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sábado, 5 de novembro de 2011

BEM AVENTURADOS SÃO OS QUE SOFREM PORQUE SERÃO CONSOLADOS...



06 DE NOVEMBRO – 2011
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OBRIGADO PELOS ELOGIOS.
POR FAVOR, MANDEM ESTE BLOG PARA SEUS AMIGOS.
ADQUIRA O LIVRO DE LITURGIA DIÁRA DA PAULUS NA SECRETARIA DA SUA PARÓQUIA, POIS NEM SEMPRE AS LEITURAS DO DIA ENCONTRADAS NA INTERNETE BATEM COM O MISSAL.

Comentários–Prof. Fernando


BEM AVENTURADOS SÃO OS AFLITOS PORQUE SERÃO CONSOLADOS!
Introdução
As bem-aventuranças.

Noite de domingo chuvosa e fria. De um lado, o restaurante visitado pela classe média alta, onde todos os fregueses comiam, bebiam sorriam e conversavam despreocupadamente. Perto dali, há uns 80 metros, sentados e deitados na calçada embaixo da marquise, estavam cinco pobres, se encolhendo por causa da friagem, tentando se protegerem do frio com papelões, jornais, trapos e outras sobras encontradas no lixo.
E pensar que aqueles que se julgam os mais importantes da sociedade, que são respeitados pelos garçons e por todos por causa do seu poder aquisitivo, não estão com nada diante  do Plano de Deus.  Por outro lado, aqueles que tremiam de frio e com o estômago doendo de fome, terão a sua recompensa, mesmo que não tenham ido à missa naquele domingo. Porque eles serão felizes um dia por ser tão humilhados, por passar tanta fome e frio...
Enquanto aqueles do outro lado que estão fartos, pela melhor comida e pela melhor bebida, irão chorar muito um dia. Principalmente por não se importarem com o sofrimento dos que iria passar mais uma noite ao relento... Foi o que disse o Filho de Deus! 
Os doutores da Lei que eram religiosos teóricos, pois eram eles quem faziam as leis, ou os preceitos. E os fariseus, que eram os especialistas no cumprimento da Lei e se vangloriavam disso, construíram uma escala de valores totalmente absurda e desumana. Eles acreditavam, e faziam o povo também acreditar, que a pobreza assim como a doença, eram castigos de Deus. E a riqueza, era um prêmio deste mesmo Deus, aos seus filhos muito amados e, portanto felizes.
No Evangelho de hoje, Jesus vira a mesa e inverte esta escala de valores ao dizer que bem-aventurados ou felizes são os pobres, os que passam fome, os que choram e especialmente os puros de espírito. Repare que Jesus está enfrentando a elite dominante, sem nenhum medo. Ele está desmantelando toda a escala de valores vigente, e construindo outra totalmente nova.
Parece uma ironia quando Jesus diz que os pobres e os famintos são felizes. Mas acontece que além de serem saciados na vida eterna, os pobres já são felizes nesta vida, porque a situação de miséria aproxima as pessoas de Deus. Aquele ou aquela que está carente sem ter para onde correr, sem ter para quem reclamar seus direitos por que na prática não têm direito a nada, recorrem a Deus. Entregam suas vidas ao Criador, e pedem diariamente um alívio para os seus sofrimentos. E ao se aproximarem de Deus impelidos pelo sofrimento, o pobre se purifica, se santifica e se torna merecedor da vida eterna. Porém, para que tudo isso aconteça, é preciso que sejam puros de coração. A pureza de coração é quase uma santidade. É ser um imitador de Cristo na sua caminhada para o calvário, onde sofreu o flagelo sem dizer uma única palavra de revolta. Na cruz Jesus ainda reza pedindo ao Pai que perdoasse aqueles que o estão matando, pois se soubessem ou acreditassem que Ele era o Filho de Deus, não estariam fazendo aquilo. Assim Jesus disse: “Pai. Perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”. Portanto, o puro de coração é aquele que não tem inveja daquele que tem, não reclama do seu sofrimento, não pensa mal dos outros, não planeja a derrota do seu semelhante, não “joga sujo” com ninguém, etc.
Mas ai de vós, ricos, porque tendes a vossa consolação. Ai de vós, que estais fartos, porque vireis a ter fome! Ai de vós, que agora rides, porque gemereis e chorareis! Ai de vós, quando vos louvarem os homens, porque assim faziam os pais deles aos falsos profetas!
Estas são as palavras do Filho de Deus. Não são nossas. Nós aqui apenas fazemos comentários ou refletimos em cima do que Jesus disse. Repare que Jesus afirma que os ricos já têm nesta vida a sua consolação, toda a alegria, que os pobres não têm. Portanto, não terão mais nada a receber na outra vida.
Imaginemos uma cidade A e uma cidade B. Na cidade A o agito era total. Havia muita ambição e muita riqueza, muita alegria, muito prazer, nada de religião, muito menos de Deus. A busca incansável pelas coisas materiais e pelo conforto gerava cada vez mais uma grande insatisfação, pois o ser humano é insaciável em termos de aquisição. Quanto mais temos, mais queremos ter e nunca estamos satisfeitos com o que temos. Portanto, a vida na cidade A, não obstante toda riqueza, todo luxo, todo prazer sem limites, chegou a um ponto de saturação, de insatisfação, de sorrisos falsos, em fim, por incrível que pareça, aquele vazio no interior daquelas pessoas gerado pela ausência de Deus, as levou à infelicidade.
O povo da cidade B não era rico, mais também não eram pobres. Possuíam apenas o suficiente para viver. Não tinham ambição nem grandes preocupações com o dia de amanhã. Acreditavam em Deus e em seus mistérios. Vivam constantemente em comunhão dom esse Deus e em comunhão uns com os outros. A falta de ambição era portanto, a marca principal daquelas pessoas. Alguns já haviam vivido o delírio de uma experiência com Deus. E apesar de não terem luxo, fartura, e conforto excessivo, aquelas pessoas pareciam muito tranquilas e felizes.
Prezados irmãos. Não estamos crucificando os nossos irmãos ricos e santificando os pobres. Como sabemos, existem muitos pobres com mentalidade de ricos. A pobreza também pode afastar uma pessoa da amizade com Deus. Depois de tanto fracasso, de tanta miséria, algumas pessoas podem se revoltar contra o próprio Criador, e as conseqüências deste fato não são nada agradáveis.
Por outro lado, existem muitos ricos caridosos, de alma e coração bom. Jesus, diante da pergunta dos apóstolos: Afinal, quem poderá se salvar? Respodeu: “Para Deus, nada é impossível”. Isso significa que toda regra tem exceção, significa que não podemos afirmar que todo rico está condenado, porque quem nos julgará é o próprio Jesus.
Jesus ensinava através de parábolas. Então vamos tentar inventar aqui uma parábola? É assim:
Era uma vez um homem muito rico, na verdade, era o mais rico do mundo. Ele ficou tão rico porque Deus lhe deu o dom de inventar um certo produto que revolucionou o destino da humanidade.Esse homem riquíssimo era muito bom. Havia criado várias instituições de caridade para os pobres nas áreas mais carentes do Planeta.
O seu maravilhoso produto passou a ser usado por milhões de pessoas no mundo inteiro, e nem sempre pagavam o seu verdadeiro preço. E ele sabia que estava sendo lesado. Mais não se importava, e até achava graça disso. Ele tinha ganhado tanto dinheiro, mais tanto dinheiro que deixavam mundo inteiro se beneficiar com a sua invenção. Afinal, ele tinha a consciência que tudo aquilo foi Deus quem lhe deu. Esse milionário bondoso queria partilhar com a humanidade, a sua imensa riqueza. Com certeza esse bom homem estará um dia na glória eterna. Você não acha? Ah! Se você souber o nome desse milionário bondoso, conta para nós!
Sal.
Para sermos bem aventurados precisamos experimentar a carência e a dependência da graça que nos vem do alto.

                          Neste Evangelho Jesus nos dá a receita para que sejamos Bem aventurados, isto é, cheios de ventura e de felicidade. Podemos então apreender que a nossa ventura e felicidade não dependem de nada que seja material nem tampouco de uma vida fácil e sem problemas. O conceito de felicidade que o mundo prega é completamente diferente da felicidade que Deus planejou para a nossa vida. Pelo contrário, Jesus nos esclarece que para sermos bem aventurados nós precisamos experimentar a carência e a dependência da graça que nos vem do alto. E assim, Ele proclama felizes, os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça (santidade), os misericordiosos, os puros de coração os perseguidos e injuriados por causa do reino.
                          Jesus também coloca para cada bem aventurança uma conseqüência que é como um benefício para que alcancemos o estágio de bem aventurado. Para avaliarmos se somos tudo isto a que se refere o Evangelho, nós precisamos verificar se estamos vivendo o reino dos céus, se nos sentimos consolados, se temos bons relacionamentos, se buscamos a santidade, se estamos provando a misericórdia, se temos comunhão com Deus e nos consideramos Seus filhos.
                             Se estamos sendo perseguidos, mas mesmo assim vivemos alegres apesar das humilhações e dificuldades do reino. Bem aventurados seremos todos nós, se levarmos como bandeira a nossa Fé em Jesus Cristo e no que Ele nos ensina em Sua Palavra. Ser pobre, aflito, manso, faminto, misericordioso, puro de coração, promotor da paz, perseguido, insultado, na concepção humana é, na realidade, uma infelicidade. Porém, se nos aprofundarmos na sabedoria de Deus, o Espírito nos convencerá de que tudo isso é inerente à nossa condição humana, porém quando nos reconhecemos completamente dependentes da misericórdia do nosso Pai, então, todas essas dificuldades transformam-se em ocasiões para que experimentemos o Seu Amor infinito, e aí então, seremos realmente felizes.
                             A nossa felicidade aqui na terra está condicionada à nossa experiência pessoal com o Amor de Deus. Nesse caso, todas as ocasiões em que somos mais provados são justamente os momentos em que mais nós temos a amostra da ação de Deus na nossa vida. Reflitamos:– Você já experimentou alguma vez a felicidade dessa maneira? – Para você o que significa ser feliz? – Você já foi perseguido por causa do reino de Deus? – Você é bem aventurado ?O que falta para você viver das bem-aventuranças? – Você confia que Deus o  alimentará e sempre matará a sua sede de justiça?
Amém
Abraço carinhoso
Maria Regina

 “As Bem-aventuranças” – Claudinei M. Oliveira
       
Domingo, 06 de Novembro de 2011.

Evangelho –   Mt   5,  1-12

             Neste domingo da escuta  da Palavra de Deus ela  vem mostrar o caminho para chegar a salvação. A meta do cristão é ser orientado pelos ensinamentos do Senhor para traçar boas ações a fim de cumprir sua missão na terra. Este serviço já prestado pelo Filho do Altíssimo e deixou um legado para ser consumado. Ele não cansou em desbancar os opositores – ricos fariseus -  para enaltecer os pobres e pequeninos. Jesus não comungava as injustiças contra seus irmãos e nem a exploração para aumentar poder e prestigio de uma classe que assegurava as estruturas a qualquer custo.

            Na montanha Jesus vai estar diante da multidão que seguia seus passos para ouvir as pregações de libertação. É o momento auge de sua vida. Pois seu objetivo está começando a ser alcançado. O povo esta de pé diante de um mestre que tem palavras na medida certa e estas palavras caem como uma luva na situação vivida. As palavras de Jesus  soam bem para os ouvidos e ensinam a caminhar para a construção de vida nova. Todos querem vivenciar a novidade. Uma vida nova consiste em ser livre para viver a dignidade de um Deus justo, de um Deus fraterno que acolhe todos com imenso amor. Uma vida nova pode levar para o paraíso do Reino que Deus, onde foi preparado com carinho para seus filhos. Ele quer seus filhos bem para glorificar no Senhor as melhores causas. Ele quer seu povo liberto das amarras da opressão para fazer o bem sem medir esforços.

            A montanha tem um simbolismo real. Significa estar perto do céu. Do alto Deus cuida de seu povo e da montanha Jesus pastoreia suas ovelhas dando sentido para suas vidas. Do alto Jesus percebe onde a dor é maior e qual é o melhor remédio. Do alto Jesus tem a visão completa dos seus irmãos. Ainda pode enxergar o movimento da cabeça do povo: se estiver de cabeça baixa é sinal de obediência e também de maus tratos; caso esteja de cabeça erguida é sinal de postura de comando, ou seja, está pronto para a ação é já libertou dos nós da vida.

            Contudo Jesus começa a pregar para a multidão e para os discípulos afirmando: Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! Este coração pobre é um coração amadurecido para Deus, um coração livre para amar seu fiel escudeiro que é o Senhor e o coração  que já se encontrou para a graça do Criador. Bem-aventurado  significa o cristão sem mancha para suportar a doutrina da libertação, isto é, o cristão contaminado pelas palavras do Santo Evangelho que compreende a lógica da Divina Graça de Deus. Ele é o bem-aventurado porque tem na sua essência a presença vivificadora do Cristo Ressuscitado.

            Mas por que Jesus começa o ensinamento falando de pobre. Simples. O pobre vive a margem da sociedade, adormece em qualquer barraco, alimenta-se de qualquer coisa que mata a fome. O pobre não tem luxuria e nem a prepotência do homem fariseu. O pobre quando ama, ama de verdade, quando vive, vive de verdade, quando chora, chora de verdade. Sente dor e com seu jeito simples de viver consegue dar a volta por cima. O pobre acredita na infinita graça da misericórdia. O pobre reza e pede a Deus não riqueza e nem ostentação, mas o pobre pede a Deus a felicidade para chegar mais perto de Deus. Ele tem fé. Ele espelha em Jesus que é o Sal e Luz da vida do Novo Reino. Ele não imita Jesus, mas acredita nas palavras e as fazem crescer em seu coração.

            Todavia, existe o cuidado quanto ao pobre de espírito. Se o pensamento leva a riqueza e a luxuria e passa a viver a idolatria do poder, desconsiderando a lógica da pobreza, este homem é pobre em espírito. Não acredita em Deus. E um sujeito alienado, tapado e passa a viver uma vida falsa, cheia de ilusões. Seu espírito não é capaz de visualizar um Deus presente que oferece uma vida real. Uma vida em dignidade que não permite desfazer-se de sua própria classe.

            Assim o reino dos céus é para todos que possuem um coração pobre e acredita na força do Espírito Santo. Que leva o encantamento de Deus para as gerações de todos os lugares da terra. O reino é a coisa mais linda que se possa imaginar, porque lá morarão somente os homens de vestes brancas, que labutaram  dia-a-dia levando o projeto de vida para a humanidade. No Primeiro  livro de Apocalipse de  São João observa a interrogação de um ancião:  Esses, que estão revestidos de vestes brancas, quem são e de onde vêm? Respondi-lhe: Meu Senhor, tu o sabes. E ele me disse: Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.  Estes de veste alvejada pelo sangue do Cordeiro são aqueles que acreditaram nas promessas de Nosso Pai e levaram a sério a dignidade da Glória. Mesmos diante de tantas tribulações e maus tratos não se esqueceram do Senhor e contrariando os falsos deuses romanos tiveram fé para levar a Eucaristia a outras pessoas. Estes de vestes brancas lutaram contra o encardido romano. Não foram fáceis as lutas. Sempre os romanos ganharam. Mas com fé e a persistência sobreviveram para a morada do Pai em número de 12X12X1000 que são 144 mil os escolhidos filhos de Israel. Diante do trono do Senhor prostraram-se e adoravam a Deus dizendo: Amém, louvor, glória, sabedoria, ação de graças, honra, poder e força ao nosso Deus pelos séculos dos séculos! Amém. 

            Bendizer sempre o nome de Deus é considerar com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos de fato. Somente quem conhece o amor de Altíssimo é capaz de compreender o que Jesus falava na montanha. O amor através do Filho para com seu povo é imenso e grandioso. Prepara seus filhos para uma vida em respeito mútuo onde o Outro passa a ser a extensão do Eu. É o comprometimento de um para com  o outro.

            Jesus termina a oitava bem aventurança afirmando:  Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. Aquele que por causa de Deus for condenado, injuriado, maltratado e perseguido terá a recompensa nos céus. O reino de Deus está a espera de quem esteja a fim de conquistar com a dignidade do Senhor. Para tanto, é preciso livrar de todos os males. O caminho está aberto para quem quiser seguir os passos de Jesus: seja um pobre que encantar-se com a beleza das maravilhas feitas por nosso Criador. Além disso, ame de todo o coração a plenitude da justiça e seja um servo fiel para com nosso Deus. Amém.

-- 
Claudinei M. de Oliveira
Tenha a Paz de Cristo em seu Coração!
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O Sermão e as bem-aventuranças

Mt 5, 1-12


Este relato nos recorda a passagem no 1° Testamento onde Moisés sobe ao Monte Sinai para encontrar-se com Deus e traz consigo a aliança com o povo de Israel. Possivelmente Mateus ao descrever este Sermão, quer dizer que Jesus se encontrava sobre uma colina que havia em Cafarnaum. Estava Ele rodeado de seus discípulos e uma numerosa multidão de pessoas da Galiléia, Decápole, Jerusalém, Judéia e Transjordânia.
É Jesus trazendo em suas palavras de sabedoria, proposta de felicidade para gerar uma maior aproximação entre as pessoas e os povos. São oito as bem-aventuranças:
A 1ª, 2ª e 3ª são totalmente dirigidas aos pobres. É um convite a estas pessoas que padecem a participarem das suas bênçãos. Lembrando sempre que as pessoas tidas como  infelizes e amaldiçoadas  também estão aptas a receber as bênçãos do Reino dos Céus. Estas bem-aventuranças descritas por Mateus diferem um pouco das contidas em Lucas 6, 20-38 onde o mesmo descreve 4 bem-aventuranças e 4 maldições.
A pobreza relatada neste evangelho é sobre a humildade e a inocência tão peculiar nos pequeninos e sumamente necessária para se entrar no Reino dos Céus.
Este ser “pobre” é o “ser” pequeno em oposição aos grandes da época como os mestres da Lei, os saduceus, etc.
Ser “pobre” é ser humilde, despojado e oprimido pelos poderosos. O próprio Jesus é o exemplo da pobreza e humildade, como um profeta que anuncia e denuncia. Exemplo:
Mt 11, 28-30 “Vinde a mim todos os que estais cansados sob o peso do vosso fardo e vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para vossas almas, pois o meu jugo é suave e meu fardo é leve.”
Estas três primeiras bem-aventuranças é uma solicitude de piedade de Jesus para com as pessoas que sofre e padecem da ausência de amor fraternal nas comunidades. São os pobres, os aflitos, os mansos (humilhados) que descartados pela sociedade e pelos governos que se sucede, que os maltratam e alija-os de terem uma vida mais decente com casa, comida, trabalho e saúde. Estes “pobres” buscam a misericórdia e a solidariedade social. Vejamos Mateus 25,45  “Em verdade vos digo: todas as vezes que o deixaste de fazer a uns desses pequeninos, foi a mim que o deixaste de fazer.”
As outras cinco bem-aventuranças  nos transmite às atitudes e ordem de caráter moral presente na vida do ser humano.
A felicidade do ser humano está na justiça fraternal e social. Na misericórdia com os irmãos e irmãs em seus padecimentos. Está na promoção da  paz dentro de casa, no seu bairro e na sua cidade. Governador Valadares está colocada em 1° lugar nos índices de crimes e atentados contra a vida. É um lugar de destaque negativo diante do povo mineiro. Com certeza, Deus está muito triste com esta situação em nossa cidade.
A felicidade é buscar a justiça social. É ser perseguido por causa do nome de Jesus. Assim como os profetas foram perseguidos e injuriados, nós também teremos este privilégio de caminharmos juntos ruma à felicidade eterna no Reino dos Céus.
É o convite eucarístico em Mateus 25,34 “Vinde, benditos de meu Pai e recebei como herança, o Reino preparado para vós desde a fundação do mundo.”

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

                     
 Gilberto Silva
       (33}-8828-5673-(33)-3279-8709
"Meu Senhor e meu Deus, refúgio e fortaleza"
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A Liturgia da Palavra deste 32º Domingo Comum – A, desde a primeira leitura até o evangelho, se mostra como o anúncio capaz de transformar o mundo em que vivemos. Com o Sermão da Montanha ou as Bem-aventuranças, apresenta-se uma nova lei, a lei da Vida Moral do Cristão, a Lei Natural e a Lei Positiva.

       Na 1ª leitura nos traz a realidade da salvação que se apresenta a todos os cristãos: "A salvação pertence ao nosso Deus, que está sentado no trono, e ao Cordeiro".

       O Salmo de Resposta nos faz confirmar que: “É assim a geração dos que procuram o Senhor!”.

       Bem como nas leituras anteriores,  a 2ª leitura nos apresenta, ao mesmo tempo que nos relembra que: “Todo o que espera nele purifica-se a si mesmo, como também ele é puro”.

         As Bem-Aventuranças colocam o homem diante do dom de Deus e incita-o a fazer desse inefável dom, o fundamento da sua vida. O Evangelho deste domingo é considerado a «Carta Magna» de uma nova  humanidade renascida da Morte com a Ressurreição junto a Cristo.

Ao Homem foi dada a capacidade de criticar as realidades que se apresentam e de seguir conforme a vontade do Senhor ou mesmo conforme sua própria vontade, ao que chamamos de livre arbítrio. As bem-aventuranças nos permitem conhecer e redescobre as vocações às quais os homens são chamados, bem como a lei que norteará seu coração e suas ações.

A vida do Cristão deve ser regrada e baseada segundo os ensinamentos de Jesus Cristo. Devemos nos obrigar em sermos a ovelha do redil, mansa e compassiva para com as demais; e atentos sempre aos que possam vir nos roubar de nossos caminhos, de nossos NORTES *.

As Bem-Aventuranças nos permitem conhecer o rosto de Jesus e nos dão a conhecer a forma pela qual nossa fé e esperança nos sustentarão em meio às dificuldades e tribulações. Esta nos chama a uma mudança de atitude e a um caminhar que nos coloca diante de uma opção inevitável em alcançarmos nosso fim último: a felicidade junto a Deus. Segundo o Catecismo da Igreja Católica – CIC, Esta vocação dirige-se a cada um, pessoalmente, mas também ao conjunto da Igreja, povo novo constituído por aqueles que acolheram a promessa e dela vivem na fé.

  

* Norte: posição de orientação da bússola.



