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domingo, 1 de julho de 2012

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sábado, 30 de junho de 2012

FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO


Veja este blog de cara nova

DOMINGO DIA 1º DE JULHO


FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO


Introdução

                   Com a evolução da tecnologia da construção civil, notamos que recentemente estão construindo edifícios muito altos, de 35 a mais de 40 andares. E em algumas cidades litorâneas cujos solos são de sedimentação marinha, máquinas gigantescas  perfuram o mangue muitos metros até atingir a rocha matriz, a qual dará sustentação às PILASTRAS MESTRAS que são construídas pelo enchimento daquela perfuração com cimento armado (e são apoiadas na rocha matriz), dando assim a sustentação necessária aos enormes arranha-céus modernos. Só quatro coisas me preocupam:
1-Com o tempo, a rocha matriz lá embaixo tende a se desintegrar. E este desgaste pode não ser por igual. Isso não é perigoso para o equilíbrio da torre gigantesca?
2-Em caso de um possível terremoto, ou furacão, qual a garantia que temos daquela torre não ser abalada?
3- Tantas residências novas estão sendo construídas, e não vejo nenhuma obra de ampliação da rede de esgoto. Isso vai dar... m...  mesmo certo?
4- E em caso de incêndio? Foi tudo planejado. Certo?

         Pedro e Paulo foram as gigantescas pilastras de sustentação da Igreja desde o seu início até hoje.
Assim como as pilastras dos novos edifícios têm como ponto de apoio ou base de sustentação a rocha matriz lá em baixo no sub-solo, a rocha de sustentação de todo o trabalho inicial desses dois gigantes da Igreja, foi o Próprio Deus na pessoa de Jesus Cristo, o qual esteve do lado deles o tempo todo, assim como está também do nosso lado nos impulsionando, encorajando, estimulando, apoiando, ajudando e ensinando a evangelizar este mundo sem Deus.

         Celebramos hoje a festa das duas colunas mestras da Igreja: são Pedro e são Paulo. Pedro, que apesar de negar a Jesus por três vezes, foi escolhido por Ele para ser o primeiro papa da Igreja. Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa sua vocação de ser “pedra”, rocha matriz que dá sustentação às pilastras da Igreja; Ou seja para que Jesus edifique sobre ele a comunidade daqueles que acreditam em Deus e seus mistérios.
         Assim, Pedro e Paulo são as duas pilastras sobre as quais Jesus construiu a sua Igreja, a qual foi iniciada por eles, que tinham a missão de continuar a obra salvadora de Cristo.
         Pedro recebe plenos poderes: "Tudo o que ligardes na  Terra será também ligado no Céu". "Sobre ti edificarei a minha Igreja e as portas dos infernos não se prevalecerão contra ela..." Por isso, podemos ficar tranqüilos, pois essa promessa de Cristo não é apenas à pessoa de Pedro, mais se estende a todos nós engajados e compromissados com o Reino de Deus.
         Pedro foi o primeiro Pontífice e é por isso que hoje também comemoramos o dia do papa, o substituto de Pedro através dos tempos.
         Paulo, após a experiência com Cristo na estrada de Damasco, transformou-se: de perseguidor dos cristãos a qualidade de fundador carismático da Igreja; De perseguidor, transforma-se em mensageiro de Cristo, “apóstolo”, grande pedagogo que explicou a missão, a mensagem  e a vida de Cristo. Paulo não só explicava tudo isso, como dava testemunho de Cristo. E é assim que devemos ser. As cartas de Paulo forma um verdadeiro tratado de teologia, que devemos ler e meditar.
         Paulo, após terminar a sua missão, ofereceu sua vida como oferenda adequada a Deus. Façamos nós o mesmo!

         E hoje? Quais são os Pedros e os Paulos que sustentam a  Igreja contemporânea que caminha pelas estradas tortuosas, cheias de pedras e vales perigosos conduzindo os cristãos a merecerem um dia alcançar uma morada eterna?
         São os catequistas: Padres, freiras, cristãos engajados, que a exemplo principalmente de Paulo, levam corajosamente a mensagem de Cristo àqueles que precisam dela para a sua salvação.  Os Pedros e  Paulos atuais são os padres que ofereceram suas vidas em oferenda viva a Deus, pela causa do Reino. São eles que num esforço sobre-humano, vencem as tendências contrárias à sua missão:
1-As tendências opostas internas representadas pelos os seus impulsos instintivos;
2-As tendências externas, que são as muitas tentações de um mundo sem limites que insiste em nos convencer que o pecado não é mais pecado.
         E é um esforço sobre-humano, pois se dependessem apenas de suas forças humanas, nada conseguiriam. Eles sobrevivem a graça e a fé, por que o Espírito de Deus está com eles, por eles e neles. "Eis que estarei convosco até o fim dos tempos".
         Prezados Irmãos. Sejamos nós também seguidores e imitadores de Pedro e Paulo.
Sal.

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FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO, APÓSTOLOS 01/07/2012
1ª Leitura 12, 1-11
Salmo 33 (34) “Procurei o Senhor e Ele me atendeu, livrou-me de todos os temores”
2ª Leitura 2 Tm. 4,6-8. 17-18
Evangelho Mt 16, 13-19

"A FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO" – Diac. José da Cruz

A Festa de São Pedro e São Paulo, que celebramos nesse domingo, nos faz pensar na origem de nossas comunidades. Como tudo começou? Quando foi a primeira celebração, quem fez? Como é que a comunidade cresceu e se desenvolveu para chegar aos dias de hoje? Uma coisa é muito certa, o fundador ou fundadores, deve ter feito uma experiência muito profunda com Jesus Cristo, pois sem isso, a comunidade não teria um alicerce, alguém em quem apoiar-se para poder crescer e cumprir a sua missão.
Comecemos a falar primeiro de Paulo, cuja teologia, isso é, o modo como ele começou a pensar as coisas de Deus, depois do encontro com Jesus no caminho para Damasco, foi tão marcante na vida das comunidades, que esse apóstolo é mencionado como o segundo fundador da nossa Igreja. De fato, seria difícil pensarmos em uma igreja universal, presente no mundo inteiro, em outras culturas e nações, sem nos lembrar de Paulo, aquele que pregou aos gentios que eram pessoas de outra cultura. Paulo não ficou só na mística, se assim o fizesse, teria fundado uma outra religião e arrastaria milhares de adeptos, porém, sistematizou alguns pontos doutrinários importantes, organizou as comunidades que havia iniciado, e o mais bonito, mesmo pensando um pouco diferente do Chefe dos Apóstolos, manteve-se firme em comunhão com ele e os irmãos da Igreja de Jerusalém, com quem aliás, sempre foi solidário , ao organizar coletas que levava para a Igreja mãe.
São Paulo é o modelo fiel do cristão autêntico, que faz a experiência com Jesus, se encanta com o seu ensinamento, desfaz o seu projeto de vida por causa dele e torna-se um fiel seguidor do evangelho, dando por ele a própria vida como aconteceu em seu martírio. São Paulo sempre acreditou nas comunidades, mesmo quando havia indícios de desunião, problemas internos, contendas e divisões, acreditava nas pessoas e mantinha com elas uma boa relação, mesmo que se tratasse de Pedro, que tinha uma linha mais tradicionalista, causa de algumas divergências bastante sérias entre ambos mas Paulo nunca deixou de amá-lo por causa disso. Ele mesmo manifestava essa sua flexibilidade, quando afirmava que se fazia um com todos e não tinha dificuldade de conviver com as pessoas. Outra coisa importante na pessoa de Paulo, é que ele promoveu uma ação evangelizadora em ambiente hostil á Cristo e ao seu evangelho, era corajoso e nunca teve medo de anunciar a Verdade.
Isso nos leva a pensar que muitas vezes somos negligentes, quando ficamos esperando que as pessoas venham procurar nossa pastoral ou movimento, parece que a gente não se sente seguro para falar do evangelho no meio do mundo, lá onde as pessoas precisam escutar esse anúncio, porque achamos que não vão gostar e que algumas vão ser contra. Se São Paulo pensasse assim, milhares de pessoas, ontem e hoje, não teriam conhecido a Jesus.
São Pedro é chamado o príncipe dos apóstolos, isso é, aquele que iniciou o apostolado, e vemos no evangelho de hoje, porque o próprio Cristo o constituiu chefe da sua igreja. Ele conseguiu enxergar em Jesus algo muito mais do que se falava, o povo via nele um Messias Profeta, comparável a João Batista ou a Elias, outro grande profeta na História de Israel, mas esse pensamento era fruto de uma ideologia, e a era messiânica que todos aguardavam com ansiedade, representava uma nova política, uma inversão do quadro, o Messias era um libertador Político, enviado por Deus sim, porém, com uma missão terrena.
O apóstolo Pedro, que fala em nome do grupo, consegue fazer essa transição, do Messias Histórico e Ideológico, para o Messias Espiritual, ele não era enviado por Deus mais sim o próprio Deus. O que Jesus falava e fazia, todos viam, e a partir disso embalavam o sonho e a esperança de dias melhores para o povo de Israel, mas sempre em uma perspectiva terrena.
A confissão de Pedro manifesta pela primeira vez no meio do grupo, a Fé em uma Salvação que supera toda e qualquer realização humana, onde o homem atinge a plenitude do seu ser, divinizando aquilo que é humano. Cesaréia de Filipe é terra de pagãos, cercado por rochas sobre as quais há edificações habitadas pela elite do império romano. A igreja de Cristo está no meio do mundo, porém edificada sobre a fé professada por toda comunidade, que tem como base a fé professada por Pedro, naquele dia.
Como Pedro e Paulo, que sejamos nessa igreja um apoio seguro para os que ainda não crêem, porque não conhecem a Cristo e acima de tudo, nunca nos esqueçamos que Jesus Cristo edificou o reino sobre pessoas como Pedro e Paulo, instrumentos aparentemente fracos, mas que pela ação da graça operante e santificante do Batismo que receberam, tornaram-se perenes, transpondo fronteiras e todas as barreiras que separa os homens, para anunciar Jesus Cristo, o Filho de Deus, aquele que plenificou o nosso existir. (São Pedro e São Paulo MATEUS 16, 13-19)

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DIA 1º DE JULHO DOMINGO
Mt 16,13-19

