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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

6º domingo do tempo comum


Domingo dia 12

Comentários-Prof.Fernando


 Evangelho para o próximo Domingo dia 12 de fevereiro
Por Padre Fernando Gross

Sexto Domingo do tempo comum
Introdução
Vamos  fazer tudo para a glória de Deus. Vamos multiplicar as nossas amizades sinceras. Pois muitos estão se sentindo só na multidão.
            As pessoas andam com medo e desconfiadas umas das outras. E por causa disso, evitam o contato social, desviam o olhar, não puxam conversa umas com as outras, e se algum mais afoito faz isso, logo é evitado. A grande desculpa é que estamos com muita pressa, mas na verdade mesmo estamos preocupados com a segurança.
            É na fila do ônibus, na sala de espera do médico, do cabeleireiro, andando pelas ruas, em todo lugar, todos estão arredios, desconfiados, e ninguém se aproxima de forma descontraída um do outro para trocar uma idéia. Se o homem se aproxima da moça, da mulher, logo o seu primeiro pensamento, pode ser: Será que é um estuprador? Ou se trata de uma simples paquera? A criança, desconfiada, quando alguém lhe faz um gracejo, logo se lembra dos conselhos dos pais: não dê confiança para estranhos!
            Em qualquer lugar, aquele que chega agradando e falando com todos, logo se pensa. É candidato? É vendedor? Ou o que será que ele quer? 
Sim. Temos de tomar muito cuidado, principalmente as crianças, pois a onda de violência não está brincadeira. Em qualquer lugar, alguém pode nos surpreender com uma faca, uma arma, e o nosso dia, para não dizer nossa vida, estará estragada.
Bem. E o que dizer do que acontece lá na nossa comunidade? Na rua é até normal evitarmos certos contatos, pois por vias de segurança, dizemos: nunca se sabe...
 E dentro da Igreja?  Será que não agimos da mesma forma? Entramos na igreja, rezamos, comungamos o corpo e o sangue de Cristo, mais não comungamos o irmão, a irmã que está do nosso lado.  Sempre desconfiados, nos reservamos a falar apenas com Deus. Assim, a nossa espiritualidade, a nossa prática da fé acaba por ficar mutilada. Pois o Mandamento é: AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO!  E nós? O que fazemos? Amamos somente a Deus e ignoramos, evitamos o próximo. Nos olhares das pessoas para o irmão, detectamos: exclusão, desconfiança, competição e discriminação. Olhamos para o lado e pensamos: você? Não é do meu nível!  Ou, você, é rico? Eu também sou!  Ou ainda, não o conheço, por isso é bom não me arriscar.
Na hora do aperto de mão, abraço fraterno, fazemos isso mais por uma obrigação do que por uma devoção. Uma vez passado aquele momento, continuemos olhando para a frente, e para dentro de nós mesmo.
E isso não só acontece com a platéia geral dos fiéis que assistem a missa, mais também entre os escolhidos de Deus, aqueles que comungam a liturgia. Distribuímos a Hóstia, cantamos no coral, fazemos leituras, coletas, etc. e não nos preocupamos muito uns com os outros. Por vezes o máximo que acontece é uma pequena palavra, um pequeno gesto, e só. Não há congraçamento, não há vivência, partilha da fraternidade recomendada por Nosso Senhor Jesus Cristo:  Amar a Deus e ao próximo. E é nesse amor de uns para com os outros, que todos saberão que vós sois meus amigos...
E é dessa forma, que vivemos cada vez mais isolados, carentes de uma palavra, de uma brincadeira, de uma pessoa que escuta com atenção de verdade os nossos lamentos, alguém que tenha compaixão de nós, dos nossos sofrimentos, dos nossos problemas vitais. A palavra compaixão significa ter uma paixão com. Ter ou sentir a mesma paixão, o mesmo sofrimento que o outro está sentindo. É participar do sofrimento do outro. Mas nos dias de hoje, a lei ou regra geral, é cada um prá si. Ou o pior. Cada um prá si e Deus prá mim. E essa ausência de confraternização entre as pessoas, as leva a adotar muitos animais, buscando neles, o afeto que não obtém nos amigos, nas pessoas. Notamos que na maioria das casas das grandes cidades há mais de um animal, principalmente cachorros. E os seus donos precisam sair de casa, e os deixam sozinhos chorando ou latindo ininterruptamente, o que acaba por causar mais atritos e afastamento entre os vizinhos, pois os latidos irritam principalmente a quem está estudando, ou fazendo alguma coisa que exige concentração, ou mesmo quem não gosta de cães.
Assim, vivemos solitários em plena multidão. Não há diálogo entre as pessoas. O ser humano busca uma compensação nos animais. Pois muitos dizem que é melhor ter um cachorro amigo do que um amigo cachorro!  
Caríssimos. Vamos falar com os nossos filhos! Com a nossa esposa, com o nosso marido, o nosso irmão, a nossa irmã, a nossa sogra, o nosso vizinho, com o irmão que está do seu lado no templo...  Sei lá... invente... comece por você, a mudar este estado de coisas. Comente isso em suas palestras, nos seus sermões, no seu programa de rádio, de televisão, mais faça alguma coisa. Pois precisamos sair desse  isolamento, pois já não estamos mais ouvindo vozes humana, mais sim, só barulho de carros e de animais, principalmente de cães. Nada contra essas criaturas criadas por Deus para guardar a nossa casa, e para nos fazer companhia. Porém, por falta de companhia humana, por falta de amor fraterno entre nós, eles têm aumentado ou se multiplicado de forma assustadora!
Caríssimo. Paulo hoje nos aconselha a fazer tudo para a glória de Deus.   Não devemos escandalizar ninguém, e não fazer o que é vantajoso Pará nós, mas sim para todos. 
Irmãos. Ontem nós vimos que Jesus multiplicou os pães e saciou a fome de uma multidão. Vamos também nós multiplicar o número de nossos amigos, fazendo amizades sinceras, desinteressadas, e com o objetivo de imitar a Cristo, praticando o amor a Deus e ao próximo.
Hoje Jesus cura o leproso por dois motivos principais: pelo seu poder, e por sua compaixão para com os que sofrem.  
Sejamos nós também assim, pois se  cada um mudar, o mundo mudará. É só acreditar, e agir!

Sal.
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PESSOAL, TEMOS UM NOVO COLABORADOER. BEM VINDO AOS INTERNAUTAS MISSIONÁRIOS PADRE ERIVALDO
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PODER E COMPAIXÃO
(VI Dom. Comum B)
Pe. Erivaldo Gomes de Almeida
Eri_gomesseminarista@yahoo.com.br
O Jesus que no evangelho da semana anterior afirmou que sua missão era ir a outros lugares da redondeza, é apresentado hoje andando às margens da sociedade, lá por onde podia ser visto pelos leprosos.
Aos poucos, Marcos vai nos mostrando quem é Jesus. O episódio de hoje, ao narrar a cura de um leproso, ajuda-nos a compreender os dois mais importantes aspectos da pessoa de Jesus: sua divindade e sua humanidade. Jesus é Deus mesmo, mas é um Deus encarnado. Nele encontramos o poder de Deus operando e também sua humanidade. Era tão humano que só podia ser Deus. Ao mesmo tempo em que sentiu compaixão (sentimento humano que não deixa de ser divino) pelos sofrimentos daquele leproso, teve poder de curá-lo.
A primeira leitura (2Rs 5,9-14) apresenta-nos a situação de exclusão a que eram submetidos os leprosos. O profeta Eliseu não tocou em Naamã para curá-lo, nem dele se aproximou, enviou um mensageiro mandando ele lavar-se no Rio Jordão para receber a cura. Os leprosos eram excluídos do convívio social, religioso e político, pois eram considerados pecadores e, por isso mesmo, impuros. Estas pessoas tinham que expor publicamente sua humilhação: "O homem atingido por esse mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos soltos e a barba coberta, gritando: Impuro! Impuro! ... deve ficar isolado e morar fora do acampamento" Lv 13, 45-46.

            Podemos nos escandalizar com isso ainda hoje, mas seria pura hipocrisia, continuamos excluindo publicamente as pessoas. São tantos os casos de exclusão hoje. O que acontece com os aidéticos? E com os moradores das favelas? Dos bairros pobres de nossos municípios? O que pensam dos negros? Dos nordestinos? Dos idosos? Dos deficientes físicos? A nossa sociedade têm seus próprios instrumentos de exclusão.

O Evangelho (Mc 1,40-45) narra a cura do leproso. Jesus, ao contrário de Eliseu, Deixou que o leproso dele se aproximasse e o tocasse. É essa a missão dos discípulos-missionários, ir a lugares onde ninguém quer ir, aproximar-se, tocar, sanar os males.
Algo em Jesus atraia. As pessoas, principalmente as excluídas, a ele acorriam, pois sabiam que ele restabelecer a dignidade: “se queres, tens o poder de curar-me” (v.40).  Ao jogar-se aos pés do Senhor, aquele pobre homem reconhece sua pequenez e ao mesmo tempo a soberania de Jesus Cristo. Aqui aparece uma regra básica da vida espiritual: reconhecer nossa pequenez diante de Deus.  Caros amigos, todos temos nossas lepras, nossas fraquezas, precisamos colocá-las diante de Jesus para que ele nos liberte.
Jesus se enche de compaixão. É mais do que ter pena, é entrar no mundo do outro, por ele sofrer e fazer algo de concreto para aliviar-lhe o sofrimento. Ter compaixão é sentir-se co-responsável pelo outro, e de fato o somos. Esta mensagem é extremamente atual para o mundo pós-moderno, onde o que impera é o individualismo, atitude contrária à mensagem cristã. Portanto, quem ainda deixa que o individualismo doentio domine seu coração, precisa aprender com Jesus a ter compaixão.
Após curar o leproso, Jesus o proíbe de contar o que aconteceu, pois não quer ser conhecido como o grande milagreiro, mas como aquele que morreu na cruz. Os milagres no evangelho de Marcos são setas que apontam para a verdadeira identidade de Jesus, mas quando a cruz começa a aparecer, os milagres cessam. É na cruz que ele se revela.  Jesus também o manda cumprir os ritos de purificação para oficializar sua reintegração        à comunidade, mostrando que sua missão é fazer com que todos tenham vida e a tenham em abundância.

Diante te tão grande feito, o homem não se conteve, publicou aos quatro ventos as maravilhas que Deus realizou em sua vida. Jesus teve que se esconder, ir para o deserto, lugar onde vivia o leproso. Aqui mostra a que Jesus veio: assumir as nossas dores e sofrimentos. A prioridade de Jesus não era salvar a própria pele, mas a pele dos outros. Vemos mais uma vez um argumento claro contra o individualismo. Jesus ensina-nos a não pensarmos primeiro em nós, mas no próximo. Ele não viveu para si, mas para a humanidade. Aceitou viver a vida de exclusão para incluir alguém! Lembra muito o exemplo de S. Maximiniano Maria Kolbe que no campo de concentração aceitou morrer para salvar um pai de família.
 O cristão deve ter as mesmas atitudes e sentimentos de Jesus. Quando vejo o outro sofrendo, sou capaz de sentir compaixão e de fazer algo por ele? Diante da exclusão avassaladora que impera hoje, podemos fazer duas opções:
1.      Continuar conivente com este processo de exclusão, que nada tem de cristão e colaborar para que mais pessoas sejam marginalizadas.
2.      Andar na contramão da sociedade, fazendo com que os marginalizados sejam incluídos, não somente expulsando de seu habitat como fez o governo de São Paulo com os usuários de Crack, ou ainda como fazem os governos das grandes cidades, escondendo as favelas com grandes outdoors.
De que lado estamos? O que estamos fazendo de concreto para acabar com os preconceitos?


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12 de Fevereiro -  6º Domingo do Tempo Comum

"SENTIU COMPAIXÃO..." - Diac. José da Cruz
A nossa compreensão da palavra “compaixão”, nunca será completa, pois, na Sagrada Escritura, “sentir compaixão” é uma virtude própria de Deus e na maioria das vezes, esse sentimento pelo próximo, que o nosso coração define como “compaixão” não passa na verdade de um, gesto de piedade, que também é um atributo Divino, porém, em seu sentido mais amplo, que o coração humano nunca será capaz de alcançar. O evangelho deste Domingo, nos ajuda a aprofundar o sentido dessa ação de Jesus, presente em momentos significativos, quando ele se defronta com a miséria humana, motivando-nos a rever se a estamos aplicando na relação com o próximo, em seu sentido autenticamente cristão.
Pelo conteúdo normativo de Levíticos, primeira leitura, Jesus tinha mil e uma razões para nem sequer se aproximar de um leproso, que pertencia a classe dos “irrecuperáveis” daquele tempo, na ótica religiosa. A lepra era incurável e vista como conseqüência do pecado e assim, o leproso era considerado um maldito, que além da dor física, sofria também a dor moral da exclusão, sendo esta bem mais dolorosa porque o colocava à margem da salvação, banindo-o do convívio social e da comunidade, além de saber que a sua condenação no pós-morte, era tida como certa e definitiva.
Em uma sociedade marcada pelo ateísmo moderno, onde a fé é subjetiva e Deus é perfeitamente dispensável, esse quadro não é tão tenebroso, mas no contexto histórico e religioso daquele tempo, esse desprezo tinha um peso muito maior, o leproso era tido como um lixo, escória da sociedade, confinado em acampamentos fora da cidade, tendo que mostrar a sua desgraça e miséria, mantendo uma aparência monstruosa, e quem se aproximasse dele e o tocasse, estaria violando os preceitos da lei, tornando-se também um impuro e tendo de isolar-se, até que pudesse oferecer um sacrifício de expiação, como prescrevia a lei de Moisés, para só então ser reconhecido como “purificado”
Podemos então compreender a compaixão Divina, como uma ação coordenada não por normas legalistas, mas por uma lei nova, ensinada por Jesus: a Lei do amor, que não revoga a Lei antiga, mas lhe dá plenitude resgatando o seu sentido verdadeiro, que é a defesa e a preservação da vida humana. O evangelista Marcos faz questão de mostrar, da parte de Jesus essa “quebra de protocolo”, quando permite que o leproso se aproxime, é verdade que este o faz movido pelo desespero, infligindo também as normas do Levítico, e aqui percebe-se que o leproso é um homem diferente, uma vez que crê muito mais na misericórdia de Jesus, do que no cumprimento da Lei, determinada por uma instituição que não tem o poder da cura, mas apenas declara que ele está “impuro”, ao contrário de Jesus, que permite a aproximação, derrubando assim o preconceito.
Muito mais do que um simples encontro de Jesus com um leproso, este versículo sintetiza de forma brilhante o amor e a ternura de Deus pelo ser humano, permitindo uma reaproximação, após a queda do pecado, é o Deus que se deixa tocar, que se encarna e assume a natureza humana, com toda sua miserabilidade, o leproso se prostra diante dele, por uma razão muito simples: primeiro porque reconhece a sua insignificância, e em segundo porque não vê outra saída para sua dor, senão a de recorrer àquele que é diferente da instituição religiosa que o havia condenado, no fundo crê que Jesus de Nazaré é o seu Salvador e libertador, no sentido de ter o poder de resgatar a sua dignidade perdida, aquele leproso considerado um maldito, é na verdade alguém que consegue vislumbrar o verdadeiro messianismo de Jesus, em contradição com o Poder religioso, que o rejeita, mostrando uma fé madura, pois não pede simplesmente a cura física, mas a “purificação”.
Diante de uma fé assim, tão fiel e humilde, note-se que o leproso não impõe e nada exige e nem coloca a sua vontade como fator determinante, mas abandona-se à vontade de Deus: “Senhor, se queres...”. Que comovedora profissão de fé, para o homem arrogante e presunçoso de nossos tempos! Homem que a exemplo dos nossos primeiros pais, ousa ocupar o lugar que é de Deus, marginalizando e excluindo certas categorias sociais consideradas malditas, abandonadas em presídios de sistemas carcerários, que em quase nada contribuem para a recuperação de quem errou, de idosos, jovens, adolescentes e crianças, amontoados em asilos e instituições de caridade, gente que não tem mais esperança de nada, e que há muito tempo nem é mais contada na “aldeia global”, que só considera quem produz e consome.
Podemos encontrar com esse leproso no seio de nossas famílias e comunidades, onde isolamos certas pessoas em “acampamentos”, consideradas pervertidas, geniosas, temperamentais, desequilibradas, poderíamos incluir os aidéticos, efeminados, casais em segunda união, dependentes químicos, prostitutas, mães solteiras, pessoas que, como naquele tempo, sempre temos uma certa reserva, mantendo a necessária distância por medo de sermos “contaminados”, e a sua presença em nosso meio, causa asco e mal estar.
Como cristãos, temos que ter essa consciência do grave pecado da exclusão, e o evangelho nos mostra por onde devemos começar, é bem verdade que Jesus afrontou as instituições do seu tempo, mas em primeiro lugar, em sua relação com as pessoas, usou sempre da lei do amor, deixando de lado normas de conduta e formalismos religiosos, ao tocar no leproso. Poderíamos começar no nosso dia a dia, acolhendo com gestos cordiais, amizade e carinho, os “leprosos” que muitas vezes excluímos, por conta de preconceitos e até intolerância.
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Evangelhos Dominicais Comentados