Fiquem com Deus,

Catequista Bruno Velasco
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Bem aventurados os pobres
Hoje, a Igreja volta seu olhar e seu coração para o céu e enche-se de alegria ao contemplar uma multidão que participa da glória e da plenitude do Deus Santo.
A nossa fé nos ensina que somente Deus é Santo. Na Bíblia, "santo" significa, literalmente, "separado". Deus é aquele que é separado, absolutamente diferente de tudo quanto exista no céu e na terra: Ele é único, Ele é absoluto, Ele sozinho se basta, sozinho é pleno, sozinho é infinitamente feliz. Ele é Deus! Por isso, Santo, em sentido absoluto, é somente o Deus uno e trino, Pai, Filho e Espírito Santo. A Jesus, o Filho eterno feito homem, nós proclamamos em cada missa: "Só vós sois o Santo"; ao Pai nós dizemos: "Na verdade, ó Pai, vós sois Santo e fonte de toda santidade"; ao Espírito nós chamamos de Santo.
Mas, a nossa fé também nos ensina que este Deus santo e pleno, dobra-se carinhosamente sobre a humanidade – sobre cada um de nós - para nos dar a sua própria vida, para nos fazer participantes de sua própria plenitude, sua própria santidade. Foi assim que o Pai, cheio de imenso amor, enviou-nos seu Filho único até nós, e este, morto e ressuscitado, infundiu no mais íntimo de nós e de toda a Igreja o seu Espírito de santidade. Eis, quanta misericórdia: Deus, o único Santo, nos santifica pelo Filho no Espírito: "Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos!" É isto a santidade para nós: participar da vida do próprio Deus, sermos separados, consagrados por ele e para ele desde o nosso Batismo, para vivermos sua própria vida, vida de filhos no Filho Jesus! É assim que todo cristão é um santificado, um separado para Deus. Mas, esta santidade que já possuímos deve, contudo, aparecer no nosso modo de viver, nas nossas ações e atitudes. E o modelo de toda santidade é Jesus, o Bem-aventurado. Ele, o Filho, foi totalmente aberto para o Pai no Espírito Santo e, por isso, foi totalmente pobre, totalmente manso, totalmente puro e abandonado a Deus no pranto, na fome de justiça e na misericórdia. Então, ser santo, é ser como Jesus, deixando-se guiar e transformar pelo seu Espírito em direção ao Pai. Esta santidade é um processo que dura a vida toda e somente será pleno na glória. São João nos fala disso na segunda leitura de hoje: "Quando Cristo se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é".
Nesta perspectiva, podemos contemplar a estupenda leitura do Apocalipse que escutamos como primeira leitura. O que se vê aí? Uma multidão. Primeiro, cento e quarenta e quatro mil de todas as tribos de Israel. Isto simboliza todo o Israel. Recordemos: 12 é o número do Povo do Antigo Testamento. Pois bem, cento e quarenta e quatro mil equivale a 12 x 12 x 1000, isto é, à totalidade de Israel. Deus não se cansou de chamar o povo da antiga aliança: Israel haverá de ser salvo pelo sangue de Cristo. Mas, há ainda mais: "Depois disso, vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Estavam de pé diante do trono e do Cordeiro". Essa multidão são todos os povos da terra, chamados por Cristo, na Igreja, para a salvação, para a santificação que Deus nos oferece. Notemos bem: "uma multidão que ninguém podia contar". A salvação é para todos, a santidade não é para um grupinho de eleitos, para uma elite espiritual. Todos são chamados a essa vida divina que Deus quer partilhar conosco, todos são chamados à santidade! "Trajavam vestes brancas e traziam palmas nas mãos. São os que vieram da grande tribulação e lavaram e alvejaram suas vestes no sangue do Cordeiro". Eis quem são os santos: aqueles que atravessaram as lutas desta vida, as tribulações desta nossa pobre existência, unidos a Cristo; são os que venceram em Cristo – por isso trazem a palma da vitória; são os que não tiveram medo de viver e, se caíram, se erraram, foram, humildemente, lavando e alvejando suas vestes no sangue precioso de Cristo: são santos não com sua própria santidade, mas com a santidade do Cristo-Deus. Nunca esqueçamos: ninguém é santo com suas forças, ninguém é santo por sua própria santidade: só em Cristo somos santificados, pois somente Cristo derrama sobre nós o Espírito de santidade. O nosso único trabalho é lutar para acolher esse Espírito, deixando-nos guiar por ele e por ele sermos transfigurados em Cristo!
Olhemos para o céu: lá estão Pedro e Paulo, lá estão os Doze, lá estão os mártires de Cristo, os santos pastores e doutores, lá estão as santas virgens e os santos homens, lá estão tantos e tantos – uns, conhecidos e reconhecidos pela Igreja publicamente, outros, cujo nome somente Deus conhece; lá está a Santíssima e Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe e discípula perfeita do Cristo, toda plena do Espírito, toda obediente ao Pai. Eles chegaram lá, eles intercedem por nós, eles são nossos modelos, eles nos esperam.
Num mundo que vive estressado, que corre sem saber para onde... num mundo que já não crê nos verdadeiros valores, porque já não crê em Deus, contemplar hoje todos os santos é recordar para onde vamos e qual é o sentido da nossa vida! Não tenhamos medo de ser de Deus, não tenhamos medo de testemunhar o Evangelho, não tenhamos medo de alimentar nossa vida com o Cristo, na sua Palavra e na sua Eucaristia para sermos inebriados da vida do próprio Deus.
Infelizmente, muitos hoje têm como heróis os atletas, os atores, os cantores e tantos outros que não têm muito e até nada para ensinar. Quanto a nós, que nossos heróis e modelos sejam os santos e santas de Cristo, que foram heróis porque se venceram e correram para o Cristo! Que eles roguem por nós, pois o que eles foram, nós somos e o que eles são, todos nós somos chamados a ser.
Todos os Santos e Santas de Deus, rogai por nós!
dom Henrique Soares da Costa
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Alegremo-nos todos no Senhor, celebrando a festa de todos os santos. Conosco alegram-se os anjos e glorificam o Filho de Deus”
Ao se aproximar o final do ano litúrgico, a Igreja oferece-nos momentos especiais para a meditação do que há-de vir. Neste mês de novembro, especialmente, três solenidades marcam este momento: a celebração de Todos os Santos, a solenidade de Fiéis e, ao final do mês, Cristo Rei. São três instantes marcantes: a celebração da Igreja Triunfante, a da Igreja Padecente e o triunfo de Nosso Senhor ao final dos séculos.
No Brasil, por especial concessão da Santa Sé, as festas de guarda são permitidas transferirem sua celebração para o domingo seguinte, quando caem durante a semana.
Envolvido pela grandeza desta solenidade, vem-me à lembrança as palavras de um pregador que fascinaram-me na infância, povoando minha imaginação com aquela homilia fenomenal: “Hoje o céu assume a terra. A terra assume o céu. A Igreja militante neste mundo se une à Igreja padecente do purgatório para glorificar e louvar a Igreja triunfante do céu, na presença da Trindade Santíssima”.
Com estas lembranças que enchem a minha alma de doce saudade e esperança cristã, celebramos a festa do José, da Maria, do Antônio, do Pedro, da Conceição, santos da terra unida à multidão de santos consagrados e anônimos, como Ambrósio, Inácio de Loyola, Pedro e Paulo, Bento, Atanásio, Clara, Rita de Cássia, Teresa de Jesus, Teresa do Menino Jesus, Paulina, José, Anchieta, Camilo de Léllis, Affonso de Ligório, Escrivá, Hurtado, Antônio de Pádua, Geraldo Majela, Antônio Galvão e tantos outros santos de nossa devoção que nos ensinam o cotidiano da vida cristã, rumo à Jerusalém Celeste.
Celebramos hoje as três dimensões de nossa vida cristã: a vocação à santidade futura no céu; a santidade do passado – daqueles que nos precederam na visão beatífica - e celebramos a santidade gratuita de Deus na nossa caminhada neste vale de lágrimas rumo ao Absoluto.
A Mãe Igreja nos convida hoje para celebrar os seus filhos, os canonizados e os não canonizados, os conhecidos e os desconhecidos, os que morreram em defesa da fé, como mártires, e os que também tombaram confessando com fidelidade a nossa fé. Celebramos todos os santos que uniram fé e práxis de vida comunitária, testemunhando Jesus Ressuscitado na sua realidade e em seu estado de vida.
Mas por que celebrar os santos do céu e da terra? Porque todos nós somos convidados à vida de santidade atendendo ao mandato bíblico: ”Vivei a santidade, santificando uns aos outros, porque Deus, o Poderoso, é o Santo dos Santos”.
A santidade é um caminho espinhoso. Combatendo o bom combate, todos são convidados a trilhar este árduo caminho, especialmente a partir da dimensão comunitária, a dimensão paroquial, de engajamento no projeto de evangelização, para aproximar-se mais e mais da plenitude da eternidade, no amor de Deus.
O Evangelho desta festa é a doce alegria cristã das Bem-aventuranças (Mt. 5,1-12a). Bem-Aventuranças que é o programa, o ideário, o caminho ideal para se alcançar a santidade de estado e de vida. A santidade ela é uma conquista, é a vitória no “combate espiritual” que pugnamos no dia-a-dia, sempre tendo presente que a santidade provém de Deus.
E como a santidade chega aos homens? Com a encarnação do Redentor, pela sua morte na Cruz, pela remissão dos pecados de todo o gênero humano, homens e mulheres devem se espelhar neste maravilhoso evento onde se haure a santidade divina.
As bem-aventuranças, apresentadas na Liturgia da Palavra, devem ser consideradas como o caminho da felicidade. A CNBB nos convida, com as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, a reler este Evangelho como caminho de santidade, lançando as redes em águas mais profundas, atentos à exortação do saudoso Pontífice João Paulo II: “Duc in altum!”.
Mas, queridos irmãos, o que é ser santo? O Concílio Vaticano II nos ensina que, considerando a vida daqueles que seguiram fielmente a Cristo, “somos incitados a buscar, por novas motivações, a cidade futura e, simultaneamente, instruídos sobre o caminho seguríssimo pelo qual, entre as vicissitudes do mundo, segundo o estado e a condição de cada qual, podemos chegar à perfeita união com Cristo, ou seja, à santidade”.
Ser santo, portanto, é seguir e imitar os exemplos, palavras e obras de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ser santo é ser pobre, no sentido de desprendido dos bens do mundo, e ávido pelos bens do céu, aberto aos excluídos sob todos os aspectos, aos famintos da graça divina, ao mendigos da misericórdia de Deus. Ser santo é acolher e perdoar. Ser santo é ser pacífico, é ser generoso, é ser caridoso, é ser acolhedor, é chorar com os que choram, é dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede. Ser santo é tirar o seu agasalho e agasalhar a quem tem frio e está no relento.
Num mundo tão cruel, com tanta fome, tanta miséria, tanta guerra, tanta violência, tanto desentendimento, a exemplo dos santos e santas que a Igreja no-los apresenta, devemos anunciar o Evangelho da acolhida, do amor, do perdão e da multiplicação de dons e bens.
O convite para lançar as redes nas águas mais profundas é o comovente convite para a busca incessante da santidade. Todos, pecadores e santos, somos convidados, porque Deus conhece os nossos corações e nos chama à conversão. Somos convidados a ser santos, santos, santos e cada vez mais santos e imaculados. A vocação universal dos cristãos é a santidade: “Sede santos, como o Pai celeste é santo” (Mt. 5,48).
A santidade é o doce chamado desta liturgia sagrada. Uma santidade que começa na família, na comunidade, na Paróquia, entre os amigos, no trabalho, enfim, que permeia a vida como um todo. A santidade não é inatingível, porque ela deve ser vivenciada nas coisas simples, nas coisas comuns, no cotidiano da vida cristã, procurando viver os mandamentos cristãos com grande e eloqüente simplicidade, em íntima sintonia com a Santíssima Trindade.
Ao mirarmos a imagem dos santos – ao contrário do que os injuriosos e incompreendidos dizem que adoramo-las – recordamos os exemplos edificantes de vida desses paradigmas de vida cristã, de constante sintonia com o Deus Trindade, e inspirados neles traçamos nossa caminhada rumo ao definitivo, à visão beatífica de Deus.
Ter a um santo ou a uma santa como intercessor junto de Deus é como olhar o porta-retrato do pai ou da mãe no criado-mudo da cama e passar a mão naquela fotografia que nos relembra a pessoa querida e nos interpela a ser santo ou a evangelizar como aquela pessoa, cuja ausência se torna uma presença pelo amor que lhe devotamos.
Adoramos o Deus Trindade. Veneramos nossos santos e a Virgem Maria, presença forte, determinante, inspiradora para todos os cristãos. Afinal, quem não se ufana da Mãe que tem? Sem o amor sacrossanto do papai com a mamãe, não estaríamos hoje aqui. Por isso, veneramos nossos santos, como nossos pais, como nossos motivadores para a santidade de vida.
A segunda leitura (1Jo. 3,1-3) desta solenidade proclama nossa atual santidade, por sermos filhos de Deus e templos do Espírito Santo, embora ainda não seja manifesto o que “seremos” após o Juízo, de acordo com a nossa caminhada de fé. Por isso, celebramos hoje, também, a Igreja Militante, que caminha neste mundo, com suas alegrias e misérias, sob a inspiração da Igreja Triunfante, com muita vontade de lançar as redes em águas mais profundas, em busca da santidade que nos envolve e nos eleva: “Duc in altum”.
A tudo isso se une a primeira leitura, com a visão antecipada do Apocalipse sobre a plenitude de todos aqueles que aderiram a Deus. Quem aderiu a Deus participará das núpcias do Cordeiro, como eleitos.
Eis, pois, como todos somos convidados a santidade. Nós, Igreja militante, com homens e mulheres do povo sofrido, somos convidados a caminhar rumo à Igreja Triunfante, na firme certeza de que a santidade é a meta básica da vida cristã. É preciso ser santo: isso é o principal! O resto é conseqüência do amor gratuito de Deus pelos homens.
A santidade é a perfeição de vida que se conquista no dia-a-dia, com altos e baixos, momentos de alegria e momentos de tristeza. Nossa grande esperança, a armadura que com que nos revestimos confiante nessa batalha, é a cruz que venceu o medo, o pecado e a morte, o capacete da vitória cristã.
Em tudo isso está a frase que marcou o meu cristianismo: “Enquanto o mundo, gira a cruz permanece de pé! Cruz da vitória da morte sobre o pecado. Cruz da vitória de Deus contra a soberba. Cruz, sofrimento diário que abre as portas do céu”.


