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quinta-feira, 15 de março de 2012

IV DOMINGO DA QUARESMA


IV DOMINGO DA QUARESMA
18 DE MARÇO 
Leitura Orante do Evangelho de Jo 3,14-21 - 4° Domingo da Quaresma Ano B - Diocese de Santos - Pe. Fernando Gross
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Evangelho João 3, 14-21
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Introdução

É pela graça de Deus que somos salvos mediante a nossa fé.  Porém, a fé sem obras é uma fé morta.
Evangelho -  O Filho de Deus precisa ser levantado, ressuscitado dos mortos, para que todos acreditem nele, e tenham a vida eterna. Foi  pelo infinito amor de Deus a nós, que Deus mandou o seu próprio Filho ao mundo para nos salvar do pecado, e conquistássemos a vida eterna. Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar esse mundo, mais para que todos se salvassem.  Portanto, a fé é indispensável para a salvação. Pois quem crer será salvo. Ao passo que quem não crer, automaticamente já está condenado. Não é Cristo que nos condena. Porque Ele não veio para nos condenar.  Mas sim, nós é que nos condenamos, pela nossa falta de fé, pela nossa falta de caridade. Pois os dois mandamentos principais, são: Amar a Deus e ao próximo como a nós mesmo. 
            Jesus é  a luz que veio ao mundo para nos iluminar com seus ensinamentos, e nos salvar. Porém, muitos preferiram continuar mergulhados na escuridão do pecado, do prazer ilimitado, vivendo segundo o seu egoísmo.  E quem pratica o mal, odeia a luz. Por que? Porque a luz faz aparecer toda a  sua maldade. A Luz é o Evangelho. Quando ele está sendo anunciado, aqueles que praticam o mal e vivem na escuridão, não gostam de ouvir a verdade de Cristo, pois assim os seus pecados serão revelados, mostrados a  todos que  saberão quem eles realmente são.
Por outro lado, aqueles que vivem segundo a verdade revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo, aproximam-se  da luz, para que todos vejam que as suas ações são realizadas em Deus, por Deus e para Deus,  e assim os demais se espelhando na sua conduta, busquem imitá-los e alcancem  a sua própria salvação. 
Sal
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QUEM NÃO CRER JÁ ESTÁ CONDENADO

Evangelho (João 3,16-21)

Mais uma vez Jesus afirma categoricamente: ”Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado.”
”Este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más.”
Jesus é a luz enviada pelo Pai não para condenar, mas para nos salvar. Luz que iluminou e continua iluminando através dos missionários de hoje, as nossas mentes, conduzindo-nos a seguir o verdadeiro caminho da verdade e da vida em abundância.
Mas Essa luz é tão forte, penetrante e ofuscante que às vezes fugimos dela, para que ninguém veja a nossa sujeira, representada pela nossa inveja, o nosso egoísmo, a nossa ganância por mais riqueza do que na verdade necessitamos, etc.  Então, ficar no escuro, no esconderijo,disfarçado,fugir da igreja, é a  sugestão de satanás, para que não sejamos iluminados pela Luz.
É por isso que o mestre disse:
“Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.”
Jesus veio iluminar a nossa mente e o nosso caminho a ser seguido. Ele nos mostrou de várias maneiras que longe de Deus não há felicidade.   Nos convidou a segui-lo, mostrou-nos que Ele era o Próprio Deus, para que acreditássemos Nele, e tivéssemos um dia a vida eterna. Porém, muitos recusaram assim como hoje continuam recusando o seu convite. É convite por que Ele respeita a nossa decisão, a nossa escolha, o nosso SIM ou NÃO.
E é para aqueles que dizem NÃO à sua proposta de paz e felicidade, que Ele disse : “... quem não crê já está condenado.”
Irmãos: Continuemos o nosso trabalho missionário, que nem sempre é fácil. Pois às vezes encontramos resistência, isto para quem evangeliza diretamente para as pessoas.
Mas também não nos esqueçamos de rezar pela conversão principalmente daqueles a que dirigimos a palavra de Deus. Peçamos a Jesus que nos perdoe, nos proteja, e ao Espírito Santo que nos ilumine para que possamos levar a Luz para tanto quanto pudermos.
Sal
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" Deus elevado na cruz..." – Diac. José da Cruz

Talvez se substituíssemos a palavra elevar-se pela palavra Subir, a gente poderia compreender melhor a profundidade do versículo inicial desse evangelho. Subir significa estar em ascensão, ser referência, mostrar seu poder, ser visto e notado por todos. Entretanto, o modo como Jesus é elevado só serviu para ser escarnecido em uma morte humilhante e vergonhosa. Naquele momento de amargura e derrota, ninguém, nem mesmo os apóstolos pensariam que Jesus estava solidificando a sua Soberania e o seu Senhorio sobre todas as coisas, ninguém ousaria dizer que ali, naquele "maldito" pendente da cruz  do calvário, estava a Salvação da humanidade, o resgate do Ser humano, a sua remissão e redenção. O que se viu foi um corpo ensanguentado, dilacerado, chagado, entretanto, foi um momento Bendito e glorioso para toda a humanidade. Deus mostrou na cruz toda a Força e o Poder do Amor verdadeiro.
Por isso que, após introduzir a reflexão, o evangelista João vai direto ao tema central "Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho único, para que todo o que Nele crê não pereça, mas tenha a Vida Eterna." Crer em Jesus Salvador é Crer no Amor que vivifica, restaura, reconstrói o Homem, eterno objeto do Amor de Deus. Quem Nele não crer já está condenado, justamente porque não crê no Poder libertador do Amor de Deus. E a vida de quem fecha o seu coração para o amor, é amarga, vazia e sem sentido, porque não optar pelo amor significa a solidão total e completa, que é ficar longe de Deus já nesta vida.
Em seguida João desfaz o equívoco dos que trazem no coração e na mente a imagem de um Deus que condena e castiga o pecador. Deus não enviou Jesus ao mundo para vingar-se do pecado cometido por Adão e Eva e que toda a humanidade acabou herdando. Mesmo com a tragédia da cruz, Deus Pai não planejou uma vingança contra os que mataram a Jesus, ao contrário, o próprio Filho pede para que o Pai os perdoe....
O amor é sempre transparente e iluminador isso é, a tudo dá sentido, tudo crê, tudo espera, tudo tolera, é compassivo e fiel, Viver nesse amor é antecipar a Vida Eterna, mas sem o amor, o homem acabará naufragando nas profundezas dos mares do seu próprio egoísmo.
Crer e aceitar Jesus Cristo significa acolhê-lo por inteiro, vestindo a camisa do seu evangelho, aceitando com ele construir o novo Reino. Essa nossa opção por Cristo ou contra ele, reflete nos atos e ações que fazemos. É impossível fazer o Bem e permanecer nas trevas, assim como também é impossível praticar o mal e permanecer na Luz, pois são coisas contrárias que jamais estarão juntas em, um mesmo lugar ou em mesmo coração.
Nossas comunidades cristãs vivem essas duas realidades que caracterizam o Reino de Deus, por um lado, apresentam um Cristo elevado na cruz, anunciando assim a sua morte, mas por outro lado, esse Cristo crucificado faz nascer cada vez mais forte no coração de quem crê, a esperança escatológica de quem espera a Ressurreição. O Cálice Bendito elevado pelas mãos do Sacerdote é ao mesmo tempo amargura e doçura, Vida Morte e Ressurreição do Senhor, é a nossa humanidade tão frágil e pequena, mergulhada no mistério da Grandeza de Deus.
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QUEM NÃO CRER SERÁ CONDENADO

Alguém disse: Se a fé é um dom de Deus, como posso ser condenado se não recebi o dom da fé?

Humberto Celau responde:



Prezado Salviano,

que honra podermos compartilhar idéias tão nobres acerca das coisas de Deus. Ainda mais contigo que parece ter tanto a dar. Tentarei merecer seus elogios, mas antes é necessário dizer que hoje vemos como por um espelho e nossa mente limitada só entenderá perfeitamente quando, na eternidade, gozarmos da presença de nosso Deus face a face. Ah, você não sabe o quanto anseio por este dia! Mas, por hora, Ele me deseja por aqui, então vamos lá!

Deus deu a todos o dom da fé mais admito que nem a todos foi dada a oportunidade que temos hoje de, através desse DOM, professarmos nossa fé no Cristo, seu Filho enviado para a nossa Salvação. Àqueles que existiram antes de Cristo foi dada a promessa e se viveram na promessa, serão salvos. Os que nem a promessa conheceram serão salvos igualmente pelo julgamento misericordioso de Deus. E àqueles que como nós, tiveram oportunidade de conhecerem o anúncio de Jesus, esses serão julgados conforme sua fé, conforme seu assentimento à pessoa do Cristo, como está escrito "quem crer e for batizado será salvo e quem não crer será condenado" (Marcos 16). A fé como DOM de Deus está infusa na nossa natureza, nos movendo e orientando para Ele. É só estando diante dele e de sua revelação (Palavra, Verbo, Cristo) que poderemos responder SIM ou NÃO.
A fé é como o amigo que nos leva até o médico quando estamos doentes, mas caberá exclusivamente a nós querer ser tratados ou não... Nenhum ser humano pode esquivar-se dizendo que não recebeu o dom da fé de Deus porque este dom como outros dons espirituais fazem parte de nossa natureza; são dons com os quais o próprio Criador nos dotou para que pudéssemos conhecê-lo e temos condições de escolhermos relacionar-se com Ele ou virarmos as costas escolhendo nosso próprio caminho.

Façamos um exercício mental, tentando desligar-nos do tempo e perceber a realidade divina fora dele. Antes de criar o mundo e o ser humano o Senhor já sabia que o mesmo iria se afastar de si e o quão penoso seria o método para fazê-lo retornar (Jesus esvaziando-se de sua divina condição escolheu se fazer homem e morrer por ele de uma morte vergonhosa destinada a malditos, morte de cruz). Antes da criação, A Trindade já "sentia" os cravos e a dor... e mesmo assim decidiu criar o homem. Consegues vislumbrar o amor maravilhoso deste ser a quem chamamos de Deus? Bem, para que fosse possível esse retorno ao relacionamento original, o Criador infundiu na criatura alguns dons, entre eles o dom da fé.


Veja o que nos diz o Catecismo da Igreja Católica:

§153 Quando São Pedro confessa que Jesus é o Cristo, Filho do Deus vivo, Jesus lhe declara que esta revelação não lhe veio "da carne e do sangue, mas de meu Pai que está nos céus". A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. "Para que se preste esta fé, exigem-se a graça prévia e adjuvante de Deus e os auxílios internos do Espírito Santo, que move o coração e o converte a Deus, abre os olhos da mente e dá a todos suavidade no consentir e crer na verdade."

Outras passagens da Escritura vão no mesmo sentido:

"Ninguém pode dizer 'Jesus é Senhor' a não ser no Espírito Santo" (1Cor 12,3).

"Deus enviou a nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: Abbá, Pai!" (Gl 4,6).

Este conhecimento de fé só é possível no Espírito Santo. Para estar em contato com Cristo, é preciso primeiro ter sido tocado pelo Espírito Santo. É ele que nos precede e suscita em nós a fé.


ENTÃO: O que é fé?
A fé é a resposta do homem à iniciativa de Deus, a fé, portanto, é a sua decisão de responder à Palavra de Deus.
A fé se inicia com Deus, Ele toma a iniciativa e eu respondo.


Citando novamente o nosso catecismo:

§150 A fé é uma adesão pessoal do homem a Deus; é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o assentimento livre a toda a verdade que Deus revelou.

Este impulso da criatura em buscar no Criador a prova das coisas que não se vêem é a definição de fé em Hebreus 11. Ele está infuso em cada homem criado; podemos dizer que faz parte de nossa natureza humana ter fé em algo maior, capaz de preencher nossos vazios existenciais. E Deus quer revelar-se, por isso a fé é possível.  Daqui concluímos o primeiro princípio: FÉ É DOM DE DEUS! DEUS A DEU A CADA SER HUMANO e em algum momento de existência particular de cada um, esse dom, esse impulso, esse anseio pelo Infinito irá se manifestar. Assim que isso acontecer, cada ser humano terá uma atitude e por esta atitude será responsabilizado (responsabilidade = capacidade de responder) e dará sua RESPOSTA: SIM, ACREDITO OU NÃO... Aqui temos o segundo princípio: A FÉ É UM DOM DE DEUS E RESPOSTA PESSOAL DE CADA UM!

Quando Jesus diz: quem crer e for batizado será salvo e quem não crer será condenado (Marcos 16) e
Quem crê será salvo e quem não crê já está condenado (João 3) está falando sobre acreditar na sua pessoa como o Filho enviado de Deus ao mundo para salvar o mundo e re-estabelecer a relação original que o homem tinham com Ele no Éden, antes do pecado. Desde esse primeiro pecado, é vontade de Deus que o homem volte à sua convivência como era antes. Por isso o Filho não vem para condenar, mas para salvar. Mas haverão aqueles que não o aceitarão. No fundo não é Deus que condena a nenhum filho seu, é o próprio ser humano que condena-se a si mesmo, tendo chances e não aceitando o grande presente que Deus está a lhe oferecer. O médico tudo fez para curar o doente. Aquele, portanto, que recusa observar as prescrições do médico, mata-se a si mesmo.

Querido desculpe se me embrenhei muito no pensamento e lhe confundi ainda mais. Se tiver qualquer dúvida ainda, não deixe de me escrever...

Atenciosamente,

Humberto Selau Inácio
Vendas - Região SUL
Cel.: (48) 8818-9568
Ciser - Parafusos e Porcas
humberto@ciser.com.br
www.ciser.com.br

“Há pessoas em outras religiões que estão sendo guiadas pela influência secreta de Deus para se concentrarem naqueles pontos de sua religião que estão de acordo com o cristianismo e que assim pertencem a Cristo sem o saber” (C.S.Lewis)

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Domingo,18-Março-2012                             Gilberto Silva

Evangelho Jô 3,14-21

“Pois Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho unigênito.”

