diversidade". (Benedetto XVI – Homilia em Santa Maria de Leuca (Brindisi), 14 de junho de 2008) "Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus".

Estas palavras que o missal propõe como antífona de entrada desta solenidade, resumem admiravelmente o significado de são Pedro e são Paulo. A Igreja chama a ambos de "corifeus", isto é líderes, chefes, colunas. E eles o são.

Primeiramente, porque são apóstolos. Isto é, são testemunhas do Cristo morto e ressuscitado. Sua pregação plantou a Igreja, que vive do testemunho que eles deram. Pedro, discípulo da primeira hora, seguiu Jesus nos dias de sua pregação, recebeu do Senhor o nome de Pedra e foi colocado à frente do colégio dos Doze e de todos os discípulos de Cristo. Generoso e ao mesmo tempo frágil, chegou a negar o Mestre e, após a ressurreição, teve confirmada a missão de apascentar o rebanho de Cristo. Pregou o Evangelho e deu seu último testemunho em Roma, onde foi crucificado sob o imperador Nero. Paulo não conhecera Jesus segundo a carne. Foi perseguidor ferrenho dos cristãos, até ser alcançado pelo Senhor ressuscitado na estrada de Damasco. Jesus o fez se apóstolo. Pregou o Evangelho incansavelmente pelas principais cidades do império romano e fundou inúmeras igrejas. Combateu ardentemente pela fidelidade à novidade cristã, separando a Igreja da sinagoga. Por fim, foi preso e decapitado em Roma, sob o imperador Nero.

O que nos encanta nestes gigantes da fé não é somente o fruto de sua obra, tão fecunda. Encanta-nos igualmente a fidelidade à missão. As palavras de Paulo servem também para Pedro: "Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé". Ambos foram perseverantes e generosos na missão que o Senhor lhes confiara: entre provações e lágrimas, eles fielmente plantaram a Igreja de Cristo, como pastores solícitos pelo rebanho, buscando não o próprio interesse, mas o de Jesus Cristo. Não largaram o arado, não olharam para trás, não desanimaram no caminho... Ambos experimentaram também, dia após dia, a presença e o socorro do Senhor. Paulo, como Pedro, pôde dizer: "Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar..."

Ambos viveram profundamente o que pregaram: pregaram o Cristo com a palavra e a vida, tudo dando por Cristo. Pedro disse com acerto: "Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo"; Paulo exclamou com verdade: "Para mim, viver é Cristo. Minha vida presente na carne, eu a vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim". Dois homens, um amor apaixonado: Jesus Cristo! Duas vidas, um só ideal: anunciar Jesus Cristo! Em Jesus eles apostaram tudo; por Jesus, gastaram a própria vida; da loucura da cruz e da esperança da ressurreição de Jesus, eles fizeram seu tesouro e seu critério de vida.

Finalmente, ambos derramaram o sangue pelo Senhor: "Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus". Eis a maior de todas a honras e de todas as glórias de Pedro e de Paulo: beberam o cálice do Senhor, participando dos seus sofrimentos, unido a ele suas vidas até o martírio em Roma, para serem herdeiros de sua glória. Eis por que eles são modelo para todos os cristãos; eis por que celebramos hoje, com alegria e solenidade o seu glorioso martírio junto ao altar de Deus! Que eles intercedam por nós na glória de Cristo, para que sejamos fiéis como eles foram.

Hoje também, nossos olhos e corações voltam-se para a Igreja de Roma, aquela que foi regada com o sangue dos bem-aventurados Pedro e Paulo, aquela, que guarda seus túmulos, aquela, que é e será sempre a Igreja de Pedro. Nós sabemos que ela é a esposa do Cordeiro, imagem da Jerusalém celeste. Conhecemos e veneramos o ministério que o Senhor Jesus confiou a Pedro e seus sucessores em benefício de toda a Igreja: ser o pastor de todo o rebanho de Cristo e a primeira testemunha da verdadeira fé naquele que é o "Cristo, Filho do Deus vivo". Sabemos com certeza de fé que a missão de Pedro perdura nos seus sucessores em Roma. Hoje, a missão de Pedro é exercida por Bento XVI. Ao santo Padre, nossa adesão filial, por fidelidade a Jesus, que o constituiu pastor do rebanho. Não esqueçamos: o papa será sempre, para nós, o referencial seguro da comunhão na verdadeira fé apostólica e na unidade da Igreja de Cristo. Quando surgem, como ervas daninhas, tantas e tantas seitas cristãs e pseudo-cristãs, nossa comunhão com Pedro é garantia de permanência seguríssima na verdadeira fé. Quando o mundo já não mais se constrói nem se regula pelos critérios do Evangelho, a palavra segura de Pedro é, para nós, uma referência segura daquilo que é ou não é conforme o Evangelho.