“Alegremo-nos todos no Senhor, celebrando a festa de todos os santos. Conosco alegram-se os anjos e glorificam o Filho de Deus”.
A festa de Todos os Santos abrange os três momentos do tempo, além da dimensão universal do espaço. De fato, celebramos os justos do passado, celebramos a vocação à santidade futura – o “céu” – e celebramos a santidade como dom  - graça – presente.
Como esta dimensão presente é a em que menos se pensa quando se fala de santidade, achamos que ela merece uma atenção especial: é a mensagem das Bem-Aventuranças, no Evangelho que hoje refletimos. As Bem-Aventuranças devem ser entendidas como uma proclamação da chegada do Reino de Deus para as pessoas que vão ficar felizes como isso. São, ao mesmo tempo, a proclamação da amizade de Deus para aqueles que participam do espírito que é evocado por oito exemplificações, e um programa de vida para todos os que escutam a palavra de Cristo. Este programa de vida já entra em ação desde que alguém se torna discípulo de Jesus: os que estão realizando este programa já são “santos”. Por isso, este evangelho foi escolhido para a festa de hoje. Jesus proclama a bem-aventurança – a felicidade, o bom encaminhamento, a boa venturança dos pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus, ele não quer dizer o além da morte – uma recompensa futura pela carência na terra – mas a realidade presente. Reino dos Céus é uma maneira semítica de dizer Reino de Deus. E o Reino de Deus começa onde se faz à vontade de Deus, como aprendemos do Pai-Nosso, que Jesus ensina em seguida. Se entendêssemos as Bem-Aventuranças somente como uma compensação para depois da morte, elas seriam “ópio do povo”. Mas o contrário é pura realidade: elas são um verdadeiro incentivo para realizar, aqui e agora, o novo espírito, que traz presente o Reino de Deus entre nós, na nossa comunidade de fiéis.
Somos filhos de Deus. Somos criados à imagem e semelhança de Deus. Assim somos hoje chamados a contemplar à cidade santa do céu, habitada por milhões e milhões de homens e mulheres, de todas as raças, línguas e tempos, que glorificam a Santíssima Trindade e gozam da mais perfeita e íntima comunhão de amor e vida divina como Senhor: aqui está o conceito mais perfeito e exato da Festa de todos os santos canonizados e anônimos que hoje celebramos. É uma festa de louvor perene e de doce esperança. De louvor a Deus que, aceitando-nos como filhos e filhas, nos tornou herdeiros do céu, da bem-aventurança eterna. De esperança, porque, apesar das tentações, dos pecados da vida terrena, temos um destino, um viés de eternidade.
Celebramos os nossos santos, os que nos precederam rumo ao céu. Mas celebramos, sobretudo, o caminho de santidade dos santos e santos e o nosso caminho para esta santidade de vida e de estado.
Celebramos a santidade em dois caminhos. O primeiro caminho é a santidade aqui e agora. Porque já agora somos filhos de Deus, como nos ensina a segunda Leitura retirada da 1 Carta de João 3,1-3: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas nem sequer se manifestou o que seremos! Sabemos que, quando Jesus se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é!”. (cf. 1 Jo 3,2). Sim, veremos Jesus tal como ele é. Por isso neste mundo nós devemos ser como Jesus é: pobres de espírito, pacíficos, aberto aos aflitos, àqueles que procuram a justiça, porque assim seremos santos aqui e agora.
O segundo caminho é o caminho que coincide com a nossa irmã Morte: vamos caminhando ao encontro do Cristo Misericordioso. A morte é o aguilhão da vida plena. Não é castigo ou muito menos motivo de desespero, é o encontro definitivo como Cristo. Por isso é necessário estarmos preparados. É o Momento do Encontro com o Cristo Juiz Misericordioso e Compassivo. Os santos passaram por essa porta estreita. Por isso vêem a Deus tal como ele é e são nele transfigurados (cf. 1Jo 3,2). Também nós o veremos como ele é e seremos nele transfigurados, quando, pela morte biológica, nasceremos para a eternidade. Por isso a vida não é tirada, mas sim transformada.
Na primeira leitura(cf. Ap 7,204.9-14), entre as visões das catástrofes do fim do mundo, surge a visão da glória dos eleitos, fruto da salvação que vem “de nosso Deus... e do Cordeiro”(cf. Ap 7,10). Por seu sacrifício, o Cordeiro venceu a morte. Desta vitória participam os que, especialmente no sacrifício do martírio, “branquearam suas vestes no sangue do cordeiro”. Não o número dos eleitos é o que esta leitura quer  mostrar, mas a vitória sobre as forças do mau que se opõem a Cristo e a sua comunidade.
Hoje o Evangelho (cf. Mt. 5,1-12) propõe as Bem-Aventuranças do Sermão da Montanha. Este Sermão é o Retrato do Senhor Ressuscitado. Um ideal ao nosso alcance, não a ser alcançado pelos critérios humanos, mas pela graça santificante, pelo auxílio do Cristo, pela abertura de nosso coração e de nossa alma ao Salvador. Assim, os santos foram capazes de se enamoraram pelas bem-aventuranças e de crerem que seriam capazes de medir a sua vida por elas, ora ressaltando uma, ora se penitenciando para alcançar outra bem-aventurança.
A felicidade de Jesus é bem diferente da felicidade passageira deste mundo. O mundo nos reserva o ser, o poder e o prazer que são transitórios. A felicidade que Jesus prega envolve o passado, porque se enraíza na doutrina que ele deixou; o presente, porque é dinâmica e exigente; e o futuro, porque é à base do Reino dos Céus, que começa aqui e plenifica-se na eternidade.
As criaturas, ou seja, todos nós seus filhos, fomos criados para a eternidade, não para a desgraça. O desejo de felicidade é para todos. A plenitude da felicidade depende da vivência feliz nesse mundo, porque o Reino dos Céus começa e se constrói na vida presente. Jesus de Nazaré é o modelo de quem viveu na terra a plenitude das bem-aventuranças. Por isso é ele também o modelo da felicidade eterna.
As bem-aventuranças são o espelho daquilo que o verdadeiro discípulo deve ser. O discípulo é construtor do Reino, mas, antes de agir, ele precisa se caracterizar e qualificar. Daí Jesus exigir qualidades. Elas serão condição e roteiro ao mesmo tempo. Ponto de partida e ponto de chegada. No mesmo sentido de quando dizemos que caminhamos para Deus. Só caminha para Deus quem parte de Deus.
As três primeiras bem-aventuranças propõem a libertação da criatura humana de três grandes empecilhos: o apego ao dinheiro, a soberba da auto-suficiência e o preconceito de que só é feliz quem não sofre dificuldades. Aos três obstáculos, o Senhor contrapõe o espírito de pobreza, a mansidão e serenidade nas lágrimas.
Se as três primeiras bem-aventuranças asseguram-nos independência, desapegando-nos das coisas, libertando-nos da soberba que gera violência, e pondo-nos dentro da realidade conflituosa de cada dia, as outras cinco estão voltadas para a ação e, no seu conjunto, perfazem a grandeza do homem novo: justiça, misericórdia, pureza de intenção, paz, paciência. Não há misericórdia sem justiça. Não há paz para quem lavra na falsidade. A paciência é a força histórica do povo de Deus que espera a realização do Reino, não de braços cruzados, mas na atividade da construção da paz e da justiça.
O Reino de Deus identifica-se na pessoa de Jesus e com a pessoa Dele. E Jesus continua presente no meio de nós (cf. Mt. 28,20), como confessamos em todas as missas. Esta é a festa em que unimos as três dimensões da Igreja: a Igreja militante, padecente e triunfante. A Santidade é participar da vida de Deus, que é "o Santo". E sendo nós pecadores, supõe um processo de conversão permanente. Para ser santo, Cristo nos deixou alguns meios: como Os Sacramentos, a Igreja, a Oração, a Palavra de Deus. Acolhamos o Apelo de Deus à Santidade e que os Santos sejam nossos modelos e intercessores.
padre Wagner Augusto Portugal
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Os santos preparam o Reino
A solenidade de Todos os Santos é tão importante, que tem precedência sobre o domingo do tempo comum. Celebra todos os santos, não só os canonizados. A canonização de um santo é algo custoso em todos os sentidos, e muitos e muitos de nossos pobres perseguidos, que contribuíram fortemente para o advento do reinado de Deus no mundo, não deixaram recursos suficientes para serem canonizados. De dom Oscar Romero, ainda não canonizado em razão de protelações no processo, até as humildes, analfabetas e desconhecidas donas Sebastianas, todos os santos são comemorados hoje.
Eles mereceram ser assinalados para que escapassem da segunda morte, a morte definitiva. Os trabalhos de sua vida, quando não sua morte em favor das vítimas deste nosso mundo, uniram-nos ao sangue do Cordeiro e deram-lhes a faixa de campeões e o troféu da vitória. Viveram como fiéis filhos de Deus. Essa grandeza de serem filhos de Deus, a qual procuraram preservar contra tudo e contra todos, agora se abriu, como o botão de uma rosa, na glória de Deus. Entre eles, pobres e perseguidos que enxugaram as lágrimas dos que choravam, mataram a fome dos famintos da verdadeira justiça, tornaram senhores os que não eram ninguém neste mundo. Fizeram a sua parte, construíram a verdadeira paz.
1º leitura (Ap. 7,2-4.9-14)
O livro do Apocalipse foi escrito para dar esperança a comunidades cristãs da Ásia Menor, comunidades pobres e vítimas de perseguição. Eram perseguidas por não adorarem o império.
Em cidades da Ásia Menor é que tinha surgido o primeiro templo dedicado à deusa Roma, ali é que estava “o trono de satanás”, o lugar onde se cultuava a imagem do divino imperador, o “deus acessível”. Quem participava desse culto recebia uma marca que lhe abria todas as portas. Quem não participava, além de excluído, poderia ser até mesmo condenado à morte. Os cristãos não participavam e por isso eram marginalizados e perseguidos.
Chamava-se João o missionário itinerante que animava essas comunidades, incentivando-as a não ceder ao culto do império. Por isso ele foi preso na ilha de Patmos e de lá envia o escrito, numa linguagem que os pobres e perseguidos poderiam entender e as autoridades do império não. Dá-lhes ânimo e aumenta-lhes a auto-estima.
No trecho que vamos ouvir na primeira leitura de hoje, ele fala de uma visão do céu. Multidões, milhares de cada clã (12), de cada uma das doze tribos (12x12 = 144) do povo hebreu que não cederam ao culto imperial, recebem outra marca que não os deixa ser vítimas do castigo que virá para os opressores. Além deles, estão presentes também as multidões incontáveis dos santos de todas as outras tribos e nações.
Todos são vencedores, vestem mantos brancos, a cor dos vencedores nas competições esportivas – poderíamos dizer hoje: trazem a faixa de campeões –, e têm o troféu, a palma, nas mãos. Não cultuaram Roma e o imperador, agora cultuam a Deus e ao Cordeiro. De onde vieram eles? Vieram da grande tribulação, a pobreza unida à exclusão social e à perseguição. Sua morte, seu sangue, unida ao sangue, morte, do Cordeiro, deu-lhes o manto branco da vitória. A resistência até a morte deu-lhes a vida sem fim.
2º leitura (1Jo. 3,1-3)
Os que nós chamamos de santos e hoje celebramos são os nossos irmãos que estão na glória. Como diz a segunda leitura de hoje, a graça de ser filhos de Deus, o botão que estava dentro deles, já se abriu em flor. Essa graça, esse dom de amor do Pai em nosso favor, faz-nos diferentes, como o mundo distante do Pai não é capaz de entender.
Falta-nos hoje apenas aquilo que não falta aos santos que celebramos: ver Jesus Cristo. Só nos falta o ver segundo o conceito joanino de experimentar, conviver, ter comunhão plena com o Filho, Jesus. Isso nos tornará totalmente semelhantes a ele. E é essa convicção que nos faz manter-nos distantes do mal, tal como ele fez e como todos os santos fizeram.
Evangelho (Mt. 5,1-12a)
Um detalhe, geralmente não observado na maioria das traduções, faz grande diferença na interpretação do evangelho de hoje. Trata-se da primeira frase. Em geral, dizem as traduções: “Vendo as multidões”. O tempo do verbo grego utilizado (aoristo), porém, pede que se traduza: “Tendo visto as multidões, Jesus subiu à montanha...”. Foi porque viu aquelas multidões que Jesus subiu à montanha e passou a dar a instrução aos discípulos, como Moisés, da montanha, deu ao povo a Lei ou Instrução de Deus. À vista das multidões, ele faz o Sermão da Montanha.
Que multidões eram essas? Eram as multidões de sofredores da Judeia e da Galileia, como também de fora, que, no final do capítulo 4, vinham buscar em Jesus uma solução para os seus problemas. Podemos dizer que são toda a humanidade sofredora. Por causa dela, para benefício dela, Jesus se senta como mestre, rodeado pelos discípulos, sobre uma montanha que lembra o monte Sinai. Ele instrui os discípulos não para que estejam voltados para o próprio umbigo, mas para que cuidem das multidões sofredoras que acorrem de toda parte.
Isso ajuda a entender a instrução. Notar que, das oito bem-aventuranças básicas, a primeira e a última se referem ao tempo presente: “deles é o reino dos céus”.
É preciso ter bem claro que “reino dos céus” não é o céu, a glória eterna. “Reino dos céus”, frequente no Evangelho de Mateus, é o mesmo que reino ou reinado de Deus. Ele começa aqui na terra, onde o que se liga ou desliga é confirmado no céu; assemelha-se ao campo de terreno bom e terreno ruim, à rede que pega peixes bons e maus, à lavoura onde o joio se mistura ao trigo. Só o respeito judaico pelo Nome o faz ser substituído pela palavra céus. A eles, aos pobres e aos perseguidos, pertence, portanto, o reinado de Deus, que tem início aqui na terra.
Os primeiros são os “pobres por espírito”, isto é, por força interior, por convicção, e os últimos são os “perseguidos por causa da justiça”, perseguidos por buscarem a justiça do reinado de Deus, tema caro a Mateus. Assim, os pobres e os perseguidos, de certo modo, identificam-se. E quem diz que aquele que aceita a pobreza, que não faz caso do dinheiro, não incomoda e não sofre por isso? Mas desses é o reinado de Deus; eles é que estabelecem o reinado que não é dos césares nem do dinheiro. São os santos que hoje celebramos.
Nas bem-aventuranças seguintes estão as consequências disso. Os que agora estão chorando mais adiante vão parar de chorar, serão consolados. Os que têm fome e sede de ver acontecer a verdadeira justiça hão de matar essa fome. Os carentes, em geral traduzidos por “mansos”, os que não são ninguém, que não têm vez nem voz, serão senhores, serão os donos da terra.
Na sequência, outras três bem-aventuranças: os que colaboram, ou seja, os que têm misericórdia, os que têm intenções retas (“coração puro”) e os que promovem a paz ou felicidade plena também terão sua recompensa. São a quinta, a sexta e a sétima bem-aventurança.
Voltando-se depois para os discípulos, nós e os santos hoje festejados, Jesus nos diz felizes porque perseguidos. É pena que o lecionário tenha cortado o final do v. 12, que dá o motivo da bem-aventurança da perseguição: “porque foi assim que sempre trataram os verdadeiros profetas”. Quem não é perseguido, quem não incomoda os senhores deste mundo, sejam pessoas ou instituições, não é profeta, não é santo.
DICAS PARA REFLEXÃO
São oito as bem-aventuranças. Oito está além da plenitude, que é o sete. Oito é Jesus Cristo, só ele vai além da plenitude. Ele é o primeiro pobre por opção e o primeiro mártir, o primeiro perseguido. Só ele põe os fundamentos do reinado de Deus. Só ele tira os pecados do mundo. Na cruz, o príncipe deste mundo, o que manda neste mundo, é posto para fora.
Nossos irmãos, os santos, “lavaram seus mantos no sangue do Cordeiro”, alcançaram a vitória, assemelhando-se à pobreza e à perseguição de Jesus.
Quando, na eucaristia, celebramos a morte do Cordeiro pascal, com ele celebramos o martírio, os trabalhos e a pobreza dos santos de ontem e de hoje. O pão e o vinho partilhados, que celebram o horizonte da comunhão perfeita e plena, sem lágrimas, sem fome e sem exclusão, significam também a pobreza de quem se parte em pedaços e a coerência que torna capaz a resistência à mais cruel perseguição.
Feliz não é o rico, o que tem tudo, mas não tem a si mesmo, pois pertence ao seu dinheiro.
Feliz não é o elogiado por todos, o aprovado por todos os poderosos do mundo, aquele que por ninguém é perseguido, porque nada tem para dizer, em nada colabora, nada acrescenta, só sabe negar-se a si mesmo e à própria consciência para agradar aos que podem. Parece agradar a todos, só não agrada a si mesmo.
Felizes são o pobre e o perseguido, e, com eles, muitos outros também serão felizes. Isso é ser santo.
padre José Luiz Gonzaga do Prado
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Evangelho (Mt. 5,1-12a)
A felicidade dos pobres
As bem-aventuranças marcam, no Evangelho de Mateus, o início do Sermão da Montanha (Mt. 5,1-7,28), a nova constituição do povo de Deus.
O v. 1 mostra a quem se destina essa boa notícia: às multidões vindas da Síria, da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e do outro lado do Jordão (cf. 4,24-25). Há gente vinda de todos os lugares. Isso denota que a mensagem de Jesus não tem fronteiras (Mateus pôs, como destinatários das bem-aventuranças, os cristãos das comunidades às quais escreveu seu evangelho). Vendo as multidões, Jesus sobe à montanha, que, simbolicamente, é o lugar de Deus e do encontro com ele. A montanha recorda o Sinai, o monte onde foi selada a aliança com o povo hebreu que saiu da escravidão egípcia. Foi aí que Moisés recebeu as tábuas da Lei (Decálogo), a constituição do povo de Deus.
Jesus, portanto, está para promulgar a nova constituição do povo de Deus, um povo sem fronteiras e sem discriminações; ele vai inaugurar a nova aliança com os pobres e marginalizados do mundo inteiro, revelando que Deus se solidarizou com eles a ponto de confiar-lhes o Reino. O clima dessa nova aliança é o da confiança ilimitada que circula entre Deus e seu povo. De fato, no tempo do deserto, o povo hebreu devia permanecer longe do monte Sinai, sem se aproximar. E Deus falava ao povo por meio de Moisés. Aqui, os discípulos se aproximam do Mestre na montanha, e Deus lhes fala em Jesus – o Emanuel –, que, sentado, ensina como Mestre que tem autoridade.
As bem-aventuranças são propostas de felicidade. A constituição do povo de Deus não impõe leis. Jesus simplesmente constata a situação do povo que o segue (pobres, afligidos, despossuídos [= mansos], famintos); percebe o esforço que fazem para mudar a situação (misericórdia/solidariedade, pureza de coração, promoção da paz); conhece as dificuldades e perseguições que enfrentam para criar a nova sociedade e os proclama felizes, herdeiros do projeto de Deus. A constituição que Jesus promulga no Sermão da Montanha nasce da constatação das lutas do povo sofrido. Deus se solidarizou com ele, confiando-lhe o Reino.
a. A felicidade dos pobres (vv. 3,10)
A primeira bem-aventurança: “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o reino do céu” (v. 3), juntamente com a oitava: “Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino do céu” (v. 10), são a síntese de todas as bem-aventuranças. As demais (vv. 4 - 9) esclarecem alguns aspectos dessas duas. A primeira e oitava possuem promessa idêntica: “porque deles é o reino do céu”. Não se trata propriamente de uma promessa, mas de constatação do que está acontecendo: o reino do céu já é dos pobres em espírito e dos perseguidos por causa da justiça! Esses dois grupos (pobres em espírito e perseguidos por causa da justiça) constituem, na verdade, um único grupo. As demais bem-aventuranças trazem uma promessa futura: serão consolados, possuirão a terra etc. Contudo, não é para esperar a realização dessa promessa no além. Ela é decorrência da opção que Deus fez pelos pobres e oprimidos, confiando-lhes o Reino, portador da plenitude dos bens: liberdade, vida, fraternidade, partilha, paz. Quando será realizado tudo o que aparece como promessa? Quando a nova prática da justiça fizer germinar e crescer o Reino.
A primeira bem-aventurança proclama felizes os “pobres em espírito”. Frequentemente se tenta pôr panos quentes na força dessa expressão, como se os pobres em espírito fossem pessoas humildes, independentemente de sua condição social. A palavra pobre recorda os ‘anawim do Antigo Testamento, da época de Jesus e das comunidades de Mateus: são os que depositaram sua confiança em Deus enquanto última instância, porque a sociedade lhes negava justiça. São pobres em espírito, ou seja, escolheram a pobreza (cf. 6,24) não porque a miséria os fizesse felizes, mas porque nessa condição participam do projeto de Deus, que é a construção da nova sociedade, baseada na justiça e igualdade. Por isso Jesus afirma que o reino do céu é deles! Deus é o rei dos pobres (poeticamente, R. Tagore afirma que “Deus cada vez mais se cansa dos grandes reinos, porém jamais das pequeninas flores”) e com eles formará o novo povo; sendo pobres, saberão concretizar o Reino na partilha e solidariedade (cf. 14,13 - 23; 15,32-39). O Reino é deles porque, vivendo assim, realizam o pedido de Jesus (cf. 4,17: “Convertam-se, porque o reino do céu está próximo”). A melhor definição dos “pobres em espírito” que descobri é a que foi apresentada por uma mulher do povo: “O pobre em espírito é como o peixe no mar: tem toda a água à sua disposição, mas não a guarda para si; deixa-a para todos os peixes”.
A sociedade estabelecida, ambiciosa de poder, glória e riqueza (cf. 4,9), não suporta uma sociedade alternativa que se forma com base na partilha e comunhão dos bens. Não suportando os pobres que aprenderam a partilha e a promovem como forma de realizar o Reino, persegue-os, procurando eliminá-los (v. 10). Ser perseguido por causa disso constitui desgraça? Não. Para Jesus, e na ótica do Reino, é sinônimo de felicidade, pois a perseguição da sociedade estabelecida mostra que o caminho dos pobres que lutam pela justiça é autêntico: deles é o reino do céu! Contudo, é bom lembrar que não se trata de perseguição por qualquer motivo, mas por causa da justiça do Reino, e esta se traduz na solidariedade, igualdade e fraternidade. Aliás, a justiça é a chave que abre todas as portas do Evangelho de Mateus. Temos, assim, um critério claro para discernir se alguém é ou não pobre em espírito: basta examinar seu compromisso com a justiça do Reino e ver se está sendo, de alguma forma, perseguido por causa dela.
b. A situação dos pobres que buscam a libertação (vv. 4-6)
Os vv. 4-6 descrevem a situação dos pobres que buscam a libertação. Eles são afligidos. Essa bem-aventurança se inspira no Antigo Testamento (cf. Is. 61,1). Lá, os aflitos são pessoas cativas e aprisionadas, vítimas de sociedade cruel e opressora. Afirmando que os aflitos serão consolados, Jesus lhes garante que o Reino tem força e capacidade de libertá-los das opressões a que foram submetidos. E por isso são felizes! Concretamente, nos capítulos 8-9, Mateus mostra como e quando isso acontece: a cura do leproso, do servo do centurião etc.
Os mansos são os que foram subjugados pelos poderosos. Também essa bem-aventurança se inspira no Antigo Testamento, exatamente no Sl. 37,10-11. Afirma-se aí que “mais um pouco e não haverá mais injusto; você buscará o lugar deles, e não existirá. Mas os pobres vão possuir a terra e deleitar-se com paz abundante”. Portanto, os mansos são os que foram “amansados” pelo poder tirano, que os privou da terra, impossibilitando-os até de reivindicar seus direitos (o estudioso Alonso Schökel traduzia “mansos” por “despossuídos”). Olhando para a promessa que lhes é feita, é possível identificá-los com os sem-terra do tempo de Jesus, das comunidades de Mateus e de todos os tempos. Fazendo parte do Reino, eles possuirão a terra (com artigo!), isto é, não só receberão de volta seus terrenos roubados pelos poderosos latifundiários, mas serão senhores do mundo, porque a partilha fará com que os bens da criação sejam de todos. Lida à luz de nossa realidade, essa bem-aventurança soa mais ou menos assim: “Felizes os sem-terra que lutam pela justiça, porque a realeza de Deus sobre eles lhes garante que a terra é de todos”.
Jesus proclama a felicidade dos que lutam pela justiça, dos que dela sentem necessidade como alimento vital e diário (ter fome e sede), porque na utopia do Reino não há um sinal sequer de injustiça.
c. Opções e práxis dos pobres: construir a nova sociedade (vv. 7-9)
Os pobres, que entraram na dinâmica do Reino, são misericordiosos, isto é, solidários. Partilha e comunhão impedem que alguém retenha qualquer coisa para si. Nesse clima de solidariedade, ninguém passa necessidade. Quem dá recebe, não só das pessoas, mas do próprio Deus, que entregou o Reino nas mãos dos que aprenderam a repartir. É a primeira opção dos que entraram na dinâmica do Reino: pôr tudo em comum. E por isso são felizes!
A segunda opção é a pureza de coração. Para os semitas, coração é a sede das opções profundas que marcam a vida inteira. Para eles, pensa-se com o coração (Mt. 15,19 mostra que do coração das pessoas nasce toda espécie de opção que contrasta com o projeto de Deus). Ser puro de coração é ter conduta única, em perfeita sintonia com o Reino. Essa bem-aventurança se inspira no Sl 24,4, em que pureza de coração está associada a “mãos inocentes”. Mãos inocentes são resultado de um “coração puro”: sem violência, sem corrupção, sem exploração etc. Os pobres do Reino são puros de coração porque não se apropriam da vida do próximo, como os poderosos. Sua conduta é íntegra. São felizes porque, agindo assim, veem a Deus, ou seja, experimentam-no concretamente na vida. Deus está presente em todo clamor ou sinal de vida. Quem possui essa “pureza de coração” o vê e o encontra a cada passo.
No Antigo Testamento, a pureza dependia de uma série de ritos mediante os quais as pessoas tinham acesso a Deus, que se manifestava no Templo. Na nova aliança – e na linha do Sl 24 – pureza é sinônimo de opção pela justiça do Reino e respeito pela integridade das pessoas. Deus não se manifesta mais no Templo (quando Mateus escreve o evangelho, o templo de Jerusalém já não existe). As pessoas o experimentam de forma direta no dia a dia e no relacionamento fraterno. Essa opção gera felicidade: felizes os puros de coração!
Jesus proclama felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus. A promoção da paz (shalom = plenitude dos bens) é fruto da solidariedade e pureza de coração. Paz é bem-estar que exclui toda injustiça, opressão e violação de direitos. Não se trata de paz em nível pessoal, mas sobretudo em nível social. Na dinâmica do Reino, uma pessoa só é verdadeiramente feliz quando todas o são. A luta pelo bem-estar de todos, como o requer o projeto divino, torna os seres humanos filhos de Deus. Há, portanto, estreita colaboração entre o Criador e as criaturas. O que o Pai faz, os filhos também fazem. Os pobres que optaram pelo Reino são capazes dessa práxis. Jesus garante que disso depende a felicidade deles!
d. A comunidade cristã em meio aos conflitos (vv. 11-12a)
A última bem-aventurança (vv. 11-12) revela as tensões e conflitos enfrentados pelas comunidades migrantes na Síria, no meio das quais nasceu o Evangelho de Mateus. No tempo em que o evangelho foi escrito, essas comunidades passavam por crise de identidade, com perigo de abandono do projeto de Deus. Os conflitos vinham do império romano e do judaísmo oficial, representado pelos doutores da Lei e fariseus: a sociedade estabelecida começou a difamar os cristãos, caluniando-os e perseguindo-os. Tornava-se difícil resistir diante das pressões e tribulações de toda espécie. O evangelho lhes lembra que ser discípulo de Jesus é ser como os profetas do Antigo Testamento: “Desse modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês” (v. 12b).
2º leitura (1Jo 3,1-3)
A esperança que anima e purifica
A primeira carta de João foi “dirigida às comunidades cristãs da Ásia Menor, que passavam por séria crise, provocada por um grupo de dissidentes carismáticos. Estes propunham uma doutrina gnóstica, que afirmava que o homem se salva graças a um conhecimento religioso especial e pessoal. Eles negavam que Jesus era o Messias e se gloriavam de conhecer a Deus, de amá-lo e de estar em íntima comunhão com ele; afirmavam ser iluminados, livres do pecado e da baixeza do mundo: não davam importância ao amor ao próximo e talvez até odiassem e hostilizassem a comunidade… A carta mostra que é vazio e sem valor qualquer espiritualismo que não se traduz em comportamento prático. Não é possível amar a Deus sem amar o próximo e sem formar comunidade: se Deus é Pai, os homens são filhos e família de Deus, e consequentemente todos devem amar-se como irmãos” (Bíblia Sagrada – Edição Pastoral, Paulus, São Paulo, p. 1.578).
Os versículos escolhidos como segunda leitura deste domingo pertencem a uma seção que vai de 2,29 a 4,6, cujo tema é viver como filhos de Deus. Como realizar isso? Os dissidentes carismáticos afirmavam que era mediante um conhecimento religioso especial e pessoal. O autor da carta prova o contrário: viver como filhos de Deus implica a prática da justiça: “todo aquele que pratica a justiça nasceu de Deus” (2,29). A prática da justiça mostra que Deus é justo e nos torna seus filhos. Portanto, ser filho de Deus é estar em sintonia com o projeto do Pai (cf. evangelho: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”).
O texto salienta que o amor do Pai é a grande força que sustenta a caminhada da comunidade cristã, apoiando e encorajando a luta pela implantação do projeto de Deus. O conflito está bem presente no texto. João o exprime, empregando a expressão “o mundo” (os que não aderiram ao projeto de Deus): o “mundo”, descompromissado com a vontade divina, não reconhece, isto é, hostiliza, calunia, difama e persegue os que desejam implantar na terra a justiça (cf. 3,1). Os cristãos, porém, têm condições de superar as dificuldades e conflitos da caminhada. Sua força está em serem filhos de Deus. Por ora não é possível ver claro o que vamos ser, porque a manifestação de Cristo ainda não é plena. Mas, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque nós o veremos como ele é (3,2).
Enquanto não chega a plena manifestação, cabe à comunidade cristã, na esperança, lutar para ser pura como Jesus é puro (v. 3). Em outras palavras, faz-se necessário resistir e implantar a justiça, de modo que nossa prática traduza as palavras e gestos de Jesus. Ser filhos de Deus, portanto, é ser filhos no Filho, que mostrou ao mundo a justiça do Pai. Essa é a esperança que anima e purifica.
1º leitura (Ap. 7,2-4.9-14)
A vitória dos oprimidos
O capítulo 7 do Apocalipse funciona como uma espécie de pausa para reflexão dentro da “seção dos selos” (6,1-7,17). A seção se caracteriza pela abertura progressiva, por parte do Cordeiro, dos sete selos. Os primeiros quatro (6,1-8) nos apresentam crua fotografia da humanidade arrastada pela ganância, pela violência, pela exploração e pela morte. Diante dessa situação desastrosa, abre-se o quinto selo (vv. 9-12). O clamor dos mártires provoca a reversão dos fatos e a intervenção de Deus e do Cordeiro, pois chegou o grande dia de sua ira: quem poderá ficar de pé? (sexto selo). O capítulo 6 termina com grande expectativa. Quem poderá ser considerado inocente (é este o sentido dessa expressão) diante da intervenção do Deus que julga a humanidade?
O capítulo 7, ao qual pertencem os versículos da leitura de hoje, procura responder a essa expectativa em dois momentos sucessivos. Num primeiro momento, abre-se uma janela em direção ao passado (vv. 4-8). O autor do Apocalipse se inspira no recenseamento dos hebreus saídos do Egito (Nm. 1,20-43) para mostrar que Deus preserva do julgamento (os Anjos que seguram os quatro ventos, 7,1) os que lhe são fiéis (chamados de servos, ou seja, profetas) e os salva (o sinal que os eleitos recebem na fronte é sinônimo de salvação, v. 3; cf. Ez 9,4). Segue-se, então, o recenseamento dos eleitos: 144 mil. O autor, utilizando o simbolismo dos números, mostra que os que lutam e resistem são muitos e formam uma totalidade perfeita (144 mil é o resultado da multiplicação de números perfeitos: 12 x 12 x 1000).
A segunda janela se abre para o presente/futuro da comunidade cristã (vv. 9-17). Se, no passado, Israel foi salvo da escravidão egípcia, com maior razão agora o Cordeiro salvará, conduzirá os que permanecem fiéis, enxugando-lhes as lágrimas (enxugar as lágrimas é sinônimo de “fazer justiça”). Por isso o autor vê uma multidão que ninguém podia contar: gente de todas as nações, tribos, povos e línguas (isto é, do mundo inteiro, v. 9a). É aqui que se responde à pergunta angustiante com que se encerrava o capítulo 6: “Estavam todos de pé diante do trono e do Cordeiro” (v. 9b). E não só podem ficar de pé (isto é, são declarados inocentes), como também participam da própria vida divina: vestem-se de branco (cor que, no Apocalipse, remete à vitória de Cristo sobre a morte) e são vitoriosos (trazem palmas na mão, v. 9c). Essa multidão reconhece que a salvação vem de Deus e do Cordeiro (v. 10) e sua aclamação é seguida pela dos Anjos, Anciãos e Seres vivos, que tributam a Deus tudo o que lhe é devido (v. 12).
A comunidade cristã, na escuta do texto do Apocalipse, em clima de celebração e discernimento, é convidada, na pessoa do autor, a identificar quem são os que estão vestidos de branco e de onde vieram (v. 13). Diante da incapacidade em desvendar o mistério (v. 14a), um dos vinte e quatro Anciãos dá a chave de leitura: “São os que vêm chegando da grande tribulação. Eles lavaram e alvejaram suas roupas no sangue do Cordeiro” (v. 14b). A partir disso, a comunidade cristã está em condições de descobrir, no meio dessa imensa multidão, seus mártires e santos, que resistiram até o sangue. A memória deles anima a difícil caminhada dos que agora estão lutando para implantar o projeto de Deus na história.
O Apocalipse foi escrito para animar comunidades perseguidas até a morte pela opressão e repressão do império romano. A vitória do Cristo sobre as forças do mal e a memória dos mártires das comunidades devolveram aos cristãos a força própria de sua vocação: a capacidade de denunciar e resistir a todo poder absolutizado que oprime e mata. Os mártires são vitoriosos e estão com Cristo: cabe a nós resistir e lutar.
PISTAS PARA REFLEXÃO
A festa de Todos os Santos é momento oportuno para uma revisão da caminhada da comunidade. Olhando para os que nos precederam, santos e mártires, a comunidade é convidada a se questionar sobre seu caminho de santidade. Somos filhos de Deus. Nossa filiação, porém, se traduz na prática da justiça (II leitura). A prática da justiça se traduz na vivência das bem-aventuranças (evangelho). Ao tentar vivê-las, os cristãos deparam com conflitos, calúnias, perseguições e morte patrocinados pela sociedade estabelecida que não aderiu ao projeto de Deus. O que isso significa para nós: desgraça ou felicidade? A memória dos mártires da caminhada é esperança e conforto: Jesus tem a última palavra sobre os conflitos e as forças do mal. Urge à comunidade denunciar e resistir em meio às tribulações (I leitura). Não há outro caminho de santidade!