12/fev/2012 --  6o Domingo do Tempo comum

Evangelho: (Mc 1, 40-45)

Jorge Lorente

No evangelho de hoje encontramos Jesus na Galiléia, uma região pobre e desprezada pelos judeus. Sempre foi assim: os pobres, os humildes, os doentes estão sempre à margem da sociedade. Parece que quanto mais distantes estiverem, melhor.

Menos para Jesus. Para Ele, os enjeitados parecem "imãs". Com enorme eficácia atraem Jesus e, da mesma forma, são atraídos por Ele. Desta vez, foi um leproso.

Jesus cura o mais pobre e marginalizado daquela época. A lepra era considerada uma maldição de Deus. Era vista como castigo pelos pecados cometidos pela pessoa doente ou por seus pais.

O leproso era considerado impuro, por isso era discriminado e excluído da sociedade. Naquele tempo, raramente alguém era curado da lepra. O leproso era condenado a morrer no abandono, sem qualquer ajuda ou atenção.

O leproso vivia longe das cidades e só poderia ser reintegrado quando fosse comprovada a sua cura pelos sacerdotes. Aquele que mais precisava de carinho e amor era jogado fora como um trapo velho e inútil. Era visto como um perigo e um estorvo para a sociedade.

Jesus sensibilizado com a súplica do leproso faz algo que ninguém teria feito. Apesar das leis, até mesmo, proibirem a aproximação, Jesus estendeu sua mão, tocou no doente sem medo e sem nojo, dizendo: "Quero, fique curado!" E o milagre aconteceu.

O gesto de cura e a aproximação são sinais do espírito profundamente libertador de toda ação de Jesus. A presença de Jesus liberta e salva. Aquele marginalizado é agora um testemunho vivo que anuncia o Salvador.

É assim que Jesus anuncia o Reino de Deus. Agindo, testemunhando, falando do amor misericordioso do Pai, pregando a Palavra e, acima de tudo, restituindo às pessoas a esperança e a alegria de viver.

Este evangelho nos alerta para uma realidade atual, muito comum nos nossos dias. Os marginalizados agora são os portadores do vírus HIV. Apesar da legislação não aprovar a exclusão explícita do soro-positivo, ele é discriminado, taxado como impuro e jogado à margem da sociedade.   

São mantidos longe dos parentes e amigos. Enjeitados pelos donos de hospitais e planos de saúde. Infelizmente, políticos corruptos e bandidos de colarinho branco são mais bem tratados do que esses doentes.

É bom lembrar que se a lei dos homens desaprova a exclusão, imagine então a Lei de Deus. Não é possível estar no seguimento de Jesus sem um efetivo compromisso com a dignidade humana.

Seguir Jesus é denunciar a "máfia" dos laboratórios. É lutar contra a falsificação e preços abusivos dos remédios. O seguidor de Jesus sabe que, cedo ou tarde, haverá um julgamento. Quem não quiser ser excluído e taxado de impuro precisa purificar-se no amor, precisa amar.

Amar é tomar para si as dores de quem sofre e lutar por dignidade e justiça. É ser solidário, é ver no próximo um irmão, é estender a mão e curá-lo através da simples aproximação.


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DOMINGO DIA 12/02/2012
Mc 1,40-45

A lepra desapareceu e o homem ficou curado.
Este Evangelho narra a cena da cura de um leproso. Ele “chegou perto de Jesus, e de joelhos pediu: Se queres, tens o poder de curar-me”. A fé é condição para recebermos as graças de Deus.
“Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: Eu quero: fica curado!” O sentido literal da palavra compaixão é “sofrer junto”. Ela leva a pessoa a, de dó, sofrer o mesmo que o outro está sofrendo. Só isso já é um alívio para o outro, porque sente que há alguém unido na dor. Daí para frente, os dois juntos, com os recursos que têm, procuram sair do problema. É bem mais fácil lutarmos contra uma dificuldade, junto com alguém, do que sozinho. E mais: “Onde dois ou mais estiverem unidos em meu nome” – disse Jesus – “eu estou no meio deles” (Mt 18-20).
“Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos.” Houve uma troca de posições: o homem saiu do deserto e Jesus foi para lá. A compaixão muitas vezes leva a isso. Mas o amor faz a pessoa feliz, mesmo vivendo no deserto.
Sob o nome de lepra incluíam-se diversas doenças da pela, além da lepra como tal. Todos esses casos eram considerados doença incurável e contagiosa; portanto, o doente devia afastar-se das pessoas e viver sozinho, em um lugar isolado. Se alguém tocasse nele, ficava também impuro, tendo de ir morar junto com ele lá no deserto (Lv 5,5-6; 13,45s).
O “leproso” era um ferido por Deus, e por isso ficava excluídos também da sinagoga e do convívio com o povo eleito, passando a levar uma vida miserável.
Jesus amou tanto aquele doente, que enfrentou todo esse rigor da Lei. Foi como se ele dissesse ao leproso: a sua dor é a minha dor; o seu problema é o meu problema.
“Por toda parte, Jesus andou fazendo o bem” (At 10,38). O cristão verdadeiro sente compaixão das pessoas que sofrem, e se une com elas, sem medo de “se sujar” ou de as coisas complicarem para si. Isso é solidariedade, que nasce da compaixão.
Jesus nunca ficava neutro entre uma pessoa certa e outra errada, um opressor e um oprimido, mas sempre assume o lado da verdade, da vida, do excluído e dos mandamentos de Deus. Por isso que os cristãos, seguidores de Jesus, facilmente “se queimam” ou “se estrepam”.
“Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que Moises ordenou, como prova para eles!” A prova era dupla: de que o homem está curado, portanto pode voltar ao convívio social, e que foi Jesus que o curou, isto é, reintegrou na sociedade uma pessoa que os sacerdotes excluíam, através de suas leis sobre puro e impuro. Aqueles sacerdotes se preocupavam em proteger o resto da sociedade, mas não se preocupavam em reintegrar nela os pobres doentes ou pecadores que haviam sido excluídos.
A nossa sociedade atual é parecida. Ela cria uma série de medidas para se proteger, por exemplo, contra a AIDS, mas não enfrenta a raiz do problema, que é o liberalismo total no uso do sexo. Ela cria FEBEM para se proteger contra o menor infrator, mas pouco se preocupa em recuperá-lo e reintegrá-lo na sociedade.
A pior medida é apelar para as armas, nas guerras e em conflitos pessoais. Como é triste matar uma pessoa humana, e causar lágrimas nos familiares, até o fim da vida! Falta-nos, muitas vezes, paciência na solução dos conflitos.
Hoje, há milhões de pessoas marginalizadas: pela fome, pela pobreza, pelo analfabetismo, pelo desemprego, pelas doenças... Cabe-nos uma pergunta: o que a nossa Comunidade está fazendo por eles? Nós nos preocupamos mais em colocar seguranças na porta da igreja, ou em recuperar essas pessoas? Colocar segurança na porta da igreja é uma atitude egoísta que só pensa no nosso lado, em nos proteger. Ela é válida, mas recuperar os marginalizados é muito mais importante e mais cristão.
“Não contes nada disso a ninguém!” Porque Jesus estava interessado em projetar não a si mesmo, mas a Comunidade cristã que ele estava criando. Ela, a Igreja, é a força de Deus no meio do povo. As pessoas sempre procuram alguém para se apoiar; Jesus quer o contrário: que a Comunidade cristã se apóie em Cristo e na sua união. Reino de Deus é povo organizado, e unido com Deus e entre si.
“Ele foi e começou a contar.” A própria vida do ex-leproso já era por si um testemunho em favor de Jesus. É impossível esconder a luz, especialmente quando essa luz não quer chamar a atenção sobre si mesma. Evangelizar é falar bem de Jesus e de sua Igreja. Contar, espalhar os benefícios que eles nos fazem
Deus nem sempre nos cura e nos livra de todas as doenças. Ninguém fica eternamente na terra. Mas, se tivermos fé, Deus nos dá a paz na doença e nos ajuda e transforma em bem as próprias doenças que sofremos.
Os antigos tinham uma figura mitológica chamada oportunidade. Era uma figura que passava sempre correndo, e só podia ser agarrada pelos cabelos. Mas, ao contrário de nós, ela tinha os cabelos na frente da cabeça, e, quando corria, os cabelos esticavam para frente, não para trás.
Assim, aqueles que quisessem agarrá-la, deviam dar conta da sua passagem por determinado lugar e ficar ali esperando, a fim de agarrá-la pela frente, pois, se ela passasse, acabou, ninguém conseguia pegá-la.
Aquele leproso aproveitou a oportunidade, porque, vivendo em um povo que via a sua doença como sem cura, procurou a Jesus: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Que nós também aproveitemos todas as oportunidades boas, inclusive as que nos são oferecidas pela fé.
Pedimos a Maria Santíssima que nos ajude a imitar o seu Filho Jesus, que “passou pela vida fazendo o bem”.
A lepra desapareceu e o homem ficou curado.

