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sexta-feira, 23 de março de 2012

V DOMINGO DA QUARESMA


25 DE MARÇO
V DOMINGO DA QUARESMA
Lectio Divina para o 5° Domingo da Quaresma - Ano B - Jo 12,20-33 - Diocese de Santos - Pe. Fernando Gross "
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Comentários-Prof.Fernando


O momento da entrega de Jesus está próxima.
- Agora estou sentindo uma grande aflição. 


Jo 12,20-33

se um grão de trigo não for jogado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se morrer, dará muito trigo.
         Jesus está nos dizendo neste domingo, que se Ele não passasse pelo sofrimento e pela morte de cruz e não tivesse ressuscitado, o mundo não o teria conhecido, não o teria reconhecido como o Filho de Deus, e nem teria acreditado Nele. Deus Pai amou tanto o mundo que abriu mão do seu próprio Filho, o qual também abriu mão da sua própria vida, pela nossa salvação.
         Mais infelizmente, ainda hoje temos muitos que não o reconhecem, que não o aceitam, que não o escuta, que não conhecem ou não acreditam nos seus mistérios. E isso é responsabilidade nossa. Pois é aí que entra a nossa parte, a nossa participação na construção do Reino de Deus, seja pela catequese direta ou indireta.  Na catequese direta, nós, os escolhidos, vamos ensinar a palavra de Deus aos catecúmenos. Pela catequese indireta, vamos levar Cristo ao mundo, começando pelos nossos familiares, através do nosso exemplo, do nosso testemunho. Então, ao saber que a maior parte da humanidade vive sem Deus, isso aumenta a nossa responsabilidade. Não podemos ficar de braços cruzados, não podemos levar a nossa vidinha de cristão beato, uma vida de oração, de eucaristia, porém, não passamos disso. Ficamos só aí, sem fazer nada no sentido de compartilhar a nossa fé com os demais irmãos. É maravilhosa esta união com Deus, porém isto só não basta. É preciso evangelizar de alguma forma! É preciso ter em mente que não nos salvaremos se não tivermos uma fé completa como Jesus nos afirmou: uma fé na qual estamos ligados a Deus e ao próximo. 
         “ Quem ama a sua vida não terá a vida verdadeira”; Essa é a pura verdade. Sem desprendimento de nós mesmos, sem uma atitude prática de entrega, sem uma vida compartilhada, sem uma vida de dedicação, de preocupação, de ajuda ao irmão, nossa vida não será uma vida verdadeira.
Jesus entregou a sua vida por nós. Para imitá-lo, teremos de pelo menos, ter uma vida voltada para Deus e para as necessidades do próximo. Uma vida sem egoísmo, uma vida empenhada na ajuda e na salvação do nosso irmão, da nossa irmã. Pois  quem não se apega à sua vida de forma exagerada e egoísta,  ganhará para sempre a vida verdadeira que é a vida eterna.
Quem quiser me servir siga-me;”  E seguir Jesus, é falar e fazer o que Ele fez. Amar como Jesus amou, sorrir como Jesus sorriu, ser justo como foi Jesus, entregar a sua vida pela causa do Reino como Jesus entregou, etc, etc.
E além da recompensa da Vida Eterna, teremos a grande honra que nos foi prometida por Jesus: “E o meu Pai honrará todos os que me servem.” 
Prezados irmãos. Não vamos servir a satanás, nem às sugestões enganosas dessa vida mentirosa, dessa vida moderna. Vamos servir somente a  Jesus e aos nossos semelhantes. Amém.
Sal.

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25 de março - V Domingo da Quaresma
-Diac José da Cruz

"MORRER PARA FRUTIFICAR"

Capitão Tininho era o nome de um grão de feijão, que certa ocasião usei como cobaia, na minha adolescência, para saber como era o desenvolvimento das plantas. Na minha fantasia, o Capitão Tininho retrucou, mas eu o convenci de que ele iria se tornar um herói, e poderia até quem sabe, reescrever a “Viagem ao Centro da Terra”, na visão de um grão de Feijão, e então ingenuamente ele aceitou. Ainda fantasiando, cavei um buraco, fiz um belo discurso para a “tropa” reunida ali, e aplaudimos o Capitão Tininho, que coloquei com carinho no buraco e jogamos a terra por cima. Todos os dias eu regava e revolvia a terra até que em uma manhã surgiu um brotinho quase invisível, fiquei eufórico, era como se estivesse nascendo um filho. Quando finalmente o pezinho de feijão estava “espigadinho” inclusive com algumas folhas, reuni a “tropa”, na minha fantasia, e começamos aquilo que eu chamei de “Operação retorno”, mas cadê o coitado do Capitão Tininho? Examinei cuidadosamente a raiz do meu pé de feijão, e não tinha nem vestígio do meu herói, de noite comentei com um colega na aula de ciência, que sorriu e me explicou friamente que o Capitão Tininho tinha “esticado a canela”. Não entendendo perguntei:”Você quer dizer que ele morreu?” . E o colega esclareceu que se o Tininho não tivesse morrido, eu não teria o meu pé de feijão. Ainda na minha fantasia, no outro dia reuni a tropa e comuniquei oficialmente o ocorrido “Ele morreu como um herói, nessa missão perigosa” – disse em meu discurso, dando assim por encerrada a minha experiência, concluindo que no ciclo das plantas, senão houver morte, a vida não terá continuidade.
Por isso, no primeiro contato com esse evangelho, quando ministro da palavra, nos anos 80, comentei com meus botões “Eis aqui mais um Capitão Tininho”, referindo-me ao grão de trigo da parábola que Jesus contou em Jerusalém, praticamente às vésperas da sua paixão e morte. Qualquer criança em idade escolar, bem cedo irá aprender que a semente morre nas profundezas da terra, para poder brotar nova plantinha. Mas na dimensão teológica, como poderíamos interpretar esse ensinamento de Jesus, o que significa morrer, nesse sentido?

Eu diria que a morte de Jesus teve início com a sua encarnação, pois no paraíso, o homem sentiu-se tão importante que teve a pretensão de ser o Deus - Todo Poderoso, conhecedor do Bem e do Mal, e senhor de todos os seus atos, enquanto isso, para iniciar a obra da salvação, o Deus Todo Poderoso se fez tão pequeno, que se tornou homem. Essa pequenez de Jesus está diretamente ligada à sua missão – eu vim para servir.

Poderíamos até afirmar que pequeno, é todo aquele que serve, é aquele que sabe partilhar com os outros, aquilo que tem inclusive os carismas. Na teologia judaica, a glorificação divina estava reservada aos justos, que no pós morte seria levantados por Deus para nunca mais morrerem. Ora, todas as personalidades bíblicas do A.T são uma prefiguração de Jesus e em alguns gêneros literários, como os evangelhos, por exemplo, encontramos em Mateus uma relação mais direta de Jesus com Moisés. Com a Salvação, Jesus insere de novo o homem na plenitude original do paraíso, sendo esse o anúncio que ele faz aos discípulos no evangelho desse quinto domingo da quaresma, com a afirmativa própria de João de que “Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado”.

Quando o homem busca a santidade e a perfeição em todas as suas ações e pensamentos, manifestando fidelidade ao projeto de Deus, revelando o amor ágape em suas relações com o próximo, a glorificação não é simplesmente um prêmio divino, por ele ter sido bom, mas é o resgate perfeito da imagem original de cada ser humano, enquanto imagem e semelhança de Deus, é a volta do Filho pródigo à casa do Pai, recuperando a dignidade perdida com o pecado. Esse processo aconteceu primeiro com Jesus de Nazaré, chamado nas cartas paulinas de primogênito de todas as criaturas e embora não tivesse nele nenhum pecado, ao receber a glória, também glorificou o Pai, que agora poderá olhar o homem realmente como Filho, e restabelecer com ele uma vida de comunhão, para comunicar a sua graça.

É este precisamente o caminho do cristão, não há nenhum outro, é o mesmo caminho de Jesus, o caminho do serviço, do amor ágape, da doação, da fidelidade ao Pai, do despojamento e do esvaziamento, e tudo isso significa “morrer” para si mesmo, ou deixar-se morrer para que o irmão seja bem servido e tenha mais vida. A comunidade é o lugar ideal para se viver a vocação do grão de trigo, morrer para atingir a plenitude, uma linguagem e um ensinamento estranho, para uma sociedade onde ainda prevalece, em todos os segmentos, a famosa Lei de Gerson...
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“Morreremos na terra para vivermos no céu” – Claudinei M. Oliveira


Domingo, 25 de março de 2012
EvangelhoJo  12, 20-33

            Na busca incessante do amor do Pai descobrimos o quanto é maravilhoso fazer parte da família abençoada de Deus. Nada se compara  a dedicação do Nosso Pai  para com seu povo. Ele foi grande e fraternoso na dedicação com olhar penetrante de um guardião. Ele quis e deseja a felicidade integral de todos. 
            Para conhecer por dentro de quão maravilhoso  foi a cumplicidade do Criador para com sua criatura, faz-se necessário atitudes arrojadas, como diz no Evangelho: é preciso morrer para o mundo terreno para viver no Cristo, caso não morra para as coisas supérfluas, não conhecerá a vida eterna em plenitude.Enquanto os filhos de Deus permanecem apegados ao mundo materialista, complexo e dividido, as portas do céu não serão  abertas na totalidade. Para tanto, o despojamento é imprescindível para que a semente seja destruídas na terra  com a finalidade da germinação perfeita. Assim, o arbusto crescerá, florirá e produzirá frutos de boa qualidade.
            Deus fez aliança com o povo que sofria no Egito. Ele pegou pelas mãos e encaminhou para um lugar seguro. Caminhou com seu povo em todos os segmentos das dificuldades. Moisés foi o grande líder, sentiu as dores e pediu socorro para aliviar as tensões. O Senhor nunca deixou de lado seus filhos amados. Esteve presente em todos os momentos. 
            Na aliança firmada com o povo escravo do Egito firmava a confiança e a dedicação no Deus que dá a vida e salva. Este Deus colocou todas as esperanças no cumprimento e do acordo: seguir o Deus da vida e do amor. Mas nem tudo foi cumprido.
            O povo salvo da escravidão revoltou contra o Senhor salvador. Dividiu em Israel e Judá. Criou suas inovações a partir de suas necessidades e esqueceu-se do Senhor teu Deus e Pai de Bondade. Na arrogância do viver-bem distanciava da aliança e tentou imprimir sua força terrena.
            Entretanto, o Senhor não desanimou do seu povo ao quebrar a aliança e afirmou segundo o profeta Jeremias: ”imprimirei minha lei em suas entranhas e hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo” (Je 31, 33).  A persistência com o povo desgarrado foi a marca do Senhor para conter a ímpeto  malcriado de uma legião que no passado foi salva do tronco e da brutalidade. Assim, ao imprimir as leis no coração de cada um, passará a conhecer de perto o verdadeiro significado da vida  e  humildemente o Senhor finalizou: perdoarei sua maldade, e não mais lembrarei o seu pecado”. (Je 31, 34).
            Não tem ensinamento maior do que o perdão. Ele transfigura no ser de Deus e faz o cristão mais íntimo ainda do criador. Perdoar as maldades ou as atrocidades cometidas e ser persistente, elevando a lei no coração infiel, demonstram o quanto o Senhor aplaude as vicissitudes de seus amados.
            Contudo muitos  cristãos de hoje ainda não encontraram e não sentiram a lei do Senhor em seus corações. Pelas atitudes maldosas, ações interesseiras e desamor com o outro confirma a falto do ensinamento do Evangelho. O mundo dos cristãos consome vivos os filhos de Deus para engrandecer pelas  conquistas terrenas. Mata o irmão por notar que está atrapalhando seus privilégios, não expressa sentimentos de misericórdia e nem da solidariedade.
            Todavia, para selar  a aliança com seu povo e amolecer o coração do homem pecador Deus enviou seu filho para a terra. Jesus em missão, percebendo a incensatez no coração maldoso do homem dirigiu súplicas àquele que era capaz de salvá-lo da morte.  Claro que foi ouvido, pois o Senhor retamente atende as aflições de quem o pede.
            O atendimento foi possível porque Jesus foi um filho obediente. Entendeu que para ser acolhido seria necessário  uma ínfima ligação com o Pai. Seus preceitos de glórias e bondade estariam disponíveis para quem deles seguissem com carinho. Portanto, Jesus foi um filho amoroso com o Pai e dele aprouve-lhe todo o bem.
            O que impede alcançar a salvação da alma são os interesses alheios às coisas de Deus. O homem vivia no pecado, cada um pensava ser mais poderoso do que o outro, não se contentava com o disponível para o viver e, para tal, buscava a satisfação nas ilusões da vida. Tanto foi na época de Jesus como hoje. Enquanto consegue subtrair comodidade de suas ações nem dá bola para Deus, mas basta a casa desabar em sua cabeça que o pedido de socorro não demora. Lembra de Deus nas ocasiões mais dramáticas, cobra de Deus urgência nos pedidos e, caso não aconteça na forma que pediu, revolta-se, fala mal e briga com o Pai. Ao entrar no desespero para não perder tudo, atira-se para todo lado, inclusive passa acreditar em soluções imediatistas sem precedentes.  Que complicação!
            Caros leitores, as coisas de Deus são boas, mas para entrar na sua magnitude é preciso desfazer de muitas cosas. Veja no Evangelho de João. Jesus estava em Jerusalém pregando no Templo durante a festa dos judeus. Alguns queriam falar com ele, inclusive pagãos da Grécia e veja que lições ganharam: se um grão de trigo não for jogado na terra e não morrer, ele continuará a ser apenas um grão. Mas, se morrer, dará muito trigo. Quem ama a sua vida não terá a vida verdadeira; mas quem não se apega à sua vida, neste mundo, ganhará para sempre a vida verdadeira. Quem quiser me servir siga-me; e, onde eu estiver ali também estará esse meu servo. E o meu Pai honrará todos os que me servem”. Jesus propõe atenção para as coisas do Pai, nada adianta querer acumular e viver  na vida terrena e perder a vida no Cristo Ressuscitado. Este período em que o homem vive na terra é pequeno demais em comparação com a vida no céu. A eternidade feliz se constrói no dia-a-dia e, para tanto, é preciso morrer para esta vida. Assim como o grão de trigo deve ser jogado na terra para morrer, o homem precisa morrer na terra para viver na vida consagrada com Deus.
            Sabias palavras de João. Ele está convencendo sua comunidade a desgarrar do mundo material para voltar a Deus. A felicidade do homem não está nos apegos das coisas palpáveis, mas está no mundo metafísico da fé. Para tanto, a fé é um instrumento importante para acreditar que Jesus foi o compromisso do Senhor com o povo escolhido  que veio trazer a libertação e vida para aqueles que ainda não conheciam.  
            A passagem de Jesus na terra não foi por acaso. Ele tinha um objetivo, não morrer na cruz, mas conduzir seus irmãos para um caminho da paz. A cruz foi a extensão do seu amor e exemplo de dedicação. Precisava morrer da forma violenta para o povo compreender a proposta da salvação.  Tem-se aí o grão de trigo morrendo para garantir a vida em plenitude.
            Como entoa o salmista: “criai em mim um coração  que seja puro, dai-me de novo um espírito decidido. Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, nem retireis de mim o vosso Santo Espírito”. (Sl 50)  Tende piedade Senhor porque vosso povo precisa de compaixão e espírito decidido  renovado para afastar todos os males que vos perturbam.  Mas não adianta só desejar e pedir, faz-se necessário agir, fazer algo, movimentar-se para estar em consonância com Deus.
            Portanto, neste dia do Senhor, pedimos corajosamente a conversão, ou seja, a vontade de mudar da vida em pecado para a vida na fé e no compromisso com o projeto de libertação de Jesus.  O querer sozinho não vai adiantar é preciso colocar a mão na massa para o bem fazer de Deus. Amém! Bom descanso a todos.
            Felicidades. Claudinei M. Oliveira.

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“QUEREMOS VER JESUS”. – Olívia Coutinho

           Dia 25 de Março de 2012

Evangelho Jo 12,20-33

Estamos no quinto domingo da quaresma, nos aproximando cada vez do ponto mais alto de nossa caminhada cristã: A PÁSCOA DO SENHOR JESUS!
Já podemos alargar um pouco mais nossos passos, pois já temos uma visão mais clara da vontade de Deus e das necessidades de tantos irmãos!
A riqueza das leituras deste tempo de graça, nos leva a um encontro conosco mesmo e a nos entregarmos ao mistério do infinito amor do Pai!
Aprendemos muito nesta caminhada de fé, mas ainda há muito que aprender, pois temos uma missão muito importante: fazer chegar aos corações sombrios, a luz que não se apaga: Jesus!
Muitos querem ver Jesus, mas desconhece o caminho para chegar até Ele! E nós, que já fizemos esta experiência, temos o compromisso de nos tornar caminho, para que outros possam também vivenciar esta alegria!
Conhecer Jesus, é descobrir o verdadeiro sentido da vida, é enriquecer-se preservando o coração pobre!
O evangelho de hoje nos convida a pautar a nossa vida no exemplo de Jesus, assumindo a vivencia da fé com todas as suas conseqüências.
Enquanto as autoridades judaicas tramavam a morte de Jesus, alguns gregos, pessoas de fora do convívio dos judeus, sentiram-se desejosos de ver Jesus. Eles aproximaram-se de Felipe e disseram: “Senhor, queremos ver Jesus”! Felipe convidou André e juntos, levaram o fato ao conhecimento de Jesus. Mas Jesus, ao invés de  falar com os gregos, se dirige aos discípulos e  prenuncia  a sua volta ao Pai, o que nos leva a crer, que naquele momento, Jesus dava por encerrada a sua trajetória terrena e que a partir de então, Ele só seria conhecido por meio da cruz.
Falando claramente de sua morte, Jesus, sutilmente, delega aos  discípulos,  a incumbência  de  torná-Lo conhecido, não somente pelos gregos, mas pelo mundo inteiro.  O que realmente aconteceu apóssua morte e ressurreição. Foi a partir daí, que Jesus tornou conhecido em todos os rincões da terra. E tudo começou com o anuncio daquela pequena comunidade fundada por Ele.
Hoje, somos nós, os convocados a dar continuidade a este anuncio, principalmente com o nosso testemunho de vivencia na fé.O mundo carece de anunciadores de Jesus, pessoas íntimas Dele, que desperte no outro o desejo de conhecê-Lo.
Finalizando a sua missão aqui na terra, Jesus nos adverte sobre o perigo do apego a nossa vida terrena.  A sua mensagem é clara: somente quem é  desapegado, desprendido, é  livre para servir!
É importante observarmos, que mesmo no momento derradeiro a sua morte, quando a  angustia invade o seu coração humano, Jesus ainda encontra força  para  falar de vida, ao se referir sobre os  frutos que seriam produzidos com  a sua morte. No caminho para a cruz, Ele nos fala que uma semente só produz frutos, quando cai  na terra e morre.  Jesus fala de si mesmo, da sua própria morte, Ele é a semente que morrerá na terra para produzir frutos!
Uma semente quando não plantada na terra, permanece bonita, intacta, mas não produz frutos!
Assim somos nós, quando resguardamos a nossa vida, podemos até nos sentir protegidos de muitos perigos, mas não nos sentiremos realizados, pois não produziremos frutos de amor aqui na terra!
O primeiro passo de um seguidor de Jesus, consiste em renunciar a si mesmo, em deixar de lado, projetos pessoais, para que o Reino de Deus se  torne prioridade absoluta na sua vida de discípulo.
A opção pelo Reino, não pode subordinar-se a nenhuma outra. Por isso, o verdadeiro discípulo deve apresentar-se a Jesus completamente livre de qualquer apego.
Quem apega a sua vida, não se esvazia de si mesmo, pois o apego escraviza.
Uma pessoa apegada a sua vida, não se abre ao amor, não enxerga a necessidade do outro e assim, vai se desvinculando  do evangelho.


FIQUE NA PAZ DE JESUS! - Olívia  

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Domingo, 25-Março-2012                         Gilberto Silva

Evangelho Jo 12,20-30

“Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo.”


