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segunda-feira, 5 de março de 2012

Comentários-Prof.Fernando


Comentários-Prof.Fernando(*) -3ºd.QUARESMA11mar2012 –expulsando a corrupção–

RESUMO DAS LEITURAS
#1ª leit.Ex 20,1-17 = O único Deus cujo Nome é sagrado e tem um dia Repouso santificado     [Deus= presença única]
= honrar pai e mãe ;                                                                                                     [respeitar os pais]
= não matar, trair o casamento, nem furtar nem dar falso testemunho          [não prejudicar o outro]
= não cobiçar a casa do próximo (ninguém nem nada que lhe pertença)          [respeitar seus bens]
#Salmo: Sl 19 Os preceitos do Senhor são sabedoria dos humildes  e  alegria para o coração
#2ª leit.: 1Cor 1,22-25 nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para judeus e loucura para os pagãos (tanto para judeus como para os gregos, porém, esse Cristo é poder e sabedoria de Deus (é insensatez mais sábia e fraqueza é mais forte...)
#Evang.: Jo 2,13-25
Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio  - Quando Jesus ressuscitou os discípulos lembraram-se do que ele tinha dito (“Destruí e em três dias reconstruo” ) [estava falando do Templo do seu corpo]

Expulsando os corruptos
·                 O Mestre de Nazaré mexeu no vespeiro da corrupção instalada no lugar mais sagrado de seu povo: o Templo de Jerusalém. O povo de Israel tinha sempre uma tendência de pensar que o fato de Deus habitar no Templo lhes dava o direito de ser arrogantes “possuindo Deus” como uma mercadoria no estoque. Ao contrário, os Mandamentos da Lei mostravam que Deus é Deus e que cabe ao Homem reconhecer seu Criador (presença única e imediata – sem intermediários – na vida). Os “Dez mandamentos” também orientavam para cuidar dos outros: com respeito, sem violência, sem traição e sem mentira reconhecendo inclusive o que pertencem aos outros e o seu direito à constituição e integridade de sua Casa e seu lar.

O verdadeiro lugar de culto e o ritual dos Mandamentos
·                 O verdadeiro lugar de culto não é um “lugar”, por mais belo que seja sua arquitetura ou grandioso em suas funções sociais. A palavra do evangelho mostra que é no Filho que está agora o verdadeiro santuário da presença de Deus. Aí está o cerne do que chamamos de Mistério da Encarnação: agora Deus é humano!!! Na sua palavra e em suas atitudes ele indicou que fazer a “vontade de Deus” significa promover amor e justiça. Ele não só Re-lembra com Re-valoriza os Mandamentos. Eles são o sinal da verdadeira conversão e da recusa à idolatria (=submeter-se a outros “deuses” = invenções humanas).
·                 Diante do caminho indicado (já no tempo de Moisés, mas válido para todos os tempos e todas as culturas, seja para os judeus seja para outras nações – “gregos”) não há rito que “tranquilize” a consciência. A cena da expulsão dos corruptos do Templo aponta para muito mais do que uma controvérsia sobre administração do culto ou da religião. O Mestre de Nazaré retoma a profundidade do Sagrado. Deus é Santo e diante dele não cabe falsidade ou corrupção. E mais: o centro da fé não está tanto nos ritos e sacrifícios no Templo e outras práticas de devoção, mas no próprio Homem (Paulo dirá: sois o Templo do Espírito Santo). O Homem não se destina à destruição mas à Ressurreição.

Teologia da “glória” ou teologia da Cruz ?
·          Por mais belas que sejam as liturgias, o dom da Vida não depende das manifestações de Glória e grandiosidade. Conforme nos indica a segunda leitura, a realização do Bem (o caminho indicado pelos Mandamentos, válido para crentes e não crentes =“Judeus ou Gregos”) passa pelo Mistério da Cruz. O Cristianismo não está na pregação de uma “teologia da Glória e da prosperidade” mas na “teologia da Cruz”. Esse é o sinal de Deus que é doação da vida por amor.
·          Essa doação constituiu a Paixão e Morte de Jesus de Nazaré e a nova vida que lhe é dada. Foi perseguido por ser bom e sem corrupção. É também a paixão e ressurreição de qualquer um, na sua vida comum e quotidiana. De quem se recusa à corrupção, não quer viver “do Templo”, mas quer acolher o Sagrado: a presença do divino na terra.
·          É tempo de Quaresma. Tempo de preparação para a Páscoa = a passagem pela Cruz em busca da justiça para uma vida diferente num paz inacreditável !

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(*) Professor (filosofia/pedagogia/teologia) mestre (educação/teologia/teol.moral) fesomor2@gmail.com = administração universitária e consultoria

domingo, 4 de março de 2012

II DOMINGO DA QUARESMA


II DOMINGO DA QUARESMA
04 de março
Leitura Orante do Evangelho do 2° Domingo da Quaresma - Ano B - Mc 9,2-10 - Diocese de Santos - Pe. Fernando Gross
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Comentários-Prof.Fernando

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A transfiguração de Jesus
Mestre! Como é bom estarmos juntos aqui na vossa presença para celebrar mais esta Eucaristia!
Introdução
Na cena da trans figuração, Jesus se transforma diante dos seus discípulos, que, sonolentos, não entenderam de início o que estava acontecendo, chegaram mesmo a falar coisas desconexas, como foi o caso de Pedro, que queria armar tendas e ficar por ali, desfrutando daquele momento especial.
            Nós também ficamos transfigurados quando nos convertemos, quando nos voltamos para Deus, quando ao buscar o perdão pelo sacramento da confissão, e após receber o corpo e o sangue de Cristo na hóstia consagrada, nos tornamos uma outra pessoa.  E nesse momento não só podemos como devemos nos aproveitar desse instante mágico para pedir a Deus aquilo que mais necessitamos. Exatamente naquele momento em que voltamos da comunhão e nos ajoelhamos no banco, podemos nos dirigir de forma muito forte a Jesus, rezando ou pensando palavras mais ou menos assim:
Jesus que dissestes: Quando estiveres em mim e eu em ti, peça o que quiseres e eu te darei. Jesus que acabou de entrar em meu corpo pela minha boca. Eu vos suplico... vos imploro a  cura do meu mal, dessa minha doença, desse meu vício... dessa minha fraqueza que tem me afastado de vós... Jesus você que está  aqui agora no meu ser, que está passando pela minha ferida... pelo ponto do meu sofrimento, Jesus cura-me! Jesus cura-me! Jesus cura-me. Jesus, você que é o meu melhor remédio, livra-me deste sofrimento. Perdoa os meus pecados e atenda esses meus pedidos. Repita isso, até não aquentar mais, depois diga amém, obrigado. Você sentirá provavelmente um arrepio-brisa,  e em seguida, ou  mesmo depois daquele momento, Jesus falará com você, indicando pelos seus próprios pensamentos as providências a serem tomadas no sentido da realização daquele cura. Ou para você providenciar  uma consulta a um outro médico, ou para falar com uma certa pessoa que irá ajudar você, etc.  é Deus agindo em atenção aos seus pedidos emocionados e movidos de muita fé. É importante esclarecer, que a palavra “cura” aqui está no sentido amplo.  Pois você pode estar precisando da  cura de uma infecção, de um mal físico, doença,  ou da cura de um mal que afeta a sua espiritualidade, como por exemplo, um vício, uma inclinação par o pecado, ou coisa parecida. Entendeu?
            Caríssimos. Vamos também nós nos transfigurar diariamente pela meditação, pela oração, pela caridade e pela Eucaristia.  Vamos nos converter e crer no Evangelho! Amém.

Sal.
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Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir, isto é o da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, o caminho da obediência total e radical aos planos do Pai – Maria Regina.

                                                              Na liturgia de hoje, o Evangelista refere que Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João a um monte elevado e se transfigurou diante deles, tornando-se resplandecente de tal brancura que «lavadeiro algum da terra poderia branquear as suas vestes assim». É neste mistério de luz que hoje a liturgia nos convida a fixar o nosso olhar. No rosto transfigurado de Jesus brilha um raio da luz divina que Ele conservava no seu íntimo. Esta mesma luz resplandecerá no rosto de Cristo no dia da Ressurreição. Neste sentido, a Transfiguração manifesta-se como uma antecipação daquilo que nós nos revestiremos quando tudo se consumar em todos. Aí sim celebraremos o mistério pascal.
                                          A Transfiguração convida-nos a abrir os olhos do coração para o mistério da luz de Deus, presente em toda a história da salvação. Já no início da criação, o Todo-Poderoso diz: «Faça-se a luz!» (Gn 1, 3), e verifica-se a separação entre a luz e as trevas. Como as outras criaturas, a luz é um sinal que revela algo de Deus: é como o reflexo da sua glória, que acompanha as suas manifestações. Quando Deus aparece, «o seu esplendor é como a luz, das suas mãos saem raios» (Hab 3, 4 s.). Como se afirma nos Salmos, a luz é o manto com que Deus se reveste (cf. Sl 104, 2). No Livro da Sabedoria, o simbolismo da luz é utilizado para descrever a própria essência de Deus: a sabedoria, efusão da glória de Deus, é «um reflexo da luz eterna», superior a todas as luzes criadas (cf. Sb 7, 26.29 s.).
                                       No Novo Testamento, é Cristo que constitui a plena manifestação da luz de Deus. A sua Ressurreição aboliu para sempre o poder das trevas do mal.Com Cristo ressuscitado a verdade e o amor triunfam sobre a mentira e o pecado. Nele, a luz de Deus já ilumina definitivamente a vida dos homens e o percurso da história. «Eu sou a luz do mundo afirma Ele no Evangelho Quem me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12).Marcos no Evangelho de hoje recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, faz uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. A ti que muitas vezes estás, desanimado e assustado, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o é a garantia da vitória final. Portanto, neste segundo Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir para chegar à vida nova. E este não é senão o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, o caminho da obediência total e radical aos planos do Pai.
Amém.
Abraço carinhoso

            Maria Regina

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“ESTE É O MEU FILHO AMADO, ESCUTAI O QUE ELE DIZ”! - Olívia Coutinho



04 de Março 2012

Evangelho Mc 9,2-10

Continuamos  a nossa caminhada de fé e de esperança rumo a Páscoa do Senhor!
A liturgia deste tempo especial, nos conscientiza da  necessidade  que temos de conversão, para que possamos viver um tempo novo, a partir da construção de um novo modelo de atitude, que deve ser voltada para os  tantos irmãos, vítimas do descaso de um sistema de saúde distante do querer de Deus!
 Infelizmente muitos de nós, só erguemos as mãos para louvar a Deus lá  nas alturas e não abaixamo-las   para louvá-Lo na pessoa dos irmãos que sofrem constantemente a dor do abandono e que  necessitam de nossas mãos para se reerguerem.
Muitas vezes, preferimos fechar os olhos para não termos que tomar posições diante das inúmeras  injustiças  que desfilam diariamente diante dos nossos olhos.
É neste contexto que Jesus nos chama à conversão, conversão que leva a curar  as infinitas cegueiras que se alastram em nosso meio.  
Neste tempo reflexivo somos convidados a  contemplar a luz de Cristo, para que, iluminados por ela, possamos  viver a nossa realidade humana dentro do plano de Deus, no respeito e no cuidado com a vida!
Somos  filhos amados do Pai, que mais uma vez deseja percorrer o caminho que  Jesus percorreu, atualizando esta caminhada no contexto do mundo de hoje, como nos pede a campanha da fraternidade que ao longo desta Quaresma nos convida  a refletir sobre o  caos  da saúde pública no nosso País.
O Evangelho de hoje nos mostra a belíssima cena da transfiguração de Jesus!
Percebendo o desanimo e a tristeza de seus discípulos, que ainda não podiam compreender o que iria acontecer com seu Mestre, Jesus, para reanimá-los, mostra-lhes  uma pequena antecipação do céu!
 “Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João, seu irmão, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E transfigurou-se  diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”.
A transfiguração de Jesus revelou aos discípulos a Sua  intimidade com o Pai, assegurando-os da Sua ressurreição após Sua morte de cruz!
Assim como Pedro desejou construir três tendas para que eles pudessem ficar no alto da montanha com Jesus, longe dos perigos e sem precisar batalhar a vida, nós também certamente desejaríamos  o mesmo, essa  pode  ser a  nossa tentação dos dias de hoje: buscar nossa comodidade sem pensar no outro. 
Jesus é muito claro: rezar, ouvir e meditar a palavra de Deus é muito bom e O agrada muito, mas precisamos descer do alto da “montanha”, ir mais além, andar com nossos pés “descalços” neste chão duro, caminhar com o nosso olhar sempre voltado para as margens do caminho, pois é lá, que estão os rostos desfigurados de tantos irmãos, que contam conosco para se transfigurarem!
Precisamos sair de nossas tendas, do nosso  comodismo, descruzar nossos braços, desvendar nossos olhos e nos por à caminho!
O episódio da transfiguração deve nos animar ao longo de toda nossa vida, especialmente quando esta transfiguração mostra o lado da cruz.
Podemos sentir ainda hoje, o mesmo brilho do rosto transfigurado de Jesus, guardá-lo  dentro de nós, para  que ele seja o  farol  a nos iluminar nas travessias escuras de nossa vida!
O pecado nos desfigura, mas se abrirmos à graça de Deus, sua misericórdia nos transfigura e nos recoloca no caminho!
Jesus nos convida a abrirmos ao seu amor... 