Rezemos, hoje, pelo nosso santo Padre, Bento. Que Deus lhe conceda saúde de alma e de corpo, firmeza na fé, constância na caridade e uma esperança invencível. E a nós, o Senhor, por misericórdia, conceda permanecer fiéis até a morte na profissão da fé católica, a fé de Pedro e de Paulo, pala qual, em nome de Jesus, "Cristo Filho do Deus vivo", os santos apóstolos derramaram o próprio sangue.

Ao Senhor, que é admirável nos seus santos e nos dá a força para o martírio, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

Solenidade de são Pedro e são Paulo

Hoje celebramos o glorioso martírio dos santos Apóstolos Pedro e Paulo, aqueles "santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus". Pedro, aquele a quem o Senhor constituiu como fundamento da unidade visível da sua Igreja e a quem concedeu as chaves do Reino; Paulo, chamado para ser apóstolo de um modo único e especial, tornou-se o Doutor das nações pagãs, levando o Evangelho aos povos que viviam nas trevas. Um pela cruz e o outro pela espada, deram o testemunho perfeito de Cristo, derramando seu sangue e entregando a vida em Roma, por volta do ano 67 da nossa era.

Esta solenidade hodierna dá-nos a oportunidade para algumas ponderações importantes.

A Igreja é apostólica. Esta é uma sua propriedade essencial. João, no Apocalipse, vê a Jerusalém celeste fundada sobre doze alicerces com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (cf. 21,14). Eis: a Igreja não pode ser fundada por ninguém, a não ser pelo próprio Senhor, que a estabeleceu sobre o testemunho daqueles Doze primeiros que ele mesmo escolheu. Seu alicerce, portanto, sua origem, seu fundamento são o ministério e a pregação apostólicas que, na força do Espírito Santo, deverão perdurar até o fim dos tempos graças à sucessão apostólica dos bispos católicos, transmitida na consagração episcopal. Dizer que nossa fé é apostólica significa crer firmemente que a fé não pode ser inventada nem tampouco deixada ao bel-prazer das modas de cada época; crer que a Igreja tem como fundamento os apóstolos significa afirmar que não somos nós, mas o Cristo no Espírito Santo, quem pastoreia e santifica a Igreja pelo ministério dos legítimos sucessores dos apóstolos. O critério daquilo que cremos, a regra da nossa adesão ao Senhor Jesus, a norma da nossa fé é aquilo que recebemos dos santos apóstolos uma vez para sempre. Só a eles e aos seus legítimos sucessores o Senhor confiou a sua Igreja, concedendo-lhes a autoridade com a unção do Espírito para desempenharem o ofício de guiar o seu rebanho pelos séculos a fora. Olhemos para Pedro e Paulo e renovemos nosso firme propósito de nos manter alicerçados na fé católica e apostólica que eles plantaram juntamente com os demais discípulos do Senhor. Hoje, quando surgem tantas comunidades cristãs que se auto-intitulam "igrejas" e se auto-denominam "apostólicas", estejamos atentos para não perder a comunhão com a verdadeira fé, transmitida de modo ininterrupto e fiel na única Igreja de Cristo, santa, católica e apostólica.