Tu és Pedro e eu te darei as chaves do Reino dos Céus.
Hoje é com alegria que nós celebramos a solenidade de S. Pedro e S. Paulo. Eles são chamados de “colunas da Igreja”, porque Pedro foi o seu primeiro chefe, e Paulo o primeiro propagador entre os pagãos. Por caminhos diferentes, os dois testemunharam Jesus Cristo, inclusive entregando a vida por ele.
O Evangelho narra o momento em que Jesus confere a Pedro o Primado na Igreja: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do inferno nunca poderá vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”. Veja que Jesus fala “minha Igreja”. Se é dele, ele tem autoridade para determinar quem é o chefe. Nós agradecemos a Jesus a clareza com que ele instituiu Pedro como o chefe supremo da Igreja. Só está unido com Cristo quem está unido com a Igreja; e só está unido com a Igreja quem obedece filialmente ao Papa.
E agradecemos a Deus a sucessão de S. Pedro, que nunca foi interrompida. O Papa Bento 16 é o 266º sucessor de S. Pedro na cátedra de coordenador geral da Igreja. Por isso hoje é também o Dia do Papa. Nós reafirmamos a nossa obediência filial a Bento 16, e rezamos por ele, para que tenha muita saúde, sabedoria e santidade, a fim de continuar à frente da Igreja por muitos e muitos anos, como um bom pastor.
A segunda Leitura apresenta um pouco da vida de S. Paulo, cujo bimilenário de nascimento estamos celebrando. Ele nasceu em Tarso, na Cilícia, que pertence à atual Turquia, no Ano Nove da era cristã.
A palavra “Igreja” foi criada por Jesus para designar a sua instituição. Qualquer instituição religiosa que se chame de igreja, está usando indevidamente o termo próprio da Igreja Católica, dado pelo seu fundador.
Vamos reafirmar a nossa fé na Igreja Católica, como diz o Creio Niceno-constantinopolitado: “Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica. Professo um só batismo para remissão dos pecados”.
Olavo Bilac foi um dos maiores poetas brasileiros. Morava no Rio de Janeiro e faleceu em 1918. Certa vez, um amigo seu encontrou-se com ele na rua e pediu: “Olavo, estou precisando vender minha chácara, que você bem conhece. Preciso colocar um anúncio no jornal. Por favor, faça para mim o texto do anúncio, porque eu não sei fazer”. Bilac pegou um papel e uma caneta e escreveu na hora, ali mesmo na calçada, sobre a pasta que trazia na mão, o seguinte texto: “Vende-se uma encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeiro. A casa banhada pelo sol nascente oferece a sombra tranqüila das tardes, na varanda”. Meses depois, Olavo encontrou-se com amigo e perguntou: “Já vendeu a chácara?” “De jeito nenhum” – respondeu ele – “Quando li o anúncio, percebi a maravilha que eu possuo, e a burrada que eu ia fazer ao vendê-la”.
A santa Igreja é como aquela chácara. É maravilhosa, mas muitos não enxergam a sua beleza e as suas qualidades. Precisaria vir um poeta descrevê-la para nós, a fim de a amarmos mais. S. Pedro e S. Paulo poderiam ter defeitos, mas eles amavam muito a Jesus Cristo e amavam muito a Igreja. Que eles intercedam por nós a fim de termos também essas virtudes.
Maria Santíssima é a Mãe da Igreja. Que ela nos ajude a amar a nossa Comunidade Crista, a nossa Paróquia, a nossa Diocese e a Igreja inteira, pois ela é a nossa Família, cujo Pai comum é Deus, e cujo chefe visível, continuador de Jesus Cristo, é o Papa Bento 16. E que ela nos ajude também a colaborar para que a nossa Igreja seja cada vez mais santa.
Tu és Pedro e eu te darei as chaves do Reino dos Céus.

Padre Queiroz

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DOMINGO

Mt 16,13-19


Cada um de nós tem uma missão muito especial aos olhos de Deus.  = Maria Regina

                              “E vós quem dizeis que eu sou?” Assim como nós, Jesus teve a necessidade de saber quem era Ele para as pessoas, e, principalmente, para aqueles que com Ele conviviam. Ter conhecimento de quem somos nós para o outro e principalmente para aquelas pessoas que nos cercam é muito importante para a nossa realização pessoal.
                           Cada um de nós tem uma missão muito especial aos olhos de Deus. Somos Seus instrumentos na concretização do Seu Plano de Salvação. Simão foi aquele que, inspirado pelo Espírito Santo, apontou a verdadeira identidade de Jesus. Foi então que Jesus o conscientizou da sua missão aqui na terra, dando-lhe poder e autoridade para ser chefe da Igreja fundada por Jesus Cristo. “Tu és Pedro”, no nome, a missão.
                          Você também diante de Deus tem um nome que designa uma missão muito especial. O que poderá significar? Pergunte ao Espírito Santo!- Você sabia que tudo o que você fizer na terra, terá também repercussão no céu? – Dê a você mesmo  um nome que designe uma virtude, uma qualidade, ou uma maneira de ser.
amém
abraço carinhoso

de Maria Regina

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Evangelhos Dominicais Comentados

01/julho/2012  -  São Pedro e São Paulo Apóstolos

Evangelho: (Mt 16, 13-19)


Ao celebrarmos São Pedro e São Paulo, lembramos com muito carinho do Santo Padre o Papa Bento XVI, o legítimo sucessor de Pedro, aquele que disse a Jesus: “Tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo!”

Esta afirmação foi feita pelo Espírito Santo, através de Pedro. Nestas palavras encontramos a grande prova da presença do Espírito Santo entre os apóstolos. O evangelho de hoje sugere que nos deixemos guiar pelo Espírito.

O Espírito abre os nossos corações. O dono de um coração aberto à Palavra de Deus entende e enxerga melhor, tem a mente sã e os olhos aguçados.

Jesus perguntou: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” As respostas foram diversas, Jesus era confundido com João, Elias, Jeremias e tantos outros personagens.

Também hoje, em nossos dias, ouvimos muitas referências a respeito de Jesus. Dois mil anos depois e ainda o chamam de “homem excepcional, o grande mestre, o maior dos profetas”... Muitos o conhecem por diversos títulos, poucos o reconhecem como Verdadeiro Deus.

“Mas, afinal de contas, quem sou eu para vocês?!” E, se hoje Jesus nos dirigisse esta pergunta, o que diríamos? Talvez tivéssemos na ponta da língua uma resposta igualzinha à de Pedro: “Tu és o Messias, o Filho do Deus Vivo!” Sem pestanejar e, talvez, sem muita convicção, gritaríamos essa frase feita.

Provavelmente, Jesus insistiria para obter uma resposta individual e concreta. Talvez dissesse: “é isso mesmo que você pensa, ou é o que você ouve desde pequeno na catequese, nas homilias e, até mesmo, em aulas de teologia?”

“Quero saber mais” – diria. “Quero uma resposta que venha lá do fundo do seu coração. Que influência eu exerço em sua vida e quais as mudanças que essa fé trouxe para a sua vida familiar, profissional e comunitária?” Diria ainda: “Só mais uma perguntinha, o que você tem feito para propagar essa verdade?”

O que responder? Já pensou nisso? É bom estarmos preparados, pois certamente seremos cobrados. Somos batizados, somos Igreja, e como membros dessa Família nós temos que evangelizar, gritar com convicção para que o mundo todo ouça que Jesus, o Messias, o Verdadeiro Deus, está entre nós. 

Feliz aquele que acredita e propaga o que o Pai do Céu revelou. Feliz aquele que assume a sua função na construção do Reino. Sejamos pedra, sejamos Pedro, homem de fé, que apesar dos seus momentos de covardia e de fraquezas, sabia humildemente arrepender-se e recomeçar tudo de novo.

Hoje celebramos São Pedro e São Paulo Apóstolos. Paulo não fez parte do grupo dos doze, mas foi chamado por Jesus no momento em que se preparava para prender e matar muitos cristãos. Paulo não fechou seus ouvidos. Ouviu e entendeu as Palavras de Jesus. Deixou-se invadir pelo Espírito Santo e entregou-se de corpo e alma ao serviço da evangelização.

Paulo mudou, transformou-se, passou de perseguidor a seguidor de Jesus Cristo. Aquele que exterminava os cristãos entregou sua própria vida para levar vida às comunidades cristãs. Foi radical a mudança de Paulo.

É exatamente isso que Jesus espera de nós. Ele quer que nos tornemos “Pedros”, quer ver-nos convertidos em “Paulos”. Jesus quer ver suas ovelhas apascentadas e espera que, como Paulo, também nós façamos das nossas vidas uma carta viva com exemplos concretos de como viver o amor.

(1572)


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PEDRO E PAULO MODELO PARA TODOS OS CRISTÃOS! - Olívia Coutinho

FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

Evangelho Mt 16,13-19

Dia 01 de Julho de 2012

Com muita alegria, celebramos hoje, a festa dos dois pilares que sustentam a nossa Igreja: São Pedro e São Paulo.
 Vindos de realidades diferentes, estes dois homens, Pedro, um  simples pescador e Paulo, um Judeu culto de origem romana, deixam-se conquistar por Jesus, se entregando por inteiros ao serviço do Reino de Deus, e assim, como o próprio Jesus  deram a vida em defesa  deste  Reino!
Olhando a escolha de Pedro, para conduzir a Igreja, podemos perceber que Jesus fundou a sua Igreja sobre a fragilidade humana, ela  foi fundada sobre a responsabilidade de um homem, sujeito à falhas.
Jesus não edificou a sua igreja sobre homens especiais, mas sobre Pedro, um simples pescador que hoje representa os homens de toda história da Igreja, pela sua fragilidade.
A  Igreja deve estar sempre a serviço do povo de Deus, mantendo-se  na firmeza de Pedro e  na ousadia missionária de Paulo, para que a Boa Nova do Reino, possa chegar aos povos de todas as nações.
Professar a fé em Jesus, não significa  simplesmente ser um seu admirador, mas acima de tudo, aceitar o seu chamado ao discipulado, comprometer-se com Ele, viver os seus ensinamentos, configurar-se a Ele!
É pela fé que reconhecemos em Jesus, o nosso Deus e Senhor, o que não é fruto do esforço humano, mas sim, dom de Deus para todos aqueles que se abre a sua graça. Assim, como aconteceu com Pedro e com Paulo, acontece conosco também, quando abrimos o coração para Deus Ele age  no mundo, através de nós.
O evangelho que a liturgia de hoje nos apresenta, chega até a nós, como um convite a fazermos um deserto interior, deixando vir da profundidade de nossa alma, uma  resposta a indagação de Jesus  feita aos discípulos, indagação, que deve se estender até nós: “E vós, quem dizeis que eu sou”?
Hoje, depois de tão grande prova de amor, não é mais necessário que Jesus nos faça indagações, para que possamos dar a Ele uma resposta de amor! Façamos a nós mesmo uma indagação: “Que tenho feito da minha vida que custou a vida de Jesus? Com certeza, a nossa resposta chegará até Ele, não com palavras, mas com as nossas atitudes do dia a dia.
É nas nossas ações do dia a dia, que vamos respondendo  ao tão grande amor de Jesus por todos  nós.
Pedro e Paulo, são modelos de discípulos, missionários, com suas virtudes e fraquezas,  mais sobre tudo, pelo seu amor e fidelidade a Jesus Cristo e  a sua  Igreja.
Nesta Solenidade de hoje, unamos, numa prece especial  pelo o nosso Papa Bento XVI.


FIQUE NA PAZ DE JESUS! - Olívia

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“A festa de São Pedro e São Paulo” -  Claudinei M. Oliveira.