FIQUE NA PAZ DE JESUS! - Olívia Coutinho

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EM JESUS A LEI E A PROFECIA ENCONTRAM SUA PLENA REALIZAÇÃO
II Dom. Quaresma B-Transfiguração do Senhor
Pe. Erivaldo Gomes de Almeida
Eri_gomesseminarista@yahoo.com.br
O grande convite à conversão que a quaresma nos faz é, na verdade, um apelo a caminharmos com Cristo seguindo os seus passos. No evangelho da semana passada o espírito nos levou ao deserto com Jesus para ser tentados e com Ele sairmos vencedores. Nossa caminhada pelo deserto continua e as tentações ainda são uma constante em nossa vida. Hoje chegamos ao monte da transfiguração e aí há a tentação do egoísmo, que manifesta-se na atitude de Pedro de esquecer-se dos colegas e querer ficar ali contemplando o Cristo glorificado. Não se pode chegar ao glorificado sem o acontecimento da cruz.
Os sinais sensíveis que a cena do evangelho (Mc 9,2-10) apresenta nos coloca imediatamente diante de uma teofania, ou seja, uma manifestação gloriosa de Deus. Marcos continua seu propósito de ajudar-nos a responder à pergunta sobre quem é Jesus. As figuras de Moisés e Elias indicam que em Jesus está a plenitude de toda a lei e de todas as profecias. Ele é portanto o Filho amado.
O Prefácio da Transfiguração indica o rico conteúdo deste acontecimento: “tendo predito aos discípulos a própria morte, Jesus lhes mostra, na montanha sagrada, todo o seu esplendor. E com o testemunho da lei e dos profetas, simbolizados em Moisés e Elias, nos ensina que, pela paixão e cruz, chegará à glória da ressurreição”.
1-As severas palavras de Jesus sobre o caminho doloroso do calvário provocou nos discípulos uma desilusão. Deixaram tudo para seguir aquele homem e agora se vêem frente a um acontecimento difícil de enfrentar, incerto e doloroso: a cruz. Jesus precisava fazer algo para reanimá-los, toma então consigo alguns de seus discípulos e os leva ao mais alto do monte para uma experiência extraordinária: a transfiguração. A cruz faz parte do caminho do discípulo, mas não é a realidade ultima, o fim é a ressurreição. Jesus mostra-lhes a recompensa, mas não elimina o madeiro da cruz de seu caminho nem do caminho dos discípulos: “quem quiser me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga”.
·        No dia a dia de nossa vida, em que a cruz se torna pesada demais, somos chamados a subir ao monte da transfiguração com Jesus e alimentarmos nossa fé, nossa esperança, para assim podermos voltar com mais forças para carregarmos as cruzes que diariamente a vida coloca sobre nós.
Recordo uma oração da manhã rezada por mim vésperas à ordenação sacerdotal que foi no dia 18 de dezembro de 2011. Naquela manhã dizia a Deus:
Um dia Deus me chamou e comecei a fazer a experiência do seguimento.
Ao longo do caminho Ele levou-me a dois belos montes:
O Tabor, para dizer-me que é gostoso ser padre, é bom, etc...
E ao Calvário, mostrando-me as dificuldades do ministério, as dores e angustias...
E perguntava-me: quer continuar ou quer parar?
E eu disse: quero continuar!
Senhor Jesus, faça que eu busque na Tabor as forças necessárias para enfrentar o calvário.
Que este pobre servo possa pautar seu sacerdócio não só nas grandezas e belezas que ele proporciona, mas que eu seja fiel e forte para carregar a cruz e nela morrer em meu calvário, se preciso for, pelos meus irmãos, como um bom pastor!
Amém!
2-Este evangelho mostra-nos como é bom estar na presença de Deus. Como é bom viver em uma comunidade que nos faça experimentar Deus. Quando muitas de nossas comunidades enfraquecem. Eu me pergunto o motivo e às vezes descubro que é por que não estavam levando as pessoas a um relacionamento profundo com Deus. “Mestre, é bom ficarmos aqui”, diz Pedro. A comunidade deve ser esse lugar em que sentimos que a presença de Deus é tão forte que não queremos mais ir embora. Deve ser este subir à montanha para contemplar o Cristo transfigurado na Eucaristia.
·        Sou alguém de fé, por isso mesmo estou aqui na Igreja ouvindo estas palavras. Já fiz alguma experiência forte de Deus? A experiência de Deus que faço semanalmente na minha comunidade me fortalece para enfrentar as dificuldades da vida? A minha comunidade é este lugar de experimentar Deus?
3-A idéia de Pedro de fazer tendas e ficarem ali foi maravilhosa, porém tiveram que descer a montanha e se defrontar com os problemas do dia a dia, tomar novamente a cruz e continuar carregando-a.
·        Estas experiências fortes de Deus não duram para sempre. Será plena somente quando estivermos no paraíso, contemplando Deus face a face. Estamos no mundo e temos que viver neste mundo. Não podemos ficar somente no “monte da transfiguração” como alguns querem. Precisamos ter a coragem de descer a montanha e viver na planície do nosso quotidiano sendo testemunho de Deus.
4-Jesus os proíbe de partilhar com os outros o que viram. Somente a partir da ressurreição do Senhor teriam uma visão correta do que aconteceu. Saberiam que é impossível chegar à glória sem atravessar a cruz.
·        Caros irmãos, não podemos queimar etapas em nossa vida. Pode ser que ainda não somos capazes de entender e principalmente aceitar alguns mistérios da nossa vida, mas são inevitáveis, como por exemplo a doença, é o que nos diz a Campanha da Fraternidade este ano. Acreditemos que tudo na vida tem um propósito. Uma das cruzes que inevitavelmente temos que carregar é a doença que cedo ou tarde baterá à nossa porta.
5- A revelação continua: “este é o meu Filho amado, escutai o que ele diz”. Repete-se assim o que aconteceu no Seu batismo: o Eterno Pai testemunhando a natureza do Filho, a Palavra feita carne que deveria ser acatada por todos.
·        Escutar é mais do que ouvir, é ouvir com os ouvidos, deixar passar pela mente e guardar no coração, é isso que a liturgia da transfiguração quer produzir em nós: uma atitude de escuta do filho da Deus. Quanta coisa Jesus nos diz, o que Ele nos diz é o que Deus nos diz e nós sabemos o que Deus nos diz, mas pouco damos atenção. Ouvimos mas não escutamos. Mesmo tendo olhos e ouvidos, somos cegos e surdos.
6-No batismo somos transfigurados em Cristo. Somos revestidos desta veste brilhante que revestiu o ressuscitado. Temos em nós sementes desta transfiguração. Precisamos ter cuidado para não manchar estas vestes. Já temos a mancha original do pecado, não deixemos que os pecados individuais tirem de nós esta “feição cristã” que nos é tão cara.
·        Em nossa vida temos que nos esforçar quotidianamente para vivermos nossa vocação universal à santidade. Ser santo deve ser a meta de cada um de nós.
7-Quando falamos em fé, automaticamente nos remetemos a nosso pai Abraão. Ele foi obediente a Deus em tudo. Mas que Deus injusto é esse que pede de Abraão um sacrifício tão grande? Será que ao levar seu filho para ser sacrificado Abraão estava de fato seguindo a voz de Deus ou seguindo a cultura de seus conterrâneos de sacrificar aos ídolos os primogênitos? De todo jeito, ele entende isso como um pedido de Deus e em nome da obediência está disposta a fazê-lo. Agora vem o grande mérito de Abraão: percebe que Deus não quer a morte, mas a vida. O grande gesto de obediência de Abraão a Deus não foi de levar Isaac para o sacrifício, mas de ouvir a voz de Deus e não sacrificar aquele filho que já era um milagre em sua vida. Sarai sua mulher era estéril e de idade avançada quando deu a luz. Deus não quer a morte dos homens, mas a vida.
Nesta leitura temos uma prefiguração do que Deus pretende fazer com Jesus Cristo, Seu Primogênito. Deus impede que Abraão sacrifique seu filho, mas ao Seu único filho ele não livra da Cruz. Este é o sacrifício que realmente redime o homem de seus pecados.
·        Seremos transfigurados à medida que como Abraão, deixarmos que a Palavra de Deus nos guie. Jesus quer nos levar a fazer esta experiência gostosa de estar com ele. Precisamos permitir que Ele nos transfigure, que Ele transforme nosso rosto marcado pelo pecado em um rosto marcado pela contemplação do Seu mistério. Seremos transfigurados à medida que vivermos como de fato somos: à imagem e semelhança de Deus.
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2º Domingo da Quaresma- 4/3/2012; textos: Gênesis 22,1-2.9ª.10-13.15-18;
                                                                            Salmo 115 (116);
                                                                            Romanos 8, 31b-34;
                                                                            Marcos 9,2-10 (Transfiguração de Jesus).
Caríssimos irmãos e irmãs: Louvado seja N. S. J. Cristo! Neste 2º domingo da Q. somos convidados, no caminho que nos leva à Páscoa da Ressurreição de Jesus e nossa também, a ouvir a voz do Pai do Céu nos convidando a ouvir o ensinamento do Filho: “Escutai o que Ele diz!” S. Marcos colocou a narrativa da Transfiguração no centro do seu evangelho porque, precisamente, quer responder à pergunta sobre quem é Jesus? (cf. Mc 1,27; 4,41; 6,2-8); já refletimos sobre isso no domingo passado. Aos poucos, o povo vai descobrindo quem é Jesus; que Ele é o Messias. Mas não um Messias milagreiro, rei glorioso, vencedor, rico, poderoso, capaz de mudar rapidamente a condição da humanidade e fazer acontecer num rito mágico a presença do Reino de Deus. Essa foi a falsa idéia de Pedro, na montanha; Pedro acreditava que o Reino pudesse acontecer sem a doação de vida, sem os sacrifícios, sem a morte e a entrega de vida. Jesus levou os três discípulos a uma alta montanha (lugar simbólico da presença da glória de Deus) e aí “deu uma amostra grátis”, na Transfiguração da visão antecipada do Reino glorioso. Mas depois os convidou a descer a montanha e prosseguir numa caminhada de luta que passaria necessariamente pela entrega de sua vida na cruz. Hoje também ao nosso redor, tantas coisas mexem com nosso coração e desafiam a nossa fé. Milhões de crianças abandonadas, tantos jovens entregues às drogas (o Brasil é o 2º maior mercado de cocaína das Américas, com cerca de 870 mil usuários adultos. 2,6% da população (dados de 2005 ainda) consomem maconha e haxixe. O crack poderá tirar a vida de, pelo menos, 25 mil jovens por ano, no Brasil. Ultimamente, há notícias que indicam a rápida difusão de uma nova devastadora droga, o oxi, uma droga mais barata e de conseqüências ainda mais danosas para os usuários que o terrível crack” (cf. Texto Base da CF-2012, nn. 87-89).
O que essa situação tem a ver com nossa preparação para a festa da Páscoa e com o evangelho da Transfiguração de Jesus? O Projeto do Brasil na Missão Continental, a Campanha da Fraternidade e as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil querem inspirar uma ação fraterna, solidária e profética para mudar ou transfigurar em Cristo essa triste e dura realidade.
Com o sofrimento e o grito dos pobres, nos aproximamos hoje da comunidade reunida e nos colocamos em oração diante do Senhor, trazendo nos lábios uma súplica: “Lembrai-vos, Senhor, de vossa misericórdia e de vosso amor, pois são eternos. Nossos inimigos (a fome, a injustiça, a violência, a acomodação, o egoísmo) não triunfem sobre nós: Libertai-nos, ó Deus, de toda angústia”. Amém.
Obs.: na homilia falada, ajustaria melhor o transfundo do discurso, contextualizando melhor as coisas, estabelecendo o vínculo intrínseco com a Eucaristia, etc.
- Pe. Celso Nilo Luchi, CR.

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2º Domingo Quaresma – 04/03/2012               Gilberto Silva

Evangelho Mc 9,2-10

"Este é o meu Filho muito amado: Escutai-O."


Caríssimos irmãos e irmãs,


Estamos na 2ª semana da Quaresma nos preparando nesta caminhada rumo a Páscoa, renovando-nos física e espiritualmente para esta nova vida em Cristo ressuscitado.
Para tanto, penintenciemo-nos em jejuns e orações para que este sacrifício verdadeiro nos "transfigure" e sejamos vidas reluzentes para com os nossos irmãos e irmãs nesta caminhada de fé.
Caríssimos, esta subida de Jesus na companhia dos seus mais estimados discípulos, possivelmente já é uma resposta d'Ele à Pedro, quando este confessa pela ação de Deus que Jesus é o Cristo. Estes discípulos seriam missionários na Terra como também pilares da nova igreja de Cristo em seu núcleo mistagógico. Também assistiram à ressurreição da filha de Jairo e toda agonia, morte e ressurreição de Jesus. Eles seriam testemunhas do evento a seguir.
Assim como Abraão leva seu filho Isaac às terras de Moriá, especialmente a um monte, cujo nome não é identificado, para que este filho seja oferecido em sacrifício da sua fé. Jesus sobe também a um monte com seus discípulos, possivelmente o Tabor, pois é o mais próximo de Nazaré a fim de estar em oração com o Pai.
Há uma mudança total nas vestes, roupas e no rosto de Jesus. É a transfiguração. É a epifania de Jesus, onde Ele se manifesta na totalidade de sua glória divina junto a Moisés e Elias. É a glória suprema do Filho do Homem.
Um monte, queridos irmãos e irmãs, é o local reservado por Deus para com seus amigos. É de onde envia a cada um desses, as suas mensagens. Hoje, o "alto do monte" é o seu coração é onde se faz a comunicação com Deus. É o local onde Jesus entra e se revela para o rompimento de todas as barreiras.
Vale lembrar que esta transfiguração sugere que também podemos mudar nossas vidas. Abandonar hábitos maus (vícios), tornar-se uma nova pessoa pela fé. É brilhar junto aos irmãos e irmãs diante de Deus. Não se desesperar por mais difícil que as coisas estão. Tudo pode ser transfigurado pela fé e oração.
A presença dos ícones do 1º testamento junto a Jesus significa a passagem do antigo para o novo, que é Jesus, no qual é convergido por todas as profecias de seu envio messiânico. É Moisés e Elias entregando ao Filho de Deus a anunciação da Boa Nova.
Os discípulos extasiados pela presença destes profetas e ainda mais pela transfiguração
celestial de Jesus, procuram prolongar este encontro paradisíaco, sugerindo a preparação de tendas para acomodá-los.
Tal qual as nuvens cobriam o Horeb anunciando a presença de Deus junto a Moisés, uma nuvem também cobriu a todos no monte ("com a sua sombra.") e com todo poder e autoridade revela em alto e bom som: "Este é o meu Filho muito amado: Escutai-O."
Nesta Quaresma, a exemplo da fé de Moisés, Abraão, Isaac, Elias e dos apóstolos, vamos também confiantes deixar de lado todos os comportamentos indignos de um cristão verdadeiro. Jejuemos com tranqüilidade, pratiquemos a caridade, busquemos a Deus com honestidade interior, sempre lembrando que todo e qualquer sacrifício a Deus Pai nos ajuda a continuar neste caminho de fé e na busca incessante do Reino dos céus.
Temos o dever como cristãos de seguir a Jesus, ouvi-Lo, sempre acreditando que Ele está presente em nosso meio, nos assistindo em todas as fases da nossa vida.
Vejam na eucaristia, a transformação nos olhos dos irmãos quando Jesus é erguido no altar, quando da consagração. É a Páscoa de Jesus renovando e anunciando a salvação. É o Pão da vida descido dos céus que alimenta o homem e marcha para Deus.

Jesus habite em seu coração hoje e sempre.

Gilberto Silva

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Evangelhos Dominicais Comentados

04/março/2012  --  2o Domingo da Quaresma

Evangelho: (Mc 9, 2-10)


COMENTÁRIO

O evangelho de hoje nos mostra como é bom ficar bem próximo das pessoas que amamos. O amor não nos permite pensar em separação. Dá vontade de construir uma casa bem grande, com muitos aposentos, para abrigar nossos familiares e amigos.

É assim que Pedro se sente. Está com medo de encarar a realidade. O futuro é assustador. Preocupado com o futuro do Mestre, quer construir três tendas para preservar a vida do seu amigo. Faz qualquer coisa para parar o tempo e mantê-lo longe do perigo.   

Jesus transfigurou-se diante de seus amigos. Suas roupas ficaram tão brancas e brilhantes que ofuscavam os olhos. Sua luz resplandecia e clareava o ambiente. Jesus tudo iluminava com sua presença.

A simples presença de Jesus transforma, muda, clareia. A presença de Jesus provoca mudanças, não só no ambiente, mas principalmente, em nós. Por isso, o cristão tem que brilhar, tem que irradiar luz e calor.

E do céu veio uma voz que dizia: "Este é o meu Filho amado. Escutai o que Ele diz!" O próprio Pai fez questão de nos enviar esse recado. Declarou abertamente a filiação Divina de Jesus e ordenou que o escutássemos.

Jesus também deu uma ordem aos seus discípulos. Ordenou que não dissessem nada a ninguém sobre o que tinham visto, até que Ele tivesse ressuscitado dos mortos.

Eles, no entanto, observaram a recomendação, mas se perguntavam o que queria dizer ressuscitar dos mortos. Imagine como deve ter sido difícil para os discípulos entender o significado dessa palavra totalmente nova e desconhecida.

Ainda hoje existe muita confusão a respeito dessa palavra. Milhares, que se dizem cristãos, ainda confundem ressurreição com reencarnação. Chegam até mesmo a achar que são sinônimos, coisas tão diferentes.

Para o cristão não existe reencarnação. Cristo ressuscitou! A vida eterna é uma realidade. Por isso, seus discípulos já podem contar para o mundo todo que Jesus é o Salvador.

O discípulo deve subir nos telhados e gritar essa verdade. Compete também a cada um de nós ouvir e assimilar, pois escutar tudo aquilo que Jesus tem a nos dizer, é uma ordem deixada por Deus Pai.

(1501)

jorgelorente@ig.com.br - 04/março/2012
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TRANSFIGURAÇÃO
Surpreende-nos, que neste tempo quaresmal, de tanta sobriedade, a Mãe católica nos coloque diante dos olhos Jesus transfigurado. Não seria mais adequado este texto num dos domingos da Páscoa? Cabe tanta glória, tanta luz, tanto esplendor, neste tempo de oração, penitência, esmola e combate espiritual? Mas, não duvidemos: a Igreja tem seus motivos; motivos sábios, motivos de mãe que educa com carinho.
Primeiramente, a glória de Jesus no Tabor, antegozo da sua ressurreição, anima-nos e alenta-nos neste caminho quaresmal. Ao nos falar da oração, da penitência, da esmola, ao nos exortar ao combate aos vícios e à leitura espiritual, a Igreja, fazendo-nos contemplar o Transfigurado, revela-nos qual o objetivo da batalha da Quaresma: encontrar o Cristo cheio de glória e, com ele, sermos glorificados. Olhai o Tabor, irmãos, e vereis o que o Senhor preparou para nós! Pensai no Tabor, e a penitência terá um sentido, as mortificações deste tempo serão feitas com alegria! Que diz o Evangelho? Diz que, diante dos apóstolos, Jesus transfigurou-se: “Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”. Eis! A Transfiguração é uma profecia, uma antecipação da glória da Páscoa; e a Páscoa de Cristo é a garantia da nossa glorificação. Porque Cristo morreu e ressuscitou, nós também, mortos com ele, seremos daquela multidão vestida de branco, de que fala o Apocalipse! (Ap 7,9) Então, ânimo! As observâncias da santa Quaresma não são um peso, mas um belo caminho, um belo instrumento para conduzir-nos à Páscoa do Senhor!
Mas, a leituras de hoje colocam-nos também diante de uma outra realidade, bela e profunda. Comecemos pela primeira leitura, na qual Deus pede a Abraão tudo quanto ele tinha: “teu filho único, Isaac, a quem tanto amas”. Isaac era tudo para Abraão: por ele, tinha deixado Ur na Caldéia, por ele, tinha esperado mais de trinta anos, por ele, tinha suportado todas as provas... E, agora, já idoso, sem nenhuma possibilidade de ter mais filhos, agora que o menino já esta crescidinho e Abraão pensava poder descansar, Deus o pede a Abraão. Que prova, caríssimos! A fé de Abraão, aqui, chega quase que ao absurdo! Mas, ele foi em frente e “estendeu a mão, empunhando a faca para sacrificar o filho”.
Deus tinha o direito de pedir isso a Abraão? Deus tem o direito de nos provar, de tantas vezes nos pedir coisas que não compreendemos bem? Tem o direito de pedir fé e confiança diante dos percalços da vida? Poderíamos responder dizendo simplesmente que “sim”, porque ele é Deus; deu-nos tudo e pode pedir-nos o que desejar. Mas, não é essa a resposta que a Palavra de Deus nos indica na liturgia de hoje. Ele nos pode pedir, certamente, e nós devemos dar, com certeza, porque ele mesmo, o nosso Deus, nos deu tudo! Ele, que pede que Abraão lhe sacrifique o filho único e amado, é o mesmo Deus que, como diz São Paulo, na segunda leitura deste hoje, “não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós!” Eis o grande mistério: Deus, no seu amor por nós – primeiro pelo povo de Israel, descendência de Abraão, e, depois, por toda a humanidade, com a qual ele deseja formar o novo povo, que é a Igreja – Deus, no seu amor por nós, entregou à morte o seu Filho único, o Amado, o Justo e Santo, aquele no qual ele coloca todo o seu bem-querer. Não é assim que ele no-lo apresenta hoje no monte Tabor? “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!” É este Filho que será entregue à morte. O Evangelho de Lucas nos diz que, precisamente nesta ocasião, Jesus transfigurado falava com Moisés e Elias “sobre a sua partida, isto é, a sua morte, que iria se consumar em Jerusalém” (Lc. 9,31). E no Evangelho de São Marcos, que escutamos, o próprio Jesus, ao descer da montanha, “ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do Homem tivesse ressuscitado dos mortos”. Compreendei, caríssimos: sobre o monte Tabor, com o Transfigurado envolto em glória, paira a sombra da paixão, da morte do Filho amado e único, que o Deus de Abraão entregará por nós até o fim. Ao filho de Abraão, a Isaac, Deus poupou no último momento; não poupará, contudo, o seu próprio Filho!
Isso nos revela a dimensão do amor de Deus, da sua paixão pela humanidade, do seu compromisso salvífico em nosso favor! Ele pode nos pedir tudo, caríssimos, e nós deveríamos dar-lhe tudo, porque, ainda que não compreendamos, ele deseja somente o nosso bem, a nossa vida, a nossa salvação. Somos preciosos a seus olhos! Escutai o apóstolo: "Se Deus é por nós, quem será contra nós? Deus que não poupou seu próprio filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo juntamente com ele? Quem acusará os escolhidos de Deus? Deus, que os declara justos? Quem condenará? Jesus Cristo, que morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está à direita de Deus, intercedendo por nós?” Eis, pois, amados em Cristo, a dimensão e a profundidade, a largura e a altura do amor de Deus por nós! Deixemo-nos, portanto, tocar no nosso coração; convertamo-nos! Abramo-nos para o Senhor! Arrependamo-nos de nossas indiferenças, de nossa frieza, de nosso fechamento! Tenhamos vergonha de tanta incredulidade e desconfiança de Deus, simplesmente porque não entendemos seu modo de agir! Que Santo Abraão, nosso pai na fé, e a Santíssima Virgem Maria, nossa Mãe na fé, intercedam por nós para uma verdadeira conversão quaresmal. E que, realizando com generosidade a amor, as práticas quaresmais, cheguemos às alegrias da Páscoa e contemplemos nos santos mistérios da liturgia, a face do Cristo glorificado.
dom Henrique Soares da Costa