Um outro aspecto importante é o significado de ser apóstolo: ele não é somente aquele que prega Jesus, mas, sobretudo, aquele que, escolhido pelo Senhor, com ele conviveu, nele viveu e, por ele, entregou sua vida. Os apóstolos testemunharam Jesus não somente com a palavra, mas também com o modo de viver e com a própria morte. Por isso mesmo, seu martírio é uma festa para a Igreja, pois é o selo de tudo quanto anunciaram. O próprio são Paulo reconhecia: "Não pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor. Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila para que esse incomparável poder seja de Deus e não nosso. Incessantemente trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo. Assim, a morte trabalha em nós; a vida, porém, em vós" (2Cor. 4,5.7.10.12). Eis o sinal do verdadeiro apóstolo: dar a vida pelo rebanho, com Jesus e como Jesus, gastando-se, morrendo, pra que os irmãos vivam no Senhor! Por isso a alegria da Igreja na festa de hoje: Pedro e Paulo não só falaram, não só viveram, mas também morreram pelo seu Senhor; e já sabemos pelo próprio Cristo-Deus que não há maior prova de amor que dá a vida por quem amamos! Bem-aventurado é Pedro, bendito é Paulo, que amaram tanto o Senhor a ponto de darem a vida por ele! Nisto são um exemplo, um modelo, uma norma de vida para todos nós. Aprendamos com eles!

Um terceiro aspecto que hoje podemos considerar é a ação fecunda da graça de Cristo na vida dos seus servos. O exemplo de Pedro, o exemplo de Paulo servem muito bem para nós. Bento XVI, ao ser eleito, afirmou humildemente que se consolava com o fato de Deus saber trabalhar com instrumentos insuficientes: quem era Simão, chamado Pedro? Um pescador sincero, mas rude, impulsivo e de temperamento movediço. No entanto, foi fiel à graça, e tornou-se Pedra sólida da Igreja, tão apegado ao seu Senhor, a ponto de exclamar, cheio de tímida humildade: "Senhor tu sabes tudo; tu sabes que te amo" (Jo 21,17). Quem era Saulo de Tarso, chamado Paulo? Um douto, mas teimoso e radical fariseu, inimigo de Cristo. Tendo sido fiel à graça, tornou-se o grande Apóstolo de Jesus Cristo, tão apaixonado pelo seu Senhor, a ponto de nos desafiar: "Sede meus imitadores como eu sou de Cristo!" (1Cor 11,1). Eis, caros meus, abramo-nos também nós à graça que o Senhor nos concede para a edificação da sua obra, para a construção do seu Reino, e digamos como são Paulo: "Pela graça de Deus sou o que sou, e sua graça em mim não foi em vão" (1Cor. 15,10).

Ainda um derradeiro aspecto, amados no Senhor. Nesta hodierna solenidade somos chamados a refletir sobre o ministério de Pedro na Igreja. Simão por natureza foi feito Pedro pela graça. Pedro quer dizer pedra. Eis, portanto, Simão Pedra. "Tu és Pedro e sobre esta Pedra eu edificarei a minha Igreja. Eu te darei as chaves do Reino" (Mt. 16,16 ss). O ministério petrino é mais que a pessoa de Pedro. Seu serviço será sempre o de confirmar os irmãos na fé em Cristo, Filho do Deus vivo, mantendo a Igreja unida na verdadeira fé apostólica e na unidade católica. É este o ministério que até o fim dos tempos, por vontade do Senhor, estará presente na Igreja na pessoa do sucessor de Pedro, o bispo de Roma, a quem chamamos carinhosamente de papa, pai. O papa é o Pastor supremo da Igreja de Cristo porque somente a ele o Senhor entregou de modo supremo o seu rebanho. Aquilo que entregou aos doze e a seus sucessores, os bispos, entregou de modo especial a Pedro e a seus sucessores, o papa: "Tu me amas mais que estes? Apascenta as minhas ovelhas!" (Jo 21,15). Estejamos atentos, caríssimos: nossa obediência, nossa adesão, nosso respeito, nossa veneração pelo santo Padre não é porque o achamos simpático, sábio, ou de pensamento igual ao nosso, mas porque ele é aquele a quem o Senhor confiou a missão de confirmar os irmãos. Nossa certeza de que ele nos guia em nome de Cristo vem da promessa do próprio Senhor: "Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos" (Lc. 22,31-32). É porque temos certeza da eficácia da oração de Jesus por Pedro e seus sucessores, que aderimos com fé ao ensinamento do Santo Padre. Estejamos certos de uma coisa: quem não está em comunhão com o papa está fora da plena comunhão visível com a Igreja de Cristo, que é a Igreja católica.

dom Henrique Soares da Costa - www.padrehenrique.com

 

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