Caríssimos irmãos e irmãs em Cristo,


Que belíssimo presente Deus Pai concedeu para todos nós: O próprio Filho amado. Isto para que possamos ao crer n’Ele, possamos ter a vida em plenitude e em abundância.
Eu faço esta pergunta: Qual o pai ou mãe de livre e espontânea vontade daria seu único filho, sua própria essência a outrem, sabendo-se de antemão que iriam matá-Lo?
Pois é, a bondade de Deus Pai é sem limites. Ela transpassa tudo o que a mente humana na nossa pobreza dos 5% de uso possa sequer imaginar. Eu diria que é imaginável, um pai entregar seu filho aos lobos sabendo que estes iriam devorá-lo.
Aí neste momento é que se apercebe o imenso amor de Deus para conosco queridos irmãos e irmãs. Ele quer nos resgatar dos nossos pecados. Deus nos quer presentes em seu reino celestial para vivermos em eterna harmonia com seus anjos e seus santos.
E desde que o pecado introduziu-se no mundo, Deus vai aos pouco enviando seus anjos e santos profetas para nossa correção e assim voltarmos à criação com Ele, nosso Deus, face-a-face.
Mas o homem seguiu o caminho errado. Matou e expulsou seus enviados. Por fim, o Pai enviou o seu próprio Filho, Jesus Cristo. Jesus não veio trazer a condenação ao mundo extraviado e perdido, mas dar-lhe uma direção e salvá-lo.
Para tanto caríssimos irmãos e irmãs tão somente bastas acreditarem em Jesus. Acolher
sua Boa Notícia, o santo Evangelho. Buscar a luz que ilumina os nossos corações e caminhos. Praticar o Bem sem olhar a quem.
Nesta quaresma vamos praticar o jejum, fazer orações e especialmente viver a caridade.
E ao final, acolher a Páscoa de Jesus. Vida nova. Um mundo novo e algum dia, que Deus nos permita, a entrada no Reino dos Céus..
Infelizmente, caríssimos somos pecadores. A todo instante em nossas vidas o Mal, a escuridão, atentam contra a nossa vontade de fazer o bem. A escuridão reage contra a luz de Jesus e esta reação começa com os nossos maus pensamentos, palavras, ações e omissões com uma única finalidade: de perpetuarmos o mal neste mundo afastando-nos de Jesus e do nosso Pai.
Lembrem-se que a serpente erguida por Moisés no deserto veio trazer a vida para aqueles que por ela foram picados. Assim dessa forma, Jesus deveria ser erguido na cruz para que sua morte física viesse nos trazer uma nova vida. É a ponte sobre o abismo da morte para uma vida nova (Col 1,13).
Glorifiquemos irmãos e irmãs, Jesus nosso Salvador que para o bem do gênero humano transportou da morte para a vida todo aquele que n’Ele crer.
Acredite, somos o trigo. É preciso que nós (sementes) venhamos a morrer para que cresçamos, façamos espigas e novos grãos em uma nova vida.

Jesus habite em seu coração!!!




                       
                                   Gilberto Silva

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“A LUZ VEIO AO MUNDO, MAS OS HOMENS PREFERIRAM AS TREVAS”...Olívia Coutinho

Dia 18 de março de 2012

Evangelho de Jo 3,14-21

Estamos no quarto domingo da quaresma, nos preparando para vivermos com intensidade a Páscoa do Senhor Jesus!
A quaresma é um tempo oportuno para retomarmos e vivermos a prática da nossa opção cristã! A cada ano, a campanha da Fraternidade nos apresenta um tema que nos leva a exercitar esta prática.
Aproveitemos este tempo precioso para revisar o quanto há de luz e sombras em nossa vida!
Se quisermos tomar parte com Jesus, o nosso primeiro passo tem que ser a conversão.  
A conversão nos abre à luz de Cristo, nos tira da escuridão, nos faz enxergar e desmascarar os projetos que nos mantém à sombra da injustiça e da pobreza.
Tomados pela luz de Cristo, tornaremos luz peregrina, a resgatar aqueles que ao nosso redor, vivem nas trevas!
Em muitas situações, ser luz pode implicar grandes riscos, porém, o pior risco, é não aceitar o desafio de ser luz, o que pode nos condenar à pior de todas as trevas: estar longe de Jesus.
O amor de Cristo nos impulsione, este deve ser o fio condutor de todo o nosso ser cristão!
O evangelho deste domingo nos fala da passagem da morte para vida, das trevas para a luz, do pecado para a conversão.
Num diálogo com Nicodemos, Jesus fala da sua crucificação: “É preciso que o Filho do homem seja levantado”... É o anuncio da entrega de sua vida pelo resgate da humanidade, humanidade que não O reconheceu como o Salvador do mundo.
A parte central do texto nos fala do amor incondicional de Deus pelo mundo. Neste evangelho, quando Jesus se refere ao mundo, Ele está se referindo a Criação de Deus, a humanidade, por quem o seu zelo O consumirá
Naquele momento, no horizonte próximo de Jesus, estava apenas à cruz, Ele estava consciente de que seria levantado na cruz, que iria passar por uma morte dolorosa, mas estava consciente também, de que nesta cruz, se manifestaria a “glória” do Filho do homem.
 O mistério da salvação passa pela cruz, a cruz é o primeiro passo de Jesus na sua volta ao Pai, quando Ele abre a porta do céu à toda a humanidade!
A cruz é  a expressão suprema do amor de Deus, que veio ao nosso encontro na pessoa de Jesus! Ela nos faz lembrar  o martírio de Jesus, mas a mensagem mais forte que a cruz nos traz, é a sua vitória que é também a nossa vitória!
A luz esteve presente no mundo e o mundo a rejeitou, mas Deus não desiste, o seu infinito amor, chegou ao extremo de permitir que seu Filho morresse para  nos salvar.
Sabemos que a morte de Jesus não foi da vontade de Deus, que ela foi conseqüência da obediência de Jesus ao Pai, em levar em frente o seu plano de salvação.
Jesus, hoje, provoca-nos a uma tomada de posição: Estar com Ele na cruz em favor da vida, ou estar contra Ele nas trevas em favor da morte.  Podemos escolher em dar a Ele uma resposta de fé, ou descrença. A fé e descrença já contêm o juízo de Deus: salvação, ou condenação.
 É importante conscientizarmos, que a condenação, não vem de Deus, nós é que nos condenamos quando não acolhemos e não colocamos a sua verdade no nosso existir.
 É Jesus quem nos diz: ”Quem crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado”...
Crer em Jesus é continuar a sua presença atuante aqui na terra, não crer, é não assumir o seu projeto de vida, por tanto, é não seguir as suas pegadas, é rejeitar a luz.