Padre Antonio Queiroz

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Para nos guiar na meditação da Palavra de Deus deste hoje, tomemos o Evangelho que acabamos de ouvir. “Um leproso chegou perto de Jesus”. No tempo de Cristo, toda doença na pele que oferecesse perigo de contágio era considerada um tipo de lepra; tornava a pessoa impura. Ouvimos na primeira leitura: “O homem atingido por esse mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: ‘Impuro! Impuro!’ Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento”. Eis! É alguém assim que se aproxima de Jesus: ferido, excluído do convívio da Assembléia de Israel, colocado fora da Cidade, um morto-vivo... Um leproso não podia tocar as pessoas: elas se tornariam impuras como ele; um leproso não convivia com sua família, não podia entrar na Casa do Senhor para rezar com seus irmãos: era um ninguém: “Impuro! Impuro!” – ele gritava, com a barba coberta em sinal de luto e profunda tristeza...
É um homem assim que se aproxima de Jesus; tem a ousadia de chegar junto dele, sem medo de ser repelido, repreendido, desprezado. E, do fundo de sua miséria, ele suplica: “Se queres, tens o poder de curar-me”. Quanta confiança, quanta esperança! Que oração brotada do mais profundo da dor! O que fará Jesus? Sua reação é absolutamente inesperada: ele faz algo que a Lei proibia: “Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: ‘Eu quero: fica curado!” Notai, irmãos! O Senhor estendeu a mão, o Senhor tocou o leproso! Não precisava fazê-lo, não deveria fazê-lo! Segundo a Lei, Jesus deveria ficar impuro também, ao menos até o entardecer... Por que tocou o leproso? Não poderia tê-lo curado sem tocá-lo? O próprio Evangelho explica: ele teve compaixão! Quis estar próximo daquele miserável, quis que ele se sentisse amado, acolhido! Jesus não nos ama de longe, não vê de modo indiferente a nossa miséria: ele se faz próximo, ele nos toca, ele compartilha nossa dor! Assim Deus faz conosco! E, para nossa surpresa, ao invés da impureza contagiar Jesus, é Jesus que contagia o leproso com a sua pureza! Eis! O Reino chegou: em Jesus, Deus vai libertando a humanidade de toda sua lepra, da lepra do seu pecado! Na ação de Jesus, compreendemos que o amor é mais forte que o egoísmo, que a luz é mais forte que a treva, que o bem é mais forte que o mal, que a graça é mais poderosa que o pecado, que a vida é capaz de vencer a morte! “No mesmo instante a lepra desapareceu e ele ficou curado”. Eis o bem, eis a graça, eis a salvação que o Senhor nos veio trazer! O profeta Isaías, havia anunciado: “Ele tomou sobre si as nossas dores, ele carregou-se com os nossos pecados! Era nossas enfermidades que ele levava sobre si, as nossas dores que ele carregava (Is. 53,4-5). Jesus curou o leproso e o Evangelho diz que ele “não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora, em lugares desertos.” Vede bem que, com essa linguagem, o Evangelho deseja afirmar que Cristo, curando o leproso, assumiu o seu lugar: agora, o homem que antes vivia nos lugares desertos, entra na cidade, volta a ser alguém; quanto a Jesus, fica fora, assume o lugar do homem: tomou sobre si as nossas dores!
Um grande mal da nossa época, uma grande ilusão, é achar que não temos pecado, pensar que somos maduros e integrados. Não somos capazes de reconhecer nossas lepras, somos incapazes de suplicar, de joelhos: “Senhor, se queres, podes curar-me!” E por que isso? Porque somos auto-suficientes: olhamo-nos, examinamo-nos não à luz do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, mas à luz de nós mesmos. Pensamos que somos senhores do bem e do mal, do certo e do errado! É tão comum vivermos de modo contrário à vontade do Senhor e ainda, cheios de orgulho e soberba, dizermos que estamos certos... É tão comum querermos moldar Jesus e a sua Palavra à nossa vontade... É tão freqüente a ilusão que podemos jogar na lata do lixo o ensinamento da Igreja, sobretudo no campo moral... E assim, vamos construindo nossa vidinha do nosso modo, modo de pecado, modo de lepra, modo de doença: doença da ida, da descrença, da indiferença, da falta de fé!
Reconheçamo-nos pecadores, meus caros! Mostremos ao Senhor a nossa lepra? Como fazê-lo? Primeiramente, deixando que sua Palavra nos fale e nos mostre nossos erros, nossas manhas, nossos males. Depois, à luz da Palavra do Senhor, façamos, com freqüência, o sincero exame de consciência e tenhamos a coragem de olhar de frente o que pensamos, falamos e fazemos contrário ao Senhor. Finalmente, sinceramente arrependidos, procuremos o Senhor no sacramento da Confissão e, confessando nossos pecados, busquemos o perdão, a cura do Cristo, nosso Deus. Quantas vezes evitamos a Confissão! Quantas vezes fugimos na tal da Confissão comunitária, desobedecendo às normas da Igreja, que só a permitem em casos raros e graves. A confissão, então é inválida e acrescentamos aos pecados cometidos, mais estes: a desobediência à norma de Igreja e a soberba de nos julgar auto-suficientes. Deveríamos aprender do Salmista, na missa de hoje: “Eu confessei, afinal, meu pecado, e minha falta vos fiz conhecer. Disse: ‘Eu irei confessar meu pecado!’ E perdoastes, Senhor, minha falta!” Mas, não! Teimamos em não levar a sério nosso próprio pecado! Julgamo-nos juízes de Deus e da Igreja! Terminamos, então por comungar indignamente, esquecendo que a Eucaristia, se traz vida para quem a recebe bem, traz também morte para quem não a recebe com as devidas disposições...
Chega de um cristianismo morno, chega da falta de coragem de nos olharmos de frente! Senhor, cura-nos! Senhor, somos leprosos, somos pecadores, nossos pecados mancham não a nossa pele, mas o nosso coração, o mais profundo da nossa alma! Senhor, de joelhos, como o leproso do Evangelho, te suplicamos: cura-nos e seremos curados! Dá-nos a graça de reconhecer nossos pecados; reconhecendo-os, dá-nos a coragem e sinceridade de confessá-los; confessando-os, dá-nos a graça de experimentar teu perdão, de cumprir generosamente a penitência e de procurar com responsabilidade emendar a nossa vida! Tem piedade de nós, ó Autor da graça e Doador do perdão! A ti a glória para sempre!
dom Henrique Soares da Costa
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A autoridade de Jesus e a marginalização
A liturgia de domingo passado mostrou que Jesus não se deixou “privatizar” pela população de Cafarnaum, mas seguiu sua vocação para ir a outras cidades também. Hoje vemo-lo saindo para a margem da sociedade, para os lugares desertos onde viviam aqueles que na época eram chamados leprosos. Estes eram intocáveis, tabu! Jesus quebra esse tabu e, no fim, acaba ocupando o lugar do doente, nos “lugares desertos”.
Como nos evangelhos anteriores, vemos aqui uma indicação velada da personalidade de Jesus. Autoridade e compaixão, duas qualidades dificilmente compatíveis no ser humano, são as feições divinas que se deixam entrever no agir de Jesus. E revela-se sua superioridade em relação à Lei, segundo a qual Jesus não poderia tocar no leproso. Ele não depende da Lei para realizar o bem da pessoa. Por autoridade própria, reintegra o ser humano que a letra da Lei marginaliza.
Este tema convida a uma catequese sobre a reintegração dos que são marginalizados. Para que nós, como membros do Cristo, possamos realmente vencer a marginalização, será preciso agir com uma autoridade que esteja acima das convenções constrangedoras do sistema em que vivemos. Precisamos encarnar, de modo operante, essa compaixão reintegradora, neutralizando os mecanismos de marginalização e exclusão com a força divina da verdadeira solidariedade, baseada no amor.
A 2ª leitura continua o tema de domingo passado, sobre as carnes oferecidas aos ídolos. Paulo se apresenta a si mesmo como exemplo, pois o pregador deve ser a ilustração daquilo que prega. O apóstolo quer agradar a todos, não para lograr sucesso pessoal, mas para o bem de todos, a fim de que se deixem atrair por Cristo. Este texto é uma das mais lindas exortações que a Bíblia contém.
1ª leitura (2Rs. 5,9-14)
Para ilustrar o tema do evangelho de hoje, a liturgia propõe (como leitura opcional) a cura do general sírio Naamã pelo profeta Eliseu. A leitura nos mostra o horror que a doença causa nesse homem de destaque, a ponto de procurar um profeta em terra estrangeira, em Israel. O recorte litúrgico não inclui a descrição dos ricos presentes que o homem trouxe para o profeta e que realçam ainda mais o seu status. Menciona, sim, o orgulho de Naamã, que julga pouca coisa banhar-se no rio Jordão, um riacho, em comparação com os rios da capital de sua terra, Damasco. Mas, aconselhado pelos servos, o homem banha-se, assim mesmo, no rio Jordão e fica curado: “sua carne tornou-se semelhante à de uma criancinha”.
Em Israel, a lepra causava exclusão da comunidade e suspeita de algum pecado. Em contraste, o salmo responsorial (Sl. 32/31,1-2.5.11) canta a alegria de ser perdoado e readmitido.
Evangelho (Mc. 1,40-45)
O canto de aclamação ao evangelho fala de Deus que visita o seu povo (Lc. 7,16). É isso que acontece quando Jesus vai aos lugares ermos, onde encontra um leproso bem diferente do da 1ª leitura, Naamã. Este procurou Eliseu com pompa e vaidade. No evangelho, Jesus mesmo vai até o lugar onde o doente vive excluído, marginalizado. No exercício da “autoridade” divina sobre as forças do mal e, ao mesmo tempo, levado por uma compaixão humana que não deixa de ser divina, Jesus quebra o tabu da lepra, toca o doente e faz desaparecer a enfermidade. Na opinião do povo, a lepra devia ser obra de algum espírito muito ruim. Jesus quebra esse tabu. O doente reconhece em Jesus uma misteriosa “autoridade”, seu poder sobre os espíritos maus. “Se quiseres, tens o poder de me purificar” (Mc. 6,40). Jesus não pensa nas severas restrições da Lei, só sente compaixão, aquela qualidade divina que ele encarna. Apesar da proibição da Lei, toca no doente de lepra, dizendo: “Eu quero, sê purificado”. E a cura sucede. Jesus dá um sinal do reino. Se ele cura pelo “poder-autoridade” do Filho do homem, não é preciso primeiro consultar os guardiões da Lei. Basta que, depois de receber o benefício de Deus, o doente ofereça o sacrifício de agradecimento, conforme o rito costumeiro.
Como aos exorcizados, Jesus proíbe ao ex-leproso publicar o que sua “autoridade” operou. Manda o homem oferecer o sacrifício prescrito, para oficializar sua reintegração na comunidade. Jesus lhe proíbe publicar o ocorrido, porque a publicidade desvia a percepção da verdadeira personalidade de Jesus (que não apenas cura, mas também assume o sofrimento humano). Mas o ex-leproso não é capaz de silenciar o fato. Quem conseguiria esconder tanta felicidade? O homem, até então marginalizado, encontrou a reintegração e aproveitou-a para contar o que lhe acontecera. Mais: Jesus foi ocupar o lugar do leproso nos “lugares desertos” (1,45).
Esse episódio faz pressentir a crescente e mortal oposição das autoridades religiosas: Jesus sabe o que é o bem do homem melhor do que a Lei, segundo a interpretação dos escribas. Por autoridade própria, reintegra a pessoa que a letra da Lei marginalizava. Restaura a comunhão com o excomungado, passando para trás os que tinham o monopólio da reintegração. Aceitar este Jesus significa aceitar alguém que supera as mais altas          autoridades religiosas. Nesse sentido, a cura da lepra funciona como um sinal: significa que, de fato, Jesus está acima das prescrições legais e pode prescindir delas.
2ª leitura (1Cor. 10,31-11,1)
Ao fim da discussão sobre a carne consagrada aos ídolos (1Cor 8-10; cf. domingos anteriores), Paulo tira as conclusões práticas. Comprar carne desses banquetes no mercado, sem ninguém o saber, pode parecer sem importância (10,25). Se, porém, alguém o sabe e se escandaliza, então não se deve comer dessa carne, por amor ao fraco na fé (10,28-29), pois não seria possível comê-la agradecendo a Deus (10,30). Daí a atitude geral: fazer tudo de sorte que seja um agradecimento a Deus, o que acontece quando é para o bem dos outros. Por fim, Paulo atreve-se a apresentar-se como exemplo, sendo Cristo o exemplo dele (cf. 1Cor 11,1; Fl. 3,17).
Dicas para reflexão
A exclusão virou princípio da organização socioeconômica: a lei do mercado, da competitividade. Quem não consegue competir deve desaparecer, quem não consegue consumir deve sumir. Escondemos favelas por trás de placas publicitárias. Que os feios, os aleijados, os idosos, os doentes de Aids não poluam os nossos cartões-postais! 
Em tempos idos, a exclusão muitas vezes provinha da impotência diante da enfermidade ou, também, da superstição. Em Israel, os chamados leprosos eram excluídos e marginalizados, como ilustra abundantemente a legislação de Lv 13-14. Enquanto não se tivesse constatado a cura, por complicado ritual, o doente de lepra era considerado impuro, intocável. Jesus, porém, toca no homem doente e o cura. Sinal do reino de Deus. Jesus torna o mundo mais conforme ao sonho de Deus, pois Deus não deseja sofrimento nem discriminação. O Antigo Testamento pode não ter encontrado outra solução para esses doentes contagiosos que a marginalização, mas Jesus mostra que um novo tempo começou.
Começou, mas não terminou. Reintegrar os marginalizados não foi uma fase passageira no projeto de Deus, como os presentinhos dos políticos nas vésperas das eleições. O plano messiânico continua por meio do povo messiânico. Devemos continuar inventando soluções para toda e qualquer marginalização, pois somos todos irmãos e irmãs.
Seremos impotentes para erradicar a exclusão, como os antigos israelitas em relação à lepra? Que fazer com os criminosos perigosos, viciados no crime? O fato de ter de marginalizar alguém é reconhecimento da inadequação de nossa sociedade. Toda forma de marginalização é denúncia contra nossa sociedade e ao mesmo tempo um desafio. Muito mais ainda em se tratando de pessoas inocentes. A marginalização é sinal de que não está acontecendo o que Deus deseja. Onde existe marginalização o reino de Deus ainda não chegou, pelo menos não completamente. E onde chega o reino de Deus, a marginalização já não deve existir. Por isso, Jesus reintegra os marginalizados, como é o caso do leproso, dos pecadores, publicanos, prostitutas… Essa reintegração está baseada no “poder-autoridade” que Jesus detém como enviado de Deus: “Se quiseres, tens o poder de me purificar” (Mc 1,40). Jesus passa por cima das prescrições levíticas, toca no leproso e “purifica-o” por sua palavra, em virtude da autoridade que lhe é conferida como “Filho do homem” (= “executivo” de Deus, cf. Mc. 2,10.28).
Há quem pense que os mecanismos autorreguladores do mercado são o fim da história, a realização completa da racionalidade humana. E os que são (e sempre serão) excluídos por esse processo, onde ficam? Não será tal raciocínio o de um varejista que se imagina ser o criador do universo? A liturgia de hoje nos mostra outro caminho, o de Jesus: solidarizar-se com os marginalizados, os excluídos, tocar naqueles que a “lei” proíbe tocar, para reintegrá-los, obrigando a sociedade a se abrir e criar estruturas mais acolhedoras, mais messiânicas.