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Caminho da cruz e da vitória
No segundo domingo da Quaresma, temos, todos os anos, o episódio da transfiguração. No início da caminhada, é sempre importante olhar para a chegada. Para os que se preparam para o batismo, ou para nós que nos preparamos para renovar os compromissos do nosso batismo a fim de vivê-los melhor, será bom ver o que o episódio nos ensina.
Aos discípulos que mais de perto o acompanham, Jesus quer mostrar que ele é o Messias sofredor, que o caminho da vitória e da glória é a cruz. Isso ele já vinha dizendo e voltará a dizer, mas essa verdade é tão distante da mentalidade geral, que os discípulos nem sequer querem ouvi-la. Hoje também.
A voz do céu lembra os poemas ou cânticos do Servo Sofredor do Segundo Isaías (“o meu amado”) e recomenda aos discípulos: “Ouvi-o, escutai o que ele está dizendo!” Hoje também.
1ª leitura (Gn. 22,1-2.9a.10-13.15-18)
A narrativa do sacrifício de Isaac, na hipótese das fontes do Pentateuco, vem da fonte eloísta. Essa fonte ou tradição relata com frequência alguma tentação ou provação, refletindo o que acontecia no reino do norte, especialmente na época de Elias. A provação de Abraão reflete algumas dessas tentações.
A primeira dessas tentações é o sacrifício de crianças. O rei de Moab, na época, considerada a redação eloísta, sacrificou o próprio filho e sucessor em cima da muralha (2Rs. 3,27). Esse costume chegou a entrar em Israel e Judá e é fortemente combatido pelos profetas.
A história pode vir também em reforço à obrigação de resgatar o primogênito. Segundo Ex. 34,19-20, todo primogênito pertence a Deus. O dos animais domésticos deve ser sacrificado em honra de Javé, só o da jumenta pode ser resgatado pelo sacrifício de outro animal. O filho primogênito deve obrigatoriamente ser resgatado, como Isaac é substituído pelo carneiro.
Na leitura cristã, Isaac é comparado a Jesus morto-ressuscitado. Como ele subiu a montanha levando a lenha com que seria queimado em holocausto, Jesus subiu ao Calvário levando sua cruz. Como aquele voltou vivo e como esperança de grande descendência, assim Jesus se levanta da morte e torna-se o primeiro de muitos irmãos.
2ª leitura (Rm. 8,31b-34)
Os cristãos judeus de Roma foram expulsos da cidade por Cláudio, por causa de agitações sociais provocadas por certo Crestos (Cristo, sem dúvida). Agora Nero permitiu a volta dos judeus e muitos estavam retornando.
Retornavam mais pobres do que tinham partido e também cheios de ardor nacionalista, mais apegados a suas tradições e influenciados pelas ideias de rebelião contra o império, as quais fervilhavam entre os judeus. Os irmãos de fé não judeus ficaram em Roma. Naturalmente ter-se-iam afastado sempre mais do que era simples tradição judaica e poderiam agora estar discriminando os judeus que voltavam.
Diante dessa situação, Paulo escreve a carta aos cristãos romanos, muitos dos quais gentios, para dizer-lhes que judeus e gentios são iguais em tudo e um não tem direito de julgar o outro. São iguais no pecado e na graça. A fé, independentemente da circuncisão ou da Lei, iguala-os. São iguais na morte que veio por Adão e na vida que vem por Cristo. São iguais na nova Lei que é o Espírito e solidários com todo o universo criado.
Paulo encerra essa parte da carta com um hino cujos primeiros versos constituem a 2ª leitura de hoje. Ele havia começado o capítulo 8 dizendo que, para todos os que estão no Cristo Jesus, não existe condenação.
No trecho da carta lido hoje, Paulo dá a razão para tanto: se Deus é por nós, se entregou seu Filho por todos, judeus e gentios, não vai condenar ninguém. Jesus, que por todos morreu, ressuscitou e intercede por nós, também não o fará.
Evangelho (Mc. 9,2-10)
Vejamos em que contexto está inserido o episódio da transfiguração. O Evangelho de Marcos consta claramente de três partes: a primeira, na Galileia, com a formação dos discípulos; a segunda, o caminho para Jerusalém; a terceira, em Jerusalém, com o confronto final, quando os inimigos matam Jesus, mas Deus o ressuscita e manda que os discípulos voltem a se encontrar com ele na Galileia.
O episódio da transfiguração está no início da segunda parte, a caminhada para Jerusalém, para a cruz, para a ressurreição.
No trecho (8,27 a 9,37) em que tem início a caminhada para a cruz-ressurreição, Marcos serve-se do paralelismo entre partes que se correspondem em ordem inversa, de modo semelhante a um sanduíche. Aqui “o sanduíche” teria duas fatias de pão (A e A’), duas de queijo (B e B’) duas folhas de alface ou rodelas de tomate (C e C’) e no miolo a carne. O episódio da transfiguração, inserido no centro das duas sequências paralelas ao inverso, é o miolo do “sanduíche”, o que mostra a sua importância.
Podemos ver isso esquematicamente da seguinte forma:
Pão A. Com os discípulos, Jesus pergunta: “Quem sou eu?” (8,27-30)
Queijo B. Anúncio da paixão. Pedro discorda e é chamado de satanás (8,31-33)
Alface C. Com a multidão. “Quem quiser seguir-me, pegue sua cruz” (8,34-9,1)
Carne D. A transfiguração (9,2-13)
Alface C’. Com a multidão. “Esse demônio, só se vence pela oração (...)” (9,14-29)
queijo B’. Anúncio da paixão. Não entendem, mas não perguntam (9,30-32)
pão A’. Com os discípulos, eles perguntam: “Quem é o maior?” (9,33-37)
O contexto mostrou-nos com clareza que o objetivo da transfiguração é levar os discípulos a acreditar no fracasso da cruz como caminho da vitória, da vida, da ressurreição.
O evangelista não pretende falar da dificuldade dos discípulos de então em aceitar a ideia da morte humilhante de Jesus, fala da consequência principal: ser discípulo, em qualquer tempo, é pegar a cruz e seguir o Mestre! No ambiente de quando o evangelho é escrito certamente já surgia o carreirismo e a disputa pelo poder.
O evangelista não tem a intenção de acusar a incompreensão de Pedro e companheiros, quer falar aos dirigentes e fiéis da Igreja de então, quando o evangelho é escrito. Como diz o pessoal da roça, “está batendo na cangalha para o burro entender!” E queira Deus o burro entenda!
Jesus leva Pedro, Tiago e João. Pedro é aquele que, logo depois de professar a fé em Jesus como Messias, não admite que seja um Messias sofredor, humilhado pelos poderosos. Tiago e João (Mc 10,35-38) pedem a Jesus os primeiros lugares para quando ele chegar à sua glória (o poder?) e, assim, provocam discussões pelo poder entre os doze. “Ah! Espelho meu!” diriam os dirigentes da Igreja quando esse evangelho foi escrito...
Os três precisam de uma boa lição, por isso são levados à montanha, sozinhos, à parte. Já tinham visto Jesus ressuscitar a filha de 12 anos do chefe da sinagoga e serão levados também para acompanhar a oração de Jesus no horto das Oliveiras. 
A roupa de Jesus toma um branco excepcional. Veste branca tinha o mesmo significado que tem hoje faixa de campeão ou medalha de ouro: era um distintivo dos vitoriosos nas competições esportivas. Apesar do fracasso aparente, Jesus é o vitorioso!
O Primeiro Testamento, aqui representado por Elias e Moisés, fala de um Messias sofredor, especialmente em quatro poemas do livro de Isaías (1º Is. 42,1-7; 2º 49,1-7; 3º 50,4-9; 4º 52,13-53,12). Essa é a conversa de Jesus com a Lei e os profetas, o que aos discípulos parece interessar pouco.
A nuvem, a sombra e também o temor lembram a presença de Deus na manifestação do Sinai. Agora devem ouvir a Jesus, a voz da nova aliança. Eles não estavam suportando ouvi-lo anunciar a própria morte. Nem entendem como se possa falar em ressurreição dos mortos. 
No primeiro anúncio da paixão (8,31-33), Pedro quer impedir Jesus de tocar no assunto. No terceiro anúncio (10,35-38), Tiago e João o interrompem para discutir a divisão do poder... Ah! O espelho! “Escutai-o! Escutai-o! Escutai-o!”, diz a voz de Deus.
Pedro, dizendo que ali estava bom, propõe fazer uma cabana para cada um, como faziam os participantes da festa das Tendas. Mas fala por falar, sem saber o que diz.
Depois de os discípulos ouvirem a voz de Deus, Jesus se encontra só; sozinho ele resume toda a Escritura. Os discípulos estão com ele, e mesmo assim parece que continua só.
Dicas para reflexão
– Jesus sozinho resume toda a Escritura, o Primeiro e o Segundo Testamento. Isso não pode ser afirmação gratuita ou mera teoria. Ele resume todas as esperanças do Primeiro Testamento e antecipa a realização do Novo. Escutai-o! Ele só fala de cruz, o que não é tão fácil de entender e pôr em prática. “Nem que a gente vivesse mais duzentos anos acabaria de entender o significado da morte de Jesus”, ouvi de uma pessoa do povo. É preciso todo dia buscar praticar e entender melhor, sabendo que nunca se vai entender completamente. Só a prática melhora o verdadeiro entendimento.
Com os discípulos que só pensam em poder e cargos cada vez mais importantes, ele está sozinho, continua só. Jesus perguntou: “Quem sou eu?”; enquanto isso, os discípulos estão se perguntando: “Quem de nós é o maior?”. Por isso ele continua sozinho.
Ele se transfigura e conversa com a Lei e os profetas para dar segurança aos discípulos na hora da paixão, mas parece que eles não entenderam que a vitória, a ressurreição, devia passar pela morte. Esse caminho é diferente demais, difícil de achar, incompreensível até. Como é que a vitória poderá ser encontrada no último lugar?
– “Rabi, está bom ficarmos aqui!” Contemplando a vitória, não será preciso procurar o caminho. É preciso que venha a voz de Deus para dizer: “Ele é o servo sofredor, escutai-o!” É preciso escutá-lo todos os dias, a todo o momento, senão a gente perde o caminho.
Há uma luz no fundo do túnel
Jesus havia escolhido um grupo de discípulos que passariam a conviver com ele. Eram os apóstolos. Estes haveriam de se deslocar com ele e serem ouvintes das lições de um Mestre ambulante. Três dos apóstolos de Jesus merecerem um tratamento especial: Pedro, Tiago e João. Seus nomes estão no começo das listas dos apóstolos. Estes serão preparados para falarem da  identidade mais íntima de Jesus. Em algumas situações os três poderão bem se dar conta do lado humano e do lado divino de Jesus. Eles estarão em Getsêmani e verão esse Jesus tão humano, sofrendo e transpirando sangue.  Eles também subirão à montanha e verão a fragilidade desse Mestre que conhecem pelas andanças ter o rosto belamente iluminado. Ele é habitante da claridade das claridades.
Jesus sobe a um monte.  Leva consigo seu coração humano-divino e os três. Era importante que esta experiência fosse feita no alto de um monte, “num lugar à parte”.  Silêncio,  total intimidade entre  Jesus e seu Pai, o olhar de Jesus no olhar do Pai e o Pai voltado par o Filho.  Nessa intimidade não rompida por nada  estão esses dois a se contemplar: o Pai de todas as luzes e o Filho que havia ingressado na região não luminosa da humanidade. E houve uma mudança da  “figura” de Jesus. Ele se tornou todo luminosidade. Gostamos de ouvir o modo como Marcos descreve a luminosidade da transfiguração: “Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”.  Os três apóstolos  fazem uma experiência única. O prefácio deste segundo domingo da quaresma  sintetiza belamente o sentido do evento: “Tendo predito aos discípulos a própria morte, Jesus lhes mostra, na montanha sagrada todo o seu esplendor. E com o testemunho da lei e dos profetas, simbolizados em Moisés e Elias nos ensina que, pela paixão e cruz, chegará à glória da ressurreição”.
Dos sermões de são Pedro de Celle, abade:  “Tal é o fortíssimo e inatacável objeto da fé cristã: sob o véu da carne, escondia-se a força da divindade. Aquele que externamente aparecia como homem era Deus, e exteriormente não se manifestava o que estava escondido no interior. Até mesmo no momento da transfiguração os apóstolos não viram a essência divina, mas a da carne que pouco depois deveria ser glorificada para sempre. Experimentaram uma santa antecipação a eles oferecida como remédio salutar, a fim de que, fortificados por este alimento, não desfalecessem no caminho até o monte de Deus, o Horeb, isto é, a ressurreição” (Lecionário Monástico II, p. 166).
No meio de nossa caminhada, por vezes, experimentamos uma presença do Altíssimo entre os solavancos da caminhada. Temos vontade de fazer e ali permanecer.
frei Almir Ribeiro Guimarães
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O Dom do Filho querido de Deus por nós
Hoje, a liturgia nos concede uma espiadinha no céu: Jesus revela sua glória diante de seus discípulos (evangelho). Devemos situar esta visão no contexto que Mc criou ao conceber a estrutura fundamental dos evangelhos escritos. Na primeira parte de sua atividade, Jesus se dirige às multidões mediante sinais e ensinamentos, que deixam transparecer sua “autoridade” (cf. primeiros domingos do T.C.), mas não dizem nada sobre seu mistério interior. Na segunda metade (a partir de 8,27; cf. 24° dom. T.C.), Jesus revela – não à multidão, mas aos Doze, futuras testemunhas de sua missão – seu mistério interior: sua missão de Servo Padecente (melhor, Filho do Homem padecente) e sua união com o Pai, O que foi confiado a Jesus pessoalmente, pelo Pai, na hora do batismo, quando a “voz da nuvem” lhe revelou: “Tu és meu filho amado, no qual está meu agrado” (Me. 1,11), é agora revelado aos discípulos: “Este é meu filho amado; escutai-o”. O mistério do Enviado de Deus não é mais reservado ao próprio Jesus; é comunicado aos que deverão continuar sua missão. E lhes é revelado, embora não entendam (9,10; cf. 8,32-33), ou melhor, porque não entendem, pois aproxima-se o momento em que eles deverão enfrentar o escândalo da cruz. Por isso, por uma frestinha, podem enxergar pedacinho do céu. E gostam: “Façamos aqui três tendas…”, diz Pedro. Porém, “ele não sabia o que estava dizendo” (9,6). Pois Jesus não podia ficar onde estavam. Devia caminhar. Não há glória sem cruz, não há Páscoa sem Semana Santa (cf. 9,12b).
Muitos gostariam de que existisse Páscoa sem semana santa. Um Jesus festivo, jovem, simpático, com olhos românticos; ou até com ar de revolucionário, mas não um Jesus esmagado e aniquilado! Mc, porém, e também a liturgia, situam a visão da glória na perspectiva da cruz, no inicio do caminho que conduz ao Gólgota, logo depois do convite aos discípulos de assumirem sua cruz no seguimento de Jesus (8,34). Aprendemos hoje que não devemos construir as “tendas eternas” antes da hora. Jesus deve caminhar ainda, e nós também. Mas, entretanto, precisamos de uma “pré-visão” de sua glória, para, na noite do sofrimento, enxergar o sentido final, que se revela nestas breves palavras: “Este é meu filho amado..,”. Deus quer mostrar-nos que o mistério que nos salva é sua própria doação por nós, na morte de seu Filho. E o que nos explica Paulo, na 2ª leitura: “Não poupou seu próprio filho”. E, para que nos sensibilizemos do que significam estas palavras, a 1ª leitura nos lembra o conflito que explodiu na alma de Abraão, quando Javé lhe exigiu seu querido e único filho em sacrifício. O filho que encarnava a promessa de descendência. O filho em quem estava toda a sua vida. Concretamente: Jesus era o homem que interpretava, ensinava e vivia de modo perfeito a vontade de Deus. Qualquer um de nós diria: “Este homem vale ouro, devemos dar-lhe todas as chances; não o podemos queimar; devemos protegê-lo, promovê-lo”. Deus não. Deus sabe que o coração humano é orgulhoso e só cai em si depois de ter destruído sua própria felicidade. Deus sabe que os homens só se convertem “elevando os olhos para aquele que traspassaram” (Zc. 12,10). A sede do poder, a agressividade, só reconhece seu vazio depois de ter esmagado o justo que a ela se opõe. Deus quer pagar este preço para conquistar o coração do ser humano. O Filho que ele envolve com sua glória, e que recebe o testemunho da Lei e dos Profetas (Moisés e Elias), Deus não o poupou, pois era preciso que se realizasse sua oferta de amor até o fim. Eis o risco que Deus quis correr.
Mas não aboliu Deus os sacrifícios humanos desde Abraão, impedindo, no último momento, o sacrifício de Isaac e contentando-se com um carneiro? Deus pôs fim aos sacrifícios em que homens oferecem outros homens. Mas, em seu Filho, ele mesmo quis sofrer, para nos ganhar com seu amor. Ele mesmo quis viver o amor até o fim, porque o Filho era, como se diz em termos humanos, o “amado” – uma parte de si, o único que encarnava plenamente sua vontade salvífica, o único verdadeiramente obediente, completamente dado ao plano do Pai. Nele Deus “se perdeu” a si mesmo em seu amor por nós…
“Escutai-o”. Os ensinamentos de Jesus, que agora seguirão, são os ensinamentos sobre a humildade, o despojamento, o serviço, a doação em prol dos “muitos” (10,45). Só podemos aceitar este ensinamento na confiança de que “ele teve razão” quando deu sua vida por nós. E isto que a liturgia de hoje, antecipadamente, nos deixa entrever.
Johan Konings "Liturgia dominical"
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TRANSFIGURAÇÃO
Jesus se transfigura, diante de três de seus discípulos, seis dias depois de Pedro ter revelado que Ele é o Messias esperado, o Filho de Deus.
Pedro, Tiago e João foram escolhidos para irem com Jesus para o alto da montanha, e ali eles têm uma visão de Jesus na Sua glória. A visão que eles têm do Profeta Elias junto de Jesus, representa aquilo que todos os Profetas disseram sobre a vinda Dele. E a visão da pessoa de Moisés, o líder da libertação do Egito, representa a Lei. Essas visões assustam os discípulos que se encontram sozinhos, diante daquilo que eles ouviram e esperavam, o Messias, aquele que está presente para ajudar a descer do monte e vencer o medo.
Pedro assustado e na sua ignorância em se colocar, simboliza toda a humanidade pretendendo viver a alegria da ressurreição sem passar pelo sofrimento e pela cruz.
Em meio ao medo e a visão, ouvem uma voz que vem do céu e diz: “Este é o meu Filho querido”, repetindo o que foi dito no dia do Batismo de Jesus. E a voz acrescenta ainda: “Escutem o que Ele diz!”, que significa ir com Jesus até o fim e se comprometer com um modo novo de vida.
Ao ouvirem isto os discípulos se lembraram do que Jesus havia dito há poucos dias para uma multidão em Cesaréia de Filipe: “Se alguém quer me seguir tome a sua cruz e me siga.” É preciso ouvir o que Jesus diz!
A transfiguração é o sinal da vitória de Jesus e de seu projeto, porque é garantido pelo Pai que o declara seu Filho amado, pedindo que todos escutem o que Ele diz.
Eles desceram a montanha juntos, e Jesus sabia que seus discípulos teriam dificuldade de entender e de aceitar o Seu sofrimento, a Sua morte e ressurreição, e, por isso, pede a eles que não fiquem entusiasmados com a visão da glória da transfiguração não comentando nada do que viram até que Ele ressuscite dos mortos.
Transfiguração
A cena da transfiguração contrasta com a perspectiva de sofrimento e morte que aguarda Jesus em Jerusalém, da parte dos chefes religiosos locais.
A narrativa, em estilo apocalíptico, caracterizada por fenômenos espantosos, abalos da natureza, nuvens e voz celestial, que indicam a presença e comunicação de Deus, confirma a filiação divina de Jesus e seu caráter de enviado para anunciar e instruir a todos. Moisés, representante da Lei, e Elias, representante do profetismo, haviam subido à montanha ao encontro de Deus.
Agora, estando Jesus a orar no alto da montanha, Moisés e Elias vêm a ele. O ponto alto é a voz que proclama: "Este é o meu Filho amado. Escutai-o!"
Do ponto de vista de uma interpretação messiânica escatológica, a transfiguração seria o prenúncio da ressurreição, como coroação dos sofrimentos de Jesus em sua Paixão (segunda leitura).
A obediência cega à Lei, que exprime a vontade de Javé, é premiada, conforme o modelo de Abraão. Esta concepção é prenhe de violência, particularmente quando a premiação é a conquista das cidades dos inimigos e a supremacia sobre todas as nações da terra (primeira leitura).
Sob outro ponto de vista, pode-se ver na transfiguração a revelação da condição divina de Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José, na simplicidade de seu convívio entre nós. Os discípulos devem perceber em Jesus a nova condição humana glorificada pela encarnação do Filho de Deus.
Não se trata de esperar um messias poderoso, mas, sim, de reencontrar a dignidade e a grandeza da condição humana, em tudo que ela tem de justo, bom, verdadeiro e belo. Ao entrarmos em comunhão de amor com Jesus e com o próximo, Deus é glorificado e nos é comunicada sua vida divina e eterna.
padre Jaldemir Vitório