Domingo, 01 de Julho de 2012.
Evangelho: Mt 16,13-19

Estamos contentes por celebrar a festa de dois servidores do Reino de Deus: São Pedro e São Paulo. Eles ouviram o chamado do Mestre Jesus e colocaram a disposição ao serviço da evangelização. Fundaram comunidades retas na palavra da justiça e disseminaram os ensinamentos da verdade para  homens que desejam ardentemente reaver o plano revelado por Jesus.
Nesta festa dominical dos dois corajosos evangelizadores nos estimulem a cultuar o amor e a praticidade do Reino, que ensejam também o discernimento pessoal para divulgar a mensagem da alegria.
Para seguir a palavra da libertação, a exemplo de Jesus, faz-se necessário a entrega total. Claro que Pedro não aceitou o chamado no primeiro momento, sua ignorância pela rudeza do serviço de pescador, não permitiu a priori seguir o chamado, mas pela insistência e confiança  do Mestre,   Pedro amoleceu o coração e tornou o grande nome do legado dos ensinamentos da igreja. Ele confirmou sua fé  quando Jesus lhe entregou todo  o povo para ser seu rebanho.
Paulo não conheceu Jesus como Pedro, mas teve o bom  senso da fé e do amor na visão do Cristo Ressuscitado no caminho de Damasco. Deixou sua vida pacata e opressora e passou a ser o servo fiel do Reino. Paulo enfrentou todo tipo de perversidade e sofrimento. Foi preso várias vezes por defender a doutrina cristã de Jesus. Estimulou muitas comunidade pagã  a acreditar na Palavra de  Jesus, enfim, Paulo divulgou para muitas regiões a vivacidade da fé  Naquele que ama e deu sua vida para salvar o homem pecador.
Paulo escreveu várias cartas que  as lemos nas celebrações dominicais. Sua mensagem revela um Cristo libertador que rejeitou a opressão e a maldade. Nos ensinamentos paulinos há saliência para não seguir os esquemas prontos dos homens que administram o bem público; o homem deve ter a liberdade assistida pelos Santos Evangelhos e pelos mandamentos do amor de Jesus. Para tanto, o homem deve-se pautar pelo seguimento de Cristo ressuscitado que revela um reino de justiça favorável para toda criatura.
Na vida o homem não deve reverter suas ações para acumular bens e poder, pois estas ações contrariam a vontade do Pai. Na verdade, a vida deve solicitar a humildade, o amor e a  partilha. Tanto que Paulo pregava a comunidade-comunitária, onde todos dividiam seus bens com alegria para solidificar a esperança e a grandeza entre os homens.
Assim, tanto Pedro quanto Paulo são exemplos a ser seguidos com tenacidade. Seus legados permeiam ações de justiça, bondade e partilha. Não acumularam riquezas a não ser a riqueza do  céu. Souberam  ouvir o chamado e levaram à frente o plano de Jesus.
Somos pecadores e estamos correndo atrás da libertação da vida desregrada. Tentamos ser justos naquilo que fazemos, mas pela cultura opressora que nos perpassa não estimula o bem serviço para o reino da vida. Patinamos na mesma avenida iluminada com casarões luxuosos de vitrais, mas não temos coragem de mudar de rumo e alcançar uma pequena rua ou viela que nos leva ao encontro de Deus. Isto acontece porque nas vielas as ruas são escuras, muitos percalços e pouca atração pelo seguimento.
Seguir o caminho conquistado por Pedro e Paulo não é sinônimo de conforto e glória. Eles encontraram adversidades por estarem mostrando a Luz, porém, como a maioria do povo era cego, ganancioso, rude e ignorante, preferiram eliminar da sua redoma; não aceitaram ouvir o verdadeiro ensinamento que libertava dos males e preferiram continuar  na imensidão da escuridão sem rumo, ou seja, aqueles que desfizeram de Pedro e Paulo preferiram continuar cultuando os privilégios alheios e manipulando o povo humilde.
Logo, o povo pobre continuava sem a pedagogia da libertação. Eles continuaram na pobreza não  porque gostavam de sofrer, mas porque não tinham oportunidade e nem eram dadas instruções para ultrapassar a barreira da opressão. Neste caso, o que fizeram Pedro e Paulo? Fizeram o que Jesus fazia com  bom grado, instruía todos para clarear a visão de mundo e projetar transformação viável para tal situação.
Nós também somos chamados para efetuar a libertação daqueles que não entendem a mensagem da libertação. Somos convocados por Deus, a exemplo de Pedro e Paulo, a esmiuçar as palavras do Santo Evangelho para os adormecidos, cegos, desatentos.  Assim,  o serviço do reino ainda não terminou na pessoa de Pedro e nem de Paulo e muito menos na pessoa de Jesus, o reino ainda carece de pessoas que possam dedicar exclusivamente para o anúncio do amor, da paz e da fraternidade.
Veja caro irmão leitor o exemplo descrito na Primeira Leitura dos Atos dos Apóstolos: Pedro tinha sido preso pelo Herodes e apresentaria para o povo logo após a festa da páscoa. Pedro era bem vigiado, inclusive com dois soldados ao seu lado. Mas de repente o anjo apareceu para Pedro e o retirou da prisão. Ao sair do portão de ferro que dava acesso a cidade Pedro disse: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava” (At,  12, 11).
Deus não afasta do servo fiel e amado. Deus instrui no perigo o discernimento para sair da situação com precisão. Pedro confiou no anjo que libertou das mãos dos malvados pela sua fé. A fé é o grande legado de Jesus. Quem tem fé e acredita no poder divino e não se perde em marasmo. Perguntamos para nós: temos fé a ponto de confiar em Deus? Colocamos nossas esperanças na pessoa de Deus? Mas devemos também perguntar: o que estou fazendo para o merecimento do reino? Qual a minha participação na construção da vida em salvação?
Da mesma forma que Pedro, Paulo também tem motivos para louvar ao Criador pelos séculos dos séculos. Paulo escreveu a Timóteo: “(...) aproxima-se o momento da minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. (...) Mas o senhor esteve ao meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente e ouvida por todas as nações”. (2Tm 4, 6;17).
Paulo reconheceu a mão do Senhor no seu projeto anunciador do reino. Por onde passava não estava sozinho, pois o Cristo ressuscitado caminhava ao seu lado na intenção da segurança e do conforto prazeroso.
A mensagem  anunciada pelos grandes servidores do reino sugere a libertação. Pedro foi liberto da prisão e Paulo foi liberto da boca do leão, ou seja, Paulo libertou da prática de coletar impostos e perseguir os cristãos em nome do Imperador Romano. Logo, a libertação enseja novo caminhar para novas transformações.
Enfim, estamos no Evangelho de Mateus. Mais uma vez aparece a figura de Pedro, o corajoso, o destemido que reconheceu o Messias. Jesus perguntava para os discípulos o que o povo dizia sobre Ele. Claro que Jesus já sabia da resposta, mas queria ver se seus seguidores realmente saberiam interpretar os ditos do povo. Alguns disseram que o povo de Cesaréia de Filipe acreditava que era João Batista, outro que é Elias ou Jeremias e até acreditava que era um dos profetas. Mas Jesus Perguntou a Simão, Filho de Jonas, e Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”. Jesus então respondeu: (...) tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e o poder do  inferno nunca poderá vencê-la. Eu darei as chaves do reino dos céus: tudo  que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”.
Pedro, como na Primeira leitura, agora no Evangelho tem a confiança da divindade para ser elemento primordial na caminhada da igreja. Pedro foi o primeiro Papa da Igreja que construiu o templo da misericórdia e da paz para toda a humanidade.
Portanto, na festa de São Pedro e São Paulo, sejamos devotos destes santos de Deus que entregaram suas vidas em favor do seguimento do amor. Cabe a nós seguirmos o belíssimo exemplo para engrandecer ainda mais o Reino da justiça. Amém!
Claudinei M. Oliveira