Jesus cura o marginalizado
Pouco a pouco o Evangelho de Marcos vai mostrando quem é Jesus. O episódio de hoje é o terceiro milagre recordado tendo em vista esse objetivo.
Já vimos, na 1ª leitura, a situação de marginalidade em que se encontrava o leproso. Essa situação era mais grave no tempo de Jesus, pois tudo girava em torno da distinção puro-impuro. Quem controlava esse rígido código de pureza eram os sacerdotes. Cabia a eles declarar o que podia ou não podia ter acesso a Deus. Deus estaria sob o controle dos sacerdotes e do código de pureza.
O leproso certamente sabia disso. Sabia também que sua vida – e sua libertação da marginalidade – não dependiam do templo e dos sacerdotes, pois estes só constatavam a cura ou a permanência da doença em seu corpo. Diante disso, o leproso toma uma decisão radical: não vai ao sacerdote, e sim a Jesus. Ajoelha-se diante dele e pede: “Se quiseres, podes curar-me” (v. 40). Reconhece que o poder da cura que o tira da marginalidade não vem da religião dos sacerdotes, e sim de Jesus. Notemos outro aspecto importante: ao invés de ficar a distância e gritar sua marginalização (cf. 1ª leitura), aproxima-se e manifesta sua adesão a Jesus como fonte de libertação e vida: “Se quiseres, podes curar-me”. Viola a lei para ser curado.
Jesus quer curar o leproso de sua marginalização, devolvendo-lhe a vida (naquele tempo, curar um leproso era sinônimo de ressuscitar um morto). Mas a ação de Jesus é precedida por uma reação. De acordo com a maioria das traduções (e do Lecionário também), a reação de Jesus se traduz em compaixão (v. 41a). Algumas traduções, porém, em vez de ler “compaixão”, leem “ira” (Bíblia Sagrada – Edição Pastoral). Jesus teria ficado furioso. Não certamente com o leproso, mas com o código de pureza que, em nome de Deus, marginaliza as pessoas, considerando-as como mortas. É contra esse sistema religioso que Jesus se revolta. E o transgride também.
De fato, acreditava-se que a lepra fosse contagiosa. Jesus quebra o código de pureza, tocando o leproso (v. 41b; cf. Lv. 5,3). Com isso, de acordo com o sistema religioso vigente, torna-se impuro: torna-se leproso e fonte de contaminação. (Note-se que, de acordo com Lv. 5,5 - 6, além de ficar impuro, Jesus deveria oferecer um sacrifício!) Torna-se marginalizado e já não poderá entrar publicamente numa cidade: deverá ficar fora, em lugares desertos (cf. v. 45a), como os marginalizados. O Filho de Deus foi morar com os marginalizados. Aqui o Evangelho de Marcos mostra quem é Jesus: é aquele que rompe os esquemas fechados de uma religião elitista e segregadora, indo habitar entre os banidos do convívio social.
Curado o leproso, Jesus o expulsa. É esse o sentido da expressão “o mandou logo embora”. A expressão é forte e, ao mesmo tempo, estranha. Mas não é estranha se a lermos na ótica da ira de Jesus contra o código de pureza que marginaliza as pessoas: ele não quer que elas continuem vítimas de um sistema social e religioso que rouba a vida.
Jesus dá uma ordem ao curado: “Não conte isso a ninguém! Vá, mostre-se ao sacerdote e ofereça o sacrifício que Moisés mandou, como prova para eles!” (v. 44). Tudo leva a crer que a tarefa da pessoa curada consiste não em divulgar o milagre, mas em colaborar para que o código de pureza seja abolido. De fato, ela deverá se mostrar ao sacerdote para que este constate sua cura. Sinal de que a cura não depende do código de pureza nem da religião do templo. A expressão “como prova para eles” tem este sentido: o sacrifício serve como testemunho contra o sistema que declarava a pessoa punida por Deus e banida do convívio social. O sacrifício tem, pois, caráter de denúncia e de abolição do código de pureza.
Não sabemos se a pessoa curada teve a coragem de testemunhar contra o sistema religioso que a mantinha na marginalidade. Marcos diz que o curado “foi e começou a contar e a divulgar muito o fato” (v. 45a). A reação a esse anúncio é evidente: Jesus não pode mais entrar numa cidade, pois, segundo o código de pureza, está contaminado e é fonte de contaminação. Todavia, de toda parte o povo vai procurá-lo (v. 45b), sinal de que está aberto novo acesso a Deus. Deus, em seu Filho, pode ser encontrado fora, na clandestinidade, entre os que o sistema religioso e social discriminou.
Essas tantas águas
Naamã, o sírio, vai lavar-se nas águas do Jordão e fica curado de sua lepra. Jesus cura um leproso e pede que ele busque o sacerdote para fazer a oferenda  pela sua purificação. Água e purificação…
Um dos elementos mais importantes para a vida de cada um de nós e para o planeta é a água. Mil aspectos e mil simbolismos.
Pensamos nesses terríveis aguaceiros, nessas águas de março, que fecham o verão… Quantas mortes e quantas destruições! Gente sendo levada pela veemência cruel das enxurradas gente soterrada… gente sufocada pelas águas… águas que levam documentos, móveis, nossos entes queridos e nossas esperanças. Pensamos também nesses longos períodos sem chuva. A terra se racha. As pessoas quase morrem de sede. E quando chega a chuva há festa… há dança… e alegria pela chuva que chega.
Temos sede de amizade, sede de paz, sede de reconciliação, sede de perdão, sede de Deus.
Naamã queria ficar curado da lepra. Resolveu, mesmo sendo estrangeiro, pedir a Eliseu a cura. Queria simplesmente uma bênção do profeta, mas este mandou que se lavasse sete vezes nas águas do Jordão. Naamã estranhou. Afinal de contas na sua terra havia tantos rios e tantas águas… O Jordão… o rio especial… depois, mais tarde, Jesus haveria de nele mergulhar… Naamã fica curado. “… Naamã desceu e mergulhou sete vezes no Jordão, conforme o homem de Deus lhe havia mandado, a sua carne tornou-se semelhante a de uma criancinha, e ele ficou purificado”. Uma água que purifica…
Lepra, cura, pecado, batismo… lepra e cura… As águas do Jordão apontam para o batismo.  Ao longo do tempo da vida da Igreja houve muitos modos de se receber o batismo. Certamente uma das modalidades mais expressivas é aquela que faz quando o candidato mergulha todo o corpo na água. Morre e renasce. O batismo nos faz mergulhar na morte de Jesus para podermos participar de sua ressurreição. As águas do batismo sepultam o inimigo e nos fazem chegar a pé enxuto à terra do promissão.
Lembramo-nos dos judeus passando pelas águas do Mar Vermelho… depois logo após a morte de Moisés passando ilesos pelas águas do Jordão.
Olhamos de modo todo particular para o peito aberto de Jesus no alto da cruz e vemos correr ainda um rio de água e um rio de sangue… coração, fonte de vida.
Até que ponto valorizamos o batismo? Até que ponto os cristãos têm consciências do alcance da graça batismal quando pedem o batismo para os filhos? Até que ponto nossos agentes de pastoral do batismo conseguem transmitir a beleza e a nobreza das águas das fontes batismais.
Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele e disse; “Eu quero: fica curado”.
frei Almir Ribeiro Guimarães
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O poder sobre a marginalização
A lepra era um sofrimento duplamente cruel, em Israel, por causa da doença em si e por causa da exclusão prevista pela Lei (1ª leitura), Lv. 13; mas Lv. 14 traz prescrições para curar os leprosos e reintegrá-los). Na opinião do povo, a lepra devia ser obra de algum espírito muito ruim. Os leprosos eram intocáveis, tabu! Jesus quebra este tabu (evangelho). O leproso reconhece em Jesus sua misteriosa “autoridade”, seu poder sobre os espíritos maus. “Se quiseres, tens o poder de me purificar” (Mc. 6,40). Jesus não pensa nas severas restrições da Lei, mas em compaixão, aquela qualidade divina  que ele encarna. Toca no leproso, apesar da proibição. Diz: “Eu quero, sê purificado”, e acontece. Como aos exorcizados, Jesus proíbe ao ex-leproso publicar o que o “poder” nele operou. Mas quem poderia esconder tanta felicidade? O homem, até então marginalizado, encontrou a reintegração e aproveitou-a para contar o que lhe acontecera. Mais: Jesus foi ocupar o lugar do leproso, nos “lugares desertos” (1,45).
Como as narrações precedentes, também esta é concebida como uma revelação velada da personalidade de Jesus. Poder e compaixão: duas qualidades de Deus, dificilmente compatíveis no homem, são as feições que se deixam entrever no agir de Jesus. E também: a superioridade em relação à Lei. Pois a Lei é para o bem das pessoas; se se pode curar alguém pelo “poder”, não é preciso primeiro consultar os guardiães da Lei. Basta que, depois do beneficio de Deus, o leproso ofereça o sacrifício de agradecimento a Deus, conforme o rito costumeiro.
Chegamos aqui a um ponto central na atuação de Jesus, e que provocará a crescente e mortal oposição das autoridades religiosas: Jesus sabe melhor que a Lei (na interpretação dos escribas) o que é o bem do homem. Reintegra, por “autoridade” própria, o homem que a letra da Lei marginalizava. Restaura a comunhão com o excomungado (a aclamação ao evangelho é tirada, precisamente, de um dos salmos de reintegração dos excomungados), passando para trás os que tinham o monopólio da reintegração. Aceitar este Jesus significa aceitar alguém que supera as mais altas autoridades religiosas. Neste sentido, a cura da lepra funciona como um sinal: significa que, de fato, Jesus está acima das prescrições legais e pode prescindir delas. Este é o ponto central da revelação velada que se expressa neste milagre.
Este tema convida a uma catequese sobre a reintegração dos que são marginalizados (não necessariamente por causa de lepra). Uma pista: a reintegração baseia-se na “autoridade” que Jesus demonstra; autoridade que neutraliza, por assim dizer, as prescrições da Lei. Em Jesus, temos uma autoridade superior. Para que nós, operando como membros do Cristo, possamos realmente vencer a marginalização, será preciso desenvolver um poder que esteja acima das convenções constrangedoras do sistema em que vivemos. Precisamos demonstrar tal poder, exatamente como Jesus. Precisamos de uma encarnação operante da compaixão reintegradora; precisamos de uma força que neutralize os mecanismos de marginalização. Uma força de origem divina: a força da verdadeira solidariedade, baseada no amor.
A 2ª leitura tira das “questões particulares” dos coríntios uma regra de vida que para todas as circunstâncias. Paulo chega ao termo de suas considerações com relação ao participar dos banquetes religiosos pagãos (que eram, ao mesmo tempo, festas civis) (1Cor. 8) e com relação ao comer carne sacrificada aos ídolos e depois vendida no mercado (10,23-30). Acha que não convém usar de seu direito em coisas tão secundárias, se isso causa confusão nos “fracos na fé”, que não sabem distinguir o que é idolátrico e o que não o é. Inclusive, as refeições se fazem sob ação de graça; ora, como render graças se o irmão fica na confusão pelo que estou fazendo (10,30)? Daí a regra geral,  adaptável a muitas circunstâncias: fazer tudo, comer, beber e tudo o mais, de modo que se possa dar graças e louvor a Deus (10,31). Paulo se coloca a si mesmo como exemplo (cf. domingo passado): o pregador deve ser a ilustração daquilo que ele prega.
Paulo quer agradar a todos, não para lograr sucesso pessoal, mas para o bem da maioria, a  fim de que todos se deixem atrair por Cristo. Este texto é uma das mais lindas exortações que a Bíblia contém.
Johan Konings "Liturgia dominical"
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Cura de um leproso
- Marcos 1,40-45
Jesus é procurado diretamente por uma pessoa à qual costuma ser negado qualquer contato com as pessoas saudáveis. Ele não marginaliza ninguém, nem discrimina.
Na primeira leitura lemos que o Senhor fala a Moisés e Aarão: “Se um homem estiver leproso… deve ficar isolado e morar fora do acampamento” (Lv. 13,1-2.44-46).
A lepra era considerada como a impureza do homem e por isso ele era afastado não só fisicamente mas também por ser considerado impuro no caráter religioso, impuro de espírito. Por isso a cura de um leproso, por meio de um milagre de Jesus tem o sinal da libertação do homem do pecado em que vivia, um sinal e uma prova do poder de Jesus que pode libertar o homem do mal.
O homem doente manifesta grande confiança em Jesus que pode ser notada na sua afirmação: se quiseres pode curar-me! Reconhece que o poder de cura que o tira da marginalidade não vem da religião dos sacerdotes, e sim de Jesus. Ao invés de ficar a distância e gritar, aproxima-se e manifesta sua fé. Portanto, viola a lei para ser curado.
Jesus mostra sua humanidade, o sentimento de compaixão, estendendo a mão para tocar e curar o leproso e, ao tocá-lo, se torna participante da doença para curá-la desde a sua raiz. É como se tomasse para Si mesmo os sofrimentos daquele homem.
O fato de Jesus ter tocado numa pessoa impura O coloca numa situação de violação da lei e por isso Ele pede ao leproso curado que não espalhe a notícia, e que vá imediatamente contar para o sacerdote, segundo o Senhor havia dito a Moisés (vide Levítico 14,1-32), pois só este precisa saber da cura para que possa permitir a sua participação novamente na sociedade da qual a doença o afastou.
O homem, embora feliz e confiante em Jesus, não obedece a ordem de não espalhar a notícia da sua cura antes de falar com o sacerdote e, por isso, Jesus não pode mais andar livremente pelas cidades, ficando fora delas em lugares desertos onde os doentes iam procurá-Lo.
Jesus compadecido
É comovente contemplar a sensibilidade de Jesus, em relação aos sofredores. Tem-se a impressão de que, quanto maior o sofrimento humano, tanto maior sua capacidade de comover-se. Nestas horas, a misericórdia falava mais alto.
O encontro com o leproso tocou, fundo, no coração de Jesus. Imaginemos aquele homem deformado e repelente, lançando-se aos pés do Mestre, em cujas mãos colocava a própria cura: "Se queres, tu tens o poder de curar-me!"
A reação natural seria a de censurá-lo, e ordenar que se afastasse, pois os leprosos não podiam conviver com as pessoas sadias. Outra reação seria a de afastar-se sem demora, para evitar o risco de contágio e o da impureza adquirida pelo simples contato com o doente.
Tudo se passa de forma diferente com Jesus. A presença daquele homem sofredor move-o à compaixão. Daí o gesto inesperado: Jesus toca o leproso. Sem dúvida, houve quem se escandalizasse e passasse a considerá-lo como impuro, como faziam com quem entrava em contato com os portadores da lepra.
Este tipo de tradição não tinha nenhum valor para Jesus. Seu único desejo era ver aquele infeliz livre de sua doença. E o cura!
A reação do ex-leproso é compreensível. Apesar da advertência de Jesus, saiu gritando o que lhe acontecera. A compaixão do Senhor deixou-o maravilhado.
padre Jaldemir Vitório
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Jesus rompe a Lei para mostrar a misericórdia
Jesus cura um leproso. A cena é comovente. O homem se aproxima e pede de joelhos que Jesus o cure. Seu pedido é uma profissão de fé: "Se o Senhor quiser, o Senhor tem o poder de me curar". A frase é dita com convicção. Ele crê em Jesus, como nosso pai Abraão creu em Deus e se tornou justo pela sua fé. Jesus responde que quer curá-lo, e Ele o faz com muita bondade e compaixão. Jesus tem pena da situação daquele homem, estende a mão, toca nele e diz: "Eu quero, fica curado".
A atitude de Jesus e os gestos que a acompanham revelam o coração de Deus e a qualidade do relacionamento de Deus com suas criaturas. Jesus, Deus, se comove com o leproso e modifica radicalmente a situação em que ele se encontra. Parece então claro que não estava no projeto inicial de Deus a existência de um leproso, mas o leproso existe. As estatísticas falam de 20 milhões de leprosos no mundo.
A medicina por sua parte diz que a lepra pode ser evitada, pode ser bem acompanhada e curada. Dadas, porém, as características externas da enfermidade, ela sempre causou medo, repugnância e exclusão. Não é incomum que o próprio doente se afaste e se isole.
A Lei mosaica, expressa no livro de Levítico, já prescrevia normas de isolamento nos casos de lepra. O sacerdote declarava a enfermidade e isolava o leproso que passava a morar fora do acampamento. O doente mesmo devia anunciar sua presença gritando: "Impuro"! Ninguém podia se aproximar dele e menos ainda tocar nele, se não quisesse ser também considerado impuro.
Jesus rompe as normas e toca no leproso tornando-se legalmente impuro como ele. Nunca se ouviu dizer de um "Deus" que se identificasse com os mais sofridos do que o nosso Deus! Ele se põe decididamente ao lado do excluído. O leproso é o excluído por excelência e se torna sinal de todos os que não podem conviver de forma normal na sociedade humana. Jesus o tira do ostracismo e o coloca no centro da vida.
Nós nos lembramos que Jesus chamou os apóstolos e seus sucessores para cuidarem das pessoas. Os pescadores de peixes foram chamados a se tornar pescadores de gente. Aqui está alguém que já não parece gente, a quem Jesus vai devolver a sua dignidade. Assim, a misericórdia de Deus se estende a todos, desde que aceitem as mediações da misericórdia.
Deus age por meio de seus servos, como o profeta Eliseu, que curou a lepra de Naamã, chefe do exército do rei dos arameus. Teve que ser humilde e se banhar sete vezes nas águas do Jordão, como lhe pedira Eliseu. Deus age por meio de São Paulo, que sempre buscou o que era bom para os outros, procurando não escandalizar nem judeus, nem gregos, nem os cristãos. Queria que todos fossem salvos e que em tudo Deus fosse glorificado. E não receia em nos convidar a sermos seus imitadores.
O salmo 31 (32), cantado nesta liturgia, introduz outra dimensão na situação do leproso. Ele é símbolo da alma em pecado. Feliz o homem que o Senhor não considera mais culpado porque tomou a decisão de confessar o seu pecado e pedir perdão. Este homem tem o seu coração reto e não abriga a falsidade em sua alma.
Jesus rompe a Lei para mostrar a misericórdia. O ser humano precisa em primeiro lugar de compreensão. Jesus toca naquele homem para lhe dizer: "Eu te compreendo", seja doente, seja pecador. No entanto, manda que ele se apresente ao sacerdote, de acordo com as normas da Lei. O sacerdote devia constatar a cura e declará-la publicamente. Jesus mantém o que na Lei é benéfico ao homem.
cônego Celso Pedro da Silva
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O agir de Jesus vai além do bem físico
As elites religiosas de Israel, que assumiram o poder político após o fim da realeza da dinastia davídica, elaboraram inúmeros preceitos legais, que foram atribuídos a Moisés, apresentado na tradição como o grande legislador. Com isto sobrecarregavam e oprimiam o povo humilde e simples com centenas de exigências de observâncias, de difícil cumprimento para este povo, o que levava a que muitos fossem humilhados com a qualificação de impuros e pecadores. Assim, por exemplo, era considerado impuro aquele que tocasse em um animal doméstico morto (Lv. 5,1-6) ou comesse sem antes lavar as mãos (Mt. 7,3 - "tradição dos antigos"), o que poderia acontecer com frequência entre camponeses ou empobrecidos, em contato com criações e em situações de carência de água. Quem se tornasse impuro deveria levar ao sacerdote uma fêmea de gado miúdo para ele fazer o rito de expiação, que o livraria do pecado.
A mulher com fluxo de sangue era considerada impura e, depois dos dias de suas regras, deveria levar ao sacerdote duas rolas ou dois pombinhos, o qual os oferecia como sacrifício pelo pecado (Lv. 15,19). Até os doentes eram considerados impuros e pecadores, o que os levava à exclusão do convívio com os considerados "puros" e "justos". Na narrativa de hoje, o que constrange o leproso é a sua qualificação religiosa de impuro e, portanto, pecador, com a sua consequente exclusão. Deve morar a sós, fora da cidade, e apresentar-se com roupas rasgadas e aparência descuidada, de maneira repugnante, proclamando sua impureza (primeira leitura).
Esta narrativa do evangelho de Marcos revela que o empenho de Jesus não é a simples cura, mas a inclusão social dos marginalizados. O agir de Jesus vai além do proporcionar a recuperação do bem físico particular daquele homem. O seu objetivo maior é promover a inserção plena dos excluídos em um convívio social fraterno e justo, fundamental para uma vida saudável. Jesus vem para libertar todos os oprimidos pelo sistema religioso, centrado no Templo de Jerusalém, com seus códigos de pureza e impureza. Esta libertação passa pela consciência que ele quer despertar nos excluídos de que a sua situação de exclusão é fruto de uma injustiça sócio-religiosa e que esta não é a vontade de Deus.
A imposição de silêncio de Jesus ao homem purificado pode ser entendida como tentativa de evitar que fosse visto como um simples taumaturgo resolvendo problemas individuais e imediatos das pessoas. O seu envio ao sacerdote será um testemunho da ação libertadora e vivificante de Jesus. Tendo tocado no leproso, Jesus passa a ser visto como um impuro também, por isso evita entrar nas cidades. Contudo, o gesto de Jesus revela também a sua indiferença diante do preceito legal. E, ainda mais, há uma inversão de valores: ao invés de Jesus contagiar-se é o leproso que fica purificado. Isto significa uma subversão da ordem constituída: o sistema que exclui os impuros e pecadores é abolido pela nova prática amorosa de Jesus que acolhe a todos, sem discriminações (segunda leitura).
José Raimundo Oliva
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A liturgia do 6º domingo do tempo comum apresenta-nos um Deus cheio de amor, de bondade e de ternura, que convida todos os homens e todas as mulheres a integrar a comunidade dos filhos amados de Deus. Ele não exclui ninguém nem aceita que, em seu nome, se inventem sistemas de discriminação ou de marginalização dos irmãos.
A primeira leitura apresenta-nos a legislação que definia a forma de tratar com os leprosos. Impressiona como, a partir de uma imagem deturpada de Deus, os homens são capazes de inventar mecanismos de discriminação e de rejeição em nome de Deus.
O Evangelho diz-nos que, em Jesus, Deus desce ao encontro dos seus filhos vítimas da rejeição e da exclusão, compadece-Se da sua miséria, estende-lhes a mão com amor, liberta-os dos seus sofrimentos, convida-os a integrar a comunidade do “Reino”. Deus não pactua com a discriminação e denuncia como contrários aos seus projetos todos os mecanismos de opressão dos irmãos.
A segunda leitura convida os cristãos a terem como prioridade a glória de Deus e o serviço dos irmãos. O exemplo supremo deve ser o de Cristo, que viveu na obediência incondicional aos projetos do Pai e fez da sua vida um dom de amor, ao serviço da libertação dos homens.
1ª leitura – Lev. 13,1-2.44-46 – AMBIENTE
O Livro do Levítico trata, sobretudo, de questões relacionadas com o culto (que era incumbência dos sacerdotes, considerados membros da tribo de Levi). Literariamente, o livro apresenta-se como um conjunto de discursos que Jahwéh teria feito a Moisés no Sinai e nos quais teria explicado ao Povo o que este deveria fazer para viver sempre em comunhão com Deus, no âmbito da Aliança.
Na realidade, o livro apresenta um conjunto de leis, de preceitos, de ritos de épocas e proveniências diversas, reunidos ao longo de vários séculos e reelaborados pelos teólogos da “escola sacerdotal”. A grande maioria dessas leis, ritos e preceitos dizem respeito à vida cultual e pretendem ensinar os israelitas a viver como Povo de Deus e a responder, de forma adequada, ao amor e à solicitude do Deus da Aliança. Fundamentalmente, o Levítico preocupa-se em instilar na consciência dos fiéis que a comunhão com o Deus vivo é a verdadeira vocação do homem.
O texto que nos é proposto pertence à terceira parte do Livro do Levítico (cf. Lv. 11-16), conhecida como “lei da pureza”. Aí, apresentam-se os vários gêneros de “impureza” que impedem o homem de se aproximar do santuário, bem como os ritos destinados a “purificar” o homem.
A noção de pureza ou de impureza que aparece no Livro do Levítico está muito próxima da noção de “tabu” que os especialistas da história das religiões conhecem bem. Supõe-se que o homem deseja a sua vida balizada por regras bem definidas, que o protejam da angústia e do risco do desconhecido. Tudo o que é excepcional, anormal, insólito, misterioso, destrói a harmonia e o equilíbrio e pode libertar forças incontroláveis que o homem não domina.
Desde tempos imemoriais, certos “tabus” interditavam aos israelitas o contacto com determinadas realidades (o sangue, um cadáver, certos tipos de alimentos, etc.). Se o homem entrava em contacto com essas realidades, ficava “impuro”. O contacto com a “impureza” não era pecado; mas o homem devia “limpar” a “impureza” contraída, logo que possível. Só depois de purificado (isto é, de eliminado o estado de indignidade em que se encontrava), podia voltar a aproximar-se do Deus santo e a estabelecer comunhão com Ele.
O caso mais grave de “impureza” era causado por uma doença – a lepra. É a essa realidade que o nosso texto se refere.
MENSAGEM
O nosso texto estabelece o procedimento a adotar, no caso de alguém contrair a “lepra”… A palavra “lepra” designa, aqui, um conjunto variado de afecções da pele, e não somente a doença que nós conhecemos, atualmente, com esse nome. No geral, utiliza-se a palavra “lepra” para designar vários tipos de enfermidade da pele, que deformam a aparência do homem.
Esse leque de afecções aqui catalogado sob o nome geral de “lepra” é visto como um estado insólito e anormal, uma manifestação de forças misteriosas, inquietantes e ameaçadoras que ameaçam a harmonia e o equilíbrio da existência do homem.
O “leproso” era, em consequência, segregado e afastado da convivência diária com as outras pessoas. Tal medida tinha, naturalmente, uma intenção higiênica e pretendia evitar o contágio. Significava, também, a dificuldade da comunidade em lidar com o insólito, o estranho, as forças misteriosas e inquietantes da doença (e, aqui, de uma doença particularmente repugnante). Mas, sobretudo, a exclusão dos “leprosos” da comunidade tinha razões religiosas… Para a mentalidade tradicional do povo bíblico, Deus distribuía as suas recompensas e os seus castigos de acordo com o comportamento do homem. A doença era sempre um castigo de Deus para os pecados e infidelidades do homem. Ora, uma doença tão assustadora e repugnante como a “lepra” era tida como um castigo terrível para um pecado especialmente grave. O “leproso” era considerado, portanto, um pecador, especialmente amaldiçoado por Deus, indigno de pertencer à comunidade do Povo de Deus e que em nenhum caso podia ser admitido às assembléias onde Israel celebrava o culto na presença do Deus santo.
Porque é que o “leproso” devia apresentar-se ao sacerdote? Quando alguém exteriorizava sinais de pecado e de indignidade, devia ser banido pelas autoridades competentes (os sacerdotes) da comunidade santa. O sacerdote não aplica remédios nem tem funções terapêuticas (embora a sua função devesse ajudar a controlar o mal e a impedir o contágio). A sua ação destina-se, sobretudo, a decidir da capacidade ou da incapacidade de alguém para integrar a comunidade do Povo de Deus e para ser admitido à presença do Deus santo.
O que é aqui especialmente grave e assustador é como, em nome de Deus e da santidade do Povo de Deus, se criam mecanismos de rejeição, de exclusão, de marginalização.
ATUALIZAÇÃO
• A primeira leitura do 6º Domingo do Tempo Comum não contém propriamente um ensinamento claro e direto acerca de Deus ou acerca do comportamento do homem face a Deus. No entanto, ela tem o seu valor e a sua importância: prepara-nos para entender a novidade de Jesus, essa novidade que o Evangelho de hoje nos apresenta. Jesus virá demonstrar que Deus não marginaliza nem exclui ninguém e que todos os homens são chamados a integrar a família dos filhos de Deus.
• Indiretamente, o nosso texto denuncia a atitude daqueles que, instalados nas suas certezas e seguranças, constroem um Deus à medida do homem e que atua segundo uma lógica humana, injusta, prepotente, criadora de exclusão e de marginalização. Não temos que criar um Deus que atue de acordo com os nossos esquemas mentais, com as nossas lógicas e preconceitos; o que temos é de tentar perceber e acolher a lógica de Deus.
• Indiretamente, o nosso texto convida-nos a repensar as nossas atitudes e comportamentos face aos nossos irmãos. Não será possível que os nossos preconceitos, a nossa preocupação com o legalismo, a nossa obsessão pelo politicamente correto estejam a criar marginalização e exclusão para os nossos irmãos? Não pode acontecer que, em nome de Deus, dos “sãos princípios”, da “verdadeira doutrina”, das exigências de radicalidade, estejamos a afastar as pessoas, a condená-las, a catalogá-las, a impedi-las de fazer uma verdadeira experiência de Deus e de comunidade?
2ª leitura – 1Cor. 10,31-11,1 - AMBIENTE
O texto que hoje nos é proposto é a conclusão do ensinamento sobre a atitude a tomar face ao problema de comer ou não comer a carne dos animais imolados aos ídolos (cf. 1Cor. 8-10). Já vimos, a propósito da segunda leitura do passado domingo, os dados da questão… Uma parte da carne dos animais imolados nos templos pagãos era comercializada. Os cristãos, naturalmente, compravam essa carne e usavam-na na alimentação do dia a dia. No entanto, tal situação não deixava de suscitar algumas questões: comprar essas carnes e comê-las – como toda a gente fazia – era, de alguma forma, comprometer-se com os cultos idolátricos. Isso era lícito?
Vimos também a resposta de Paulo: dado que os ídolos não são nada, comer dessa carne é indiferente; contudo, deve-se evitar escandalizar os mais débeis na fé: se houver esse perigo, evite-se comer da carne sacrificada nos santuários pagãos, a fim de não faltar à caridade.
Na conclusão da sua reflexão sobre o tema, Paulo retoma e enuncia os dados fundamentais que apresentou anteriormente.
MENSAGEM
Na questão do comer as carnes dos animais imolados nos templos pagãos, como em todas as outras questões, há um duplo critério que os cristãos devem ter sempre presente: em qualquer atividade, mesmo nas mais neutras, os crentes devem ter em conta a “glória de Deus”; e devem ter em conta, também, o bem dos irmãos. O cristão é livre em tudo aquilo que não atenta contra a sua fé e contra os valores do Evangelho; mas pode, por vezes, ser convidado a prescindir dos seus direitos e da sua liberdade em função de um bem maior e que é o amor dos irmãos. A lei do amor deve sobrepor-se a tudo o resto, inclusive aos “direitos” de cada um; e o amor pode exigir que não sejamos, em nenhum caso, um obstáculo nem para a glória de Deus, nem para a salvação dos irmãos.