Caríssimos irmãos e irmãs,


Assim como os gregos viajaram por quilômetros da sua cidade natal para estar com nosso Mestre, muitos de nós também gostaríamos de fazer esta mesma viagem para “ver“ Jesus, não é mesmo? Estes nossos irmãos vieram do paganismo helenístico tão somente para contatar com o Salvador, já tão próximo da morte. E ficaram admirados com a sabedoria que exauria das palavras  daquele Homem.
Jesus sabia que sua morte estava próxima, por isso encontrava-se tenso e angustiado tal como qualquer ser humano ficaria. Porém, sempre muito obediente ao Pai, Ele diz: ”Pai, glorifica o teu nome.”
Jesus libera mais uma pérola retratando que sua morte servirá para produzir muitos frutos tal qual o grão de trigo, e assim salvar o mundo, e não para condená-lo.
Cristo pede àqueles que o ouviam: “Se alguém me quer servir, siga-me, e onde eu estou estará também o meu servo. Se alguém me serve, o meu Pai o honrará.”
Queridos irmãos e irmãs ser honrado por Deus é a maior de todas as graças, pois Deus “viu” que esta pessoa é um servo do seu Filho Jesus. Ele ouve e pratica os mandamentos de Jesus.
Cristo diz de modo impactante que é Agora que o julgamento do chefe deste mundo: satanás. Pois a partir do momento em que Ele, Jesus for elevado do madeiro aos céus, Ele atrairá para si todo o gênero humano que n’Ele crer. Assim fala São Paulo em sua carta aos Colossenses (l,13): “O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho em seu amor.”
Assim caríssimos devemos dar todos os dias de nossas vidas, graças ao Pai que glorificou o seu Filho tornando-nos herdeiros para participar da sua luz.
A palavra de Deus é como a sementinha que é plantada nos nossos corações todas as vezes que abrimos a Bíblia, quando nos reunimos na igreja, quando participamos do banquete eucarístico, permitindo assim que o corpo consagrado de nosso Senhor Jesus interaja com o nosso, nos santificando.
Muitos vão à igreja a procura de sinais, milagres e fortuna. Não encontrando, retornam ainda mais vazios para suas casas (seus mundos). É por isso que este mundo está poluído por pessoas que querem “ver” Jesus e acabam desistindo por causa das palavras distorcidas e materialistas de seus orientadores espirituais.
Vamos imitar os apóstolos Felipe e André e mostrar que Jesus está vivo conosco quando colocamo-nos ao serviço do próximo.

Que Jesus habite em seu coração hoje e sempre.
  
Gilberto Silva


                    Díacono Gilberto Silva
       (33)-8828-5673-(33)-3279-8709
"Meu Senhor e meu Deus, refúgio e fortaleza"
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Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz fruto

Concentremos, neste domingo, todo o nosso olhar no Senhor nosso, Jesus Cristo, e na sua missão salvadora. Para isto, comecemos pelo belíssimo evangelho deste hoje. Contemplemos o Senhor! Contemplemo-lo com os olhos, contemplemo-lo com a fé, contemplemo-lo com o coração!
Jesus estava no interior do templo de Jerusalém, no pátio interno, chamado Pátio de Israel. Ali, nenhum pagão podia entrar, sob pena de morte. Pois bem, dois gregos, dois pagãos, aproximaram-se de Filipe, que certamente estava na parte mais externa, no chamado Pátio dos Gentios, até onde qualquer pessoa podia chegar. Dois gentios, que procuravam com fervor o Deus de Israel, tanto que “tinham subido a Jerusalém para adorar durante a festa”. Com humildade, eles pedem: “Gostaríamos de ver Jesus!” Eles não podiam entrar no Templo, não poderiam ver Jesus, a não ser que este saísse e viesse aonde eles estavam. Filipe, então, foi a Jesus e lhe relatou o pedido dos gregos. Jesus, então, afirmou, de modo misterioso: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado!” Que mistério, caríssimos: para que os pagãos vejam Jesus, isto é, para que o contemplem com os olhos da fé, para que nele creiam e nele tenham a vida, é necessário que Jesus seja glorificado pela cruz e pela ressurreição! É necessário que Jesus, grão de trigo, que se faz Eucaristia, morra e dê fruto – e este fruto é toda a humanidade, judeus e gentios que nele acreditarão e nele terão a vida eterna: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas, se morre, então produz fruto”. Jesus entregará ao Pai a sua vida, para frutificar em salvação para nós, para que possamos vê-lo, contemplá-lo e experimentá-lo como nossa Luz e nossa Vida!
Mas, não foi fácil a sua missão! A vida de Nosso Senhor foi toda ela uma entrega de amor, que culminou com a entrega mais absoluta na cruz. E isso custou! Como não nos impressionar com as misteriosas palavras da Epístola aos Hebreus? “Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem!” Que mistério tão grande, tão adorável! O Filho foi se consumindo durante toda a vida, fazendo-se, por nós, obediente ao Pai, até a morte e morte de cruz. O Filho amado, durante toda a sua existência humana foi, humildemente, buscando a vontade do Pai e a ela se entregando, mesmo quando foi percebendo que a vontade do Pai querido apontava para a cruz! Assim, tornou-se causa de salvação para todos nós, para os judeus e para os pagãos! Quanto tudo isso custou: “Agora sinto-me angustiado. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora?’ Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!” Em Cristo, caríssimos, vai cumprir-se a promessa que o Senhor fizera pelo Profeta Jeremias: “Eis que virão dias em que concluirei com a casa de Israel e a casa de Judá uma nova aliança: imprimirei minha lei em suas entranhas e hei de inscrevê-la em seu coração. Todos me reconhecerão, pois perdoarei sua maldade e não mais lembrarei o seu pecado”. Eis, irmãos e irmãs: é na morte de Cristo que judeus e gentios entrarão para a nova e eterna Aliança no sangue do Senhor! Quanto somos valiosos, quanto custamos em dores e sacrifício, em doação e trabalhos ao Senhor! Quanto deveríamos amar àquele que nos amou até a morte e morte de cruz! Por isso mesmo São Pedro exclamará: “Sabeis que não foi com coisas perecíveis, com prata ou com ouro, que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo” (1Pd. 1,18).
E, no entanto, caríssimos em Cristo, é a cruz do Senhor, é seu sacrifício amoroso ao Pai por nós, o critério do julgamento do mundo. Como dizia Bento XVI, não são os grandes, os crucificadores, que salvam, mas o pobre e impotente Crucificado: “É agora o julgamento deste mundo. Agora o Chefe deste mundo vai ser expulso, e eu, quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. Compreendem, meus caros, o que o Senhor está dizendo? Sua cruz é o critério do julgamento do mundo: tudo aquilo que não couber na cruz, tudo aquilo que fugir da lógica da cruz, é lixo, é palha para ser queimada! É o amor manifestado e derramado na cruz que vence satanás, que vence o pecado, que vence a morte e nos dá a vida plena. Não é a força, o sucesso, as razões humanas, o prestígio que salvam! Eis a loucura de Deus: é Cristo elevado na cruz quem libertará os gregos que estavam do lado de fora, sem poder entrar no povo da antiga aliança. Cristo morrerá por eles, por nós, para que todos, atraídos a ele, formemos um novo povo, a Igreja, povo da Nova e Eterna Aliança, selada no sacrifico do Senhor, neste mesmo Sacrifício Eucarístico que agora estamos celebrando nos ritos da sagrada liturgia! Quanta bondade, quanta misericórdia! Que dom tão grande recebemos do Senhor! Na cruz, de braços abertos, o Salvador nosso une judeus e pagãos num só povo, o novo Povo, a Igreja, sua amada esposa una, santa, católica e apostólica!
É este, caríssimos, o mistério que a Palavra do Senhor nos convida a contemplar neste último Domingo antes do início da Grande Semana. Mas, do alto da contemplação, o Senhor nos surpreende com um convite, um desafio, quase que uma ordem inesperada: “Se alguém me quer servir, siga-me, onde eu estou estará também o meu servo”. – Nós queremos, sim, te servir, Senhor nosso! Dá-nos a força de te seguir até onde estás: estás na cruz e estás na glória. Jamais chegaremos a esta sem passar por aquela, porque quem não ama a tua cruz não verá a tua luz, a luz da tua glória! Senhor, concede-nos, como fruto da santa Quaresma, um coração generoso para ir contigo, fazendo, como tu, a vontade do Pai na nossa vida! Senhor, dá-nos a graça de unirmo-nos mais intensamente a ti nestes benditos e santos dias que se aproximam, nos quais faremos memorial nos santos mistérios, da tua Paixão, Morte e Ressurreição, pelas quais fomos salvos e libertos! “Dai-nos caminhar com alegria na mesma caridade que te levou a entregar-te à morte no teu amor pelo mundo”. A ti a glória, ó Cristo Deus, hoje e para sempre!
dom Henrique Soares da Costa
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5º Domingo da Quaresma – 25.03.2012 – Ano B – Ev. Marcos:
Textos: Jeremias 31, 31-34/ Sl 50 (51)/ Hebreus 5, 7-9/
São João 12, 20-33: Morte e glorificação;
Tema: A Hora “H” de Jesus:
Caríssimos irmãos e irmãs: O evangelho deste domingo expressa a hora de Jesus, isto é, o momento decisivo de sua vida quando no confronto com as forças opostas ao Reino de Deus, ele morre porque decide entregar sua vida: tentativas anteriores de matar Jesus foram frustradas porque não havia chegado sua hora: isso quer dizer aquele momento da entrega mais generosa de vida que o mundo já viu acontecer, ou que um ser humano ousasse fazer; pois Jesus, o Filho de Deus encarnado, se tornou um de nós, bem humano como expressou o autor da carta aos hebreus; ele fez isso por nosso amor. E, portanto, ao morrer entregou seu espírito ao Pai que o devolveu para nós. É o cumprimento da profecia de Jeremias 31: os judeus haviam feito promessas de cumprir a Aliança, mas não foram capazes de realizar isso. Agora, nós que recebemos do Espírito de Jesus, já no nosso batismo e sucessivamente na vida sacramental, temos a oportunidade de reforçar e aumentar nosso compromisso de viver a nova Aliança, selada no sangue de Jesus; e que agora foi inscrita não mais em frias tábuas de pedra, mas sim no nosso íntimo, no nosso coração. Jesus que se entregou ao Pai, na obediência, tornou-se causa de salvação para todos aqueles que lhe obedecem, conforme a carta aos hebreus. A consumação de sua vida é a entrega generosa ao Pai por nosso amor: é o Deus apaixonado por seu povo (como disse o profeta Isaías) ao ponto de morrer, sacrificando-se pela humanidade. O evangelho fala de alguns gregos recém-convertidos ao judaísmo que foram celebrar a Páscoa judaica, em Jerusalém e recorreram a André e Filipe, que talvez fossem gregos, ou ao menos tinham o nome grego, e poderiam facilitar o contato para o encontro com Jesus. Hoje a multidão dos que são salvos, gregos ou não, se encontra com Jesus porque ele mesmo prometeu que quando fosse erguido na cruz atrairia todos a Ele. É mais uma profecia que se cumpre.
Nesta liturgia de hoje, aprofundemos nossa preparação para a Festa da Páscoa de Jesus, que deseja que se torne Páscoa nossa também, pois como afirmou: “desejei ardentemente comer esta ceia pascal convosco” (Lucas 22, 15). Vamos celebrar nossa Páscoa na pureza e na verdade, como cantávamos tempos atrás; afirmemos nossa disposição de servir melhor aos outros como fez Jesus, lavando os pés dos discípulos.
− Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
[colaboração: Pe. Celso Nilo Luchi, CR].