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TRANSFIGURAÇÃO
"Este é o meu Filho amado"
No alto da montanha, Jesus muda de aparência diante de Pedro, Tiago e João. Suas roupas ficam brilhantes, e a seu lado aparecem Moisés e Elias que conversam com ele. Desce uma nuvem que os envolve com sua sombra e uma voz se faz ouvir: “Este é o meu Filho amado.
Escutem o que ele diz”. É o que nos narra Marcos. São Mateus afirma também, que o rosto de Jesus brilhou como o sol e que da nuvem a voz disse: “Este é o meu Filho amado, no qual pus todo o meu agrado. Escutem-no”. São Lucas fala simplesmente que o rosto de Jesus mudou de aparência e que a voz disse: “Este é o meu Filho, o escolhido. Escutem o que ele diz”.
Essa manifestação divina afirma que Jesus é o Filho amado e escolhido de Deus Pai e que devemos ouvir o que ele diz. Ele é a Palavra do Pai, a Boa Notícia, o Evangelho. Ouvi-lo significa entrar em contato com a divindade. O mesmo Jesus, enfraquecido no deserto e tentado pelo demônio, aqui aparece transfigurado, deixando os apóstolos verem um pouco o que será a ressurreição. Jesus mostra o verdadeiro Adão feito à imagem e semelhança de Deus. O ser humano é bom e belo, desde que não seja desfigurado. Jesus transfigurado aponta para a ressurreição e revela a beleza do ser humano. Suas roupas e seu rosto adquirem um brilho especial.
Abraão não podia oferecer a Deus nada maior nem melhor do que seu próprio filho Isaac. Ao aceitar sacrificar seu filho, Abraão estava devolvendo a Deus a criatura humana por Deus criada à sua imagem e semelhança. O apóstolo Paulo pergunta aos romanos: “Deus, que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos daria tudo com ele?”.
O Filho de Deus é sacrificado para que se restaure a criatura humana e ela volte ao paraíso. Ao aceitar o sacrifício de seu próprio Filho, Deus nos deu tudo de que precisamos e já não nos falta nada. E, no entanto, a beleza da criatura humana desapareceu e continua desaparecendo.
O ser humano completo é feito de corpo e alma. Sua beleza está tanto na alma como no corpo. A beleza do corpo se chama saúde. Quando ela é descurada, o ser humano se torna feio.
Assim, como Jesus no monte Tabor, todos nós seremos um dia transfigurados. Não haverá mais enfermidade, não haverá mais dores, não haverá mais limitações físicas. Enquanto esse dia não chega, todos trabalhamos seriamente para amenizar a dor humana. “É demais o sofrimento em minha vida”, dizemos com o salmista. Trabalhamos seriamente para testemunhar a nossa fé num mundo sem males e sem dores.
Os milagres de cura de doentes que está ao nosso alcance se faz na solidariedade de uns para com os outros, na responsabilidade dos agentes da saúde pública, na honestidade dos administradores do dinheiro do povo destinado ao cuidado dos enfermos, no uso da inteligência aplicada à pesquisa científica, nos conceitos éticos e morais relacionados à idéia do que é saúde pública. A soma de tudo favorece a beleza do ser humano criado à imagem e semelhança de Deus. A transfiguração, prenúncio da ressurreição, começa nesta terra.
cônego Celso Pedro da Silva
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TRANSFIGURAÇÃO
Revelação do Deus de amor
O "alto de uma montanha, a sós" é o interior do coração onde se dá a comunicação divina. É aí que Jesus procura entrar e revelar-se, vencendo as barreiras das ideologias tradicionais. E é lentamente que os discípulos vão compreendendo a novidade de Jesus. O simbolismo da sua figura "muito brilhante e tão branca" indica a condição divina presente em Jesus, não percebida aos olhos vulgares.
"Filho de Deus" era o título usado pelos poderosos, reis e faraós, que legitimavam seu abuso de poder e a opressão sobre o povo em nome de Deus, como seu representante ou seu próprio filho na terra. Nesse sentido foi elaborada a tradição davídica que originou as expectativas messiânicas sob várias formas. Contudo, Jesus, "o meu Filho amado", não tem este caráter messiânico. Ele é a revelação do Deus amor, misericórdia e serviço. É a base do projeto de um mundo novo possível, onde a fraternidade e a partilha sejam os laços fundamentais de relacionamento social. Sem esquecer que a natureza, a montanha, as nuvens, os campos, vales e rios participam harmoniosamente deste projeto. A transfiguração não é uma "ida e volta" à glória futura, mas uma transparência do caráter divino e glorioso de Jesus humano, manso e humilde de coração. A questão é a percepção da realidade atual da humanidade revestida da divindade, mesmo que vulnerável ao sofrimento e à morte. Jesus já é portador da glória do Pai e da vida eterna, e esta glória é comunicada a todos que o seguem.
Na primeira leitura, Abraão, por obediência religiosa, se dispõe a sacrificar seu filho único, Isaac. Abraão é apresentado como modelo da obediência cega à Lei que exprime a vontade da divindade, pelo que é premiado. Esta concepção é prenhe de violência, particularmente quando a premiação é a conquista das cidades daqueles que eram considerados inimigos, passados ao fio da espada, e a supremacia do poder e da riqueza sobre todas as nações da terra. Na segunda leitura, Paulo interpreta a cruz de Jesus sob este modelo de Abraão: Deus entrega seu filho unigênito em sacrifício por nós. Hoje, a teologia interpreta que o dom do Filho de Deus é a encarnação, com a plenitude de amor revelada e comunicada por Jesus no convívio com os discípulos e as multidões.
Jesus, nascido de Maria, humano e divino, é portador da imortalidade e da glória. Somos convidados a ter a experiência, já, da glória de Deus, no amor fraterno. "Nós vimos a sua glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único" (Jo 1,14b).
José Raimundo Oliva
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TRANSFIGURAÇÃO
No segundo domingo da Quaresma, a Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro discípulo deve seguir para chegar à vida nova: é o caminho da escuta atenta de Deus e dos seus projetos, o caminho da obediência total e radical aos planos do Pai.
O Evangelho relata a transfiguração de Jesus. Recorrendo a elementos simbólicos do Antigo Testamento, o autor apresenta-nos uma catequese sobre Jesus, o Filho amado de Deus, que vai concretizar o seu projeto libertador em favor dos homens através do dom da vida. Aos discípulos, desanimados e assustados, Jesus diz: o caminho do dom da vida não conduz ao fracasso, mas à vida plena e definitiva. Segui-o, vós também.
Na primeira leitura apresenta-se a figura de Abraão como paradigma de uma certa atitude diante de Deus. Abraão é o homem de fé, que vive numa constante escuta de Deus, que aceita os apelos de Deus e que lhes responde com a obediência total (mesmo quando os planos de Deus parecem ir contra os seus sonhos e projectos pessoais). Nesta perspectiva, Abraão é o modelo do crente que percebe o projecto de Deus e o segue de todo o coração.
A segunda leitura lembra aos crentes que Deus os ama com um amor imenso e eterno. A melhor prova desse amor é Jesus Cristo, o Filho amado de Deus que morreu para ensinar ao homem o caminho da vida verdadeira. Sendo assim, o cristão nada tem a temer e deve enfrentar a vida com serenidade e esperança.
1ª leitura – Gn. 22,1-2.9a.10-13.15-18 – AMBIENTE
A primeira leitura de hoje faz parte de um bloco de textos a que se dá o nome genérico de “tradições patriarcais” (cf. Gn 12-36). Trata-se de um conjunto de relatos singulares, originalmente independentes uns dos outros, sem grande unidade e sem caráter de documento histórico. Nesses capítulos aparecem, de forma indiferenciada, “mitos de origem” (descreviam a “tomada de posse” de um lugar pelo patriarca do clã), “lendas cultuais” (narravam como um deus tinha aparecido nesse lugar ao patriarca do clã), indicações mais ou menos concretas sobre a vida dos clãs nômades que circularam pela Palestina durante o 2º milênio e reflexões teológicas posteriores destinadas a apresentar aos crentes israelitas modelos de vida e de fé.
O relato do sacrifício de Isaac (Gn 22) é uma “lenda cultual”. Nasceu, provavelmente, num santuário do sul do país, muito antes de os patriarcas bíblicos se terem instalado na zona. A lenda primitiva contava como num lugar sagrado (o texto sugere que esse lugar se chamaria “El Yreêh”) o deus aí adorado tinha salvo uma criança destinada a ser oferecida em sacrifício (no mundo dos cananeus, os sacrifícios humanos eram relativamente frequentes). A partir daí, nesse lugar, os sacrifícios de crianças tinham sido substituídos por sacrifícios de animais. Foi essa a primeira etapa da tradição que nos é hoje proposta.
Numa segunda fase, esta história primitiva foi aplicada à figura de Abraão, quando o clã de Abraão se instalou na zona. O pai cananeu da primitiva história, que levava o filho para ser oferecido em sacrifício, foi identificado com o patriarca Abraão. A tradição acabou por englobar um clã ligado ao de Abraão, o clã de Isaac. Isaac tornou-se, assim, o filho destinado ao sacrifício de que falava a velha lenda pré-israelita.
Numa terceira fase, os teólogos elohistas (séc. VIII a.C.) pegaram na antiga lenda cultual e puseram-na ao serviço da sua catequese. Na reflexão dos catequistas de Israel, a antiga lenda cultual de “El Yreêh” tornou-se uma catequese sobre uma “prova” em que o justo Abraão manifestou a sua obediência radical e a sua confiança em Elohim.
Por fim, um redator pós-elohista acrescentou ao texto outros elementos de caráter teológico. Foi, certamente, ele que ligou a lenda do sacrifício de Isaac com o monte santo dos sacrifícios do Templo de Jerusalém; foi ele, também, que acrescentou à história a ideia de que o comportamento de Abraão para com Deus mereceu uma recompensa e que essa recompensa iria, no futuro, derramar-se sobre todos os descendentes de Abraão.
MENSAGEM
No início da narração (v. 1), aparece um verbo que vai presidir a todo o relato e definir o sentido que os catequistas elohistas atribuíram a esta história: o verbo “pôr à prova” (em hebraico “nassah”). No Antigo Testamento, este verbo apresenta, com frequência, as “nuances” de “examinar”, “experimentar”, “demonstrar”, “testar”. À partida, define-se logo o que está em jogo: Deus vai “submeter Abraão a um teste”. A ideia de que Deus submete o seu Povo ou indivíduos particulares a “provas” é relativamente frequente no Antigo Testamento. Estas “provas” servem, normalmente, para que Deus possa conhecer o coração do seu Povo e experimentar a sua fidelidade (cf. Dt. 8,2). São uma forma de Deus confirmar que tal comunidade ou tal pessoa é digna e é capaz de viver uma relação de especial comunhão e intimidade com Ele. Abraão, contudo, não sabe que está a ser “testado”.
A “prova” a que Abraão é submetido é especialmente dramática: Jahwéh pede-lhe que tome Isaac, o seu único filho, e o ofereça em holocausto sobre um monte (vers. 2). Contudo, Isaac não é, apenas, o filho único e amado de Abraão, embora só isso já fosse suficiente para tornar esta “prova” tremendamente dura; mas Isaac é, também, o herdeiro dessa promessa que Deus, continuamente, renovou a Abraão… Isaac é a garantia de um futuro, dessa descendência numerosa que irá tomar posse da terra; é a garantia dessas promessas que deram sentido à peregrinação de Abraão desde que Deus o mandou deixar a sua terra, a sua família e a casa de seus pais. Abraão encontra-se diante de um Deus que parece retomar o que havia dado e cuja palavra de hoje parece desmentir a de ontem. Porquê essa mudança de planos? Quais são, na realidade, os desígnios de Deus? Pode-se confiar num Deus que muda de ideias desta forma? A aposta de Abraão em deixar tudo (cf. Gn. 12) para apostar nos desafios de Deus terá sido uma boa opção? A verdadeira “prova” é esta… É o absurdo de uma exigência que nega a própria história da salvação; é o continuar a esperar num Deus que, num instante, parece querer destruir os sonhos que Ele próprio ajudou a criar; é o continuar a confiar num Deus que Se contradiz e que parece, de repente, esquecer tudo o que tinha prometido; é o impasse, a obscuridade, o sofrimento em que Abraão de repente se acha; é o ser convidado a atirar-se às cegas para um caminho escuro e incompreensível.
Como é que Abraão vai reagir a esta tremenda “prova”? Do princípio ao fim, Abraão não abre a boca a não ser para dizer “aqui estou” (v. 1. 11) – expressão de disponibilidade total diante de Deus. De resto, Abraão não discute, não argumenta, não procura obter respostas para esse drama incompreensível que parece hipotecar tudo o que Deus lhe havia prometido. Abraão age, apenas. Levanta-se de madrugada, prepara as coisas para o holocausto, põe-se a caminho. Já no “monte do sacrifício”, Abraão constrói o altar, amarra a vítima e puxa do cutelo para matar o filho. O silêncio de Abraão, a imediatez da resposta e a forma determinada como age mostram a entrega, a confiança absoluta em Deus, a obediência levada até às últimas consequências.
Percorrido o longo e angustiante caminho da “prova”, chega finalmente o momento em que Deus, pela voz do seu mensageiro, faz o balanço e constata o resultado. A “prova” é conclusiva: todo o comportamento de Abraão ao longo desta “crise” testemunha que ele “teme o Senhor” (v. 12). A expressão – frequente no Antigo Testamento – traduz, por um lado, a reverência e o respeito e, por outro lado, a pronta obediência à vontade divina, a confiança inamovível no Deus que não falha, a humilde renúncia aos próprios critérios, a adesão incondicional à vontade de Deus, a aceitação plena das propostas e mandamentos de Deus.
A nossa história termina com uma referência à “recompensa” oferecida por Deus. A obediência de Abraão irá gerar plenitude de vida e de dons divinos (bênção), uma descendência numerosa “como as estrelas do céu ou como a areia que está na margem do mar” e a posse da terra (v. 17). O mais interessante é a indicação de que a obediência do “justo” Abraão terá um alcance universal e resultará em bênção para “todas as nações da terra”.
Nesta “catequese”, a intenção fundamental do autor não é dizer-nos quem é Deus e como é que Ele age (por isso, não adianta estarmos a “perguntar” ao texto se, na realidade, os métodos de Deus passam por submeter o homem a provas desumanas a fim de o “testar”). A história do sacrifício de Isaac destina-se, sobretudo, a propor-nos a atitude que o crente deve assumir diante de Deus. Abraão é apresentado como o protótipo do crente ideal, que sabe escutar Deus e acolher os seus projetos com obediência incondicional, com confiança total… Mesmo que as propostas de Deus resultem incompreensíveis ou que os desafios de Deus interfiram com os projetos do homem, o crente ideal deve acolher os planos de Deus e realizá-los com fidelidade. Foi para deixar esta lição aos seus concidadãos – lição que serve, naturalmente, para os crentes de todos os tempos – que os teólogos elohistas foram buscar esta velha lenda.
ATUALIZAÇÃO
• O comportamento de Abraão face a esta “crise” revela, antes de mais, o lugar absolutamente central que Deus ocupa na sua existência. Deus é, para Abraão, o valor máximo, a prioridade fundamental; por isso, Abraão mostra-se disposto a fazer a Deus um dom total e irrevogável de si próprio, da sua família, do seu futuro, dos seus sonhos, das suas aspirações, dos seus projetos, dos seus interesses. Para Abraão, nada mais conta quando estão em jogo os planos de Deus… Na vida do homem do nosso tempo, contudo, nem sempre Deus ocupa o lugar central que Lhe é devido. Com frequência, o dinheiro, o poder, a carreira profissional, o reconhecimento social, o sucesso, ocupam o lugar de Deus e condicionam as nossas opções, os nossos interesses, os valores que nos orientam. Abraão, o crente para quem Deus é a coordenada fundamental à volta da qual toda a vida se constrói convida-nos, nesta Quaresma, a rever as nossas prioridades e a dar a Deus o lugar que Ele merece.
• Na sua relação com Deus, o crente Abraão manifesta uma vasta gama de “qualidades” – a reverência, o respeito, a humildade, a disponibilidade, a obediência, a confiança, o amor, a fé – que o definem como o crente “ideal”, o modelo para os crentes de todas as épocas. Neste tempo de preparação para a Páscoa, são estas “qualidades” que nos são propostas, também. É preciso que realizemos um caminho de conversão que nos torne cada vez mais atentos e disponíveis para acolher e para viver na fidelidade aos planos de Deus.
• O crente Abraão ensina-nos, ainda, a confiar em Deus, mesmo quando tudo parece cair à nossa volta e quando os caminhos de Deus se revelam estranhos e incompreensíveis. Quando os nossos projetos se desmoronam, quando as nuvens negras da guerra, da violência, da opressão se acastelam no horizonte da nossa existência, quando o sofrimento nos leva ao desespero, é preciso continuar a caminhar serenamente, confiando nesse Deus que é a nossa esperança e que tem um projeto de vida plena para nós e para o mundo.
• A ideia de que a obediência de Abraão é fonte de vida para ele, para a sua família e para “todas as nações da terra”, deve ser uma espécie de “selo de garantia” que atesta a validade deste caminho. Fazer de Deus o centro da própria existência e renunciar aos próprios critérios e interesses para cumprir os planos de Deus não é uma escravidão, mas um caminho que nos garante (a nós e aos nossos irmãos) o acesso à vida plena e verdadeira.
2ª leitura – Rm. 8,31b-34 – AMBIENTE
Quando Paulo escreve aos Romanos, está a terminar a sua terceira viagem missionária e prepara-se para partir para Jerusalém. Tinha terminado a sua missão no oriente (cf. Rm. 15,19-20) e queria levar o Evangelho ao ocidente. Dirigindo-se por carta aos Romanos, Paulo aproveita para contatar a comunidade cristã de Roma e para apresentar aos membros da comunidade os principais problemas que o ocupavam (entre os quais sobressaía a questão da unidade – um problema bem presente na comunidade cristã de Roma, afetada por alguns problemas de relacionamento entre judeo-cristãos e pagano-cristãos). Estamos no ano 57 ou 58.