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Santidade: o jeito humano de ser
Nascemos de Deus. Fomos criados à sua imagem e semelhança. Deus é bom. Deus é santo. Podemos ser bons e santos, realizando a vontade de Deus. Nosso modelo é Jesus Cristo: ele nos ensinou o caminho. Na proclamação das bem-aventuranças, Jesus indica como viver na santidade: com pobreza, mansidão, justiça, misericórdia, pureza de coração e empenho pela paz (Evangelho). Desde as primeiras comunidades cristãs, temos o exemplo de uma multidão incontável de mulheres e homens que seguiram radicalmente a Jesus Cristo. Muitos foram cruelmente perseguidos e martirizados por causa de sua fidelidade ao evangelho (I leitura). Somos filhos e filhas de Deus. Por isso, o nosso jeito de ser deve estar de acordo com a dignidade conferida pela filiação divina. Podemos viver no mesmo amor com que o Pai nos ama, de modo perseverante, até a plenitude (II leitura). O tempo transitório em que estamos neste mundo é a oportunidade de manifestar a glória de Deus por meio de uma vida santa.
Evangelho (Mt. 5,1-12a)
Quem são os bem-aventurados?
A proclamação das bem-aventuranças, no Evangelho de Mateus, dá a abertura ao “Sermão da Montanha”, no qual Jesus apresenta a nova justiça. Segundo o ensinamento oficial do judaísmo no tempo de Jesus, a justiça baseava-se no cumprimento da Lei. Mateus, que escreve para os cristãos provindos do judaísmo, indica novo caminho: a justiça agora é praticar os ensinamentos de Jesus.
Assim como a lei antiga veio por meio de Moisés no monte Sinai, a nova lei vem por meio de Jesus. Assim como se deu com Moisés, a nova justiça é proclamada por Jesus sobre uma montanha, para os judeus lugar de manifestação da vontade divina. A posição de Jesus (sentado) revela que possui a autoridade de um mestre, conforme o costume entre os rabinos judaicos. É um discurso solene, de importância especial para as comunidades cristãs.
O primeiro aspecto a ser ressaltado é o olhar de Jesus sobre a multidão. É de dentro dela que Jesus vai tirar os princípios que devem orientar os seus seguidores. Não é por acaso que os discípulos se aproximam de Jesus. O sermão dirige-se prioritariamente a eles. As lições são tiradas da Sagrada Escritura e, especialmente, da vida das pessoas do povo. Nela, Jesus encontra os valores que fundamentam o seu evangelho, a boa notícia de vida para todos.
A multidão que segue a Jesus é formada de pobres em espírito. Trata-se de pessoas vítimas do sistema dos poderosos, vergadas sob o peso do legalismo religioso e da opressão política e econômica. São pessoas indefesas que vivem da esperança de dias melhores. A essa gente Jesus vem trazer a libertação. O horizonte é o reino de Deus, onde não haverá exclusão. Os pobres são os protagonistas do reino. Jesus conta com eles, pois clamam por mudança social e, por isso, se mostram abertos à nova proposta.
São pessoas mansas que rejeitam a violência como caminho de solução de seus problemas; possuem a consciência de sua pequenez e confiam na bondade e grandeza de Deus, superando a amargura e o desejo de vingança. Como os oprimidos na origem de Israel, anseiam por uma terra de liberdade e de vida digna.
São pessoas aflitas devido à penúria e à instabilidade em que vivem; choram marcadas pelo tratamento desumano, pelo abandono social, pelas dívidas, doenças, acusações injustas... São pessoas que têm fome e sede de justiça, pois sentem na pele os efeitos de uma sociedade baseada no poder do mais forte. A fome e a sede eram uma realidade cotidiana da maioria das pessoas que seguiam a Jesus em suas jornadas missionárias e também das que pertenciam às comunidades cristãs primitivas.
São pessoas que, apesar de oprimidas, são misericordiosas. Elas se mantêm abertas e acolhedoras; amam incondicionalmente, reconhecem-se pecadoras e esperam a salvação que vem de Deus... São pessoas puras de coração: mesmo excluídas do sistema religioso oficial por serem consideradas impuras (doentes, estrangeiras, pecadoras...), não se deixam contaminar pelos interesses dos dominantes, mas cultivam a confiança em Deus e buscam viver na transparência e na autenticidade.
São pessoas que promovem a paz num contexto de conflitos e guerras. Não são “pacíficas” no sentido de evitarem envolver-se em questões sociais conflituosas, mas são militantes por um mundo de paz. Suas atitudes são marcadas pela “não violência ativa”, desdobramento do amor que caracteriza os filhos e filhas de Deus... São pessoas, enfim, perseguidas por causa da justiça, que sofrem as consequências de ser fiéis à proposta do reino de Deus.
As bem-aventuranças não são expressão de pena ou de consolo oportunista para as pessoas sofredoras; pelo contrário, são a convocação de Jesus para o compromisso dos pobres em vista de sua libertação. Elas sintetizam o caminho de santidade que pode ser seguido por todas as pessoas de boa vontade.
1ª leitura (Ap. 7,2-4.9-14)
Uma multidão de santos
O Apocalipse foi escrito para encorajar as comunidades cristãs a perseverar no meio de grande sofrimento. O texto deste domingo reflete o testemunho dado por uma multidão de cristãos diante da violenta perseguição desencadeada pelo imperador Nero ao redor do ano 65. A visão é um recurso próprio do gênero apocalíptico para revelar o que os olhos da fé captam por trás dos acontecimentos.
As comunidades perseguidas, mergulhadas em profunda dor, gritam por justiça. Deus intervém a seu favor. Os anjos são seus justiceiros. Devem, no entanto, respeitar todos os que são assinalados. A cena lembra a saída do povo do Egito, quando as casas dos escravos hebreus foram marcadas com o sangue do cordeiro para serem protegidas da vingança divina.
As 144 mil pessoas assinaladas (12 x 12 x 1.000) representam a totalidade dos servos e servas de Deus, tanto da primeira aliança como da segunda. São todas as que não se contaminam com a ideologia dos poderosos. São as que permanecem fiéis ao plano de Deus a ponto de entregar a própria vida, como fez Jesus, o Cordeiro imolado. Esse é o sentido das vestes brancas.
Deus é o protetor e salvador dos pequeninos, dos indefesos e dos perseguidos por causa da justiça. São milhares de “todas as nações, tribos, povos e línguas”. Pertencem a todas as tradições religiosas. Com coragem e perseverança, seguem o caminho do bem e lutam por um mundo de fraternidade. Nós, cristãos, recebemos a marca do batismo, que nos torna servos e servas de Deus. Somos convocados a perseverar no seguimento de Jesus; somos chamados a ser santos, vivendo e anunciando os valores evangélicos da misericórdia, da mansidão, da justiça, da paz...
2ª leitura (1Jo 3,1-3)
Somos filhos e filhas de Deus
O amor de Deus não tem limites. Ele fez de nós participantes de sua própria natureza divina. Somos seus filhos e filhas já neste tempo transitório e o seremos plenamente na ressurreição. Essa verdade tão bela nos enche de dignidade e nos impulsiona a viver de acordo com a vocação divina.
O jeito divino de viver não se conforma com os sistemas baseados no domínio de uns sobre os outros e sobre a criação. Como fez Jesus, os cristãos devem posicionar-se de forma clara a favor de uma sociedade onde reine o amor fraterno, pois “quem diz que ama a Deus e odeia o seu irmão é um mentiroso” (1Jo 4,20).
As pessoas que vivem de modo coerente com o evangelho se confrontam com os interesses egoístas dos que dominam este mundo. Jesus preveniu seus discípulos de que seriam perseguidos, presos e até mortos. Os que sofrem por causa da fidelidade aos valores evangélicos fazem parte dos bem-aventurados...
Pistas para reflexão
- As bem-aventuranças indicam o caminho da santidade. Ser santo não significa ser uma pessoa fora do comum. Jesus viveu como uma pessoa normal junto à sua família, comunidade e sociedade. Praticou a vontade do Pai nas pequenas coisas e aprendeu, junto com o seu povo e meditando a Sagrada Escritura, a reconhecer os valores que caracterizam uma vida de santidade. Nas bem-aventuranças, ele sintetiza esses valores, encorajando as pessoas simples e pequeninas a se empenhar por um mundo novo, o reino de Deus. Hoje, de que maneira podemos viver as bem-aventuranças? Quais são os valores a que não podemos renunciar como seguidores de Jesus? Quem são os bem-aventurados na família, na comunidade, na política...?
- Somos marcados com o sinal de Deus. As comunidades cristãs primitivas enfrentaram situações de grande crise por causa das perseguições. Muitas pessoas foram martirizadas. Por meio dos encontros comunitários, pelas orações e pela reflexão sobre a palavra de Deus, elas encontraram sabedoria e coragem para superar o medo e confiar na proteção divina. Sentiam-se marcadas pelo amor misericordioso de Deus. Hoje, como enfrentamos os sofrimentos e as crises? Quais meios nos fazem crescer na fé em Deus e perseverar no caminho do bem? Temos a marca divina em nós pelo batismo: o que isso significa na prática? Podemos lembrar o testemunho de alguns mártires e santos...
- Somos filhos e filhas de Deus! Somos de natureza divina, nascidos do amor gratuito de Deus. Podemos cultivar, de forma sempre renovada, o jeito divino de ser, que é igual ao jeito verdadeiramente humano: honestidade, respeito mútuo, diálogo, carinho, atenção a quem sofre, acolhida, perdão, cuidado com a natureza...
Celso Loraschi
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Dos que acendem em nós o desejo de Deus
São incontáveis aqueles e aquelas que, terminados os dias de sua peregrinação terrestre, foram levados à mansão da paz e da contemplação da face do Altíssimo. Nós os chamados de santos, de bem-aventurados.  Não ocupam um lugar geográfico, mas vivem em Deus no que se convencionou chamar de eternidade. Comprazem-se eternamente em viver diante  daquele que é santo, três vezes santo.  Os santos, santificados pelo Santo.
São Bernardo se pergunta: “Para que louvar os santos, para que glorificá-los? Para que, enfim, esta solenidade? Que lhes importam as honras terrenas, a eles que, segundo as promessas do Filho, o mesmo Pai celeste glorifica De que lhes servem nossos elogios?   Os santos não precisam de nossas homenagens, nem lhes vale nossa devoção.  Se veneramos os Santos, sem dúvida alguma, o interesse é nosso, não deles. Eu por mim, confesso, ao recordar-me deles, sinto acender-se um desejo veemente”.
Hebreus: “Vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste; da reunião festiva de milhões de anjos; da assembléia dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus; de Deus, o  Juiz de todos;  dos espíritos dos juntos, que chegaram à perfeição; de Jesus, o mediador da nova aliança, e da aspersão do sangue  mais eloqüente do que o de Abel” (Hb. 12,22-24).
Eles são homens e mulheres, religiosos e papas, solteiros e viúvos, jovens e idosos, de todas as raças e de todos os cantos da terra. Todos lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro. Revelaram um coração sem pretensões de serem donos da face da terra. Andaram sempre se dobrando sobre a miséria dos outros. Cheios de sede, de fome das coisas do alto. Espalharam aqui e ali o perfume da paz. Foram artesãos de um mundo de fraternidade.
O prefacio da solenidade: Festejamos hoje a cidade de Deus, a Jerusalém do alto, nossa mãe, onde nossos irmãos os santos vos cercam e cantam eternamente o vosso louvor.  Para essa cidade caminhamos pressurosos, peregrinando na penumbra da fé. Contemplamos alegres, na vossa luz,todos os membros da Igreja que nos dais como exemplo e intercessão.
Terminando com Bernardo: “Com inteira segurança e ambição cobicemos esta glória. Contudo, para que nos seja licito esperá-la e aspirar a tão grande felicidade, cumpre-nos desejar com muito empenho, a intercessão dos santos. Assim aquilo que não podemos obter por nós mesmos, seja-nos dado por sua intercessão”.
Com efeito, a solenidade dos santos todos que moram na casa de Deus faz nascer dentro de nós o desejo daquele que nosso coração anda catando com imenso ardor. A solenidade dos santos faz nascer em nós o desejo da santidade.
frei Almir Ribeiro Guimaeães
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A festa de todos os santos abrange os três momentos do tempo, além da dimensão universal do espaço. De fato, celebramos os justos do passado, celebramos a vocação à santidade futura (o “céu”), e celebramos a santidade como dom (graça) presente. Como esta dimensão presente é a em que menos se pensa quando se fala de santidade, achamos que ela merece uma atenção especial: é a mensagem das Bem-Aventuranças, no evangelho de hoje (Mt. 5,1-12). As Bem-Aventuranças devem ser entendidas como uma proclamação da chegada do Reino de Deus para as pessoas que vão ficar felizes com isso (Lc. 6,24-26 acrescenta também aqueles que vão ficar infelizes...).
São, ao mesmo tempo, a proclamação da amizade de Deus para aqueles que participam do espírito que é evocado por oito exemplificações, e (sobretudo na versão de Mt) um programa de vida para todos os que escutam a palavra do Cristo.
Este programa de vida já entra em ação desde que alguém se torna discípulo de Jesus: os que estão realizando este programa já são “santos”. Por isso, este evangelho foi escolhido para a festa de hoje. Jesus proclama a bem-aventurança (a felicidade, o “bom encaminhamento”, a “boa ventura”) dos “pobres no espírito” (= semitismo: os diminuídos até no alento da vida; não se trata da questionável “pobreza espiritual”), porque deles é o Reino dos Céus, ele não quer dizer o além da morte - uma recompensa futura pela carência na terra - mas a realidade presente. “Reino dos Céus” é maneira semítica de dizer “Reino de Deus” (por respeito, Deus é chamado “os Céus”). E o Reino de Deus começa onde se faz a vontade de Deus, como aprendemos do Pai-nosso, que Jesus ensina em seguida (Mt. 6,9-13). Se entendêssemos as Bem-Aventuranças somente como uma compensação para depois da morte, elas seriam “ópio do povo”. Mas o contrário é verdade: elas são um incentivo para realizar, desde já, o novo espírito, que traz presente o Reino. O sentido das Bem-Aventuranças é, exatamente, relacionar o dom escatológico (expresso nos termos: “serão consolados, serão saciados” etc.) com a realidade de hoje. O dom escatológico não cai do céu, mediante a atuação de algum mágico, mas é o que, da parte de Deus, corresponde à atitude do justo, do servo, do “pobre do Senhor”. Corresponde à atitude de não procurar a mera afirmação pessoal no poder e na riqueza, mas de dispor-se inteiramente para a obra de Deus, pelo esvaziamento, a mansidão, a paciência no sofrer, a sede de justiça divina, o empenho pela paz... Em outros termos, somos santos já, na medida em que pertencemos a Deus no presente. Então, também o futuro de Deus nos pertence.
A mesma mensagem proclama a 2ª leitura (1Jo 3): nossa atual santidade, por sermos filhos de Deus, embora ainda não seja manifesto “o que seremos” (= a nossa glorificação). Portanto, quem é celebrado hoje é, em primeiro lugar, os “filhos de Deus” neste mundo.
A isto se une a visão antecipada do autor do Apocalipse sobre a plenitude dos que aderiram a Cristo, seguiram o Cordeiro (1ª leitura). É o número perfeito das tribos (12 x 12.000), os eleitos de Israel (o autor é judeu-cristão), mas também um número inumerável de todas as nações (universalismo – mas ainda assim há quem ensine que no céu só tem 144.000 lugares....)
Ora, tanto na mensagem das Bem-Aventuranças quanto na visão do Apocalipse ganham um destaque especial os mártires, os que são perseguidos por causa do evangelho, os que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro e vêm da grande tribulação. Testemunhar de Cristo com seu sangue é a marca mais segura da santidade. Mas, com ou sem sangue, todos deverão fazer de sua vida um pertencer a Cristo, para que possam ser chamados “santos”, isto é, consagrados a Deus.
As orações insistem muito na intercessão dos santos. É um aspecto deste dia, que atinge muito a sensibilidade popular. É preciso fazer aqui um delicado trabalho de interpretação. Confiar em alguém como intercessor supõe sentir-se solidário (familiar) com ele. Será que vivemos como familiares destes intercessores? Será que cabemos na sua companhia?
Johan Konings "Liturgia dominical"
Por que uma solenidade de Todos os Santos?
No dia 1º de novembro a Igreja celebra a festa de Todos os Santos. Segundo a tradição ela foi colocada neste dia, logo após o 31 de outubro que os Celtas ingleses, pagãos, celebravam as bruxas e os espíritos que vinham se alimentar e assustar as pessoas nesta noite (Halloween).
Nesse dia a Igreja militante (que luta na Terra) honra a Igreja triunfante do Céu “celebrando numa única solenidade todos os Santos” – como diz o sacerdote na oração da Missa – para render homenagem aquela multidão de Santos que povoam o Reino dos céus que são João viu no Apocalipse: “Ouvi então o número dos assinalados: cento e quarenta e quatro mil assinalados, de toda tribo dos filhos de Israel… Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão”. “Esses são os sobreviventes da grande tribulação; lavaram as suas vestes e as alvejaram no sangue do Cordeiro.” (Ap. 7,4-14)
Esta imensa multidão de 144 mil, “que está diante do Cordeiro” compreende todos os servos de Deus, aos quais a Igreja canonização através da decisão infalível de algum Papa, e todos aqueles, incontáveis, que conseguiram a salvação, e que desfrutam da visão beatífica de Deus. Lá “eles intercedem por nós sem cessar”, diz uma de nossas Orações Eucarísticas. Por isso a Igreja recomenda que os pais ponham nomes de Santos em seus filhos.
Esses 144 mil significam uma grande multidão (12 x 12 x 1000). O número 12 e o número 1000 significavam para os judeus antigos plenitude, perfeição e abundância; não é um valor meramente aritmético, mas simbólico. A Igreja já canonizou mais de 20 mil Santos, mas há muito mais que isto no céu. No livro RELAÇÃO DOS SANTOS E BEATOS DA IGREJA, eu pude relacionar, de várias fontes, quase 5.000 dos mais importantes, e os coloquei em ordem alfabética.
A “Lúmen Gentium” do Vaticano II, lembra que: “Pelo fato de os habitantes do Céu estarem unidos mais  intimamente com Cristo, consolidam com mais firmeza na santidade toda a Igreja. Eles não deixam de interceder por nós junto ao Pai, apresentando os méritos que alcançaram na terra  pelo único mediador de Deus e dos homens, Cristo Jesus. Por seguinte, pela fraterna solicitude deles, a nossa fraqueza recebe o mais valioso auxílio” (LG 49) (§ 956)
Na hora da morte, são Domingos de Gusmão dizia a seus frades: “Não choreis! Ser-vos-ei mais útil após a minha morte e ajudar-vos-ei mais eficazmente do que durante a minha vida”. E Santa Teresinha confirmava este ensino dizendo: “Passarei meu céu fazendo bem na terra”.
O nosso Catecismo diz que: “Na oração, a Igreja peregrina é associada à dos santos, cuja intercessão solicita”. (§ 2692)
A marca dos santos são as bem–aventuranças que Jesus proclamou no sermão da Montanha; por isso este trecho do Evangelho de são Mateus (5,1 ss.) é lido nesta Missa. Os santos viveram todas as virtudes e por isso são exemplos de como seguir Jesus Cristo.  
Deus prometeu dar a eterna bem-aventurança aos pobres no espírito, aos mansos, aos que sofrem e aos que têm fome e sede de justiça, aos misericordiosos, aos puros de coração, aos pacíficos, aos perseguidos por causa da justiça e a todos os que recebem o ultraje da calúnia, da maledicência, da ofensa pública e da humilhação.
Esta solenidade de Todos os Santos vem do século IV. Em Antioquia celebrava-se uma festa por todos os mártires no primeiro domingo depois de Pentecostes. A celebração foi introduzida em Roma, na mesma data, no século VI, e cem anos após era fixada no dia 13 de maio pelo papa Bonifácio IV, em concomitância com o dia da dedicação do “Panteon” dos deuses romanos a Nossa Senhora e a todos os mártires. No ano de 835 esta celebração foi transferida pelo papa Gregório IV para 1º de novembro.
Cada um de nós é chamado a ser santo. Disse o Concilio Vaticano II que: “Todos os fiéis cristãos, de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG. 40). Todos são chamados à santidade: “Deveis ser perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito” (Mt. 5,48): “Com o fim de conseguir esta perfeição, façam os fiéis uso das forças recebidas (…) cumprindo em tudo a vontade do Pai, se dediquem inteiramente à glória de Deus e ao serviço do próximo. Assim a santidade do povo de Deus se expandirá em abundantes frutos, como se demonstra luminosamente na história da Igreja pela vida de tantos santos” (LG. 40).
O caminho da perfeição passa pela cruz. Não existe santidade sem renúncia e sem combate espiritual (cf. 2Tm. 4). O progresso espiritual oração, mortificação, vida sacramental, meditação, luta contra si mesmo; é isto que nos leva gradualmente a viver na paz e na alegria das bem-aventuranças. Disse são Gregório de Nissa († 340) que: “Aquele que vai subindo jamais cessa de ir progredindo de começo em começo por começos que não têm fim. Aquele que sobe jamais cessa de desejar aquilo que já conhece” (Hom. in Cant. 8).
prof. Felipe Aquino – www.cleofas.com.br
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Este Evangelho, conhecido como sermão da Montanha, é descrito por Mateus logo no início de sua narrativa da vida terrena de Cristo, onde Jesus já batizado por João Batista, anda pela Galiléia, pregando a boa nova, proclamando a chegada do Reino de Deus e convidando os homens de fé a segui-Lo. Jesus, vendo a multidão que vinha de todos os lugares, sobe à montanha, que simbolicamente é um lugar próximo de Deus e de encontro com Ele.
A montanha simboliza, também, o monte Sinai, onde foi selada a Aliança com o povo hebreu que saiu da escravidão do Egito, e foi onde Moisés recebeu as tábuas da Lei (o Decálogo), a constituição do povo de Deus.
Agora, portanto, Jesus quer apresentar uma nova lei para o povo de Deus. Ele vai fazer uma Nova Aliança com os pobres e marginalizados do mundo todo, revelando que Deus deposita neles uma confiança ilimitada a ponto de confiar-lhes o Seu Reino, solidarizando-se com eles.
Deus falava as seu povo através de Moisés, e aqui Ele fala através do Mestre na montanha, por meio de Jesus que sentado, ensina como o Senhor, Aquele que tem autoridade.
A escolha desse texto para festejar o dia de todos os Santos deve-se ao fato de ele trazer o direcionamento para uma vida cristã plena, pois, trata-se das virtudes de Jesus, um conjunto de atitudes e ações que norteiam a vida do verdadeiro cristão.
Quando se fala em santidade, o mais comum é que as pessoas se remetam ao passado, lembrando dos santos que foram grandes mártires e construíram a Igreja de Jesus, e realmente suas vidas são exemplos que sempre devem ser lembrados e seguidos, e suas ações devem servir de foco para os cristãos de hoje, mas a santidade não está apenas no passado, também faz parte do presente, através da busca diária de cada cristão por fazer a vontade de Deus e, com isso, participar do Reino dos Céus e do futuro com a esperança de ser merecedor da Glória Eterna.
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Entregues nas mãos do Senhor
A santidade não é um artigo de luxo reservado a um grupo de privilegiados. É um ideal para o qual todos os cristãos devem tender, independentemente de sua condição social ou eclesial. Como ninguém é excluído, também ninguém pode eximir-se de dar sua resposta a este apelo divino. O importante é ter uma visão correta da santidade, para se evitar esmorecimentos diante de concepções falsas, e também para não ir atrás de um projeto de santidade incompatível com a proposta de Jesus.
O Evangelho entende a santidade como a capacidade de entregar-se totalmente nas mãos do Pai, de quem tudo se espera e em nome de quem se age em favor do semelhante. Neste caso, santidade e bem-aventurança identificam-se.
A bem-aventurança dos pobres em espírito, dos mansos, dos aflitos e dos que têm fome e sede de justiça acontece quando as pessoas, nestas condições, contam apenas com o auxílio que vem de Deus. Seria inútil contar com as criaturas e esperar delas o socorro.
Por outro lado, também os misericordiosos, os puros de coração, os construtores de paz e os perseguidos por causa da justiça trilham um caminho de santidade. Sem uma profunda adesão a Deus e a seu Reino, jamais se disporiam a prestar ao próximo um serviço gratuito e desinteressado, e a escolher um projeto de vida em que os interesses pessoais passam para um segundo plano. A santidade, neste caso, consiste em imitar o modo divino de agir.
padre Jaldemir Vitório
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Todos os santos
O fim e o começo do ano litúrgico nos colocam no fim dos tempos. O ano termina com a solenidade de Cristo, o Rei que se senta em seu trono para julgar a humanidade, e o ano começa na contemplação do mesmo Cristo que veio na fragilidade da carne e virá em sua glória.
Neste domingo, na perspectiva do fim dos tempos, a revelação bíblica nos fala da vida nova do Ressuscitado. Vamos todos ressuscitar e entrar numa vida nova.
Nos tempos antigos, houve um rei, Antíoco IV Epífanes, que se impôs ao povo de Israel com a disposição de modificar os seus costumes religiosos. O rei queria que a cultura grega da época fosse assimilada também pelos judeus.
O Segundo Livro dos Macabeus nos conta a história de sete irmãos, que, com sua mãe, preferiram morrer a transgredir as leis e os costumes do povo de Israel. A observância externa poderia parecer sem importância, mas era a expressão da fidelidade à aliança que Deus fez com o seu povo.
Havia, porém, a animá-los uma esperança que se convertia em certeza: a da ressurreição. O quarto irmão, ao morrer desfigurado, disse que Deus lhe daria a ressurreição, mas que o rei não ressuscitaria para a vida. Todos vamos ressuscitar, mas queremos ressuscitar para a vida, e não ressuscitar para logo em seguida experimentarmos a “segunda morte” da qual não sairemos.
No tempo de Jesus havia um grupo de pessoas importantes, chamadas de “saduceus”, que não acreditavam na ressurreição. Para se opor a Jesus, que ensinava a ressurreição dos mortos, eles lhe perguntaram quem, na outra vida, seria o marido de uma mulher que enviuvou sete vezes. Nesta vida, ela teve sete maridos, um depois do outro. Na outra vida, os sete estarão juntos ressuscitados e a mulher também. Quem ficará com ela? A pergunta dos saduceus supõe que a outra vida será uma simples repetição desta.
A resposta de Jesus, de que na vida futura as pessoas não se casam porque ressuscitaram e serão iguais aos anjos, não diz exatamente como será a vida futura, mas diz claramente que não será a repetição desta vida. O importante é que seremos nós mesmos e vivos, assim como Abraão, Isaac e Jacó.
Com isso Jesus nos dá uma consolação eterna e uma feliz esperança, como escreve Paulo aos tessalonicenses. Elas animam os nossos corações e nos confirmam na prática do bem. Vamos morrer uma só vez e depois ressuscitar. Queremos viver aqui de tal forma que a nossa ressurreição seja para a vida. “Ao despertar”, diz o salmista, “me saciará vossa presença e verei a vossa face”. Temos certeza de que assim será a nossa eternidade.
No fim do ano litúrgico, reafirmamos a nossa fé na ressurreição dos mortos e na vida eterna. Cada um de nós é uma única pessoa formada de matéria animada por um espírito que faz com que eu seja eu com este corpo e com este espírito.
Meu espírito não pode migrar para outros corpos, senão eu deixaria de existir para sempre. A revelação de Deus nos ensina a ressurreição e não a reencarnação. Não vamos ficar vagando pelos ares à espera de um repouso. “Sei que na minha carne eu verei a Deus” – já dizia Jó, e não na carne de um outro.
cônego Celso Pedro da Silva
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As bem-aventuranças
O Evangelho de Mateus, organizado de maneira catequética, apresenta o início do ministério de Jesus, após o chamado dos discípulos, com o Sermão da Montanha. A abertura do sermão é feita com a proclamação das bem-aventuranças. A subida de Jesus à montanha exprime uma relação com Moisés que, no alto da montanha, recebeu de Deus os mandamentos da Lei. Agora é o próprio Jesus, Filho de Deus, que sobe à montanha e transmite aos discípulos, que vêm a ele, as bem-aventuranças, em substituição àqueles antigos mandamentos. Enquanto os mandamentos eram expressos em forma imperativa, as bem-aventuranças de Jesus são oferecidas aos discípulos como um projeto de felicidade ao qual vale a pena aderir. A pobreza, assumida interiormente, com convicção, é o desapego das riquezas, que devem ser partilhadas. Os que choram são os que sofrem e são solidários com os excluídos, humilhados e explorados. Os mansos têm um coração aberto, acolhedor e compreensivo. Os que têm fome e sede de justiça lutam pela construção de uma sociedade mais justa. Os misericordiosos perdoam e libertam os que têm uma consciência carregada de culpabilidade sob a ideologia do sistema opressor. Os puros de coração são sensíveis aos aspectos mais sutis da dignidade da condição humana. Os pacíficos criam laços de convívio fraterno.
com alegria e harmonia. A perseguição e a injúria são os sofrimentos impostos pelos poderosos contra aqueles que se empenham no estabelecimento da justiça. Pela prática das bem-aventuranças, na plenitude do amor, somos, de fato, filhos de Deus (segunda leitura). Os bem-aventurados não são um "pequeno resto", mas sim "uma multidão imensa de todas as tribos, nações línguas e povos" (primeira leitura), em comunhão com Jesus. Encontramos na prática das bem-aventuranças a felicidade de um mundo de compaixão, partilha e reconciliação, fraterno e solidário, na alegria e na paz.
José Raimundo Oliva
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As três leituras de hoje nos introduzem no mistério celebrado na solenidade de todos os Santos e nos revelam o projeto de amor que Deus tem para cada uma de suas criaturas: quer torná-las participantes de sua santidade. A santidade se concretiza, no tempo presente, pelo espírito das bem-aventuranças, pelo qual a humanidade vive seu peregrinar entre trabalhos e lutas, entre angústias e esperanças. A fé e a esperança do cristão não esmorecem porque ele tem a promessa de Cristo: “Alegrem-se e exultem, porque grande será sua recompensa no céu”. A primeira leitura nos abre uma visão sobre o nosso futuro: esperamos um mundo novo. Ela apresenta a multidão dos assinalados, dos bem-aventurados que corresponderam ao plano de Deus. Por isso, trazem nas mãos a palma da vitória. Essa leitura quer elevar nossos olhos para a condição santa à qual o Pai nos chamou. O número 144.000 é simbólico e quer representar a totalidade da comunidade cristã. A segunda leitura nos recorda que a vida divina que se manifestará no momento de nossa saída deste mundo já está presente em nós desde agora. Hoje Jesus nos ensina que a santidade é algo possível para todos e se concretiza, no presente, pelo espírito das bem-aventuranças. Em seu “sermão da montanha”, Cristo nos ensina como santificar nossas vidas através das nossas ações neste mundo, para merecermos nossa plena recompensa quando estivermos na vida eterna. Também nós somos chamados a participar da multidão dos santos. Santo é todo discípulo, quer esteja com Cristo lá no céu, quer viva ainda na face da terra. Celebrar os Santos nos ajuda a seguir Jesus? Como? Que sentido tem para a nossa comunidade celebrar esta festa?