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Onde está a salvação?
Estamos nos aproximando da Páscoa, a celebração da morte-ressurreição do Senhor. Qual o significado da morte de Jesus, a morte que traz a vida? Não é, sem dúvida, o da busca ou aceitação do sofrimento pelo sofrimento, numa atitude masoquista ou conformista (“Jesus sofreu, a gente também tem de sofrer”). Essa idéia, muito propícia aos dominadores, foi no passado imposta aos dominados, que interessava ficassem calados.
O que dá sentido à morte é a ressurreição, é a vida, a salvação. Embora uma expressão do texto de Hebreus a ser lido hoje possa dar a entender uma salvação apenas futura, para “a eternidade”, a salvação começa aqui e deve ser duradoura, eterna nesse sentido. Não podemos nos cansar de repetir a palavra de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e vida em plenitude”. Vida na eternidade não pode ser consolo para falta de vida plena, vida para todos e cada vez melhor aqui.
Como tornar possível uma vida mais feliz para todos assim na terra como no céu? O comunismo ou o socialismo real pretendeu impor a igualdade. O povo, sem liberdade, acabou explorado pela burocracia governamental. Foi desfeito com a maior facilidade.
O capitalismo diz que é a cobiça e a competição que vão criar um mundo feliz para todos. Estamos vendo, o contrário é que acontece. As desigualdades só aumentam, a competição pelo dinheiro vira uma guerra desenfreada e a violência domina o mundo. Haverá outro caminho?
As leituras bíblicas de hoje vêm apontar esse caminho alternativo e não esperado. O caminho é a cruz, o assumir o último lugar e sacrificar-se totalmente pelos outros. Só isso pode salvar a humanidade.
Jeremias fala de uma nova aliança, uma nova Lei escrita não na pedra, mas no interior de cada pessoa. As palavras da instituição da eucaristia em Paulo e nos sinóticos já leem a morte de Cristo como inauguração dessa nova aliança.
No curto texto de Hebreus a ser lido hoje, aprendendo com o sofrimento o que é obedecer, Jesus se torna fonte de salvação para todos. E, no evangelho, ele se compara ao grão de trigo que, para não ficar sozinho, tem de morrer a fim de produzir muitos frutos.
A cruz domina o horizonte do evangelho como glória e caminho de vida farta e salvação.
1ª leitura (Jr. 31,31-34)
O povo estava numa situação muito dura e difícil. O reino do norte, Israel ou Efraim, estava destruído, grande parte da população tinha sido levada para o exílio. O reino do sul, Judá, estava prestes também a ser derrotado pelos babilônios. Tudo é visto como consequência da infidelidade à Aliança, à Lei de Moisés, com os inocentes pagando pelos pecadores.
A partir do versículo 20 deste texto, surge a esperança de restauração, de volta do exílio. Algo novo está sendo criado: a mulher cortejando o homem. É o povo, a esposa, buscando agradar a Javé, seu esposo. Lavradores e pastores como Caim e Abel estarão morando juntos. Israel e Judá se unirão para se tornar sementeiras, para crescer e se multiplicar.
No trecho escolhido para hoje, se a Aliança do Sinai não foi observada, o profeta anuncia uma nova aliança, escrita não na pedra, mas no interior de cada um. A Lei implantada no coração de cada um não desfaz ou invalida a primeira Aliança, ao contrário, coloca-a no coração – a gente diria hoje: na cabeça – de cada fiel. É um grande passo na reflexão dos profetas, que nos vai fazer entender melhor a expressão nova aliança.
No início, o texto fala em casa de Judá e casa de Israel, distinguindo as duas nações, depois apenas o nome Israel vai indicar todo o povo de Deus. Todo o Israel foi libertado da escravidão do Egito e o êxodo foi o fundamento da primeira Aliança: “Vejam o que fiz aos egípcios e como vos tirei de lá (...) e agora, se ouvirdes a minha voz, sereis para mim (...)” (Ex. 19,4-5).
Mas essa aliança, mesmo escrita em pedras, foi violada. Agora, então, vem uma nova aliança escrita no coração de cada um; agora cada qual terá vontade de seguir a Lei do Senhor, e já ninguém terá a pretensão de ensinar ou guiar o seu irmão; todos estarão em busca do conhecimento de Javé, de serem fiéis à lei da solidariedade e do respeito aos mais fracos (Jr. 22,16).
2ª leitura (Hb. 5,7-9)
Será que, tendo sofrido morte tão humilhante, Jesus salvou mesmo a humanidade? Assim se perguntavam alguns cristãos judeus. No texto da segunda leitura, encontramos a resposta. Na sua vida humana, Jesus clamou e chorou para que Deus o livrasse da morte. Ressuscitando-o, Deus o atendeu e fez dele a fonte da salvação duradoura.
“Salvação eterna”, no nosso vocabulário, nada tem que ver com o nosso mundo, a nossa realidade, é coisa exclusivamente para a outra vida, é atemporal. No conceito bíblico, porém, a palavra que se costuma traduzir por eterno, eternidade, significa apenas duradouro, duradoura, permanente. É algo que começa e vai durar.
Na sua paixão, Jesus aprendeu o que significa obedecer, ser coerente, responder com coragem e fidelidade aos apelos de Deus. Obediência vem do verbo ouvir, tem a ver com audiência, dar atenção. É responder ao apelo de Deus para o momento, é fazer o que nos pede, em cada circunstância, o mandamento do amor ao próximo.
Evangelho (Jo 12,20-33)
Os gregos que estão em Jerusalém para prestar culto a Javé também querem entrar em contato com Jesus, querem se aproximar dele, segui-lo. É o alcance do seu “queremos ver Jesus”.
Para chegar a Jesus, o caminho deles é Filipe, que tem nome grego, mas era da cidade dos irmãos André e Pedro, Betsaida da Galileia. Filipe foi um dos primeiros discípulos e o único que Jesus tomou a iniciativa de chamar (Jo 1,43-44). Ele chama o irmão de Pedro, André, seu conterrâneo, também de nome grego, e ambos vão a Jesus.
A resposta de Jesus parece nada ter que ver com o desejo dos gregos de se aproximarem dele. Ele responde dizendo, entretanto, que sua morte salva a humanidade toda e é isso que tem que ver com a busca dos gregos. Se também os gregos o procuram, é porque ele atrai todos a si (v. 33), o grão de trigo não fica sozinho, produz muito fruto (v. 24).
A glória dele é esta, mostrar que a vida nasce da morte, que a vitória vem do fracasso, que a salvação vem do sacrifício de si em favor dos outros. Essa proposta de Jesus desafia todas as outras tentativas de buscar uma saída para a humanidade. E não é fácil de entender e de assimilar, como disse uma pessoa de nossas comunidades: “Nem que a gente vivesse mais duzentos anos acabaria de entender todo o significado da morte de Jesus”.
Não é fácil segui-lo, colocar-se onde ele se coloca, não fazer conta da própria vida, do próprio bem-estar, mas deixar-se morrer como a semente, para não ficar sozinho e produzir muitos frutos. O próprio Jesus é levado a dizer: “Pai, livra-me desta hora”, o que nos sinóticos está na oração no Getsêmani ou no horto das Oliveiras.
Ao entregar a própria vida, Jesus condena o mundo governado pela arrogância, pela concentração de poderes, pela imposição da vontade de um sobre todos, pela cobiça e pela competição. “É agora o julgamento deste mundo, agora o que manda neste mundo vai ser posto para fora”, diz ele hoje.
Na Paixão segundo João, parece que é Jesus, não Pilatos, que senta na cadeira de juiz, ao tribunal (Jo 19,3). Quando a coligação dos poderes romano e judaico pensa que o está condenando, é ele, Jesus, vestido, coroado e sentado como rei, que está condenando o que governa este mundo.
Dicas para reflexão
– Salvação não é uma ilusão para consolar as vítimas de uma sociedade perversa, contrária ao projeto de Deus. Salvação é vida para todos e vida plena, cada dia melhor, assim na terra como no céu.
– O Crucificado é fonte de salvação. Não é fácil entender. Como pode a tristeza ser fonte de alegria? Como pode a dor ser fonte de plena satisfação? Como pode a lágrima ser fonte de riso? Como pode a humilhação ser fonte de glória? E é isso que é preciso entender. Entender e praticar.
– É agora o julgamento deste mundo. O que é que manda neste mundo? Pois os critérios da arrogância, do poder, da riqueza estão sendo postos para fora, estão sendo excluídos pelos critérios da humildade, do serviço ao outro, da doação de si.
– “Se quer me servir, siga-me!” Se não quiser cair na solidão que leva à depressão, esqueça o cuidado com a própria vida, deixe de lado seus interesses, deixe de pensar em si mesmo, doe-se, morra cada dia, como a semente que produz muito fruto.
– A salvação não é completa se alguns ficam de fora. Vida plena é vida para todos e cada vez melhor, mais completa, incluindo a capacidade de doação e serviço de uns para os outros. Só isso traz a alegria que ninguém pode tirar, vida duradoura, vida eterna.
– “Quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim.” Um pobre homem nu e pendurado numa cruz pode despertar algum interesse, pode ser atração para a humanidade inteira? Pode ser atração para mim? O mais profundo sentimento humano não é o competir, é o ser solidário. A cruz abre novos caminhos para a história.
padre José Luiz Gonzaga do Prado
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Na intimidade de Jesus
O coração do discípulo de Jesus experimenta alegria quando chega aos seus ouvidos e ao seu coração as palavras do Evangelho de João.  Estamos adiantados na caminhada da quaresma. Em breve viveremos os dias da Semana Santa. João afirma no evangelho hoje proclamado: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado”.
Tentemos acompanhar alguns detalhes do texto proclamado e que nos levam à intimidade do Senhor.
Alguns gregos tinham ido a Jerusalém para adorar  durante os dias da festa. Exprimem um desejo a Filipe: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. As providências são tomadas, mas o texto não volta ao assunto e Jesus procura mostrar que sua hora chegou e que todos poderão ver seu aniquilamento e sua glória. Na verdade este desejo de ver Jesus é também nosso. Não poderemos mais ver o traços do Jesus terrestre. Andamos, no entanto, ao encalço do Ressuscitado. Queremos poder distinguir sua voz na Palavra que nos dirige, ver claramente sua presença nos sinais dos sacramentos e reencontrar seu semblante no rosto dos irmãos, mormente dos mais abandonados. Queremos ver Jesus e, quando tudo tiver terminado, contemplá-lo no mistério da glória.
“Em verdade eu vos digo: se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um  grão de trigo; mas, se morre, então produz muito fruto”.  Jesus é o grão lançado à terra, grão cheio de vida, grão que morre para retomar a vida e dar vida. Estamos às vésperas da celebração do mistério da passagem. A morte esconde a vida. Os que tudo querem para si, que não são capazes de morrer ao seu pequeno mundo, mundo de seus interesses e de seus planos, não produzem fruto. A semente morre para dar o trigo, o que se esquece de  si cuidando de um pessoa carente  e deficiente  ganha vida que vem do amor-morte, do amor-dedicação, do amor-consagração ao bem do outro.  “Quem se apega  à sua vida, perde-a…”.
Somos discípulos do Senhor. “Se alguém me quer servir, siga-me e onde eu estou estará também o meu servo”.  Os que querem ser discípulos vão surpreender, muitas vezes, o Senhor lavando os pés dos outros, cuidando de atender os pedidos dos doentes e abandonados.  Ser discípulo é servir. “Se alguém me serve meu Pai o honrará”.
O texto vai ganhando gravidade.  A hora de Jesus tinha chegado.  Jesus se sente angustiado. Não pode e não quer pedir que o Pai o livre desta hora.  E do alto dos céus o Pai glorifica o Filho.  “Eu o glorifiquei e o glorificarei de novo”.
“É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e eu, quando for elevado da terra atrairei todos a mim”.
Os gregos que desejavam ver Jesus, quem sabe, foram instruídos a compreender que o rosto de Jesus estaria para ser desfigurado mas que depois ganharia as luzes da glória.
frei Almir Ribeiro Guimarães
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Aprendizagem divina: a hora de Jesus
“Dias virão”: esta expressão, no A.T., muitas vezes soa como uma ameaça. Hoje, porém, anuncia uma promessa das mais carinhosas: uma nova Aliança (1ª leitura). A antiga tinha sido rompida demasiadas vezes. Deus recorre ao último recurso: uma nova… Será diferente da anterior. A Lei não mais estará escrita em tábuas ou em rolos, mas no coração de cada um. E não mais precisarão de mestre, pois todos conhecerão Deus. Deus os toma para si, esquecendo seus pecados.
O evangelho nos apresenta Jesus Cristo como cumprimento desta promessa. Veio a “hora”, hora de “glorificação”. Glorificação de Cristo pelo Pai, do Pai por Cristo (Jo 12,23, 28; cf. 13,31; 17). Pois a glória é o atributo mais próprio de Deus. Sem sua vontade, não há glória para o Cristo. Esta vontade manifesta-se, de modo dramático, numa antecipação da agonia de Jesus: “Salva-me desta hora, Pai!” A 2ª leitura, Hb 5, comenta esse momento, na conclusão de sua exposição referente a Jesus Cristo, Sumo Sacerdote e Mediador: aquele que participa em tudo de nossa condição humana, menos no pecado. Participa do abismo da agonia. Grita a Deus entre lágrimas, e é por ele ouvido, tirado, não da morte, mas da angústia da morte, porque se sabe na mão de Deus: eis o que ele “aprendeu”. Assim também em Jo: na hora da completa angústia, Jesus reconhece a vontade de Deus, não como algo terrível, mas como glória, ou seja, o íntimo de Deus revelando-se no amor de seu Filho para os seus: “Pai, glorifica teu nome” (12,28). Também nossa vocação, na Nova Aliança, é: conhecer Deus de perto (cf. 1ª leitura), do modo como o aprendeu Jesus (2ª  leitura e evangelho).
O tema da aprendizagem divina é comentado na aclamação ao evangelho, o Miserere (Sl. 51 [50]), inspirado em Jr. 31: pede um coração novo, um espírito puro. Exprime com acerto a aspiração que animou o “tempo de quarenta dias”, que vai para o fim. Só falta ainda a etapa final da aprendizagem (de Cristo e de nós): a morte na cruz.
Conhecer Deus, seu modo de ser e de agir: “Se o grão de trigo não morre na terra, fica só; mas se morre, produz muito fruto”. Os exemplos da “lei do grão de trigo” são muitos, em nossos dias, na América Latina. Pois não foi só para Jesus que ela valeu. “Quem quer servir-me, siga-me, e onde eu estiver, ele também estará, e meu Pai o honrará” (12,26) (aclamação ao evangelho).
O homem moderno talvez se revolte diante desta temática: tal Deus é um opressor! Seria, se não fosse ele mesmo o primeiro envolvido, pois se trata de seu Filho. O que o Filho aprende é o que Deus é. Deus o “atende”, comungando com ele, na mútua comunicação da glória (Jo 12,28), vitória sobre o príncipe deste mundo (Jo 12,31). Também isso acontecerá –  e já deveria estar acontecendo – conosco: comungar com o mais intimo de Deus na nossa total doação aos seus filhos, vencendo o mal que os oprime.
No 1° domingo da Quaresma esboçou-se a luta de Jesus contra o poder do mal. Hoje, ao aproximar-nos da Semana Santa, descobrimos a arma com a qual Jesus venceu seu adversário: a obediência no amor até o fim.
Johan Konings "Liturgia dominical"
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A comunidade de João (o Evangelista) nasceu da reunião de judeus e gregos não-judeus.
Uma grande multidão estava chegando em Jerusalém para a Páscoa dos judeus que comemorava a libertação do povo de Israel do Egito. Ali vinham pessoas de toda a parte.
Alguns gregos foram até Filipe e pediram para conhecer Jesus. Os discípulos Filipe e André têm nomes tipicamente gregos, o que mostra, aqui, a abertura da comunidade, que está sendo formada por Jesus, para acolher pessoas de outras culturas, e eles agem como missionários levando-as até Jesus.
Jesus se dirige aos discípulos, ao invés de falar com os gregos. Com isso, Jesus de uma forma sutil confere a eles a responsabilidade de se abrirem para levar a mensagem a todos.
A presença dos gregos parece substituir a dos judeus que, decididamente, se afastaram de Jesus e estão tramando a sua morte.
A partir de então, ‘todo o mundo se põe a seguir Jesus’ pois incluem não só os judeus, mas também os gregos.
A chegada dos gregos e a as palavras de Jesus, “quando eu for elevado da terra, atrairei todos para mim”, são o ponto máximo deste Evangelho. Todos correm atrás de Jesus, mas Ele sabe que primeiro precisa ser levantado na cruz.
E Jesus diz: “É preciso que o grão de trigo morra para não ficar sozinho”, comparando sua vida a um grão de trigo que, para viver, tem que morrer. E o fato de desaparecer na terra não significa a destruição, e sim criar raízes para produzir vida.
Nas Bodas de Caná, Jesus afirmou que não havia chegado a sua hora. Mas, agora ela chegou!
O caminho de Jesus é o do serviço e entrega total da vida, para que o povo tenha vida. E Ele insiste que a vida será oferecida ao mundo por meio de sua morte. A multidão e os gregos são apenas os primeiros frutos da colheita da Paixão de Jesus, aqueles que são chamados para serem servos como Ele.
Jesus não tem medo de morrer, mas sente fortemente a fraqueza na sua humanidade. Ele está perturbado, tenta rezar para que a hora passe, e Deus se manifesta na voz que vem do céu, e muitos podem ouvir. Essa voz é a presença de Deus na vida de Jesus desde o início até o fim de sua missão.
Jesus vai enfrentar e vencer a sociedade injusta que o matará, mas a sua morte vai atrair muitos para Si.
Com sua morte, Jesus sela a aliança de Deus com a humanidade, mas, ao mesmo tempo, provoca a sociedade para um confronto ou julgamento. Sua glória é ao mesmo tempo, a revelação do amor fiel, a glorificação do Pai e do Filho, e o desmascaramento da sociedade injusta e infiel que patrocina a morte.
Jesus não veio para condenar o mundo, mas para salvá-lo.
Os Evangelhos são coletâneas de memórias de Jesus de Nazaré, elaboradas em meio às primeiras comunidades de discípulos, principalmente aquelas vinculadas a Jerusalém, oriundas do judaísmo. Estas memórias foram surgindo de acordo com as expectativas tradicionais do Primeiro Testamento, voltadas para o messias glorioso e poderoso. Após a morte de Jesus, este messias foi projetado no Cristo ressuscitado. Em conseqüência, os Evangelhos, escritos algumas décadas após a morte de Jesus, interpretam sua vida sob a ótica do ressuscitado. Assim, nas falas de Jesus foram inseridas referências a sua própria morte e ressurreição. Filipe e André, bem como seu irmão Pedro, eram de Betsaida, cidade de cultura predominantemente grega, situada ao norte do Mar da Galiléia. Alguns gregos, provavelmente seus conhecidos, se aproximam manifestando o desejo de ver Jesus. Evidencia-se como os gregos se interessaram em participar da vida que ele comunica. É o testemunho de que existiam comunidades de discípulos de Jesus no mundo gentílico, fora da influência do judaísmo. Jesus afirma que chegou a hora da sua glorificação. É a glória do Filho do homem (o humano), e não do messias poderoso. A glória de Jesus é sua missão levada até o fim com os frutos do anúncio e a comunicação da vida eterna ("salvação eterna", conforme a teologia sacrifical da carta aos hebreus - segunda leitura) a todos os povos, sem restrições étnicas, nacionalistas, ou de particularidades religiosas. Os discípulos são convidados a dedicar a vida a esta missão do anúncio da esperança e à comunicação de amor e vida, que é a glória de Deus. A "lei no coração" anunciada por Jeremias (primeira leitura) é o mandamento do amor comunicado por Jesus, que une a todos e traz a paz.
padre Jaldemir Vitório
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A cruz de Jesus não é um fracasso
Jesus vai ser levantado na cruz e vai morrer por todos nós, e então o mundo será julgado e o chefe deste mundo será expulso. O chefe deste mundo é o demônio, o causador do pecado que introduziu a doença e a morte. Ele será expulso, e a doença e a morte já não serão punição pelo pecado e sim participação na obra da redenção e passagem para a Terra sem males. Haverá um dia em que não precisaremos mais de quem nos ensine, diz o profeta Jeremias, porque a lei de Deus estará impressa em nossos corações. Haverá um dia em que não precisaremos mais de Ministério da Saúde, nem de hospitais, nem de médicos. No momento, porém, precisamos, e muito. Em sua vida terrestre, Jesus clamou e chorou, sofreu e aprendeu o que significa a obediência a Deus. Muitos, como ele, querem consumir a sua vida para a salvação eterna de todos. É a prática do amor que nos dá a vida eterna. A prática do amor acontece neste mundo para que a vida eterna seja para todos uma realidade feliz. Não queremos participar da segunda morte, a definitiva, como nos diz o Livro do Apocalipse.
Deus fez uma aliança com o povo escravizado no Egito e o libertou. A aliança foi selada no monte Sinai com o dom dos Dez Mandamentos, caminho seguro para a manutenção da aliança. O povo, porém, não foi fiel, diz Jeremias, por isso haverá uma nova aliança, a definitiva. Nela, a vontade de Deus não será exterior ao ser humano nem escrita em uma pedra. Ela será gravada no coração de cada um e todos saberão como tomar decisões de acordo com a vontade de Deus.