FIQUE NA PAZ DE JESUS!- Olivia

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“Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações” (Is. 66,10s).
Estas palavras de Isaías dão o tom da liturgia deste domingo, chamado pela liturgia de domingo Laetare – domingo “Alegra-te!” No meio da Quaresma, na metade do caminho para a a celebração da Ressurreição do Senhor, a Igreja nos convida à alegria pela aproximação da Santa Páscoa. Daí hoje a cor rosa e as flores na igreja. “Alegra-te, Jerusalém!” – Jerusalém é a Igreja,é o Povo santo de Deus, o novo Israel, é cada um de nós... Alegremo-nos, apesar das tristezas da vida, apesar da consciência dos nossos pecados! Alegremo-nos, porque a misericórdia do Senhor é maior que nossa miséria humana!
Como o povo da Antiga Aliança, também nós tantas vezes somos infiéis – já devíamos ter visto isso claramente a essa altura da Quaresma! É trágico, na primeira leitura, o resumo que o livro das Crônicas traçou da história de Israel: “Todos os chefes dos sacerdotes e o povo multiplicaram suas infidelidades, imitando as práticas abomináveis das nações pagãs. O Senhor Deus dirigia-lhes a palavra por meio de seus mensageiros, porque tinha compaixão do seu povo. Mas, eles zombavam dos enviados de Deus, até que o furor do Senhor se levantou contra o seu povo e não teve mais jeito”. Com estas palavras dramáticas, o Autor sagrado nos explica o motivo do terrível e doloroso exílio da Babilônia: Israel fez pouco de Deus, virou-lhe as costas; por isso mesmo, foi expulso do aconchego do Senhor na Terra que lhe fora prometida, perdeu a liberdade, o Templo, a Cidade Santa, e tornou-se escravo no Exílio de Babilônia. Aqui aparece toda a gravidade do pecado, que provoca a ira de Deus! É sempre essa a conseqüência do pecado: o exílio do coração, a escravidão da vida! A Escritura nos ensina, caríssimos, que Deus nunca faz pouco do nosso pecado, nunca passa a mão na nossa cabeça, jamais faz de conta que não pecamos! Jamais despensa de modo leviano as nossas infidelidades! E por quê? Porque realmente nos ama, nos leva a sério, faz conta de nós! Ora, o pecado, afastando-nos de Deus, nos desfigura e nos faz perder o rumo e o sentido da existência. Por isso mesmo, causa a ira de Deus! Pois bem, o Senhor levou, então, seu povo para o terrível deserto do Exílio para corrigi-lo e fazê-lo voltar de todo o coração para Aquele que é seu único bem, sua verdadeira riqueza – aquele que é o seu Deus! É por misericórdia que ele corrige Israel, por misericórdia que nos corrige: “Pois o Senhor não rejeita para sempre: se ele aflige, ele se compadece, segundo sua grande bondade. Pois não é de bom grado que ele humilha e que aflige os filhos do homem” (Lm. 3,31-33). Deus é amor e misericórdia. A leitura do Livro das Crônicas nos mostrou que, uma vez Israel convertido, corrigido, o Senhor fá-lo voltar para a Terra sempre prometida. Sim, efetivamente, “não é de bom grado que ele humilha e que aflige os filhos do homem”.
Esta mesma idéia que tantas vezes aparece no Antigo Testamento, cumpre-se de modo definitivo em Cristo Jesus. Hoje, o Senhor, com palavras comoventes, explica a Nicodemos a sua missão: “Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho unigênito, para que não morra todo aquele que nele crer, mas tenha a vida eterna. De fato, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”. Porque “estávamos mortos por causa de nossos pecados”, Deus, na sua imensa misericórdia, nos deu a vida no seu Filho único. Vede: há duas realidades que são bem concretas na nossa existência. Primeiro, a realidade do nosso pecado. Nesta metade de caminho quaresmal, é preciso que tenhamos a coragem de reconhecer que somos pecadores, que temos profundas quebraduras interiores, paixões desordenadas, desejos desencontrados que combatem em nós...
Quantas incoerências, quantos fechamentos para Deus e para os outros, quantas resistências à graça, quantas máscaras! A humanidade é isso! Não somos bonzinhos! Somos todos feridos, todos doentes, todos pecadores, todos necessitados da salvação! Mas, ao lado dessa realidade tão triste, há uma outra: Deus não se cansa de nós; estende-nos a mão para nos tirar do nosso atoleiro e nos salvar! Essa mão estendida é o seu Filho Jesus! Deus amou tanto o mundo, levou-nos tão a sério, que entregou o seu Filho, o Amado, o Único, o Santo! Grande o nosso pecado, imensa a misericórdia de Deus em Cristo; grande a nossa treva, imensa a Luz de Deus que nela brilhou em Cristo; grande o nosso egoísmo; imenso o amor de Deus manifestado em Cristo; grande a nossa morte; imensa a Vida que nos foi dada em Cristo Jesus, nosso Senhor!
A grande tentação de nossa época é fazer pouco de Deus e, cinicamente, mascarar nosso pecado. Quantos cristãos adulteram, roubam, fornicam, abortam, negligenciam seus deveres para com Deus e com a Igreja, desobedecem aos mandamentos, e não estão nem aí. É um espírito de descrença, de falta de atenção e delicadeza para com o Senhor. Vemos isso em tanta gente de Igreja... Aqueles que nos corrigem são chamados logo de reacionários, fechados, sem misericórdia, duros, insensíveis para o mundo atual... E no entanto, a Palavra do Senhor é clara: é necessário que fixemos o olhar em Cristo que se entregou por nós e reconheçamos a gravidade e a concretude do nosso pecado! Volta, Israel! Volta, Igreja de Cristo! Volta, povo do Senhor! Voltemos! Em Cristo Jesus, nosso Salvador, “Deus quis mostrar a incomparável riqueza da sua graça!” Não brinquemos com o amor de Deus, não recebamos em vão a sua correção!
Recordemos que hoje, no Evangelho, após mostrar o imenso amor de Deus pelo mundo, a ponto de entregar o Filho amado, Jesus nos previne duramente: Quem nele crê, não é condenado, mas, quem não crê, já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho unigênito”. Ora, caríssimos, acreditar no nome de Jesus não é aderir a uma teoria, mas levá-lo a sério na vida pelo esforço contínuo de conversão à sua Pessoa divina e à sua Palavra santa!
Crede não com palavras vãs! Crede com o afeto, crede com o coração, crede com os lábios, mas, sobretudo, crede com as mãos, com os vossos atos, com a prática da vossa vida! De verdade creremos na medida em que de verdade nos abrirmos para a sua luz; pois “o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz”.
Que o Senhor nos dê a graça de ver realisticamente nossos pecados, reconhecê-los humildemente e confessá-los sinceramente, para celebrarmos verdadeiramente a Páscoa que se aproxima e dela participar eternamente na glória do céu.
dom Henrique Soares da Costa
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Em busca da luz
Damos mais um passo em nossa caminhada quaresmal na direção da vida nova, do novo nascimento do batismo, que é também iluminação. Olhamos para a cruz que clareia a nossa vida e nos revela o amor do Pai.
Esse amor nos salva de graça, inteiramente de graça, porque não somos capazes de fazer algo que mereça a morte de Jesus. Não é fácil entender esse amor, pois nosso pensamento, nossa prática, nosso modo de sentir são outros, bem outros. Nossa cabeça é feita mais pelo mundo em que vivemos.
Há pessoas que, quando ouvem alguma referência negativa ao mundo, discordam, dizendo: “Não! O mundo é bom, o povo é que é ruim!” Quanta coisa se pode entender pela palavra mundo! É a natureza, essa bela moradia que Deus nos deu e nós teimamos em destruir. É a humanidade inteira, mesmo perdida e desorientada. São as estruturas perversas que nos governam. É a corrupção de toda ordem, a busca desenfreada de poder, de prestígio e do prazer ou da satisfação momentânea. 
A alguns desses mundos, não a todos, Jesus veio salvar; a outros ele condena ou eles próprios se condenam. Corremos o risco de, às vezes, confundir as coisas.
Deus amou o mundo, entregou seu Filho pelo mundo, o Crucificado é a luz que veio ao mundo, mas o mundo dos homens preferiu as trevas à luz.
A eucaristia celebra a salvação, a partilha de si que faz a fraternidade verdadeira. Comer deste pão exige deixar-se também partir em pedaços para que a salvação chegue a todos, para que o mundo se convença de que a cruz é o caminho, enquanto a chegada, a vontade de Deus “assim na terra como no céu”, é a mesa comum.
1ª leitura (2Cr. 36,14-16.19-23)
A leitura nos dá esta interpretação dos acontecimentos: os sofrimentos do povo são o castigo previsto pelos profetas, o momento bom também foi previsto pelos profetas. Em todos os momentos Deus está presente, conforme a palavra das profecias.
O trecho do segundo livro das Crônicas lido neste domingo dá uma explicação, do ponto de vista da tradição sacerdotal, sobre o que motivou finalmente o exílio da Babilônia. O erro não foi só dos dirigentes políticos, foi também dos sumos sacerdotes e do povo. Imitaram as outras nações e tornaram impuro o Templo.
Essa última razão reflete bem a mentalidade sacerdotal, que tem o culto como o sinal decisivo da fidelidade a Javé. Imitar as outras nações, “fazer como todo o mundo faz”, não ter o mínimo respeito pelas leis da aliança, que faziam a diferença de comportamento do povo de Deus, foi o grande pecado.
Além do mais, os profetas, que interpretavam os acontecimentos, os sinais dos tempos, mostrando ao povo o pensamento de Deus, foram desprezados e ridicularizados. Não havia mais recurso, veio a derrota com a destruição do Templo e o cativeiro da Babilônia.
2ª leitura (Ef. 2,4-10)
Um pensamento forte da epístola aos Efésios, especialmente do trecho que vamos ouvir na segunda leitura, é a gratuidade da salvação. Por sua imensa misericórdia e seu grande amor, Deus nos tirou da morte de nossos tropeços e nos fez reviver com Cristo.
Cristo é o centro de tudo; nele e com ele, Deus gratuitamente nos faz reviver, ressuscita e nos estabelece no céu junto com ele. Assim, fica provada para o futuro a imensidão de sua gratuidade e bondade.
Pela fé – a adesão fiel a Jesus como Messias –, e não pela prática de um sem-número de atos ou devoções determinadas, somos salvos gratuitamente. Sem nós ele nos salva; ele preparou para nós as boas obras que praticamos. Tudo é graça.
Evangelho (Jo. 3,14-21)
O evangelho faz parte da conversa de Jesus com Nicodemos, “o mestre de Israel”. O episódio reflete o debate entre os cristãos e os mestres fariseus da época em que foi escrito o evangelho. Veja o v. 11: “Falamos do que sabemos, testemunhamos o que vimos e vós não aceitais o nosso testemunho”. Há um grupo que fala, sabe e testemunha e há um grupo que não aceita esse testemunho.
Para os mestres fariseus que dominavam o judaísmo da época do evangelho, a cruz é maldição, a salvação é só para eles, não para a humanidade toda. Isso é viver no escuro. É o que significa Nicodemos procurar Jesus à noite. Procura Jesus por causa dos sinais, depende ainda de milagres, mas demonstra boa vontade, desejo de entender Jesus. Entretanto, está ainda no escuro; não entende, por exemplo, quando Jesus fala em nascer de novo.
Agora surge a luz. Jesus se compara à serpente de bronze que Moisés levantou no deserto e que livrou os hebreus do veneno das serpentes. Jesus também é levantado, não apenas pregado ou pendurado. A cruz no Evangelho segundo João é a sua exaltação, é a sua glória.
O Filho do homem precisa ser suspenso, levantado, exaltado na cruz. É preciso que isso aconteça, para se realizar a Escritura, para se realizar nele o projeto de Deus (Is. 53,10).
O Filho do homem, pendurado à cruz, mostra que Deus amou de tal forma o mundo, que lhe deu seu Filho unigênito. O filho de Adão como nós é o Filho de Deus, que nos revela o amor do Pai. Quem crê nesse amor jamais será destruído, tem vida eterna.
Jesus se entrega à cruz não para condenar, mas para salvar, para livrar-nos do veneno mortal que é não crer nele, na força da cruz. Quem nele crê não é julgado nem condenado, quem não crê já está condenado.
Quem não crê nele vai crer em quê? Crê na força do dinheiro, no poder econômico, crê no prestígio, na fama, no poder da mídia, crê na rivalidade, na competição, na “competência”, na capacidade de usar os outros para seus objetivos.
Quem crê nele crê na cruz, crê no humilde serviço aos outros, crê na força transformadora de aceitar o último lugar, crê na doação de si como único antídoto contra o veneno da competição.
Nicodemos foi uma vez, à noite, a Jesus. A luz veio definitivamente ao mundo. E o critério para o julgamento é só este: há os que fogem e há os que procuram a luz. Este mundo governado pela arrogância odeia a luz e foge da luz e, com isso, está se condenando; há os que (como Nicodemos?) procuram a luz, porque praticam a verdade, agem em Deus.
Dicas para reflexão
– A primeira leitura nos dá esta interpretação da história: os sofrimentos são o castigo previsto pelos profetas, o momento bom também foi previsto pelos profetas. No fundo, em todas as circunstâncias Deus está presente. Dificilmente vemos a presença de Deus nos grandes lances negativos ou positivos da história. E não é preciso aprender também a ver a Presença nos pequenos lances do cotidiano que tecem o pano de fundo da história?
– Um pensamento forte da epístola aos Efésios, especialmente do trecho de hoje, é a gratuidade da salvação. O Messias crucificado é o centro de tudo, nele Deus nos salva gratuitamente, sem levar em conta nossas práticas e devoções. Tanta gratuidade incomoda, parece exigir também um amor gratuito. Muitas vezes, enganosamente, se prefere ou se acha mais seguro, menos incômodo, cada um depender da própria competência, do próprio esforço.
– No evangelho, Jesus conversa com Nicodemos, o mestre de Israel. Ali está a comunidade que nos deu este evangelho conversando com os mestres fariseus da sua época. Para eles, a cruz é maldição. Não lhes entrava na cabeça o pensamento de uma salvação que viesse de um crucificado. Ainda hoje nos é difícil aceitar esse pensamento, crer que possa ser essa a proposta de Deus. Por outro lado, a salvação que muitos esperavam era só para a sua nação e se resumia a uma vida mais agradável. A salvação não tinha alcance mundial nem ia à raiz mesma dos problemas, o pecado, ou seja, a cobiça e a arrogância. Só o ser humano pendurado à cruz como uma maldição vai à raiz do pecado e, consequentemente, da morte.
O homem pendurado na cruz, como a serpente de bronze da tradição bíblica, tira o veneno da cobiça e do orgulho. Jesus veio salvar a humanidade capaz de acreditar no crucificado. O mundo que não aceita esse caminho já está condenado, preferiu a cobiça, a competição, a violência. O amor revelado na cruz condena tudo isso. É a transparência da luz. O mundo que prefere a obscuridade da corrupção já se condenou.
O Filho do homem precisa ser suspenso, levantado, exaltado, pendurado na cruz. As idéias se confundem, o que parecia maldição de Deus (Dt. 21,23) agora é bênção, é salvação. E é assim mesmo, é preciso que aconteça para se realizar a Escritura, para se realizar nele o projeto de Deus (Is. 53,10).
“Os meus pensamentos não são os vossos. Quanto dista o céu da terra, assim os meus pensamentos estão acima dos vossos” (Is. 55,8-9).
padre José Luiz Gonzaga do Prado
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Aquele que foi levantado
Avançamos em nossa caminhada quaresmal.  Nesse tempo que passa centramos a atenção na adorável figura de Jesus. Aos poucos vai se desenhando no horizonte o desfecho de sua caminhada.  Ele será o grão de trigo lançado à terra e atrairá a atenção de todos quando for levantado.
O Senhor, Deus grande e belo, ama os homens.  Tanto ama que lhes dá seu único e dileto Filho:  “Deus amou tanto o mundo que  deu o seu Filho Unigênito, pra que não morra quem nele crer, mas tenha a vida eterna”.  Aos que acolhem o Filho, o presente do Filho, o dom do Filho é prometida a vida em plenitude, a vida eterna.  Ele tinha vindo para que tivéssemos vida e vida em plenitude.  A vida eterna consiste em  conhecer o Filho e se deixar  “recriar” por ele.  A fé em Jesus coloca os discípulos no patamar da vida. No evangelho de João tudo é vida… Vida, água no poço da Samaritana, água do lado aberto de Jesus depois de morto. Quaresma tempo de buscar a vida que nos plenifica e abandonar o pecado que mata.
Ele veio para salvar e não para condenar.  Jesus, esse rei e centro de tudo, o primeiro na intenção de Deus, o rei de tudo  tem acrescentado ao seu nome esse aposto consolador: salvador.  Ele não veio nos condenar, mas salvar.
Há uma luta entre trevas e luz. Desde as primeiras páginas de João se trata  desse combate.  “O julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más.  Quem pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz para que suas ações não seja denunciadas. Quem age segundo a verdade aproxima-se da luz…”
No tempo da quaresma já tivemos a alegria de fazer a experiência da luz com os discípulos na montanha da transfiguração. Subindo para Jerusalém Jesus tem seu rosto  humano marcado pela apreensão da morte e no momento da flagelação e crucifixão seu rosto está sem claridade e sem beleza.  Realmente a luz veio mas os homens preferiram as trevas…
Ora, ali, no Calvário, no lugar do crânio, Jesus está numa posição de altura. Foi elevado da terra.  Do alto de seu trono de sofrimento ele abarca a humanidade. Não tendo nada mais a dizer ele se prepara para fazer lúcida e generosamente o dom de sua vida. “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do homem seja levantado, para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”.
Aquele que foi levantado da terra, suspenso entre o céu e a terra, foi exaltado na glória e atrai nosso olhar  nesse tempo abençoado da quaresma.
Paulo,  na epístola hoje proclamada ainda acrescenta:  “Por causa de seu grande amor com que nos amou  (Deus rico em misericórdias), quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com Cristo”.
Que pensamento consolador: o Pai nos deu a vida com Cristo.
O  que foi exaltado na cruz, foi glorificado na glória e arrastou o cortejo dos que forma iluminados com sua claridade.
frei Almir Ribeiro Guimarães
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Restauração de nossa vida em Cristo
Na Quaresma, a liturgia relaciona a caminhada de Israel com a nossa salvação pela fé em Cristo, professada no batismo.  O episódio narrado hoje, à primeira vista, não parece ilustrar o evangelho (cuja prefiguração veterotestamentária se encontra em Nm. 21). Contudo, ao bom observador, a liturgia de hoje aparece atravessada por um fio homogêneo: a passagem da morte à vida, das trevas à luz, do pecado à reconciliação. Israel estava morto: a terra e a cidade destruídas, o povo exilado. Mas Deus o fez reviver, levando-o de volta. E isso, sem mérito da parte de Israel, mas pelo intermédio de um pagão, o rei Ciro (1ª leitura), que se apresenta como encarregado de Javé para realizar essa obra (2Cr. 36,23; cf. Is. 44,24-45,13). Na mesma linha, a 2ª leitura fala de nossa revivificação com Cristo, terminologia batismal (cf. Rm. 6,3 etc.). Acentua fortemente a gratuidade do agir de Deus. Não foi por nossos méritos (Ef. 2,8-9), mas porque Deus o quis, em sua grande misericórdia (2,4-5). O que não quer dizer que não precisamos fazer nada. Não somos salvos pelas obras, mas para as obras: para as obras boas que Deus nos preparou em sua eterna providência (2,10).
Por que não nos salvam nossas obras? Porque nosso relacionamento com Deus não é comercial, mas vital. Como poderíamos restituir àquele de quem recebemos a própria vida? A única maneira de reconciliação é: aceitar. Aceitar a nova vida que nos é oferecida, nossa nova “realização”, numa práxis que vem de Deus mesmo e que nós assumimos em união com Cristo, seu grande dom.
Também o evangelho fala de nossas obras e da bondade de Deus, gratuita e radical, pois dá seu próprio filho por nós (cf. 2° domingo de Quaresma). Descreve a reação dos homens, na sua práxis, diante da irrupção da oferta de Deus: Jesus Cristo e sua mensagem. O homem pode expor a práxis de sua vida à luz dessa oferta, e então sua práxis será transformada. Ou pode, auto-suficiente, fugir dessa nova iluminação, porque suas obras não agüentam a luz do dia. Portanto – e aqui Jo se torna muito esclarecedor para nossa problemática atual -, a razão por que alguém aceita ou rejeita Jesus não é tanto uma razão intelectual, mas a práxis que ele está vivendo. Quem “faz a verdade” (3,21) aceita a luz do Cristo.