2º leitura – 1Jo. 3,1-3
Segunda mensagem de esperança. Ela responde às nossas interrogações sobre o destino dos defuntos. Que vieram a ser? Como sabê-lo, pois desapareceram dos nossos olhos? E nós próprios, que viremos a ser?
A resposta é uma dedução absolutamente lógica: se Deus, no seu imenso amor, faz de nós seus filhos, não nos pode abandonar. Ora, em Jesus, vemos já a que futuro nos conduz a pertença à família divina: seremos semelhantes a Ele.
Evangelho – Mt. 5,1-12 - AMBIENTE
Depois de dizer quem é Jesus (cf. Mt. 1,1-2,23) e de definir a sua missão (cf. Mt. 3,1- 4,16), Mateus vai apresentar a concretização dessa missão: com palavras e com gestos, Jesus propõe aos discípulos e às multidões o “Reino”. Neste enquadramento, Mateus propõe-nos hoje um discurso de Jesus sobre o “Reino” e a sua lógica.
Uma característica importante do Evangelho segundo Mateus reside na importância dada pelo evangelista aos “ditos” de Jesus. Ao longo do Evangelho segundo Mateus aparecem cinco longos discursos (cf. Mt. 5-7; 10; 13; 18; 24-25), nos quais Mateus junta “ditos” e ensinamentos provavelmente proferidos por Jesus em várias ocasiões e contextos. É provável que o autor do primeiro Evangelho visse nesses cinco discursos uma nova Lei, destinada a substituir a antiga Lei dada ao Povo por meio de Moisés e escrita nos cinco livros do Pentateuco.
O primeiro discurso de Jesus – do qual o Evangelho que nos é hoje proposto é a primeira parte – é conhecido como o “sermão da montanha” (cf. Mt. 5-7). Agrupa um conjunto de palavras de Jesus, que Mateus colecionou com a evidente intenção de proporcionar à sua comunidade uma série de ensinamentos básicos para a vida cristã.
O evangelista procurava, assim, oferecer à comunidade cristã um novo código ético, uma nova Lei, que superasse a antiga Lei que guiava o Povo de Deus.
Mateus situa esta intervenção de Jesus no cimo de um monte. A indicação geográfica não é inocente: transporta-nos à montanha da Lei (Sinai), onde Deus Se revelou e deu ao seu Povo a antiga Lei. Agora é Jesus, que, numa montanha, oferece ao novo Povo de Deus a nova Lei que deve guiar todos os que estão interessados em aderir ao “Reino”.
As “bem-aventuranças” que, neste primeiro discurso, Mateus coloca na boca de Jesus, são consideravelmente diferentes das “bem-aventuranças” propostas por Lucas (cf. Lc. 6,20-26). Mateus tem nove “bem-aventuranças”, enquanto que Lucas só apresenta quatro; além disso, Lucas prossegue com quatro “maldições”, que estão ausentes do texto mateano; outras notas características da versão de Mateus são a espiritualização (os “pobres” de Lucas são, para Mateus, os “pobres em espírito”) e a aplicação dos “ditos” originais de Jesus à vida da comunidade e ao comportamento dos cristãos. É muito provável que o texto de Lucas seja mais fiel à tradição original e que o texto de Mateus tenha sido mais trabalhado.
MENSAGEM
As “bem-aventuranças” são fórmulas relativamente frequentes na tradição bíblica e judaica. Aparecem, quer nos anúncios proféticos de alegria futura (cf. Is. 30,18; 32,20; Dn. 12,12), quer nas ações de graças pela alegria presente (cf. Sl. 32,1-2; 33,12; 84,5.6.13), quer nas exortações a uma vida sábia, refletida e prudente (cf. Pv. 3,13; 8,32.34; Sir. 14,1-2.20; 25,8-9; Sl. 1,1; 2,12; 34,9). Contudo, elas definem sempre uma alegria oferecida por Deus.
As “bem-aventuranças” evangélicas devem ser entendidas no contexto da pregação sobre o “Reino”. Jesus proclama “bem-aventurados” aqueles que estão numa situação de debilidade, de pobreza, porque Deus está a ponto de instaurar o “Reino” e a situação destes “pobres” vai mudar radicalmente; além disso, são “bem-aventurados” porque, na sua fragilidade, debilidade e dependência, estão de espírito aberto e coração disponível para acolher a proposta de salvação e libertação que Deus lhes oferece em Jesus (a proposta do “Reino”).
As quatro primeiras “bem-aventuranças” referidas por Mateus (vs. 3-6) estão relacionadas entre si. Dirigem-se aos “pobres” (as segunda, terceira e quarta “bem-aventuranças” são apenas desenvolvimentos da primeira, que proclama: “bem-aventurados os pobres em espírito”). Saúdam a felicidade daqueles que se entregam confiadamente nas mãos de Deus e procuram fazer sempre a sua vontade; daqueles que, de forma consciente, deixam de colocar a sua confiança e a sua esperança nos bens, no poder, no êxito, nos homens, para esperar e confiar em Deus; daqueles que aceitam renunciar ao egoísmo, que aceitam despojar-se de si próprios e estar disponíveis para Deus e para os outros.
Os “pobres em espírito” são aqueles que aceitam renunciar, livremente, aos bens, ao próprio orgulho e auto-suficiência, para se colocarem, incondicionalmente, nas mãos de Deus, para servirem os irmãos e partilharem tudo com eles.
Os “mansos” não são os fracos, os que suportam passivamente as injustiças, os que se conformam com as violências orquestradas pelos poderosos; mas são aqueles que recusam a violência, que são tolerantes e pacíficos, embora sejam, muitas vezes, vítimas dos abusos e prepotências dos injustos… A sua atitude pacífica e tolerante torná-los-á membros de pleno direito do “Reino”.
Os “que choram” são aqueles que vivem na aflição, na dor, no sofrimento provocados pela injustiça, pela miséria, pelo egoísmo; a chegada do “Reino” vai fazer com que a sua triste situação se mude em consolação e alegria…
A quarta bem-aventurança proclama felizes “os que têm fome e sede de justiça”.
Provavelmente, a justiça deve entender-se, aqui, em sentido bíblico – isto é, no sentido da fidelidade total aos compromissos assumidos para com Deus e para com os irmãos. Jesus dá-lhes a esperança de verem essa sede de fidelidade saciada, no Reino que vai chegar.
O segundo grupo de “bem-aventuranças” (vs. 7-11) está mais orientado para definir o comportamento cristão. Enquanto que no primeiro grupo se constatam situações, neste segundo grupo propõem-se atitudes que os discípulos devem assumir.
Os “misericordiosos” são aqueles que têm um coração capaz de compadecer-se, de amar sem limites, que se deixam tocar pelos sofrimentos e alegrias dos outros homens e mulheres, que são capazes de ir ao encontro dos irmãos e estender-lhes a mão, mesmo quando eles falharam.
Os “puros de coração” são aqueles que têm um coração honesto e leal, que não pactua com a duplicidade e o engano.
Os “que constroem a paz” são aqueles que se recusam a aceitar que a violência e a lei do mais forte rejam as relações humanas; e são aqueles que procuram ser – às vezes com o risco da própria vida – instrumentos de reconciliação entre os homens.
Os “que são perseguidos por causa da justiça” são aqueles que lutam pela instauração do “Reino” e são desautorizados, humilhados, agredidos, marginalizados por parte daqueles que praticam a injustiça, que fomentam a opressão, que constroem a morte… Jesus garante-lhes: o mal não vos poderá vencer; e, no final do caminho, espera-vos o triunfo, a vida plena.
Na última “bem-aventurança” (v. 11), o evangelista dirige-se, em jeito de exortação, aos membros da sua comunidade que têm a experiência de ser perseguidos por causa de Jesus e convida-os a resistir ao sofrimento e à adversidade. Esta última exortação é, na prática, uma aplicação concreta da oitava “bem-aventurança”.
No seu conjunto, as “bem-aventuranças” deixam uma mensagem de esperança e de alento para os pobres e débeis. Anunciam que Deus os ama e que está do lado deles; confirmam que a libertação está a chegar e que a sua situação vai mudar; asseguram que eles vivem já na dinâmica desse “Reino” onde vão encontrar a felicidade e a vida plena.
ATUALIZAÇÃO
A reflexão e a partilha podem fazer-se à volta dos seguintes elementos:
Jesus diz: “felizes os pobres em espírito”; o mundo diz: “felizes vós os que tendes dinheiro – muito dinheiro – e sabeis usá-lo para comprar influências, comodidade, poder, segurança, bem-estar, pois é o dinheiro que faz andar o mundo e nos torna mais poderosos, mais livres e mais felizes”. Quem é, realmente, feliz?
Jesus diz: “felizes os mansos”; o mundo diz: “felizes vós os que respondeis na mesma moeda quando vos provocam, que respondeis à violência com uma violência ainda maior, pois só a linguagem da força é eficaz para lidar com a violência e a injustiça”. Quem tem razão?
Jesus diz: “felizes os que choram”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes motivos para chorar, porque a vossa vida é sempre uma festa, porque vos moveis nas altas esferas da sociedade e tendes tudo para serdes felizes: casa com piscina, carro com telefone e ar condicionado, amigos poderosos, uma conta bancária interessante e um bom emprego arranjado pelo vosso amigo ministro”.
Onde está a verdadeira felicidade?
Jesus diz: “felizes os que têm ânsia de cumprir a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós os que não dependeis de preconceitos ultrapassados e não acreditais num deus que vos diz o que deveis e não deveis fazer, porque assim sois mais livres”. Onde está a verdadeira liberdade, que enche de felicidade o coração?
Jesus diz: “felizes os que tratam os outros com misericórdia”; o mundo diz: “felizes vós quando desempenhais o vosso papel sem vos deixardes comover pela miséria e pelo sofrimento dos outros, pois quem se comove e tem misericórdia acabará por nunca ser eficaz neste mundo tão competitivo”. Qual é o verdadeiro fundamento de uma sociedade mais justa e mais fraterna?
Jesus diz: “felizes os sinceros de coração”; o mundo diz: “felizes vós quando sabeis mentir e fingir para levar a água ao vosso moinho, pois a verdade e a sinceridade destroem muitas carreiras e esperanças de sucesso”. Onde está a verdade?
Jesus diz: “felizes os que procuram construir a paz entre os homens”; o mundo diz: “felizes vós os que não tendes medo da guerra, da competição, que sois duros e insensíveis, que não tendes medo de lutar contra os outros e sois capazes de os vencer, pois só assim podereis ser homens e mulheres de sucesso”. O que é que torna o mundo melhor: a paz ou a guerra?
Jesus diz: “felizes os que são perseguidos por cumprirem a vontade de Deus”; o mundo diz: “felizes vós os que já entendestes como é mais seguro e mais fácil fazer o jogo dos poderosos e estar sempre de acordo com eles, pois só assim podeis subir na vida e ter êxito na vossa carreira”. O que é que nos eleva à vida plena?
Algumas palavras de Bento XVI em Portugal sobre o dinamismo da santidade
 O horizonte para que deve tender todo o caminho pastoral é a santidade. Não era isso também o objetivo último da indulgência jubilar, enquanto graça especial oferecida por Cristo para que a vida de cada batizado pudesse purificar-se e renovar-se profundamente? […]Ÿ
Na verdade, colocar a programação pastoral sob o signo da santidade é uma opção carregada de consequências. Significa exprimir a convicção de que, se o batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contra-senso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial.
Perguntar a um catecúmeno: «Queres receber o Batismo?» significa ao mesmo tempo pedir-lhe: «Queres fazer-te santo?» Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: «Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste» (Mt. 5,48). [João Paulo II, Novo Millennio Ineunte 30-31]
 Decisivo é conseguir inculcar em todos os agentes evangelizadores um verdadeiro ardor de santidade, cientes de que o resultado provém sobretudo da união com Cristo e da ação do seu Espírito. […]Ÿ
A Igreja tem necessidade sobretudo de grandes correntes, movimentos e testemunhos de santidade entre os fiéis, porque é da santidade que nasce toda a autêntica renovação da Igreja, todo o enriquecimento da fé e do seguimento cristão, uma re-atualização vital e fecunda do cristianismo com as necessidades dos homens, uma renovada forma de presença no coração da existência humana e da cultura das nações. [Bento XVI, discurso aos bispos em Fátima, 13 de maio de 2010]
 “É nos Santos que a Igreja reconhece os seus traços característicos e, precisamente neles, saboreia a sua alegria mais profunda. Irmana-os, a todos, a vontade de encarnar na sua existência o Evangelho, sob o impulso do eterno animador do Povo de Deus que é o Espírito Santo. […]Ÿ
É preciso voltar a anunciar com vigor e alegria o acontecimento da morte e ressurreição de Cristo, coração do cristianismo, fulcro e sustentáculo da nossa fé, alavanca poderosa das nossas certezas, vento impetuoso que varre qualquer medo e indecisão, qualquer dúvida e cálculo humano. A ressurreição de Cristo assegura-nos que nenhuma força adversa poderá jamais destruir a Igreja. Portanto a nossa fé tem fundamento, mas é preciso que esta fé se torne vida em cada um de nós. […]
Queridos Irmãos e jovens amigos, Cristo está sempre conosco e caminha sempre com a sua Igreja, acompanha-a e guarda-a, como Ele nos disse: «Eu estou sempre convosco, até ao fim dos tempos» (Mt. 28, 20). Nunca duvideis da sua presença! Procurai sempre o Senhor Jesus, crescei na amizade com Ele, comungai-O. Aprendei a ouvir e a conhecer a sua palavra e também a reconhecê- Lo nos pobres. Vivei a vossa vida com alegria e entusiasmo, certos da sua presença e da sua amizade gratuita, generosa, fiel até à morte de cruz.
Testemunhai a alegria desta sua presença forte e suave a todos, a começar pelos da vossa idade. Dizei-lhes que é belo ser amigo de Jesus e que vale a pena segui-Lo. Com o vosso entusiasmo, mostrai que, entre tantos modos de viver que hoje o mundo parece oferecer-nos – todos aparentemente do mesmo nível –, só seguindo Jesus é que se encontra o verdadeiro sentido da vida e, consequentemente, a alegria verdadeira e duradoura.
Buscai diariamente a proteção de Maria, a Mãe do Senhor e espelho de toda a santidade. Ela, a Toda Santa, ajudar-vos-á a ser fiéis discípulos do seu Filho Jesus Cristo. [Bento XVI, homilia em Lisboa, 11 de maio de 2010]
 A relação com Deus é constitutiva do ser humano: foi criado e ordenado para Deus, procura a verdade na sua estrutura cognitiva, tende ao bem na esfera volitiva, é atraído pela beleza na dimensão estética. A consciência é cristã na medida em que se abre à plenitude da vida e da sabedoria, que temos em Jesus Cristo. A visita, que agora inicio sob o signo da esperança, pretende ser uma proposta de sabedoria e de missão. […] Viver na pluralidade de sistemas de valores e de quadros éticos exige uma viagem ao centro de si mesmo e ao cerne do cristianismo para reforçar a qualidade do testemunho até à santidade, inventar caminhos de missão até à radicalidade do martírio. [Bento XVI, discurso na chegada a Lisboa, 11 de maio de 2010]Ÿ
 “Sim! O Senhor, a nossa grande esperança, está conosco; no seu amor misericordioso, oferece um futuro ao seu povo: um futuro de comunhão consigo.Ÿ
[…] A nossa esperança tem fundamento real, apoia-se num acontecimento que se coloca na história e ao mesmo tempo excede-a: é Jesus de Nazaré. […] Mas quem tem tempo para escutar a sua palavra e deixar-se fascinar pelo seu amor? Quem vela, na noite da dúvida e da incerteza, com o coração acordado em oração?
Quem espera a aurora do dia novo, tendo acesa a chama da fé? A fé em Deus abre ao homem o horizonte de uma esperança certa que não desilude; indica um sólido fundamento sobre o qual apoiar, sem medo, a própria vida; pede o abandono, cheio de confiança, nas mãos do Amor que sustenta o mundo. [Bento XVI, homilia em Fátima, 13 de maio de 2010]