Nossa vida é feita de decisões e foi uma decisão errada que introduziu no mundo o pecado e a morte. Decisões certas podem corrigir o erro. A primeira mulher, Eva, reaparece na mulher Maria. O primeiro homem, Adão, ressurge no novo Adão, Cristo Jesus. A árvore do paraíso, ocasião do pecado, se levanta no madeiro da cruz, sinal da salvação. Deus não se deixa derrotar pela maldade humana. Ele refaz a aliança desfeita. Na consumação de sua vida, Jesus se torna causa de salvação eterna. Assim como Zaqueu, cobrador de impostos, os gregos queriam “ver Jesus”. A expressão significa muito mais do que curiosidade.
Quaresma é tempo de conversão. Quem desvia dinheiro público não quer ver Jesus. Quem tira proveito da enfermidade humana para enriquecimento pessoal não vê nem escuta Jesus. Quando o Mestre diz que “quem se apega à sua vida, perde-a, mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, vai conservá-la para a vida eterna”, ele não está dizendo que não devemos nos preocupar com nada, nem com a nossa saúde. Ao contrário. Ele está dizendo para a gente não pensar só em lucros e vantagens nesta vida, sem levar os outros em consideração.
A cruz de Jesus não é um fracasso. É a cruz vencedora que atrai todos a ela. Nela, Jesus entregou sua vida por uma causa nada fácil, que lhe custou horas de angústia. O resultado foi a glorificação. Há no mundo exemplos belíssimos de seguidores de Jesus, conscientes ou não, que se dedicam a uma causa humanitária, como os Médicos Sem Fronteira; as Pastorais da Saúde, da Criança, da Pessoa Idosa. Quanta gente se dedica aos outros em suas necessidades tanto no âmbito familiar como nas organizações sociais, religiosas ou não! Afinal, a voz que ouvimos não foi por causa de Jesus, mas por causa de nós!
cônego Celso Pedro da Silva
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Desejo de ver Jesus
Jesus, chegando a Jerusalém para a festa da Páscoa judaica, é aclamado pela multidão de peregrinos que acorrem à cidade para o cumprimento do preceito religioso de participação nesta festa. Entre estes peregrinos encontram-se gregos, os quais se dirigem a Filipe, manifestando o desejo de ver Jesus, o qual os atrai mais do que a própria festa.
Jesus, na ocasião de seu batismo por João, disse a André e ao outro discípulo que o acompanhava, quando lhe perguntavam onde morava: "Vem e vê" (Jo 1,39). Depois, o próprio Filipe, que já havia sido chamado por Jesus para segui-lo, convidou também Natanael para o encontro com Jesus, com a mesma expressão: "Vem e vê" (Jo 1,46). Agora são os gregos da região de Betsaida que se empenham em ver Jesus. "Ver" significa conhecer, ter a experiência da presença e do diálogo, em um tempo de convívio e comunicação com Jesus.
Filipe, diante do pedido dos gregos, vai dizê-lo a André. Filipe, bem como André e Pedro, era de Betsaida, cidade de cultura grega. Os próprios nomes de Filipe e André têm origem grega.
Quando Filipe e André falam com Jesus, ele lhes responde procurando remover qualquer equívoco. Está próximo o desenlace de seu ministério de amor e dom de si, sem temer perseguições, ameaças e morte. A sua glória não é o poder e o sucesso, mas o dom total de sua vida no amor, a ser assumido também pelos discípulos. O dom da própria vida é o ato fecundo que gera mais vida, tanto naquele que se doa como naqueles que são tocados por seu amor. A vida é fruto do amor e ela será tanto mais pujante quanto maior for a plenitude do amor, no dom total.
A metáfora do grão que se transforma exprime que o homem possui muito mais potencialidades do que aquelas que lhe são conhecidas. O grão que desaparece para dar lugar à planta e ao fruto é a conversão de vida. É libertar a vida de submissão e escravidão aos interesses dos chefes deste mundo e colocá-la a serviço de Jesus presente no nosso próximo. É alcançar a liberdade da vida eterna na prática do amor. Com o dom de si, novas e surpreendentes potencialidades se revelam. A morte, sem ser um fim trágico, pode ser também o começo de uma vida nova, mais plena, já neste mundo. Morrer para os limites e valores impostos por uma cultura de consumo e opressão, para viver livre na comunhão de amor e vida com os irmãos, particularmente os mais necessitados. Isto é servir Jesus, e assim se manifesta a glória de Jesus e a glória do Pai. Quem não teme a própria morte confunde o opressor poderoso, chefe deste mundo, e conquista a liberdade que tudo transforma pelo amor.
Viver é dar a vida e tem-se a vida à medida que ela é dada.
José Raimundo Oliva
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Na liturgia do 5º domingo comum ecoa, com insistência, a preocupação de Deus no sentido de apontar ao homem o caminho da salvação e da vida definitiva. A Palavra de Deus garante-nos que a salvação passa por uma vida vivida na escuta atenta dos projetos de Deus e na doação total aos irmãos.
Na primeira leitura, Jahwéh apresenta a Israel a proposta de uma nova Aliança. Essa Aliança implica que Deus mude o coração do Povo, pois só com um coração transformado o homem será capaz de pensar, de decidir e de agir de acordo com as propostas de Deus.
A segunda leitura apresenta-nos Jesus Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança, que Se solidariza com os homens e lhes aponta o caminho da salvação. Esse caminho (e que é o mesmo caminho que Jesus seguiu) passa por viver no diálogo com Deus, na descoberta dos seus desafios e propostas, na obediência radical aos seus projetos.
O Evangelho convida-nos a olhar para Jesus, a aprender com Ele, a segui-l’O no caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. O caminho da cruz parece, aos olhos do mundo, um caminho de fracasso e de morte; mas é desse caminho de amor e de doação que brota a vida verdadeira e eterna que Deus nos quer oferecer.
1ª leitura – Jr. 31,31-34 – AMBIENTE
Jeremias, o profeta nascido em Anatot por volta de 650 a.C., exerceu a sua missão profética desde 627/626 a.C., até depois da destruição de Jerusalém pelos Babilônios (586 a.C.). O cenário da atividade do profeta é, em geral, o reino de Judá (e, sobretudo, a cidade de Jerusalém).
A primeira fase da pregação de Jeremias abrange parte do reinado de Josias. Este rei – preocupado em defender a identidade política e religiosa do Povo de Deus – leva a cabo uma impressionante reforma religiosa, destinada a banir do país os cultos aos deuses estrangeiros. A mensagem de Jeremias, neste período, traduz-se num constante apelo à conversão, à fidelidade a Jahwéh e à aliança.
No entanto, em 609 a.C., Josias é morto, em combate contra os egípcios. Joaquim sucede-lhe no trono. A segunda fase da atividade profética de Jeremias abrange o tempo de reinado de Joaquim (609-597 a.C.).
O reinado de Joaquim é um tempo de desgraça e de pecado para o Povo, e de incompreensão e sofrimento para Jeremias. Nesta fase, o profeta aparece a criticar as injustiças sociais (às vezes fomentadas pelo próprio rei) e a infidelidade religiosa (traduzida, sobretudo, na busca das alianças políticas: procurar a ajuda dos egípcios significava não confiar em Deus e, em contrapartida, colocar a esperança do Povo em exércitos estrangeiros). Jeremias está convencido de que Judá já ultrapassou todas as medidas e que está iminente uma invasão babilônica que castigará os pecados do Povo de Deus. É, sobretudo, isso que ele diz aos habitantes de Jerusalém… As previsões funestas de Jeremias concretizam-se: em 597 a.C., Nabucodonosor invade Judá e deporta para a Babilônia uma parte da população de Jerusalém.
No trono de Judá fica, então, Sedecias (597-586 a.C.). A terceira fase da missão profética de Jeremias desenrola-se, precisamente, durante este reinado.
Após alguns anos de calma submissão à Babilônia, Sedecias volta a experimentar a velha política das alianças com o Egito. Jeremias não está de acordo que se confie em exércitos estrangeiros mais do que em Jahwéh… Mas, nem o rei, nem os notáveis prestam qualquer atenção à opinião do profeta.
Em 587 a.C., Nabucodonosor põe cerco a Jerusalém; no entanto, um exército egípcio vem em socorro de Judá e os babilônios retiram-se. Nesse momento de euforia nacional, Jeremias aparece a anunciar o recomeço do cerco e a destruição de Jerusalém (cf. Jr. 32,2-5). Acusado de traição, o profeta é encarcerado (cf. Jr. 37,11-16) e corre, inclusive, perigo de vida (cf. Jr. 38,11-13). Enquanto Jeremias continua a pregar a rendição, Nabucodonosor apossa-se, de fato, de Jerusalém, destrói a cidade e deporta a sua população para a Babilônia (586 a.C.).
É impossível dizer com segurança o contexto em que apareceu essa mensagem que o texto que nos é hoje proposto apresenta.
Para alguns comentadores, trata-se de um oráculo que poderia situar-se na primeira fase da atividade profética de Jeremias (reinado de Josias) e dirigir-se-ia aos israelitas do Reino do Norte. Seria uma mensagem de esperança, destinada a animar esse povo que há cerca de cem anos tinha perdido a independência e estava sob o domínio assírio.
Para outros, contudo, este texto será da época de Sedecias, algures entre a primeira e a segunda deportação do Povo para a Babilônia (597-586 a.C.). É a época em que Jeremias descobre perspectivas teológicas novas e começa a reflectir sobre um tempo novo que Deus irá oferecer ao seu Povo: após a catástrofe, será possível recomeçar tudo, pois Deus tem em mente fazer uma nova Aliança com Judá.
MENSAGEM
Deus está disposto a firmar uma nova Aliança com o seu Povo. Essa Aliança será, contudo, diferente da Aliança do Sinai.
A Aliança do Sinai foi uma Aliança externa, gravada em tábuas de pedra e que o Povo nunca interiorizou devidamente. Apresentava leis que o Povo devia cumprir; mas essas leis eram sempre leis externas, que não atingiram o coração do Povo nem mudaram substancialmente a sua maneira de ser. Por isso, o Povo de Deus continuou a trilhar caminhos de infidelidade a Deus, de injustiça, de auto-suficiência, de pecado. O Povo de Deus aderiu à Aliança do Sinai, mas mais com a boca do que com o coração. Ora, sem uma adesão efetiva, uma adesão do coração, era impossível manter a fidelidade aos mandamentos e exigências dessa Aliança.
Constatada a falência da antiga Aliança, Deus vai seguir outro caminho e propor uma nova Aliança que se fundamente noutras bases… Em concreto, Deus vai intervir no sentido de gravar as suas leis e preceitos no coração, no íntimo de cada membro do Povo. Na antropologia semita, o coração é, além da sede dos sentimentos, a sede dos pensamentos, dos projetos, das decisões e das ações do homem; é o centro do ser, onde o homem dialoga consigo mesmo, toma as suas decisões, assume as suas responsabilidades. Portanto, a iniciativa de Deus irá possibilitar que as exigências da Aliança sejam interiorizadas por cada membro do Povo de Deus e que estejam presentes nessa sede onde nascem os pensamentos, onde se definem os valores, onde se decidem as ações. Com um “coração” assim transformado (isto é, que pensa, que decide e que age segundo os esquemas e a lógica de Deus), cada crente poderá viver na fidelidade à Aliança, na obediência aos mandamentos, no respeito pelas leis, no amor a Jahwéh. Então, Jahwéh será, efetivamente, o Deus de Israel; Israel será, verdadeiramente, o Povo que vive de acordo com as propostas de Deus e que testemunha Deus no meio do mundo.
Com esse novo tipo de relação, Jahwéh não será mais um “desconhecido” para o seu Povo. Entre Deus e Israel será possível o estabelecimento de uma relação pessoal de proximidade, de intimidade, de familiaridade. A comunhão com Jahwéh não será uma lição dificilmente aprendida, mas algo de inato e natural, que brota de um coração em permanente diálogo com Deus.
Na última frase do nosso texto, Deus anuncia o perdão para as faltas do seu Povo: um perdão total e sem reservas é o primeiro resultado desta nova relação que se vai estabelecer entre Deus e o seu Povo. Também nisto se manifesta o “amor eterno” de Deus.
ATUALIZAÇÃO
• A primeira leitura do 5º domingo da Quaresma dá-nos conta da eterna preocupação de Deus com a realização plena do homem. Nessa linha, Jahwéh propõe-se intervir no sentido de mudar o coração do homem, tornando-o apto para fazer as escolhas mais corretas. Só com um coração transformado, o homem será capaz de acolher as propostas de Deus e de conduzir a sua vida de acordo com esses valores que lhe asseguram a harmonia, a paz, a verdadeira felicidade. Ao homem pede-se, naturalmente, que acolha o dom de Deus, que se deixe transformar por Deus, que aceite o desafio de Deus para integrar a comunidade da nova Aliança. Integrar a comunidade da nova Aliança implica, no entanto, renunciar a caminhos de fechamento, de auto-suficiência, de recusa, de indiferença face aos desafios e às propostas de Deus. Estamos dispostos, neste tempo de Quaresma, a acolher o dom de Deus e a deixar-nos transformar por Ele?
• Fazer parte da comunidade da nova Aliança não tem a ver com o cumprimento de ritos ou de obrigações externas; mas tem a ver com a adesão incondicional do coração às propostas de Deus. O que nos faz membros efetivos da comunidade da nova Aliança não é o ter o nome inscrito no livro de registros de batismos da nossa paróquia, ou o ter celebrado o casamento na igreja, ou o ir à missa ao domingo… Mas é o estar atento aos projetos de Deus, interiorizar as propostas de Deus, conduzir a vida de acordo com os valores de Deus, testemunhar a vida de Deus nos gestos simples do dia a dia, viver em comunhão com Deus.
• O projeto de uma nova Aliança entre Deus e o seu Povo concretiza-se em Jesus: Ele veio ao mundo para renovar os corações dos homens, oferecendo-lhes a vida de Deus. As outras duas leituras que nos são propostas neste 5º domingo da Quaresma vão dizer-nos como é que Jesus concretizou este projeto.
2ª leitura – Hb. 5,7-9 - AMBIENTE
A Carta aos Hebreus é um escrito (um sermão) de autor anônimo e cujos destinatários, em concreto, desconhecemos (o título “aos hebreus” provém das múltiplas referências ao Antigo Testamento e ao ritual dos “sacrifícios” que a obra apresenta). É possível que se dirija a uma comunidade cristã constituída majoritariamente por cristãos vindos do judaísmo; mas nem isso é totalmente seguro, uma vez que o Antigo Testamento era um patrimônio comum, assumido por todos os cristãos – quer os vindos do judaísmo, quer os vindos do paganismo. Trata-se, em qualquer caso, de cristãos em situação difícil, expostos a perseguições e que vivem num ambiente hostil à fé… São, também, cristãos que facilmente se deixam vencer pelo desalento, que perderam o fervor inicial e que cedem às seduções de doutrinas não muito coerentes com a fé recebida dos apóstolos… O objetivo do autor é estimular a vivência do compromisso cristão e levar os crentes a crescer na fé. Para isso, ele expõe o mistério de Cristo (apresentado, sobretudo, como “o sacerdote” da Nova Aliança) e recorda a fé tradicional da Igreja.
O texto que nos é hoje proposto é parte de uma longa reflexão (cf. Hb. 3,1-9,28) sobre o sacerdócio de Cristo. Em concreto, a perícope de Hb. 5,1-10 desenvolve o tema do sacerdócio de Cristo por comparação com o sumo-sacerdote do Antigo Testamento, apresentando uma série de aspectos semelhantes e opostos. Na perspectiva do autor deste sermão, o sumo-sacerdote deve ser um homem que, pela sua humanidade e fragilidade, é capaz de entender os pecados dos seus irmãos (“pode compadecer-se dos ignorantes e dos que erram, pois também ele está cercado de fraqueza” – Hb. 5,2); ele oferece sacrifícios, “tanto pelos seus pecados, como pelos do povo”, a fim de refazer a comunhão entre Deus e o homem (Hb. 5,3); e é chamado por Deus a desempenhar esta missão, tal como aconteceu com o sacerdote Aarão (Hb. 5,4).
Estes três elementos estão bem patentes em Cristo, o sumo-sacerdote da nova Aliança.
MENSAGEM
Cristo, apesar de Filho de Deus, foi um homem que viveu entre os homens e que experimentou a fragilidade e a debilidade dos homens. Sofreu, chorou, sentiu angústia e medo diante da morte, como qualquer homem (o autor alude, provavelmente, à oração de Jesus no Monte das Oliveiras, pouco antes de ser preso – cf. Mc. 14,36). Por isso, Jesus é o sumo-sacerdote, capaz de compreender as fraquezas e as fragilidades dos homens. A partir dessa compreensão, Ele será também capaz de dar-lhes remédio.
O sacerdócio de Jesus realizou-se num permanente diálogo com o Pai. Ele procurou sempre, através de uma oração intensa, discernir e cumprir a vontade do Pai. Mesmo nos momentos mais duros e difíceis da sua existência terrena, Ele escutou o Pai, manteve a sua adesão incondicional ao Pai, manifestou a sua total disponibilidade para cumprir o projeto de salvação que o Pai queria, através d’Ele, oferecer aos homens. Desta forma, Jesus, na oração e pela oração que acompanha a sua vida inteira (e especialmente os momentos dramáticos da paixão e morte), converteu toda a sua existência numa oferenda ao Pai, num “sacrifício” de doação ao Pai. Ao fazer da sua vida um dom, uma entrega total, um “sacrifício”, Ele realizou o projeto de refazer a comunhão entre Deus e os homens. Com a sua obediência, Ele ensinou os homens a viver em comunhão total com Deus, a cumprir os projetos de Deus e a amar os irmãos até ao dom total da vida; com a sua obediência, Ele eliminou o egoísmo e o pecado que afastavam os homens de Deus. Sendo, pela sua comunhão total com o Pai e com os homens, o modelo de Homem Novo, Ele tornou-se, para todos aqueles que escutaram a sua mensagem e que O seguiram, “fonte de salvação eterna” (v. 9).
Jesus Cristo é, portanto, o sumo-sacerdote da nova Aliança. Ele conhece e entende as fragilidades dos homens e está apto a oferecer-lhes a ajuda necessária para que possam alcançar a salvação. Cumprindo integralmente o projeto do Pai, Jesus mostra aos homens que o caminho da salvação está na comunhão com Deus, na obediência radical aos projetos de Deus e no dom da vida aos irmãos. Jesus é, assim, um sumo-sacerdote que proporciona eficazmente aos homens a salvação, levando-os ao encontro de Deus e da vida plena.
ATUALIZAÇÃO
• Antes de mais, o nosso texto recorda-nos a solidariedade de Jesus com os homens. Ele veio ao nosso encontro, assumiu a nossa humanidade, conheceu as nossas fragilidades, partilhou as nossas dores, medos e incertezas. Ele compreendeu os homens e as suas fraquezas, sem nunca os acusar nem condenar, sem se demitir da sua condição de irmão dos homens. Desta forma, tornou-Se capaz de Se compadecer da nossa miséria e de nos trazer a ajuda necessária para que pudéssemos superar a nossa situação de debilidade. A Palavra de Deus que hoje nos é proposta garante-nos a solidariedade de Cristo em todos os instantes da nossa existência. Não estamos sozinhos, frente a frente com a nossa fragilidade e debilidade; Cristo entende-nos, caminha à nossa frente, pega-nos ao colo quando não conseguimos caminhar. Sobretudo Cristo, o irmão que veio ao nosso encontro e que caminha conosco, aponta-nos o caminho para essa vida plena e definitiva que Deus nos quer oferecer.
• Toda a vida de Cristo cumpriu-se num intenso diálogo e numa total comunhão com o Pai. Através desse diálogo, Ele pôde discernir a vontade do Pai e conhecer os seus projetos. Pela oração, Ele encontrou forças para obedecer, para dizer “sim” e para concretizar os planos do Pai, mesmo nos momentos mais dramáticos da sua existência terrena. O caminho da doação total ao Pai não é um caminho impossível para os homens (Jesus, tornado homem como nós, demonstrou-o); mas é um caminho que os homens podem percorrer, apesar das suas fragilidades. É esse caminho que Jesus, o homem como nós, nos aponta. Temos espaço, na nossa vida, para dialogar com o Pai, para perceber os seus projetos para nós e para o mundo, para escutar os desafios que Deus nos faz? A nossa vida cumpre-se na indiferença para com Deus e para com os seus projetos, ou numa procura sincera e empenhada da vontade de Deus?
Evangelho – Jo 12,20-33 - AMBIENTE
O Evangelho que a liturgia do 5º domingo da Quaresma nos propõe situa-nos em Jerusalém, aparentemente no próprio dia da entrada solene de Jesus na cidade santa (cf. Jo 12,12-19). As multidões “que tinham chegado para a Festa” haviam aclamado Jesus como o rei/messias, encenando um rito de entronização e aclamando Jesus como “o que vem em nome do Senhor, o rei de Israel” (Jo 12,12-13). De acordo com João, as pessoas colheram ramos de palma e saíram ao encontro de Jesus um gesto que está ligado, no folclore religioso judaico, à Festa das Cabanas, a festa que celebrava o tempo em que os israelitas viveram em tendas, ao longo da caminhada pelo deserto, após a libertação do Egito. O autor do Quarto Evangelho sugere, assim, que está a chegar ao fim o processo de libertação definitiva do Povo de Deus. Apresenta-se, assim, uma chave de leitura para entender a morte próxima de Jesus.
No quadro entram “alguns gregos” que “tinham subido a Jerusalém para adorar” e que queriam ver Jesus. Aqui, “grego” significa, provavelmente, “não judeu”. Podem ser prosélitos (estrangeiros convertidos ao judaísmo) ou simples simpatizantes do judaísmo.
Os “gregos” dirigem-se a Filipe, natural de Betsaida, uma cidade situada na tetrarquia de Herodes Filipe, já fora do território judeu propriamente dito. Curiosamente, “Betsaida” significa “lugar de pesca” (o que pode aludir à missão dos discípulos – ser “pescadores de homens” – Mc 1,17). Filipe vai falar com André a propósito do pedido e os dois apresentam o caso a Jesus.