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São Pedro e São Paulo

Don Henrique Soares

“Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”.
Estas palavras que o missal propõe como antífona de entrada desta solenidade, resumem admiravelmente o significado de são Pedro e são Paulo. A Igreja chama a ambos de “corifeus”, isto é líderes, chefes, colunas. E eles o são.
Primeiramente, porque são apóstolos. Isto é, são testemunhas do Cristo morto e ressuscitado. Sua pregação plantou a Igreja, que vive do testemunho que eles deram. Pedro, discípulo da primeira hora, seguiu Jesus nos dias de sua pregação, recebeu do Senhor o nome de Pedra e foi colocado à frente do colégio dos Doze e de todos os discípulos de Cristo. Generoso e ao mesmo tempo frágil, chegou a negar o Mestre e, após a ressurreição, teve confirmada a missão de apascentar o rebanho de Cristo. Pregou o Evangelho e deu seu último testemunho em Roma, onde foi crucificado sob o imperador Nero. Paulo não conhecera Jesus segundo a carne. Foi perseguidor ferrenho dos cristãos, até ser alcançado pelo Senhor ressuscitado na estrada de Damasco. Jesus o fez se apóstolo. Pregou o Evangelho incansavelmente pelas principais cidades do império romano e fundou inúmeras igrejas. Combateu ardentemente pela fidelidade à novidade cristã, separando a Igreja da sinagoga. Por fim, foi preso e decapitado em Roma, sob o imperador Nero.
O que nos encanta nestes gigantes da fé não é somente o fruto de sua obra, tão fecunda. Encanta-nos igualmente a fidelidade à missão. As palavras de Paulo servem também para Pedro: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”. Ambos foram perseverantes e generosos na missão que o Senhor lhes confiara: entre provações e lágrimas, eles fielmente plantaram a Igreja de Cristo, como pastores solícitos pelo rebanho, buscando não o próprio interesse, mas o de Jesus Cristo. Não largaram o arado, não olharam para trás, não desanimaram no caminho... Ambos experimentaram também, dia após dia, a presença e o socorro do Senhor. Paulo, como Pedro, pôde dizer: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar...”
Ambos viveram profundamente o que pregaram: pregaram o Cristo com a palavra e a vida, tudo dando por Cristo. Pedro disse com acerto: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo”; Paulo exclamou com verdade: “Para mim, viver é Cristo. Minha vida presente na carne, eu a vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim”. Dois homens, um amor apaixonado: Jesus Cristo! Duas vidas, um só ideal: anunciar Jesus Cristo! Em Jesus eles apostaram tudo; por Jesus, gastaram a própria vida; da loucura da cruz e da esperança da ressurreição de Jesus, eles fizeram seu tesouro e seu critério de vida.
Finalmente, ambos derramaram o sangue pelo Senhor: “Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”. Eis a maior de todas a honras e de todas as glórias de Pedro e de Paulo: beberam o cálice do Senhor, participando dos seus sofrimentos, unido a ele suas vidas até o martírio em Roma, para serem herdeiros de sua glória. Eis por que eles são modelo para todos os cristãos; eis por que celebramos hoje, com alegria e solenidade o seu glorioso martírio junto ao altar de Deus! Que eles intercedam por nós na glória de Cristo, para que sejamos fiéis como eles foram.
Hoje também, nossos olhos e corações voltam-se para a Igreja de Roma, aquela que foi regada com o sangue dos bem-aventurados Pedro e Paulo, aquela, que guarda seus túmulos, aquela, que é e será sempre a Igreja de Pedro. Nós sabemos que ela é a esposa do Cordeiro, imagem da Jerusalém celeste. Conhecemos e veneramos o ministério que o Senhor Jesus confiou a Pedro e seus sucessores em benefício de toda a Igreja: ser o pastor de todo o rebanho de Cristo e a primeira testemunha da verdadeira fé naquele que é o “Cristo, Filho do Deus vivo”. Sabemos com certeza de fé que a missão de Pedro perdura nos seus sucessores em Roma. Hoje, a missão de Pedro é exercida por Bento XVI. Ao santo Padre, nossa adesão filial, por fidelidade a Jesus, que o constituiu pastor do rebanho. Não esqueçamos: o papa será sempre, para nós, o referencial seguro da comunhão na verdadeira fé apostólica e na unidade da Igreja de Cristo. Quando surgem, como ervas daninhas, tantas e tantas seitas cristãs e pseudo-cristãs, nossa comunhão com Pedro é garantia de permanência seguríssima na verdadeira fé. Quando o mundo já não mais se constrói nem se regula pelos critérios do Evangelho, a palavra segura de Pedro é, para nós, uma referência segura daquilo que é ou não é conforme o Evangelho.
Rezemos, hoje, pelo nosso santo Padre, Bento. Que Deus lhe conceda saúde de alma e de corpo, firmeza na fé, constância na caridade e uma esperança invencível. E a nós, o Senhor, por misericórdia, conceda permanecer fiéis até a morte na profissão da fé católica, a fé de Pedro e de Paulo, pala qual, em nome de Jesus, “Cristo Filho do Deus vivo”, os santos apóstolos derramaram o próprio sangue.
Ao Senhor, que é admirável nos seus santos e nos dá a força para o martírio, a glória pelos séculos dos séculos. Amém.
Solenidade de são Pedro e são Paulo
Hoje celebramos o glorioso martírio dos santos apóstolos Pedro e Paulo, aqueles“santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”. Pedro, aquele a quem o Senhor constituiu como fundamento da unidade visível da sua Igreja e a quem concedeu as chaves do Reino; Paulo, chamado para ser apóstolo de um modo único e especial, tornou-se o Doutor das nações pagãs, levando o Evangelho aos povos que viviam nas trevas. Um pela cruz e o outro pela espada, deram o testemunho perfeito de Cristo, derramando seu sangue e entregando a vida em Roma, por volta do ano 67 da nossa era.
Esta solenidade hodierna dá-nos a oportunidade para algumas ponderações importantes.
A Igreja é apostólica. Esta é uma sua propriedade essencial. João, no Apocalipse, vê a Jerusalém celeste fundada sobre doze alicerces com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro (cf. 21,14). Eis: a Igreja não pode ser fundada por ninguém, a não ser pelo próprio Senhor, que a estabeleceu sobre o testemunho daqueles Doze primeiros que ele mesmo escolheu. Seu alicerce, portanto, sua origem, seu fundamento são o ministério e a pregação apostólicas que, na força do Espírito Santo, deverão perdurar até o fim dos tempos graças à sucessão apostólica dos bispos católicos, transmitida na consagração episcopal. Dizer que nossa fé é apostólica significa crer firmemente que a fé não pode ser inventada nem tampouco deixada ao bel-prazer das modas de cada época; crer que a Igreja tem como fundamento os apóstolos significa afirmar que não somos nós, mas o Cristo no Espírito Santo, quem pastoreia e santifica a Igreja pelo ministério dos legítimos sucessores dos apóstolos. O critério daquilo que cremos, a regra da nossa adesão ao Senhor Jesus, a norma da nossa fé é aquilo que recebemos dos santos apóstolos uma vez para sempre. Só a eles e aos seus legítimos sucessores o Senhor confiou a sua Igreja, concedendo-lhes a autoridade com a unção do Espírito para desempenharem o ofício de guiar o seu rebanho pelos séculos a fora. Olhemos para Pedro e Paulo e renovemos nosso firme propósito de nos manter alicerçados na fé católica e apostólica que eles plantaram juntamente com os demais discípulos do Senhor. Hoje, quando surgem tantas comunidades cristãs que se auto-intitulam “igrejas” e se auto-denominam “apostólicas”, estejamos atentos para não perder a comunhão com a verdadeira fé, transmitida de modo ininterrupto e fiel na única Igreja de Cristo, santa, católica e apostólica.
Um outro aspecto importante é o significado de ser apóstolo: ele não é somente aquele que prega Jesus, mas, sobretudo, aquele que, escolhido pelo Senhor, com ele conviveu, nele viveu e, por ele, entregou sua vida. Os apóstolos testemunharam Jesus não somente com a palavra, mas também com o modo de viver e com a própria morte. Por isso mesmo, seu martírio é uma festa para a Igreja, pois é o selo de tudo quanto anunciaram. O próprio são Paulo reconhecia: “Não pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus, o Senhor. Trazemos, porém, este tesouro em vasos de argila para que esse incomparável poder seja de Deus e não nosso. Incessantemente trazemos em nosso corpo a agonia de Jesus, a fim de que a vida de Jesus seja também manifestada em nosso corpo. Assim, a morte trabalha em nós; a vida, porém, em vós” (2Cor. 4,5.7.10.12). Eis o sinal do verdadeiro apóstolo: dar a vida pelo rebanho, com Jesus e como Jesus, gastando-se, morrendo, pra que os irmãos vivam no Senhor! Por isso a alegria da Igreja na festa de hoje: Pedro e Paulo não só falaram, não só viveram, mas também morreram pelo seu Senhor; e já sabemos pelo próprio Cristo-Deus que não há maior prova de amor que dá a vida por quem amamos! Bem-aventurado é Pedro, bendito é Paulo, que amaram tanto o Senhor a ponto de darem a vida por ele! Nisto são um exemplo, um modelo, uma norma de vida para todos nós. Aprendamos com eles!
Um terceiro aspecto que hoje podemos considerar é a ação fecunda da graça de Cristo na vida dos seus servos. O exemplo de Pedro, o exemplo de Paulo servem muito bem para nós. Bento XVI, ao ser eleito, afirmou humildemente que se consolava com o fato de Deus saber trabalhar com instrumentos insuficientes: quem era Simão, chamado Pedro? Um pescador sincero, mas rude, impulsivo e de temperamento movediço. No entanto, foi fiel à graça, e tornou-se Pedra sólida da Igreja, tão apegado ao seu Senhor, a ponto de exclamar, cheio de tímida humildade: “Senhor tu sabes tudo; tu sabes que te amo” (Jo 21,17). Quem era Saulo de Tarso, chamado Paulo? Um douto, mas teimoso e radical fariseu, inimigo de Cristo. Tendo sido fiel à graça, tornou-se o grande Apóstolo de Jesus Cristo, tão apaixonado pelo seu Senhor, a ponto de nos desafiar: “Sede meus imitadores como eu sou de Cristo!” (1Cor 11,1). Eis, caros meus, abramo-nos também nós à graça que o Senhor nos concede para a edificação da sua obra, para a construção do seu Reino, e digamos como são Paulo: “Pela graça de Deus sou o que sou, e sua graça em mim não foi em vão” (1Cor. 15,10).
Ainda um derradeiro aspecto, amados no Senhor. Nesta hodierna solenidade somos chamados a refletir sobre o ministério de Pedro na Igreja. Simão por natureza foi feito Pedro pela graça. Pedro quer dizer pedra. Eis, portanto, Simão Pedra. “Tu és Pedro e sobre esta Pedra eu edificarei a minha Igreja. Eu te darei as chaves do Reino” (Mt. 16,16 ss). O ministério petrino é mais que a pessoa de Pedro. Seu serviço será sempre o de confirmar os irmãos na fé em Cristo, Filho do Deus vivo, mantendo a Igreja unida na verdadeira fé apostólica e na unidade católica. É este o ministério que até o fim dos tempos, por vontade do Senhor, estará presente na Igreja na pessoa do sucessor de Pedro, o bispo de Roma, a quem chamamos carinhosamente de papa, pai. O papa é o Pastor supremo da Igreja de Cristo porque somente a ele o Senhor entregou de modo supremo o seu rebanho. Aquilo que entregou aos doze e a seus sucessores, os bispos, entregou de modo especial a Pedro e a seus sucessores, o papa: “Tu me amas mais que estes? Apascenta as minhas ovelhas!” (Jo 21,15). Estejamos atentos, caríssimos: nossa obediência, nossa adesão, nosso respeito, nossa veneração pelo santo Padre não é porque o achamos simpático, sábio, ou de pensamento igual ao nosso, mas porque ele é aquele a quem o Senhor confiou a missão de confirmar os irmãos. Nossa certeza de que ele nos guia em nome de Cristo vem da promessa do próprio Senhor: “Simão, Simão, eis que Satanás pediu insistentemente para vos peneirar como trigo; eu, porém, orei por ti, a fim de que a tua fé não desfaleça. Quando, porém, te converteres, confirma teus irmãos” (Lc. 22,31-32). É porque temos certeza da eficácia da oração de Jesus por Pedro e seus sucessores, que aderimos com fé ao ensinamento do santo Padre. Estejamos certos de uma coisa: quem não está em comunhão com o papa está fora da plena comunhão visível com a Igreja de Cristo, que é a Igreja católica.
dom Henrique Soares da Costa - www.padrehenrique.com
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Combateram o bom combate