Na primeira parte da Carta aos Romanos (cf. Rm. 1,18-11,36), Paulo vai fazer notar aos cristãos divididos que o Evangelho é a força que congrega e que salva todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Embora o pecado seja uma realidade universal, que afeta todos os homens (cf. Rm. 1,18-3,20), a “justiça de Deus” dá vida a todos, sem distinção (cf. Rm. 3,1-5,11); e é em Jesus Cristo que essa vida se comunica e que transforma o homem (cf. Rm. 5,12-8,39). Os crentes devem, portanto, fazer a experiência do amor de Deus que os une e alegrar-se por esse plano de salvação que Deus quer oferecer a todos. Acolher a salvação que Deus oferece, identificar-se com Jesus e percorrer com Ele o caminho do amor a Deus e da entrega aos irmãos (vida “segundo o Espírito”) não é, no entanto, um caminho fácil, de triunfos e de êxitos humanos; mas é um caminho que é preciso percorrer, tantas vezes, na dor, no sofrimento e na renúncia, enfrentando as forças da morte, da opressão, do egoísmo e da injustiça.
Apesar das barreiras que é necessário vencer, das nuvens ameaçadoras e dos mil desafios que, dia a dia, se põem ao crente que segue o caminho de Jesus, o cristão pode e deve confiar no êxito final. Porquê?
Num hino de triunfo, apaixonado e otimista, que exalta o amor de Deus (cf. Rm. 8,31-39), Paulo diz aos cristãos porque é que eles devem ter esperança no triunfo final.
MENSAGEM
A razão para a esperança dos cristãos está na certeza que Deus ama todos os seus filhos com um amor imenso e eterno. O envio ao mundo de Jesus Cristo, o Filho único de Deus, que nos ensinou o caminho da vida plena e da felicidade sem fim, que lutou até à morte contra tudo o que oprimia e escravizava o homem, é a “prova provada” do imenso amor de Deus por nós (v. 32).
Ora, se Deus nos ama dessa forma tão intensa e tão total, nada nem ninguém nos pode acusar, condenar, destruir ou fazer mal. É Deus “quem nos justifica” (v. 33) – quer dizer, é Deus que, na sua imensa bondade, pronuncia sobre nós um veredicto de graça e de perdão, apesar das nossas faltas e infidelidades. Ninguém nos condena pois o próprio Deus (o único que o poderia fazer) escolheu salvar-nos, mesmo que o não merecêssemos.
Sendo assim, o cristão deve enfrentar a vida com serenidade e esperança, confiando totalmente no amor de Deus.
ATUALIZAÇÃO
• Para Paulo, há uma constatação incrível, que não cessa de o espantar: Deus ama-nos com um amor profundo, total, radical, que nada nem ninguém consegue apagar ou eliminar. Esse amor veio ao nosso encontro em Jesus Cristo, atingiu a nossa existência e transformou-a, capacitando-nos para caminharmos ao encontro da vida eterna. Ora, antes de mais, é esta descoberta que Paulo nos convida a fazer… Nos momentos de crise, de desilusão, de perseguição, de orfandade, quando parece que todo o mundo está contra nós e que não entende a nossa luta e o nosso compromisso, a Palavra de Deus grita: “não tenhais medo; Deus ama-vos”.
• Descobrir esse amor dá-nos a coragem necessária para enfrentar a vida com serenidade, com tranquilidade e com o coração cheio de paz. O crente é aquele homem ou mulher que não tem medo de nada porque está consciente de que Deus o ama e que lhe oferece, aconteça o que acontecer, a vida em plenitude. Pode, portanto, entregar a sua vida como dom, correr riscos na luta pela paz e pela justiça, enfrentar os poderes da opressão e da morte, porque confia no Deus que o ama e que o salva.
Evangelho – Mc. 9,2-10 - AMBIENTE
A segunda parte do Evangelho de Marcos começa com um anúncio da Paixão, posto na boca de Jesus (cf. Mc. 8,31-32). Nesta altura, os discípulos já tinham percebido que Jesus era o Messias libertador que Israel esperava (cf. Mc. 8,29); mas ainda acreditavam que a missão messiânica de Jesus se ia concretizar num triunfo militar sobre os opressores romanos. Marcos vai explicar aos crentes a quem o Evangelho se destina que o projeto messiânico de Jesus não se vai concretizar em triunfos humanos, mas sim na cruz – isto é, no amor e no dom da vida.
O relato da transfiguração de Jesus é antecedido do primeiro anúncio da paixão (cf. Mc. 8,31-33) e de uma instrução sobre as atitudes próprias do discípulo (convidado a renunciar a si mesmo, a tomar a sua cruz e a seguir Jesus no seu caminho de amor e de entrega da vida – cf. Mc 8,34-38). Depois de terem ouvido falar do “caminho da cruz” e de terem constatado aquilo que Jesus pede aos que O querem seguir, os discípulos estão desanimados e frustrados, pois a aventura em que apostaram parece encaminhar-se para um rotundo fracasso; eles vêem esfumar-se – nessa cruz que irá ser plantada numa colina de Jerusalém – os seus sonhos de glória, de honras, de triunfos e perguntam-se se vale a pena seguir um mestre que nada mais tem para oferecer do que a morte na cruz.
É neste contexto que Marcos coloca o episódio da transfiguração. A cena constitui uma palavra de ânimo para os discípulos (e para os crentes, em geral), pois nela manifesta-se a glória de Jesus e atesta-se que Ele é – apesar da cruz que se aproxima – o Filho amado de Deus. Os discípulos recebem, assim, a garantia de que o projeto que Jesus apresenta é um projeto que vem de Deus; e, apesar das suas próprias dúvidas, recebem um complemento de esperança que lhes permite “embarcar” e apostar nesse projeto.
Literariamente, a narração da transfiguração é uma teofania – quer dizer, uma manifestação de Deus. Portanto, o autor do relato vai colocar no quadro todos os ingredientes que, no imaginário judaico, acompanham as manifestações de Deus (e que encontramos quase sempre presentes nos relatos teofânicos do Antigo Testamento): o monte, a voz do céu, as aparições, as vestes brilhantes, a nuvem e mesmo o medo e a perturbação daqueles que presenciam o encontro com o divino. Isto quer dizer o seguinte: não estamos diante de um relato fotográfico de acontecimentos, mas de uma catequese (construída de acordo com o imaginário judaico) destinada a ensinar que Jesus é o Filho amado de Deus, que traz aos homens um projeto que vem de Deus.
MENSAGEM
Esta página de catequese, destinada a ensinar que Jesus é o Filho de Deus e que o projeto que Ele propõe vem de Deus, está construída sobre elementos simbólicos tirados do Antigo Testamento. Que elementos são esses?
O monte situa-nos num contexto de revelação: é sempre num monte que Deus Se revela; e, em especial, é no cimo de um monte que Ele faz uma aliança com o seu Povo.
A mudança do rosto e as vestes brilhantes, muitíssimo brancas, recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex. 34,29), depois de se encontrar com Deus e de ter as tábuas da Lei.
A nuvem, por sua vez, indica a presença de Deus: era na nuvem que Deus manifestava a sua presença, quando conduzia o seu Povo através do deserto (cf. Ex. 40,35; Nm. 9,18.22; 10,34).
Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); além disso, são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no “dia do Senhor”, quando se manifestasse a salvação definitiva (cf. Dt. 18,15-18; Mal. 3,22-23).
O temor e a perturbação dos discípulos são a reação lógica de qualquer homem ou mulher, diante da manifestação da grandeza, da onipotência e da majestade de Deus (cf. Ex. 19,16; 20,18-21).
As tendas parecem aludir à “festa das tendas”, em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em “tendas”, no deserto.
A mensagem fundamental, amassada com todos estes elementos, pretende dizer quem é Jesus. Recorrendo a simbologias do Antigo Testamento, o autor deixa claro que Jesus é o Filho amado de Deus, em quem se manifesta a glória do Pai. Ele é, também, esse Messias libertador e salvador esperado por Israel, anunciado pela Lei (Moisés) e pelos Profetas (Elias). Mais ainda: Ele é um novo Moisés – isto é, Aquele através de quem o próprio Deus dá ao seu Povo a nova lei e através de quem Deus propõe aos homens uma nova Aliança.
Da ação libertadora de Jesus, o novo Moisés, irá nascer um novo Povo de Deus. Com esse novo Povo, Deus vai fazer uma nova Aliança; e vai percorrer com ele os caminhos da história, conduzindo-o através do “deserto” que leva da escravidão à liberdade.
Esta apresentação tem como destinatários os discípulos de Jesus (esse grupo desanimado e frustrado porque no horizonte próximo do seu líder está a cruz e porque o mestre exige dos discípulos que aceitem percorrer um caminho semelhante). Aponta para a ressurreição, aqui anunciada pela glória de Deus que se manifesta em Jesus, pelas “vestes brilhantes, muitíssimo brancas” (que lembram a túnica branca do “jovem” sentado junto do túmulo de Jesus e que anuncia às mulheres a ressurreição – cf. Mc. 16,5) e pela recomendação final de Jesus (“que não contassem a ninguém o que tinham visto, enquanto o Filho do Homem não ressuscitasse dos mortos” – Mc. 9,9): diz-lhes que a cruz não será a palavra final, pois no fim do caminho de Jesus (e, consequentemente, dos discípulos que seguirem Jesus) está a ressurreição, a vida plena, a vitória sobre a morte.
Uma palavra final para o desejo – manifestado por Pedro – de construir três tendas no cimo do monte, como se pretendesse “assentar arraiais” naquele quadro. O pormenor pode significar que os discípulos queriam deter-se nesse momento de revelação gloriosa, ignorando o destino de sofrimento de Jesus. Jesus nem responde à proposta: Ele sabe que o projeto de Deus – esse projeto de construir um novo Povo de Deus e levá-lo da escravidão para a liberdade – tem de passar pelo caminho do dom da vida, da entrega total, do amor até às últimas consequências.
ATUALIZAÇÃO
• A questão fundamental expressa no episódio da transfiguração está na revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai concretizar o projeto salvador e libertador do Pai em favor dos homens através do dom da vida, da entrega total de Si próprio por amor. Pela transfiguração de Jesus, Deus demonstra aos crentes de todas as épocas e lugares que uma existência feita dom não é fracassada – mesmo se termina na cruz. A vida plena e definitiva espera, no final do caminho, todos aqueles que, como Jesus, forem capazes de pôr a sua vida ao serviço dos irmãos.
• Na verdade, os homens do nosso tempo têm alguma dificuldade em perceber esta lógica… Para muitos dos nossos irmãos, a vida plena não está no amor levado até às últimas consequências (até ao dom total da vida), mas sim na preocupação egoísta com os seus interesses pessoais, com o seu orgulho, com o seu pequeno mundo privado; não está no serviço simples e humilde em favor dos irmãos (sobretudo dos mais débeis, dos mais marginalizados, dos mais infelizes), mas no assegurar para si próprio uma dose generosa de poder, de influência, de autoridade, de domínio, que dê a sensação de pertencer à categoria dos vencedores; não está numa vida vivida como dom, com humildade e simplicidade, mas numa vida feita um jogo complicado de conquista de honras, de glórias, de êxitos. Na verdade, onde é que está a realização plena do homem? Quem tem razão: Deus, ou os esquemas humanos que hoje dominam o mundo e que nos impõem uma lógica diferente da lógica do Evangelho?
• Por vezes somos tentados pelo desânimo, porque não percebemos o alcance dos esquemas de Deus; ou então, parece que, seguindo a lógica de Deus, seremos sempre perdedores e fracassados, que nunca integraremos a elite dos senhores do mundo e que nunca chegaremos a conquistar o reconhecimento daqueles que caminham ao nosso lado… A transfiguração de Jesus grita-nos, do alto daquele monte: não desanimeis, pois a lógica de Deus não conduz ao fracasso, mas à ressurreição, à vida definitiva, à felicidade sem fim.
• Os três discípulos, testemunhas da transfiguração, parecem não ter muita vontade de “descer à terra” e enfrentar o mundo e os problemas dos homens. Representam todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, alheados da realidade concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar. No entanto, ser seguidor de Jesus obriga a “regressar ao mundo” para testemunhar aos homens – mesmo contra a corrente – que a realização autêntica está no dom da vida; obriga a atolarmo-nos no mundo, nos seus problemas e dramas, a fim de dar o nosso contributo para o aparecimento de um mundo mais justo e mais feliz. A religião não é um ópio que nos adormece, mas um compromisso com Deus, que se faz compromisso de amor com o mundo e com os homens.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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TRANSFIGURAÇÃO
1. A transfiguração de Jesus Mc. 9, 2-10; Mt. 17,1-8; Lc. 9,28-36: cada evangelista trabalha a narrativa dentro dos objetivos específicos que tem. Marcos a inseriu no início da segunda parte do seu evangelho. De fato, a partir de 8,31 temos um novo início e, daqui para a frente, Jesus vai dedicar a maior parte do seu tempo ensinando aos discípulos o sentido profundo do seu messianismo.
2. Na primeira parte do Evangelho de Marcos, Jesus é incompreendido pelos “de fora”, acusado de blasfemar, de ser um possesso, louco e impuro. E os discípulos, o que pensam dele? Pedro, representando todos os que pretendem se unir ao Mestre, afirma que Jesus é o Messias (8,29). Marcos insere aqui o primeiro anúncio da Paixão. E Pedro, representando mais uma vez os discípulos, se torna “satanás”, porque pretende que o messianismo de Jesus se baseie nos moldes tradicionais. Jesus é incompreendido pelos “de dentro”.
2. E agora: a proposta messiânica de Jesus vai vencer? A transfiguração responde afirmativamente. Jesus vai vencer. Seu projeto será vitorioso porque é garantido pelo Pai, que o declara seu Filho amado, pedindo que todos escutem o que ele diz (9,7). A transfiguração, portanto, é o sinal da vitória de Jesus e de seu projeto.
3. Jesus sobe à montanha com Pedro, Tiago e João, três dos quatro primeiros escolhidos (cf. 1,16-20). A cena recorda Ex. 24, onde Moisés é convidado a subir à montanha de Javé em companhia de Aarão, Nadab, Abiú e setenta anciãos. Somente Moisés se aproximou de Javé e, ao descer do monte, contou ao povo tudo o que Javé lhe havia dito. A resposta do povo é uma só: “Faremos tudo o que Javé disse” (cf. Ex. 24,1-13). Qual será a resposta dos discípulos? Desde já podemos concluir que eles se deixam levar pelo medo e perplexidade (vv. 6.10).
4. Marcos afirma que “as roupas de Jesus ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar” (v. 3). Essa transformação aponta para a realidade da ressurreição de Jesus. Ninguém, – nem mesmo a morte, – poderá deter o projeto do Reino, pois o Mestre vai ressuscitar depois de três dias (cf. 8,31b).
5. Moisés e Elias – que representam respectivamente a Lei e os Profetas, isto é, todo o Antigo Testamento – se fazem presentes e conversam com Jesus. Elias é o restaurador do javismo no Reino do Norte no tempo do rei Acab, o profeta que libertou o povo da idolatria que gera opressão. Moisés é o líder da libertação do Egito. O comparecimento deles vem dar testemunho de Jesus: ele é o libertador definitivo, prometido e prefigurado nos líderes do passado. O Antigo Testamento testemunha que Jesus veio para libertar mediante a entrega total de sua vida.
6. Nuvem, esplendor, personagens (Elias - Moisés) e, sobretudo, a voz que sai da nuvem são modos de indicar a presença de Deus no acontecimento. O próprio Pai garante que Jesus é seu Filho amado, ao qual é preciso dar adesão (v. 7; cf. 1,15). Nesse versículo temos um dos pontos altos do Evangelho de Marcos. Desde o início afirma-se que Jesus é Filho de Deus (1,1) e, ao ser batizado, o Pai diz: “Tu és o meu Filho amado; em ti encontro o meu agrado” (1,11). O termo “filho” recorda o salmo 2,7, onde um rei é declarado filho de Deus. Jesus é esse Rei, mas seu messianismo passa pela entrega da vida.
7. Pedro representa nós todos quando pretendemos viver a alegria da ressurreição sem passar pela entrega e pela morte (cf. Abraão na 1ª leitura). O julgamento que Marcos faz de Pedro e de todos os seguidores de Jesus é muito severo: “Ele não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo”(v.6). No fim de tudo, os discípulos perguntam o que queria dizer “ressuscitar dos mortos” (cf. v. 10). O tema da ignorância dos discípulos é muito forte no evangelho de Marcos. É impossível saber quem é Jesus sem ir com ele até a cruz, sem passar pela morte, sem voltar à Galileia (16,7) para anunciar aí, por meio de uma prática libertadora, que o Mestre está vivo.
8. Pedro – e nós todos com ele – sofremos de ignorância crônica em relação a quem é Jesus. Por isso é que “escutar o que ele diz” (v. 7 ) = significa ir com ele até o fim. E não nos assustemos: no evangelho de Marcos, quem confessa Jesus como “Filho de Deus” é justamente um pagão, alguém que jamais estivera com o Mestre nas suas andanças pela Galileia.
9. E, de repente, olhando em volta, os discípulos não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles” (v.8). Jesus é a única autoridade credenciada pelo Pai. Ele está conosco para nos ajudar a descer do monte e a vencer o medo e a perplexidade.
1ª leitura: Gn. 22,1-2.9a.10-13.15-18
10. Estamos diante da maior prova de fé de Abraão, pai dos que crêem. O episódio do sacrifício de Isaac serviu para que o povo de Deus jamais admitisse sacrifícios humanos (como faziam os cultos cananeus). Isaac é resgatado por meio de um sacrifício, e isso se tornou mais tarde lei em Israel (cf. Ex. 13,13b). É para aprendermos: A vida é dom de Deus, mas isso não significa que Ele exija para si a vida das suas criaturas, nem no passado, nem no presente, nem no futuro.
11. O trecho, porém, não quer simplesmente justificar leis ou costumes adotados pelo povo de Deus ao longo da história. Ele é, sim, o melhor retrato da pessoa que crê em meio à escuridão da vida. De fato, o v. 1 afirma: “Deus pôs Abraão à prova”, sem contudo avisá-lo de que se tratava de uma prova. E um teste duríssimo: Isaac é seu filho único e Abraão o amava muito.
12. Abraão havia sido chamado a deixar o passado (cf. 12,1), confiando na promessa a daquele que o chamou, prometendo-lhe terra e descendência. Isaac é filho dessa promessa e esperança de futuro. Abraão é chamado a renunciar também ao futuro, devolvendo a Deus o dom da promessa, Isaac. Acabam-se assim todas as esperanças e seguranças para o velho patriarca (… velho e sem nada!).