Para Jo, o julgamento acontece na rejeição de Cristo, enviado do Pai; e isso, desde já; como também a salvação existe, desde já, na sua aceitação (3,18). Ora, esta rejeição ou aceitação acontece na práxis.
Nisto está uma mensagem importante para nossa “subida” à festa pascal em espírito – de conversão (cf. canto da comunhão; oração do dia). Não bastará proclamar na noite pascal o Credo, o compromisso da fé. A proclamação deve ser a confirmação daquilo – que já estamos vivendo e praticando. Desde já, esta Quaresma nos deve levar a uma nova práxis. Dai ser necessário participar da Campanha da Fraternidade e de práticas semelhantes, que nos levem a viver, com convicção, na luz projetada pelo Filho de Deus, morto na cruz por nós. Não só austera abnegação, mas positiva e alegre doação aos necessitados. Não que nossa práxis nos salvasse. Mas é preciso que façamos algo, para que se encarne o que Deus quer para conosco: um amor em atos e verdade (1Jo 3,18).
Não são as nossas obras que nos salvam. Quem nos salva é Deus. Mas nossas obras encarnam sua salvação.
Johan Konings "Liturgia dominical"
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“O povo de Israel, não mais suportando a viagem, murmurou contra Deus e contra Moisés dizendo: ‘Por que nos tiraste do Egito? Foi para morrermos neste deserto? Não temos nem pão nem água, e estamos enjoados deste pão de miséria.’ Então Deus enviou serpentes venenosas que os picavam, e muita gente de Israel morreu. O povo se arrependeu de ter falado contra Deus, e Moisés suplicou a Deus pelo povo. Deus ordenou a Moisés que fizesse uma serpente e a fixasse num poste. ‘Quem for mordido e olhar para ela, será curado.’ Esta passagem encontra-se no capítulo 21 de Números.
Desde o Antigo Testamento, Deus ordenou ou permitiu a instituição de imagens, como é o caso, nesta passagem, da serpente de bronze que conduziria simbolicamente à salvação por meio do Cristo Jesus que foi levantado na Cruz. Por isso, era preciso que Jesus fosse levantado. A Paixão de Cristo, Salvação de todos, foi simbolizada naquele momento como salvação para o povo de Israel.
O Amor de Deus é oferecido gratuitamente e atinge o ser humano em profundidade, antes mesmo de ele ser capaz de amar. Ele entrega tudo o que possui, Seu Filho único, para que a humanidade tenha vida, e este é o gesto extremo do Seu Amor que, em vez de punir os pecados no homem, que é ingrato e sempre volta a pecar, puniu-os em Seu Filho para que o homem, crendo em Jesus Cristo Crucificado, encontre a Salvação. Neste gesto está a gratuidade da salvação dos homens. “De fato, vocês foram salvos pela graça, por meio da fé; e isso não vem de vocês, mas é dom de Deus”. Ele não nos ama porque somos bons, mas porque Ele é bom e quer salvar e comunicar vida em plenitude.
Jesus não julga ninguém, nem condena, mas provoca uma tomada de posição, a favor ou contra a vida. Ou seja, com Jesus e a favor da vida, ou contra Jesus e a favor da morte. É isso que o Evangelho chama de julgamento. Estar a favor da vida é estar com Jesus.
“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida” disse Jesus. Para o povo, a luz é sinônimo de verdade, felicidade, alegria, salvação e libertação. Cada um terá a sua própria sentença de vida ou de morte, dependendo de sua escolha de adesão ou não a Cristo.
A palavra ‘mundo’ a qual João fala é usada de maneira simbólica, e se refere àqueles que se recusam a crer.
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Neste texto do Evangelho de hoje, temos a conclusão do diálogo de Jesus com Nicodemos. O evangelista João recorre ao simbolismo da serpente de bronze (cf. Nm. 21,9) - a qual, pela fé, libertava das mordidas mortais das serpentes do deserto para aplicá-lo à fé em Jesus, pelo qual se tem a vida eterna. Este diálogo com Nicodemos é um convite à conversão. Coloca em confronto as duas opções: aquele que crê e aquele que não crê, aquele que pratica o mal e ama as trevas e aquele que pratica a verdade e se aproxima da luz. Cabe ao leitor fazer sua opção. Na primeira leitura temos a teologia do castigo e do arrependimento, com a retomada da aliança. Os habitantes de Judá, exilados na Babilônia por Nabucodonosor, após o sofrimento do exílio, encontram a benevolência de Ciro, da Pérsia, o qual os contempla com a reconstrução do templo de Jerusalém. O tema predominante no Evangelho de João é o dom da vida eterna por Jesus. Neste tempo de quaresma, somos convidados à conversão, a nascer do Espírito, a nascer para a liberdade e para o amor, pois para isto fomos feitos (segunda leitura). Pelas obras praticadas em Deus, unimo-nos com Jesus e vivemos com ele na eternidade, na unidade do Pai e do Espírito.
padre Jaldemir Vitório
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Na árvore da cruz, diz o sim salvador
A serpente que feria o povo se tornou instrumento de cura no deserto, e se tornou também sinal daquele que seria levantado no madeiro para a salvação do mundo. Na árvore do paraíso, foi dito um não a Deus. Na árvore da cruz, se diz o sim salvador. Nesta Quaresma, esperamos um sim claro por uma política pública eficiente para a saúde, e um sim forte de rejeição à corrupção que desvia para contas particulares recursos destinados à saúde.
O povo morria no deserto picado por cobras. Moisés fez uma cobra de bronze e a levantou numa haste. Quem olhava para ela, ficava curado. Hoje podemos da própria cobra tirar o soro antiofídico. Deus não perde onde o homem ganha. Deus nos deu uma inteligência criativa e solidária para com ela procurarmos soluções humanas para os nossos problemas. Naquilo em que não somos capazes, podemos pedir a intervenção de Deus por meio de seus santos, e os santos que devem agir em primeiro lugar somos nós.
Ao ser levantado na cruz, Jesus mostra o amor de Deus Pai para com todos os seus filhos. Ele não quer que eles morram, mas que tenham a vida eterna. A experiência humana de Deus no Verbo encarnado mostra que Deus não está interessado apenas na vida depois da morte. Seria então preferível morrer no ventre da mãe. A luz de Cristo que ilumina este mundo põe às claras o que aqui se faz. Nossas ações devem ser feitas segundo a verdade para não serem denunciadas pela luz. Quem pratica o mal, odeia a luz. Impedir que a população tenha acesso aos recursos da medicina contemporânea é praticar o mal e odiar a luz.
Ciro, rei da Pérsia, deixou-se iluminar pela luz de Deus e tomou uma decisão em favor do bem. Libertou o povo de Deus, cativo na Babilônia, e o mandou de volta à sua terra para reconstruir o Templo de Deus. Reconstruir o Templo de Deus significava, na prática, reconstruir a nação. Um povo nunca será uma verdadeira nação se viver escravizado, marginalizado, sem perspectiva. Uma nação não é feita de escravos e doentes. Que triste o povo que não sabe a quem recorrer para cuidar da sua saúde e para a sua segurança. Quem me ajudará, se preciso de atendimento agora e só o terei meses mais tarde? Onde está o meu socorro, se o violento é protegido por quem deve me proteger?
Parece que nós mesmos não encontramos com facilidade a solução de nossos problemas. Precisamos do dom de Deus. “Fomos criados em Jesus Cristo para as obras boas, diz a Carta aos Efésios, obras que Deus preparou de antemão para que nós as praticássemos”. Fé e oração devem mover as mãos que prescrevem receitas ou redigem leis, que distribuem os recursos públicos ou movimentam instrumentos cirúrgicos.
É preciso estar bem para cantar os cânticos de Sião. É preciso estar interiormente feliz para se sentir bem. Repousando em Deus, nosso coração se aquieta. Quanto ao nosso corpo, aceitamos a fraqueza da matéria, o peso da idade, a enfermidade natural, mas não aceitamos que ações más criem situações insustentáveis. Sabemos unir os sofrimentos deste mundo ao sofrimento de Cristo, porque não há comparação entre o que passamos nesta terra e o que Deus preparou para nós no céu, mas não podemos aceitar que não haja formação adequada para os agentes da saúde ou que se faça da doença uma fonte de enriquecimento.
cônego Celso Pedro da Silva
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O objeto do amor de Deus é o mundo
Estas palavras de Jesus fazem parte da sua fala no diálogo com Nicodemos, na primeira visita de Jesus a Jerusalém, no evangelho de João. Temos aqui o anúncio fundamental que pervaga o evangelho de João. Deus, no seu grande amor, enviou seu Filho ao mundo, no qual a humanidade é elevada em dignidade e a vida eterna é comunicada a todos que nele crerem.
. O termo "mundo" (kósmos, no grego) é um conceito da cultura helênica, não tendo correspondente na cultura semita. No Novo Testamento tem sentidos diversos. Pode indicar toda a criação, ou a Terra apenas, mas com a centralidade na humanidade. Na criação, Deus viu que tudo era bom. Agora, com imenso amor doa seu Filho, portador da vida eterna, ao mundo. Está em questão a condenação ou a salvação. A salvação, na tradição de Israel, diz respeito ao resgate do castigo e da condenação dos infiéis pecadores (primeira leitura). Com Jesus esta ideia de salvação vai sendo didaticamente substituída pelo anúncio da libertação e do dom da vida eterna. O estar condenado ou não estar condenado é substituído pelas atitudes de não crer ou crer em Jesus, Filho único de Deus. Quem crer em Jesus recebe o dom da vida eterna. Quem não crer, exclui-se deste dom.
O Pai que "entrega" seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo, foi entendido dentro das categorias do judaísmo como oferta sacrifical. Jesus seria sacrificado na cruz nos moldes dos cordeiros no altar do Templo de Jerusalém, ou como Isaac que é levado ao sacrifício por seu pai Abraão. Terrível compreensão! Deus é amor! Seu Filho Jesus não vem para condenar, mas, com seu amor divino, vem, no Espírito Santo, para comunicar a vida aos homens e mulheres. É um renascer para a eternidade, é a ressurreição.
Ao dom de Deus ao mundo seguem-se o crer e o não crer. No evangelho de João o mundo está submisso ao príncipe das trevas. Não é necessário pensar em entidades demoníacas. Trata-se do poder da morte. São os poderosos deste mundo que semeiam a morte em vista de garantir e consolidar suas riquezas, seu poder econômico, militar e ideológico, apelando para contravalores seculares ou religiosos. Os discípulos eram do mundo, mas foram libertados de seu poder e de sua ideologia pela adesão ao projeto de Jesus. Eles são a semente da libertação do mundo. Na solidariedade e na fraternidade promovem a vida, que é dom gratuito de Deus em seu imenso amor (segunda leitura). O crer é a porta para a vida eterna. Crer no nome do Filho é seguir Jesus. É ser portador da misericórdia e da vida ao mundo. Viver o amor no convívio familiar, comunitário e social, desvelando a presença de Deus no mundo.
José Raimundo Oliva
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A liturgia do 4º domingo da Quaresma garante-nos que Deus nos oferece, de forma totalmente gratuita e incondicional, a vida eterna.
A primeira leitura diz-nos que, quando o homem prescinde de Deus e escolhe caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, está a construir um futuro marcado por horizontes de dor e de morte. No entanto, diz o autor do livro das Crônicas, Deus dá sempre ao seu Povo outra possibilidade de recomeçar, de refazer o caminho da esperança e da vida nova.
A segunda leitura ensina que Deus ama o homem com um amor total, incondicional, desmedido; é esse amor que levanta o homem da sua condição de finitude e debilidade e que lhe oferece esse mundo novo de vida plena e de felicidade sem fim que está no horizonte final da nossa existência.
No Evangelho, João recorda-nos que Deus nos amou de tal forma que enviou o seu Filho único ao nosso encontro para nos oferecer a vida eterna. Somos convidados a olhar para Jesus, a aprender com Ele a lição do amor total, a percorrer com Ele o caminho da entrega e do dom da vida. É esse o caminho da salvação, da vida plena e definitiva.
1ª leitura – 2Cr. 36,14-16.19-23 – AMBIENTE
O Livro das Crônicas é uma obra de um autor anônimo, que pretende oferecer a história de Israel, desde a criação do mundo, até à época do Exílio. A tradição judaica atribui a obra a Esdras; mas tal hipótese não é provável. O livro faz parte de um bloco com alguma unidade (em conjunto com os livros de Esdras e de Neemias) que se costuma designar como “Obra do cronista”.
Os investigadores e comentadores do livro das Crônicas propõem várias hipóteses para a datação da obra (as diversas propostas apontam para datas entre 515 a.C. e 250 a.C.). Recentemente, alguns autores falam de um processo em várias etapas… À volta de 515 a.C. poderia ter aparecido uma primeira edição da obra, com a finalidade de legitimar o culto no “segundo Templo” (isto é, no Templo reconstruído pelos judeus regressados do Exílio na Babilônia); entre 400 e 375 a.C., poderia ter aparecido uma segunda edição, destinada a sublinhar a autoridade de Esdras como legislador e intérprete da Torah; entre 350 e 300 a.C., poderia ter aparecido uma terceira edição, destinada a animar, a fortalecer e a consolidar a comunidade judaica frente à hostilidade dos vizinhos, particularmente dos samaritanos.
O texto que nos é proposto aparece na parte final do segundo volume do Livro das Crônicas. Neste texto, o Cronista refere dois fatos históricos separados por quase 50 anos: a queda de Jerusalém nas mãos de Nabucodonosor (586 a.C.) e a autorização dada pelo rei persa Ciro para o regresso dos exilados a Jerusalém, após a queda da Babilônia (538 a.C.). Pelo meio, o Povo de Deus conheceu a dramática experiência do Exílio na Babilônia.
Contudo, o autor está muito mais interessado em dar-nos uma interpretação teológica dos fatos do que em oferecer-nos uma descrição pormenorizada dos acontecimentos históricos. Não é um historiador ou um analista político a falar, mas sim um crente preocupado em ler a história à luz da fé e em tirar daí as conclusões que se impõem.
MENSAGEM
A destruição de Jerusalém, o incêndio do Templo e a deportação do Povo de Deus para a Babilônia são vistas pelo Cronista como o resultado lógico dos pecados da nação. “Os chefes de Judá, os sacerdotes e o Povo multiplicaram as suas infidelidades” (v. 14); ignoraram os avisos enviados por Deus por intermédio dos profetas e desdenharam os seus apelos… Então, a ira do Senhor abateu-se sem remédio sobre o seu Povo (vs. 15-16). O próprio tempo que o Exílio durou (e que o autor situa num número não muito exacto mas simbólico de 70 anos – isto é, de dez vezes sete) é visto como um grande jubileu forçado por Deus, um tempo de compensação por todos esses sábados (sétimos dias) que o Povo não respeitou e nos quais não cumpriu as suas obrigações para com Jahwéh. A “terra de Deus”, martirizada pela injustiça e pelo pecado, deve descansar durante setenta anos, até que seja renovada e volte a ser de novo a “casa” do Povo de Deus (v. 21).
Por detrás desta leitura da história, está uma noção um tanto ou quanto primitiva da justiça de Deus: quando o Povo vive na fidelidade à Aliança e aos mandamentos, Deus oferece-lhe vida e felicidade; quando o Povo é infiel aos compromissos assumidos, conhece morte e desgraça.
De qualquer forma, o Cronista está consciente de que o castigo não é a última palavra de Deus. Os últimos versículos (vs. 22-23 – que são uma versão resumida de Esd. 1,1-4) apontam no sentido da esperança e de um recomeço. Por detrás da referência à libertação operada por Ciro e ao édito que autoriza os habitantes de Judá a regressar à sua terra, está a ideia de um Deus que não abandona o seu Povo e que continua a dar-lhe, em cada momento da história, a possibilidade de recomeçar.
ATUALIZAÇÃO
• A teologia da retribuição apresentada pelo Cronista (a fidelidade a Deus é recompensada com vida e bênção; a infidelidade é castigada com sofrimento e desgraça) tem, evidentemente, as suas limitações e os seus perigos. Levada às últimas consequências, pode sugerir que Deus é apenas um comerciante preocupado em fazer a contabilidade dos débitos e dos créditos do homem, incapaz de amor e de misericórdia. O Evangelho deste domingo virá, precisamente, demonstrar os limites desta perspectiva e apresentar um Deus que, embora abominando o pecado, ama o homem para além de toda a medida e está sempre disposto a oferecer-lhe a vida e a salvação.
• Embora usando elementos teológicos e formas de expressão típicas de uma época, o Cronista recorda-nos, no entanto, algo que é indesmentível: quando o homem prescinde de Deus e escolhe caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, está a construir um futuro marcado por horizontes de dor e de morte. Na verdade, a nossa experiência de todos os dias mostra como a indiferença do homem face a Deus e às suas propostas gera violência, opressão, exploração, exclusão, sofrimento. Na leitura que o Cronista faz da história do seu Povo, há um convite claro a escutar Deus e a pautar as opções que fazemos pelas propostas de Deus.
• A perspectiva de que a libertação do cativeiro é comandada por Deus e de que Deus oferece ao seu Povo a oportunidade de um novo começo, aponta no sentido da esperança. Cá está: o Deus que nos é proposto é um Deus que abomina o pecado, mas que dá sempre aos seus filhos a oportunidade de recomeçar, de refazer tudo, de refazer o caminho da esperança e da vida nova. Neste tempo de Quaresma, este texto abre-nos horizontes de esperança e convida-nos a embarcar na apaixonante aventura da vida nova.
2ª leitura – Ef. 2,4-10 - AMBIENTE
A cidade de Éfeso estava situada na costa ocidental da Ásia Menor. Era uma cidade grande e próspera, capital da Província Romana da Ásia. O seu porto de mar ligava o interior da Ásia Menor com todas as cidades do Mediterrâneo.
Quando Paulo chegou a Éfeso (cf. At. 19,1), durante a sua terceira viagem missionária, encontrou alguns cristãos escassamente preparados. Paulo instruiu-os e formou com eles uma comunidade cristã. De acordo com o Livro dos Atos dos Apóstolos, Paulo permaneceu na cidade durante um longo período (mais de dois anos, segundo At. 19,10), ensinando na sinagoga e, depois, na “escola de Tirano” (At. 19,9). Assim, reuniu à sua volta um número considerável de pessoas convertidas ao “Caminho” (At. 19,9.23). Ainda de acordo com Lucas, foi aos anciãos da Igreja de Éfeso que Paulo confiou, em Mileto (cf. At. 20,17-38), o seu testamento espiritual, apostólico e pastoral, antes de ir a Jerusalém, onde acabaria por ser preso. Tudo isto faz supor uma relação muito estreita entre Paulo e a comunidade cristã de Éfeso. Curiosamente, a carta aos Efésios é bastante impessoal e não reflete essa relação. Alguns dos comentadores dos textos paulinos duvidam, por isso, que esta carta venha de Paulo. Outros, porém, acreditam que o texto que chegou até nós com o nome de “Carta aos Efésios” é um dos exemplares de uma “carta circular” enviada a várias igrejas da Ásia Menor – inclusive à comunidade cristã de Éfeso.
Em qualquer caso, a Carta aos Efésios apresenta-se como uma carta escrita por Paulo, numa altura em que o apóstolo está na prisão (em Roma?). O seu portador teria sido um tal Tíquico. Estamos por volta dos anos 58/60. Trata-se de um texto com uma grande riqueza temática, de uma reflexão amadurecida e completa onde o autor apresenta uma espécie de síntese da teologia paulina.
O texto que nos é proposto integra a parte dogmática da carta (cf. Ef. 1,3-3,21). Mais concretamente, o texto apresenta-nos uma reflexão sobre o papel de Cristo na salvação do homem. O ponto de partida do autor da Carta aos Efésios é a constatação da situação de pecado em que o homem vive e da qual, por si só, não pode sair. O homem estará, portanto, condenado à escravidão do pecado e à morte?
MENSAGEM
Deus é rico em misericórdia e ama o homem com um amor imenso. Por isso, à situação pecadora do homem, Deus responde com a sua graça (v. 4). O amor salvador e libertador de Deus não é um amor condicional, que só se derrama sobre o homem se e quando o homem se converte; mas é um amor incondicional, que atinge o homem mesmo quando ele continua a percorrer caminhos de pecado e de morte (v. 5).