A Igreja celebra o martírio de Pedro e de Paulo na mesma data porque eles estiveram unidos no mesmo propósito: seguir Jesus até a morte. Ambos são alicerces vivos do edifício espiritual que é a Igreja. Pedro evangelizou os judeus, Paulo fez a mensagem de Jesus chegar às demais nações. A incessante pregação de ambos foi fecundada com o martírio. Eles deram provas de até que ponto pode ir o ser humano quando elege o projeto de Deus como opção de vida. Não foram pessoas apenas de palavras, mas testemunhas de que a fé remove as montanhas do egoísmo. O modo como viveram e como morreram questiona o comodismo de nossa fé.
Evangelho (Mt. 16,13-19)
As portas do inferno não vencerão
No evangelho de hoje, Jesus faz duas perguntas aos discípulos. Na primeira, ele quer saber o que as pessoas em geral estão dizendo a respeito dele e, na segunda, o que os discípulos pensam sobre ele.
Com essas perguntas, pode parecer que Jesus está fazendo uma pesquisa, para ver se a mensagem dele está agradando ao público ou se ele terá de mudar alguma coisa que aumente o índice de audiência. Na verdade, Jesus está ocupado em construir, na consciência coletiva, a identidade dele, ou seja, quer estabelecer exata compreensão a respeito do Messias e, além disso, mostrar que tipo de Messias ele é. Jesus faz essas perguntas aos discípulos porque sabe que da correta assimilação de sua identidade depende a correta compreensão de sua mensagem. Se alguém entende de forma errada quem é Jesus, compreenderá erroneamente a sua mensagem e terá uma práxis totalmente diferente daquela que ele espera.
Na resposta dos discípulos à primeira pergunta são explicitadas as diversas esperanças messiânicas de Israel.
Pedro toma a iniciativa para responder à pergunta feita aos discípulos sobre a identidade de Jesus. Mas é a comunidade dos discípulos, representada por Pedro, quem diz corretamente quem é Jesus e qual sua missão. A resposta da comunidade representada por Pedro é uma profissão de fé no “Cristo, Filho do Deus vivo”. 
Essa profissão de fé não é fruto da lógica e do esforço humano, mas é revelação divina, pois quem o revela à comunidade é o próprio Pai, que está no céu. Foi a abertura da comunidade à revelação divina que possibilitou reconhecer o Cristo e confessar a fé nele. E é sobre a fé confessada no Cristo, Filho do Deus vivo, que a Igreja é edificada. A expressão “esta pedra” refere-se à confissão de fé e é um trocadilho com a palavra “Pedro”, por cujos lábios ela é pronunciada. O fundamento da Igreja é Jesus, pedra angular (Mt 21,42), confessado por Messias/Cristo pela comunidade de seus seguidores.
Porque a comunidade dos seguidores confessou a verdadeira identidade de Jesus como Messias/Cristo, pedra angular ou fundamento, ela recebeu “as chaves do reino” (e não da Igreja). O termo “chaves” significa ter acesso e, nesse caso, remete a Is 22,22. Então, é tarefa da Igreja cuidar da obra divina, não como um proprietário – pois o reino é de Deus –, mas como um mordomo ou despenseiro que cuida da casa de seu verdadeiro senhor, ao qual prestará contas de seu serviço. E cuidar do reino significa fazer com que ele cresça neste mundo.
Então a principal tarefa da comunidade dos discípulos de Jesus, a Igreja, é proporcionar o avanço do reino dos céus (ou de Deus). Esse avanço significa uma ofensiva contra tudo o que se constitui em anti-reino (representado pelo termo “inferno”). “As portas”, naquela época como hoje, significavam o poder de defesa. Uma cidade (murada) com portas resistentes tinha grande poder de defesa numa batalha. “As portas do inferno não resistirão” significa que a comunidade dos discípulos de Jesus faz o reino avançar contra o anti-reino (o inferno), e, por mais fortes que sejam os poderes de defesa (as portas) do inferno, não conseguirão resistir por muito tempo e por fim o reino vencerá e será instaurado plenamente. As portas do anti-reino cairão.
Em função do avanço do reino, uma das tarefas da Igreja é “ligar ou desligar”, mas isso não diz respeito a uma autoridade soberana do líder da Igreja. O sentido de “ligar ou desligar” diz respeito ao âmbito da comunhão entre o fiel e a comunidade, ou melhor, ao sacramento da reconciliação. É precisamente no âmbito do ministério da reconciliação que a Igreja exerce a tarefa de excluir oficialmente um membro da comunhão plena ou readmiti-lo (reconciliá-lo), uma vez cumpridas certas condições.
Assim, “ligar” significa “algemar” alguém, ou seja, deixá-lo preso ao pecado; e “desligar” significa romper os laços com que o pecado escraviza o ser humano, readmitindo o pecador arrependido à comunidade salvífica.
Desse modo, “ligar ou desligar” significa fundamentalmente a faculdade de perdoar os pecados, reconciliando o pecador com Deus, mediante a visibilidade do sacramento, e impondo-lhes condições e obrigações que sejam o sinal da verdadeira conversão.
1ª leitura (At. 12,1-11)
Foi lançado na prisão
Na primeira leitura, Pedro é envolvido no mesmo destino de Jesus, primeiramente porque foi preso na festa dos Pães sem Fermento (a Páscoa). Além disso, o texto começa com a decisão do rei Herodes de tentar destruir a Igreja, prendendo e matando seus líderes. O rei deseja remover os pilares da casa para fazer a construção inteira ruir. A prisão de Pedro não é um fato isolado – na mesma época, Tiago (filho de Zebedeu) foi martirizado. O governante condena pessoas inocentes para garantir a própria popularidade, algo semelhante ao que foi feito a Jesus.
Os detalhes sobre como Pedro estava sendo guardado pelos soldados romanos querem apenas assegurar que uma fuga seria impossível. Enquanto Pedro estava preso, a Igreja reunida orava incessantemente, solidarizando-se com a situação dele, pois constituíam um só corpo no Senhor. E ao fervor da oração Deus respondeu com a libertação. Na noite anterior ao dia em que Herodes apresentaria Pedro ao sinédrio para ser condenado, Deus agiu em resposta à oração da Igreja. 
O texto enfatiza que Pedro dormia enquanto esperava o próprio julgamento e condenação. Ele teve dificuldade para saber se o que estava acontecendo era real, o que significa que não esperava a libertação. E, se mesmo assim conseguia dormir, era porque confiava plenamente em Deus e estava preparado para morrer por sua fé. Enquanto Pedro está sendo libertado, o texto faz questão de ressaltar novamente que a prisão era de segurança máxima e que, apesar de todas as precauções, Herodes não conseguiu o seu intento de destruir a Igreja.
2ª leitura (2Tm. 4,6-8.17-18)
Terminei minha carreira, guardei a fé
O texto da segunda leitura se refere ao momento em que Paulo estava preso e pensava que seria condenado à morte. Suas palavras não revelam nenhuma amargura, mas a serenidade de quem se abandonou nas mãos de Deus. O apóstolo estava pronto para ser imolado, isto é, estava à disposição para ser morto por causa do evangelho. Além disso, considera que a morte por causa do evangelho é aceita por Deus como verdadeira oferta ou sacrifício. 
A vida do cristão é comparada a uma batalha e a um esporte de Olimpíada: “Combati o bom combate, terminei minha carreira” (v. 7), mas em tudo a fé saiu vitoriosa; faltava apenas subir ao pódio e receber a coroa de louros que confirmava a vitória. Isso significa que o apóstolo sabe que Deus não deixará sua morte sem resposta; a última palavra não é da morte, mas de Deus, que dá vida plena aos que nele se abandonam. A ressurreição não significa um prêmio, mas sim que Deus partilha a vida que lhe é própria (eterna) com aqueles que lhe doaram a vida humana e efêmera. A ressurreição é grande dom de Deus e não simples troca de uma vida por outra; a vida que doamos a Deus em nada se compara à vida eterna que ele gratuitamente nos dá. Por isso não é um prêmio. A coroação de que o apóstolo fala significa que a última ação é de Deus, e não do carrasco.
Pistas para reflexão
– As prisões dos dois apóstolos atestam que somente é verdadeiro discípulo de Cristo quem por ele enfrenta perseguições e martírios, mantendo a fé/fidelidade. Os exemplos de Pedro e Paulo mostram que a Igreja não é edificada sobre homens, mas sobre a confissão de fé no Cristo ressuscitado e ressuscitador. Tal confissão de fé não é apenas um discurso de belas palavras, mas testemunho de vivência na fidelidade a Deus custe o que custar, mesmo que seja a própria vida. Muitas pessoas se orgulham de que Cristo tenha entregado as chaves do reino para Pedro e não se lembram de que as chaves significam serviço. Outras pessoas se ufanam de que Pedro tenha recebido a missão de “ligar e desligar” e não sabem que o objetivo disso é manter a Igreja numa fé autêntica e operante no mundo. 
– É oportuno que o presidente da celebração evite aumentar o orgulho de ser católico e destaque a humildade de ser cristão, pois foi isto que Cristo nos ensinou. Também deve ficar claro, mesmo quando Pedro é o padroeiro do lugar, que a festa é também de são Paulo. Ambos são as duas colunas principais da Igreja.
Aíla Luzia Pinheiro Andrade, nj
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Simplesmente Pedro e Paulo
Novamente vivemos a alegria da solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo. Ao longo do ano litúrgico há outras comemorações de um e de outro: a festa da conversão de Paulo e a cátedra de Pedro.  Na presente solenidade os dois aparecem juntos e a coleta do dia  exprime bem o sentido da festa: “Ó Deus, que hoje nos concedeis a alegria de festejar são Pedro e são Paulo, concedei à vossa Igreja seguir em tudo os ensinamentos desses apóstolos que nos deram as primícias da fé.
No começo dessa meditação não podemos deixar de nos lembrar da figura do  Papa Bento que é Pedro entre nós.  Somos imensamente reconhecidos pelos labores e trabalhos de Bento XVI  que se mostra  como sinal da unidade.  Por onde passa ele se apresenta como o Pastor universal, aquele que vela pela unidade, que cuida para que o rebanho possa ser alimentado em prados verdejantes.
Pedro, o pescador, o homem de pés no chão, preocupado com o trabalho duro de ir mar adentro, de passar noites e noites no Mar da Galiléia. É chamado pelo Mestre.  Simão passa a ser chamado de Rocha, de Pedra, de Pedro.  Mostra, em vários lugares do Novo Testamento, um carinho e um amor muito grande pelo Mestre.  Quer mesmo tirar da espada e matar os que o perseguem… Quando muitos parecem  hesitar  ele prorrompe num grito de confiança: “A quem iremos, Senhor?  Só tu tens palavras de vida eterna”.  Declara que está disposto a acompanhar o Mestre até a morte.  Sua maravilhosa biografia, no entanto, revela também momentos de fragilidade. Uma emprega, no pátio da casa do governador romano, diz que ele era também  discípulo desse  Jesus que estava sendo julgado.  Pedro nega o Mestre.  El Grecco, o grande pintor espanhol,  representou belissimamente o rosto de Pedro, depois da negação, com uma lágrima no canto dos olhos.
Esse, que no seu próprio dizer, amava o Senhor mais do que os outros  nunca haveria de se esquecer da experiência que tivera na montanha da  transfiguração quando vira o rosto do Senhor transmutado e transfigurado.  Belamente a primeira leitura de hoje relata:  “Enquanto Pedro era mantido na prisão a Igreja rezava continuamente a  Deus por ele”.
Saulo de Tarso era judeu convicto. Não podia admitir que  Jesus um homem fosse tido como Deus. Os discípulos de  Jesus de Nazaré estavam  equivocados.  O Senhor, no entanto, escolhe esse  homem para uma missão admirável e única.  Ele seria o grande pregador do Evangelho às nações. Ele faria com que a Boa Nova atingisse os confins da terra. Converte-se, se reveste de força, anuncia a Palavra, cria comunidades, escreve cartas, penetra no mistério de Cristo, na altura, largura e comprimento do amor de Deus. Não sabe se é melhor continuar a pregar ou morrer e entrar na glória.  Tem como lixo e esterco tudo quem não é Cristo Jesus. Na epistola proclamada nesta liturgia ele diz:  “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças, ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim  integralmente e ouvida por todas as nações.”
Pedro e Paulo são decantados e exaltados  no Prefácio da Missa de  hoje:  “Pedro, o primeiro a proclamar a fé, fundou a  igreja primitiva sobre a herança de Israel. Paulo, mestre e doutor das nações, anunciou-lhes o evangelho da salvação. Por diferentes meios, os dois congregaram a única família de Cristo e, unidos pela coroa do martírio, , recebem hoje,  por toda a terra, igual veneração”.