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1º leitura – Ap. 7,2-4.9-14
As primeiras perseguições tinham feito cruéis destruições nas comunidades cristãs, ainda tão jovens. Iriam estas comunidades desaparecer, acabadas de fundar? As visões do profeta cristão trazem uma mensagem de esperança nesta provação. É uma linguagem codificada, que evoca Roma, perseguidora dos cristãos, sem a nomear diretamente, aplicando-lhe o qualificativo de Babilônia. A revelação proclamada é a da vitória do Cordeiro. Que paradoxo! O próprio Cordeiro foi imolado. Mas é o Cordeiro da Páscoa definitiva, o Ressuscitado. Ele transformou o caminho de morte em caminho de vida para todos aqueles que o seguem, em particular pelo martírio, e eles são numerosos; participam doravante ao seu triunfo, numa festa eterna.
Evangelho – Mt. 5,1-12
As Bem-aventuranças revelam a realidade misteriosa da vida em Deus, iniciada no Batismo. Aos olhos do mundo, o que os servidores de Deus sofrem, são efetivamente formas de morte: ser pobre, suportar as provas (os que choram) ou as privações (ter fome e sede) de justiça, ser perseguido, ser partidário da paz, da reconciliação e da misericórdia, num mundo de violência e de lucro, tudo isso aparece como não rentável, votado ao fracasso, consequentemente, à morte.
Mas que pensa Cristo? Ele, ao contrário, proclama felizes todos os seus amigos que o mundo despreza e considera como mortos, consola-os, alimenta-os, chama-os filhos de Deus, introduzi-los no Reino e na Terra Prometida.
A Solenidade de Todos os Santos abre-nos assim o espírito e o coração às consequências da Ressurreição. O que se passou em Jesus realizou-se também nos seus bem amados, os nossos antepassados na fé, e diz-nos igualmente respeito: sob as folhas mortas, sob a pedra do túmulo, a vida continua, misteriosa, para se revelar no Grande Dia, quando chegar o fim dos tempos. Para Jesus, foi o terceiro dia; para os seus amigos, isso será mais tarde.
O Evangelho no presente
Os membros de uma mesma família têm traços do rosto comuns… As pessoas que partilham toda uma vida juntos acabam por se parecerem… Esta festa anual de Todos os Santos reúne inúmeros rostos que trazem em si a imagem e a semelhança de Deus.
Um rosto de humanidade transfigurada
Enquanto vivos, os santos não se consideravam como tais, longe disso! Eles não esculpiam a sua efígie num fundo de auto-satisfação… Contrariamente àquilo que geralmente aparece nas imagens ditas piedosas e nas biografias embelezadas, eles não foram perfeitos, nem à primeira, nem totalmente, nem sobretudo sem esforço. Eles tinham fraquezas e defeitos contra os quais se bateram toda a vida.
Alguns, como santo Agostinho, vieram de longe, transfigurados pelo amor de Deus que acolheram na sua existência. Quanto mais se aproximaram da luz de Deus, tanto mais viram e reconheceram as sombras da sua existência.
Peregrinos do quotidiano, a maior parte deles não realizaram feitos heróicos nem cumpriram prodígios. É certo que alguns têm à sua conta realizações espetaculares, no plano humanitário, no plano espiritual, ou ainda na história da Igreja. Mas muitos outros, a maioria, são os santos da simplicidade e do quotidiano! Canoniza-se muito pouco estas pessoas do quotidiano!
Um rosto com traços de Cristo
Encontramos em cada um dos santos e das santas um mesmo perfil. Poderíamos mesmo desenhar o seu retrato-robô comum. Por muito frequentar Cristo, deixaram-se modelar pelos seus traços.
Como Jesus, os santos tiveram que viver muitas vezes em sentido contrário às ideias recebidas e aos comportamentos do seu tempo. Viver as Bem-aventuranças não é evidente: ser pobre de coração num mundo que glorifica o poder e o ter; ser doce num mundo duro e violento; ter o coração puro face à corrupção; fazer a paz quando outros declaram a guerra… Os santos foram pessoas “em marcha” (segundo uma tradução hebraizante de “bem-aventurado”), isto é, pessoas ativas, apaixonadas pelo Evangelho… Os santos foram homens e mulheres corajosos, capazes de reagir e de afirmar a todo o custo aquilo que os fazia viver. Eles mostram-nos o caminho da verdade e da liberdade.
Aqueles que frequentaram os santos – aqueles que os frequentam hoje – afirmam que, junto deles, sentimos que nos tornamos melhores. O seu exemplo ilumina. A sua alegria é o seu testemunho mais belo. A sua felicidade é contagiosa.
Ter um coração de pobre (Gérard Naslin)
Eram quatro casais amigos à volta da mesma mesa. Os copos estavam bem cheios e os pratos bem guarnecidos. No meio da refeição, a conversa centra-se nos acontecimentos da atualidade: Fala-se dos estrangeiros e imigrantes. O debate aquece e cada um proclama o slogan tantas vezes repetido, o cliché veiculado pelos media… Todos parecem em uníssono.
Entretanto, um dos convivas, que estava em silêncio há alguns minutos, abrindo a boca, disse: “Não estou de acordo convosco, e vou dizer-vos porquê. Para mim, todo o homem é uma história sagrada, eu acredito nisso, deixai-me dizê-lo“. Imaginai o tempo de silêncio que se seguiu, enquanto os olhares e os garfos mergulharam nos pratos.
Naquela noite, ao longo de uma refeição entre amigos, passou-se qualquer coisa que nos faz ver o que é o Reino de Deus: um homem só, ousava deixar a multidão para dizer: “Não estou de acordo!” em nome da sua fé no homem e, no caso preciso, em nome da sua fé em Deus.
Não foi o que se passou no cimo de uma montanha da Palestina, há 2.000 anos, quando um homem, Jesus de Nazaré, tendo diante de si os seus discípulos que tinham deixado a multidão para o seguir, “abrindo a boca“, se pôs a instruí-los e lhes falou de felicidade, mas de modo nenhum como o mundo fala dela?! São estes discípulos que ele declara “bem-aventurados“. São Lucas, no seu Evangelho, será ainda mais preciso, pois escreverá: “erguendo os olhos para os discípulos…” E que lhes disse Ele? “Bem-aventurados vós, os pobres de coração, porque vosso é o Reino de Deus!“.
Eis a força contestatária de Jesus. E as outras seis bem-aventuranças estão lá para ilustrar a primeira, a da pobreza do coração. Quanto à última, ela aparece como a conclusão: “Sim, se vós viveis dessa vida, esperai ser perseguidos, porque isso impedirá as pessoas de dormir; isso inquietá-las-á, e como as pessoas não gostam de ser inquietadas, vós sereis perseguidos“.
As bem-aventuranças, se as queremos tomar a sério e sobretudo vivê-las, colocamnos em situação de contestação e fazem-nos assumir riscos. Sim, em certos momentos, fazem-nos dizer, e sobretudo viver, um “Não estou de acordo” em nome da nossa fé.
Porque é que Jesus declara “felizes” os seus discípulos? Porque eles são pobres de coração, porque eles estão libertos de tudo o que poderia entravar a sua liberdade.
Com efeito, a alegria é o fruto da liberdade.
Mas de que pobreza fala Jesus? Fala da pobreza que permite crer, esperar e amar.
O pobre é aquele que “faz crédito” em Deus
“Fazer crédito” ou dizer “credo“, é a mesma coisa. Quando se fala de noivos, fala-se de duas pessoas que confiam entre si, que se fiam uma na outra, que “fazem crédito”.
A desconfiança torna a pessoa infeliz. Confiar é aceitar um certo abandono: aquele que grita em direção a Deus no meio do seu sofrimento ou da sua confusão, é aquele que confia sempre em Deus.
O pobre é também aquele que espera
O rico não pode esperar, está plenamente satisfeito. O pobre, esse, está sempre virado para um futuro que espera que seja melhor; e, depois, ele procura, porque pensa nunca ter totalmente encontrado. A sua vida é uma procura, e todos os sinais que ele encontra enchem-no de alegria e fazem-no avançar. O pobre é aquele que aceita ser criticado pela Palavra de Deus. Com efeito, pôr-se em questão só é possível para aquele que espera tornar-se melhor.
O pobre é aquele que ama
Por não estar plenamente satisfeito consigo mesmo, o pobre está disponível para servir os seus irmãos. Não centrado em si próprio, abre os olhos e vê aqueles que esperam os seus gestos de amor; ouve os gritos dos seus irmãos e abre as suas mãos vazias para as estender àquele que tem necessidade. A sua pobreza fá-lo receber e, ao mesmo tempo, dar o pouco que tem.
Jesus conhecia o coração do homem, e soube reconhecer no coração dos seus discípulos esta aspiração a crer, a esperar e a amar; é a razão pela qual ele os escolheu e chamou.
As bem-aventuranças vão, em tantas situações, contra a corrente, porque um homem, um dia, ousou abrir a boca para dizer aos seus discípulos: “Sois do mundo, e ao mesmo tempo não sois do mundo… Vós não sois do mundo do cada um para si, do consumo, da violência, da vingança, do comprometimento… E face a este mundo deveis dizer: não estou de acordo! É certo que sereis perseguidos ou, pelo menos, rir-se-ão de vós, ou procurarão fazer-vos calar. Felizes sereis, porque fareis ver onde está a verdadeira felicidade. Chamar-vos-ão santos“.
Festejamos neste dia todos aqueles que tomam de tal modo a sério as bemaventuranças que são hoje plenamente felizes.
Queremos experimentar ser já felizes? Basta-nos ter um coração de pobre.
A santidade de muitos
(nº 14 da Exortação Apostólica Ecclesia in Europa de João Paulo II)
Fruto da conversão realizada pelo Evangelho é a santidade de muitos homens e mulheres do nosso tempo; não só daqueles que foram proclamados oficialmente santos pela Igreja, mas também dos que, com simplicidade e no dia a dia da existência, deram testemunho da sua fidelidade a Cristo. Como não pensar aos inumeráveis filhos da Igreja que, ao longo da história do continente europeu, viveram uma santidade generosa e autêntica no mais recôndito da vida familiar, profissional e social? «Todos eles, como “pedras vivas” aderentes a Cristo “pedra angular”, construíram a Europa como edifício espiritual e moral, deixando aos vindouros a herança mais preciosa. O Senhor Jesus havia prometido: “Aquele que acredita em Mim fará também as obras que Eu faço; e fará obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai” (Jo 14,12). Os santos são a prova viva da realização desta promessa, e ajudam a crer que isto é possível mesmo nos momentos mais difíceis da história».(1)
(1) João Paulo II, homilia durante a missa de encerramento da II Assembleia especial do sínodo dos bispos para a Europa (23 de outubro de 1999), 4: AAS 92 (2000), 179.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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"Bem‑aventurados os pobres em espírito"
Bem‑aventurado na Bíblia, define o estado de felicidade procedente das bênçãos de Deus, caracterizado por uma manifestação concreta, específica dessa bênção. 0 que nos surpreende nas bem‑aventuranças do Evangelho é o paradoxo que as caracteriza, isto é, o proclamar bem-aventuradas pessoas em situações humanamente deploráveis que, a partir da perspectiva meramente terrena, seriam mais propriamente consideradas desventuradas, senão amaldiçoadas.  As bem‑aventuranças começam com o tema da pobreza: "Bem‑aventurados os pobres em espírito" e prosseguem com outros temas afins que denotam falta, indigência, insuficiência, finitude... e são seguidas por promessas expressas, geralmente, na voz passiva: "Bem-aventurados os aflitos, porque serão saciados. Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados... ". Este jeito de falar é conhecido, na teologia, como "passivos teológicos", ou seja, uma maneira de mencionar uma ação de Deus sem pronunciar o nome dele, por respeito. Dessa forma, o agente das bem-aventuranças é o próprio Deus. Os aflitos serão consolados por Deus, os famintos serão saciados por Deus e assim por diante. Parece que as bem-aventuranças que seguem à primeira são desenvolvimentos dela, ou seja, explicitam o que é pobreza em espírito. Isto é, só quem experimenta existencialmente a sua finitude e insuficiência e vive cordialmente esta condição, lançando‑se totalmente em Deus, pode ser consolado, plenamente saciado por ele. 0 homem auto‑suficiente, cheio de si, é qual copo transbordante: nele não cabe mais nada, nem Deus. Está reduzido à sua medida. Portanto, a pobreza em espírito, de que se ocupam as bem‑aventuranças, é algo necessário ao homem. Ela o ilumina e o faz gritar a Deus com todas as veras d'alma, como o salmista: "Quanto a mim, sou pobre e indigente: ó Deus, vem depressa! Tu és meu auxílio e salvação: Senhor, não demores! (Sl. 70,6). A pobreza em espírito não existe em quem pensa ser dono de si e auto‑suficiente, que não precisa dos outros nem de Deus, pois as Escrituras afirmam que quem diz: "sou rico, enriqueci-me e de nada mais preciso, ignora ser ele o infeliz: miserável, cego, pobre e nu! (cf. Ap. 3,17). A pobreza em espírito tampouco se identifica simplesmente com a pobreza material, pois mesmo quem fosse possuidor de muitos bens poderia reconhecer que a riqueza material não é tudo para ele, e viver como quem, de fato, depende de Deus. E, ao contrário, uma pessoa materialmente pobre poderia ser cheia de inveja e ganância e esperar tudo da riqueza terrena. A pobreza em espírito é a mais alta nobreza a que o espírito humano pode chegar, pois é configuração com o próprio Cristo, que de rico, se fez pobre para nos enriquecer com a sua pobreza (2Cor. 8,9).
frei Aloísio Antônio de Oliveira OFV Conv
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Os saduceus eram os líderes mais conservadores no judaísmo da época de Jesus. Somente nas idéias, não porém em sua conduta. Consideravam como revelados por Deus somente os primeiros cinco livros da Bíblia, por eles atribuídos a Moisés.
Os profetas, os escritos apocalípticos, todo o referente ao Reino de Deus, as exigências de mudança na história, na outra vida, eram consideradas por eles idéias “libertarias” de descontentes sociais. Para eles não existia outra vida, a única vida existente era a presente e nela eles eram os privilegiados; por isso, não havia por que esperar outra.
Pensavam dessa maneira as famílias sacerdotais da elite e os anciãos, ou seja, os chefes de famílias aristocráticas que tinham seus próprios escribas. Ainda que estes não tivessem muito prestigio, ajudavam a fundamentar teologicamente suas aspirações para uma vida boa.
As riquezas e o poder que tinham eram uma amostra de que eram os preferidos de Deus. Não necessitavam esperar outra vida. Graças a isso, mantinham uma posição cômoda: por um lado, a aparência de piedade; por outro, um estilo de vida de acordo com os costumes pagãos dos romanos, seus amigos, de quem recebiam privilégios e concessões que ampliavam suas fortunas.
Os fariseus eram o oposto deles, tanto em suas esperanças como em seu estilo de vida austera e apegada à lei da pureza. Uma das convicções mais firmemente arraigadas era a fé na ressurreição, que os saduceus rejeitavam abertamente pelas razoes expostas anteriormente. Porém, muitos concebiam a ressurreição como a mera continuação da vida terrena, somente que para sempre.
Jesus estava já na reta final de sua vida pública. A ação de Jesus em favor da Causa do Reino era desmascarar as intenções distorcidas dos grupos religiosos de seu tempo. O Sinédrio declarava-se incompetente para decidir se tinham ou não autoridade para fazer o que fazia; os fariseus e os herodianos eram considerados hipócritas, por suas inconseqüências no agir. Suédrio e saduceus se enfrentam por causa da interpretação da lei de Moisés.
A posição de Jesus neste debate com os saduceus pode ser iluminadora para os tempos atuais. Também nós, como sociedade culta, podemos reagir com freqüência contra uma imagem demasiado fácil da ressurreição. Qualquer um de nós com formação cristã de catequese infantil, pode recordar os ensinamentos a respeito deste tema, a fácil descrição, que até os anos 50 se fazia da morte (separação da alma em relação ao corpo), o que seria um juízo particular, como seria o juízo universal, o purgatório (se não o limbo), o céu e o inferno.
A teologia (ou simplesmente o imaginário) cristã tinha respostas detalhadas e exaustivas para todos estes temas. Acreditava-se saber quase tudo a respeito ao além e com requintes de detalhes. Muitas pessoas de “hoje”, com cultura filosófica e antropológica (ou simplesmente com “senso comum atual”) se ruborizam ao ter acreditado em tais coisas, e se rebelam, como aqueles coetâneos de Jesus, contra uma imagem tão prática, tão maximalista, tão segura a respeito do tema.
De fato, no ambiente geral do cristianismo atual, pode-se observar um prudente silencio sobre estes temas, outrora tão vivos e até discutidos. Em relação aos falecidos, não se fala mais das realidades do além nas celebrações relativas à morte, não se tem a mesma opinião que há décadas.
Algo está torto epistemologicamente na cultura moderna, que nos faz sentir a necessidade de não repetir, sem mais, o que nos foi dito, mas de revisar e repensar o que podemos dizer, saber e esperar.
Como os saduceus daquele tempo, hoje Jesus nos diz também: “vocês não sabem do que estão falando...”. Seja o conteúdo real do que temos chamado tradicionalmente “ressurreição” não é algo que se possa descrever, nem detalhar, sem sequer “imaginar”.
Talvez seja um símbolo que expressa um mistério que apenas se pode intuir, mas não concretizar. Uma ressurreição entendida direta e plenamente como uma “reavivamento”, ainda que seja espiritual (que é como a imagem funciona de fato em muitos cristãos formados em um esquema mais tradicional), hoje, criticamente falando, a idéia não parece sustentável.
Talvez seja boa para nós uma sacudida como a de Jesus aos saduceus. Antes que nossos contemporâneos percam a fé na ressurreição e, com ela, de uma vez, toda a fé, seria bom fazermos um serio esforço para purificar nossa linguagem sobre a ressurreição e para colocar em relevo seu caráter de mistério. Fé sim, porém não uma fé preguiçosa e fundamentalista, mas séria, sóbria, crítica e bem formada.
Hoje comemoramos Todos os Santos, em particular aqueles que não estão no altar. Lembramos hoje dos cristãos que viveram o evangelho, que fizeram da Palavra de Deus o seu estilo de vida, que souberam seguir Jesus com fidelidade, e que agora se encontram na presença de Deus na Glória Celeste. Nossas homenagens aos bem-aventurados que souberam viver o amor.
O sermão da montanha ou das bem-aventuranças, como é conhecido, é um dos mais expressivos ensinamentos de Jesus. As bem-aventuranças são o resumo de todas as expressões de amor fraterno. De maneira clara, enaltecem o pobre, o que sofre, o que luta por justiça, o injuriado, o perseguido…
Jesus diz que: quanto mais misericordiosa, mansa, humilde e pura de coração for a pessoa, maior é a chance de receber a grande recompensa no céu. Chama de Bem-aventurados os que promovem a paz num mundo tão conturbado e individualista.
Falecidos ou não, hoje lembramos de todos os santos. Homens e mulheres, dotados de total desprendimento e doação. Filhos de Deus que souberam ver em cada próximo um irmão. No anonimato, confiantes, abraçaram o ideal do evangelho e amaram intensamente, sem divisões nem restrições.
Deus nos ama profundamente e quer que nos amemos uns aos outros com amor tolerante, sincero e fraternal. É esse amor que Jesus ressalta em cada uma das bem-aventuranças. Elas afirmam que, quem vive o amor já é santo. Fomos feitos para a santidade, portanto, só há uma alternativa; ser santo ou nada!
A santidade nos espera. A santificação deve ser o nosso ideal. Ser santo é ser pobre em espírito, é confiar plenamente em Deus. É apoiar-se na graça de Deus e compartilhar do sofrimento dos irmãos. É chorar com os que choram, é partilhar os bens e aliviar a dor dos menos favorecidos.
O santo procura ser manso e caridoso com as pessoas, mesmo quando estas não são amáveis. O santo segue Jesus com fidelidade, pratica a justiça e a fraternidade; é misericordioso, sabe dividir e não é mal intencionado. O santo é um apaziguador, reflete harmonia e, acima de tudo, é um construtor da paz.
É preciso no entanto, persistência e muita coragem, pois o santo é também um sério candidato ao martírio. Quem vive as bem-aventuranças é presa fácil da injúria. Assim como Jesus, o santo será perseguido e até mesmo morto pelos inimigos da verdade, da justiça e da paz. Poderá ainda, ser humilhado e martirizado por aqueles que fazem da morte o seu meio de vida.
É poderosa a minoria que sobrevive da opressão, do desemprego, da inflação, também do tráfico de drogas e do aliciamento de menores… são perigosos os abutres que encontram na podridão a sua subsistência. O santo porém, é muito mais forte, não vira o rosto para as verdades. Tudo vê e jamais fecha os seus olhos.
O construtor da paz incomoda com sua presença e grita bem alto as falcatruas. O bem-aventurado clama por um mundo de amor, onde haja vida e liberdade. Ser santo, essa é a única alternativa para quem quer ganhar sua recompensa no céu.
Jorge Lorente
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“Festa de todos os Santos” - Uma festa de família
“Depois vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar” (Ap. 7,9). Essa multidão é o motivo da festa de hoje. É uma festa de família na qual ninguém fica fora. Celebramos a festa dos santos, por exemplo, são Francisco. Não há somente estes santos no Céu. Celebramos no calendário da Igreja os que são representativos. Não queremos esquecer os outros que viveram a mesma vida, mas não foram “colocados no altar”, isto é, canonizados. Esta festa quer lembrar todos os cristãos que viveram seu batismo e estão junto de Deus. Lembramos também os que não foram batizados e, vivendo no amor e na justiça, vivem em Deus. Lembramos os mártires que, mesmo, sem ter conhecido Cristo, deram a vida por Ele, como por exemplo, os abortados. Lembramos não só os mortos no mundo conhecido, mas todos os que, desde os inícios do mundo, procuraram viver o bem e o amor. Quantos? Só Deus sabe e a todos ama. Deus chama todos à santidade. O convite é universal e a Igreja oferece a todos o caminho seguro, que é Cristo. NEle podemos chegar ao Pai e, assim, a uma santidade excelente. Ser santo não é fazer milagre, não é ter um caminho especial nem ser diferente. Ser santo não é não ter pecado. Mas ter muita conversão. Há muitos que dão a vida no sofrimento. Outros dão a vida num cotidiano sofrido, mas coerente com a verdade. Outros escolhem caminhos de caridade e de dedicação que os identificam com Cristo em sua entrega ao Pai. Santidade é um processo de divinização no qual cada pessoa, lentamente, vai acolhendo em si a vida de Deus. É uma festa de família aberta a todos
Caminho da felicidade
Jesus, ao proclamar seu Evangelho, fazendo uma síntese de sua doutrina, inicia dando-nos o caminho da santidade. Esta santidade é apresentada como felicidade. A felicidade comece na terra e continua no Céu. As bem-aventuranças são uma página magnífica que traz a autobiografia que Jesus faz. Ele parece dizer: “Sejam o que Eu sou’. Proclama felizes, bem-aventurados, os pobres de Espírito, os mansos, os aflitos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem paz, os perseguidos por causa da justiça e por causa Dele. Não se trata de felicidade após a morte, mas felicidade que começa aqui. Ele dá o resultado destas atitudes que levam à felicidade: ter o Reino, herdar a terra, ser consolado, saciado, alcançar misericórdia, ver Deus, ser seus filhos e ter o Reino. É uma delícia ser santo! Claro que deve que haver uma limpeza para ir ao Céu: lavar as vestes, isto é, a vida, no sangue do Cordeiro que é Jesus. Vai haver cruz, como houve para Ele. É preciso imbuir-se de seu Espírito. Todos podem viver esta realidade, em qualquer circunstância, estado de vida, profissão, condições pessoais de cultura e saúde.
Somos filhos de Deus
Podemos viver a santidade de Deus, pois só Ele é santo, e porque nos deu a participar dela fazendo-nos seus filhos. João nos escreve: “Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: Somos chamados filhos de Deus!” Seremos como Ele é. Todo o que espera Nele purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro” (1Jo 3,1-3). A santidade é estar com Deus. Se existe este desejo, a santidade se realizará na vida de cada pessoa. Ser santo não é um privilégio, é um direito que o cristão tem e que se estende a todas as pessoas. Os santos na terra são as pessoas mais úteis, pois elas vivem Deus. Podemos querer melhor?
1. A festa de Todos os Santos comemora todos os habitantes da cidade do Céu: desde o primeiro ser humano da criação até o de hoje, não somente os católicos, mas todo aquele que viveu no amor e na justiça. Os santos canonizados são um modelo particular que não exclui os outros. Deus chama todos à santidade, qualquer que seja sua condição. Ser santo não é ser diferente ou não ter pecado. É ter conversão.
2. Jesus faz uma síntese de sua doutrina. Inicia dando-nos o caminho da santidade que é a felicidade. É sua autobiografia. Proclama felizes os pobres, os mansos... e mostra os resultados: receberão o Reino... É uma delícia ser santo. Por isso Jesus fala de felicidade. Mas para ser santo é preciso lavar as vestes no sangue do Cordeiro, isto é, na salvação que nos deu. Todos podem.
3. Podemos viver a santidade de Deus, pois só Ele é santo, porque nos fez seus filhos. João diz que é um presente do amor de Deus. Santidade é estar com Deus. Se existir este desejo, a santidade se realizará na vida de cada pessoa. Ser santo é um direito. Os santos são as pessoas mais úteis, pois vivem Deus.
Santos para mais de metro
Celebrando a festa de Todos os Santos, estamos recordando todos os fiéis defuntos que estão na glória de Deus. É gente desde o primeiro homem até hoje. Deve ajuntar gente a perder de vista. Deve ter até mais gente que nos Infernos, pois não existe sinal de festa para o pessoal de lá.
É muito mais fácil ser santo que pecador. Não dá dor de cabeça. Basta deixar Deus agir em nós e viver o espírito das bem-aventuranças. Deus faz sua parte, porque nos fez filhos seus. É tão fácil ser pobre, simples, com boas intenções, construtor da paz, misericordioso.
Se a gente fosse mais santo, o mudo seria bem melhor para todos.

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Todos chamados à santidade
No desejo de bendizer a Deus "em seus Anjos e Santos", a Igreja tem um calendário no qual traz modelos significativos de Santos das diversas épocas, caminhos, modelos e estados de santificação. A festa de hoje pretende celebrar aquela "numerosa multidão que ninguém podia contar" (Ap. 7,9). Nela ninguém fica esquecido. Se há um Céu aberto, significa que todos somos chamados à santidade. É um caminho acessível a todos. O Documento de Aparecida apresenta-nos vários elementos que nos fazem compreender a santidade que devemos viver em nosso continente. É a mesma de sempre, com a cara de nosso povo. Chama a atenção para os exemplos de santidade do povo latino-americano, a começar por santa Rosa de Lima até os nossos brasileiros. Não podemos desconhecê-los. Eles nos apresentam uma experiência de Deus vivida no meio do povo. Somos chamados a beber no rico manancial da piedade popular (D. Apda 258) que alimentou o povo durante séculos. Somos um povo de santos com cara de índio, negro, mestiço, caboclo, branco. É um belo mosaico de santos sem auréola e velas acesas.
Palavra de Deus
As leituras apresentam-nos a solene assembléia do Paraíso na qual estão todos os redimidos que lavaram suas vestes no Sangue do Cordeiro (Ap. 7,14). Ninguém pode dizer que só o seu caminho salva, pois é Jesus quem salva todos. E quem não é amado por Deus? A santidade do povo é participação na santidade de Deus através do grande dom que nos foi feito: "Vede que prova de amor nos deu o Pai, que sejamos chamados filhos de Deus. E nós o somos" (1Jo 3,1). Por enquanto vivemos esta realidade sem ver a grandeza que temos dentro de nós. Mas, "o que seremos ainda não se manifestou. Sabemos que, por ocasião desta manifestação, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é" (1Jo 3,20). A esperança em Deus é nossa purificação, pois vivemos a vida de filhos que nos é apresentada pelas bem-aventuranças. A beleza do evangelho encanta quanto abrimos a página das bem-aventuranças. Com essas poucas palavras, nosso amado Redentor dá-nos uma síntese da vida de Deus em nós. Ser pobre em espírito, manso, aflito pelo bem, famintos e sedentos de justiça, misericordiosos, puros de coração, promotores da paz e perseguidos. Esses são os traços da santidade de Deus que temos e construímos em nos no mundo em que vivemos. Estas pílulas de santidade fazem de nós sal da terra e luz do mundo (Mt. 5,13-14).
Vivendo a santidade
Os leigos, padres e religiosos, discípulos e missionários, são convidados a viver a santidade nos dons que lhes vem de Jesus e crescem na Igreja. Todos devem dar testemunho de santidade sendo fermento na massa. A Igreja alerta contra a santidade individualista que foge do compromisso social e da missão na vida do povo. Por isso devemos estar de sobreaviso contra espiritualidades vindas de outros países. Mesmo sendo boas, tiram as pessoas da comunidade criando grupos fechados, dividindo a Igreja. Não é um bom caminho. Igualmente triste é matar a alma popular, as sãs tradições. Vamos beber das fontes primeiras de nossa evangelização. Precisamos criar a pastoral da santidade, isto é, usar nossos meios para construir a vida em Cristo, na comunhão com a Igreja, socorrendo as urgências pastorais. Vamos promover a santidade que é nosso dom primeiro.
1. A Igreja celebra uma festa para todos os santos que não estão no calendário. "É a imensa multidão que ninguém pode contar". O Doc. de Aparecida apresenta vários elementos que nos fazem compreender a santidade que devemos viver no continente, partindo do exemplo de nossos santos. A base é a experiência de Deus vivida no meio do povo, bebendo da piedade popular. Somos um povo com cara de índio, negro, mestiço, caboclo e branco.
2. As leituras contam-nos sobre a assembléia do Paraíso na qual estão todos os redimidos que lavaram suas vestes no sangue do Cordeiro. A santidade do povo é participação na santidade de Deus através do dom da filiação divina. A vida de santidade se constrói dentro do espírito das bem-aventuranças. Assim somos sal da terra e luz do mundo.
3. O povo de Deus é convidado a viver a santidade nos dons que lhe vem de Jesus e crescem na Igreja. Devemos dar testemunho e ser fermento na massa. O documento de Aparecida alerta contra a santidade individualista que foge do compromisso social. Há o perigo de espiritualidades vindas de fora que fazem grupos fechados, dividindo a Igreja e matam a alma popular de nossa gente e suas sãs tradições. É preciso criar a pastoral da santidade.
Festa de família
Todos os que estão nos céus são santos e dos bons! Em Deus não existe nem maior nem menor porque Deus é o Santo.
Por que só temos alguns santos no calendário da Igreja? Os outros não valem? Os que estão no calendário são representativos dos demais e o povo se ligou mais a eles.
Celebramos, hoje, todos os santos do Céu, até os apenas concebidos e ceifados. São João diz que viu uma grande multidão (Ap. 7,9). Celebramos também aqueles de boa vontade que viveram longe de tudo, sem mesmo receber a Palavra do evangelho. No céu não tem gente de 2ª classe. Todos são de primeira.
Agora não vemos o que seremos, mas um dia veremos como Ele é. O caminho do céu é aberto a todos. Jesus mostra como se faz esse caminho: ser pobre, manso, aflito pelo bem, que tem fome e sede de justiça, misericordioso, construtores da paz, perseguidos pela justiça.
É fácil ir para o céu e celebrar com todos a alegria de viver em Deus, na festa de família que nunca se acaba. Ia me esquecendo: e eles rezam por nós.
padre Luiz Carlos de Oliveira
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A maratona dos santos
Na festa de Todos os Santos, a liturgia foi buscar, no evangelho, uma espécie de cartografia dos santos. Os cartógrafos, os geógrafos gostam de estudar os mapas. Assim também a liturgia busca uma espécie de mapa para encontrar os santos. Interessante é que escolheram o sermão da montanha, porque acharam que aí cabia melhor essa multidão imensa de santos, cuja memória celebramos.
A primeira pergunta que fazemos é: quem é santo? A resposta parece óbvia, mas não é óbvio se saber quem é santo. Eu imagino que a humanidade inteira foi chamada para uma grande maratona. Imaginem essas maratonas imensas de dois, três milhões de pessoas correndo. Aí vemos aquele atleta queniano (*), que dispara na frente, até uma velhinha que vai de bengala. Mas estão todos nessa grande maratona. Todos os que estiverem seriamente na maratona da vida são santos. Uns disparam, como uma Teresa de Calcutá, e outros vãocapengando. Todos nós somos santos, todos estamos nessa maratona, sem exceção. É bom saber que somos santos! Não é só São Judas Tadeu, Santo Inácio, Santo Antônio, não. Todos nós somos santos. Mesmo de bengalinha, aleijadinho é santo. Só não é santo quem diz que não quer participar, quem desiste da maratona.
O que é a maratona? É a opção fundamental que fazemos pela justiça, pela ética, pelos valores fundamentais – verdade, bem, beleza, fraternidade. Olhem quanto espaço na maratona! Alguém que nunca vem à igreja pode estar na maratona, porque é uma pessoa ética, que luta pela justiça. E aquele ladrão? Roubou um único dia e ficou trezentos e sessenta e quatro outros dias sem roubar – também está na maratona. É que temos o olhar muito voltado para o negativo, e é bom pensar nisso. Um esposo infiel?!  Não quero dizer que seja maravilhoso! Há dias em que foi um bom esposo, um bom pai? Talvez muito mais numerosos. Temos muito mais santos do que imaginamos, mas só focalizamos os erros.
Precisamos olhar o dia-a-dia da mãe de família que cuidou de um adolescente de quatorze, quinze anos, que passou noites sem dormir. Essa mulher é santa! Uma impaciência não significa nada. Hoje é a festa de todos nós. Os que já estão no céu não precisam de festa. Nós precisamos comemorar esses santos que estão aqui. Andamos muito desanimados ultimamente! Pessimistas, pensamos que todo mundo vai receber uma carta de cobrança. Todo mundo temendo receber uma correspondência. Ligamos um computador pensando que em cada canto há a possibilidade de um Antraz (**). Não. Para um Antraz há duzentos milhões de não-antraz.
Nós temos que encarar a santidade como algo possível. Afirmo isso sem hesitar, porque eu sei, na fé, que todos nós, sem exceção, fomos criados, marcados e carimbados profundamente por um Deus que é amor. A marca mais profunda que temos é o amor, todas as outras são secundárias. A primeira, a maior de todas é o amor, é ser chamado para a comunhão, para viver com os outros, para conviver. Mesmo que não vejamos, o amor lateja no coração de tantas pessoas, até daquelas que não admitem. De vez em quando, elas põem a mão na consciência e reconhecem que é triste ser ruim. Nesse momento, elas se salvaram. No momento em que se reconhece que é triste ser ruim já é o toque da graça. E a graça toca a todos, sem exceção.
Entremos na maratona. Só peço que não saiam dela. Ficar deitado eternamente em berço esplêndido (***) pode não dar certo.
J.B. Libanio – “Um outro olhar”
(*) referência ao maratonista do Quênia, Paul Tergat
(**) arma química que aterrorizou os Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro.
(***) frase tirada do Hino Nacional Brasileiro
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Como é grande, Senhor, vosso nome
O clima espiritual da Igreja é sobretudo um clima de alegria. A alegria de pertencer ao Povo de Deus, a alegria de participar da vida nova trazida por Cristo na sua Ressurreição, a alegria da esperança da vida futura no esplendor da eternidade gloriosa.
Os próprios sofrimentos e até os pecados oferecem aspectos de alegria: quem sofre se une à cruz de Cristo, sinal da paz e da vitória; e quem pecou, mas se arrepende, tem a alegria de receber o perdão de Deus, como o filho pródigo, que foi recebido com festa pelo pai. Por tudo isso, a alegria é um tema sempre presente na oração da Igreja. E só pensar no hino de louvor "Glória a Deus nas alturas", ou, sobretudo, no famoso "Te Deum", que está presente na oração litúrgica das Leituras dos dias de festa.
Neste hino, nós nos integramos no imenso coro dos anjos e dos santos que louvam a Deus no céu e na terra - "o glorioso coro dos apóstolos, a turba dos profetas, que merecem nossos louvores, o resplandecente exército dos mártires" - e nos unimos à Santa Igreja, que em toda a face da terra canta louvores a Deus.
Esta santa Igreja, na festa de hoje, é toda um canto uníssono de louvores a Deus, celebrando a glória de todos os santos. E canta, como que entrevendo a glória do céu: "Oh! Como é glorioso o reino, onde todos os santos exultam com Cristo! Vestidos de túnicas brancas, seguem sempre o Cordeiro" (Ant. das Vésperas).
Na liturgia da Igreja Latina, pode-se dizer que esta festa - que já existia no calendário oriental- teve seus inícios quando o papa Bonifácio IV, em 13 de maio do ano de 609, dedicou a Deus, em louvor à Virgem Maria e a todos os "mártires", à antigo Pantheon de Agripa.
Esse grandioso templo, que ainda hoje é uma das glórias da arte antiga em Roma, fora construído por Agripa, ministro do Imperador Augusto, em louvor a todos os deuses (pantheon), e resistira incólume por seis séculos às inundações do Tibre e às devastações dos bárbaros. A festa de 13 de maio, instituída por Bonifácio IV, foi mais tarde transferida para 1 de novembro, como se celebra na atual liturgia. No Brasil, como em outros lugares onde1 ° de novembro não é feriado religioso, a celebração passa para o domingo seguinte a essa data.
Esta festa, evidentemente, tem o sentido de um imenso canto de louvores e de gratidão a todos os santos - mesmo desconhecidos - que ao longo dos séculos deram testemunho do Evangelho em sua vida, e muitas vezes com o sangue de seu martírio. A Igreja deve muito de sua presença fiel a Cristo no mundo a esses heróis.
Num mundo sempre mais necessitado de testemunhas do que de mestres, a vida dos santos é eminentemente construtiva. Neles resplandece a imitação de Cristo. Eles são no mundo uma presença viva de tudo o que Jesus ensinou no Evangelho. Cada um deles parece estar dizendo o que pôde dizer são Paulo: "O que aprendestes e herdastes, o que ouvistes de mim e em mim observastes, isso ponde em prática" (FI. 4,9).
Mas esta festa, na intenção da Igreja e na lição da Liturgia, quer ser um apelo a colocarmos em nossa vida aquilo a que poderíamos chamar "a filosofia do Evangelho", cuja prática levou os santos à santidade e à felicidade. Por isso é que lemos na missa a famosa proclamação das "bem-aventuranças" que está na introdução do "Sermão da Montanha":
"Bem-aventurados os que têm espírito de pobre... bem-aventurados os mansos... bem-aventurados os que promovem a paz ..." (cf. Mt. 5,1-12a). A filosofia que impera no mundo é a filosofia do prazer e do bem- estar. Na mentalidade do mundo, é feliz quem é rico, é feliz quem é poderoso e domina os outros, é feliz quem tem fartura de tudo.
A visão que Jesus nos ensina é diferente. A verdadeira felicidade não está nessas coisas. Está na humildade, na simplicidade, no acolhimento tranqüilo dos sofrimentos da vida, sem nunca perder a fé e a confiança em Deus, que nos ampara. Até nas perseguições enfrentadas por amor da justiça ressoa para o justo a grande palavra de Deus: "Alegrai-vos, exultai, pois é grande no céu a vossa recompensa" (v. 12).
Já aqui na terra há uma íntima felicidade para os que abraçam a lição das bem-aventuranças. E muito mais felizes serão um dia, para sempre, no céu. Serão "bem-aventurados": esse é o estilo luminoso e sereno da felicidade dos que um dia estarão para sempre na casa do Senhor.
padre Lucas de Paula Almeida, CM
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Sede santos!
Na reza do "Creio", professamos uma verdade: "Creio na comunhão dos santos". Hoje, na festa de Todos os Santos, vamos aprofundar essa verdade. Os textos bíblicos nos falam dessa realidade.
A 1a leitura nos garante que os santos são muitos. (Ap. 7,2 - 4.9 - 14)
O número 144.000 é simbólico: 12x12 mil: Todo povo de Israel e mais uma grande multidão de todos os povos e línguas. O caminho da santidade está aberto a todos que vivem os valores do Reino.
A 2a leitura afirma que somos Filhos de Deus: "Somos chamados filhos de Deus e de fato o somos..." (1Jo. 3,1 - 3) Ser santo é viver em comunhão com o Pai e o Filho. O amor de Deus nos faz Filhos de Deus e nos chama a viver como irmãos.
No Evangelho, Cristo nos aponta o caminho para ser santo: viver as bem-aventuranças (Mt. 5,1-12) Quem são os santos:
Para muitos, santos são pessoas já mortas, que realizaram no passado fatos surpreendentes na vivência da fé. Pessoas privilegiadas que já nasceram santas...  milagreiras... declaradas santas pela Igreja e hoje homenageadas em nossos altares...
Na Bíblia, no princípio, o título de santo era só para Deus.
Ainda hoje no Glória, recitamos: "Porque só vós sois santo".
Em Cristo repousa o Espírito de santidade… Ele irradia a santidade de Deus e transmite a sua santidade à Igreja por meio dos sacramentos, que trazem ao homem a vida de Deus.
Esta doutrina era tão viva nos primeiros séculos, que os membros da Igreja não hesitaram em chamar-se "os santos" e a própria Igreja era chamada de "comunhão dos santos".
A santidade cristã manifesta-se, assim, como uma participação na vida de Deus, que se realiza com os meios que a Igreja oferece, em particular com os sacramentos.
A santidade: não é fruto do esforço humano, que procura alcançar Deus com suas forças: ela é dom do amor de Deus e resposta do homem à iniciativa de Deus. É Graça recebida e tarefa a cumprir.
A santidade não é uma realidade conseguida apenas no passado por umas pessoas privilegiadas, vivendo longe do mundo. Santos são pessoas como nós, que ainda hoje vivem a santidade de Deus, pelo testemunho de sua fé e fidelidade ao projeto de Jesus; homens e mulheres que lutam para serem justos e pacificadores, pobres e compassivos, puros de coração, segundo o espírito das Bem-aventuranças.
Pessoas de todo o tipo, desde o bom ladrão, que se salvou no finalzinho por um gesto de solidariedade com o companheiro de Cruz, até vidas inteiras dedicadas ao próximo. Ninguém será santo depois de morto, se não o foi quando vivo.
A festa de hoje nos lembra duas realidades:
1) o mundo da santidade: mundo imenso, onde os santos são inumeráveis. Mundo maravilhoso, onde muitos desses santos são nossos parentes, nossos amigos, gente grande e crianças que conhecemos. Mundo feliz realizando-se na vida de trabalho e sofrimento, de sonhos e realizações. Mundo de portas abertas, que cresce sem parar, e, cada dia que passa, vê chegar novos eleitos.
2) A nossa vocação à santidade: o mundo dos santos não é estranho para nós. Pelo contrário, todos somos chamados à Santidade, todos somos chamados a alcançar no mundo de hoje a plenitude da vida, que está nessa íntima união com Deus, fonte de toda a vida. "Todos os cristãos são chamados pelo Senhor à perfeição da santidade". (LG 31)
O objetivo dessa festa:
- Homenagear todos os santos que morreram no Senhor, conhecidos ou não...
- Apresentar o ideal da santidade, como possível ainda hoje e ardentemente desejado por Deus: "Esta é a vontade de Deus, a nossa santificação". (1Ts. 4,3) A santidade é participar da vida de Deus, que é "o santo". E sendo nós pecadores, supõe um processo de conversão permanente...
- Para sermos santos, Cristo nos deixou alguns meios: os sacramentos... a Igreja... a oração … a Palavra de Deus…
* Nas famílias, em que não há cinco minutos para a oração e para a Palavra de Deus, poderemos esperar frutos de santidade?
Acolhamos o apelo de Deus à santidade e que os santos sejam nossos modelos e intercessores nessa caminhada.
padre Antônio Geraldo Dalla Costa
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Todos os Santos
Celebramos a festa de todos os santos e somos levados primeiramente a adorar a Santidade única de nosso Deus! Só Deus é plenamente Santo, o três vezes santo!
Estamos chegando ao final de nosso ano litúrgico e somos convocados a meditar sobre as realidades finais que chamamos de escatologia, enquanto nos preparamos para a festa de Cristo Rei onde contemplamos o final dos tempos, e a restauração de tudo em Jesus. Deste modo somos levados a recordar nossos irmãos falecidos, a refletir sobre o julgamento divino e sobre a santidade. Assim hoje, devemos nos encher de alegria com muitos irmãos nossos que estão na glória celeste!
A celebração de hoje não é uma somatória dos santos canonizados, estes nos foram colocados como exemplo de vida. Como dizia santo Agostinho, ao contemplar os inúmeros mártires: “Se eles e elas puderam, por que eu não posso?”.  Hoje não celebramos também a festa do “Santo desconhecido” aos moldes das comemorações do “soldado desconhecido”. Hoje comemoramos todos os santos, isto é, todos os que estão na glória de Deus.
A primeira leitura (Ap. 7,2-4. 9-14) tirada do Apocalipse nos aponta a realidade da multidão dos santos diante do Altíssimo. Primeiro encontramos um número simbólico (cento e quarenta e quatro mil ou 12 x 12 x 1000) indicando a totalidade da comunidade cristã. Depois uma multidão imensa que ninguém conseguia contar, indicando a humanidade toda. Aqui temos um eco da promessa de Deus feita a Abraão, de que sua posteridade seria mais numerosa que as estrelas do céu ou as areias dos mares (Gn. 15,5).
 Muitos também que não conheceram Jesus e que não aderiram externamente a fé, mas que viveram os valores do Evangelho praticando o amor e a justiça, estão vitoriosos diante do Cordeiro.  Diz o texto que vieram da “grande tribulação”, isto não se refere apenas ao fim do mundo, mas aos sofrimentos da vida.  Eles enfrentaram as dificuldades do dia a dia, pareciam perdedores, mas foram vitoriosos no Sangue de Jesus.
Alguns pormenores são bem interessantes: o anjo que intervém para subtrair os homens do castigo vem do nascer do sol. Os israelitas esperavam a salvação que como o sol nascia no oriente (Ez. 43,2). A intervenção do anjo recorda a ação sempre gratuita de Deus que visa a salvação dos homens. Deste modo quando os cristãos sentem mais fortemente as provações, também percebem a presença de Cristo que os salva e os guarda (Ap. 3,10).
Também encontramos o simbolismo da marca ou selo de Deus, que nos remete a Ezequiel (Ez. 9,4) onde os homens de Deus são marcados com um “tau”, isto é, com uma letra muito semelhante a cruz. Deste modo podemos entender esta marca de Deus sobre a fronte das pessoas como o sinal de que elas lhe pertencem pelo batismo. De fato no batismo somos marcados na fronte com o sinal da cruz, e com o banho da água recebemos a vida da graça. Assim podemos compreender que os marcados por Deus são todos os cristãos. E estes estão com a veste branca, sinal de que foram purificados e reconciliados com Deus, por Jesus o Cordeiro imolado e glorificado. Também trazem nas mãos palmas que indicam a vitória sobre a tribulação (1Mc. 13,51).
A cena do apocalipse afirma que os homens são admitidos diante de Deus, e lá se realiza o culto celeste, de modo que de fato estamos diante de um povo sacerdotal.
Sem dúvida alguma a salvação pertence a Deus e nos vem através de Jesus Cristo, nosso salvador. É através de Jesus e de seu mistério pascal que recebemos gratuitamente a possibilidade de participarmos da vida de Deus, da vida sobrenatural. É de fato no sangue do cordeiro que fomos resgatados. E nunca podemos nos esquecer de que Deus deseja salvar a todos os homens.
Assim, o que hoje celebramos é a vitória definitiva sobre o mal, a dor e a morte de todos os resgatados pelo amor misericordioso de Deus. Olhar para a Jerusalém celeste deve encher-nos de esperança, cumular-nos de forças enquanto peregrinamos neste vale de lágrimas, e estamos enfrentando a “grande tribulação”. É sempre necessário manter a certeza de fé na vitória, mesmo quando tudo a nossa volta aponta para a derrota!
Poderíamos agora nos perguntar seriamente:
• Cremos que Deus oferece a todos a salvação?
• Como vai nossa esperança diante dos sofrimentos e provações?
• Vivemos de fato nosso ser de batizados trajando a veste branca de uma vida nova?
• Esperamos verdadeiramente a vitória definitiva do bem?