De resto, os cristãos de Corinto têm o exemplo do próprio Paulo. Ele não procura o seu próprio interesse, a realização dos seus projetos pessoais ou a salvaguarda dos seus direitos, mas o bem de todos os irmãos. Nisto, Paulo imita Cristo, que não procurou cumprir a sua vontade, mas a vontade do Pai e que morreu na cruz por amor aos homens, a fim de lhes apontar um caminho de salvação. Cristo renunciou aos seus direitos e prerrogativas divinas por amor e para que se concretizasse o projeto de salvação que Deus tinha para os homens. Para Paulo, o exemplo de Cristo é a fonte inspiradora que tem condicionado as suas atitudes e comportamentos para com os irmãos… E os crentes de Corinto (e das comunidades cristãs de todas as épocas e lugares) são convidados a viver do mesmo jeito.
ATUALIZAÇÃO
• A liberdade é um valor absoluto? Devemos defender e afirmar intransigentemente os nossos direitos em todas as circunstâncias? A realização dos nossos projetos pessoais deve ser a nossa principal prioridade? Paulo deixa claro que, para o cristão, o valor absoluto e ao qual tudo o resto se deve subordinar é o amor. O cristão sabe que, em certas circunstâncias, pode ser convidado a renunciar aos próprios direitos, à própria liberdade, aos próprios projetos porque a caridade ou o bem dos irmãos assim o exigem. Mesmo que um determinado comportamento seja legítimo, o cristão deve evitá-lo se esse comportamento faz mal a alguém.
• A propósito, Paulo refere o exemplo de Cristo, a quem todo o cristão – a começar pelo próprio Paulo – deve imitar. Na verdade, Cristo colocou sempre como prioridade absoluta os planos de Deus (“Abbá, Pai, tudo Te é possível; afasta de Mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres” – Mc 14,36); e, apesar de ser “mestre” e “Senhor”, multiplicou os gestos de serviço e fez da sua vida uma entrega total aos homens, até à morte. É este mesmo caminho que nos é proposto… Cada cristão deve ser capaz de prescindir dos seus interesses e esquemas pessoais, a fim de dar prioridade aos projetos de Deus; cada cristão deve ser capaz de ultrapassar o egoísmo e o comodismo, a fim de fazer da sua própria vida um serviço e um dom de amor aos irmãos.
Evangelho – Mc. 1,40-45 - AMBIENTE
No episódio que o Evangelho de hoje nos propõe, Jesus continua a cumprir a missão que o Pai lhe confiou e a anunciar o “Reino”. A proposta do “Reino” torna-se uma realidade no mundo e na vida dos homens, não só nas palavras, mas também nos gestos de Jesus.
A cena coloca Jesus frente a um leproso, num sítio e num lugar não nomeado. A primeira leitura deste domingo deu-nos conta da situação social e religiosa do leproso… Para a ideologia oficial, o leproso era um pecador e um maldito, vítima de um particularmente doloroso castigo de Deus. A sua condição excluía-o da comunidade e impedia-o de frequentar a assembleia do Povo de Deus. Tinha que viver isolado, apresentar-se andrajoso e avisar, aos gritos, o seu estado de impureza, a fim de que ninguém se aproximasse dele. Não tinha acesso ao Templo, nem sequer à cidade santa de Jerusalém, a fim de não conspurcar, com a sua impureza, o lugar sagrado. O leproso era o protótipo do marginalizado, do excluído, do segregado. A sua condição afastava-o, não só da comunidade dos homens, mas também do próprio Deus.
MENSAGEM
Um leproso – isto é, um homem doente, marginalizado da comunidade santa do Povo de Deus, considerado pecador e maldito – vem “ter com Jesus”. Provavelmente tinham chegado até ele ecos do anúncio do “Reino” e a pregação de Jesus tinha-lhe aberto um horizonte de esperança. O desejo de sair da situação de miséria e de marginalidade em que estava mergulhado vence o medo de infringir a Lei e ele aproxima-se de Jesus, sem respeitar as distâncias que um leproso devia manter das pessoas sãs. O pormenor dá conta do seu desespero e mostra a sua decisão em mudar a sua triste situação. Uma vez diante de Jesus, o leproso é humilde, mas insistente (“prostrou-se de joelhos e suplicou-lhe” – v. 40), pois o encontro com Jesus é uma oportunidade de libertação que ele não pode desperdiçar. O que ele pretende de Jesus não é apenas ser curado, mas ser “purificado” dessa enfermidade que o torna impuro e indigno de pertencer à comunidade de Deus e à comunidade dos homens («se quiseres podes “purificar-me”» – v. 40; o verbo grego “katharidzô” aqui utilizado não deve traduzir-se como “curar”, mas sim como “purificar” ou “limpar”). Ele confia no poder de Jesus, sabe que só Jesus pode ajudá-lo a superar a sua triste situação de miséria, de isolamento e de indignidade.
A reação de Jesus é estranha, pelo menos de acordo com os padrões judaicos. Em lugar de se afastar do leproso e de o acusar de infringir a Lei, Jesus olha-o “compadecido”, estende a mão e toca-lhe (v. 41).
O verbo “compadecer-se” é aplicado, na literatura neo-testamentária, só a Deus e a Jesus. Habitualmente, é usado em contextos onde se refere a ternura de Deus pelos homens… Jesus é apresentado, assim, como o Deus com um coração cheio de amor pelos seus filhos, que Se “compadece” face à miséria e sofrimento dos homens.
Depois, o amor de Deus tornado presente em Jesus vai manifestar-se num gesto concreto para com o leproso… Jesus estende a mão e toca-o. É, evidentemente, um gesto “humano”, que manifesta a bondade e a solidariedade de Jesus para com o homem; mas o gesto de estender a mão tem um profundo significado teológico, pois é o gesto que acompanha, na história do Êxodo, as ações libertadoras de Deus em favor do seu Povo (cf. Ex. 3,20;6,8;8,1;9,22;10,12;14,16.21.26-27; etc.). O amor de Deus manifesta-se como gesto libertador, que salva o homem leproso da escravidão em que a doença o havia lançado.
Por outro lado, ao tocar o leproso, Jesus está a infringir a Lei. Dessa forma, Ele denuncia uma Lei que criava marginalização e exclusão. Jesus, com a autoridade que Lhe vem de Deus, mostra que a marginalização imposta pela Lei não expressa a vontade de Deus. O gesto de tocar o leproso mostra que a distinção entre puro e impuro consagrada pela Lei não vem de Deus e não transmite a lógica de Deus; mostra que Deus não discrimina ninguém, que Ele quer amar e oferecer a liberdade a todos os seus filhos e que a todos Ele convida a integrar a família do “Reino”, a nova humanidade.
A resposta verbal de Jesus (“quero: fica limpo” – v. 41) não acrescenta mais nada; apenas confirma o seu gesto. Mostra, por palavras, que, do ponto de vista de Deus, o leproso não é um marginal, um pecador condenado, um homem indigno, mas um filho amado a quem Deus quer oferecer a salvação e a vida plena.
A purificação do leproso significa, em primeiro lugar, que o “Reino de Deus” chegou ao meio dos homens e anuncia a irrupção desse mundo novo do qual Deus quer banir o sofrimento, a marginalização, a exclusão.
A purificação do leproso significa, também, a desmontagem da teologia oficial que considerava o leproso um maldito. Não é verdade – parece dizer o gesto de Jesus – que o leproso seja um impuro, um abandonado pela misericórdia de Deus, um prisioneiro do pecado, abandonado por Deus nas mãos das forças demoníacas. A misericórdia, a bondade, a ternura de Deus derramam-se sobre o leproso no gesto salvador de Jesus e dizem-lhe: “Deus ama-te e quer salvar-te”.
A purificação do leproso significa, finalmente, que o Reino de Deus não pactua com racismos de qualquer espécie: não há bons e maus, doentes e sãos, filhos e enjeitados, incluídos e excluídos; há apenas pessoas com dignidade e que não devem, em caso algum, ser privados dos seus direitos mais elementares, muito menos em nome de Deus.
Consumada a purificação do leproso, Jesus recomenda-lhe veementemente que não diga nada a ninguém (v. 44). Esta recomendação de Jesus aparece várias vezes no Evangelho segundo Marcos (cf. Mc. 1,34;5,43;7,36;7,36; etc.). Provavelmente, é um dado histórico, que resulta do fato de Jesus não querer gerar equívocos ou ser aceite pelas razões erradas. De acordo com Mt 11,5, a cura dos leprosos era uma obra do Messias; assim, o gesto de Jesus define-O como o Messias esperado. No entanto, numa Palestina em plena febre messiânica, Jesus pretende evitar um título que tem algo de ambíguo, por estar ligado a perspectivas nacionalistas e a sonhos de luta política contra o ocupante romano. Jesus não quer deitar mais lenha para a fogueira da esperança messiânica, pois tem consciência de que o seu messianismo não passa por um trono político (como sonhavam as multidões), mas pela cruz. Jesus é o Messias, mas o Messias-servo, que veio ao encontro dos homens para lhes transmitir o projeto salvador do Pai e para os libertar das cadeias da opressão. O seu caminho passa pelo sofrimento e pela morte. O seu trono é a cruz, expressão máxima de uma vida feita amor e entrega.
Ao leproso purificado, Jesus diz para ir mostrar-se aos sacerdotes (v. 44). Segundo a Lei, o leproso só podia ser reintegrado na comunidade religiosa depois de a sua cura ter sido homologada pelo sacerdote em funções no Templo. No entanto, Jesus acrescenta: “para lhes servir de testemunho”. Dado que a cura de um leproso só podia ser operada por Deus e era, por isso, um sinal messiânico, o fato devia servir aos líderes do Povo para concluírem que o Messias tinha chegado e que o “Reino de Deus” estava já presente no meio do mundo. O leproso purificado devia, portanto, ser um “testemunho” da presença de Deus no meio do seu Povo e um sinal de que os novos tempos tinham chegado. Apesar das evidências, os líderes judaicos estavam demasiado entrincheirados nas suas certezas, preconceitos e privilégios e recusaram-se sempre a acolher a novidade de Deus, a novidade do Reino.
O texto termina com a indicação de que o leproso purificado “começou a apregoar e a divulgar o que acontecera”, apesar do silêncio que Jesus lhe impusera. Marcos quer, provavelmente, sugerir que quem experimenta o poder integrador e salvador de Jesus converte-se necessariamente em profeta e em testemunha do amor e da bondade de Deus.
ATUALIZAÇÃO
• O nosso texto fala-nos de um Deus cheio de amor, de bondade e de ternura, que Se faz pessoa e que desce ao encontro dos seus filhos, que lhes apresenta propostas de vida nova e que os convida a viver em comunhão com Ele e a integrar a sua família. É um Deus que não exclui ninguém e que não aceita que, em seu nome, se inventem sistemas de discriminação ou de marginalização dos irmãos. Às vezes há pessoas (quase sempre bem intencionadas) que inventam mecanismos de exclusão, de segregação, de sofrimento, em nome de um Deus severo, intolerante, distante, incapaz de compreender os limites e as fragilidades do homem. Trata-se de um atentado contra Deus. O Deus que somos convidados a descobrir, a amar, a testemunhar no mundo, é o Deus de Jesus Cristo – isto é, esse Deus que vem ao encontro de cada homem, que Se compadece do seu sofrimento, que lhe estende a mão com ternura, que o purifica, que lhe oferece uma nova vida e que o integra na comunidade do “Reino” (nessa família onde todos têm lugar e onde todos são filhos amados de Deus).
• A atitude de Jesus em relação ao leproso (bem como aos outros excluídos da sociedade do seu tempo) é uma atitude de proximidade, de solidariedade, de aceitação. Jesus não está preocupado com o que é política ou religiosamente correto, ou com a indignidade da pessoa, ou com o perigo que ela representa para uma certa ordem social… Ele apenas vê em cada pessoa um irmão que Deus ama e a quem é preciso estender a mão e amar, também. Como é que lidamos com os excluídos da sociedade ou da Igreja? Procuramos integrar e acolher (os estrangeiros, os marginais, os pecadores, os “diferentes”) ou ajudamos a perpetuar os mecanismos de exclusão e de discriminação?
• O gesto de Jesus de estender a mão e tocar o leproso é um gesto provocador, que denuncia uma Lei iníqua, geradora de discriminação, de exclusão e de sofrimento. Com a autoridade de Deus, Ele retira qualquer valor a essa Lei e sugere que, do ponto de vista de Deus, essa Lei não tem qualquer significado. Hoje temos leis (umas escritas nos nossos códigos legais civis ou religiosos, outras que não estão escritas mas que são consagradas pela moda e pelo politicamente correto) que são geradoras de marginalização e de sofrimento. Como Jesus, não podemos conformarmo-nos com essas leis e muito menos pautar por elas os nossos comportamentos para com os nossos irmãos.
• Mais uma vez, o Evangelho deste domingo propõe à nossa consideração a atitude dos líderes judaicos. Comodamente instalados no alto das suas certezas e preconceitos, eles perpetuam, em nome de Deus, um sistema religioso que gera sofrimento e miséria e não se deixam questionar nem desafiar pela novidade de Deus. Estão tão seguros e convictos das suas verdades particulares que fecham totalmente o coração a Jesus e não se revêem nas suas propostas. O sem sentido desta atitude deve alertar-nos para a necessidade de nos desinstalarmos e de abrirmos o coração aos desafios de Deus.
• O leproso, apesar da proibição de Jesus, “começou a apregoar e a divulgar o que acontecera”. Marcos sugere, desta forma, que o encontro com Jesus transforma de tal forma a vida do homem que ele não pode calar a alegria pela novidade que Cristo introduziu na sua vida e tem de dar testemunho. Somos capazes de testemunhar, no meio dos nossos irmãos, a libertação que Cristo nos trouxe?
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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1. Pouco a pouco o Evangelho de Marcos vai mostrando quem é Jesus. O episódio de hoje (cura do leproso) é o terceiro milagre recordado em vista desse objetivo. A 1ª leitura revela bem a situação de marginalidade de um leproso. E no tempo de Jesus essa situação era ainda mais grave, pois tudo girava em torno do puro/impuro. Quem controlava esse rígido código de pureza eram os sacerdotes. A eles cabia declarar quem e o que podia ou não ter acesso a Deus. Deus estaria sob o controle dos sacerdotes do templo e do código de pureza.
2. O leproso certamente sabia disso. Sabia também que sua vida – e sua libertação da marginalidade – não dependiam do templo e dos sacerdotes, pois estes só constatavam a cura ou a permanência da doença em seu corpo. Os sacerdotes eram impotentes: não podiam restabelecer a vida.
3. Diante disso, o leproso toma uma atitude radical: não vai ao sacerdote, e sim a Jesus. Ajoelha-se diante dele e pede: “se quiseres, podes curar-me” (v. 40). Reconhece que o poder da cura (que o tira da marginalidade) não vem da religião dos sacerdotes, e sim de Jesus. Notemos outro aspecto importante: ao invés de ficar à distância e gritar sua marginalização (cf. 1ª leitura), aproxima-se e manifesta sua adesão a Jesus enquanto fonte de libertação e vida: “se quiseres, podes curar-me! Viola a lei para ser curado.
4. Jesus quer curar o leproso de sua marginalização, devolvendo-lhe a vida (naquele tempo, curar um leproso era sinônimo de ressuscitar um morto). Mas a ação de Jesus é precedida por uma reação. Ele fica irado ou fica movido de compaixão? De acordo com a maioria das traduções da Bíblia, a reação de Jesus se traduz em compaixão (v. 41a). Algumas traduções, porém, traduzem Jesus ficou irado e não movido de compaixão (por ex.: Bíblia de Jerusalém, Bíblia Sagrada – edição pastoral). Certamente fica irado não com o leproso, mas contra o código de pureza que, em nome de Deus, marginaliza as pessoas, considerando-as como mortas. É contra esse sistema religioso que Jesus se revolta. E o transgride também.
5. De fato, acreditava-se que a lepra fosse contagiosa. Jesus quebra o código de pureza, tocando o leproso (v.41b; cf. Lv. 5,3). Com isso, de acordo com o sistema religioso vigente, torna-se impuro: torna-se leproso e fonte de contaminação. (Note-se que de acordo com Lv. 5,5-6, além de ficar impuro, Jesus deveria oferecer um sacrifício!). Torna-se marginalizado e não poderá mais entrar publicamente numa cidade: deverá ficar fora, em lugares desertos (cf. v. 45a), como os marginalizados. O Filho de Deus foi morar com os marginalizados. Aqui o evangelho de Marcos mostra quem é Jesus: é aquele que rompe os esquemas fechados de uma religião elitista e segregadora, indo habitar entre os banidos do convívio social.
6. Curado o leproso, Jesus o expulsa. É esse o sentido da expressão “o mandou logo embora”. A expressão é forte e, ao mesmo tempo, estranha. Mas não é estranha se a lermos na ótica da ira de Jesus contra o código de pureza que marginaliza as pessoas: ele não quer que elas continuem vítimas de um sistema social e religioso que rouba a vida.
7. Jesus dá uma ordem ao curado “não conte isso a ninguém! Vá, mostre-se ao sacerdote e ofereça o sacrifício que Moisés mandou, como prova para eles!” (v. 44). Tudo leva a crer que a tarefa da pessoa curada consiste não em divulgar o milagre, mas em colaborar para que o código de pureza seja abolido.
8. De fato, ele deverá se mostrar ao sacerdote para que este constate a sua cura. Sinal de que a cura não depende do código de pureza, nem da religião do templo. A expressão “como prova para eles” tem este sentido: o sacrifício serve como testemunho contra o sistema que o declarava um punido por Deus e um banido do convívio social. O sacrifício tem, pois, caráter de denúncia e de abolição do código de pureza.
9. Não sabemos se a pessoa curada teve a coragem de testemunhar contra o sistema religioso que o mantinha na marginalidade. Marcos diz que o curado “foi e começou a contar e a divulgar muito o fato” (v. 45a). A reação a esse anúncio é evidente: Jesus não pode mais entrar numa cidade, pois, segundo o código de pureza, está contaminado e é fonte de contaminação. Todavia, de toda a parte o povo vai procurá-lo (v. 45b), sinal de que está aberto um novo acesso a Deus. Deus, em seu Filho, pode ser encontrado fora, na clandestinidade, entre os que o sistema religioso e social discriminou.
1ª leitura: Lv. 13,1 – 2,44–46
10. O capítulo 13 do Levítico trata de doenças da pele (por ex. lepra) a serem diagnosticadas pelos sacerdotes. Mas não há nenhuma preocupação com a cura dessas doenças. Simplesmente traçam-se normas higiênicas. A preocupação fundamental se volta toda para a preservação da pureza da comunidade.
11. Algum tempo depois, os rabinos de Israel passaram a considerar o leproso como um vivo-morto, pois a lepra constituía a mais grave forma de impureza ritual. Por serem os sacerdotes os responsáveis pelo diagnóstico sobre pureza ou impureza de uma pessoa, deduz-se facilmente que a lepra estava intimamente ligada com a impureza ritual. O aspecto religioso era mais importante que o aspecto médico-sanitário.
12. Assim, o leproso era uma espécie de excomungado, banido da sociedade e da religião. Essa pessoa não tinha acesso a Deus. Quem fechava ou abria a porta do acesso a Deus eram os sacerdotes, mediante o diagnóstico puro/impuro. Que poder, hein! Impedir alguém de ir até Deus!
13. Excluído de Deus e excluído da sociedade. O complicado e misterioso sacrifício previsto para as pessoas que eventualmente sarassem da lepra (cf. Lv. 14,2-32) demonstra que ela era vista como sinal do pecado contra Deus. É a partir disso que o leproso se torna símbolo da maior marginalização possível: castigado por Deus por causa do pecado (marginalização religiosa), era declarado impuro e banido da comunidade (marginalização social). Lv. 13,45-46: “O homem atingido por esse mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos soltos e a barba coberta, gritando: Impuro! Impuro! …deve ficar isolado e morar fora do acampamento”.
14. O modo como o leproso deve se portar demonstra que ele se tornou perigosa fonte de contaminação: roupas rasgadas, cabelo solto, lenço sobre a barba (acreditava-se que a saliva pudesse transmitir a doença). Um verdadeiro espantalho vivo, devia ser reconhecido de longe. Pior ainda: devia viver gritando a todos sua marginalidade e periculosidade.
15. Podemos nos escandalizar com isso tudo. Mas seria pura hipocrisia. Em nossa sociedade há igual discriminação e marginalização, não só em relação aos portadores de hanseníase , mas sobretudo em relação aos aidéticos, e doentes de modo geral. Escandalizar seria simplesmente acobertar nossa hipocrisia.
2ª leitura: 1Cor. 10,31 – 11,1
16. Os versículos de hoje são a conclusão da longa discussão sobre as carnes oferecidas aos ídolos (caps. 8-10). Em Corinto, quase toda a carne vendida nos açougues havia sido oferecida nos templos dos deuses pagãos. Os “fortes” da comunidade afirmavam que os ídolos não existem. Portanto, não havia problema em consumir tais carnes. Paulo está de acordo. Nisso a comunidade se afastava da mentalidade estreita do judaísmo.
17. Todavia, se as pessoas fossem convidadas a participar de uma refeição na casa de um pagão, e este lhes dissesse: “esta carne foi oferecida aos ídolos”, o que fazer? Paulo está preocupado com os “fracos”, aquelas pessoas que não tem fé esclarecida. Elas poderiam ser induzidas à idolatria. Nesse ponto, Paulo se afasta da opinião dos “fortes”: é melhor evitar para não perder o irmão fraco na fé. Isso não é perder a liberdade e sim entender e viver a liberdade com responsabilidade.
18. E Paulo sintetiza: “quer comam, quer bebam, quer façam qualquer outra coisa, tudo façam para a glória de Deus!” (v. 31). Em outras palavras Deus transparece, se manifesta e se torna presente em todos os gestos e ações da comunidade. Portanto, a ação da cada pessoa deve ser uma ação responsável. Embora jamais Deus se confunda com os ídolos, todavia, nossas ações podem ser ocasião de fonte de idolatria.
19. A ação da comunidade tem a ver com todos: os judeus – que em tudo fazem distinção entre puro e impuro – estão de olho no modo como os cristãos agem; e os pagãos também. A própria comunidade – Igreja de Deus – (dividida entre fortes e fracos) corre o risco de perder sua identidade de fermento na grande cidade. O que fazer?
20. O que fazer? Paulo recomenda: “não sejam motivo de escândalo, nem para os judeus, nem para os pagãos, nem para a Igreja de Deus!” (v. 32). Estaria Paulo aprovando o código de pureza dos judeus? Não. Prova disso é o fato de considerar todos – judeus e pagãos – como chamados a uma vocação única, a da comunhão com o Deus vivo e verdadeiro.
21. E isso é possível mediante a ação da comunidade. “Façam como eu, que em tudo procuro agradar a todos, não buscando o meu próprio interesse, mas o de todos, para que sejam salvos!” (v. 33). O “interesse de todos” não é o capricho de cada um em particular (assim perderia o cristão sua identidade). O interesse de todos é o encontro de toda a humanidade com Deus, em Jesus Cristo. Essa é a glória de Deus! Isso é o que Paulo busca sem descanso. É a isso que a comunidade é chamada: ” sejam meus imitadores, como eu também o sou de Cristo!” (11,1).
R e f l e t i n d o
1. A lepra era um sofrimento duplamente cruel, em Israel, por causa da doença em si e por causa da exclusão prevista na Lei. Na opinião do povo, a lepra devia ser obra de algum espírito muito ruim. Os leprosos eram intocáveis, tabu! Jesus quebra esse tabu. O leproso reconhece em Jesus sua misteriosa “autoridade”, seu poder sobre os espíritos maus. “Se quiseres, tens o poder de me purificar”. Jesus não pensa nas severas restrições da Lei, mas em compaixão, aquela qualidade divina que ele encarna. Toca no leproso, (apesar da proibição), e diz: “Eu quero, sê purificado”. E acontece a cura!
2. Como aos exorcizados, Jesus proíbe ao ex-leproso de publicar o que o “poder” nele operou. Mas quem poderia esconder tanta felicidade? O homem, até então marginalizado, encontrou a reintegração e aproveitou-a para contar o que lhe acontecera. Mais: Jesus foi ocupar o lugar do leproso, excluído para os “lugares desertos”.
3. Como as narrações anteriores, esta também é concebida como uma revelação velada da personalidade de Jesus. Autoridade e compaixão : duas qualidades de Deus, dificilmente compatíveis no homem; são as feições divinas que se deixam entrever no agir de Jesus. E revela-se também sua superioridade em relação à Lei. Ele não depende da Lei para realizar o bem às pessoas., para reintegrar o ser humano. Pois, a Lei é (e deveria sempre ser…) para o bem das pessoas; se se pode curar alguém pela “autoridade”, não é preciso primeiro consultar os guardiães da Lei. Basta que, – depois do benefício de Deus, – o leproso ofereça o sacrifício de agradecimento a Deus, conforme o rito costumeiro.
4. Chegamos ao ponto central da atuação de Jesus, – e que provocará a crescente e mortal oposição das autoridades religiosas -: Jesus sabe melhor que a Lei (na interpretação dos escribas) o que é o bem do homem. Reintegra, por “autoridade” própria, o homem que a letra da Lei marginalizava. Restaura a comunhão com o excomungado, passando para trás os que tinham o monopólio da reintegração. Aceitar este Jesus significa aceitar alguém que supera as mais altas autoridades religiosas. Neste sentido, a cura da lepra funciona como um sinal: significa que, de fato, Jesus está acima das prescrições legais e pode prescindir delas. Este é o ponto central da revelação velada que se expressa nesse milagre.
5. Este tema provoca uma catequese sobre a reintegração dos que são marginalilizados. Uma pista: a reintegração baseia-se na “autoridade” que Jesus demonstra; autoridade que neutraliza, por assim dizer, as prescrições da Lei. Em Jesus temos uma autoridade superior. E nós, … seguidores de Jesus? Para que nós, – operando como membros de Cristo, – possamos realmente vencer a marginalização, será preciso desenvolver um poder que esteja acima das convenções constrangedoras do sistema em que vivemos. Precisamos demonstrar tal poder, exatamente como Jesus. Precisamos encarnar, de modo operante, essa compaixão reintegradora; precisamos neutralizar os mecanismos de marginalização e exclusão com a força de Deus. Uma força de origem divina: a força da verdadeira solidariedade, baseada no Amor.
6. A exclusão está na moda, virou princípio da organização sócio-econômica: a lei do mercado, da competitividade. Quem não consegue competir, desapareça. Quem não consegue consumir, deve sumir. Escondemos as favelas por trás de paredões ou placares de publicidade. Que os feios, os aleijados, os idosos, os aidéticos não poluam os nossos cartões postais!
7. Em tempos idos, a exclusão muitas vezes provinha da impotência diante da enfermidade ou, também, da superstição. Assim a exclusão dos cegos e coxos do templo de Jerusalém. Ou a marginalização dos leprosos, (ilustrada abundantemente em Lv. 13-14). Enquanto não se tivesse constatada a cura por um complicado ritual, o leproso era considerado impuro, intocável. Jesus, porém, toca o leproso – e o cura! É um sinal do Reino de Deus. Jesus torna o mundo mais conforme ao sonho de Deus. Pois Deus não deseja sofrimento nem discriminação. O Antigo Testamento pode não ter encontrado outra solução para esses doentes contagiosos que a marginalização; mas Jesus mostra que um novo tempo começou!
8. Começou mas não terminou! Reintegrar os marginalizados não foi uma fase passageira no projeto de Deus, como os benefícios que os políticos realizam nas vésperas das eleições. O plano messiânico continua através do povo messiânico (a Igreja). Devemos continuar inventando, o quanto pudermos, novas soluções contra toda e qualquer marginalização – pois, somos todos irmãos!
9. Seremos impotentes para erradicar a exclusão, como os antigos israelitas em relação à lepra? Que fazer com os criminosos perigosos, viciados no crime? Será nosso mundo tão bom que possa reintegrar tais pessoas, sem que se enrosquem de novo? O fato de ter de marginalizar alguém é um reconhecimento da inadequação da nossa sociedade. Toda forma de marginalização é uma denúncia contra nossa sociedade, e ao mesmo tempo um desafio. Muito mais ainda em se tratando de pessoas inocentes. A marginalização é sinal de que não está acontecendo o que Deus deseja.
10. Onde existe marginalização, o Reino de Deus ainda não chegou, pelo menos não completamente. E onde chega o Reino de Deus, a marginalização já não deve mais existir. Por isso, Jesus reintegra aos marginalizados, como é o caso do leproso, dos pecadores, publicanos, prostitutas … Essa reintegração está baseada no “poder-autoridade” que Jesus detém como enviado de Deus: “Se quiseres, tens o poder de me purificar!”. Jesus passa por cima das prescrições levíticas, toca no leproso e purifica-o por sua palavra em virtude da autoridade que lhe é conferida como “Filho de Deus” (= executivo de Deus, cf. Mc. 2,10.28).
11. Lei de mercado! Há quem pense que os mecanismos auto-reguladores do mercado são o fim da história e a realização completa da racionalidade humana. E os que são (e sempre serão…) excluídos por esse processo, onde ficam? Não será esse raciocínio o de um varejista que se imagina o criador do universo? A liturgia de hoje nos mostra um outro caminho, o de Jesus : solidarizar-se com os marginalizados, os excluídos, tocar naqueles que a “lei” proíbe tocar, para reintegrá-los, obrigando a sociedade a se abrir e a criar estruturas mais acolhedoras … mais messiânicas … mais do “jeito” de Deus!
12. Jesus quebrou o rígido código do puro/impuro e foi morar entre os marginalizados. Esse mesmo Jesus é o eixo em torno do qual os que crêem nele se reúnem para celebrar sua fé. Todos são chamados, ninguém é excluído, ninguém é discriminado. Nas nossas celebrações devem estar presentes todos os marginalizados e banidos da sociedade. Só assim nossas celebrações serão verdadeira comunhão com a Palavra e com o Corpo de Jesus.
13. O que celebramos na Eucaristia pode não ser considerado um acontecimento “sagrado”, pois não aconteceu no Templo de Jerusalém. Aconteceu fora, porque a cidade não poderia se tornar “impura”. A morte de cruz (Dt. 21,22-23) era considerada uma maldição de Deus. Só podia acontecer fora da cidade. Inacreditável! O que era considerado “maldição” tornou-se “bênção”; o que era “impuro” é agora “o que tira o pecado do mundo”. O que devia ser retirado para fora da cidade veio a ser o centro da história da humanidade.
14. A missa deve ser a Boa-Nova especialmente para os excluídos. Comunhão e igualdade perfeita, direito de participação para todos, sem exclusão. Jesus não se deixa partir só para os “puros”, ele dá o sangue pelos pecadores.
15. A 2ª leitura tira das “questões particulares” dos coríntios uma regra de vida que vale para todas as circunstâncias. Da situação de comer as carnes sacrificadas, Paulo passa a uma regra adaptável à toda vida: fazer tudo, comer, beber e tudo o mais, de modo que se possa dar graças e louvor a Deus. Paulo se coloca a si mesmo como exemplo: o pregador deve ser a ilustração daquilo que ele prega. Paulo quer agradar a todos (não por sucesso pessoal, mas) para o bem da maioria, a fim de que todos se deixem atrair por Cristo. Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo!
prof. Ângelo Vitório Zambon
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A multiplicação dos pães