13. Deus age dessa forma porque somente ele é segurança, ele que se mantém fiel até o fim. Abraão passou pela prova, amadureceu a sua fé, tornou-se construtor de uma nova história e pai de um povo que irá perpetuar sua memória e ações em outros lugares e tempos.
14. O povo de Deus não só se identificou com o Abraão eloqüente que conversa e pechincha com Deus (cf. 18,22-33), mas se identificou também com o Abraão que se cala diante do mistério. De fato, no episódio do sacrifício de Isaac, o patriarca quase não fala, e Deus se manifesta somente no início e no fim do relato. Abraão tem de fazer tudo sozinho, em silêncio e envolvido pelo mistério incomparável de Deus – superando com fé e confiança os absurdos que a vida apresenta.
15. Mas o povo se identifica também com Isaac, pois somos todos frutos de uma promessa e esperança de futuro. Nós, como Isaac, perguntamos quando percebemos que em nossa caminhada falta o essencial. E a única força que nos anima é esta: “Deus vai providenciar!”.
16. Isaac é fruto da promessa, mas Deus tirou de Abraão todas as seguranças para que ele não se acomodasse. Só assim é que a promessa se torna realização: “Uma vez que não me recusaste teu único filho, eu te abençoarei largamente e tornarei tua descendência tão numerosa como as estrelas do céu e como a areia da praia … Por tua descendência serão abençoadas todas as nações da terra, porque tu me obedeceste” (vv. 16b-18).
2ª leitura: Rm. 8,31b–34
17. O capítulo 8 de Romanos é uma das páginas magistrais de Paulo. Aí fala-se da vida no Espírito. Dois são os temas que percorrem este capítulo: o da vida no Espírito e o da filiação divina. A partir dessa certeza, ele compõe uma poesia que nossas comunidades hoje gostam de cantar (vv. 31-39). Ele celebra a certeza das comunidades de que o projeto de Deus vai vencer.
18. O capítulo 8 inicia com uma certeza: “Já não existe condenação para aqueles que estão em Jesus Cristo” (v. 1). E as perguntas que Paulo faz (-nos versículos que a liturgia escolheu para este domingo-) não admitem outras respostas senão estas:
- “Deus é por nós, ninguém será contra nós” (v. 31b).
- “Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós. Por isso, juntamente com ele, nos dará tudo o de que precisamos” (v. 32).
- “Ninguém acusará os escolhidos de Deus, pois é Deus quem justifica” (v. 33).
- “Ninguém condenará, nem mesmo Jesus Cristo, pois ele morreu e ressuscitou, está à direita de Deus e intercede por nós” (v. 34).
19. Se Deus não é contra nós, não nos nega nada, não nos acusa, não nos condena, quem de nós ousa fazer aquilo que Deus não faz? A responsabilidade, portanto, é de cada um e de todos.
R e f l e t i n d o
1. Celebramos a certeza de que, – se Deus é por nós, – ninguém será contra nós. Na celebração da Eucaristia aprendemos a escutar o que o Filho amado do Pai tem a nos dizer … e, confiantes, – … não em nossas seguranças, – mas no Deus fiel às suas promessas, enfrentamos os absurdos da vida, os mistérios que perpassam indecifráveis a nossa existência, as perplexidades e os desafios que o mundo dos excluídos nos apresenta. A fé nos garante que é possível transfigurar (além da nossa vida) também a vida de quem carece de dignidade humana. Seguindo os passos de Jesus – que foi solidário conosco e se entregou por amor – queremos aprender a construir sociedade nova e história nova.
2. O evangelho de hoje nos dá uma espiadinha no céu: Jesus revela sua glória diante de seus discípulos. Situando essa visão dentro da estrutura fundamental do evangelho de Marcos:
- na 1ª parte de sua atividade Jesus se dirige às multidões mediante sinais e ensinamentos, que deixam transparecer sua “autoridade” … mas não dizem nada do seu interior.
- Na 2ª metade (a partir de 8,27) Jesus revela – não à multidão, mas aos Doze, futuras testemunhas de sua missão, – seu mistério interior: sua missão de Servo Padecente (melhor, Filho do Homem padecente) e sua união com o Pai.
3. Na hora do Batismo, o que foi confiado a Jesus pessoalmente, pelo Pai, quando a voz da nuvem lhe revelou: “Tu és meu Filho amado, no qual está o meu agrado” (Mc. 1,11), é agora, na transfiguração, revelado aos discípulos: “Este é meu Filho amado, escutai-o”.
4. O mistério do Enviado de Deus (não mais reservado a Jesus) é comunicado aos que deverão continuar sua missão. É-lhes revelado, embora não o entendam (9,10; cf.8,32s), ou melhor, porque não entendem, pois aproxima-se o momento do escândalo da cruz. Por isso, por uma frestinha podem enxergar um pedacinho do céu. E gostam!
5. “Façamos aqui três tendas…”, diz Pedro (porém, ele não sabia o que estava dizendo,9,6). Pois – Jesus não podia ficar onde estavam.
- Devia caminhar.
- Não há glória sem cruz, não há Páscoa sem Semana Santa (cf. 9,12b).
6. Muitos gostariam de que existisse Páscoa sem Semana Santa. Um Jesus festivo, jovem, simpático, com olhos românticos, com ar de revolucionário, mas não um Jesus esmagado e aniquilado! Marcos, porém, situa a visão da glória na perspectiva da cruz, no início do caminho que conduz ao Gólgota, logo depois do convite aos discípulos de assumirem sua cruz no seguimento de Jesus (8,34).
7. Aprendemos hoje que não dá e não devemos construir “tendas eternas” antes da hora. Jesus ainda tem muito a caminhar, e nós com ele. Mas, entretanto, precisamos de uma “pré-visão” de sua glória, para, – na noite do sofrimento, – não desanimarmos e enxergarmos o sentido final, revelado nas palavras: “Este é meu Filho amado…”.
8. Deus nos mostra que o mistério que nos salva é sua própria doação por nós, na morte de seu Filho. É o que nos diz Paulo na II leitura: “não poupou seu próprio Filho”. E para que entendamos o que significam estas palavras, a 1ª leitura lembra o conflito que explodiu na alma de Abraão, quando Javé lhe pede o sacrifício de seu único e querido filho (o filho que encarnava a promessa de descendência, o filho em quem estava toda a sua vida).
9. A lógica de Deus é diferente da nossa. Nós diríamos que Jesus era um homem especial, o homem que interpretava, ensinava e vivia de modo perfeito a vontade de Deus. Portanto, deveria ser protegido, defendido, promovido, divulgado de todas as formas. Deus, não!
- Deus sabe que o coração humano é orgulhoso e só cai em si depois de destruir sua felicidade.
- Deus sabe que os homens só se convertem “elevando os olhos para aquele que traspassaram” (Zc. 12,10).
- A sede do poder, a agressividade, só reconhece seu vazio depois de ter esmagado o justo que a ela se opõe.
Deus quis e quer pagar esse preço para conquistar o coração humano. O Filho que ele envolve com sua glória, e que recebe o testemunho da Lei e dos profetas (Moisés e Elias), Deus não o poupou, pois era preciso que realizasse sua oferta de amor até o fim. Eis o risco que Deus quis correr!
10. Mas não aboliu Deus os sacrifícios humanos desde Abraão? Deus pôs fim aos sacrifícios em que os homens oferecem outros homens. Mas, – em seu Filho, – ele mesmo quis sofrer para nos ganhar com seu amor. Ele mesmo quis viver o amor até o fim. Nele Deus “se perdeu” a si mesmo em seu amor por nós…
11. “Escutai-o”. Os ensinamentos de Jesus, que agora se seguirão, são os ensinamentos sobre a humildade, o despojamento, o serviço, a doação em prol dos “muitos” (10,45). Só podemos aceitar este ensinamento na confiança de que “ele teve razão” quando deu sua vida por nós. É isto que a liturgia de hoje, antecipadamente, nos deixa entrever.
12. Se no domingo passado, Jesus – Filho e Servo de Deus, – se preparou para sua missão, hoje ele é mostrado diante da fase final de sua missão, prestes a subir a Jerusalém. Já tinha anunciado seu sofrimento aos discípulos, equivocados a seu respeito. No evangelho de hoje Pedro, Tiago e João são testemunhas de uma revelação de Jesus na glória de Deus: “Este é meu Filho amado, escutai-o!”. Antes de acompanhar Jesus no sofrimento, os discípulos recebem um “sinal” da glória de Jesus, para que saibam que o Pai está com ele quando ele vai dar a sua vida por todos. Pois não é só Jesus dando a própria vida, é o Pai que dá seu Filho por nós, como diz Paulo.
13. O gesto magnânimo de Abraão tornou-se imagem da incompreensível magnanimidade de Deus, que dá seu “Filho unigênito” para nós (Jo 3,16). Magnanimidade, de fato, muito mal compreendida. Há quem pense que Deus é um carrasco, que quer que seu Filho pague com seu sangue os pecados dos demais. Mas, muitos séculos antes de Cristo, os profetas negaram tal idéia: cada um é responsável por seu próprio pecado (Ez. 18; Jr. 31,29, etc.). Deus não é vingativo nem sanguinário, mas antes de tudo rico em misericórdia e fidelidade (Ex. 34,6; Sl. 115,1). É por isso que ele dispões de seu Filho, para que este nos mostre a misericórdia e fidelidade de Deus por sua própria prática de vida. Jesus é Filho na medida em que sua atitude representa o amor fiel de Deus. É precisamente no momento de subir a Jerusalém para enfrentar a inimizade mortal das autoridades, que isto se verifica. Jesus poderia ter virado o casaco, desistido de suas bonitas lições sobre o amor fraterno, poderia ter salvo a sua pele. Não quis. Quis ser a imagem do amor fiel de Deus. Por isso, quando Jesus dá sua vida por nós, é o Pai que a dá.
14. Nossa mentalidade egocêntrica, alimentada pela ideologia da competição e do consumo, dificilmente admite que Deus possa ser imaginado com uma magnanimidade tão grande, como alguém tão generosos que aceita a fidelidade de Jesus até o fim como se fosse o dom de seu único filho e herdeiro: “Este é meu Filho amado!” Nele, Deus se reconhece a si mesmo, reconhece seu próprio modo de agir.
15. QUARESMA é tempo de penitência, conversão, oração, escuta da Palavra de Deus, jejum e esmola-solidariedade. Muitos (e nós também…) preferem ficar na montanha… na admiração, na contemplação. É muito mais tranqüilo. Assim não precisa passar pelas dificuldades da vida, pelos sofrimentos, pela cruz… mas Jesus diz que é preciso descer da montanha, desfazer-se de “tendas provisórias” e ir ao encontro de todos os que necessitam, aqui embaixo na terra e morar com eles, no sentido de estabelecer com eles uma fraternidade e participar da construção de uma história de vida digna para todos.
16. Campanha da fraternidade.
Tanto o evangelho quanto a 1ª. leitura que defendem a vida (com saúde, em plenitude) devem nos levar a meditar profundamente sobre a CF – Fraternidade e Saúde. Se somos chamados a construir o Reino de Deus já aqui nesta terra, então, que seja um Rei- no de filhos de Deus, de pessoas sadias, saudáveis, dispostas, alegres e felizes. Saúde é dom de Deus, mas também fruto de solidariedade e fraternidade.
prof. Ângelo Vitório Zambon
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TRANSFIGURAÇÃO
1. Em todos os segundos domingos de quaresma dos ciclos litúrgicos A,B,C o tema é o mesmo: a Transfiguração de Jesus. Isso porque a liturgia da quaresma, quer ajudar a caminhada dos fieis colocando nos primeiros passos o sentido do mesmo caminho. É difícil, de fato, agüentar uma caminhada tão dura se não tiver claro, logo no começo, o objetivo, a meta.
2. “E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar” (Mc. 9,3).
Qual é o sentido deste versículo? Sem duvida, aquilo que aconteceu em cima da montanha naquele dia, é uma revelação, a manifestação da divindade de Jesus. O Filhe de Deus se manifestou por aquilo que ele é: não apenas um grande homem, mas também verdadeiro Deus. Significativo é que esta manifestação aconteceu naquele corpo nascido de uma mulher, Maria, um corpo totalmente aparecido ao nosso. Não desceu um espírito do Céu, mas foi a carne de Jesus a se transfigurar. É sobre este dato que devemos colocar a nossa atenção. De fato, se Jesus veio ao mundo para mostrar o sentido da vida humana, ou seja o que quer dizer ser homem e mulher dentro o plano de Deus, então esta transfiguração não aponta apenas algo sobre a natureza de Jesus, mas também sobre a nossa. Em Jesus somos chamados para participarmos da natureza divina (cf. 2Pd. 1,4): é este o grande mistério desvendado em Jesus. A vida litúrgica e  sacramental visa isso mesmo: divinizar a nossa natureza. É verdade que somos de carne, extremamente fracos, com uma tendência ao pecado incrível. Só que, em Jesus, Deus nos ofereceu tudo o que precisamos para a plena transformação da nossa natureza. O grande milagre que deve acontecer na nossa existência é exatamente isso: a plena transfiguração da nossa natureza. Este é ao mesmo tempo a meta e o compromisso corriqueiro da nossa caminhada de fé. “Ele nos escolheu em Cristo antes de criar o mundo para que sejamos santos e sem defeitos diante dele no amor” (Ef. 1,4).
Se tudo isso é verdade, e parece que seja, não basta mais constatarmos os nossos limites humanos, as nossas fraquezas: devemos fazer de tudo para que o Espírito Santo transfigure a nossa natureza. A grande tentação no caminho de conversão, é ficar empolgados para os sucessos que na nossa vida acontecem logo no inicio do Caminho e, depois, perante as dificuldades encontradas na mudança profunda da nossa natureza, criar um estado de acomodamento. A vida de fé é uma luta constante, um esforço, um sofrimento. A nossa natureza nascida mergulhada no pecado, sofre bastante a ação da graça: resiste com todas as forças até o fim dos dias.
3. Nessa altura poderíamos nos perguntar: como é possível, nesta vida presente, conseguir a transfiguração da nossa natureza que, aliás, é o mesmo sentido da santidade? 
“E da nuvem saiu uma voz: Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz” (Mc. 9,7).
Se tomássemos a serio estas palavras, talvez a nossa vida de fé seria mais evoluída. Escutar é um verbo central na historia da salvação. O encontramos, de fato, nos momentos cruciais da vida do povo de Israel. Quando o povo está perdido no pecado da idolatria, Deus manda um profeta que lembre para eles o que é verdadeiramente importante e essencial: escutar. “Escuta Israel, o Senhor é o teu Deus” (Dt 6,4).
Para conseguirmos uma natureza transformada pela ação do Espírito Santo, não temos outro caminho que aquele de escutar o que nos diz o Filho de Deus. É este costume, esta aproximação, esta amizade com a Palavra de Deus que deveria ser fortalecido nas nossas praticas religiosas. Também porque somente a Palavra de Deus, mostrando o que Deus mesmo quer de nós, pode derreter as nossas tradições, as nossas devoções tipicamente humanas, que não convertem ninguém, mas pelo contrario, contribuem para o mantimento da nossa pobreza espiritual. É o Evangelho a Palavra viva que aponta o caminho verdadeiro que devemos realizar.
4. Como podemos ter a certeza que estamos no caminho certo, ou seja, que a Palavra que estamos interiorizando está nos conduzindo no caminho da transfiguração da nossa natureza?
A resposta a encontramos na primeira leitura. “ E Deus disse: toma teu filho único, Isaac, a quem tanto amas, dirige-te á terra de Moriá e oferece-o ali em holocausto sobre um monte que eu te indicar” (Gn. 22,2).
A obediência absoluta a Deus é o sinal que o caminho que está sendo percorrido, não é fruto da nossa religiosidade pessoal, das nossas devoções humanas, dos nossos ídolos humanos, mas é obra do Espírito Santo. Quando nos tornamos disponíveis a abrir mão até daquilo que tanto amamos, então algo de grande está acontecendo na nossa alma. Por isso Abraão é considerado o pai da nossa fé. Uma natureza transformada pela ação do Espírito Santo enxerga somente Deus e deseja fazer somente a sua vontade. É bom acrescentar que, na perspectiva bíblica, a obediência é a resposta a um relacionamento de amor. Se Abraão abre mão de seu filho, não é por medo de Deus, por aquilo que Deus poderia fazer se ele desobedecesse. Pelo contrario: Abraão obedece porque ama a Deus. Mesma coisa poderíamos dizer para Jesus: a sua morte na cruz não foi o resultado de um mero projeto ao qual Ele se entregou, mas foi a resposta estrema do seu amor para o Pai.
Quanto mais amamos a Deus tanto mais sentiremos o desejo de fazer a sua vontade.
padre Paolo Cugini
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TRANSFIGURAÇÃO
A transfiguração de Jesus – este é o meu Filho amado, escutai-o!
No domingo passado refletimos sobre o texto do Evangelho de Marcos 1,12-15 que relata o episódio das tentações de Jesus no deserto. Para os judeus, deserto é o lugar privilegiado do encontro com Deus. Quaresma é o grande retiro espiritual dos cristãos em preparação da festa da Páscoa cristã. É tempo de conversão e de fidelidade ao plano de Deus como nos mostra a 1ª leitura de hoje (Gênesis 22,1-2). Este texto do Antigo Testamento destina-se a apresentar Abraão como modelo de fé. Com o seu “sim”, Abraão recebe de Deus a missão de abençoar todos os povos e nações. Disse o Senhor Deus: “Em ti, serão abençoadas todas as famílias da terra.” A historia de Abraão está diretamente ligada a historia de toda a humanidade. Com Abraão surge o embrião de um povo que terá a missão de trazer a benção de Deus para todos os povos e nações. Que a fé experimentada por Abraão nos sirva de inspiração na certeza de que Deus não abandona aquele que Nele confia.
O apóstolo Paulo (2ª leitura) proclama: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” O texto do Evangelho (Mc. 9,2-10) descreve a transfiguração de Jesus. O evangelista menciona dois importantes personagens do Antigo Testamento – Moisés e Elias. O primeiro representa a Lei e o segundo os Profetas. As figuras de Elias e Moisés ressaltam que a Lei e as profecias são realizadas plenamente em Jesus. Na transfiguração, Pedro, Tiago e João, são agraciados fazendo de forma antecipada a experiência da glorificação do Mestre Jesus. Confirmados na fé, perceberam que Jesus era o Messias e que a transfiguração passa necessariamente pela cruz. Mais tarde testemunharam a agonia de Jesus no Getsêmani. Nosso seguimento a Jesus igualmente passa necessariamente pela cruz, um itinerário que requer de nós renúncia e capacidade de avançar sem medo rumo a Jerusalém. Não podemos nos transfigurar como Jesus, mas podemos transformar cada dia de nossa vida, fazendo com amor cada ato por menor que seja. A liturgia de hoje (transfiguração) nos faz enxergar muitos rostos desfigurados de irmãos e irmãs que clamam por vida digna.
Pedro Scherer
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TRANSFIGURADOS PELO AMOR