A esse homem orgulhoso e auto-suficiente, instalado no egoísmo e no pecado, Deus ofereceu uma nova vida, ressuscitando-o e sentando-o com Cristo no céu (“nos ressuscitou e nos fez sentar no céu com Cristo Jesus” – v. 6). Repare-se neste pormenor: o autor da Carta aos Efésios não se refere à ressurreição do homem e à sua glorificação como uma coisa futura, mas como uma coisa passada (ele usa o tempo grego do aoristo, que tem significado de passado). No entanto, essa ação passada afeta o presente e tem implicações no presente… Unido a Cristo, o cristão já ressuscitou e já foi glorificado; ele continua a viver na terra, sujeito à finitude e às limitações da vida presente mas é já, aqui e agora, um cidadão do céu. Na verdade, Deus já introduziu na débil e frágil natureza humana os dinamismos da vida eterna. A vida do cristão está, consequentemente, marcada pela dupla condição da fragilidade e da eternidade. Apesar dos seus limites e da sua debilidade, o cristão tem de testemunhar e anunciar essa vida nova que Deus já lhe ofereceu nesta terra.
Em toda esta exposição há um elemento incontornável e ao qual o autor da Carta aos Efésios dá uma grande importância: a gratuidade da ação salvadora de Deus. A salvação não é uma conquista do homem, nem resulta das obras ou dos méritos do homem, mas é puro dom de Deus. Portanto, não há aqui lugar para qualquer sentimento de orgulho ou para qualquer atitude de auto-glorificação. A salvação é uma oferta gratuita que Deus faz ao homem, mesmo que o homem não a mereça (v. 9).
Da oferta de salvação que Deus faz ao homem, nasce um homem novo, que pratica boas obras. As boas obras não são a condição para se receber a salvação, mas o resultado da ação dessa graça que Deus, no seu amor e na sua bondade, derrama gratuitamente sobre o homem (v. 10).
ATUALIZAÇÃO
• A vida do homem sobre a terra está marcada pela debilidade, pela finitude, pelas limitações inerentes à nossa condição humana. A doença, o sofrimento, o egoísmo, o pecado são realidades que acompanham a nossa existência, que nos mantêm prisioneiros e que nos roubam a esperança. Parece que, por nós próprios, nunca conseguiremos superar os nossos limites e alcançar essa realidade de vida plena, de felicidade total com que permanentemente sonhamos. Por isso, certos filósofos contemporâneos referem-se à futilidade da existência, à náusea que acompanha a vida do homem, à inutilidade da busca da felicidade, ao fracasso que é a vida condenada à morte… Este quadro seria desesperante se não existisse o amor de Deus. É precisamente isso que o autor da Carta aos Efésios nos recorda: Deus ama-nos com um amor total, incondicional, desmedido; e é esse amor que nos levanta da nossa condição, que nos faz vencer os nossos limites, que nos oferece esse mundo novo de vida plena e de felicidade sem fim a que aspiramos. Não somos pobres criaturas derrotadas, condenadas ao fracasso, limitadas por um horizonte sem sentido, mas somos filhos amados a quem Deus oferece a vida plena, a salvação.
• Na verdade, Deus introduziu na nossa realidade humana dinamismos de superação e de vida nova que apontam para o homem novo, livre das limitações, da debilidade e da fragilidade. Aqueles homens e mulheres que acolheram o dom de Deus são chamados a dar testemunho de um mundo novo, livre do sofrimento, da injustiça, do egoísmo, do pecado. Por isso, os crentes têm de anunciar e de construir um mundo mais justo, mais fraterno, mais humano. Eles são testemunhas, nesta terra, de uma realidade nova de felicidade sem fim e de vida eterna.
• Muitas vezes, a vida nova de Deus manifesta-se nas nossas palavras, nos nossos gestos de partilha e de serviço, nas nossas atitudes de tolerância e de perdão e somos sinais de esperança e de libertação para os irmãos que nos rodeiam. Convém, no entanto, não esquecer este facto essencial: o mérito não é nosso, mas sim de Deus. É Deus que age no mundo, que o transforma, que o recria; nós somos, apenas, os instrumentos frágeis através dos quais Deus manifesta ao mundo e aos homens o seu amor.
Evangelho: Jo 3,14-21 - AMBIENTE
O nosso texto pertence à secção introdutória do Quarto Evangelho (cf. Jo 1,19-3,36). Nessa secção, o autor apresenta Jesus e procura – através dos contributos dos diversos personagens que vão sucessivamente ocupando o centro do palco e declamando o seu texto – dizer quem é Jesus.
Mais concretamente, o trecho que nos é proposto faz parte da conversa entre Jesus e um “chefe dos judeus” chamado Nicodemos (cf. Jo 3,1). Nicodemos foi visitar Jesus “de noite” (cf. Jo 3,2), o que parece indicar que não se queria comprometer e arriscar a posição destacada de que gozava na estrutura religiosa judaica. Membro do Sinédrio, Nicodemos aparecerá, mais tarde, a defender Jesus, perante os chefes dos fariseus (cf. Jo 7,48-52). Também estará presente na altura em que Jesus foi descido da cruz e colocado no túmulo (cf. Jo 19,39).
A conversa entre Jesus e Nicodemos apresenta três etapas ou fases. Na primeira (cf. Jo 3,1-3), Nicodemos reconhece a autoridade de Jesus, graças às suas obras; mas Jesus acrescenta que isso não é suficiente: o essencial é reconhecer Jesus como o enviado do Pai. Na segunda (cf. Jo 3,4-8), Jesus anuncia a Nicodemos que, para entender a sua proposta, é preciso “nascer de Deus” e explica-lhe que esse novo nascimento é o nascimento “da água e do Espírito”. Na terceira (cf. Jo 3,9-21), Jesus descreve a Nicodemos o projeto de salvação de Deus: é uma iniciativa do Pai, tornada presente no mundo e na vida dos homens através do Filho e que se concretizará pela cruz/exaltação de Jesus. O nosso texto pertence a esta terceira parte.
MENSAGEM
No texto que nos é proposto, Jesus começa por explicar a Nicodemos que o Messias tem de “ser levantado ao alto”, como “Moisés levantou a serpente” no deserto (a referência evoca o episódio da caminhada pelo deserto quando os hebreus, mordidos pelas serpentes, olhavam uma serpente de bronze levantada num estandarte por Moisés e se curavam – cf. Nm. 21,8-9). A imagem do “levantamento” de Jesus refere-se, naturalmente, à cruz – passo necessário para chegar à exaltação, à vida definitiva. É aí que Jesus manifesta o seu amor e que indica aos homens o caminho que eles devem percorrer para alcançar a salvação, a vida plena (v. 14).
Aos homens é sugerido que acreditem no “Filho do Homem” levantado na cruz, para que não pereçam mas tenham a vida eterna. “Acreditar” no “Filho do Homem” significa aderir a Ele e à sua proposta de vida; significa aprender a lição do amor e fazer, como Jesus, dom total da própria vida a Deus e aos irmãos (v. 15). É dessa forma que se chega à “vida eterna”.
Depois destas afirmações gerais, o autor do Quarto Evangelho vai entrar em afirmações mais detalhadas. O que é que significa, exatamente, a cruz de Jesus? Como é que a cruz gera vida definitiva para o homem?
Jesus, o “Filho único” enviado pelo Pai ao encontro dos homens para lhes trazer a vida definitiva, é o grande dom do amor de Deus à humanidade. A expressão “Filho único” evoca, provavelmente, o “sacrifício de Isaac” (cf. Gn. 22,16): Deus comporta-se como Abraão, que foi capaz de desprender-se do próprio filho por amor (no caso de Abraão, amor a Deus; no caso de Deus, amor aos homens)… Jesus, o “Filho único” de Deus, veio ao mundo para cumprir os planos do Pai em favor dos homens. Para isso, encarnou na nossa história humana, correu o risco de assumir a nossa fragilidade, partilhou a nossa humanidade; e, como consequência de uma vida gasta a lutar contra as forças das trevas e da morte que escravizam os homens, foi preso, torturado e morto numa cruz. A cruz é o último ato de uma vida vivida no amor, na doação, na entrega. A cruz é, portanto, a expressão suprema do amor de Deus pelos homens. Ela dá-nos a dimensão do incomensurável amor de Deus por essa humanidade a quem Ele quer oferecer a salvação (v. 16).
Qual é o objetivo de Deus ao enviar o seu Filho único ao encontro dos homens? É libertá-los do egoísmo, da escravidão, da alienação, da morte, e dar-lhes a vida eterna. Com Jesus – o “Filho único” que morreu na cruz – os homens aprendem que a vida definitiva está na obediência aos planos do Pai e no dom da vida aos irmãos, por amor.
Ao enviar ao mundo o seu “Filho único”, Deus não tinha uma intenção negativa, mas uma intenção positiva. O Messias não veio com uma missão judicial, nem veio excluir ninguém da salvação. Pelo contrário, Ele veio oferecer aos homens – a todos os homens – a vida definitiva, ensinando-os a amar sem medida e dando-lhes o Espírito que os transforma em Homens Novos (v. 17).
Reparemos neste fato notável: Deus não enviou o seu Filho único ao encontro de homens perfeitos e santos; mas enviou o seu Filho único ao encontro de homens pecadores, egoístas, auto-suficientes, a fim de lhes apresentar uma nova proposta de vida… E foi o amor de Jesus – bem como o Espírito que Jesus deixou – que transformou esses homens egoístas, orgulhosos, auto-suficientes e os inseriu numa dinâmica de vida nova e plena.
Diante da oferta de salvação que Deus faz, o homem tem de fazer a sua escolha. Quando o homem aceita a proposta de Jesus e adere a Ele, escolhe a vida definitiva; mas quando o homem prefere continuar escravo de esquemas de egoísmo e de auto-suficiência, rejeita a proposta de Deus e auto-exclui-se da salvação. A salvação ou a condenação não são, nesta perspectiva, um prêmio ou um castigo que Deus dá ao homem pelo seu bom ou mau comportamento; mas são o resultado da escolha livre do homem, face à oferta incondicional de salvação que Deus lhe faz. A responsabilidade pela vida definitiva ou pela morte eterna não recai, assim, sobre Deus, mas sobre o homem (v. 18).
De acordo com a perspectiva de João, também não existe um julgamento futuro, no final dos tempos, no qual Deus pesa na sua balança os pecados dos homens, para ver se os há-de salvar ou condenar: o juízo realiza-se aqui e agora e depende da atitude que o homem assume diante da proposta de Jesus.
Na parte final do nosso texto (vs. 19-21), João repete o tema da opção pela vida (Jesus) ou pela morte. Ele constata que, por vezes, os homens rejeitam a proposta de Deus e preferem a escravidão e as trevas (o egoísmo, a injustiça, o orgulho, a auto-suficiência, tudo o que torna o homem infeliz e lhe impede o acesso à vida definitiva). Ao contrário, quem pratica as obras do amor (as obras de Jesus), escolhe a luz, identifica-se com Deus e dá testemunho de Deus no meio do mundo.
Em resumo: porque amava a humanidade, Deus enviou o seu Filho único ao mundo com uma proposta de salvação. Essa oferta nunca foi retirada; continua aberta e à espera de resposta. Diante da oferta de Deus, o homem pode escolher a vida eterna, ou pode excluir-se da salvação.
ATUALIZAÇÃO
• João é o evangelista abismado na contemplação do amor de um Deus que não hesitou em enviar ao mundo o seu Filho, o seu único Filho, para apresentar aos homens uma proposta de felicidade plena, de vida definitiva; e Jesus, o Filho, cumprindo o mandato do Pai, fez da sua vida um dom, até à morte na cruz, para mostrar aos homens o “caminho” da vida eterna… O Evangelho deste domingo convida-nos a contemplar, com João, esta incrível história de amor e a espantar-nos com o peso que nós – seres limitados e finitos, pequenos grãos de pó na imensidão das galáxias – adquirimos nos esquemas, nos projetos e no coração de Deus.
• O amor de Deus traduz-se na oferta ao homem de vida plena e definitiva. É uma oferta gratuita, incondicional, absoluta, válida para sempre e que não discrimina ninguém. Aos homens – dotados de liberdade e de capacidade de opção – compete decidir se aceitam ou se rejeitam o dom de Deus. Às vezes, os homens acusam Deus pelas guerras, pelas injustiças, pelas arbitrariedades que trazem sofrimento e morte que pintam as paredes do mundo com a cor do desespero… O nosso texto, contudo, é claro: Deus ama o homem e oferece-lhe a vida. O sofrimento e a morte não vêm de Deus, mas são o resultado das escolhas erradas feitas pelo homem que se obstina na auto-suficiência e que prescinde dos dons de Deus.
• Neste texto, João define claramente o caminho que todo o homem deve seguir para chegar à vida eterna: trata-se de “acreditar” em Jesus. “Acreditar” em Jesus não é uma mera adesão intelectual ou teórica a certas verdades da fé; mas é escutar Jesus, acolher a sua mensagem e os seus valores, segui-l’O nesse caminho do amor e da entrega ao Pai e aos irmãos. Passa pelo ser capaz de ultrapassar a indiferença, o comodismo, os projetos pessoais e pelo empenho em concretizar, no dia a dia da vida, os apelos e os desafios de Deus; passa por despir o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, os preconceitos, para realizar gestos concretos de dom, de entrega, de serviço que tragam alegria, vida e esperança aos irmãos que caminham lado a lado conosco. Neste tempo de caminhada para a Páscoa, somos convidados a converter-nos a Jesus e a percorrer o mesmo caminho de amor total que Ele percorreu.
• Alguns cristãos vivem obcecados e assustados com esse momento final em que Deus vai julgar o homem, depois de pesar na balança as suas ações boas e as suas acções más… João garante-nos que Deus não é um contabilista, a somar os débitos e os créditos do homem para lhes pagar em conformidade… O cristão não vive no medo, pois ele sabe que Deus é esse Pai cheio de amor que oferece a todos os seus filhos a vida eterna. Não é Deus que nos condena; somos nós que escolhemos entre a vida eterna que Deus nos oferece ou a eterna infelicidade.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Deus amou tanto o mundo, que lhe deu seu Filho Único !
1. Os versículos de hoje fazem parte do diálogo com Nicodemos (cap. 3). Esse homem ilustre pertence à elite do judaísmo. É membro do Sinédrio (cf. 7,50), o supremo tribunal que condenará Jesus à morte. Dentro e fora do Sinédrio Nicodemos é considerado o mestre em Israel (cf. 3,9), mas ignora uma porção de coisas. Permanecendo no Sinédrio, ele se tornará cúmplice da morte de Jesus. Nicodemos demorou a entender isso, e parece que chegou tarde, pois se encontra novamente com Jesus quando este já estava morto (19,39). Por isso, ele representa cada um de nós diante dos desafios e conflitos da vida.
2. O texto de hoje inicia com a memória da serpente que Moisés, no deserto, levantou sobre um poste. Quem fosse mordido por uma cobra venenosa, ao olhar para a serpente de bronze, ficava curado (Nm. 21,8s). Para o povo da Nova Aliança, Jesus é a fonte de vida e salvação: “Do mesmo modo que Moisés levantou a serpente no deserto, assim é preciso que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que crerem tenham nele a vida eterna” (vv. 14-15).
3. O evangelho vai além do que mostra a 1ª leitura (um Deus que não abandona seu povo), pois mostra Deus superando e vencendo inclusive aqueles limites próprios da condição humana, como a morte.
4. Deus ama a todos indistintamente. Não só um povo particular. Ele ama o mundo!
5. No evangelho de João, “mundo” tem pelo menos dois sentidos. Às vezes é sinônimo de sociedade injusta, um arranjo social fundado na desigualdade, na opressão e na exploração. Às vezes, como aqui, significa a humanidade toda, capaz de rejeitar o amor de Deus.
6. Ora, o amor de Deus é oferta gratuita que atinge o ser humano em profundidade, antecipando-se à sua capacidade de amar. Ele nos ama não porque sejamos bons, mas porque ele é bom, quer salvar, quer comunicar vida em plenitude (v. 16).
7. A vida em plenitude se realizou na encarnação e morte de Jesus. O v. 16 mostra Deus desprendendo-se do Filho único, a ponto de entregá-lo em vista da salvação de quem crê. Jesus é a personificação do amor do Pai levado às últimas conseqüências: a entrega do Filho único. A salvação de Jesus não discrimina as pessoas: todos necessitam dela e todos tem acesso a ela , mediante a fé em Jesus, a fonte da vida: “Porque Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (v. 17).
8. Deus não deseja que as pessoas se percam, nem sente satisfação em condenar alguém (veja Ez. 18). O prazer de Deus é salvar a todos, é desarmar a todos com a lógica do amor. Portanto, o sofrimento, a injustiça, o pecado , a opressão, tudo o que gera dor e morte é contrário ao projeto de Deus. Esse projeto visa erradicar essas forças de morte para criar canais que comuniquem vida em plenitude. É isso que Jesus veio revelar com sua vida e palavra. É isso que deseja criar com a força de sua morte e ressurreição, presente e atuantes na comunidade cristã.
9. A vida de Jesus provoca as pessoas à decisão. Os judeus achavam que o julgamento se daria no final dos tempos, quando os vivos e os mortos teriam de se apresentar diante do tribunal de Deus.
- Para João o julgamento se dá aqui e agora no confronto das pessoas e da sociedade como um todo com a pessoa e a prática de Jesus. O tempo do julgamento é o momento em que vivemos. Estar a favor da vida é estar com Jesus. Não estar com ele é patrocinar a morte (o risco de Nicodemos e de todos nós).
- Para João, Jesus não julga nem condena. Ele simplesmente provoca o julgamento de Deus. Quem se julga são as pessoas, confrontando-se com a prática de Jesus e tomando partido a favor ou contra.
- Quem se posiciona a favor não é julgado, nem condenado. Quem se decide contra já está julgado e condenou a si próprio, porque não acreditou, isto é, não aderiu ao Nome do Filho único de Deus (cf. v. 18).
10. O nome revela o que a pessoa é e faz. No AT (Ex 3,14), Javé se mostrou o Deus libertador que caminha com o povo rumo à libertação e à vida. No NT ele se mostrou libertador em Jesus (cujo nome significa Javé salva). Acreditar nesse nome é ser a favor da vida em todas as suas expressões, aproximando-se da luz e fazendo a verdade (v. 21). Esse é o significado da proposta de “nascer do alto” (cf. 3,3.7) que Jesus faz a Nicodemos e … a todos nós.
11. No texto de João, o “alto” ou “elevado” é o próprio Jesus elevado na cruz. Nascer do alto significa ser como Jesus nas palavras e nas ações. Mas o próprio Jesus constata que “os homens preferiram as trevas à luz, porque suas obras eram más” (v. 19). É o caso de Nicodemos: ele está envolvido com o Sinédrio, o supremo tribunal. E o Sinédrio odeia a luz, não se aproximando dela para não ser desmascarado (cf. v. 20).
12. O que resta a fazer, então? O evangelho de hoje responde: agir conforme a verdade que é Jesus. E nós sabemos quem é Jesus-verdade: aquele que foi fiel ao projeto do Pai até o fim. Agir conforme a verdade (ou aproximar-se da luz) é fazer tudo o que ele fez para que a humanidade tenha vida em plenitude, pois “não se pode ser opressor do homem e dar adesão a Jesus” (J.Mateos).
1ª leitura: 2Cr. 36, 14-16.19-23
13. Deus não abandona seu povo. O trecho é o final do 2º. Livro das Crônicas e também o final da Bíblia hebraica. O objetivo do cronista é fazer uma síntese da história do povo de Deus, (de Adão ao fim do exílio da Babilônia, 538 a.C).
14. Em poucas palavras ele consegue pôr juntos os dois grandes temas que atravessam a sua obra: o tema da infidelidade do povo ao projeto de Deus e o tema da fidelidade de Deus (o Deus que, – apesar de tudo -, permanece fiel à aliança, ao seu projeto e, consequentemente, ao povo que escolheu).
15. O final do texto de hoje (vv. 22-23) aponta para a esperança, sinal de que nem tudo está perdido por causa das traições do povo. O Deus fiel é capaz de criar coisas novas e inesperadas – como o surgimento de Ciro, rei dos persas – para que seu povo volte a ter esperança de vida e liberdade. Os versículos de hoje são uma chave de leitura teológica para ler e entender a história de Israel.
16. O autor sintetiza o que se passou sob o reinado de Sedecias, último rei de Judá (597-586 a.C.). Depois de relatar a má conduta desse rei, mostra que todo o povo, por causa dos desmandos dos líderes religiosos e políticos, acabou deportado para a Babilônia (para ser escravo do rei Nabucodonosor). Trata-se da segunda deportação (586 a.C), maior que a primeira.