Festa solene de duas colunas de nossa fé. A fé que professamos recebemos como herança dos apóstolos, de modo especial de Pedro e Paulo.
Pedro era pescador de Betsaida. Mais tarde se fixou em Cafarnaum. Seu irmão André foi quem o introduziu  Simão no grupo que começava a seguir Jesus. Talvez ele tivesse sido preparado para esse encontro pelo testemunho e pela fala de João Batista. Jesus muda o nome do pescador Simão para o de Pedro, Rocha, Pedra. Ele é uma das primeiras testemunhas da ressurreição do Mestre. Depois da Ascensão toma a frente da comunidade. Vemos claramente isto nos relatos da primeira metade dos Atos dos Apóstolos. Suas intervenções em público, seus discursos seguem basicamente o seguinte esquema: Jesus foi o eleito, passou a vida fazendo o bem, foi perseguido, padeceu o martírio da cruz, ressuscitou e, em seu nome, é pregado o evangelho para a conversão dos pecadores. Vemo-lo nitidamente à frente de seus companheiros. A missão que lhe fora confiada não elimina os traços de seu temperamento: experimenta medo, nega o Mestre, não quer deixar que Jesus lhe lave os pés, num veemente ímpeto corta a orelha de um servo. Paulo o enfrenta porque Pedro insiste ainda nas práticas religiosas obsoletas dos judeus.
Podemos destacar algumas de suas atitudes cheias de nobreza e  que mostram seu coração ardoroso: vive com intensidade a experiência luminosa da transfiguração de Jesus e sugere ao mestre que sejam feitas três tendas ali para eternizar aquele momento.No discurso do pão da vida quando todos parecem abandonar Jesus ele faz a famosa declaração: “A quem iremos, Senhor, só tu tens palavras de vida eterna”. No famoso episódio de Cesaréia de Filipe proclamado hoje na liturgia encontramos a solene declaração da messianidade de Jesus: “Tu és o Messias, o filho do Deus vivo”.
Paulo, depois de sua conversão na estrada de Damasco, experimenta uma profunda transformação. Tem consciência de que lhe foi  reservada  uma tarefa especial:  anunciar o mistério de Cristo aos gentios. Transforma-se num missionário andarilho. Percorre toda a região do Mediterrâneo em quatro viagens missionárias. Não se cansa. Sofre tudo por Cristo. Em sua fala transparece a força do Evangelho que é uma pessoa que pode revolucionar as pessoas e o mundo. É responsável de ser instrumento da ação do Cristo ressuscitado.  Com os convertidos e alguns de seus colaboradores mais diretos vai fundando comunidades de fé na gentilidade. Essas comunidades vão se somar às que iam surgindo a partir da herança de Israel. Desenvolve um imenso apostolado epistolar de cunho doutrinário e exortativo.  Suas epístolas enriqueceram imensamente o trabalho de evangelização que a Igreja estava  desenvolvendo e que realiza até nossos dias. Preso, na qualidade de cidadão romano, quer ser julgado na capital do Império. Para lá se dirige e ali dá a vida. Sem nos darmos conta fomos formando nosso homem interior a partir do ardente palavra de Paulo. Fazemos nossas palavras de Paulo: “Para mim,  viver é Cristo”. “Tenho por lixo tudo o que não for Cristo Jesus”. “Quando sou fraco é que sou forte”.   “Tudo posso naquele que me conforta”.
frei Almir Ribeiro Guimaeães
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Missão a todos, na unidade
A festa que hoje celebramos é popularmente reconhecida como o dia do papa, sucessor de Pedro. Mas não podemos esquecer que, ao lado de Pedro, é celebrado também Paulo, o apóstolo, o missionário por excelência. A figura de Pedro é destacada principalmente na primeira leitura e no evangelho; a de Paulo, na segunda leitura. Mas a primeira leitura cria um espaço para falar dos dois: mostra que Deus está com seus enviados. Baseando-se na compreensão popular dos dois santos, pode-se combinar, nesta celebração, a idéia da pessoa de referência na Igreja, como foi Pedro, e a do incansável missionário, que foi Paulo. O lema que se pode repetir na pregação é: “Missão a todos, na unidade”.
1º leitura (At. 12,1-11)
A primeira leitura, tomada dos Atos dos Apóstolos, narra o episódio da prisão e libertação de Pedro. Por volta de 43 d.C., o rei judeu, Herodes Agripa I, vassalo dos romanos, mandou executar o apóstolo Tiago, filho de Zebedeu. Depois mandou aprisionar Pedro. Mas o “anjo do Senhor” o libertou, como libertou os israelitas do Egito. A comunidade recorreu à arma da oração: é Deus quem age, ele é o libertador. Assim, Pedro é libertado da prisão pelo anjo do Senhor. Este feito confirma sua missão especial na Igreja, ressaltada no evangelho. O significado desse episódio pode ser estendido à vida de Paulo, que, conforme At. 16,16-40, viveu uma experiência semelhante, além de muitas outras situações de perigo e aperto (cf. 2Cor. 11,16-33).
Evangelho (Mt. 16,13-19)
O evangelho apresenta Pedro como a pedra ou rocha da Igreja. A situação é a seguinte: Jesus havia enviado os Doze em missão, e eles tomaram conhecimento das reações do povo diante de Jesus, além do acontecido com João Batista, decapitado por Herodes Agripa. Quando os discípulos voltam da missão, Jesus lhes pergunta quem o povo e quem eles mesmos dizem que ele é. Pedro responde pelos Doze e chama Jesus de Messias (em grego, Cristo: cf. Mc. 8,29) e Filho de Deus (como diz Mt. 16,16; cf. 14,33). Enquanto o relato de Marcos (Mc. 8,27-30) é mais simples, o de Mateus mostra que Jesus reage à profissão de fé feita por Pedro em nome dos Doze com três observações. Primeiro, reconhece nela uma inspiração divina: “não foi um ser humano [literalmente, ‘carne e sangue’] que te revelou isso” (Mt. 16,17). Além disso, muda o nome de Simão, chamando-o, com um jogo de palavras, de Pedro, porque “sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e o poder [literalmente, ‘as portas’] do inferno nunca poderá vencê-la” (Mt. 16,18). Enfim, Jesus confia a Pedro o serviço de governar a comunidade (as “chaves” e o poder de ligar e desligar, ou seja, obrigar e deixar livre, poder de decisão), com ratificação divina (“será ligado/desligado no céu”, Mt. 16,19).
Jesus dá a Simão o nome de Pedro, “Pedra”, que sugere solidez: Simão deve ser a “pedra” (rocha) que dará solidez à comunidade de Jesus (cf. Lc. 22,32). Isso não é um reconhecimento de suas qualidades naturais, embora possamos supor que Simão deva ter sido um bom empresário de pesca! Pelo contrário, não se refere ao que Pedro foi, mas ao que será. Trata-se de uma vocação que o transforma. Muitas vezes, na Bíblia, a imposição de um novo nome significa que a pessoa recebe nova vocação e deverá transformar-se para corresponder. Na Bíblia, ser “rocha” é, antes de tudo, um atributo de Deus mesmo, o “Rochedo de Israel” (cf. Dt. 32,4 etc.). Jesus, com certeza, não quer colocar Pedro no lugar do “Rochedo de Israel”, mas o incumbe, por assim dizer, de uma missão que tenha qualidade análoga. A firmeza e a proteção evocadas pela imagem da rocha não são algo que Simão Pedro tem em si mesmo (ele negará conhecer Jesus na hora em que deveria testemunhar), mas são a firmeza e a proteção de Deus das quais ele é constituído “ministro”, e essa “nomeação” vai acompanhada de uma promessa: as “portas” (cidade fortificada, reino) do inferno não poderão nada contra a Igreja. Esse ministério está a serviço do reino dos céus (maneira de Mateus dizer o reino de Deus). Assim como as chaves das portas da cidade são entregues a seu prefeito (cf. Is. 22,22), assim Pedro recebe o governo da comunidade que instaura o reino de Deus no mundo. Em Mt. 18,18, autoridade semelhante é exercida pela comunidade, mas Pedro tem uma responsabilidade específica, unificadora, que dá solidez à Igreja.
2º leitura (2Tm. 4,6-8.17-18)
A segunda leitura evoca Paulo. Ele, que sempre trabalhou com as próprias mãos, está agrilhoado; na defesa, ninguém o assistiu. Contudo, fala cheio de gratidão e esperança. “Guardou a fidelidade”: a sua e a dos fiéis. Aguarda com confiança o encontro com o Senhor. Ofereceu sua vida no amor, e o amor não tem fim (cf. 1Cor. 13,8). Seu último ato religioso é a oblação da própria vida (cf. Rm. 1,9; 12,1). Sua vida está nas mãos de Deus, que a arrebata da boca das feras.
Sua vocação se deu por ocasião da aparição de Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, Paulo se transformou em apóstolo e realizou, mais do que os outros apóstolos, a missão de ser testemunha de Cristo até os confins da terra (At. 1,8). Apóstolo dos pagãos, tornou realidade a universalidade da Igreja, da qual Pedro é o guardião. A segunda leitura que hoje ouvimos é o resumo de sua vida de plena dedicação à evangelização entre os pagãos, nas circunstâncias mais difíceis: a palavra tinha de ser ouvida por todas as nações (2Tm. 4,17). A ninguém podia ficar escondida a luz de Cristo! O mundo em que Paulo se movimentava estava dividido entre a religiosidade rígida dos judeus farisaicos e o mundo pagão, entre a dissolução moral e o fanatismo religioso. Nesse contexto, o apóstolo anunciou o Cristo crucificado como a salvação: loucura para os gregos, escândalo para os judeus, mas alegria verdadeira para quem nele crê. Missão difícil. No fim de sua vida, Paulo pôde dizer que “combateu o bom combate e conservou a fé”. Essa afirmação deve ser entendida como fidelidade na prática, tanto de Paulo como dos fiéis que ele ganhou. Como Cristo, o bom pastor, não deixa as ovelhas se perder, assim também o apóstolo, enviado de Cristo, as conserva nesse laço de adesão fiel, marca de sua própria vida.
Missão a todos, na unidade
Conforme o evangelho, Simão responde pela fé dos seus irmãos. Por isso, Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa sua vocação de ser “pedra”, rocha, para que seja edificada sobre ele a comunidade dos que aderem a Jesus na fé. Pedro deverá dar firmeza aos seus irmãos (cf. Lc. 22,32). Essa “nomeação” vai acompanhada de uma promessa: o reino do inferno não poderá nada contra a Igreja, que é uma realização do reino do céu.
A libertação da prisão, lembrada na primeira leitura, ilustra essa promessa. Jesus confia a Pedro “o poder das chaves”, o serviço de administrador de sua “cidade”, de sua comunidade. À medida que a Igreja é realização (provisória, parcial) do reino de Deus, Pedro e seus sucessores, os papas, são “administradores” dessa parcela do reino.
Eles têm a última responsabilidade do serviço pastoral. Pedro, sendo aquele que “responde” pelos Doze, administra ou governa as responsabilidades da evangelização (não a administração material). Quem exerce esse serviço hoje é o papa, sucessor de Pedro e bispo de Roma, cidade que, pelas circunstâncias históricas, se tornou o centro a partir do qual melhor se exercia essa missão. Pedro recebe também o poder de “ligar e desligar” – o poder da decisão, de obrigar ou deixar livre –, exatamente como último responsável da comunidade (a qual também participa nesse poder, como mostra Mt. 18,18). Não se trata de um poder ilimitado, mas de responsabilidade pastoral, que concerne à orientação dos fiéis para a vida em Deus, no caminho de Cristo.
Se Pedro aparece como fundamento institucional da Igreja, Paulo aparece mais na qualidade de fundador carismático. Transformado por Cristo em mensageiro seu (“apóstolo”), ele realiza, por excelência, a missão dos apóstolos de serem testemunhas de Cristo “até os extremos da terra” (cf. At. 1,8). As cartas a Timóteo, escritas na prisão em Roma, são a prova disso, pois Roma é a capital do mundo, o trampolim para o evangelho se espalhar por todo o mundo civilizado daquele tempo. Paulo é o “apóstolo das nações”. No fim da sua vida, pode entregá-la como “oferenda adequada” a Deus, assim como ensinou (Rm 12,1). Como Pedro, ele experimenta Deus como o Deus que liberta da tribulação (cf. a primeira leitura).
Hoje, celebra-se especialmente o “dia do papa”. Isso enseja uma reflexão sobre o serviço da responsabilidade última. Importa libertar-nos de um complexo anti-autoritário de adolescentes. Pedro e Paulo representam duas vocações na Igreja, duas dimensões do apostolado – diferentes, mas complementares. As duas foram necessárias para que pudéssemos comemorar, hoje, os co-fundadores da Igreja universal. A complementaridade dos dois “carismas” continua atual: a responsabilidade institucional e a criatividade missionária. Essa complementaridade pode provocar tensões (cf. Gl. 2); por exemplo, as preocupações de uma “teologia romana” podem não ser as mesmas que as de uma “teologia latino-americana”. Mas a polêmica em torno da teologia da libertação, poucos anos atrás, mostrou que tal tensão pode ser extremamente fecunda e vital para a Igreja toda. Hoje, sabemos que o pastoreio dos fiéis – a pastoral – não é exercido somente pelos “pastores constituídos” como tais, pela hierarquia. Todos os fiéis são um pouco pastores uns dos outros. Devemos conservar a fidelidade a Cristo – a nossa e a dos nossos irmãos – na solidariedade do “bom combate”.
E qual será, hoje, o bom combate? Como no tempo de Pedro e Paulo, a luta pela justiça e pela verdade em meio a abusos, contradições e deformações. Por um lado, a exploração desavergonhada, que até se serve dos símbolos da nossa religião para fins lucrativos; por outro, a tentação de largar tudo e dizer que a religião é um obstáculo à emancipação humana. Nossa luta é, precisamente, assumir a libertação em nome de Jesus, sendo-lhe fiéis; pois, na sua morte, ele realizou a solidariedade mais radical que podemos imaginar.