A história dos “gregos” que querem “ver Jesus” vai servir de pretexto a João para uma belíssima catequese sobre o que significa “ver Jesus”.
MENSAGEM
Os “gregos” vieram a Jerusalém “adorar” a Deus no Templo; mas quiseram encontrar-se com Jesus, conhecer Jesus e o seu projeto, tomar contacto com a salvação que Ele veio oferecer (queriam “ver Jesus” – v. 21). Com isto, o autor do Quarto Evangelho sugere que o Templo e o culto antigo já não são mais os lugares onde o homem encontra Deus e a salvação; agora, quem estiver interessado em encontrar a verdadeira libertação deve dirigir-se ao próprio Jesus. Por outro lado, a salvação/libertação que Jesus veio trazer tem um alcance universal e destina-se a todos os homens – mesmo àqueles que vivem fora das fronteiras físicas de Israel (“gregos”).
Estes “gregos” não se dirigem diretamente a Jesus, mas aos discípulos. Haverá aqui, talvez, um aceno à responsabilidade missionária da comunidade de Jesus, encarregada da missão de levar Jesus a todos os povos da terra. O fato de Filipe falar primeiro com André e só depois os dois irem contar o que se passa a Jesus reflete a dificuldade com que as primeiras comunidades cristãs deram o passo para a evangelização dos pagãos. João quer, provavelmente, sugerir que a decisão de integrar os pagãos na comunidade de Jesus não é uma decisão individual, mas uma decisão que a comunidade tomou depois de haver consultado o Senhor.
Quem vai ao encontro de Jesus, o que é que vai encontrar? Um messias aclamado pelas multidões, preocupado em gerir a carreira e em manter a todo o custo o seu clube de fãs, que faz prodígios de equilíbrio para não desagradar às autoridades constituídas e não arruinar as suas hipóteses de êxito?
No horizonte próximo de Jesus, está apenas a cruz (a “hora”). Ele está consciente de que vai sofrer uma morte violenta e maldita, e que todos o vão abandonar como um fracassado. Paradoxalmente, Ele está consciente, também, que nessa cruz se manifestará a “glória” do Filho do Homem.
A morte de Jesus não é um momento isolado, mas o culminar de um processo de doação total de Si mesmo, que se iniciou quando “o Verbo Se fez carne e montou a sua tenda no meio dos homens” (Jo 1,14); é o último ato de uma vida de entrega total aos projetos de Deus, feita amor até ao extremo. Durante toda a sua existência terrena, Jesus procurou, em cada palavra e em cada gesto, tornar o homem livre de todas as opressões, dotá-lo de dignidade, dar-lhe vida em plenitude. Dessa forma, despoletou o ódio do sistema opressor, interessado em manter o homem escravo. Sem se assustar com a perspectiva da morte, cumprindo até ao fim o projeto libertador de Deus em favor do homem, Jesus levou avante a sua luta pela libertação da humanidade. A sua morte é a consequência do seu confronto com as forças da morte que dominavam o mundo.
Por outro lado, ao dar a vida por amor, Jesus deixa aos seus discípulos a última e a suprema lição, a lição final que eles devem aprender. Com a morte de Jesus na cruz, os discípulos aprendem o amor até ao extremo, o dom total da vida, a entrega radical aos projetos de Deus e à libertação dos irmãos.
O que é que nasce deste “dom” de Jesus? Nasce uma nova humanidade. É uma humanidade que Jesus libertou da opressão, da injustiça, dos mecanismos que geram sofrimento e medo… E é uma humanidade que venceu o egoísmo e que aprendeu que a vida é para ser dada, sem limites, por amor. Não há dúvida que o dom da vida dá abundantes frutos de vida. Na cruz de Jesus manifesta-se, portanto, o projeto libertador de Deus para os homens.
Quem quiser “conhecer” Jesus deve olhar para esse Homem que põe totalmente a sua vida ao serviço dos projetos de Deus e que morre na cruz para ensinar aos homens o amor sem limites. Deve aprender essa verdade que, para Jesus, é evidente: não se pode gerar vida (para si próprio e para os outros), sem entregar a própria vida. A vida nasce do amor, do amor total, do amor que se dá até às últimas consequências. Só o amor como dom total é fecundo e gerador de vida (“em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo caído na terra não morrer, permanece só; se morrer, produz muito fruto” – v. 24). Quem se ama a si mesmo e se fecha num egoísmo estéril, quem se preocupa apenas com defender os seus interesses e perspectivas, perde a oportunidade de chegar à vida verdadeira, à salvação. O apego egoísta à própria vida levará ao medo de agir, à dificuldade em comprometer-se, ao silêncio perante a injustiça – em suma, a uma vida de medo e de opressão, que é infecunda e não vale a pena ser vivida. Ao contrário, quem é totalmente livre do medo, quem se esquece dos seus próprios interesses e seguranças e se compromete com a luta pela justiça, pelos direitos, pela dignidade e liberdade do homem, quem ama tanto os outros que entrega a sua vida por eles, esse dará frutos de vida e viverá uma vida plena, que nem a morte calará. É esta vida que tem sentido e que leva o homem à realização plena.
Jesus viveu esta dinâmica da vida dada por amor, sem medo de enfrentar o “mundo” – isto é, sem medo de enfrentar esse sistema de opressão e de injustiça que pensava poder manter os homens escravos através do medo da morte. Jesus está livre desse medo e, portanto, está livre para amar totalmente. Àqueles que querem “ver Jesus” e conhecer o seu projeto, Ele propõe o mesmo caminho – o caminho do amor e da entrega total. Ser discípulo é colaborar com Jesus na libertação dos homens que ainda são escravos, mesmo que isso signifique enfrentar as forças de opressão do “mundo” e enfrentar a própria morte (“se alguém Me quer servir, siga-Me” – v. 26a).
Quem aceitar esta proposta permanece unido a Jesus, entra na comunidade de Deus (v. 26b). Poderá ser desprezado pelo “mundo”; mas será honrado por Deus e acolhido como seu filho (v. 26c).
O nosso texto termina com a “voz do céu” que glorifica Jesus (v. 28-32). É uma forma de mostrar que o caminho de Jesus tem o selo de garantia de Deus. A “voz do céu” assegura que a forma de viver proposta por Jesus é verdadeira e que Deus garante a sua autenticidade. Confirma-se, desta forma, aos discípulos que oferecer a vida por amor não é um caminho de fracasso e de morte, mas um caminho de glorificação e de vida.
ATUALIZAÇÃO
• A primeira leitura mostrava-nos a preocupação de Deus no sentido de propor aos homens uma nova Aliança, capaz de gerar um Homem Novo. Como é que chegamos a essa realidade do Homem Novo, de coração transformado (isto é, com um coração que pensa, que decide e que age segundo os esquemas e a lógica de Deus)? O Evangelho responde: é olhando para Jesus, aprendendo com Ele, seguindo-O no caminho do amor, acolhendo essa vida que Ele nos propõe. Jesus tem de ser o modelo, a referência, o exemplo de quem quer aceitar o desafio de Deus e viver na comunidade da nova Aliança. Na verdade, o que é que Jesus representa, para nós? Uma pequena nota no rodapé da história humana? Um idealista com boas intenções que fracassou no seu sonho de um mundo melhor? Um pensador original, mas cujas idéias e perspectivas parecem desfasadas face às novas realidades do mundo? Ou é o Deus que veio ao encontro dos homens com um projeto de vida nova, capaz de dar um novo sentido à nossa vida e de nos encaminhar para a vida plena, para a felicidade sem fim?
• O caminho que Jesus aponta aos homens é o caminho do amor radical, do dom da vida, da entrega total a Deus e aos irmãos. Este caminho pode parecer, por vezes, um caminho de fracasso, de cruz; pode ser um caminho que nos coloca à margem desses valores que o mundo admira e consagra; pode parecer um caminho de perdedores e de fracos, reservado a quem não tem a coragem de se impor, de vencer a todo o custo, de conquistar o mundo… No entanto, Jesus garante-nos: a vida plena e definitiva nasce do dom de si mesmo, do serviço simples e humilde prestado aos irmãos (sobretudo aos pequenos e aos pobres), da disponibilidade para nos esquecermos de nós próprios e para irmos ao encontro das necessidades dos outros, da capacidade para nos solidarizarmos com os irmãos que sofrem, da coragem com que enfrentamos tudo aquilo que gera sofrimento e morte. Estamos dispostos a seguir a proposta de Jesus?
• Jesus rejeita absolutamente o caminho da auto-suficiência, do fechamento em si próprio, do egoísmo estéril, dos valores efêmeros. Na lógica de Deus, trata-se de um caminho de perdedores, que produz vidas vazias e sem sentido, sofrimento e frustração, medo e desilusão. Quem vive exclusivamente para si próprio, quem se preocupa apenas em defender os seus interesses e perspectivas, quem se apega excessivamente a uma realização pessoal cumprida em circuitos fechados, “compra” uma existência infecunda e que não vale a pena ser vivida. Perde a oportunidade de chegar ao Homem Novo, à realização plena, à vida verdadeira, à salvação. Talvez nesta Quaresma Jesus nos peça que dispamos o nosso egoísmo e que nos convertamos ao amor…
• É através da comunidade dos discípulos que os homens “vêem Jesus”, descobrem o seu projeto, encontram esse caminho de amor e de doação que conduz à vida nova do Homem Novo, à salvação. Isto recorda-nos a nossa responsabilidade de testemunhas de Jesus e da sua salvação no meio dos homens do nosso tempo… Aqueles irmãos que se cruzam conosco nos caminhos da vida descobrem no nosso testemunho o rosto de Jesus? Todos aqueles que vêm ao encontro de Jesus à procura da vida plena encontram na forma como nos doamos, como servimos e como amamos a proposta libertadora que, através de nós, Jesus quer passar a todos os homens?
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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Evangelho: Jo 12, 20 – 33
1. Dois versículos sintetizam o tema do evangelho de hoje. O primeiro nasce da constatação dos fariseus no v. 19 b: “vejam como vocês não conseguem nada. Todo mundo vai atrás de Jesus”. O segundo é a própria afirmação de Jesus: “quando eu for levantado da terra, atrairei todos a mim” (v. 32).
2. O texto inicia afirmando que “havia alguns gregos entre os que tinham ido à festa para adorar a Deus” (v. 20). Aqui os gregos representam todos os que não são judeus. (As comunidades joaninas foram se formando a partir de um grupo judeu que, mais tarde, “incluiu” samaritanos e pagãos). Para João, é o momento em que começa a se realizar o que Jesus dissera em 10,16: “tenho também outras ovelhas que não são deste curral. Também a elas eu devo conduzir; elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”. Os gregos são “essas ovelhas”. Eles vão ao templo mas, em vez de entrar, vão a Jesus: “Eles se aproximam de Filipe, que era de Betsaida da Galileia, e disseram: “Senhor, queremos ver Jesus” (v. 21). Note-se o detalhe: Filipe e André são nomes gregos.
3. E Jesus, em vez de falar com os “gregos”, se dirige aos discípulos, afirmando que ”chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado” (v. 23). Esse detalhe é importante, pois caberá à comunidade abrir novos horizontes, levando a humanidade inteira a fazer experiência de Jesus.
4. É chegada a “hora” de Jesus anunciada em 2,4. O evangelho de João, desde o início, aponta para o momento culminante da hora, isto é, a glorificação de Jesus e do Pai ao mesmo tempo. A glória é a manifestação do amor fiel de Deus, concretizado em Jesus que entrega sua vida. Jesus é a teofania (manifestação) de Deus, o templo de Deus que reúne todos para a comunhão e a vida.
5. Os versículos seguintes desenvolvem esse tema. Em primeiro lugar, Jesus é o grão de trigo que cai na terra e morre para produzir fruto (v. 24). Ele optou desaparecer, ser esquecido, morrer. A morte é a condição para que o grão libere a capacidade de vida que possui. Se não morre também não gera vida. Se morre, de um só grão nascem muitos.
6. A maioria de nós, – ao contrário de Jesus, – tem medo de morrer. O evangelho nos diz que a vida fica frustrada quando temos medo da morte (v. 25), pois o amor é verdadeiro somente quando está disposto a doar-se totalmente, desaparecendo, sendo esquecido, morrendo… É próprio dos regimes de força incutir medo nas pessoas, e o medo maior é o de ter que morrer de forma violenta, como tem acontecido em muitos casos em nosso país e na América Latina.
7. Os regimes de força se fortalecem quando temos medo de entregar a vida por aquilo que acreditamos. Jesus não tem medo de morrer, embora sinta forte-mente a carga psicológica que isso implica (cf. v. 27: “agora me sinto angustiado”). Qual é a força que anima os cristãos diante disso? “Quem ama sua vida, a perde; e quem despreza sua vida neste mundo, a conserva para a vida eterna. Se alguém quer me servir, que me siga; e onde eu estiver, estará também o meu servo. Se alguém me serve, o Pai o honrará” (vv. 25-26). A expressão “onde eu estiver” recorda a morte, mas também a ressurreição, “honra” que o Pai confere a quem segue os passos de Jesus.
8. Jesus não foge do confronto: “foi precisamente para esta hora que eu vim” (v. 27b). Sua firme decisão é comprovada pelo Pai. É dele a voz que vem do céu (cf. v. 28b), embora os presentes a interpretem como um trovão ou um anjo (v. 29). Para João, trata-se de uma teofania (manifestação de Deus) que aprova as opções de Jesus e confirma o caminho de seus seguidores: “esta voz que vocês ouviram não foi por causa de mim, mas por causa de vocês (v. 30; leia 1Sm. 12,15-17 e compare).
9. Com sua morte Jesus sela a aliança de Deus com a humanidade, mas, ao mesmo tempo, provoca a sociedade para um confronto ou julgamento (v. 31). Sua hora é, ao mesmo tempo, a revelação do amor fiel, a glorificação do Pai e do Filho, e o desmascaramento da sociedade injusta e infiel que patrocina a morte. O “chefe deste mundo” (v. 31b) é o sistema que matou Jesus, o “pecado” que o Cordeiro veio tirar do nosso meio (cf. 1,29).
10. O tema do julgamento é muito importante no evangelho de João. Jesus não veio para condenar o mundo, mas para salvar (cf. 3,17). Porém, a morte de Jesus – e de todos os que, como ele, foram privados de viver – desmascara os regimes de força que matam para intimidar. Alguém tem que ser responsabilizado pelas mortes que acontecem em nosso meio. Deus é a favor da vida. E nós, como nos posicionamos? Jesus é o rejeitado que atrai (v. 32). Também nisso se realiza hoje o julgamento de Deus. O marginalizado e o crucificado continua atraindo, e todos os sofredores, “querem ver Jesus”. Nossas comunidades percebem isso? Já conseguem mostrar-lhes Jesus?
1ª leitura: Jr. 31,31–34
11. Os capítulos 30 e 31 de Jeremias são chamados de ”livro da consolação de Israel’. A característica principal desses capítulos é a esperança de reconstrução da vida nacional do povo de Deus, às portas do exílio da Babilônia.
12. Jeremias fez uma experiência ímpar de Deus em sua vida: raptado por Deus e por ele conquistado desde o ventre materno, viveu sozinho e só para Deus, conhecendo-o a partir do sofrimento, solidão e rejeição social.
13. Os versículos que compõem esta leitura, um dos pontos altos de todo o Antigo Testamento, só poderiam nascer do coração de um profeta como Jeremias. E todos os profetas de hoje, que puseram em segundo plano interesses pessoais e até a continuidade da vida que se prolonga nos filhos, descobrirão neles a mística que anima seus passos e os faz caminhar apesar dos temores e conflitos.
14. O texto fala de nova aliança, diferente da que Deus concluiu com o povo quando o tirou da escravidão egípcia (vv. 31-32). Ela é nova por duas razões: não se trata mais de uma aliança externa, ritual e jurídica, e não precisará mais de mediações (vv. 33-34). A aliança do Sinai era externa. O contrato fora registrado em pedras e possuía caráter jurídico. Jeremias percebeu a caducidade de tais leis, seja porque não respondiam ao anseio profundo do ser humano, seja porque as mediações (sacerdócio, templo, sacrifícios, lideranças político-religiosas) não foram capazes de traduzir um código de leis em vida, e em experiência pessoal do Deus libertador.
15. A nova Aliança é interna, gravada no fundo do ser e no coração de cada pessoa, “nas entranhas” (v. 33), e dispensa as mediações (v. 34), pois é capaz de gerar uma experiência pessoal e insubstituível do Deus da vida que fala a partir dos anseios de cada pessoa de todos os tempos e lugares. Deus, portanto, se alia à humanidade – a partir daquilo que ela possui de mais sagrado, – o desejo de viver em liberdade e na fraternidade.
16. Diante disso a gente se pergunta:
- que sentido tem as mediações existentes hoje se a Nova Aliança se realizou, para nós, em Cristo Jesus?
- Não estamos, – ainda, – vivendo num regime de aliança antiga? Não é fácil responder.
- No fundo todo ser humano aspira à liberdade e à vida, e é justamente nisso que Deus é nosso eterno aliado. Mas a liberdade e a vida são prerrogativas de todo ser humano, e não de uma minoria.
- Aqui reside a fonte de todos os conflitos, pois os que desejam liberdade e vida só para si jamais poderão afirmar que fizeram a experiência do Deus libertador.
2ª leitura: Hb. 5,7–9
17. O sacerdócio de Cristo. A assim chamada “carta aos Hebreus” não é uma carta, e sim, um discurso sobre o sacerdócio de Cristo. O autor é um cristão anônimo que, (aí pelo ano 80), escreveu a cristãos tentados de desânimo e em perigo de rejeitar a fé em Jesus revelador e portador da salvação. Os motivos de desalento desses cristãos eram: o ter de suportar sofrimentos por serem cristãos, a vontade de retornar às formas já superadas do culto judaico e o afrouxa-mento diante da demora da salvação final.
18. O nosso texto pertence a uma parte que pode ser intitulada: Jesus, Sumo Sacerdote, digno de fé e misericordioso (3,1-5,10). Ele é digno de fé porque preencheu todos os requisitos que Deus tencionava realizar. Sua credibilidade perante Deus foi plena (3,2-6). Por isso, a humanidade adere a ele com plena confiança (3,7-4,14). Sendo plenamente confiável perante Deus, ele é também Sumo Sacerdote misericordioso em relação às pessoas (4,15), por ter experimentado nossa condição humana, conhecendo nossas fraquezas. Por meio do sofrimento tornou-se obediente de uma obediência tal que, se as pessoas a fizerem sua – aderindo a ele, – saborearão a salvação definitiva (5,9).
19. Condições para ser sumo sacerdote. O AT impunha algumas condições para que alguém pudesse ser sumo sacerdote. Uma delas (à primeira vista parece ser tão evidente), prescrevia que o sumo sacerdote fosse semelhante às pessoas pelas quais iria interceder junto a Deus com orações e apresentação de sacrifícios. Esse dado nos ajuda a entender melhor os versículos do nosso texto. Jesus é um ser humano como qualquer um de nós (cf. 5,1). Não só. Ele experimentou a dura realidade da vida das pessoas, vivendo o dia-a-dia do sofrimento humano. Para entender a vontade de Deus a seu respeito, serviu-se da oração: “durante sua vida na terra, Cristo fez orações e súplicas a Deus, – em alta voz e com lágrimas, – ao Deus que o podia salvar da morte. E Deus o escutou, porque ele foi submisso” (v. 7).
20. A oração de Jesus não é fuga. O v. 7 recorda o que aconteceu com ele no Getsêmani. Jesus não escapou da morte na cruz. Sua oração foi atendida quando o Pai o ressuscitou dos mortos, depois de ter sido obediente até o fim.
21. A obediência de Jesus é perfeita. Os sumos sacerdotes do passado ofereciam sacrifícios por si e pelo povo que representavam. Mas o sacrifício era externo a eles. Jesus, ao contrário, é ao mesmo tempo o Sumo Sacerdote e o sacrifício oferecido, não para si próprio, mas em vista da purificação e salvação do povo: “depois de perfeito, tornou-se a fonte de salvação para todos aqueles que lhe obedecem” (v. 9).
R e f l e t i n d o
1. “Dias virão”: esta expressão, no AT, muitas vezes soa como uma ameaça. Hoje, porém, anuncia uma promessa das mais carinhosas: uma nova Aliança (1ª leitura). A antiga tinha sido rompida demasiadas vezes. Ficou gasta. Deus recorre ao último recurso: uma nova Aliança, diferente da anterior. A Lei não mais estará escrita em tábuas de pedra ou em rolos de papel (como os dos escribas), mas no coração de cada um. E ninguém mais precisará de mestre, pois todos conhecerão Deus. E Deus os acolherá, esquecendo seus pecados.
2. O evangelho nos apresenta Jesus Cristo como cumprimento desta promessa. Chegou a “hora”, hora de “glorificação”. Glorificação de Cristo pelo Pai, do Pai por Cristo (Jo 12,23.28; cf. 13,31; 17). Pois a glória é o atributo mais próprio de Deus. Sem sua vontade, não há glória para o Cristo. E esta vontade manifesta-se, de modo dramático, numa antecipação da agonia de Jesus: “Salva-me dessa hora, Pai”.
3. A 2ª leitura, Hebreus 5, comenta esse momento, na conclusão de sua exposição referente a Jesus Cristo, Sumo Sacerdote e Mediador: aquele que participa em tudo de nossa condição humana, menos no pecado. Participa do abismo da agonia. Grita a Deus entre lágrimas, e é por ele ouvido, tirado, não da morte, mas da angústia da morte, porque se sabe na mão de Deus. Jesus sabe que Deus está com ele: eis o que ele “aprendeu” (Hb. 5,8).