A segunda leitura (1Jo 3,1-3)  nos aponta o grande presente que é a vida da graça que recebemos. Somos de fato filhos de Deus, mas ainda não podemos perceber bem isto. Só compreendemos esta realidade na penumbra da fé, pois vivemos como filhos, mas isto não se manifesta claramente e nem pode ser visto com nossos olhos humanos. Mesmo assim, esta vida divina, presente gratuito de Deus, pode ser percebida pelos sinais concretos nas ações das pessoas que buscam sinceramente a Deus. Esta vida da graça, esta participação na vida divina, este novo ser, não nos é comunicado após nossa morte, mas nos é dado ainda nesta vida.  E será esta mesma vida que na eternidade se tornará plena!  Hoje celebramos nossos irmãos que estão na plenitude da vida.
A vida de Deus que participamos nos foi dado em nosso batismo, e para que ela cresça necessitamos sempre de agir com fé, esperança e caridade. A busca de crescer na vida da graça deveria ser o ideal de todo cristão. Nunca podemos nos esquecer de que a oração é um dos mais eficazes meios para crescermos em nossa vida sobrenatural.  Esta vida de participação na vida divina leva a pessoa a uma abertura sempre maior aos seus irmãos. Deste modo quem se esforça para ser todo de Deus, também vive como todo para os irmãos, numa atitude de partilha e serviço gratuito.
 Como disse Jesus: Deus é o Deus dos vivos e não o Deus dos mortos, e hoje lembramos que lá no céu junto do autor e Senhor da vida temos muitíssimos irmãos vivendo plenamente, e intercedendo por nós.
Será que:
• Buscamos de fato viver na graça de Deus?
• Somos abertos e disponíveis aos irmãos?
• Nos preocupamos em crescer numa vida de intimidade com Deus?
• Somos mesmo filhos de Deus em nossa vida prática?

O Evangelho (Mt. 5,1-12) das bem-aventuranças, no auxiliará na compreensão do caminho para a santidade. Jesus está no monte, lugar bíblico das grandes experiências do Povo com seu Deus. Ali ele está sentado, como o mestre que ensina solenemente a seus discípulos e sua palavra mostra profunda autoridade.
Jesus usa a palavra “bem-aventurado” o que indica felicitação ou congratulação, sentido já bem conhecido no Antigo Testamento.  Mas como entender que felizes são os pobres, os aflitos, os perseguidos, que lógica é esta? Será que Deus deseja o sofrimento aqui na terra para depois dar como recompensa a glória na eternidade? Esta seria uma imagem correta do Pai misericordioso que Jesus não cessa de nos apresentar?
Seriam os pobres melhores que os outros, ou mais disponíveis a Deus, só porque são pobres? É claro que Jesus não assume esta perspectiva errônea e moralista.
É bom lembramo-nos da mentalidade Oriental da época, inclusive da judaica, de que o Rei deveria estar principalmente ao lado dos mais fracos, daqueles que não tinham nenhuma influência social e política, dos que não tinham ninguém por si. Mas, também vemos na história de Israel que isto ficou apenas no ideal, muitos reis, foram cruéis e só pensavam em si.  Tudo isto cria uma esperança na intervenção de Javé com a vinda de um Rei justo e misericordioso para com os mais necessitados. Jesus é o pleno cumprimento desta esperança, ele vem para dar vida plena a todos e uma vida não só na eternidade, mas a partir desta terra.
Agora podemos entender porque Jesus proclama felizes os pobres e aflitos? É porque chegou a instauração do Reino, Deus resolveu intervir em favor dos sofredores e libertá-los. Deus vem para retirá-los das condições desumanas de vida, seja da miséria, ou mesmo dos diversos preconceitos que os excluíam da religião e da sociedade daquela época. Leprosos, estrangeiros, pecadores tidos como públicos, cegos de nascença, doentes, pobres, todos podem contar com a ação salvífica de Deus. Assim, o ensinamento do Senhor não é um ópio alienante para o povo como alguns afirmavam. Cristo não aponta como ideal a resignação com o sofrimento esperando a recompensa na eternidade, mas vida e uma mudança radical da realidade. Trata-se de buscar um mundo como Deus o deseja. O ideal de vida não é a miséria, e nem os miseráveis são mais santos que os outros só por serem miseráveis, o desejo de Deus é que todos possam ter vida digna.
Compreendido este núcleo essencial, entenderemos que as bem-aventuranças nos apontam atitudes de vida para a construção do Reino de Deus. Reino que caminha na dialética do, já e do ainda não. O Reino já está presente no mundo, mas ainda não plenamente. Por isto que diante deste Reino, o ser humano não pode estar indiferente, precisa mudar de vida.  E ainda mais, tem o ser humano a necessidade de ser instrumento de implantação e crescimento deste Reinado de Deus.
Vejamos rapidamente as propostas do Senhor:
Felizes os “pobres em espírito” trata-se dos humildes, daqueles que não se fiam na auto-suficiência, mas apresentam-se diante de Deus com as mãos vazias. Sabem que são necessitados de tudo, e carentes de Deus!  É a atitude daquele que percebe que tudo é graça de Deus e que somos sempre seus devedores. Atitude vivida de modo exemplar pela Mãe de Jesus, a serva do Senhor!  Sem esta atitude não se pode entrar no Reino de Deus! Por isto esta bem-aventurança é a fundamental. A seguinte que fala dos “aflitos”, os que sofrem neste mundo dominado ainda pelas forças do mal e da morte, nos leva a agir como os profetas e como Jesus: ser consolo, força e ânimo para que não desanimem (Is. 62,1-2).
Ainda é feliz quem é “manso”, não se trata de ser tonto aceitando tudo e nada criticando ou buscando mudar! Trata-se daqueles que nunca recorrem a violência para resolver os problemas. Existem outros métodos de solução bem mais eficazes. Quem é manso constrói um relacionamento com seu próximo de não-violência, e apresenta-se diante dos demais desarmado de qualquer tipo de couraça (Mt. 11,29; 21,5).
Felizes os que “tem fome e sede de justiça”, fome e sede são as necessidades mais fundamentais de nossa vida. Assim é feliz quem tem como prioridade de vida a busca da justiça, mas não de qualquer justiça, mas da justiça divina! Para nós fazer justiça é apenas castigar os culpados. Para Deus justiça é tornar justo o que errou. Felizes são aqueles que procuram e se engajam em fazer a vontade de Deus.
Felizes “os misericordiosos”, isto é, aqueles que tem verdadeira compaixão dos outros. Colocam se no lugar dos irmãos (compaixão = sentir com) e os ajudam concretamente. Os misericordiosos perdoam os que erram (Mt. 18,33), e também realizam diversas obras de misericórdia em favor dos seus semelhantes, e em especial dos mais necessitados (Mt. 25,35-37). São ações concretas que minoram, aliviam ou resolvem os problemas dos demais.
Felizes os “puros de coração”, aqui não se trata da pureza ritual tão apreciada pelos judeus e nem mesmo da pureza corporal, mas da pureza do coração, que é a capacidade de ver com os olhos de Deus as pessoas e a realidade. Puro é não ser alguém que vê em tudo falsidade, engano, dolo, mentira, etc. numa palavra, é ser simples (Sl. 24,3-4).
Felizes os “que promovem a paz”, isto é, aqueles que trabalham pela verdadeira paz entre as pessoas, grupos e nações. Paz que não é ausência apenas de guerra, mas um relacionamento bom e construtivo! São os que ajudam as pessoas a perdoar, os que buscam a reconciliação, os que detestam a guerra (Sl. 34,15).
Finalmente felizes os que “são perseguidos” ou por causa da justiça ou por causa do nome de Jesus!  Este ensinamento do Mestre aponta para as dificuldades que seus verdadeiros discípulos encontrarão. Para se manter fiel ao Evangelho o cristão enfrentará sempre sofrimentos e perseguições. A final o discípulo não é maior que o Mestre, não é verdade? (Mt. 10,16-15) Jesus nos dizia que se fizeram isto ao lenho verde, que é Ele, que farão ao ramo seco que somos nós? (Lc. 23,31) Mas quem sofre pela justiça ou pelo Cristo é feliz, pois não está só! A força vem sempre do Senhor, e a esperança da vitória também. Jesus venceu e com ele venceremos também, assim aconteceu na vida de tantos irmãos nossos que hoje celebramos na glória do céu. Eles optaram pelas bem-aventuranças, viveram o Evangelho, sofreram muito, pareciam derrotados, e hoje estão com a palma da vitória diante do Cordeiro na liturgia celeste.
Poderíamos dizer que infelizes são os que só tem os olhos deste mundo e que apostam no mal, no egoísmo, na guerra, na falta de perdão, e etc. estes sim são verdadeiros infelizes já mesmo nesta vida.
Celebramos a festa de todos os santos e somos levados primeiramente a adorar a Santidade única de nosso Deus! Só Deus é plenamente Santo, o três vezes santo! Toda santidade provém dele, ele é a fonte de santidade. Tudo que é de Deus é santo, assim nos mostra a Escritura Sagrada: o templo é santo porque é de Deus, o povo é santo por que é dele. Os homens todos são chamados a participarem da infinita santidade de Deus. E deste modo cada um, de acordo com sua personalidade e capacidade, realiza um aspecto desta santidade divina. Uns, brilham mais na misericórdia, outros no trabalho pela paz, outros na vida interior de oração, outros no serviço apostólico, outros na educação dos menores, outros na promoção da saúde, etc. De modo que se olhamos o conjunto dos santos teremos uma pálida idéia da santidade divina.
Com isto, não estamos diminuindo a resposta humana, mas afirmando a necessidade de nos sentirmos todos chamados a santidade, que nada mais é do que viver a vida divina que recebemos em nosso batismo. Ser santo não é fazer milagres em vida, ou ter um comportamento exótico, mas viver plenamente o Evangelho do Senhor no dia a dia de nossa vida, e no meio de nossas tribulações apostarmos nos valores do Reino.
Que esta festa eleve nosso ânimo, nos ajudando a assumir as atitudes que o Senhor nos recomenda no Sermão da Montanha.  Pés firmes nesta terra construindo o Reino, mas com os olhos voltados para o alto a meta definitiva. Que o olhar para a Jerusalém celeste, nos anime e conforte nos embates duros da vida e nos ajude a perseverar em nossa caminhada cristã.
Ainda nos lembremos hoje de tantos irmãos conhecidos nossos, amigos, benfeitores, professores, parentes, que já estão na glória de Deus.  Eles estão diante de Deus torcendo e rezando por nós. São exemplo de vida e vitória a nos encorajar em nossa caminhada.
Podemos pedir que os santos intercedam, ou orem por nós? Claro que sim! Se, temos confiança na oração de nossos irmãos que conosco caminham, devemos ter maior confiança nos que já estão diante de Deus. Se, pedimos muitas vezes aos outros, que rezem por nós, e confiamos nesta oração, por que não podemos pedir aos que estão junto de Deus? Afinal em todos os domingos, professamos: “creio na comunhão dos santos”. O que isto quer dizer?  É claro que nos aponta a união e a partilha de bens entre todos os que estão em Deus, os que peregrinam nesta terra e os que já estão na glória do céu!
Que nesta semana, tomemos o sermão da montanha e nos perguntemos seriamente se estamos trilhando os caminhos indicados pelo Senhor. Será que nossas atitudes estão contribuindo para que o Reino de Deus cresça neste mundo. Para isto seria muito oportuno usar o texto das bem-aventuranças como base de um profundo exame de consciência.
E jamais nos esqueçamos do grande convite do Senhor: Sede santos como o meu Pai é santo! (Mt. 5,48)
Que possamos ainda crescer na virtude da esperança, nunca desanimando diante dos desafios e dos sofrimentos, fundados na certeza de que Deus nos ama e que com ele venceremos!
Peçamos ainda que todos os santos intercedam a Deus por nós, para que possamos viver plenamente nossa vida cristã sendo fiéis ao Evangelho, e que possamos ser instrumentos eficazes para o crescimento do Reino de Deus nesta terra.
padre Antonio Heggendorn CP.
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Estamos celebrando a liturgia da solenidade de todos os Santos e Santas. Esta celebração deve ser temperada com os condimentos da felicidade porque nos conduz a vivenciar a alegria daqueles que testemunharam radicalmente, com suas vidas, o evangelho de Cristo. Como eles, nós também devemos dar o exemplo, pois, também, somos santos e santas porque fomos lavados na santidade do sangue do cordeiro pela força do batismo, através do qual somos convocados a enriquecer o cotidiano de nossas vidas com a santidade que recebemos do próprio Jesus. E, mais: por ele nos conceder a graça e a dignidade de podermos participar dos mistérios de sua mesa eucarística.
Nesse sentido, o evangelista Mateus quer nos mostrar que, enquanto as autoridades religiosas do seu tempo ocultavam o saber e o transformavam em poder para dominar o povo, Jesus dirige-se diretamente ao povo, ensinando gratuitamente a todos muito mais do que as autoridades conheciam. Por isso, vamos encontrar a verdadeira felicidade na perícope do Sermão da Montanha, onde Jesus proclama oficialmente a inauguração do Reino.
O Sermão inicia-se com a proclamação das "bem-aventuranças". No alto da montanha, Moisés recebeu as tábuas da Lei, com os mandamentos. Agora é Jesus que comunica as bem-aventuranças aos discípulos que se aproximam dele. Em vez da coerção dos mandamentos impostos a um povo privilegiado, Jesus oferece um programa de vida a partir de uma prática positiva de consolidação dos laços de convívio fraterno e universal. A pobreza, assumida interiormente, com convicção, é o desapego das riquezas que devem ser partilhadas.
Os que choram são os que sofrem e se sentem unidos e solidários com os excluídos, humilhados e explorados.
Os mansos têm um coração aberto, acolhedor e compreensivo.
Os que têm fome e sede de justiça lutam pela construção de uma sociedade mais justa.
Os misericordiosos perdoam e libertam os que têm uma consciência carregada de culpabilidade formada sob a ideologia do sistema opressor. Os puros de coração são sensíveis aos aspectos mais sutis da dignidade da condição humana. Os pacíficos criam laços de convívio fraterno com alegria e harmonia. A perseguição e a injúria são os sofrimentos impostos pelos poderosos contra aqueles que se empenham no estabelecimento da justiça.
As bem-aventuranças exprimem um estado de felicidade a ser vivido por aqueles que aderem ao projeto de Deus. Pela prática das bem-aventuranças, na plenitude do amor, somos, de fato, filhos de Deus (segunda leitura).
Nelas encontramos valores universais, que podem ser entendidos e acolhidos entre todos os povos, chamados a formar "uma multidão imensa, que ninguém podia contar, gente de todas as nações, tribos, povos e línguas" (primeira leitura)
As bem-aventuranças são o caminho concreto para a transformação deste mundo em um mundo de fraternidade, justiça e paz.
Fé e vida
Quero lembrar que Jesus anuncia o Reino de Deus e parte para a ação, mostrando que a justiça do Reino liberta a todos os que estão esmagados e diminuídos pela injustiça. Ao ver isso, todos vêm ao seu encontro, pois todos estão sedentos da justiça que os levará à liberdade e à vida (5,1). Mais perto de Jesus estão os discípulos (hoje, bispos, padres, diáconos, ministros extraordinários da Palavra e eucaristia etc.), aqueles que se comprometeram com sua pessoa, palavra e ação. Por quê? Porque é através deles que Jesus continuará a sua presença, palavra e ação, trazendo esperança para todos aqueles que, em todos os tempos e lugares, precisam da justiça para ter liberdade e vida. Contudo, para quem é esse Reino, e quem vai ajudá-lo a se realizar?
Justamente o contrário do que poderíamos pensar, Jesus proclama que os pobres é que são felizes. Por quê? Porque, com a vinda do Reino, que é a justiça que quer, e é evidente que nós também, todos os pobres serão libertos da escravidão e miséria em que vivem.
Saliento que Mateus enumera oito bem-aventuranças, mas é a primeira que chama mais a atenção, porque o evangelista não fala apenas de pobres, mas de “pobres em espírito”. O que significa isto? Quando Jesus fala dos “pobres em espírito”, se refere àqueles que descobrem a sua verdadeira condição diante de Deus. De fato, para vivermos dependemos primeiro de Deus e depois de todos os outros, nossos semelhantes. Entretanto, os ricos e poderosos pensam que podem comprar tudo ou conseguir tudo com o seu dinheiro e prepotência. Enganam-se. Poderão ter tudo e conseguir tudo o que imaginam, mas não terão liberdade e vida, que é o que inconscientemente queriam, e acabarão frustrados. O pobre não. Ele sabe que a vida e a liberdade dependem da partilha e da fraternidade. Sabe que a felicidade está em repartir o que se tem e o que se é. Isso é a justiça que Deus quer: partilha dos bens e partilha da liberdade, para todos juntos construirmos o futuro da vida humana. Só os pobres de espírito têm essa capacidade. Só os pobres de espírito entendem essa realidade de Deus na vida e na fé.
Mas Jesus sabe perfeitamente que existem pobres que têm espírito de rico. E quem são eles? São todos aqueles que, iludidos, pensam que serão felizes quando forem ricos. Aqueles que acreditam mais nas apostas das loterias do que no próprio Deus. Não há nada pior que um pobre com espírito de rico e nem há nada pior do que um rico que não sabe o significado da pobreza. Para Jesus, ser pobre é reconhecer-se verdadeiramente na condição de humano diante de Deus. É entender que Deus é Senhor de nossas vidas.
Deus é rico? Sim. Deus é muito rico. Mas é um rico que dá tudo o que tem para ser repartido entre todos nós. Então Ele é pobre de espírito? Sim, porque não é apegado à sua riqueza. Ele não a coloca acima de si mesmo e muito menos acima de suas criaturas.
Deus é poderoso? Sim. Mas entrega o governo do mundo e da história para todos nós, para que, juntos, construamos o futuro da vida. Essa é a justiça. Aprendendo a repartir a liberdade e a vida é que iremos construir o Reino de Deus, que é liberdade e vida para todos.
Quando todos nós nos fizermos “pobres”, que é a verdadeira condição da humanidade diante de Deus, tornar-nos-emos, com nossa fé e nossa vida, o farol que ilumina o caminha da história e o cimento que constrói uma sociedade verdadeira justa e fraterna. É nisto que consiste a vocação à santidade para a qual cada um de nós fomos chamados pelo próprio Deus quando, através de Jesus, nos disse: sede santo como vosso Pai é Santo.
diácono Miguel A. Teodoro
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A NOSSA FELICIDADE AQUI NA TERRA ESTÁ CONDICIONADA À NOSSA EXPERIÊNCIA PESSOAL COM O AMOR DE DEUS.
Jesus começa o Sermão do Monte com as bem-aventuranças. Para Ele é Bem-aventurado, é feliz ou abençoado; A pessoa que tem um caráter que, do ponto de vista mundano, as fariam infelizes. E sendo infeliz para o mundo seria feliz e por isso apto para o Reino de Deus
Neste Evangelho Jesus nos dá a receita para que sejamos Bem aventurados, isto é, cheios de ventura e de felicidade. Podemos então apreender que a nossa ventura e felicidade não dependem de nada que seja material nem tampouco de uma vida fácil e sem problemas.
O conceito de felicidade que o mundo prega é completamente diferente da felicidade que Deus planejou para a nossa vida. Pelo contrário, Jesus nos esclarece que para sermos bem aventurados nós precisamos experimentar a carência e a dependência da graça que nos vem do alto.
E assim, Ele proclama felizes, os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça (santidade), os misericordiosos, os puros de coração os perseguidos e injuriados por causa do reino. Jesus também coloca para cada bem aventurança uma conseqüência que é como um benefício para que alcancemos o estágio de bem aventurado.
Para avaliarmos se somos tudo isto a que se refere o Evangelho, nós precisamos verificar se estamos vivendo o reino dos céus, se nos sentimos consolados, se temos bons relacionamentos, se buscamos a santidade, se estamos provando a misericórdia, se temos comunhão com Deus e nos consideramos Seus filhos. Se estamos sendo perseguidos, mas mesmo assim vivemos alegres apesar das humilhações e dificuldades do reino. Bem aventurados seremos todos nós, se levarmos como bandeira a nossa Fé em Jesus Cristo e no que Ele nos ensina em Sua Palavra.
Ser pobre, aflito, manso, faminto, misericordioso, puro de coração, promotor da paz, perseguido, insultado, na concepção humana é, na realidade, uma infelicidade.
 