Este Evangelho nos ensina duas grandes verdades: Primeiro, que Jesus realmente  só multiplicou aqueles pães e os peixes alimentando uma multidão de famintos, porque Ele verdadeiramente era e é o Filho de Deus Todo Poderoso! Segundo, aprendemos aqui outra grande lição: se houvesse realmente CARIDADE entre todos os povos da Terra, nas nossas calçadas não havia nenhum mendigo.
Se fosse juntada não digo toda, mais a maior parte das sobras das mesas dos ricos e dos irmãos da classe media, e esse alimento depois de tratado com a devida higiene fosse endereçado aos famintos, acabaríamos com toda mendicância no Planeta Terra.
Já sei que alguém vai dizer: Isso não estimularia a preguiça, a vagabundagem e o hábito de morar na rua? Talvez. Porém, é bom lembrar que a causa principal de existir moradores de rua é A DESESTABILIZAÇÃO DA FAMÍLIA.  Família desajustada, expulsa os jovens para fora dela. Pergunte aos meninos e meninas que estão neste momento nas ruas pedindo esmola, assaltando, cheirando craque, etc., por que eles a saíram de casa?  80 a 90% deles vão dizer que foi por causa do padrasto ou da madrasta.  O padrasto que estupra a filha da "nova mulher"... A madrasta que maltrata e não alimenta direito os filhos do "novo marido"...
E pensar que a nossa família está sendo desmantelada  ou desestimulada não só pela televisão, pelo cinema, pela internet, mais também  pelos próprios poderes públicos. Os jovens são estimulados a FICAR,  em vez de se casarem.  O excelente atendimento prestado às mães solteiras, é um exemplo disso. Nos documentos de identidade agora não vem mais o nome do pai, mas sim, somente da mãe. O incentivo ao uso de camisinha, além da pornografia espalhada por todos os lados, e outras coisas mais, tudo isso está acabando com a instituição familiar, estimulando a separação dos poucos que ainda se casam, e fazendo com que os padrastos aterrorizem os filhos da outra de tal forma, que eles prefiram morar na rua, o que vai tornar-se em outra forma de terror social, porque eles querem ter de tudo o que todos têm, e por isso vão assaltar.
As mães solteiras são filhas de Deus e precisam se bem tratadas, é claro. Porém, ao lado desses cuidados fraternos, deveríamos incentivar a união e a construção da família, que é indispensável para a estabilidade social. Pois temos que combater a doença e o mal pelas suas  CAUSAS em vez de combater os efeitos.  E a DESTRUIÇÃO DA FAMÍLIA nada mais é do que UMA DOENÇA SOCIAL E MORAL.
É muito fácil chamar de MORALISTA aquele que fala estas coisas. Porém, quem diz isso não está nem um pouco preocupado com as causas da violência que aumenta a cada dia, tornando a nossa existência uma realidade insuportável.
Prezados irmãos. Reparou quanta comida vocês jogam fora? Ao fazer isso pensem naqueles que estão com muita fome! E pensem também  na frase de Jesus: " Tive fome e me deste de comer".
Boa noite, Sal.