4. Assim também em João: na hora da completa angústia (12,27: “Pai, salva-me desta hora”), Jesus reconhece a vontade de Deus, não como algo terrível, mas como glória, ou seja, o íntimo de Deus revelando-se no amor de seu Filho para os seus: “Pai, glorifica teu nome” (12,28). Também nossa vocação, na “Nova Aliança”, é: conhecer Deus de perto (cf. 1ª leitura), do modo como Jesus o aprendeu (2ª leitura e evangelho).
5. O tema da aprendizagem divina é comentado no Salmo 51 Miserere, inspirado em Jr. 31: pede um coração novo, um espírito puro. Exprime com acerto a aspiração que animou o “nosso tempo de quarenta dias”, que chega ao fim. Só falta ainda a etapa final da aprendizagem – a de Cristo e a nossa: a morte na cruz.
6. Conhecer Deus, seu modo de ser e de agir: “se o grão de trigo não morre na terra, fica só; mas se morre, produz muito fruto”. È a “lei do grão de trigo”, o modo de agir de Deus, a instrução da Aliança definitivamente renovada. Deus sabe que o endurecimento de coração do agressor, só é vencido pela vítima. Quando o agressor a quer abafar, a verdade do amor se afirma. É a força da flor sem defesa. A justiça se vê afirmada e vencedora na hora em que a violência a quer suprimir. Os exemplos da “lei do grão de trigo” são muitos em nosso mundo e na América Latina. Pois essa lei vale não só para Jesus, mas também para seus seguidores: “Quem quer servir-me, siga-me, e onde estiver eu, estará também aquele que me serve, e meu Pai o honrará” (12,26).
7. O homem moderno talvez se revolte diante desta temática: tal Deus é um opressor! Seria, se não fosse ele mesmo o primeiro envolvido, pois se trata de seu Filho. O que o Filho aprende é o que Deus é. Deus o atende, comungando com ele, na mútua comunicação da glória (Jo 12,28), vitória sobre o príncipe deste mundo (Jo 12,31). Também isso acontecerá – e já deveria estar acontecendo – conosco: comungar com o mais íntimo de Deus na nossa total doação aos seus filhos, vencendo o mal que os oprime.
8. No 1º domingo da quaresma esboçou-se a luta de Jesus contra o poder do mal. Hoje, – ao aproximar-nos da semana santa, – descobrimos a arma com a qual Jesus venceu seu adversário: a obediência no amor até o fim.
9. A lei de Deus, a lei do amor – impressa no coração de cada um de nós, – não é algo externo, (algo imposto de fora), mas algo que brota – e deve brotar sempre – do mais íntimo do nosso coração. É algo que precisamos redescobrir… e mais do que isso colocar em prática. Essa semente, escondida como grão, frutificará em atitudes solidárias, fraternas, humanitárias, políticas, sociais. Eis o grande desafio! Seremos capazes de “morrer” em relação aos nossos proveitos imediatos, a fim de que brote aquilo que, – profundamente, – sabemos ser verdadeiro e justo?
10. O profeta Jeremias denuncia – a cada um de nós – que reduzimos a prática do amor a um mero preceito jurídico. Por isso, não respeitamos nem nos empenha-mos em cumpri-lo para provar a nós mesmos que somos independentes (= os tais) e podemos inventar nossos próprios mandamentos, nossas próprias leis. Esta é a nossa maior declaração de que ninguém manda em nós, que somos os donos do nosso nariz, os donos do mundo (… e o pior é que acreditamos nisso!). Isso = nosso orgulho é maior que tudo.
11. Acontece que o Senhor – na sua misericórdia, na sua bondade (que é diferente de orgulho) - gravou no nosso coração e no coração de todo mundo uma lei especial, a lei do amor, da fraternidade, da solidariedade, da justiça, da partilha… Se não a quere-mos seguir é por pura “cabeçudice”, “burrice”. Ninguém precisa nos ensinar estas coisas, elas são inatas (= nasceram conosco, queiramos ou não), fazem parte da nossa vida.
12. Nesse mundo de hipocrisia, falsidade, mentira, em que vivemos, onde os valores humanos (só humanos…) estão invertidos, nossa vida só ganhará sentido se nos voltarmos para re-descobrir os valores (humanos e divinos) que moram dentro de nós, gravados em nosso coração. Aí então, entenderemos a mensagem do Jesus de Nazaré: se o grão de trigo não morre para si mesmo, não consegue frutificar … isto é, não dá em nada… acaba para sempre… desintegra-se…
13. Queixamo-nos da vida… que falta sentido para viver… que não somos felizes … que não vivemos contentes… Mas é lógico! Buscando-nos unicamente a nós mesmos, vivemos olhando só para nosso umbigo, para nossos interesses egoístas, para nosso único bem-estar… realmente é impossível conseguir qualquer gota de felicidade.
14. Ou tenhamos a coragem de enfrentar o desafio de Jesus ou não conseguiremos nunca sermos felizes. Se Jesus tivesse dissimulado – na hora da paixão – e buscado escapar da cruz (… como nós estamos acostumados a fazer), não teria havido ressurreição, não teria havido domingo de Páscoa. Apesar de ter sentido medo, Jesus não trapaceou, mas se entregou (grão de trigo), em lealdade e fidelidade, ao desígnio do Pai, por amor ao mundo. A grande descoberta a fazer e a aprender: amar é fazer do amor a prioridade radical da vida… e só é amor, se for até o fim (isto é = chegar até a entrega total, na cruz).
15. Paulo nos faz saber que Jesus aprendeu, – sofrendo, – a obedecer e que nós, nos momentos de escuridão, de desânimo, de dor e de angústia, – como Jesus, – devemos novamente aprender a obedecer.
16. Cada um de nós já viveu “situação-limite”, – quando, acreditando ter domínio completo sobre nós e sobre o mundo ao nosso derredor e uma fé inabalável, – nos defrontamos com situações e provações que exigem uma re-atualização das forças da nossa fé e um re-aprender a esperança, a partir do zero. Esta é a hora de nos defrontar-mos com o Crucificado: olhar longamente para ele e deixá-lo entrar em nós.
17. Jesus nos legou o testemunho da sua vida para que – ao seguir o seu caminho - tenhamos um novo olhar sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre a natureza, sobre o futuro das nossas vidas. Descortinar no horizonte a realidade que acontecerá, ver na ressurreição o significado para o sofrimento presente, ver na vida eterna a explicação da dor, do sofrimento, da morte. Vale as palavras de Roger Garaudy: “ver a borboleta na larva, a santa na prostituta, a águia no ovo, o irmão em meu próximo e em meu distante, e, no sorriso efêmero do jasmim, a ressurreição eterna da primavera” (da reflexão do P. Paulo Botas, mts)
18. Eu sou o vosso Deus, e vós sois o meu povo! Deus disse que é o seu Deus, o meu Deus, o nosso Deus! Mesmo sendo Filho de Deus, aprendeu o que significa obediência por aquilo que sofreu! Quem se agarra à sua vida, perde-a. Quem despreza sua vida neste mundo, guarda-la-á para a vida eterna!
prof. Ângelo Vitório Zambon
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1. O caminho quaresmal que a liturgia está nos oferecendo, não é apenas um itinerário espiritual, mas também existencial. Fitar os olhos em Jesus, como a liturgia quaresmal exige, não é apenas uma busca de mais intensidade espiritual, mas visa aprimorar o conhecimento daquele que revela o homem ao homem. Nessa altura, podemos afirmar que quanto mais conheceremos a Jesus tanto mais melhoraremos a nossa humanidade. E é este, também, o sentido profundo de uma autentica caminhada de fé: o aprimoramento da nossa natureza, para uma existência mais plena e realizada.
 Neste sentido, as leituras de hoje nos oferecem pelo menos três conselhos.
2. “Imprimirei minha lei em suas entranhas e hei de inscreva-la em seu coração” (Jer 31,33).
O primeiro caminho rumo uma humanidade mais autentica, é o caminho da interiorização. Conforme a profecia de Jeremias, depois de Jesus é impossível conhecer a Palavra de Deus e os seus mandamentos, a não ser através de um constante esforço de interiorização. Através do Batismo, de fato, o Espírito Santo derramou o amor de Deus em nós (cf. Rom 5,5). É no nosso coração que Deus decidiu escrever a sua lei, para que cada homem e mulher tivessem a possibilidade de ter acesso a sua Palavra. Só que para isso acontecer, é necessário um caminho de interiorização, que leve progressivamente as pessoas ao centro de si mesmas, para aprender a lei que Deus escreveu no coração. Uma vida mais silenciosa, marcada para uma busca constante de Deus, deve ser a característica do cristão.
“Não sair de ti mesmo, mas entra em ti mesmo, pois é dentro de ti que a verdade mora” (S. Agostinho). Um cristão é tanto mais sábio quanto mais não desperdiça as forças espirituais fora de sim, mas aprende os benefícios da vida interior procurando o silencio fora e dentro de sim. É, de fato, dentro de sim, que o cristão aprende que Deus exige uma reposta pessoal. Somente saindo do mundo da multidão anônima rumando o caminho da interioridade, o cristão conseguirá aprender a própria identidade de filho amado pelo Pai, filho chamado a manifestar o amor do Pai no mundo.  
3. Mesmo sendo filho aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu” (Heb. 5, 8).
O segundo conselho que a liturgia da Palavra hoje nos oferece, para uma humanidade mais conforme a imagem de Deus que em Cristo se revelou, é a capacidade de integrar o sofrimento na própria experiência existencial. Se for verdade que o mundo faz de tudo para afastar e distrair o homem de qualquer forma de sofrimento e dor, do outro lado a Palavra de Deus encarnada em Jesus, nos revela que o sofrimento é caminho necessário para o amadurecimento da humanidade. De fato, qualquer experiência de sofrimento, seja física que espiritual, exige uma resposta pessoal. Ninguém pode ser substituído na ora da dor: sou eu mesmo que sofro e nenhum outro. O mundo busca distrair o homem no momento da dor por causa do medo da solidão que ela provoca. O mundo aborreci a solidão, pois nela surge a possibilidade de o homem se escutar e, desta maneira, de escutar também a voz de Deus. É isso que Jesus nos ensina. Na hora da dor não se fechou em si mesmo, procurando aliviar de qualquer forma o sofrimento, mas no silencio buscou a consolação do Pai. É no sofrimento que de uma forma mais profunda e autentica, o homem encontra a possibilidade de fazer a experiência de Deus. É no sofrimento que o homem vive ao mesmo tempo a experiência do tempo presente e do próprio limite. Por isso mais uma vez, é o sofrimento que Deus, de uma maneira toda especial e profunda se oferece ao homem para um conhecimento novo. Sem duvida nenhuma o homem naturalmente foge da experiência da dor. A Igreja, mestra de humanidade (Paulo VI), ajuda o homem a encontrar-se com Deus, ajudando-o a não fugir da própria dor, da própria cruz. A Igreja poderá fazer isso somente se ela mesma, nos seus lideres e nos fieis, saberá viver aos pés da cruz. Esta é a misteriosa vocação da Igreja.
Esta escuta de Deus, que o homem realiza no momento da dor, visa criar um coração obediente. Jesus, diz o texto da carta aos Hebreus, aprendeu a obediência. Isso quer dizer duas coisas. Em primeiro lugar, que o homem não nasce obediente: é algo que deve ser alcançado. Então, se apesar de tantos esforços espirituais, encontramos ainda em nós traços de desobediência, não podemos ficar aflitos demais: a obediência é algo que aprenderemos ao longo do caminho da vida. Do outro lado a carta aos Hebreus nos ensina que a obediência é exatamente o fruto da caminhada de fé.
4. O ultimo conselho que podemos abstrair das leituras e hoje, o encontramos no Evangelho.
“Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto” (Jo. 12, 24).
Ninguém quer ser “só um grão de trigo”, ou seja, apenas um homem, uma mulher. Deus criou o homem, a mulher para serem filhos e filhas de Deus: é este o fruto que devemos produzir, a grande vocação á qual Deus nos chamou! Só que, para realizar isso, existe um preço a ser pago ou seja, a morte dos nossos instintos egoístas ou, como diria São Paulo, a morte do homem velho (Col. 3,1 ss.)O problema é serio porque, na realidade, somos apegados de mais ao nosso homem velho. Apesar do caminho de fé, muitas vezes, nas horas decisivas da vida, não é a Palavra de Deus que procuramos, mas os nossos critérios humanos. É o nosso egoísmo a lei que, apesar de tudo, guia a nossa existência. Vaidade, ciúme, inveja, etc., são todos sentimentos que desvendem o apego a nós mesmo, a nossa vida, ao nosso jeito de viver do qual não queremos abrir mão de jeito nenhum. Por isso em tantos jovens que Deus chama para uma vida de consagração plena a Ele, se encontra tanta resistência, que muitas vezes, desemboca numa recusa. Quem não se decide, é o egoísmo que irá se decidir para ele. Quem tentar segurar a própria vida, adiando uma decisão definitiva, perderá-la-á para sempre. Decidir-se para Deus, tomando nas mãos a própria vida e não deixando a vida me arrastar aonde ela quiser, é morrer ao mundo.
Quem morrer ao mundo viverá para Deus, em Deus, com Deus.
padre Paolo Cugini
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“A morte não tem a última palavra”
Refletimos no domingo passado (18) sobre o texto do Evangelho (João 2,13-25) que apresentou o episódio do Templo. Concluímos que o Reino de Deus está ao alcance de todos; que muitas pessoas por opções que fazem se excluem e se fecham diante de Deus, preferindo o caminho das trevas. Aprendemos que a melhor opção é o caminho de luz que é Jesus. Neste 5º Domingo da Quaresma o evangelista usa a imagem da semente para significar o caminho pelo qual Jesus irá passar (João 12,20-33). Estamos chegando ao final da Quaresma, aproxima-se a celebração da Semana Santa e recordaremos o momento mais alto da vida de Jesus: Sua morte na cruz e sua ressurreição no 3º dia. Olhando para Jesus no momento de sua morte, compreendemos esta passagem do Evangelho de hoje. “Se o grão de trigo caído na terra não morrer, fica só; se morrer produz muito fruto”. Jesus ensina que a morte não tem a última palavra. A morte é apenas uma passagem (travessia), pois é necessário que o grão de trigo caia na terra e morra para poder produzir frutos. O sacrifício na cruz foi um passo necessário para firmar a Nova Aliança que Jesus selou com seu sangue derramado para que todos tenham vida. Portanto, a morte não tem a última palavra. Cristo Jesus ressuscitou e com Ele também nós ressuscitaremos. A cruz transforma-se em sinal de vida. O símbolo que o cristão leva consigo, é sinal do triunfo da vida sobre a morte.
A grande festa da Páscoa Cristã se aproxima. Nestes poucos dias que faltam queremos jejuar alegremente de certas coisas e também fazer festa de outras: Queremos jejuar de julgar os outros e festejar porque Deus habita neles; jejuar das trevas da tristeza e celebrar a luz; jejuar de pensamentos e palavras doentias e alegrar-se com palavras carinhosas e edificantes; jejuar do ódio e festejar a paciência santificadora; jejuar de preocupações, queixas e egoísmos e festejar a esperança;
Pedro Scherer
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"Morrer para frutificar"
Capitão Tininho era o nome de um grão de feijão, que certa ocasião usei como cobaia, na minha adolescência, para saber como era o desenvolvimento das plantas. Na minha fantasia, o Capitão Tininho retrucou, mas eu o convenci de que ele iria se tornar um herói, e poderia até quem sabe, reescrever a “Viagem ao Centro da Terra”, na visão de um grão de Feijão, e então ingenuamente ele aceitou. Ainda fantasiando, cavei um buraco, fiz um belo discurso para a “tropa” reunida ali, e aplaudimos o Capitão Tininho, que coloquei com carinho no buraco e jogamos a terra por cima. Todos os dias eu regava e revolvia a terra até que em uma manhã surgiu um brotinho quase invisível, fiquei eufórico, era como se estivesse nascendo um filho.
Quando finalmente o pezinho de feijão estava “espigadinho” inclusive com algumas folhas, reuni a “tropa”, na minha fantasia, e começamos aquilo que eu chamei de “Operação retorno”, mas cadê o coitado do Capitão Tininho? Examinei cuidadosamente a raiz do meu pé de feijão, e não tinha nem vestígio do meu herói, de noite comentei com um colega na aula de ciência, que sorriu e me explicou friamente que o Capitão Tininho tinha “esticado a canela”.
Não entendendo perguntei: “Você quer dizer que ele morreu?” E o colega esclareceu que se o Tininho não tivesse morrido, eu não teria o meu pé de feijão. Ainda na minha fantasia, no outro dia reuni a tropa e comuniquei oficialmente o ocorrido “Ele morreu como um herói, nessa missão perigosa” – disse em meu discurso, dando assim por encerrada a minha experiência, concluindo que no ciclo das plantas, senão houver morte, a vida não terá continuidade.
Por isso, no primeiro contato com esse evangelho, quando ministro da palavra, nos anos 80, comentei com meus botões “Eis aqui mais um Capitão Tininho”, referindo-me ao grão de trigo da parábola que Jesus contou em Jerusalém, praticamente às vésperas da sua paixão e morte. Qualquer criança em idade escolar, bem cedo irá aprender que a semente morre nas profundezas da terra, para poder brotar nova plantinha. Mas na dimensão teológica, como poderíamos interpretar esse ensinamento de Jesus, o que significa morrer, nesse sentido?
Eu diria que a morte de Jesus teve início com a sua encarnação, pois no paraíso, o homem sentiu-se tão importante que teve a pretensão de ser o Deus - Todo Poderoso, conhecedor do Bem e do Mal, e senhor de todos os seus atos, enquanto isso, para iniciar a obra da salvação, o Deus Todo Poderoso se fez tão pequeno, que se tornou homem. Essa pequenez de Jesus está diretamente ligada à sua missão – eu vim para servir.
Poderíamos até afirmar que pequeno, é todo aquele que serve, é aquele que sabe partilhar com os outros, aquilo que tem inclusive os carismas. Na teologia judaica, a glorificação divina estava reservada aos justos, que no pós-morte seriam levantados por Deus para nunca mais morrerem. Ora, todas as personalidades bíblicas do A.T são uma prefiguração de Jesus e em alguns gêneros literários, como os evangelhos, por exemplo, encontramos em Mateus uma relação mais direta de Jesus com Moisés. Com a Salvação, Jesus insere de novo o homem na plenitude original do paraíso, sendo esse o anúncio que ele faz aos discípulos no evangelho desse quinto domingo da quaresma, com a afirmativa própria de João de que “Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado”.
Quando o homem busca a santidade e a perfeição em todas as suas ações e pensamentos, manifestando fidelidade ao projeto de Deus, revelando o amor ágape em suas relações com o próximo a glorificação não é simplesmente um prêmio divino, por ele ter sido bom, mas é o resgate perfeito da imagem original de cada ser humano, enquanto imagem e semelhança de Deus, é a volta do Filho pródigo à casa do Pai, recuperando a dignidade perdida com o pecado. Esse processo aconteceu primeiro com Jesus de Nazaré, chamado nas cartas paulinas de primogênito de todas as criaturas e embora não tivesse nele nenhum pecado, ao receber a glória, também glorificou o Pai, que agora poderá olhar o homem realmente como Filho, e restabelecer com ele uma vida de comunhão, para comunicar a sua graça.
É este precisamente o caminho do cristão, não há nenhum outro, é o mesmo caminho de Jesus, o caminho do serviço, do amor ágape, da doação, da fidelidade ao Pai, do despojamento e do esvaziamento, e tudo isso significa “morrer” para si mesmo, ou deixar-se morrer para que o irmão seja bem servido e tenha mais vida. A comunidade é o lugar ideal para se viver a vocação do grão de trigo, morrer para atingir a plenitude, uma linguagem e um ensinamento estranho, para uma sociedade onde ainda prevalece, em todos os segmentos, a famosa Lei de Gerson...
diácono José da Cruz
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Responder a quem quer “ver Jesus”
Com o aproximar-se daquela Páscoa tão importante para Jesus, a chegada de alguns peregrinos gregos a Jerusalém (Evangelho) causa como que uma explosão luminosa sobre o mistério que se aproxima. Eram pessoas de língua e cultura helênica, convertidos ao judaísmo ou pelo menos simpatizantes. Eram as primícias dos povos pagãos, chamados, também eles, a pôr-se a caminho de Jerusalém, para aprender as vias do Senhor, como o profeta tinha anunciado (Is. 2,3).
O desejo manifestado por aqueles peregrinos tem um vasto significado missionário: “Queremos ver Jesus” (v. 21). A pergunta vai mais além de uma simples curiosidade de conhecer a estrela do momento. Eles vêm de longe, pertencem a um outro povo, a viagem foi certamente cansativa e cara, tinham-se posto ao caminho por motivos espirituais... Agora desejam ver Jesus: não só para o cumprimentar, mas para conhecer a sua identidade profunda, captar a sua mensagem de vida. Há um outro detalhe missionário: para chegar até Jesus, eles passam através de intermediários da sua mesma cultura, Filipe e André, únicos com nome grego entre os apóstolos.
Jesus vê a densidade e a importância daquele momento: a sua hora, a hora de ser glorificado (v.23), a hora de oferecer a sua vida, a horta de ser elevado da terra para atrair todos a si (v.32), para que todos os povos alcancem a vida em plenitude. A verdadeira vida, que consiste em conhecer - isto é amar, aderir, contemplar – o único verdadeiro Deus e Aquele que ele enviou, Jesus Cristo (cfr Jo. 17,3). Não basta, porém, uma teoria qualquer sobre Jesus, é necessária a compreensão amorosa do mistério do grão de trigo, que morre para dar muito fruto (v.24).  É um elemento biográfico de Jesus: o grão que morre para dar vida é o próprio Jesus. Ele fala de si mesmo e mostra o caminho que leva à vida: o caminho que passa através da morte.    