Porém, se nos aprofundarmos na sabedoria de Deus, o Espírito nos convencerá de que tudo isso é inerente à nossa condição humana, porém quando nos reconhecemos completamente dependentes da misericórdia do nosso Pai, então, todas essas dificuldades transformam-se em ocasiões para que experimentemos o Seu Amor infinito, e aí então, seremos realmente felizes.
Meu irmão, minha irmã, vamos refletir: Você já experimentou alguma vez a felicidade dessa maneira? Para você o que significa ser feliz, ou o que de fato faz de você um homem feliz ou uma mulher feliz? Você já foi perseguido por acreditar no reino de Deus? Você se sentiu bem aventurado? Diga, confias que Deus, pelo nome Poderoso de Jesus o alimentará e sempre matará a sua sede de justiça?
A nossa felicidade aqui na terra está condicionada à nossa experiência pessoal com o Amor de Deus. Nesse caso, todas as ocasiões em que somos mais provados são justamente os momentos em que mais nós temos a amostra da ação de Deus na nossa vida.
Amém.
Abraço carinhoso de
MARIA REGINA
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Bem-aventurados vós, pobres. Mas, ai de vós, ricos


Neste Evangelho, Jesus proclama as bem-aventuranças, na versão de Lucas. Primeiro ele “levantando os olhos para os seus discípulos”. Sinal que as bem-aventuranças acontecem especialmente com os discípulos.
As bem-aventuranças são Evangelho, alegre notícia dirigida aos pobres de Deus. Elas vêm confirmar a transformação social anunciada no magnificat.
De fato, os pobres são os preferidos de Deus em toda a revelação bíblica, e são os primeiros destinatários da Boa Nova trazida por Jesus (Cf Lc 4,18-19).
Mt 5,1-12 traz oito bem-aventuranças. Lucas traz apenas quatro, mas acrescenta quatro ameaças: “Ai de vós...” Essas ameaças esclarecem o sentido das bem-aventuranças, tanto de Mateus como de Lucas. Porque muitos, ao explicar esta passagem bíblica, dizem que a palavra “pobre”, para Jesus, significa “desapegado”; e “rico” significa “ganancioso”. Na prática, isso é torcer a Bíblia para que ela não me questione. Pobre aqui é pobre mesmo, e rico e rico mesmo.
A felicidade messiânica dos pobres, dos famintos, dos que choram e dos perseguidos por causa da fé cristã comprometida, contrapõe-se à situação perigosa dos ricos, dos que têm fartura, dos que riem e dos que são aplaudidos por todos.
As Bem-aventuranças são um caminho de felicidade diametralmente oposto ao apresentado pelo mundo pecador. Os cristãos são felizes exatamente naquelas situações que, segundo o mundo, trazem a infelicidade. Veja o contraste: para o cristão, felizes os pobres; para o mundo, felizes os ricos. Para o cristão, felizes os que agora choram; para o mundo, felizes os que agora riem... Por aí vemos que dois milênios se passaram e a humanidade ainda não entendeu nem vive o Evangelho de Jesus.
As Bem-aventuranças estão baseadas em duas grandes verdades: 1) A vida cristã autêntica, devido à oposição do mundo pecador, leva à pobreza, à aflição etc. 2) Deus assiste os seus filhos e filhas queridos, a ponto de inverter a situação, transformando em felicidade o que seria infelicidade, em alegria o que seria tristeza. Portanto, a felicidade dos cristãos não está nesses tropeços (pobreza, perseguição...), mas na intervenção de Deus em favor dos seus filhos queridos.
“Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos. Se o mundo não nos conhece, é porque não conheceu o Pai” (1Jo 3,1-3).
(Irmãos), os que tiram proveito deste mundo, (vivam) como se não aproveitassem. Pois a figura deste mundo passa” (1Cor 7,31).
Ao contrário dos dez mandamentos, as bem-aventuranças não são leis, nem mandamentos, nem sequer conselhos. São simplesmente a constatação e a descrição de um fato que acontece todos os dias em nossas Comunidades e em nossas famílias. A vida cristã no meio do mundo pecador gera tristezas, que Deus, em seu poder, transforma em alegrias.
Jesus não está também dizendo que ser pobre e ser odiado é bom. Nem que esses tropeços da nossa vida são valores. Também não quis dizer que a felicidade está em ser pobre, ser insultado etc. A felicidade está em ser filho de Deus.
Portanto, não devemos procurar esses infortúnios (pobreza, ser odiado, insultado...). O que devemos é ter paz em meio a todos esses contra tempos, vendo neles um sinal de predileção de Deus e um sinal de que estamos no caminho certo, no seguimento do Evangelho.
As Bem-aventuranças são uma realidade que vemos todos os dias estampada no rosto das Comunidades cristãs. Os cristãos enfrentam as maiores dificuldades, até o martírio e, em meio a tudo isso, trazem no rosto um sorriso que ninguém consegue imitar, e que é identificado até numa fotografia.
S. Francisco de Assis, no final de sua vida, vivia angustiado com a seguinte pergunta: “Será que Deus está contente comigo, com o que eu fiz?” Em suas orações ele pedia todos os dias a Deus: “Senhor, dê-me um sinal, mostrando se tudo o que eu fiz foi ou não do seu agrado!” De fato, o único desejo de Francisco era agradar a Deus.
Numa noite, quando ele acordou, percebeu que estava com as chagas. Parou a angústia, porque ele viu nas chagas um sinal de amor de Deus por ele, unindo-o com o seu Filho amado, Jesus Cristo. E daí para frente Francisco ria até às orelhas.
E foram cinco feridas dolorosas: uma em cada mão, uma em cada pé, e uma no peito. Elas deram trabalho para Francisco. Ele tinha de fazer curativos e um longo tratamento. Inclusive, elas limitaram um pouco as suas atividades.
Que paradoxo, não? Ver como presente de Deus e como sinal do seu amor, cinco dolorosas feridas! Encontrar a felicidade em chagas! E isso que Deus fez com Francisco, faz também conosco. Nós não procuramos a cruz, mas, quando ela vem, justamente pelo fato de estarmos seguindo a Jesus, nós a vemos como um presente de Deus. A festa de S. Francisco das Chagas é dia dezessete de setembro. “Bem-aventurados vós que agora chorais, porque havereis de rir!”
Existe uma Bem-aventurança que não está, nem neste texto de Lucas nem no capítulo quinto de Mateus. Ela está em Lc 1,45, foi dita por Isabel e se refere à Mãe de Jesus: “Bem-aventurada aquela que acreditou, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido”. Que Maria nos ensine a amar e viver as Bem-aventuranças.
Bem-aventurados vós, pobres. Mas, ai de vós, ricos.

Padre Queiroz

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“BEM AVENTURADOS SOIS VÓS”...
O sonho de Deus é que todos nós sejamos felizes!
Na sua infinita bondade, Ele colocou ao nosso alcance, todos os meios para que este Seu sonho se concretize em nós!  Ofereceu-nos o Seu filho como  caminho de felicidade, mas nós, muitas  vezes, filhos ingratos, deixamo-nos seduzir por outras propostas de felicidade que não condiz com  o Seu plano! O desejo do ter, do poder e do prazer nos distancia dos valores do Reino!
 Deus quer nos ver feliz e ser feliz, é também o que mais queremos, mas quando deparamos com esses dois caminhos distintos: o caminho de Deus e o caminho do mundo, que exige de nós  uma escolha, tendemos a escolher o caminho mais curto e numa busca desenfreada de algo que nos satisfaça  de   imediato, acabamos  caindo nas ciladas do mundo, deixando- nos iludir  com momentos de uma felicidade ilusória, sem consistência, que muitos vezes nos leva ao sofrimento. Ainda não compreendemos que a felicidade não é algo comprável, que não está nas coisas matérias, que não significa ausência de dificuldade!  Precisamos compreender que a felicidade é uma  eterna construção, que começa a partir de um encontro conosco mesmo e que  se plenifica quando descobrimos o verdadeiro sentido do nosso existir!
Quando descobrimos o verdadeiro sentido da vida, o para quê viemos ao mundo, torna mais fácil entender que a nossa vida não nos pertence, que não somos donos de nada e que estamos aqui na terra só de passagem! É a partir desta compreensão que partimos  para o grande desafio: Ser feliz até mesmo no sofrimento!
Quando nos esvaziamos de nós mesmos, tornamos pobres, totalmente dependentes da graça de Deus e tudo que mais desejamos é  fazer a Sua vontade! As dificuldades do dia a dia, as perseguições, ao invés de nos aborrecer, nos alegram  porque temos a certeza de que seremos recompensados pela felicidade de sentir a força de Deus agindo em nós!
Ninguém busca o sofrimento, mas ele é inevitável em nossas vidas, saber aproveitá-lo como trampolim para a nossa ascensão, é também ser feliz!
Se crermos, verdadeiramente no amor Deus, nunca vamos ser  derrotados pelas adversidades da vida, pois em Deus depositamos toda nossa segurança, com Ele venceremos todos os desafios!
Quem é feliz, tudo que mais deseja é agradar a Deus e o evangelho é um convite a vivermos  as virtudes que O agrada, por isto, não devemos nos privar  nunca, de saciarmos a nossa sede, nesta  fonte inesgotável de ensinamentos: o santo evangelho!
Quanto mais conhecemos a palavra de Deus mais nos envolvemos no inefável mistério do Seu amor!
No evangelho de hoje Jesus faz uma consolação a todos aqueles que hoje estão totalmente desprovidos das benéficas do mundo!
As bens aventuranças, não são mandamentos, podemos dizer que  são caminhos de santidade, um abandonar-se nos braços de Deus, um  não estar preso as coisas do mundo!
O conceito de felicidade que o mundo prega, é completamente diferente da felicidade que Deus planejou para todos nós! Jesus nos deixa claro que para sermos  felizes precisamos experimentar  a dependência da graça que nos vem do alto! E assim, Jesus proclama: “felizes, os pobres em espírito, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça os misericordiosos, os puros de coração os perseguidos e injuriados por causa do reino”! 
Passar fome, chorar, ser perseguido, odiado, amaldiçoado são situações que não agradam a Deus, situações  que são vistas de acordo com a mentalidade do mundo, como infelicidade. Porém, para quem vive nessas realidades, mas permanece firme na perspectiva de fazer a vontade de Deus, vivendo os valores do  evangelho, essas injustiças são revertidas  para o seu bem, servindo  de motivação para que ele possa experimentar  cada vez mais, o poder e a força de Deus na sua vida!

Alegremo-nos por confiar na realização das promessas de Deus! 
É o próprio Jesus que nos garante: “Alegrai-vos e exultai, pois será grande a vossa recompensa no Céu”.

Olívia Coutinho 
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Os Bem-Aventurados!
                                                   
Quem é rico e quem é pobre diante de Deus? Certamente que essa pobreza e essa riqueza citada no evangelho., não é a simples posse ou não, de bens materiais. O que Lucas coloca como eixo temático desse evangelho é a nossa relação com Deus e a nossa relação com  os bens materiais. Em nossas comunidades há pobres egoistas, mas há também ricos generosos. Se alguém é pobre no sentido material, mas se apega egoísticamente ao pouco que tem, nesse evangelho ele é considerado rico.
Que Deus está acima de qualquer riqueza, disso não deve haver a menor dúvida para nós cristãos, mas há um porém, a nossa conduta e o nosso procedimento, muitas vêzes não condiz com essa verdade na qual cremos. Isso porque, o capitalismo nos apresenta outra verdade, só é feliz quem TEM patrimônio e uma gorda conta bancária. A riqueza está sempre de mãos dadas com o Poder, o prestígio e o sucesso, e nessa condição de todo poderoso, o homem começa a sentir coceira de poder fazer tudo e o que quiser, ocupando então o lugar que é de Deus, é esse o grande problema pois diante de Deus, seremos eternamente necessitados e dependentes, sejamos ricos ou pobres no sentido material, pois  a posse de bens materiais cria no coração e na mente do homem a ilusão de um Poder que vai além....É por isso que o Ser humano comete tantas atrocidades, porque acha que tudo pode.
Os Bem Aventurados citados por Jesus são os que souberam fazer a escolha certa, anseiam por um mundo melhor onde o Homem possa ser feliz por aquilo que ele é, não pelo que tem. ser pobre nesse sentido é colocar somente em Deus toda confiança, haverá fome e choro, porque o Reino desejado no fundo da alma ainda está em gestação, já chegou com Jesus, mas terá que ser construído no dia a dia.
Os Bem Aventurados devem sempre estar preparados para o confronto, pois tudo o que contraria a Felicidade terrena, ditada pela Pós Modernidade, será repelido, rejeitado e até perseguiido. Ser discípulo é navegar contínuamente contra a correnteza....O prazer e a alegria será muito maior....
Diac. José d Cruz


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"Todos os Santos"–


VIVER HOJE O AMANHÃ...
Ser santo não é uma decisão do homem mas uma resposta ao convite que Deus nos faz em Jesus Cristo: Sede perfeitos como o vosso Pai é perfeito! Perfeição nesse sentido, nunca foi e nem será o forte do homem, feito de barro, vulnerável ao pecado, sujeito a tantas fraquezas, marcado por tantas limitações.Se santidade fosse isso, Deus seria o maior dos injustos, pois é o mesmo que um homem perfeito sair em disparada e pedir para que um deficiente físico o acompanhe nessa corrida. Nunca teríamos a menor chance de ser santos. Há ainda outra corrente que acha que a santidade é apenas para alguns, que têm uma conduta exemplar, são pacientes, tolerantes, dóceis, calmos, prestativos, solidários, educados, nunca perdem a cabeça e o equilíbrio, nunca reclamam de nada e aceitam tudo, sendo bondosos o tempo todo. De pessoas assim, é melhor manter distância e ser cauteloso, porque me dizia um padre muito amigo, o santinho de hoje pode ser o diabinho de amanhã!
Ser calmo ou ter os nervos a flor da pele, ter equilíbrio emocional, demonstrar serenidade, ser amável e dócil, ser prestativo e educado, sem dúvida que são belas virtudes, mas não necessariamente um indicativo de santidade, pois conheço histórias de grandes santos que eram bem temperamentais. Há ainda outro conceito perigoso de santidade, que é ter o poder de realizar coisas prodigiosas, os chamados milagres. Conheço pessoas descrentes de Deus e da igreja, e que contudo praticam essas virtudes. E já tive conhecimento de curas operadas por pessoas de outras correntes religiosas, até opostas ao cristianismo.
A idéia de que santidade é coisa restrita de alguns homens e mulheres especiais, parece-me um tanto quanto equivocada, pois o visionário do apocalipse afirma categoricamente na primeira leitura, que se trata de uma multidão, de onde se conclui facilmente, que santidade é uma proposta de vida que Deus faz a toda humanidade, onde Jesus Cristo é o modelo e a referência máxima, nele a gente se encontra como Filho de Deus, não mais desfigurado pela corrupção do pecado, mas liberto, vitorioso e perfeito como fomos criados e concebidos pelo Pai. Somente Nele, com ele e por ele seremos santos! Mas encontrei nas leituras dessa "Festa de Todos os Santos", uma definição ainda mais bonita e completa do que é a Santidade - "Viver hoje o amanhã".
É preciso ter os pés no chão, pois uma coisa é enfrentar com coragem os desafios do presente e buscar soluções concretas, o outro é camuflar a situação, fazendo uma belíssima coreografia, sem mudar o cenário! É maquiar para parecer belo! A copa do mundo que vai acontecer no Brasil em 2014, será um desses momentos, de grande ilusão e utopia.
As bem aventuranças proclamadas solenemente por Jesus, no alto de um monte, são profundamente realistas: a Primeira e a Oitava, trazem o verbo no presente, "...porque deles é o Reino dos Céus", ao passo que as demais, usam o verbo no futuro, "porque serão, verão, alcançarão...".   Ser pobre em espírito é fazer de Deus a sua única riqueza, é possuir já nesta vida a plenitude da vida futura. É ser discípulo e estar em constante aprendizado a partir do evangelho, vivendo hoje tudo o que cremos e esperamos no amanhã. Esta postura diferente trará incompreensão e perseguição mas em compensação, a alegria será verdadeira, porque não se fundamenta naquilo que se vê, mas sim no que se espera.
Jesus Cristo trouxe o futuro até nós, sendo precisamente esta crença e esperança que nos faz ter uma identidade própria, fomos marcados para fazer a diferença neste mundo tão descrente, que não consegue vislumbrar a Vida Nova,, para a qual fomos destinados por Deus, desde o início da Criação.
Diac. José d Cruz
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Bem-aventurados os que vivem como Jesus viveu.



No evangelho de hoje, Jesus nos apresenta as bem-aventuranças, dizendo, bem-aventurados os pobres em Espíritos, os aflitos, os mansos, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz, os que são perseguidos por causa da justiça, os que sofrerem injurias e perseguições por causa de Jesus, alegrai-vos, sois felizes pois vossa recompensa está nos céus.
Com o sermão da montanha, as bem-aventuranças, Jesus dá, devolve a esperança ao povo pobre, sofrido, oprimido, perseguido, que deve ser alegrar com seus ensinamentos, sua mensagem de vida, libertação e do amor de Deus por todos. Jesus viveu as bem-aventuranças, e elas são as virtudes que nos motivam a seguir e viver o como Jesus, é um convite, nos chama a ser santos, a nos transformar.
Para quem tem o hábito de ler a Bíblia, o Sermão da montanha é uma leitura que nos dá força, nos consola, nos dá esperança, nos anima, quando estamos passando por momentos de grande dificuldade na vida. Sempre faço essa experiência, é uma experiência que renova, transforma, fortalece e consola nos momentos de sofrimento. É o amor de Jesus, a sua proximidade de nós que nos dar força para vencermos. Para sermos felizes, aqui na terra, é preciso que durante a nossa vida, sigamos o caminho que Jesus nos mostrou. O caminho da humildade, da misericórdia, da pureza de coração, promover a paz, se reconhecer pecador, se arrepender, ser obediente a Deus, ser fraterno, e assim participarmos do Reino de Deus. Mesmo que nos pareça contraditório, viver as bem-aventuranças é caminho para tornarmos o mundo, em mundo melhor, mais feliz, mais justo, e de paz. E só podemos seguir esse caminho, se acreditarmos, se confiarmos totalmente nossas esperanças e nossa vida a Deus. Assim deve ser a vida de um discípulo de Jesus, viver de acordo com os valores do Reino de
Deus, viver a partilha, a igualdade, a fraternidade, a paz e a justiça.
Um abraço a todos.
Elian.
Oração
Senhor Jesus, não permitas que eu me curve aos caprichos do mundo, e faze-me caminhar firme na estrada das bem-aventuranças.
 Coloca-me no caminho da santidade, a ser construída na entrega confiante de minha vida nas mãos do Pai, e na misericórdia para com meu próximo
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BEM-AVENTURADOS

O mundo do revés
Há Igrejas nas quais encontramos placas que recordam o nome dos que doaram os bancos ou contribuíram na construção ou nas obras das reformas. Em muitas delas, figuram com letras maiores o que doaram mais dinheiro. A ordem de precedência em nossa sociedade, também em nossa igreja, é muito importante. Não é o mesmo um ministro que um diretor geral como não é o mesmo um bispo que um arcebispo ou um cardeal que um diácono. Nosso mundo tem ordem e hierarquia. Uns estão acima e outros estão abaixo. Os que estão acima costumam rir e ter muito mais que os que estão abaixo. A estes lhes tocam chorar e passar mais penúrias. Sempre tem sido assim e parece que sempre será.

Todas as tentativas para mudar esta ordem das coisas têm sido inúteis. A história termina devorando os revolucionários. Como diz o corrido mexicano: “meu pai foi peão de fazendo / e eu revolucionário / meus filhos puseram loja / e meu neto é servidor público.”

Mudar o mundo 

Jesus é dos que acha que as coisas podem mudar. Sua experiência de Deus, sua relação profunda com o Abbá, diz-lhe que outro mundo é possível e que vale a pena trabalhar por ele. Daí suas palavras no texto evangélico deste domingo. A primeira parte de seu discurso soa-nos melhor. São as bem-aventuranças: uma série de bênçãos. Já as conhecemos. Falam do amor de Deus aos mais marginalizados, aos mais pobres, aos que lhes tocou a pior parte neste mundo.

O que nos custa aceitar é a segunda parte de seu discurso: as maldições. Como é possível que Jesus pronuncie essas palavras de condenação para os ricos, os que estão saciados, os que riem e os que são reconhecidos pelos demais? Não era necessário. Algum psicólogo talvez nos falasse de um desejo inconfessado de revanche, de vingança, contra aqueles aos que, sem culpa, lhes tocou a parte boa deste mundo. Talvez teria que recordar a Jesus que “os ricos também choram.”

Não há que dar voltas. As palavras de Jesus não se ajustam à nossa forma de pensar. Somos nós os que devemos escutar atenciosamente e com o coração aberto o que Jesus nos diz por mais surpreendente que nos possa ser. Jesus pronuncia bênçãos e maldições. Há uns que são os preferidos de Deus e outros aos que Deus afasta de sua presença. Há que sublinhar que os critérios de Deus são precisamente os opostos aos que usamos habitualmente na Igreja e na sociedade.

O Reino é para todos 

Aqueles aos quais se amaldiçoa têm em todo caso uma via de escape. Primeiro deve fazer o esforço de sair de sua cômoda situação para aproximar-se dos preferidos de Deus. Talvez assim possam recolher alguma das migalhas que caem da mesa do banquete do Reino. Porque alguns não têm visto nunca a realidade da pobreza. Entre eles e essa realidade sempre têm estado os vidro escuros de seus carros ou os óculos de sol, que os impedem ver para além do que querem ver.

Mais ainda. Não é impossível que os que se sentem saciados encontrem o pão e o vinho que são o verdadeiro alimento que dá Vida. Mas para isso têm que fazer também algumas renúncias. Têm que chegar a sentir fome e que seja para valer. Têm que deixar de pôr a confiança em seus bens e começar a pôr no Senhor e nada mais que no Senhor, como também nos diz o profeta Jeremias. E abrir a mão e os olhos para compartilhar o que têm com seus irmãos e irmãs, com esses que são os preferidos de Deus – ainda que eles mesmos não o saibam em muitas ocasiões .

Hoje as palavras de Jesus são um golpe em nossas consciências.
 Onde estamos? Onde queremos estar? Onde encontraremos a verdadeira Vida? Porque Jesus não quer o mundo como está senão ao contrário, como o quer seu Abbá.
Fernando Torres

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