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A multiplicação dos pães - Diácono José da Cruz



     " E quando as coisas não dão certo?"
Na nossa paróquia passou um Sacerdote que gostava de fazer uma afirmação que eu acho muito válida e sempre repito em minhas reflexões. Quando as coisas em nossa vida dão tudo certo e correm tudo bem, com a saúde, emprego, moradia, bens materiais, sem atropelos de tragédias caindo em nossa cabeça, nem é preciso ter Fé. Mas, e quando as coisas não dão certo como a gente queria? Quando vêm os reveses da vida, acontecimentos trágicos, desgraças, desencontros, na vida pessoal e familiar? Pois é aí que a tal da Fé em Jesus Cristo faz a diferença...
É como você ter um carro esporte, com um motor possante, apropriado para pistas irregulares, terra e lama, como naquelas trilhas percorridas pelos Jipeiros. Entretanto, se transitar com ele só no asfalto das cidades e nas largas avenidas, jamais saberá se realmente ele é possante, simplesmente porque não teve oportunidade para provar o seu potencial.
É bom esclarecer que os sofrimentos e tribulações desta vida não são mandados por Deus para nos experimentar, mas são contingências da nossa natureza humana. Deus não tem nenhum prazer em ficar comprovando se temos ou não Fé, através de certos acontecimentos indesejáveis, por uma razão muito simples: Ele nos conhece por inteiro, por dentro e por fora e não tem necessidade de nos experimentar. E se insistirmos na idéia de um Deus que manda-nos tribulações, estaremos distorcendo o Deus revelado em Jesus Cristo, que nos salva e quer somente o nosso bem.
Há sempre o perigo de se viver uma religião superficial com Deus e os irmãos, Jesus tem muitos admiradores no mundo inteiro e milhares de ouvintes da sua Palavra, quanto já se escreveu sobre Ele, sua pessoa e seus ensinamentos. Mas só isso não é suficiente para alimentar a nossa Fé e um bom exemplo disso está em nossas comunidades cristãs, onde há muitos cristãos que construíram suas casas, isso é, suas vidas de Fé, em cima da areia... E na primeira dificuldade entraram em crise e abandonaram a comunidade, desistindo da caminhada, ou que é bem pior, querendo caminhar sozinhos, junto com Cristo mas não na Igreja. Muita gente bate o pé que é possível ser cristão, sem participar de nenhuma igreja, são os iludidos e iludidas, que criam fantasias religiosas para tentar preencher o vazio da alma e do coração...
Construir uma casa bem alicerçada é colocar a Palavra no centro da nossa vida, na relação com as pessoas, na convivência familiar, no trabalho profissional, nos estudos, na política e nos negócios, é tê-la sempre presente, é considerá-la em toda e qualquer situação. É não trocá-la por ideologias humanas. Enfim, é permitir que o Verbo Encarnado preencha todo nosso ser, de modos que nada possamos fazer sem Ele.
Na vida de quem é assim, podem vir as tempestades, terremotos, enchentes e vendavais, que a CASA não cairá porque está construída sobre a rocha que é o próprio Cristo. Nas comunidades há cristãos exatamente assim, que são chamados de Fortaleza, para estes há no Livro do Apocalípse uma frase que carrega toda a esperança cristã "Estes de vestes brancas e palma nas mãos, são os que vieram de grandes tribulações..."
Diante disso, é bom revermos a construção da nossa "Casa", não se preocupem com fachada bonita, o que importa é a base, o alicerce, a rocha na qual ela foi construída.
E que venham os 
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A multiplicação dos pães - Nancy