O que o texto diz?


No Evangelho deste II Domingo da Quaresma, somos convidados a subir a montanha em companhia de Pedro, Tiago e João, seguindo os passos de Jesus que se afasta da multidão e se recolhe para rezar. A montanha na Bíblia é o lugar da presença e da manifestação de Deus. Foi sobre uma montanha que a Lei foi dada a Moisés como também foi sobre uma montanha que Elias revelou o Deus único.
Agora, é Marcos que nos conta o que se passou naquela montanha onde estava reunido Jesus com três dos seus discípulos: “transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia alvejar”. Esta mudança na aparência de Jesus que o torna luminoso é o que chamamos “Transfiguração”. Transfigurar significa mudar a figura ou a feição.
Para nos ajudar a compreender melhor essa transfiguração de Jesus, podemos nos valer da expressão facial de algumas pessoas em determinadas circunstâncias que nos passam essa idéia: a expressão de uma mãe que amamenta seu filhinho, o de um pai apaixonado por seus filhos e sua esposa etc. O que caracteriza o olhar de ambos é o brilho no olhar. E o que faz iluminar a expressão destas pessoas? É o amor. É o amor que transparece do rosto deles e os torna brilhantes.
Com certeza, foi o amor que tornou o rosto de Jesus resplandecente. Enquanto estava rezando, ele entra em contato com o Pai, e o amor entre eles é tão grande que chega a alterar a sua aparência. Os três apóstolos que o acompanhavam certamente ficaram perplexos ao verem esta mudança; principalmente, quando apareceram Moisés e Elias. Moisés, que guiou o povo de Israel da escravidão do Egito à libertação dada por Deus; e Elias, que foi assunto ao céu numa carruagem de fogo (2 Rs 2,11). Os dois, que representam toda a história de Israel, aparecem na montanha para conversarem com Jesus.
Mas, qual era mesmo o assunto da conversa deles? Esta informação só o evangelista Lucas nos dá. Conversavam sobre a morte que Jesus iria sofrer em Jerusalém, ou seja, da paixão de Jesus, o que estamos, neste tempo de Quaresma, nos preparando para celebrar. Nesse ínterim, Pedro constata maravilhado: “Mestre, é bom ficarmos aqui!” E propõe: “vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Pedro tem razão: deve ter sido muito bom mesmo estar ali imersos na luz do amor entre o Pai e o Filho, escutando o diálogo com Moisés e Elias. Era tão bom que Pedro queria que aquele momento nunca acabasse. Por isso é que ele propôs fazer três tendas. Normalmente, quando as pessoas vão a uma montanha para acampar, ou seja, querem passar mais tempo lá, levam e armam suas barracas.
Entretanto, enquanto Pedro fazia a sua proposta, saiu uma voz do céu com uma indicação bem diferente: para saborear aquele momento extraordinário, não era preciso armar tendas, mas ter um coração atento para ouvir a Palavra de Jesus. De fato, saiu de uma nuvem a voz do Pai que dizia: “Este é o meu Filho amado. Escutai o que Ele diz!”.
É a mesma exortação feita no relato do Batismo de Jesus. E este é um detalhe muito interessante, pois o Pai está dizendo que aquele Filho que começou o ministério no Jordão é o mesmo que está prestes a morrer crucificado. A força da voz do Pai deve ter sido uma experiência esplendorosa para os apóstolos, a ponto de ficarem assustados. Escutar! É a melhor maneira para se preparar para a Páscoa: escutar a Palavra que Jesus veio nos dar. Escutar com os ouvidos, mas, sobretudo, escutar com o coração. Só assim podemos ficar transfigurados.
MEDITAÇÃO:
O que o texto nos diz?
Infelizmente, hoje, o rosto de Jesus aparece mais desfigurado do que transfigurado. Desfigurado em tantos rostos humanos por causa da pobreza extrema e por falta de amor. Jesus sofredor aparece desfigurado no rosto de crianças doentes, abandonadas, desfrutadas; no de jovens desorientados, perdidos, vazios; no dos excluídos da sociedade; no de desempregados, no de idosos abandonados até mesmo pela família, no de viciados em algum tipo de droga.
São muitos os desafios que os missionários de Jesus têm de enfrentar. Coragem! Levantai-vos e não tenhais medo.
Perguntas: Procuro subir o “monte” (lugar de silêncio e deserto) para estar com Jesus através da oração? Como entendo o relato da transfiguração? Percebo as situações em que Jesus se transfigura na minha vida? Gosto de me lembrar dessas ocasiões ou só fico pensando nas experiências de desolação? Sou consciente de que a transfiguração na minha vida pode acontecer através de uma constante experiência de encontro com Jesus na vida sacramental? Sinto prazer em gastar meu tempo dialogando com Deus? “É bom ficarmos aqui, vamos fazer três tendas”. Tenho a tentação de Pedro de ficar no topo da montanha, na experiência da transfiguração, e não querer colocar os pés no chão, baixar esta experiência para a minha vida cotidiana? Reconheço que Jesus é o Filho amado do Pai e nele, também eu sou filho predileto do Pai? Escuto e observo o que o Filho amado tem a me dizer através da escuta da Palavra e da oração?
CURANDO AS EMOÇÕES FERIDAS: INDICAÇÃO DE LIVRO
Fiquei responsável por mostrar neste espaço ao longo do ano, livros que possam formar os agentes de pastoral que acompanham pessoas em nossas comunidades que sofrem com problemas sérios como o alcoolismo, a dependência química, a depressão, o machismo, a exclusão, a violência familiar e muitos outros problemas que deixam a face destas pessoas tão desfiguradas, tristes, vazias, amargas, maltratadas.
Um livro bastante interessante para a formação desses agentes que constantemente devem lidar com estas pessoas é o do sacerdote e psicoterapeuta americano Martin Padovani. O livro se intitula “Curando as emoções feridas: vencendo os males da vida”. Neste livro, o autor consciente da missão de Jesus e de seus discípulos de curar os corações quebrantados (Is 61,1), primeiramente mostra a compatibilidade existente entre teologia e psicologia, e a partir daí, aborda com muita experiência de confessor e terapeuta, temas como a raiva, o perdão, o perdoar a si mesmo, o sentimento de culpa, a depressão, a autocrítica, o amor a si mesmo, a compaixão, a mudança. Temas muito interessantes apresentados à luz da Palavra de Deus que podem com certeza ajudar as pessoas sofridas a adquirir o semblante da transfiguração. O livro foi lançado no Brasil pela Paulus.