O momento culminante do grão que morre é descrito com paixão na Carta aos Hebreus (II leitura): Com a sua morte aceite por amor, Jesus torna-se causa eficaz e exemplar de salvação “para todos aqueles que lhe obedecem” (v.9). Deste modo, no sacrifício pascal de Cristo e na efusão do Espírito Santo, realiza-se a nova aliança (I leitura): é superada a antiga aliança fundada sobre as pedras da Lei, e abre-se espaço à nova, radicada no coração e na vida (v. 33) das pessoas que se deixam conduzir pelo Espírito.
Aqueles peregrinos gregos que pedem para ver Jesus assumem para nós um valor emblemático: representam as pessoas e os povos que aspiram a uma mudança de vida, que buscam a Deus com coração sincero. Algumas vezes esse desejo é explicito, mas muitas outras é um desejo silencioso, sem palavras, não raro confuso e mesmo contraditório, mas é sempre um desejo que nasce da profundidade da vida. São verdadeiros SOS. Mais do que as palavras, frequentemente falam os gestos, as situações, os sofrimentos, tragédias e silêncios...
Quem dará resposta a estas esperanças? Precisamos de gente disponível; a resposta missionária é confiada a homens e mulheres de todos os tempos, que somos nós, cristãos. Uma resposta que deve nascer do conhecimento do Senhor Jesus e da conversão a Ele. Os cristãos, os missionários, precisam de ter ‘visto’ o Senhor, conhecê-lo intimamente; devem poder afirmar, como os apóstolos depois da ressurreição: “Vimos os Senhor!” (Jo. 20,25). “O apóstolo é um enviado, mais é, ainda antes, um ‘especialista’ de Jesus” (Bento XVI). E por isso pode anunciá-lo.
A comunicação missionária da experiência cristã assume formas diversas, segundo os tempos e as pessoas, a criatividade e as tecnologias. Olhando para o calendários dos santos evangelizadores desta semana (ver abaixo) encontramos uma variedade de modelos e de estilos de anunciar o Evangelho: S. Francisco de Paola, S. Vicente Ferrer, S. Francisco Xavier... Hoje em dia usam-se também novas técnicas. Na Coréia do Sul, por exemplo, a missão passa também via SMS: muitas pessoas que não são cristãs recebem no telemóvel versículos do Evangelho, pensamentos espirituais, notícias da Igreja... Quando o fogo da missão arde no coração, descobrem-se sempre maneiras novas de responder àqueles que querem ver Jesus
Palavra do Papa
“Jesus é o grão de trigo que morre. Deste grão de trigo morto começa a grande multiplicação do pão que continua até ao fim do mundo: ele é o pão da vida capaz de saciar de maneira superabundante a fome da humanidade inteira e de lhe oferecer o alimento vital: o Verbo eterno de Deus que se fez carne e também pão, para nós, através da cruz e da ressurreição”.
Card. Joseph Ratzinger
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PRIMEIRA LEITURA – Jr. 31,31-34
Estamos lendo um pequeno e precioso texto tirado dos capítulos 30-31 do livro do profeta Jeremias. Estes dois capítulos são chamados “Livro da Consolação de Israel”, que salienta a esperança da reconstrução da vida nacional. A Aliança antiga feita no Sinai, após a libertação do Egito, não estava conseguindo motivar o povo a uma mudança de vida. Quais eram as características da Antiga Aliança? Era externa, ritual, jurista, inscrita em tábuas de pedra. Era feita através de mediações como o sacerdócio, o templo, o sacrifício, as lideranças políticas e religiosas; tudo isso transformava a experiência pessoal do Deus libertador num código frio de leis. O texto de hoje propõe uma Nova Aliança. Quais são as características da Nova Aliança? Ela é totalmente diferente da antiga. Ela não será feita em tábuas de pedra, mas será gravada no coração de cada pessoa. Assim cada um a carregará consigo para todo o lugar e não poderá jamais esquecê-la. A partir do seu interior o homem e a mulher perceberão que eles pertencem a Deus e sentirão que Deus os ama como seu povo. Não haverá mediações, pois cada um poderá reconhecer a Deus pessoalmente e a ele dirigir suas preces. Da nossa parte uma das características básicas da nova aliança é a experiência pessoal do Deus libertador. Da parte de Deus é o dom do perdão das nossas culpas e do esquecimento do nosso pecado. É claro que esta Nova e Eterna Aliança foi realizada na cruz de Cristo.
SEGUNDA  LEITURA – Hb. 5,7-9
O tema principal da carta aos Hebreus é o Sacerdócio de Cristo. Para uma pessoa ser sumo sacerdote, o Primeiro Testamento exigia entre outras coisas uma semelhança com as pessoas pelas quais se deveria interceder através de orações e sacrifícios. Uma exigência quase desnecessária, mas lembrando-a, entendemos, porque a carta aos Hebreus insiste tanto que Jesus era um ser humano totalmente semelhante a nós e experimentou profundamente nossa condição humana menos o pecado. Na verdade, Jesus experimentou todas as conseqüências do pecado sem nunca ter pecado. Jesus rezou ao Pai “com clamor e lágrimas para que o Pai o salvasse da morte”. É uma referência à agonia de Jesus no Jardim das Oliveiras. E ele foi atendido por causa do seu profundo respeito ao Pai. No fundo ele reconheceu que é a vontade do Pai que deveria realizar-se e não a sua. Acho que nos ensina muito esta frase: “Mesmo sendo Filho aprendeu a obediência através do sofrimento”. Nós, muitas vezes, pensamos que não devemos sofrer, pois somos bons, somos filhos de Deus, somos religiosos, de comunhão diária! Queria salientar que apesar do texto dizer que Deus o podia salvar da morte, Deus não o salvou da morte, mas o salvou na morte, através da morte, com a ressurreição. Pois Jesus, de fato, morreu, mas Deus o ressuscitou. Assim também Deus não nos salva do sofrimento e da morte, mas no sofrimento e na morte, dando-nos a nova vida de ressuscitados também na morte. A última observação é que enquanto os sumos sacerdotes ofereciam um sacrifício externo, Jesus se identificou com o sacrifício, ele é sumo sacerdote e sacrifício, altar e cordeiro. Ele se tornou assim fonte de salvação eterna para todos os que lhe obedecem.
EVANGELHO – Jo. 12,20-23
Vamos salientar apenas alguns aspectos do evangelho de hoje. Os gregos, quer dizer, os não judeus, representam todos os outros povos; eles querem ver Jesus. Esta frase dos gregos: “Senhor, queremos ver Jesus”, pode significar a aspiração máxima de todo o ser humano. Ela não está longe daquela pronunciada mais tarde por Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta” (14,8). Na verdade, Jesus e o Pai são um só. A resposta de Jesus aos discípulos mediadores, Filipe e André, parece explicitar como os povos podem ver Jesus e o que significa ver Jesus. Por isso Jesus fala da hora da sua glorificação. É no alto da cruz que acontece a hora de Jesus, a qual em Caná não havia chegado ainda (2,4), embora Jesus tenha deixado transparecer uma amostra, a tal ponto que os discípulos viram a glória e creram nele (2,11). Mas na cruz, plenitude de sua glória e da glória do Pai, todos os povos (= os gregos) o verão e crerão nele, (“quando eu for levantado da terra atrairei todos a mim”). Para isso o grão de trigo tem que cair na terra e morrer. Só assim ele produzirá frutos. Jesus sabe o valor da vida presente e reconhece sua relatividade. Como ele sabe que muitos não têm uma vida digna no presente e correm o risco de perder a vida futura, ele entrega sua vida para que todos tenham vida e a tenham em abundância. Na verdade só tem a vida aquele que é capaz de entregá-la como Jesus o fez, pois é só no serviço, na doação total que o discípulo poderá seguir o Mestre. Aí sim, onde o Mestre estiver, estará também o discípulo, quer dizer, não só na cruz do seguimento, mas também na glória do Pai, pois do mesmo modo como o Pai honrou o Filho com a ressurreição, honrará também aquele que o serve. Jesus gostaria de se livrar da cruz, mas não quer fugir à sua missão, nem fazer a sua vontade, mas a vontade do Pai. É assumindo a sua cruz que o Pai é glorificado. E o Pai confirma a decisão do Filho para que todos possam crer. O julgamento do mundo acontece junto com a glória do Pai e do Filho, pois a morte de Jesus é ao mesmo tempo salvação para todos os que se deixarem atrair por ele (os gregos) como também condenação para todos aqueles que não querem ver Jesus (ou seja, os chefes deste mundo).
Dom Emanuel Messias de Oliveira 
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Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só – João 12, 20-33
20. Havia alguns gregos entre os que subiram para adorar durante a festa. 21. Estes se aproximaram de Filipe (aquele de Betsaida da Galiléia) e rogaram-lhe: Senhor, quiséramos ver Jesus. 22. Filipe foi e falou com André. Então André e Filipe o disseram ao Senhor. 23. Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado. 24. Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto. 25. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna. 26. Se alguém me quer servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará. 27. Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?… Pai, salva-me desta hora… Mas é exatamente para isso que vim a esta hora. 28. Pai, glorifica o teu nome! Nisto veio do céu uma voz: Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo. 29. Ora, a multidão que ali estava, ao ouvir isso, dizia ter havido um trovão. Outros replicavam: Um anjo falou-lhe. 30. Jesus disse: Essa voz não veio por mim, mas sim por vossa causa. 31. Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo. 32. E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim. 33. Dizia, porém, isto, significando de que morte havia de morrer.
Comentário Litúrgico:
“Vimos ao encontro do Senhor, atraídos por seu amor. Com a experiência do grão que morre para nascer e produzir frutos, aprendemos que seguir a Cristo implica comungar da sua vida e do seu destino. Fazemos memória da páscoa de Jesus, que se realiza nas pessoas que, a exemplo dele, gastam a vida em favor dos outros”.
O Beato João Paulo II resumiu assim esse Evangelho:“Hoje ouvimos o Senhor Jesus anunciar a sua morte. Este é já o quinto domingo da Quaresma; aproximamo-nos muito da Semana Santa, do Tríduo Sacro que nos recordará de novo, de maneira especial, a Sua paixão, morte e ressurreição. Por isso, as palavras, com que o Senhor anuncia o Seu fim agora próximo, falam da glória: Chegou a hora de ser glorificado o Filho do homem … Agora a minha alma está perturbada; e que direi Eu? … Pai, glorifica o Teu nome (Jo. 12, 23.27-28). E, por último, pronuncia as palavras que tão profundamente manifestam o mistério da morte redentora: Agora é que é o julgamento deste mundo … E Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim (Jo. 12, 31-32). Aquela elevação de Cristo acima da terra é anterior à elevação para a glória: elevação no madeiro da Cruz, elevação de martírio, elevação mortal”.
Versículos 20 -  23: “Havia alguns gregos entre os que subiram para adorar durante a festa. Estes se aproximaram de Filipe (aquele de Betsaida da Galiléia) e rogaram-lhe: Senhor, quiséramos ver Jesus. Filipe foi e falou com André. Então André e Filipe o disseram ao Senhor. Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado”.
“Senhor, quiséramos ver Jesus” (V.21)-  O Papa Bento XVI explicou: “Alguns gregos, prosélitos do judaísmo, curiosos e atraídos por quanto Jesus ia realizando, aproximaram-se de Filipe, um dos Doze que tinha um nome grego e vinha da Galileia: “Senhor, disseram-lhe, queremos ver Jesus”. Filipe, por sua vez, chamou André, um dos primeiros apóstolos muito próximo do Senhor, também ele com um nome grego, e ambos, foram dizê-lo a Jesus.Por intermédio de dois Apóstolos de língua grega, Filipe e André, fazem chegar ao Senhor o pedido dos gregos: Queremos ver Jesus”.
Nesses mais de dois mil anos da história do cristianismo, um número incontável de pessoas de todas as raças, povos e línguas quiseram ver Jesus. Todos nós temos sede de Deus. E ao encontrarmos com Jesus a nossa sede é saciada com a água do seu Espírito Santo. Assim foi com a Samaritana, assim acontece com todos nós.  Jesus disse à Samaritana: “Todo aquele que beber desta água tornará a ter sede, mas o que beber da água que eu lhe der jamais terá sede. Mas a água que eu lhe der virá a ser nele fonte de água, que jorrará até a vida eterna”. (Jo. 4, 13-14)
“É chegada a hora para o Filho do Homem ser glorificado”(V. 23b) - O Beato João Paulo II disse que a morte de Cristo  “é o penhor da vida, é a fonte da vida para todos nós. O Eterno Pai dispôs esta morte na ordem da graça e da salvação, assim como está estabelecida, na ordem da natureza, a morte do grão de trigo debaixo da terra, a fim de que possa dele brotar a espiga dando fruto abundante. E depois deste fruto, que se torna pão quotidiano, alimenta-se o homem. Também o sacrifício, realizado na morte de Cristo, se tomou alimento das nossas almas sob as aparências do pão”. A Ressurreição é a glorificação de que Jesus falava.
Versículos 24 – 25: “Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só; se morrer, produz muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna”.
O grão de trigo precisa morrer para produzir fruto- Jesus referia-se a Sua própria morte e a Sua Ressurreição. Foi preciso que o Senhor morresse na cruz para que perdoados de nossos pecados, possamos ressurgir para a vida eterna.  O Beato João Paulo II disse: “O grão de trigo, caído na terra é antes de tudo Cristo, que no Calvário morreu e foi sepultado na terra para dar a vida a todos”.
É comum buscarmos fugir da dor que alguns acontecimentos causam em nossos corações, mas é preciso passar pelos sofrimentos com dignidade para então encontrarmos consolação. A Palavra diz: “Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações”. (2Cor. 1, 5)
Dar mais valor aos bens do céu do que aos bens terrenos – Não devemos amar a vida presente e tudo o que ela proporciona de conforto e prazer mais do que a conquista da vida eterna. O pouco tempo que temos aqui nessa vida, deve ser aproveitado para fazer o bem. Lembremo-nos dos santos da Igreja, que assim agiram e receberam a recompensa de Deus.  Padeceram com Cristo, mas ressuscitaram com Ele.
O Papa Bento XVI ensinou: “Aborrecer (odiar) a própria vida é uma expressão semítica forte e paradoxal, que ressalta bem a totalidade radical que deve distinguir quem segue Cristo e se põe, por amor a Ele, ao serviço dos irmãos: perde a vida e assim a encontra. Não existe outro caminho para experimentar a alegria e a verdadeira fecundidade do Amor: o caminho do dar-se, do doar-se, do perder-se para se encontrar”.
Precisamos gastar o nosso tempo na terra não só conosco mesmo, mas também com os irmãos que necessitam de nosso auxílio e de nossa solidariedade. O Beato João Paulo II disse: “Uma difundida cultura do efêmero, que atribui valor só àquilo que parece belo e ao que agrada, quereria fazer-vos acreditar que a Cruz deve ser removida. Esta moda cultural promete sucesso, carreira rápida e afirmação de si a qualquer custo; convida a uma sexualidade vivida sem responsabilidade e a uma existência sem projetos e privada de respeito pelos outros”.
E o Catecismo (2820) ensina: “A vocação do homem para a vida eterna não suprime, antes reforça, o seu dever de aplicar as energias e os meios recebidos do Criador no serviço da justiça e da paz neste mundo”.
Versículo 26: “Se alguém me quer servir, siga-me; e, onde eu estiver, estará ali também o meu servo. Se alguém me serve, meu Pai o honrará”.
Seguir a Jesus é andar pelo mesmo caminho que o Senhor andou, tanto no caminho do sofrimento, quanto no caminho da glória. Santo Inácio de Loyola escreve que Nosso Senhor chama a todos e diz: « Quem quiser vir comigo, tem trabalhar comigo, para que seguindo-me na pena, me siga também na glória ».
“Se alguém me quer servir, siga-me” (V. 26a) – O Papa Bento XVI disse: “Servir significa não fazer o que me proponho, o que seria para mim mais agradável; servir significa deixar-me impor o peso do Senhor, o jugo do Senhor; servir quer dizer não me comportar segundo as minhas preferências, as minhas prioridades, mas deixar-me realmente assumir ao serviço pelo outro”.
Servir a Cristo é servir aos irmãos e exige humildade e fidelidade ao projeto do Senhor – O Papa Bento XVI ensinou:  “Não pedimos louvores, não queremos pôr-nos em evidência, não é para nós critério decisivo pensar no que dirão de nós nos jornais ou alhures, mas o que diz Deus. É esta a verdadeira humildade: não nos exibirmos diante dos outros homens, mas estar sob o olhar de Deus e trabalhar com humildade para Deus e assim servir realmente também a humanidade e os homens”.
São Paulo nos dá exemplo de como servir ao Evangelho, renunciando a si mesmo -  “…eu me fiz servo de todos para ganhar o maior número possível. Para os judeus fiz-me judeu, a fim de ganhar os judeus. Para os que estão debaixo da lei, fiz-me como se eu estivesse debaixo da lei, embora o não esteja, a fim de ganhar aqueles que estão debaixo da lei. Para os que não têm lei, fiz-me como se eu não tivesse lei, ainda que eu não esteja isento da lei de Deus – porquanto estou sob a lei de Cristo -, a fim de ganhar os que não têm lei. Fiz-me fraco com os fracos, a fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para todos, a fim de salvar a todos. E tudo isso faço por causa do Evangelho, para dele me fazer participante. (1Cor. 9, 19-23)
Eis aqui a serva do Senhor -  “Foi por obediência à Palavra de Deus que Maria Santíssima acolheu a sua vocação privilegiada, mas nada fácil, de esposa e mãe da família de Nazaré. Pondo-Se ao serviço de Deus, Ela colocou-Se também ao serviço dos homens: um serviço de amor. Este mesmo serviço permitiu-Lhe realizar na sua vida a experiência de um misterioso, mas autêntico  reinar”. (Vaticano)
O Próprio Jesus nos dá lição de como ser um verdadeiro servo:  “Não seja assim entre vós. Todo aquele que quiser tornar-se grande entre vós, se faça vosso servo. E o que quiser tornar-se entre vós o primeiro, se faça vosso escravo. Assim como o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate por uma multidão”. (Mt. 20, 26-28)
Versículos 27 – 29: “Presentemente, a minha alma está perturbada. Mas que direi?… Pai, salva-me desta hora… Mas é exatamente para isso que vim a esta hora. Pai, glorifica o teu nome! Nisto veio do céu uma voz: Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo.  Ora, a multidão que ali estava, ao ouvir isso, dizia ter havido um trovão. Outros replicavam: Um anjo falou-lhe”.
Jesus sente que já se aproxima a hora da sua Paixão e Morte e sua alma fica perturbada. O Papa Bento XVI ensinou que não falta a adesão filial de Jesus Cristo “ao desígnio divino, porque precisamente por isso sabe que chegou a sua hora, e reza com confiança: “Pai, glorifica o teu nome” (Jo. 12, 28). Com isso Ele quis dizer:  “Aceito a cruz” –  na qual se glorifica o nome de Deus, isto é, a grandeza do seu amor”.
Se estivermos em situação de desespero, medo ou dor olhemos confiantemente para Aquele que passou tantos sofrimentos por nós, Jesus, e peçamos a Ele que nos liberte e nos conforte. O Papa Bento XVI disse: “E que hei-de dizer? Pai, salva-me desta hora?»(V. 27b) Como ser humano, também Jesus Se sente impelido a pedir que Lhe seja poupado o terror da paixão. Também nós podemos rezar deste modo. Podemos também lamentar-nos na presença do Senhor, como Jó, apresentar-Lhe todas as interrogações que surgem em nós à vista da injustiça no mundo e da dificuldade do nosso próprio eu”.
Jesus clama: Pai glorifica o teu nome! (V. 28) – E o Pai responde a Jesus: “Já o glorifiquei e tornarei a glorificá-lo”. (V. 28b) – O louvor é uma oração poderosa que dirigimos a Deus. Os Salmos, em sua maioria, são repletos de louvor e adoração ao Senhor. A Palavra diz: “Bendirei continuamente ao Senhor, seu louvor não deixará meus lábios. Glorie-se a minha alma no Senhor; ouçam-me os humildes, e se alegrem. Glorificai comigo ao Senhor, juntos exaltemos o seu nome. Procurei o Senhor e ele me atendeu, livrou-me de todos os temores”. (Sl. 33, 2-5)
O Catecismo (2639) diz:  “O louvor é a forma de oração que mais imediatamente reconhece que Deus é Deus! Canta-O por Si próprio, glorifica-O, não tanto pelo que Ele faz, mas sobretudo porque ELE É”.
Versículos 30- 33:  “Jesus disse: Essa voz não veio por mim, mas sim por vossa causa.  Agora é o juízo deste mundo; agora será lançado fora o príncipe deste mundo. E quando eu for levantado da terra, atrairei todos os homens a mim. Dizia, porém, isto, significando de que morte havia de morrer”.
“Agora será lançado fora o príncipe deste mundo”(V. 31b) -  Com sua Morte e Ressurreição Jesus Cristo nos deu a vitória sobre o mal – O Catecismo da Igreja (2853) nos ensina:  “A vitória sobre o príncipe deste mundo foi alcançada, duma vez para sempre, na Hora em que Jesus livremente Se entregou à morte para nos dar a sua vida. Foi o julgamento deste mundo, e o príncipe deste mundo foi lançado fora. Com a morte de cruz e sua ressurreição Jesus Cristo venceu por nós todo o mal. Somos livres. Cristo nos libertou!”