1) Pedro: Simão responde pela fé dos seus irmãos (evangelho). Por isso, Jesus lhe dá o nome de Pedro, que significa sua vocação de ser pedra, rocha, para que Jesus edifique sobre ele a comunidade daqueles que aderem a ele na fé. Pedro deverá dar firmeza aos seus irmãos (cf. Lc 22,32). Esta “nomeação” vai acompanhada de uma promessa: as “portas” (= cidade, reino) do inferno (o poder do mal, da morte) não poderão nada contra a Igreja, que é uma realização do “Reino do Céu” (de Deus).
A libertação da prisão ilustra esta promessa (1ª leitura). Jesus lhe confia também “o poder das chaves”, i.é, o serviço de “mordomo” ou administrador de sua casa, de sua família, de sua comunidade ou “cidade”. Na medida em que a Igreja é realização (provisória, parcial) do Reino de Deus, Pedro e seus sucessores, os Papas, são “administradores” dessa parcela do Reino de Deus (dos “Céus” no sentido de “Deus”... nada a ver com a figura de Pedro como porteiro do céu no sentido do “além”..).
Eles têm a última responsabilidade do serviço pastoral. Pedro, sendo aquele que “responde pelos Doze”, administra ou governa as responsabilidades da evangelização (não a administração material...). Quem exerce este serviço hoje é o Papa, sucessor de Pedro e bispo de Roma (de Roma, por causa das circunstâncias históricas).
Pedro recebe também o poder de “ligar e desligar” - o poder da decisão, de obrigar ou deixar livre -, exatamente como último responsável da comunidade (em Mt 18,18, esse poder é dado à comunidade como tal, evidentemente sob a coordenação de quem responde por ela). Não se trata de um poder ilimitado, mas da responsabilidade pastoral, que concerne à orientação dos fiéis para a vida em Deus, no caminho de Cristo.
2) Paulo: Se Pedro aparece como fundamento institucional da Igreja, Paulo aparece mais na qualidade de fundador carismático. Sua vocação se dá na visão do Cristo no caminho de Damasco: de perseguidor, transforma-se em mensageiro de Cristo; “apóstolo”. É ele que realiza, por excelência, a missão dos apóstolos, de serem testemunhas de Cristo “até aos extremos da terra” (At 1,8).
As cartas a Tímóteo, escritas da prisão em Roma, são a prova disto, pois Roma é a capital do mundo, o trampolim para o Evangelho se espalhar por todo o mundo civilizado daquele tempo. Ele é o “apóstolo das nações”. No fim da sua vida, pode oferecer sua vida como “oferenda adequada” a Deus, assim como ele ensinou (Rm 12,1). Como Pedro, ele experimenta Deus como um Deus que liberta da tribulação (2ª leitura).
Pedro e Paulo representam duas vocações na Igreja, duas dimensões do apostolado, diferentes, mas complementares. As duas foram necessárias para que pudéssemos comemorar, hoje, os fundadores da Igreja universal. A complementaridade dos dois “carismas” continua atual: a responsabilidade institucional e a criatividade missionária.
Essa complementaridade pode provocar tensões (cf. Gl. 2); as preocupações de uma “teologia romana” podem não ser as mesmas que as de uma “teologia latino-americana”. A recente polêmica em tomo da Teologia da Libertação mostrou que tal tensão pode ser extremamente fecunda e vital para a Igreja toda.
Hoje, celebra-se especialmente o “Dia do Papa”. Enseja uma reflexão sobre o serviço da responsabilidade última. Importa libertar-nos de um complexo anti-autoritário de adolescentes. Devemos crescer para a obediência adulta, sem mistificação da autoridade, nem anarquia. O “governo” pastoral é um serviço legítimo e necessário na Igreja. Mas importa observar também que aquele que tem a última palavra deve escutar as penúltimas palavras de muita gente.
padre Johan Konings, sj - www.paulus.com.br
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A liturgia de hoje, celebra são Pedro e são Paulo, os dois pilares de fundação da Igreja que, de formas diferentes e complementares, edificaram a Igreja de Jesus. É a festa da fé de são Pedro que reconheceu, antes de qualquer outro, Jesus como o Messias, e foi escolhido por Ele para ser a pedra fundamental da Igreja, por isso comemoramos também hoje o dia do papa, e de são Paulo que passou de perseguidor a perseguido por aceitar a missão para qual Jesus o convidou, de levar seus ensinamentos a todos: pagãos, reis e também ao povo de Israel, missão esta que ele cumpriu com dedicação e especial criatividade missionária.
Pedro, um homem simples, um pescador sem cultura que ao longo dos evangelhos se revela cheio de contrastes, se recusa a ter os pés lavados por Jesus, mas de imediato pede que Ele o lave por completo; diz que jamais abandonaria Jesus, mas em seguida quando Jesus é condenado, ele o nega três vezes. No entanto, o poder do Espírito Santo transforma esse homem simples e intempestivo em um líder sensato e dinâmico que, juntamente com seus irmãos em Cristo, funda a igreja de Jesus e a comanda com firmeza, como uma rocha. Jesus confiou também a ele as chaves do Reino dos céus, conferindo-lhe autoridade para governar Sua igreja, Seu povo. Já o poder de ligar e desliga, é o poder de tomar decisões e de absolver ou não os pecados.
Paulo, por sua vez, não era um discípulo que caminhou com Jesus durante sua vida terrena, ou se quer era seu seguidor, na verdade perseguia os cristãos e, no caminho de Damasco, na sua última perseguição a eles, Jesus o convida a conversão, e mais do que isto, quer que ele seja Seu apóstolo para levar a Sua palavra a todas as nações, missão esta que Paulo cumpre com coragem e determinação. Mas, seu marco principal é a criatividade de sua catequese, que faz brotar a fé em Cristo em todos os que o escutam, quer seja oralmente ou através de suas cartas repletas do Espírito Santo. Perto de sua morte, Paulo deixa em sua segunda carta a Timóteo 4,7, o seu mais belo ensinamento: “Combati o bom combate, terminei a minha corrida, conservei a fé”, pois não importa as adversidades que se tem no dia a dia, a Fé deve ser sempre conservada.
São Pedro e são Paulo eram muito unidos na missão, e o compromisso de Evangelizar eles cumpriram à risca, correndo risco de vida, sem medo, iluminados com a força do Espírito de Jesus que os fortalecia a cada dia, em todos os lugares.
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Fé e missão
A missão de liderança confiada a Pedro exigiu dele uma explicitação de sua fé. Antes de assumir o papel de guia da comunidade, foi preciso deixar claro seu pensamento a respeito de Jesus, de forma a prevenir futuros desvios.
Se tivesse Jesus na conta de um messias puramente humano, correria o risco de transformar a comunidade numa espécie de grupo guerrilheiro, disposto a impor o Reino de Deus a ferro e fogo. A violência seria o caminho escolhido para fazer o Reino acontecer.
Se o considerasse um dos antigos profetas reencarnados, transformaria a Boa-Nova do Reino numa proclamação apocalíptica do fim do mundo, impondo medo e terror. De fato, pensava-se que, no final dos tempos, muitos profetas do passado haveriam de reaparecer.Se a fé de Pedro fosse imprecisa, não sabendo bem a quem havia confiado a sua vida, correria o risco de proclamar uma mensagem insossa, e levar a comunidade a ser como um sal que perdeu seu sabor, ou uma luz posta no lugar indevido.
Só depois que Pedro professou sua fé em Jesus, como o “Messias, o Filho do Deus vivo”, foi-lhe confiada a tarefa de ser “pedra” sobre a qual seria construída a comunidade dos discípulos: a sua Igreja. Entre muitos percalços, esse apóstolo deu provas de sua adesão a Jesus, selando o seu testemunho com a própria vida, demonstração suprema de sua fé. Portanto, sua missão foi levada até o fim.
padre Jaldemir Vitório
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"Não chores, meu filho; não chores, que a vida é luta renhida: Viver é lutar.” Gonçalves Dias brindou a nossa literatura poética com o “Canto do Tamoio”, que sabe que a vida é combate. O mesmo poeta coloca na boca de I-juca Pirama, “aquele que há de ser morto”, que é o significado do nome tupi, um canto de morte: “Meu canto de morte, guerreiros, ouvi”. Assim também Paulo anuncia e canta a sua morte: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”.
A vida é um combate e Paulo combateu para valer. Como o atleta na pista, iniciou uma corrida e chegou ao fim. Venceu, pois guardou a fé! “A vida é combate que os fracos abatem; que os fortes, os bravos, só podem exaltar.” Pedro e Paulo são fortes, e seu combate hoje os exalta.
Tacapes, arcos, flechas, espada, cruz, explosivos, desprezo, zombaria são outros tantos instrumentos de morte que se abatem sobre o que corre e que luta.
A fé o ilumina para que veja além, além da cruz, além da espada. Hoje, diz o Santo Padre, há o martírio do menosprezo, da zombaria. O livro do Apocalipse conta que os cadáveres das duas testemunhas ficaram expostos na praça da Grande Cidade. Contudo, um sopro de vida penetrou-os e eles se puseram de pé. E eles subiram para o céu na nuvem, e seus inimigos os contemplaram (cf. Ap 11).
Pedro e Paulo são as colunas de toda a Igreja e em particular da Igreja de Roma, onde está o sucessor de Pedro.
At. 12,1-11 – O livro dos Atos dos Apóstolos relata as atividades apostólicas de São Pedro e de São Paulo. Os atos de Pedro terminam com sua prisão, no capítulo 12, e o capítulo 13 inicia o relato da ação missionária de Paulo, embora a conversão de Paulo apareça na primeira parte, no capítulo 9, e Pedro esteja presente na assembléia de Jerusalém, capítulo 15. Os atos de Pedro terminam com o seu êxodo. A saída milagrosa da prisão descreve na realidade o fim da vida de Pedro. Guiado por um anjo, as portas se abrem, os soldados não interferem e Pedro parte para um outro lugar. Como seus pais no Egito, Pedro sai em busca da liberdade perfeita na Terra Prometida.
Sl. 33 (34) – O Senhor livrou os seus santos apóstolos de todos os temores. Seu anjo vem acampar ao redor de quem teme somente o Senhor, e traz a salvação. O Salmista nos convida a fazer a experiência da bondade e da suavidade do Senhor.
2Tm. 4,6-8.17-18 – Paulo se prepara para o martírio e escreve sua última carta, dirigindo-a a Timóteo, seu querido companheiro de missão. Sua vida foi um combate, e um bom combate que ele venceu. Como os atletas que correm na pista, Paulo também correu e chegou ao fim, pronto para a premiação. E, em tudo isso, ele guardou a fé, que iluminou os seus caminhos. Também ele está pronto para o seu êxodo.
Mt. 16,13-19 – “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” – disse Pedro, quando Jesus perguntou o que seus discípulos pensavam d’Ele. Talvez naquele momento Pedro não soubesse bem o que estava dizendo. Ele vivia, como todo mundo, sua limitação histórica, mas, o importante é que essas palavras não eram dele e sim do Pai do Céu. Pedro recebe uma graça especial para poder identificar o Filho de Deus encarnado e com ela recebe o encargo de conduzir com segurança a sua Igreja.
cônego Celso Pedro da Silva
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Confissão de Pedro
Esta narrativa da "confissão de Pedro" se completa e encontra seu sentido pleno com a narrativa seguinte sobre o primeiro "anúncio da paixão", com o diálogo conflitivo entre Jesus e Pedro. Estas narrativas são encontradas nos três evangelhos sinóticos, Marcos, Mateus, e Lucas, porém com destaques próprios em cada um destes evangelistas.
Marcos, que é o primeiro dos evangelhos canônicos a ser escrito, situa a passagem narrada no momento em que Jesus encerra seu ministério entre os gentios da Galiléia e das regiões vizinhas, iniciando o caminho para Jerusalém, em ambiente de exclusividade judaica, onde se dará o confronto final com os chefes de Israel. Marcos se preocupa em mostrar que Jesus rejeita o título messiânico, indicativo de ambição e poder, afirmando-se como o simples e humilde humano, cheio do amor de Deus e comunicador deste amor que dura para sempre. Um sinal de seu despojamento é a sua vulnerabilidade à morte programada pelos chefes do Templo e das sinagogas. Lucas, por sua vez, despreocupa-se com a situação temporal e geográfica do episódio narrado, colocando-o em um momento de oração de Jesus, e conclui sua narrativa, como Marcos, registrando a rejeição sumária de Jesus ao título messiânico.
No texto de Mateus, acima, encontramos duas de suas características dominantes. Mateus acentua a dimensão messiânica de Jesus e já apresenta sinais da instituição eclesial nascente. Mateus escreve na década de 80, quando os discípulos de Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das sinagogas que até então freqüentavam. Mateus pretende convencer estes discípulos de que em Jesus se realizavam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga tradição de Israel. Daí o acentuado caráter messiânico atribuído a Jesus por Mateus. Os cristãos, afastados das sinagogas, começam a estruturar-se em uma instituição religiosa própria, na qual a figura de referência é Pedro, já martirizado em Roma. Embora no Segundo Testamento se perceba conflitos entre Pedro e Paulo (cf. Gl. 2,11-14), a liturgia os reúne em uma só festa. Pedro é lembrado pelo seu testemunho corajoso diante da perseguição e Paulo, por seu empenho missionário em territórios da diáspora judaica.
José Raimundo Oliva
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1º leitura – At. 12,1-11 - AMBIENTE
O texto que nos é hoje proposto encerra praticamente a primeira parte do livro dos Atos dos Apóstolos (a história da expansão do cristianismo dentro das fronteiras palestinas – cf. At. 1-12). Lucas narra, neste texto, uma nova perseguição à Igreja de Jesus.
Esta perseguição é obra de Herodes Agripa I, neto do famoso Herodes, o Grande. O imperador Calígula deu-lhe, por volta do ano 37, os antigos territórios de Filipe (Itureia, Traconítide, Bataneia, Gaulanítide e Auranítide); mais tarde (ano 40), confiou-lhe ainda os antigos territórios de Herodes Antipas (Galileia e Pereia). Depois do assassínio de Calígula, Herodes Agripa prestou vários serviços ao imperador Cláudio, o qual lhe ofereceu o governo da Samaria e da Judeia (ano 41). Assim, Herodes Agripa I reinou praticamente sobre toda a Palestina entre os anos 41 e 44. Morreu subitamente no ano 44, durante uma cerimônia pública.
Herodes Agripa I preocupou-se bastante em não se incompatibilizar com os líderes judaicos. Por isso, foi muito cuidadoso em observar as prescrições da Lei de Moisés (embora essa preocupação tenha sido mais por política do que por convicção: fora do território judaico, Herodes Agripa I vivia à maneira helênica). Foi, provavelmente, com o mesmo objetivo que ele tentou suprimir a “seita cristã”, mandando executar Tiago e prendendo Pedro.
Este Tiago de que se fala no nosso texto é o filho de Zebedeu, irmão de João. Tiago era, com toda a certeza, um pregador ativo do Evangelho de Jesus e um membro importante da comunidade cristã de Jerusalém. Com esta morte violenta, Tiago “bebeu do mesmo cálice”, conforme lhe foi anunciado pelo próprio Jesus (cf. Mc. 10,38).
Estamos no ano 42.
Esta perseguição atingiu também outros membros da comunidade cristã de Jerusalém. O próprio Pedro foi preso, neste contexto, embora tenha sido, posteriormente, libertado. Os dados avançados por Lucas – no texto que nos é hoje proposto – sobre a prodigiosa libertação de Pedro não devem ser rigorosamente históricos; mas devem ser, sobretudo, uma catequese sobre a forma como Deus cuida da sua Igreja e dos discípulos que dão testemunho da salvação.
MENSAGEM
No livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas procura mostrar como o plano salvador de Deus para os homens continua a cumprir-se, mesmo depois da partida de Jesus para junto do Pai. Os discípulos de Jesus são agora, no meio do mundo, as testemunhas desse projeto de libertação que Deus ofereceu aos homens através de Jesus Cristo.
Como é que o mundo acolhe o testemunho dos discípulos? Deus deixa as testemunhas do seu projeto de salvação entregues à sua sorte, à mercê da perseguição e da incompreensão do mundo? O texto que nos é proposto como primeira leitura procura responder a estas questões.
1. Os elementos históricos avançados por Lucas sobre a morte de Tiago e a prisão de Pedro, no contexto da perseguição contra a Igreja durante o reinado de Herodes Agripa I (vs. 1-4), mostram como o testemunho do projeto libertador de Deus no mundo gera sempre confronto com as forças da opressão e da morte. Trata-se de uma realidade que não deve deixar os discípulos surpreendidos, pois o próprio Jesus teve que percorrer o caminho da cruz (a indicação de que Pedro foi preso no dia dos Ázimos e, portanto, muito próximo do dia de Páscoa, pode sugerir uma correspondência com a Páscoa de Jesus: o caminho que Pedro está a seguir é o mesmo caminho do Mestre). Por outro lado, a oposição do mundo não pode nem deve calar o testemunho que os discípulos são chamados a dar.
2. Enquanto Pedro estava na prisão, a Igreja orava por ele (v. 5). A indicação mostra uma comunidade cristã unida, em que os crentes estão próximos e solidários, apesar da distância e das grades da prisão. Por outro lado, o fato de a libertação de Pedro acontecer enquanto a Igreja “orava instantemente a Deus por ele” mostra como Deus escuta a oração da comunidade.
3. A maravilhosa história da libertação de Pedro (vs. 6-11) mostra a presença efetiva de Deus na caminhada da sua Igreja e a solicitude com que Deus cuida daqueles que dão testemunho do seu projeto de salvação no meio dos homens. O relato está construído com elementos maravilhosos e prodigiosos que não são, certamente, de caráter histórico (o aparecimento do “anjo do Senhor”, a luz que iluminou a cela da cadeia, a passagem pelos guardas sem que nenhum deles se tivesse apercebido da fuga do prisioneiro, a abertura milagrosa da porta da prisão); mas pretendem sublinhar a presença de Deus e apor no testemunho dos apóstolos o “selo de garantia” de Deus. Não há dúvida: Deus está com os apóstolos e, diante da oposição do mundo, garante a autenticidade da proposta apresentada por eles.
ATUALIZAÇÃO
·  Como cenário de fundo da nossa primeira leitura, está o fato de a comunidade cristã (aqui representada por Pedro) ser uma comunidade que tem como missão dar testemunho do projeto libertador de Deus no meio dos homens. A Igreja que nasce de Jesus não é uma comunidade fechada em si própria, ou que vive apenas de olhos postos no céu à espera que Deus, de forma mágica, renove o mundo; mas é uma comunidade comprometida com a transformação do mundo, que testemunha – com palavras e com gestos concretos – os valores de Jesus, do Evangelho e do mundo novo.
·  O nosso texto mostra que o anúncio da proposta de salvação que Deus faz aos homens gera sempre oposição. Essa oposição vem, especialmente, daqueles que querem perpetuar os mecanismos de exploração, de injustiça, de morte; mas também pode vir de quem está comodamente instalado na escravidão e não tem a coragem de questionar as cadeias que o prendem… Em qualquer caso, a oposição traduz-se sempre em atitudes de incompreensão, de desrespeito, ou mesmo de perseguição declarada. Uma Igreja que procura ser fiel ao mandato de Jesus e testemunhar a libertação de Deus ver-se-á sempre confrontada com esta realidade. Todos nós, discípulos de Jesus, chamados a testemunhar a vida de Deus na sociedade, no nosso local de trabalho, na nossa família, conhecemos a oposição, as calúnias, os sarcasmos, a dificuldade em que levem a sério o nosso testemunho… Tal fato não deve preocupar-nos demasiado: é a reação lógica do mundo quando se sente questionado pelos valores de Jesus. Para nós, o que é importante é afirmar, com sinceridade e verticalidade, os valores em que acreditamos.
·  A história de Pedro que hoje nos é proposta garante-nos que, nos momentos de perseguição e de oposição, o nosso Deus não nos abandona. Ele será sempre uma presença reconfortante e libertadora ao nosso lado, dando-nos a coragem para continuarmos a nossa missão e para darmos testemunho dos valores do Reino. O cristão não tem medo porque sabe que Deus está com ele e que, por isso, nenhum mal lhe acontecerá.
· A nossa história sugere também a importância da união e da solidariedade da comunidade, sobretudo para com os irmãos que estão longe ou que estão em situações dramáticas de sofrimento. A oração é uma forma de manifestar essa solidariedade e a comunhão que deve unir todos os irmãos, membros da mesma família de fé.