Padre Carlos
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06/02/2012
TRANSFIGURAÇÃO

04 DE MARÇO  - ll DOMINGO DA QUARESMA

Evangelho Marcos 9, 2-10

"O AMOR QUE TRANSFIGURA..." –Diac. José da Cruz

Tivemos um jovem em nosso grupo, que acabou se tornando médico, recordo-me que após a formatura, a sua turma, vinda de famílias abastadas, como recompensa e merecido descanso, decidiu participar de um cruzeiro internacional, em um navio luxuosíssimo, com hospedagens em hotéis 5 estrelas, mas esse jovem, já formado, retomou contato com a humilde comunidade onde tivera a sua experiência pastoral e ao saber que a mesma fazia atendimento a uma área paupérrima do bairro, se dispôs a conhecer esse trabalho, e observando uma carência total na área da saúde, ele não teve dúvidas, juntou-se a Pastoral da Saúde e elaborou um cuidadoso plano de ação, e quando seus amigos vieram procurá-lo, para surpresa geral o jovem Doutor abriu mão da fantástica aventura, para dedicar-se nas férias, á comunidade pobre que fazia parte da sua antiga paróquia. Parece história da "Carochinha", mas se prestarmos atenção ao nosso redor, vamos encontrar pessoas como esse jovem, que nem sempre saem nos jornais, e que a gente se pergunta, como é que podem existir pessoas assim, que no anonimato abrem mão daquilo que têm, em favor de quem precisa, fazendo um sacrifício, palavra estranha e sem sentido para o homem deste milênio, rodeado de conforto, facilidades, tecnologia, comodidade e bem estar.
Não há nenhuma razão lógica para alguém sacrificar-se assim por um ser humano, aquele jovem poderia primeiro curtir a sua merecida viagem com os amigos e depois, quem sabe, dar um pouco do seu tempo à comunidade pobre, mas aí é que está a diferença, o amor quando é autêntico, nunca se satisfaz em dar apenas um "pouco", entre os jovens ainda é comum a palavra "FICAR", que significa uma relação sem compromisso, um amorzinho bem vagabundo, desses de quinta categoria, mas quando dois jovens resolvem migrar do simplesmente Eros para o Ágape, daí vamos ter o amor em toda sua beleza e esplendor, amor de primeiríssima qualidade, indestrutível, inseparável, como n os ensina a segunda leitura desse domingo, sempre tolerante, compassivo, disposto a perdoar e a recomeçar, amor que sabe sonhar e construir juntos, na partilha e comunhão de vida, casamento na Igreja supõe tudo isso...
É assim que Deus se revela em Jesus Cristo, é assim que Cristo se revela em quem é capaz (e não precisa ser médico) de renunciar algo valioso, para doar-se aos irmãos, não existe outra forma de amar que não seja o serviço, feito com grande sacrifício, e isso parece algo tão simples e ao mesmo tempo tão complicado, difícil de ser compreendido pelo coração humano, que hoje é educado para buscar grandezas e ambições, prestígio, fama, sucesso e poder, em um egocentrismo exacerbado.
Como podemos entender o sacrifício de Abraão, que abre mão do Filho da Promessa, tão esperado e sonhado, e que veio em sua velhice, brotado como semente tardia, dom de Deus, da esterilidade de Sara, sua esposa? O Patriarca, ícone das três maiores religiões do planeta, sente em seu coração que o amor á Divindade em quem crê, só se concretiza ofertando algo valiosíssimo,e aqui retomamos o sentido do amor, que não é dar um pouquinho, mas o "tudo", ou seja, aceitar perder algo, que não se vai mais recuperar...Na religião da recompensa divina, sempre marcada pela mediocridade, ou nas relações mercantilizadas com as pessoas, se faz na verdade uma barganha, é muito complicado chegarmos a compreensão dessa gratuidade, pois pensamos que somos muito bons e nos doamos até um certo ponto, mas não se pode também exagerar e sair no prejuízo, é esse o grande problema, colocamos sempre um limite no nosso modo de amar, abrimos mão de ganhar alguma coisa, mas ter que perder, aí já é um pouco demais...Amar como Jesus amou, é sempre assumir o risco de uma perda.
Entretanto, quando desenvolvemos em nós essa virtude do evangelho, e aceitamos até perder tudo, estamos nos unindo Aquele que se deu por inteiro, e que para salvar a todos aceitou perder tudo, pois o Cristo na cruz é um homem derrotado e humilhado, diante doa amigos que acreditaram em sua proposta, é alguém que perdeu tudo, prestígio, família, amigos, dignidade, honra, considerado na visão profética um homem maldito diante de Deus, abandonado e esquecido, incompreendido e rejeitado, homem esmagado pelas dores, como nos lembra Hebreus, e se o Pai não o tivesse glorificado quem seria Jesus para o mundo de hoje? Talvez ninguém, pois enquanto homem aceitou correr esse risco, não sabia bem no que ia dar tudo aquilo, e podia ser que nem a comunidade reconhecesse o seu gesto de amor.
Somos hoje convidados a contemplar exatamente essa glória, pois no Cristo transfigurado, está a humanidade, sonhada, planejada e criada por Deus, está aquele jovem, cuja história contei no início, está cada cristão, que tem essa disposição interior de doar-se por inteiro, e que ninguém tenha medo, Deus nunca exigirá de nós o mesmo sacrifício da cruz, mas que nossas pequenas ações possam pelo menos refletir um pouco, do Amor de Jesus de Nazaré, para isso é necessário buscá-lo e escutá-lo, pois somente ele e mais ninguém, nos ensina com tanta autoridade, como é que se ama de verdade...
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TRANSFIGURAÇÃO - Pe Wagner

"Este é meu filho amado, escutai-o!"

1. Ele se Transfigurou Diante Deles
Celebrando o sacramento da quaresma, nós nos preparamos para a Páscoa do Senhor. Nela participaremos da glória de Cristo, ainda sob "a nuvem" da esperança. Os que serão batizados serão transfigurados, revestindo-se de Cristo.
A colocação do texto da transfiguração de Jesus, no início da Quaresma, convida-nos a ouvi-lo para sermos transfigurados com Ele. Com Ele percorremos o caminho do deserto, passamos por sua Paixão e chegamos com Ele à Glória, como rezamos na oração pós-comunhão: "Vós nos concedeis participar das coisas do céu".
Antes da glória da Ressurreição, Jesus passa pela dor da Paixão e da Cruz. Pelo sofrimento chega à glorificação. A transfiguração não se reduz a fenômenos esplendorosos, mas é também uma caminhada de fé; como ocorre com Abraão.
Há muitos elementos ricos neste texto. Jesus tem três testemunhas do fato, o que dá garantia de sua veracidade. Ele sobe uma alta montanha, o Monte Tabor. A montanha é o lugar do encontro com Deus, como no Sinai. Ali estiveram Moisés e Elias, que foram levados ao Céu de modo misterioso. Estão na Glória. Isso mostra que Jesus está com eles na glória e que Ele cumpre a Lei e os Profetas. É uma teofania, visão/manifestação de Deus. Entram na nuvem, que é sinal da presença de Deus.
Jesus está na esfera de Deus. 'Ele é Deus. Da nuvem sai uma voz que diz: "Este é o meu Filho Amado, no qual pus todo o meu agrado. Escutai-o!" (Mt 17,5). Como no Batismo, Jesus é apresentado pelo Pai, indicando sua missão de profeta. Ele é a Palavra viva do Pai.
Tudo isso vai acontecer na vida do discípulo na medida em que ouve a Palavra e a põe em prática. Percorrendo com Cristo a Paixão, tem certeza de encontrar a Ressurreição, que vem demonstrada na transfiguração. A meta de cada homem é transfigurar-se, "Quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a Ele" (1Jo 3,2). Os discípulos não podem comunicar essa visão, porque ela só se esclarecerá após a ressurreição.
2. Deus nos Chamou a uma Vocação Santa
A meta da vida cristã é a transfiguração em Cristo. Vivemos, como Cristo, sob a nuvem que é símbolo da presença de Deus, na qual devemos viver. Para isso fomos chamados! "Deus nos salvou e nos chamou com uma vocação santa" (2Tm. 1,9).
Essa vocação santa é o chamado contínuo para participar da manifestação de Cristo em seu mistério de redenção e glorificação. A transfiguração será sempre para nós uma vocação, que recebemos no batismo. Naquele dia, nós vestimos a veste branca, que é sinal de nossa transfiguração com Cristo, na graça batismal. À medida que ouvimos o Filho, estamos em condições de nos transfigurar. Ele não só destruiu a morte, como também fez brilhar a vida e.a imortalidade por meio do Evangelho (2Tm. 1,10).
3. Sai de Tua Terra
A primeira leitura traz-nos a vocação de Abraão. Paulo retoma esse tema ao dizer que "Deus... chamou-nos a uma vocação santa... não devido a nossas obras, mas em virtude da sua graça" (2Tm. 1,9). Abraão é chamado a ser uma bênção através de uma descendência. É um novo povo. Jesus é sua descendência.
Somos chamados por graça, como Abraão, a deixar tudo por Cristo. Acolhendo a palavra de Jesus, podemos chegar à transfiguração e sermos uma bênção. Vocação não é algo para mim, mas um dom dado a todo povo através daqueles que a acolhem.
"Meu coração disse: Senhor, buscarei a vossa face. É vossa face, Senhor,
que eu procuro, não desvieis de mim o vosso rosto!" (cf. Sl. 26, 8s).
A liturgia da Santa Igreja nos apresenta, a cada ano, no segundo domingo da Quaresma o Evangelho da Transfiguração, no início da subida de Jesus a Jerusalém, onde Ele levará a termo a vontade do Pai. Somos hoje convidados a acompanhar Jesus neste caminho. Nesta caminhada, para não desfalecermos em nossa fé, é bom termos diante dos olhos – como João, Tiago e Pedro, as privilegiadas testemunhas, a glória daquele que vai ser aniquilado, o Filho e Servo de Deus. E somos convidados a ouvir a voz que sai da nuvem: "Escutai-o".
A primeira leitura nos apresenta a vocação de Abraão: "Sai da tua terra!" (cf. Gn. 12,1). Largar o que consideramos adquirido é a condição para caminhar no rumo que Deus indica. Depois da Torre de Babel, a história humana parece ter virado em caos. Mas, com a vocação de Abraão surge um novo ponto luminoso. Inicia-se a "História da Salvação". Cinco vezes ouve-se a palavra "bênção". Abraão ouve o apelo: "sai da tua terra", e a promessa: "Eu te abençoarei". Esta é a sua única luz. Ele vai sem perguntar aonde.
A Segunda Leitura (cf. 2Tm. 1,8b-10) é um breve comentário a este largar. A Segunda Leitura nos aponta a vocação santa que recebemos em Cristo, no qual resplandece a vitória sobre a morte. Essa vitória final, Pedro, Tiago e João a viram antecipadamente, e atestada por Moisés – a Lei – e Elias – os Profetas, no monte da Transfiguração. A visão desta glória é acompanhada pela voz: "Escutai-o", o que lembra o "Ouve Israel" de Dt 6,4. É um prelúdio da ressurreição – por isso as testemunhas devem guardar o silêncio até que esta se realize. A meta da história humana é a participação da vida divina. E é esta a salvação, que só pode ser experimentada como obra de Deus. O que Deus iniciou no "evento" de Jesus – a sua vida e a fé que provocou – Ele o levará a termo no Juízo. Enquanto temos esta esperança, o mundo, alheio a ela, não pode inspirar medo, nem ao apóstolo, nem a nós.
Jesus veio refazer em definitivo e ampliar ao máximo a aliança de Deus com o povo (cf. Mt. 17,1-9). A grande aliança de Deus com o povo no deserto acontecera no alto do Sinai, e as tábuas da Lei eram o sinal concreto, visível e viável do pacto entre Deus e o povo eleito: "Eu serei o vosso Deus e vós sereis o meu povo" (cf. Lv. 26,12). Jesus está agora caminhando para o momento decisivo da recriação da aliança entre Deus e o povo, está para fazer "a nova e eterna aliança", como dizem as palavras da Consagração da Missa, já não mais gravada em pedra, mas escrita com seu sangue no coração de cada criatura humana.
No Sinai, o povo traiu a aliança, e preferiu um bezerro de ouro (cf. Ex. 32). Agora, pouco antes do episódio da Transfiguração, o povo se divide: a maioria se nega a aceitar a pregação de Jesus; e a minoria torna-se a dividir: uns esperam para logo um reino terreno de liberdade política, liderado por Jesus; outros estão perplexos, apesar da declaração de Pedro, que professara em nome dos doze: "Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo" (cf. Mt 16,16). Tanto a incredulidade da maioria quanto o comportamento dúbio da minoria vêm anotados por Mateus no contexto da Transfiguração. Jesus seleciona três entre os que ainda podiam crer, e que se tornariam "as colunas da Igreja" (cf. Gl. 2,9), e os leva para o monte, confirma-lhes o caminho da paixão como passagem obrigatória para a ressurreição, o milagre-prova para todo o sempre da nova e eterna aliança.
Abraão vivia em Ur dos Caldeus, aproximadamente 1800 anos antes de Cristo. Ur seria o Iraque atual. Deus o chama e ele obedece. Vamos notar que é Deus que o chama. Na história da humanidade e na história de cada um há sempre um chamado de Deus. Deus sempre precede aos nossos pensamentos e decisões. Contudo, o chamado gratuito de Deus se perde, se não houver a colaboração nossa com respeitosa resposta, pronto atendimento ao chamado do Senhor. Deus nos deu a inteligência, a vontade e os sentimentos suficientes para perceber o chamado divino e decidir aceitar ou não aceitar a sua convocação. O chamado de Deus – e está tão claro na história de Abraão – nem sempre vem com explicações ou com promessa de recompensas; pode ser até muito exigente, como o foi no caso de Abrão: teve de deixar sua terra, sua tribo, sua família; teve de partir para uma terra desconhecida. Teve de "morrer" para um passado e recomeçar tudo do nada, até mesmo sem saber o que significava esse recomeçar. Simplesmente confiou, plena e completamente, na vontade de Deus. Essa deve ser, caros amigos, a nossa atitude.
Abraão deve ser para nós o pai da confiança na misericórdia e na vontade de Deus. Confiou profundamente e com tanta unção que por um fio quase sacrificou o seu filho Isaac (cf. Gn. 21,1-19). Por isso, pela sua fé radical, Deus o fez e o proclamou pai de um povo abençoado, o povo eleito.
A fé de Abraão, de sua descendência, brotam inumeráveis bênçãos, das quais a maior de todas é Jesus de Nazaré, o Filho de Deus que se encarna no seio de uma mulher abraâmica.
Os apóstolos estavam na mesma posição de Abraão. Jesus os convoca para serem testemunhas e protagonistas da nova criação, da nova Terra Prometida, que Jesus chamou de "Reino de Deus". Mas tudo isso foi possível porque os discípulos saíram de si mesmos, tiveram que deixar de pensar curto com a inteligência humana, mas aos olhos da fé que tudo vence. Ultrapassaram a visão humana do projeto divino. Acreditaram no desconhecido. Abraçaram a vontade de Deus. Arrancaram seus próprios interesses para carregar a cruz com Jesus e com Ele morrer no Calvário. Abraão creu no Senhor, mesmo quando o Senhor pedia a morte do seu único filho. Os apóstolos, e nós hoje, devemos crer em Jesus, mesmo vendo-o pregado na cruz. Na obediência e no serviço solidário vamos haurir as bênçãos celestiais e a filiação por parte do Senhor Deus.
Abraão e o Calvário: duas histórias que nos acompanham por dentro de todo o caminhar de nossa existência. Obedecer à vontade de Deus ou compreendê-la eis o dilema para nossa vida. A Transfiguração é escola de fé. A glória passa pelo pedágio da cruz, sem alternativa. Abraão caminhou sozinho. Os discípulos caminham com Jesus. Cristo caminha conosco. Porque Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Assim, a prática cristã exige conversão permanente, para largarmos as falsas seguranças que a publicidade da sociedade consumista e as ideologias do proveito próprio e do egoísmo generalizado nos prometem, para arriscar uma nova caminhada, unida a Cristo e junto com os irmãos. Somos convidados a dar ouvidos ao Filho de Deus, como diz o Evangelho, e a receber de Cristo nossa vocação, para caminhar atrás dEle – até a glória, passando, se preciso, pela Cruz. Assim como Abraão ouviu a voz de Deus e saiu de sua cidade em busca da terra que Deus lhe prometeu, devemos, também nós, largar o que nos prende, para seguir o chamado do Senhor.
Quando se propõe o problema da realização futura, as trevas caem sobre nós. Estamos diante de um devir que é muito mais obscuro do que se pode pensar; nossa fé vacila. Nossa fé não nos diz nada mais do que isto: para adotar as opções que nos permitam obter sucesso é necessário abranger-nos os dois extremos da história e podermos concentrar num instante o passado e o futuro. Esse é o risco que a fé comporta. O cristão que recebeu o batismo decide viver nesse risco. Sente a obscuridade que pesa sobre todos os homens na construção do presente, e não se assusta, não tem medo porque vê a meta, o Cristo transfigurado, e em Abraão o modelo a seguir.
Bento XVI, em sua mensagem para a Quaresma de 2011, ao comentar o Evangelho de hoje, nos ensina: "O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt. 17,1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n'Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5). É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb. 4,12) e reforça a vontade de seguir o Senhor".
Também, na vida da Comunidade eclesial, dão estes momentos de Tabor: a reunião da Assembléia, a escuta da Palavra, a celebração da Eucaristia e tantos outros. Eles reanimam e fortalecem, para que possamos descer com Cristo o monte Tabor e, tomando a sua Cruz, segui-lo pelas planícies da vida a subir com Ele a colina do Calvário, que por sua vez se há de transfigurar.

padre Wagner Augusto Portugal

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