Multiplicando os pães, Jesus se manifesta como profeta.
“NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM, MAS DE TODA A PALAVRA QUE SAI DA BOCA DE DEUS”.
A multiplicação dos pães é mais um dos incontáveis milagres de Jesus Cristo diante de uma multidão que o buscava e o seguia.
Jesus Cristo, entre as inúmeras virtudes que possuía, tinha compaixão – uma das maiores virtudes de um ser humano. Compaixão que, etimologicamente falando, significa pesar que desperta em nós o mal do outro ou outros, sentimento de pesar, dor, piedade...
Ora, já era tarde! E encontrava-se aquela multidão naquele lugar deserto e distante, conforme citação de S. Marcos (6, 35-36), ouvindo as palavras do Senhor, saciando-se do pão espiritual tão necessário a todo e qualquer ser humano. Nada mais justa a preocupação dos discípulos de Jesus em alimentá-los, pensando nas necessidades físicas e fisiológicas naturais de sobrevivência humana.
Jesus Cristo, porém, os chama à prática do discipulado, dizendo: 'Dai-lhes vós mesmos de comer', o que os preocupa muito mais, pois eram muitas as pessoas que lá estavam.
Numa atitude de extrema fé, e sabendo que não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus, Jesus Cristo faz o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, abençoando-os primeiramente e alimentando a todos. Sem contar da sobra nos cestos!
Tudo isso aconteceu porque a partilha e a fraternidade são atitudes multiplicadoras da justiça social. Justiça social que tem fundamentação cristã no olhar para o outro, enxergando-o.
Aproveito o texto abaixo, de autor desconhecido, para ilustrar melhor a importância da solidariedade e da com-paixão, característicos do Mestre Jesus.
“AS COLHERES DE CABO COMPRIDO” autor desconhecido
Conta uma lenda que Deus convidou um homem para conhecer o céu e o inferno.
Foram primeiro ao inferno.
Ao abrirem uma porta, o homem viu uma sala em cujo centro havia um caldeirão de substanciosa sopa e à sua volta estavam sentadas pessoas famintas e desesperadas.
Cada uma delas segurava uma colher, porém de cabo muito comprido, que lhes possibilitava alcançar o caldeirão, mas não permitia que colocassem a sopa na própria boca. O sofrimento era grande.
Em seguida, Deus levou o homem para conhecer o céu.
Entraram em uma sala idêntica à primeira: havia o mesmo caldeirão, as pessoas em volta e as colheres de cabo comprido. A diferença é que todos estavam saciados.
Não havia fome, nem sofrimento. 'Eu não compreendo', disse o homem a Deus, 'por que aqui as pessoas estão felizes enquanto na outra sala morrem de aflição, se é tudo igual?'
Deus sorriu e respondeu:
Você não percebeu? É Porque aqui eles aprenderam a dar comida uns aos outros.
Caríssimos irmãos: que diferença entre o céu e o inferno! No entanto, Jesus Cristo nos ensina na ação e não através de palavras a possibilidade de vivermos o céu aqui na Terra, se priorizarmos em nossos banquetes o pobre, o marginalizado e não os privilegiados.
Peçamos a compaixão de Jesus Cristo para que possamos ser multiplicadores não apenas do pão nosso de cada dia, mas do pão diário do nosso próximo que carece do nosso olhar de cristão. Amém!
Nancy – professora
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“A multiplicação dos pães e peixes” – Claudinei M. Oliveira
       
            A cidade de Jerusalém estava se preparando para celebrar a Páscoa. A festa na cidade  já não representava a libertação do povo do Egito. Passou a explorá-lo e dar lucro para os representantes locais retirando a vida plena da maioria. Jesus coloca a caminho mais uma vez para completar o quarto sinal no outro lado do mar da Galiléia, onde o paganismo é completo. Mas Jesus não vai sozinho. Uma multidão o segue para acompanhar sua pregação. Logo a tática de Jesus deu certo. Deixou a cidade de Jerusalém "vazia", quebrando a tradição e vai comemorar a Páscoa com aqueles que realmente merecem. A aliança feita ainda no tempo de Javé, que suscitou nova vida para os explorados do Egito, libertados por Moisés, deve ser comemorada na simplicidade, na fé e no amor.

            Mostra-nos a preocupação do Mestre com seu povo. Jesus tem pena e se compadece das humilhações sofridas. Não quer ver seus irmãos sendo maltratados. Jesus quer o bem para com todos. Se preciso for fazer longa caminhada para possibilitar uma nova maneira de viver, longe das garras dos predadores de Jerusalém, que faça dentro das regras. Deixam  os lobos sozinhos  se matarem entre si. Pois o povo de Deus inspira cuidado e zelo. Jamais a violência e a exploração enganosa.

            A multiplicação dos pães e dos peixes que saciou a  multidão consta no projeto maior de Deus. Deus não quer o povo faminto ou vivendo de migalhas. Prova é a preocupação de Jesus com a sobrevivência dos seus irmãos. Para tanto, ao levantar os olhos e ver aquela multidão em sua frente no outro lado do mar da Galiléia Jesus disse a Filipe: 'Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?'  Com esta pergunta, Jesus insinua que a festa da Páscoa não deve ser um comércio. Por isso que testa seu discípulo em onde iremos comprar pães para saciar todo este povo. O comércio desenfreado maltrata os  pequenos que não dispõe de tantos recursos para adquirir as guloseimas. Mas a resposta a preocupação de Jesus veio com André, o irmão de Simão Pedro que disse: está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?' Não chegou a resolver o problema de Jesus, mas indicou algo mais real do que Filipe que teria dito a Jesus que nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um. Ou seja, teria que gastar muito para satisfazer a vontade de todos.

            André tem uma resposta mais para o povo. Pão cevado e peixe são alimentos baratos. Pode estar disponível para o povo a custo mais baixo. O importante naquele momento é livrar o mal da fome e fortalecê-lo para a caminhada. Então Jesus  ordenou que todos sentassem e repartiu os alimentos para aproximadamente cinco mil pessoas. E recolheu no final da festa vários cestos de pães e peixes para não haver desperdícios.

            Agora, através deste sinal tem como não amar e vivenciar este Deus justo e verdadeiro? Será que ainda não percebeu a missão de Jesus de levar vida alimentada para todos? Quando olhamos para o nosso mundo e percebendo milhões de famintos, abandonados e descuidados por nós mesmos, demonstramos o tamanho da ignorância de nossa parte. Não estamos preocupados com o Outro. Preocupamos com nós mesmos. Jesus fez ao contrário: preocupou-se com seus irmãos. Não fugiu ou ficou orando com os discípulos na montanha. Moisés subiu a montanha, rezava e voltava para executar o que Javé havia mandado. Jesus não. Permaneceu na montanha, rezando com os discípulos e cuidando de seu povo. Por isso que Deus é maior. Ele enxerga as causas do sofrimento do povo e cura definitivamente. Não deixa para depois e no momento oportuno. Assim, ao ver aquela multidão em sua frente, já sabia que deveria fazer algo. Nem precisou do faminto reclamar: Senhor, estamos com fome; ajude-nos a saciar a fome. Mas hoje os filhos de Deus implorar por comida e não são ouvidos. Quantas injustiças! Quantas maldades! Quanto desprezo!.

            Portanto, o ensinamento de Jesus é a partilha na comunidade. Junta-se o que está disponível e divide entre aqueles que necessitam. Está máxima insiste na liberdade do povo, contrariando a escravidão. Por isso o sentido da Páscoa é deixar de ser mero consumismo e passar a ser da partilha. Nada pode ser desperdiçado, tudo deve ser aproveitado. Que o Sagrado Coração de Jesus, nesta primeira sexta-feira do mês, continue nos inspirando para acolher os irmãos necessitados e motivando a dividir tudo aquilo que faz  bem a todos, para fortalecer na árdua caminhada rumo a libertação.  Amem!
 Claudinei