17. Por que o povo de Deus chegou a essa situação? O autor aponta como causa principal o abandono do projeto de Deus (vv.14-15) e o conseqüente desprezo pelos mensageiros (profetas) que constantemente denunciavam os desmandos dos dirigentes do povo (v.16).
18. Jeremias é mencionado como um dos profetas não ouvidos e desprezados (vv. 21s). E através de duas de suas passagens (cf. Jr. 25,11; 29,10 – citadas pelo autor de Crônicas) ficamos sabendo em que consistia o abandono do projeto de Javé: depois que foi levado para o cativeiro, “o país desfrutou o seu descanso sabático e repousou por todo o tempo de sua desolação, até se completarem setenta anos” (v. 21).
19. O projeto de Javé foi violado, entre outras coisas, na questão da terra. O repouso da terra era uma lei prevista no Levítico (cf. Lv. 26,34s). Essa lei pretendia básica-mente duas coisas: manter a consciência de que a terra é de Deus e evitar que ela se tornasse objeto de especulação, para que não fosse desfrutada sem medida por conta da ganância (de acordo com Ex. 23,10-11, o que a terra produzir no ano de descanso pertence aos pobres).
20. O texto de hoje revela que a terra jamais teve seu sábado, isto é, seu ano de descanso a cada sete anos. Isso só veio acontecer de modo forçado, depois que o povo foi expulso de seu chão, tornado escravo do rei da Babilônia.
21. O povo foi infiel ao projeto de Javé, mas nem tudo está perdido. Deus continua sendo fiel às suas promessas, sobretudo as que fez a Davi (2Sm. 7,155s). É daí que nasce novamente a esperança para o povo reconstruir o templo outrora profanado (v. 14). Na reconstrução do templo o autor das Crônicas vê a síntese de tudo o que precisa ser refeito a fim de que o povo possa novamente, ter liberdade e vida. Ele encerra apontando para a esperança e a comunhão com Deus que não abandona seu povo.
2ª leitura: Ef. 2,4–10
22. O texto da 2ª leitura mostra dois modos de ser e de viver: sem Cristo e em Cristo. O autor afirma que os destinatários da Carta viveram, no passado, longe de Cristo. É uma referência ao mundo pagão, a um tipo de sociedade marcada pela desigualdade e pela injustiça. O autor também viveu esta experiência, que ele chama de situação de morte: “estávamos mortos pelos pecados” (v. 4b).
23. Mas o que marca o texto de hoje é a novidade de Jesus Cristo: Deus é rico em misericórdia (v. 4a), amoroso, gratuito e doador da graça. A riqueza da misericórdia e amor de Deus é explicada pelo texto: “levado pelo grande amor com que nos amou, nos fez reviver juntamente com Cristo … com ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus, em Cristo Jesus … tratando-nos com bondade em Cristo Jesus” (v. 4-7).
24. A morte e ressurreição de Jesus são a passagem da vida sem Cristo para a vida com Cristo. E o texto salienta duas vezes que isso é fruto da graça de Deus e não o resultado dos méritos das pessoas (vv. 5b.8-10). Em Cristo o cristão vive já uma situação de ressuscitado, salvo e glorificado (”… nos fez sentar nos céus”). Aqui aparece um dos temas desenvolvidos por Paulo em outros escritos: nós possuímos, desde já, a salvação e a glorificação. Mas ainda não se manifestou plenamente o que seremos – de fato – no futuro em Deus.
25. A fé é o compromisso que brota espontâneo em quem se descobre salvo e glorificado: “mediante a fé, vocês são salvos pela graça!” (v.8a). Portanto, a tarefa do cristão é viver entre o “já agora” e o “ainda não”, entre o que Deus fez por nós em Cristo, e o que nós devemos fazer, na fé, para os outros. A fé é nossa resposta ao amor misericordioso de Deus, e esta gera novas relações entre as pessoas: relações de vida nova e de esperança renovada.
26. Deus, rico em misericórdia … nos amou, nos deu a vida em Cristo. E é por graça que somos salvos! Com efeito, é – pela graça – que somos salvos, mediante a fé. Isso não vem de nós, não depende do que fazemos, é pura graça de Deus, é dom de Deus! Não vem das nossas obras e práticas e devoções e coisas mais, … mas é dom de Deus, para que ninguém se orgulhe. Pois foi ele quem nos fez e é ele quem nos faz a cada dia, a cada hora. Interessante! Como nos esquecemos disso! Como não nos lembramos de agradecer! Como achamos que fazemos muito nessa vida! Como nos achamos importantes! Como nos esquecemos que tudo o que temos é dom, é dádiva, é graça, é bondade de Deus!
R e f l e t i n d o
1. A liturgia de hoje está permeada por um fio homogêneo: a passagem da morte para a vida, das trevas à luz, do pecado à reconciliação. Israel estava morto: a terra e a cidade destruídas, o povo exilado. MAS Deus o fez reviver, levando-o de volta. E isso, sem mérito da parte de Israel, mas por intermédio de um pagão, o rei Ciro (que se apresenta como encarregado por Javé para realizar essa obra (2Cr. 36,23; cf. Is. 44,24-45,13).
2. Na mesma linha, a 2ª leitura fala da nossa re-vivificação com Cristo (terminologia batismal, cf. Rm. 6,3). Acentua fortemente a gratuidade do agir de Deus. Não foi por nossos méritos (Ef. 2,8s), mas porque Deus o quis em sua grande misericórdia (2,4s). Isso, contudo, não quer dizer que não precisamos fazer nada. Não somos salvos pelas obras, mas para as obras: para as obras boas que Deus nos preparou em sua eterna providência (2,10).
3. POR QUE não nos salvam nossas obras? Porque nosso relacionamento com Deus não é comercial, mas vital. Como poderíamos restituir Àquele de quem recebemos a própria vida? A única maneira de reconciliação é: aceitar. Aceitar a nova vida que nos é oferecida, nossa nova “realização”, numa práxis que vem de Deus mesmo e que nós assumimos em união com Cristo, seu grande dom.
4. A 1ª. leitura mostra como os israelitas – afastados de Deus, exilados de sua terra, levados à Babilônia, – entenderam que sua desgraça era sinal de seu afastamento. Voltaram seu coração para Deus, que os fez voltar à sua terra. Essa história prefigura a volta de todos os seres humanos para Deus, reconduzidos pelo amor que Cristo nos manifestou.
5. Nós que estávamos mortos pelo pecado, mas acreditamos em Cristo, fomos salvos pela graça recebida na fé: “pela graça fostes salvos” (2ª leitura). Nossos erros mostram que, – por nós mesmos, – não somos capazes de trilhar o caminho certo. A única maneira de voltar é deixar-nos atrair pela bondade, amizade, misericórdia de Deus. Não somos salvos pelas nossa obras (=fizemos esforços por merecer), mas Deus nos salva para as boas obras que ele preparou para que nós entrássemos (penetrássemos) nelas: a caridade, a solidariedade… (Ef. 2,10). Não são as nossas obras que nos salvam: quem nos salva é Deus. Mas o que fazemos – a nossa prática de vida fraterna e solidária – encarna a nossa salvação (traduz, revela nossa fé).
6. O evangelho expressa idéias semelhantes. É o fim do diálogo com Nicodemos, o fariseu. O trecho inicia com a lembrança do Êxodo. Deus tinha castigado a rebeldia do povo com a praga das serpentes. Para os livrar da praga, Moisés levantou numa haste, à vista dos israelitas, uma serpente de bronze. Os que levantaram com fé os olhos para este sinal ficaram curados. Assim devemos levantar com fé os olhos para o Cristo elevado na cruz e receber dele a salvação, pois Deus o deu ao mundo para que testemunhasse seu amor até o fim. … “Tanto amou Deus o mundo…” (Jo 3,14-16).
7. O evangelho ressalta a bondade de Deus, gratuita e radical, pois dá seu próprio Filho por nós. E descreve a reação dos homens – na sua práxis – diante da irrupção da oferta de Deus: Jesus Cristo e sua mensagem. O homem pode expor a práxis de sua vida à luz dessa oferta, e, então, sua práxis será trans-formada. Ou pode (auto-suficiente!) fugir dessa nova iluminação, porque suas obras não agüentam a luz do dia. Portanto, e aqui João se torna muito esclarecedor para a problemática atual: a razão por que alguém aceita ou rejeita Jesus não é tanto uma razão intelectual, mas a práxis que ele está vivendo. Quem “faz a verdade” (3,21) aceita a luz de Cristo.
8. Para João, o julgamento acontece na rejeição de Cristo, enviado do Pai. E isso acontece já, como também a salvação existe, desde já, na sua aceitação (3,18). Ora esta rejeição ou aceitação acontece na práxis. Nisto está uma mensagem importante para nossa “subida” à festa pascal em espírito de conversão. Não bastará proclamar na noite pascal o Credo, o compromisso da fé. A proclamação deve ser a confirmação daquilo que já estamos vivendo e praticando. Desde já, a Quaresma nos deve levar a uma nova práxis.
9. Daí ser necessário participar da Campanha da Fraternidade e de práticas semelhantes que nos levem a viver, – com convicção, – na luz projetada pelo Filho de Deus, morto na cruz por nós, não austera abnegação, mas positiva e alegre doação aos necessitados. Não que nossa práxis nos salvasse. Mas é preciso que façamos algo, para que se encarne o que Deus quer para conosco; um amor em atos e verdade (1Jo 3,18). Não são nossas obras que nos salvam. Quem nos salva é Deus. Mas nossas obras encarnam e revelam a salvação operada por Deus.
10. Assim como a gente gosta de expor-se ao sol benfazejo da manhã, devemos expor-nos à luz de Cristo. Sua prática deve iluminar nossa vida, para que “pratiquemos a verdade”. Todos somos salvos ou devemos ser salvos pelo amor de Deus que Cristo nos manifesta. Ninguém fabrica sua própria salvação. O autossuficiente permanece nas trevas, ainda que sua suficiência pareça virtude, como era o caso dos fariseus, aos quais se dirige a advertência do evangelho. Por outro lado, se nos deixamos iluminar por Cristo, seremos também uma luz para nossos irmãos. O evangelizado seja também evangelizador.
11. A Quaresma insiste: o pecado não é irreparável. Para os que crêem, existe volta, conversão, perdão, salvação. Jesus não veio para condenar, mas para salvar. Ele é a luz que penetra nossas trevas. Mas há quem fuja da luz, para não admitir que está agindo de maneira errada. Nesse caso, não há remédio (Jo 3,19-21).
12. As leituras nos devem fazer pensar na nossa vida. Deus advertiu bastante, pela boca dos profetas, mas Israel não quis ouvir, não obedeceu e os governantes quiseram fazer sua própria vontade; conseqüência disso foi a destruição de Jerusalém e o exílio. Mas a última palavra de Deus é misericórdia; como fez destruir, assim também faz reconstruir. Deus castiga não para destruir, mas para renovar o homem. Mais que castigo, é uma advertência de pai amoroso para com seus filhos. Conosco acontece algo parecido? … Ou só acontece com os outros?
13. Deus quer restaurar nossa vida em Cristo. Quando nos afastamos de Deus estamos mais perto da morte que da vida. Mas Deus nos co-ressuscitou com Cristo e nos deu um lugar na sua vida. Morto é quem está entregue ao seu egoísmo, às sua paixões, aos seus instintos, aos seus desmandos, à sua vontade hedonista. Para reviver precisa de um amor maior que seu fechamento: a “riqueza da graça” que Deus nos demonstra em Jesus Cristo. Maravilha de amor que deve manifestar-se também na vida dos que são assim renovados; devem realizar a caridade que Deus desde sempre sonhou para eles.
Pare e pense: “O que Deus sonhou para você? Você acha que está no caminho certo de realizar o que Deus sonhou para você?
prof. Ângelo Vitório Zambon
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1. “Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, para que todos os que nele creram tenham a vida eterna” (Jo. 3,14-15).
Passei a semana toda refletindo e matutando sobre este versículo. Aquilo que me chama atenção e não me deixa dormir, é o fato que Jesus mesmo acha necessária a sua morte vergonhosa na cruz. O fato do levantamento do Filho do Homem quer dizer duas coisas ao mesmo tempo: de um lado, a morte violenta na cruz: nela Cristo é levantado do chão e, assim, todo mundo poderá enxergá-lo. Do outro lado, o verbo levantar (em grego anastásis) aponta a ressurreição, ou seja aquele levantamento extraordinário que é o mistério da vida que em Cristo derruba a morte e, o morto, se levanta para sempre.
Porque foi necessária a morte de Jesus? Porque foi necessário que o Filho do Homem sofresse daquele jeito horrível?   A pergunta fica mais forte ainda se colocada ao lado daquele versículo, que a liturgia proclama na sexta feira da paixão, o texto famoso do quarto canto do servo de Jahvé “ No entanto, Jahvé  queria esmagá-lo com o sofrimento” (Is. 53,10).
 Deus quis esmagar o seu Filho Jesus com o sofrimento: é isso que nos diz este versículo verdadeiramente inquietante de Isaias. Na continuação da leitura do texto de Isaias o profeta relata que é por causa do esmagamento do servo de Jahvé que o projeto de Deus triunfará. São palavras estranhas, extremamente duras, que mostram o peso e o valor do plano salvífico de Deus, que não é lógico, ou seja que não se coloca num plano racional mas, sim, no plano da fé. Então pela ultima vez repito a mesma pergunta? Porque foi necessário esmagar o Filho de Deus e porque o Pai quis esmagá-lo com o sofrimento?
Ao meu ver a resposta encontra-se no mesmo Evangelho de hoje. De fato, para respondermos a esta pergunta dramática é necessário colocar uma outra pergunta: que humanidade Jesus encontrou quando veio ao mundo? “A luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas á luz, porque suas ações eram más” (Jo. 3,19). Num mundo totalmente mergulhado nas trevas do pecado, da desobediência, da rebeldia, Jesus não foi reconhecido mas, pelo contrario, o seu jeito de ser e de viver provocou o ódio do mundo. Jesus é a justiça de Deus e a sua Palavra aponta o caminho da Verdade. Por todos aqueles que vivem mergulhados na mentira e no engano, é claro que as suas palavras ressoam como uma condenação. Jesus veio ao mundo mostrando para toda a humanidade que, a grande vocação do homem e da mulher, é o amor e o amor é doação total de se mesmo. Neste mundo mergulhado na imoralidade, o jeito de Jesus viver foi bastante provocante, aliás chocante. De fato Jesus viveu a própria vocação sem se casar, mostrando para toda humanidade corrupta, o sentido profundo de um amor totalmente livre e o sentido de uma sexualidade transfigurada, livre da cobiça e do desejo de possuir o outro. Em Jesus vislumbramos a humanidade autentica, plenamente realizada, assim como o Pai a pensou no começo da criação. Era impossível, então, salvar uma humanidade cega, incapaz de viver a própria vocação ao amor, assim como Deus a tinha pensada, sem pagar um preço altíssimo: a morte dolorosa do Filho do Homem.
 Deus sabia que a vinda do Seu Filho teria sido um fracasso. Isso aponta para um outro problema. Quem vive no pecado e se acostuma nisso, vai chegar ao ponto que não consegue mais dar espaço a luz de Deus, porque o pecado fecha lentamente os olhos á luz de Deus. O pecado é morte, enquanto Deus é vida. O pecado é trevas, enquanto Deus é luz. Estes poucos versículos do Evangelho de João, que a liturgia nos propõe hoje nesta caminhada quaresmal, são extremamente vislumbrantes e esclarecedores. O homem, a mulher, não conseguem controlar a força destruidora e aniquiladora do pecado: quem tentar fazer isso, segurando  o pecado dentro de sim sem confessá-lo por medo, será esmagado, tornando-se insensível á Palavra de Deus.
Deus quis esmagar o seu Filho Jesus porque não tinha outro jeito para salvar uma humanidade tão mergulhada nas trevas do pecado de não poder agüentar a luz do Amor, da Verdade, da Vida. E, assim, Jesus vindo ao mundo, atraiu sobre si o ódio do mundo. De fato, o mundo não agüentou ver tanto amor, tanta doação, tanta dedicação e gratuidade. Jesus carregou sobre si mesmo as conseqüências de uma humanidade pecadora, cega, incapaz de reconhecer a misericórdia de Deus presente no mundo.
2. Porque é tão importante aprofundar o mistério da morte de Jesus? Porque tudo aquilo que aconteceu com Ele vale também para nós. Na vida e na historia de Jesus, Deus manifestou o seu método para salvar a humanidade: o sofrimento do Justo, o esmagamento do Inocente. É este Espírito que é derramado em nós no Batismo: é o Espírito do Cordeiro de Deus que foi imolado para resgatar os pecados do mundo. Agora, esta imolação deve ser nossa. É a nossa vida que deve ser imolada para que o mundo se salve. O mundo é cego e consegue se tocar, ou seja entrar em se mesmo, somente perante a morte do justo, o esmagamento do inocente. Para que o mundo seja salvo –que, aliás, é o sentido do projeto de Deus (cf Jo. 17)- é necessário que a nossa vida se torne uma oferta gratuita ao Pai. Segundo são Paulo, é este, de agora em diante, o sentido profundo do culto autentico: “Irmãos, pela misericórdia de Deus, peço que vocês ofereçam os próprios corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Esse é o culto autentico de vocês” (Rom. 12,1).
Deus decidiu destruir o pecado dentro do homem, através da morte do Justo. É vivendo na graça de Deus, na sua justiça, da sua Palavra que o mundo descarrega o próprio ódio, a própria raiva  nas  costas do Filho do Homem e, agora, nas costas dos seus seguidores. Este é o sentido autentico do Batismo, que o tempo de quaresma quer resgatar: acolher em nós o Espírito do ressuscitado para que a nossa vida se torne tão transparente a graça de Deus da iluminar o mundo com a doação total da nossa vida. E é isso, também, o sentido profundo de uma consagração a Deus: a doação total de se mesmo para que o mundo seja salvo. Nesta doação vivida em Cristo, por Cristo e com Cristo o mundo não acha outro caminho que descarregar a própria morte em cima daqueles e aquelas que seguem o Cordeiro imolado (cf  Ap. 20-21).
3. Irmãos e irmãs se o mundo nos odeia, se  o mundo não gosta de nós, não devemos estranhar: é a lógica da salvação. Se estamos sendo esmagados, humilhados, injuriados por causa do Evangelho, não devemos nos queixar: Deus, através do nosso esmagamento, do nosso sofrimento está  salvando o mundo. Pedimos ao Espírito santo que fortaleça a nossa fé, para que saibamos ficar aonde Deus quer e não aonde nós queremos.
padre Paolo Cugini
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“Deus enviou o seu Filho ao mundo não para julgá-lo, mas para que seja salvo por Ele”
Acompanhando a liturgia da Quaresma, observamos que as autoridades políticas e religiosas de Jerusalém que tinham seu poder garantido a partir da dominação, estão cada vez mais irritadas com Jesus. As pregações e os sinais (milagres) de Jesus arrastam multidões. Estamos acompanhando passo a passo o Messias que caminha para Jerusalém e suas ações na caminhada. Vejamos: A cura da sogra de Pedro e muitas pessoas com várias enfermidades (Mc. 1,29-39); A cura do leproso (Mc. 1,40-43); A cura do paralítico em Cafarnaum (Mc. 2,1-12); O ato de expulsar os vendilhões do Templo (João 2,13-25) tema de nossa última reflexão... No tempo de Jesus o Templo era o local que concentrava o poder político e religioso. O episódio do Templo e demais acontecimentos envolvendo a pessoa de Jesus, levaram as autoridades a conspirar contra Ele com o objetivo de matá-lo. O mega projeto de perseguição e morte de Jesus contou com a efetiva participação de Pilatos e dos sumos sacerdotes.
O Evangelho de hoje (João 3,14-21) apresenta três temas que estão interligados: O amor que Deus Pai tem para com o mundo, a ponto de enviar seu Filho unigênito ao mundo para que o mundo seja salvo; O ensinamento sobre a salvação e a condenação. “Quem crer não é condenado, quem não crer já está condenado” e o ensinamento sobre o julgamento. “Ora, o julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz...” O Senhor Deus concedeu ao homem o livre arbítrio. Viver na luz ou nas trevas depende das opções que fazemos e das decisões que tomamos em nossa vida. Caminho da luz ou caminho das trevas: A escolha é sua! “Crer” é assumir o projeto de vida de Jesus, é seguir os seus passos e agir como Ele agiria se estivesse entre nós hoje. Quem luta pelo bem, pela vida, contra a exclusão, “crê” em Jesus, seja qual for a sua confissão religiosa. Então, quem não faz essa opção, opta pelo caminho das trevas. Ninguém escapa de fazer essa opção concreta, pelo bem ou pelo mal, pela luz ou pelas trevas, pelo Reino ou pelo anti-Reino. A Quaresma é o tempo favorável que o Senhor nos concede para examinarmos mais de perto nossa vida, para revermos as nossas opções de uma maneira sincera.
Pedro Scherer