“Atrairei todos os homens a mim”. (V. 32b) -  “O que é que “atrai” neste Condenado que agoniza na cruz? Certamente a vista dum sofrimento tão intenso desperta compaixão. Mas a compaixão é demasiado pouco para levar a vincular a própria vida com Aquele que está pregado na cruz. Como se explica que tão pavorosa vista tenha atraído, de geração em geração, inumeráveis multidões de pessoas que fizeram da cruz o distintivo da sua fé? Multidões de homens e mulheres que, ao longo dos séculos, viveram e deram a vida com os olhos fixos naquele sinal?” (Via Crucis)
Em todas as situações difíceis, ou não, de nossas vidas, olhemos sempre para o alto onde está a cruz de Cristo. Ali está o nosso salvador, Aquele que pode dar alívio para nossas dores. Santo Agostinho disse: “Cristo sofreu; morramos para o pecado. Cristo ressuscitou; vivamos para Deus. Cristo passou deste mundo para o Pai; não se separe aqui o nosso coração, mas siga-o nas coisas do alto. O nosso Deus foi pendurado no madeiro; crucifiquemos a concupiscência da carne. Jazia no sepulcro; sepultados com Ele esqueçamos as coisas passadas. Está sentado no céu; transfiramos os nossos desejos para as coisas supremas”.
Concluímos essa reflexão com as palavras de São Luís de Montfort, que proclama a fé cristológica da Igreja:  “Jesus Cristo é o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, de todas as coisas [...] Ele é o único mestre que nos deve instruir, o único Senhor do Qual dependemos, a única cabeça à qual devemos estar unidos, o único modelo ao qual devemos assemelhar-nos, o único médico que nos deve curar, o único pastor que nos há-de nutrir, a única via que nos deve conduzir, a única verdade em que devemos crer, a única vida que nos deve vivificar, o único tudo que nos deve bastar em todas as coisas [...]”
Oremos com:
O Salmo 110:  “Aleluia. Louvarei o Senhor de todo o coração, na assembléia dos justos e em seu conselho.Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração de todos os que as amam. Sua obra é toda ela majestade e magnificência. E eterna a sua justiça. Memoráveis são suas obras maravilhosas; o Senhor é clemente e misericordioso. Aos que o temem deu-lhes o sustento; lembrar-se-á eternamente da sua aliança. Mostrou ao seu povo o poder de suas obras, dando-lhe a herança das nações pagãs. As obras de suas mãos são verdade e justiça, imutáveis os seus preceitos, Irrevogáveis pelos séculos eternos, instituídos com justiça e eqüidade. Enviou a seu povo a redenção, concluiu com ele uma aliança eterna. Santo e venerável é o seu nome. O temor do Senhor é o começo da sabedoria; sábios são aqueles que o adoram. Sua glória subsiste eternamente”.
O Beato João Paulo II: “Com o olhar voltado para Cristo crucificado, em união espiritual com a Virgem Maria, continuemos o nosso caminho, sustentados pelo poder da Ressurreição”.
O canto da Igreja: “Só por Ti, Jesus, só por Ti, Jesus. Só por Ti, Jesus,  quero me consumir, Como vela que queima no altar, me consumir de amor. Só em Ti, Jesus,  quero me derramar, Como o rio se entrega ao mar, me derramar de amor”.
Jane Amábile
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Evangelho de Nossa Senhor Jesus Cristo segundo São João (Jo 12, 20-33)
20 Naquele tempo, alguns gregos que tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias da Festa, 21 foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». 22 Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. 23 Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. 24 Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. 25 Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conserva-la-á para a vida eterna. 26 Se alguém me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém me servir, meu Pai o honrará. 27 Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. 28 Pai, glorifica o teu nome». Veio então do Céu uma voz que dizia: «Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l'O». 29 A multidão que estava presente e ouvira dizia ter sido um trovão. Outros afirmavam: «Foi um anjo que Lhe falou». 30 Disse Jesus: «Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir; foi por vossa causa. 31 Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado. Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo. 32 E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim». 33 Falava deste modo, para indicar de que morte ia morrer.
O contexto
 Estamos no final do “livro dos sinais” que é a chave interpretativa que João usa no seu Evangelho, e já se está perfilando o encontro mortal entre a classe dirigente e Jesus. Esta passagem é como um elo entre o que até agora João contou e se conclui com esta aparição das “gentes” (assinaladas por estes “gregos”), e o que está para suceder. João subdivide os próximos acontecimentos em dois âmbitos. O primeiro âmbito é o diálogo unicamente com os discípulos no contexto da ceia pascal (cc 13-17), e o outro âmbito é a cena pública da paixão e depois a aparição do ressuscitado (cc 18-21).
Este episódio, talvez não de todo real, quer assinalar que a abertura às gentes começou já com o próprio Jesus. Não se trata tanto de andar a convencer os outros acerca de qualquer coisa, mas de acolher sobretudo a sua busca e levá-la à maturidade. E esta maturidade não se alcança senão com a colaboração dos outros e com um diálogo com Jesus. Não se diz se Jesus falou a estes “gregos”: o texto parece abreviar a narração, fazendo levar de imediato à evidência de que “tipo de Jesus” se devem acercar aqueles que o procuram. Trata-se do Jesus que oferece a vida, que dá frutos através da morte. Não, portanto, um Jesus “filósofo”, “sábio”, mas sobretudo aquele que não está agarrado à própria vida, mas a doou e se colocou ao serviço da vida de todos.O que se diz nos versículos 27-33 em que se manifesta a angústia e a perturbação de Jesus diante da morte iminente, é chamado também o “Getsémani do IV Evangelho”, em paralelo com a narração dos Sinópticos sobre a vigília dolorosa de Jesus no Getsémani. Como acontece com o trigo, que só se rompendo e morrendo pode libertar toda a sua vitalidade, do mesmo modo Jesus morrendo mostrará todo o seu amor que dá vida. A história da semente é a história de Jesus e de todo o discípulo que o quer servir e ter vida n'Ele.
Algumas perguntas
a) Por que foram precisamente Filipe e André os interpelados?
b) O que verdadeiramente procuravam estes “gregos”?
c)Também nós recebemos às vezes perguntas semelhantes sobre a fé, a Igreja, a vida cristã?
d) Não parece que Jesus se tenha encontrado com estes “gregos”, mas confirmou a proximidade da sua “hora”. Por que falou desta maneira?
e) Jesus queria que respondessem com fórmulas ou antes com testemunhos?
“Senhor, queremos ver Jesus”
Trata-se de uma pergunta que fazem alguns “gregos” a Filipe. Deles diz-se que “tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias da Festa”. Provavelmente são aqueles “tementes a Deus” de que se fala frequentemente nos textos neotestamentários, simpatizantes da religião hebraica, ainda que não sejam verdadeiramente judeus. Podiam ser somente de origem sírio-fenícia, como indica Marcos com a mesma palavra (Mc. 7, 26) quando fala da mulher que pede a cura da filha. No pedido que fazem podemos encontrar somente curiosidade de se aproximarem de uma personagem famosa e discutida. Mas o contexto em que são apresentados por João, esta procura indica pelo contrário que procuravam verdadeiramente e com coração aberto. E é mesmo assim que são imediatamente apresentados como foi dito: “Olhai como toda a gente foi com Ele” (Jo. 12, 19).
E logo a notícia é comentada por Jesus como o “chegar a hora do Filho do Homem”. O fato de se terem dirigido a Filipe, e este os orientar para André, é devido ao fato de os dois serem de Betsaida, uma cidade onde as pessoas estavam misturadas e tinham necessidade de se entenderem em diferentes idiomas. As duas personagens representam de qualquer modo duas sensibilidades: Filipe é mais tradicionalista (como se vê pela frase que disse depois de ter conhecido Jesus (Jo. 1, 45)), enquanto André, que já tinha participado no movimento de João Baptista, era de caráter mais aberto à novidade (Jo. 1, 41), para indicar que a comunidade que se abre aos pagãos, que acolhe a solicitude de quem procura com um coração curioso, é uma comunidade que vive na diversidade de sensibilidades.
 “Se o grão de trigo não cai na terra...”
A resposta de Jesus parece menos dirigida aos “gregos”, que desejavam vê-lo, e mais orientada para todos, discípulos e “gregos”. Ele vê abrirem-se as fronteiras, sente a tumultuosa adesão das gentes, mas quer chamar a atenção que esta fama que o rodeia, esta “glória” que quiseram conhecer de perto, é de outro gênero da que eles talvez esperassem. Trata-se de uma vida que está para ser destruída, de uma palavra que é “silenciada”, esmagada até à morte, sepultada nas entranhas do ódio e da terra, para a fazer desaparecer. E em vez de verem uma glória ao estilo humano, estão perante uma “glória” que se revela através do sofrimento e da morte. Vale para eles como vale para toda a comunidade cristã que se quer abrir aos “gregos”. Deve “consultar” este Senhor, ou seja, deve estar em contacto com este rosto, com esta morte para a vida, deve dar a própria contemplação do mistério e não só aportar noções. Deve viver o verdadeiro despojo das seguranças e das gratificações humanas, para poder servir o Senhor e receber também ele a honra do Pai. O apego à própria vida e à sabedoria humana - e no mundo grego estes eram valores muito considerados - é o verdadeiro obstáculo ao autêntico “conhecimento de Jesus”. Servir o nome do Senhor, acolher a solicitude de quem o procura, levá-los a Jesus, mas sem viver ao estilo do Senhor, sem dar sobretudo testemunho de compartilhar a mesma escolha de vida, o mesmo dom da vida, não serve para nada.
“Agora a minha alma está perturbada”
Esta “agitação” de Jesus é um elemento muito interessante. Não é fácil sofrer, a carne revolta-se, a inclinação natural faz fugir do sofrimento. Também Jesus sentiu esta repugnância, sentiu horror, diante da morte que se perfilava dolorosa e humilhante. Na sua pergunta “que vou dizer?”, podemos sentir este calafrio, este medo, esta tentação de subtrair-se a uma tal morte. João coloca este momento difícil antes da Última Ceia; os Sinópticos, pelo contrário, colocam-no na oração do Getsémani, antes da prisão (Mc. 14, 32-42; Mt 26, 36-46; Lc 22, 39-46). Em todo o caso, todos coincidem em sublinhar em Jesus este temor e fadiga que o torna semelhante a nós, frágil e cheio de medo.
Mas Ele enfrente esta angústia “confiando-se” ao Pai, reclamando para si mesmo que este é o seu projeto, que toda a sua vida tende precisamente para esta hora, que se revela e se assume. O tema da hora - sabemo-lo bem - é muito importante para João: veja-se a primeira afirmação nas bodas de Caná (Jo. 2, 4) e depois mais frequentemente (Jo. 4, 21; 7, 6.8.30; 8, 20; 11, 9; 13, 1; 17, 1). Trata-se não somente de um tempo determinado mas também de uma circunstância decisiva, para a qual tudo se orienta.
“Atrairei todos a mim”
Excluído pela violência homicida dos que se sentiam ameaçados, a suspensão da cruz converte-se numa verdadeira entronização, ou seja, a exposição de quem é para todos salvação e bênção. Da violência que o queria marginalizar e eliminar, passa-se à força centrípeta exercida por aquela imagem de entronização. Trata-se de “um atrair” que se gera não por curiosidade, mas por amor. Será suscitador de discipulado, de adesão em todos aqueles que saibam ir para além do fato físico, e verão n'Ele a gratuidade feita totalidade. Não será a morte ignominiosa que afastará, mas que se converterá em fonte de atração misteriosa, gramática que abre novos sentidos para a vida. Uma vida entregue que gera vida; uma vida sacrificada que gera esperança e nova solidariedade, nova comunhão, nova liberdade.
Oração
Senhor nosso Deus, afasta os discípulos do teu Filho dos caminhos fáceis da popularidade, da glória a qualquer preço, e leva-os a caminhar nos caminhos dos pobres e aflitos de toda a terra, para que saibam reconhecer nos seus rostos o rosto do Mestre e Redentor. Concede-lhes um olhar que veja os caminhos possíveis da justiça e da solidariedade; ouvidos para escutar os pedidos de sentido e salvação de tantos que procuram às apalpadelas; enriquece os seus corações de fidelidade generosa e de delicadeza e compreensão para que se tornem companheiros de caminho e testemunhas verdadeiras e sinceras da glória que resplandece no Crucificado, Ressuscitado e Vitorioso. Ele vive e reina glorioso contigo, ó Pai, pelos séculos dos séculos.
Jesus é caminho que nos conduz ao Pai. A Quaresma é um momento propício de retomar nosso seguimento. O ato de querer ver Jesus é unido ao ato de querer segui-Lo e conhecê-Lo. Em cada Domingo deste período fomos convocados a reforçar nosso seguimento:
1º Domingo: encontramos o Senhor que estabelece uma aliança duradoura conosco; o Batismo de Jesus e o nosso Batismo em Cristo é agora a nova Aliança estabelecida por Deus. Fortalecido pela graça batismal, o cristão tem forças para superar as tentações do mundo presente.
2º Domingo: percebemos que quem deseja estar com o Senhor deve manter-se fiel a Ele. Abraão e Paulo nos dão o exemplo de fé e fidelidade. Este ato humano pode nos levar a contemplar o Filho muito amado do Pai.
3º Domingo: seguimos o itinerário quaresmal colocando o Deus vivo e verdadeiro como centro de nossa vida; essa é a perspectiva das leituras daquele Domingo:
quem adorar a Deus em espírito e verdade deve fazê-lo em Cristo, o que exige a fé e o cumprimento da lei do amor.
4º Domingo: como o povo do Antigo Testamento, muitos ainda procuram as "trevas" e não a "luz". O cristão é homem e mulher que deseja conhecer o caminho proposto por Cristo; um caminho iluminado e iluminador. Um caminho de graça que é dom de Deus.
Neste 5º Domingo da Quaresma o desejo de ver Jesus, expresso com tanta esperança pelo grupo dos gregos no evangelho, traduz uma aspiração que percorre os séculos. O jeito de Jesus viver e propor o Reino de Deus perpassa todo o horizonte histórico e atrai a atenção e o respeito dos que crêem e dos que ainda não tem fé.
Cristo é o verdadeiro Deus; Cristo é plena e totalmente verdadeiro homem; Cristo é indissoluvelmente Deus-homem, pois é impossível separar a sua divindade de sua ressurreição e de sua atuação durante a vida terrena. Vemos então a comunidade eclesial em uma posição privilegiada na qual pode contemplar a glorificação de Jesus. Ele mostra
qual o seu caminho para a glória dos que desejam vê-lo: o caminho da cruz, o caminho da obediência a Deus, o caminho da semente lançada à terra, que não fica só, mas, morrendo, produz muito fruto. Não tem outro momento, a hora é agora. Este é o momento de glorificar o Pai através de sua vida. Jesus se lança totalmente no plano do Pai e realiza
plenamente sua vontade quando passa pela paixão-morte e ressurreição.
Quem quiser ver Cristo e estar com Ele onde Ele está, isto é, no Pai, terá que acompanha-lo em sua hora. Aceitar ser semente lançada à terra, aprender a obediência com pedidos e súplicas. Este será fiel à nova aliança em Cristo anunciada por Jeremias. Deixará que Deus coloque a sua lei em seu coração e a imprima em sua mente. Deixará que Deus seja o seu Deus para assim pertencer a seu povo.
frei Gilmar Vasques Carreira, Ofm
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"Atrairei todos a mim!”
Jesus, chegando a Jerusalém para a festa da Páscoa judaica, é aclamado pela multidão de peregrinos que acorrem à cidade para o cumprimento do preceito religioso de participação nesta festa. Entre estes peregrinos encontram-se gregos, os quais se dirigem a Filipe, manifestando o desejo de ver Jesus, o qual os atrai mais do que a própria festa.
Jesus, na ocasião de seu batismo por João, disse a André e ao outro discípulo que o acompanhava, quando lhe perguntavam onde morava: "Vem e vê" (Jo 1,39). Depois, o próprio Filipe, que já havia sido chamado por Jesus para segui-lo, convidou também Natanael para o encontro com Jesus, com a mesma expressão: "Vem e vê" (Jô. 1,46). Agora são os gregos da região de Betsaida que se empenham em ver Jesus. "Ver" significa conhecer, ter a experiência da presença e do diálogo, em um tempo de convívio e comunicação com Jesus.
Filipe, diante do pedido dos gregos, vai dizê-lo a André. Filipe, bem como André e Pedro, era de Betsaida, cidade de cultura grega. Os próprios nomes de Filipe (Philippos) e André (Andréas) têm origem grega.
Quando Filipe e André falam com Jesus, ele lhes responde procurando remover qualquer equívoco. Está próximo o desenlace de seu ministério de amor e dom de si, sem temer perseguições, ameaças e morte. A sua glória não é o poder e o sucesso, mas o dom total de sua vida no amor, a ser assumido também pelos discípulos. O dom da própria vida é o ato fecundo que gera mais vida, tanto naquele que se doa como naqueles que são tocados por seu amor. A vida é fruto do amor e ela será tanto mais pujante quanto maior for a plenitude do amor, no dom total.
A metáfora do grão que se transforma exprime que o homem possui muito mais potencialidades do que aquelas que lhe são conhecidas. O grão que desaparece para dar lugar à planta e ao fruto é a conversão de vida. É libertar a vida de submissão e escravidão aos interesses dos chefes deste mundo e colocá-la a serviço de Jesus presente no nosso próximo. É alcançar a liberdade da vida eterna na prática do amor. Com o dom de si, novas e surpreendentes potencialidades se revelam. A morte, sem ser um fim trágico, pode ser também o começo de uma vida nova, mais plena, já neste mundo. Morrer para os limites e valores impostos por uma cultura de consumo e opressão, para viver livre na comunhão de amor e vida com os irmãos, particularmente os mais necessitados. Isto é servir Jesus, e assim se manifesta a glória de Jesus e a glória do Pai. Quem não teme a própria morte confunde o opressor poderoso, chefe deste mundo, e conquista a liberdade que tudo transforma pelo amor.
Viver é dar a vida e tem-se a vida à medida que ela é dada.
Se o grão de trigo não morrer...
“Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna”. São palavras que a Liturgia do 5º Domingo da Quaresma nos oferece para entendermos melhor o significado da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo.
O mistério de Deus é o mistério de uma semente que morre. A “glória” do grão de trigo é morrer para gerar uma nova vida. Também a “glória” de Jesus, manifestação do amor do Pai, passa através da morte. É o escândalo da cruz, no qual o evangelista S. João vê a glorificação e a antecipação da ressurreição. Na hora em que Jesus leva a cabo a sua Paixão, entrega-nos o seu Espírito e realiza a salvação, e do seu peito aberto brotam sangue e água, expressão de vitalidade inesperada, oferta de vida para o mundo.
Mas não se trata de uma realidade que só a Ele diz respeito
“Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem desprezar a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna”. Aquilo que para Jesus é identidade e missão, é para quem O escuta possibilidade e caminho aberto. “Se o grão de trigo...”. Deus respeita a nossa liberdade, não nos impõe que sigamos o seu caminho. Apresenta-o, convida e é Ele o primeiro a percorrê-lo. “Se alguém me quiser servir, que me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém me servir, meu Pai o honrará”. Penso, Senhor, em todos aqueles que Te seguiram na vida e na morte. Foram grão de trigo, lançado à terra. Faz com que também nós participemos da tua Paixão redentora para termos a fecundidade da semente que morre para dar fruto.
“Quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”.
É pela sua Cruz que Cristo nos atrai. É íman sagrado e é caminho necessário. Não há fruto sem a morte da semente. O egoísmo é estéril. Semente que quisesse conservar-se ficaria só e não comunicaria vida. Uma vida que não se dá acaba por morrer. Não quero este egoísmo. Quero que a minha vida, oferecida diariamente pelo mundo, comunique vida e atraia outros para Cristo. Mas tenho de ser elevado também eu com Cristo para ser glorificado com Ele. Que eu saiba, Senhor, perder a minha vida para a reencontrar na tua e, pela tua força, na vida de quem passar por mim.
“Chegou a hora”
“Mulher, que temos nós a ver com isso? Ainda não chegou a minha hora”, disse Jesus a sua Mãe nas bodas de Caná. Eis que chegou essa hora. A hora de Jesus consiste em completar o plano do Pai que passa pela sua morte e ressurreição. É a hora da sua obediência à vontade do Pai. É a hora da redenção da humanidade. É a hora da sua missão suprema de dar a vida pela salvação do mundo. Na sua está a minha hora. Quando faço também eu a vontade de Deus, realiza-se em mim o seu plano redentor. “Quando for elevado da terra, atrairei todos a mim”. No seu “quando” está o meu “quando”. Só uma vida unida à sua convencerá, atrairá e salvará. Somos todos convidados a fazer, também nós, em cada hora a vontade de Deus, oferecendo-nos como Jesus pela salvação do mundo. A sua missão continua em cada um de nós.
Darci Vilarinho
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