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DOMINGO, 18 DE MARÇO
Jo 3,14-21

Deus enviou o seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por ele.
Neste Evangelho, Jesus nos anuncia, na conversa com Nicodemos, uma grande e alegre notícia: “Deus enviou o seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por ele”. E logo em seguida ele diz por que Deus fez isso: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito”.
E o evangelista João vai dizer mais tarde, no início da narração da paixão e morte de Jesus: Jesus, “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Portanto, a Páscoa, para a qual estamos nos preparando, teve a sua origem no amor de Deus a nós. Como é bom sentir-se amado, amada, ainda mais se quem ama é o próprio Deus!
A segunda grande notícia do Evangelho de hoje é que a salvação de Deus não nos vêm automaticamente, mas depende da nossa fé, da nossa aceitação.
Para esclarecer, Jesus usa duas comparações. A primeira é da serpente de bronze que Moisés levantou em um pau, no deserto (Nm 21,4-9). O povo esta passando por uma região onde havia muitas cobras venenosas. Se alguém era picado, bastava olhar para a serpente de bronze que ficava curado. Jesus também foi levantado no madeiro da cruz. Quem crer nele é salvo e fica curado da picada da serpente infernal.
A outra comparação é com uma atitude humana que todos nós conhecemos: Quem pratica o mal foge da luz, isto é, não quer aparecer em público, para que suas obras não sejam descobertas. Já quem pratica o bem faz o contrário: aproxima-se da luz, para que suas obras sejam conhecidas. Jesus é esta luz. Os pecadores fogem dele, e os justos se aproximam dele.
“O julgamento é este: a luz veio ao mundo, mas os homens preferiram as trevas à luz, porque suas ações eram más.” Em outras palavras, é o próprio homem que se julga e se condena, ao praticar obras más. Pois essas obras o levam a recusar a Jesus e, consequentemente, a se condenar a si mesmo. Está aí a razão por que mataram a Jesus, e por que hoje milhões de pessoas não o seguem: é porque suas ações são más.
“Quem nele crê, não é condenado, mas quem não crê, já está condenado.” Portanto, o nosso julgamento não vai acontecer no juízo final; lá ele será apenas confirmado. Somos nós que nos julgamos. É bom lembrar também que “a fé sem obras é morta. É como um corpo sem alma” (Tg 2,26). Está incluído nas obras da fé pertencer e ser fiel à Igreja una, santa, católica e apostólica.
Em outro discurso, Jesus repete a mesma coisa: “Quem acolhe e observa os meus mandamentos, esse me ama. Ora, quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele (Jo 14,21). Está aí outra chave para entendermos a incredulidade do mundo: a quem não observa os mandamentos, Jesus não se manifesta. Por outro lado, a quem observa os mandamentos, Jesus se manifesta, isto é, lhe dá a graça da fé. A fé e a obediência aos mandamentos estão intimamente ligadas, a fé é fruto da obediência!
Está aí um forte convite a nós para um maior esforço de conversão nesta quaresma. O Documento de Aparecida dá um passo à frente, pedindo para ser “discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que o povo tenha mais vida nele”.
Certa vez, uma senhora estava fazendo aniversário. Depois de cantar os parabéns, a sua filhinha de três aninhos, toda emocionada, entregou-lhe uma caixa bonita, enfeitada com papel de presente e lacinho.
A mãe abriu, mas ficou surpresa, porque não havia nada dentro. Então abraçou a menina e disse: “Filhinha, quando a gente dá um presente a alguém, não é só a caixa; precisamos colocar alguma coisa dentro!”
A garotinha ficou vermelha e disse: “Mas eu coloquei, mãe!” A mãe respondeu: “Filhinha, olhe a caixa, está vazia!” A menininha disse: “Mamãe, era uma surpresa; eu enchi a caixa de beijos para a senhora!”
“O essencial é invisível aos olhos” (Pequeno Príncipe). Nós também ganhamos de Deus um grande presente, chamado redenção. Dentro desta caixa, o principal nós não vemos, que é o amor de Deus, que deu origem a tudo, e permanece até hoje perfumando a nossa vida. Vamos dar também, para Deus e para o nosso próximo, uma caixinha de presente bem bonita.
O amor de Deus por nós está presente em cada objeto da natureza, e em nós mesmos, tanto no corpo como no espírito como na alma. Está presente também em tudo o que acontece conosco. Vamos abrir essas caixinhas, sentir esse amor, e sair distribuindo pelo mundo, como fez aquela garotinha. Fortalecidos por esses beijos de Deus, podemos vencer tudo, e encher o mundo de amor.
Campanha da fraternidade. Uma sociedade que supervaloriza o poder aquisitivo, acaba por se tornar uma sociedade de privilegiados. Isso se manifesta, no Brasil, no foro privilegiado, na prisão especial, na imunidade parlamentar... Se, por exemplo, duas pessoas praticam juntas um crime, e se uma delas possui curso superior, uma vai para uma dessas cadeias infectas de nosso País e a outra será acomodada em algum lugar “especial”.
Esses desvios, juntos com a impunidade, levam à multiplicação de ações criminosas que buscam a satisfação de interesses ilegítimos.
Quem não tem poder aquisitivo não goza de privilégios e fica à mercê de um poder judiciário desprovido de recursos, como a pessoa que furtou doze barras de chocolate em S. Paulo, foi condenada a seis meses de reclusão, para ser punida “de forma exemplar”. Já quem desviou milhões de verbas públicas escandalosamente tem oportunidade de se defender, de recorrer a várias instâncias.
Quem pratica tais ações, persegue de todas as formas as pessoas que, em defesa dos direitos comunitários ou por ação profética, opõem-se a seus projetos. Não hesita até em atentar contra a vida das pessoas, como ocorreu com a Irmã Dorothy Stang. Hoje há inúmeras pessoas que são ameaçadas, entre as quais vários bispos.
Maria Santíssima foi um presente de Deus a nós. “Existe um nome que consola a terra e que desterra da tristeza o véu, bem como a aurora que com luz brilhante, que fulgurante surge lá no céu. Oh! Nome bendito da Virgem Mãe, Maria! Por nós rogai!”
Deus enviou o seu Filho ao mundo para que o mundo seja salvo por ele.
Padre Queiroz

   
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Evangelhos Dominicais Comentados

18/março/2012 --  4o Domingo da Quaresma

Evangelho: (Jo 3, 14-21)


Estamos iniciando uma nova semana. Gosto da palavra novo. Novo quer dizer novidade, coisa diferente, mudança... Viver o novo é deixar de lado tudo que é ultrapassado e obsoleto.

Todo início é um desafio e deve ser motivo para meditação. Por isso, viver o novo pode ser descômodo e preocupante. Não ficamos muito a vontade no novo emprego, na nova sala de aula ou na piscina do novo clube. Relutamos em aceitar as mudanças. Quer queira, quer não, bate no peito aquela saudade do tradicional.

Viver de saudade é parar no tempo. Seja um novo mês, um novo ano ou um novo dia; sempre é hora de recomeçar, é a grande chance para iniciar ou aprimorar hoje, aquilo que já deveríamos ter concluído ontem.

Neste evangelho, Jesus também nos fala de algo novo. Ao mencionar o antigo testamento e traçar um comparativo entre a serpente levantada por Moisés, num poste no deserto, Jesus nos apresenta o jeito novo de curar.

Jesus se compara com a serpente de bronze que foi levantada por Moisés. Essa serpente tinha o poder de curar as pessoas, mordidas por cobras no deserto. Quem olhasse para a serpente, ficava curado, não era afetado pelo veneno, tinha sua vida preservada e não morria.

No entanto, a salvação não acontecia automaticamente. Não bastava simplesmente olhar para a serpente de bronze, era preciso olhar com fé e acreditar na misericórdia e no poder divino. Assim também é com Jesus que, por amor, aceitou ser levantado na cruz para nos salvar.

Ao ser erguido na cruz, Jesus nos reconcilia com Deus. Com sua morte e ressurreição nos livra do veneno do pecado e nos dá vida nova. Para Jesus, a cruz tem sentido de Glória. Sua Paixão e morte têm um sabor especial. Ser levantado significa ser exaltado, ser glorificado.

Assim como a serpente, não basta olhar para o Cristo crucificado. É preciso acreditar e divulgar que ali está a Salvação, o Fruto da Nova e Eterna Aliança. Jesus é o novo, é a Grande Novidade do Pai. E, como já dissemos, tudo que é novo exige mudanças.

Mudar é tão difícil quanto seguir os caminhos de Jesus. Para mudar é preciso, primeiramente, renunciar ao tradicional, ao rotineiro e ao saudosismo. É preciso soltar-se das amarras e lutar por um mundo novo. Só assim, renovados, poderemos sair das trevas e caminhar na Luz.

Caminhar na Luz é viver o amor e a verdade. É transformar em realidade e gestos concretos a solidariedade e a fraternidade. O Filho de Deus não veio para condenar, veio para salvar e nos retirar das trevas. Jesus é a Luz que tudo cura.

Caminhar ao Seu lado é bem mais seguro, tudo é claro e não existem tropeços.

(1181)

jorgelorente@ig.com.br - 18/março/2012

CONHEÇA OS LIVROS DE JORGE  LORENTE


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            O Evangelho deste domingo nos revela o mistério da nossa fé. Mostra-nos que o Deus todo poderoso, e onipotente, se fez frágil, se fez menino, depois homem, humano e divino ao mesmo tempo, e tudo isso não para nos condenar, mais sim para nos salvar.
É Deus Pai que veio bater à nossa porta, veio nos chamar a conversão! Assim, na sua visita ao mundo corruptível, Ele pediu por meio do Seu Filho, que nós fizéssemos uma revisão da nossa vida, dos nossos atos, e endireitássemos os nossos caminhos, direcionando-nos para o caminho da verdade e da verdadeira vida. Mas ao anunciar isso, Deus não interpelou a nossa liberdade. Ele apenas nos convidou a mudar de vida, a fazer uma mudança radical e sem reservas em direção ao Reino dos Céus.
            Cristo, a luz do mundo, veio não para nos condenar, mas para nos iluminar, para que pudéssemos sair das trevas e enxergar o caminho certo, o caminho da casa do Pai.
Eis o Mistério da nossa fé!  'O Verbo era a luz verdadeira que, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina' (Jo 1, 9)  A luz de Deus veio para todos: ricos e pobres. Porém, nem todos os ricos e nem todos os pobres acolheram essa luz divina. E por isso o mundo vive de mal a pior, como um trem desgovernado, como o carro sem freio rumo ao abismo, rumo a mais escuridão! 
A Igreja não se cansa de anunciar esse Mistério que  ressoa,  como anúncio de salvação para todos. 'O mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente' (Const. Gaudium et spes, 22). A Igreja vai repetindo incansavelmente esta mensagem de esperança, proposta pelo Concílio Vaticano II.
 O seu amor guie os povos e ilumine a sua consciência comum de que são uma «família» chamada a construir relações de confiança e de mútuo apoio. Unida, a humanidade poderá enfrentar os numerosos e preocupantes problemas da atualidade: desde a ameaça terrorista às condições de humilhante pobreza em que vivem milhões de seres humanos, desde a proliferação das armas às pandemias e à degradação ambiental que ameaça o futuro do planeta".

Impressiona a afirmação do Papa: "No Natal, o Onipotente faz-Se menino e pede ajuda e proteção; o seu modo de ser Deus põe em crise o nosso modo de ser homens..." É uma intuição teológica profundíssima. Em Jesus, Deus coloca em crise o nosso modo de imaginar Deus! Ele não se apresenta como um Deus grande, potente, que resolve nossos problemas e se impõe à nossa liberdade. O Deus de Belém nada tem a ver com nossas imagens e expectativas sobre Deus. Tantos filósofos ateus afirmaram que Deus é invenção do homem para satisfazer suas carências, necessidades e expectativas. Pois bem, o Deus revelado em Belém desmoraliza tal filosofia! Acolhê-lo exige que nos convertamos ao Deus verdadeiro, que mudemos nosso modo de imaginar Deus. Deus não é o que esperamos dele; mas ele é surpreendentemente, aquilo que se revelou a nós na pobreza e na fragilidade da pessoa e da vida, da paixão e da morte de Jesus Cristo! (Aqui, pensem em quantas seitas que inventam um Deus e um Cristo self-service, totalmente falsificados.. Não Deus, mas um ídolo, com Bíblia e tudo!)

Mas, o Papa vai mais longe: em Belém Deus aparece como verdadeiro homem e revela o que é realmente o homem, colocando em crise profunda nossos modelos e modos de imaginar e definir o que é ser humano. Humano de verdade não é o homem dos modelos sociológicos, psicológicos, antropológicos, históricos, filosóficos... Certamente, tais modelos têm algo de verdadeiro e de útil, mas são também defeituosos e muito parciais. E isto, por um motivo simples: eles partem do homem tal qual o observam: o homem quebrado, desfigurado, deformado pelo pecado; o homem desumanizado! Humano de verdade é o Filho de Deus feito homem: ele é o homem perfeito, o homem como Deus sonhou! Quem dele se aproxima, quem assimila seus sentimentos e modo de ser, torna-se mais homem de verdade! É o sentido profundo da belíssima frase do Vaticano II: "O mistério do homem só se esclarece verdadeiramente no mistério do Verbo encarnado ".

Olhemos para Jesus e aprenderemos o que somos; tenhamos em nós os sentimentos e atitudes do Senhor Jesus Cristo e seremos nós mesmos: passaremos de nós deformados e alienados para nós transfigurados e reencontrados com o mais profundo de nós! Então, seremos felizes e faremos um mundo feliz!
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