2º leitura – 2 Timóteo 4,6-8.17-18 - AMBIENTE
O Timóteo destinatário desta carta é um cristão nascido em Listra (Ásia Menor), de pai grego e de mãe judeo-cristã. A partir de certa altura, tornou-se um companheiro inseparável de Paulo; foi a ele que Paulo confiou importantes missões e a quem encarregou da responsabilidade pastoral das Igrejas da Ásia Menor. Segundo a tradição, foi o primeiro bispo da comunidade cristã de Éfeso.
É muito duvidoso que seja Paulo o autor desta carta: a linguagem, o estilo e mesmo a doutrina apresentam diferenças consideráveis em relação a outras cartas paulinas; além disso, o contexto eclesial em que esta carta nos situa é mais do final do séc. I ou princípios do séc. II do que da época de Paulo (o grande problema destas cartas já não é o anunciar o Evangelho, mas o “conservar a fé”, frente aos falsos mestres que se infiltram nas comunidades e que ensinam falsas doutrinas).
De qualquer forma, quem escreve a carta refere-se à vida de Paulo como uma vida integralmente preenchida pelo amor a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. Estamos numa época em que as comunidades cristãs se debatiam com as perseguições organizadas, a falta de entusiasmo dos crentes e as falsas doutrinas… Ao recordar, desta forma, o exemplo de Paulo, o autor desta carta pretende convidar os crentes em geral (e os animadores das comunidades, em particular) a redescobrirem o entusiasmo por Jesus e pelo testemunho da Boa Nova libertadora que Jesus veio propor aos homens.
MENSAGEM
O autor da carta apresenta-se na pele de Paulo, prisioneiro em Roma; e, nessa pele, faz um balanço final da sua vida e da sua entrega ao serviço do Evangelho.
A vida de Paulo foi, desde o seu encontro com Cristo ressuscitado na estrada de Damasco, uma resposta generosa ao chamamento e um compromisso total com o Evangelho. Por Cristo e pelo Evangelho, Paulo lutou, sofreu, gastou e desgastou a sua vida num dom total, para que a salvação de Deus chegasse a todos os povos da terra.
No final, ele sente-se como um atleta que lutou até ao fim para vencer e está satisfeito com a sua prestação. Resta-lhe receber essa coroa de glória, reservada aos atletas vencedores (e que Paulo sabe não estar reservada apenas a ele, mas também a todos aqueles que lutam com o mesmo denodo e o mesmo entusiasmo pela causa do “Reino”).
Para definir a sua vida como dom total a Deus e aos irmãos, Paulo utiliza aqui uma imagem bem sugestiva: a imagem da vítima imolada em sacrifício. Paulo fez da sua vida um dom total, ao serviço do Evangelho; a sua entrega foi um sacrifício cultual a Deus. Agora, para que o sacrifício seja total, só resta coroar a sua entrega com o dom do seu sangue… A referência à oferta “em libação” faz referência aos sacrifícios em que se vertia o vinho sobre o altar, imediatamente antes de ser imolada a vítima sacrificial.
Há duas maneiras de dar a vida por Cristo: uma é gastá-la dia a dia na tarefa de levar a libertação que Cristo veio propor a todos os povos da terra; outra é derramar, de uma vez, o sangue por causa da fé e do testemunho de Cristo… Paulo conheceu as duas modalidades; imitar Paulo é um desafio que o autor da carta a Timóteo faz aos discípulos do seu tempo e de todos os tempos.
Na segunda parte do nosso texto (vs. 16-18), o autor desta carta põe na boca de Paulo o lamento desiludido de um homem cansado que, apesar de ter oferecido a sua vida como dom aos irmãos se sente, no final, votado ao abandono e à solidão… Mas, apesar de tudo, Paulo tem consciência de que Deus esteve a seu lado ao longo da sua caminhada, lhe deu a força de enfrentar as dificuldades, o livrou de todo o mal e lhe dará, no final da caminhada, a vida definitiva. Daí o louvor com que Paulo termina: “glória a Ele por todo o sempre. Amém”.
É esta a atitude que o autor da carta pede aos seus irmãos: apesar do desânimo, do sofrimento, da tribulação, descubram a presença de Deus, confiem na sua força, mantenham-se fiéis ao Evangelho: assim recebereis, sem dúvida, a salvação definitiva que Deus reserva a quem combateu o bom combate da fé.
ATUALIZAÇÃO
· Paulo foi uma das figuras que marcou, de forma decisiva, a história do cristianismo. Ao olharmos para o seu exemplo, impressiona-nos como o encontro com Cristo marcou a sua vida de forma tão decisiva; espanta-nos como ele se identificou totalmente com Cristo; interpela-nos a forma entusiasmada e convicta como ele anunciou o Evangelho em todo o mundo antigo, sem nunca vacilar perante as dificuldades, os perigos, a tortura, a prisão, a morte; questiona-nos a forma como ele quis viver ao jeito de Cristo, num dom total aos irmãos, ao serviço da libertação de todos os homens. Paulo é, verdadeiramente, um modelo e um testemunho que deve interpelar, desafiar e inspirar cada crente.
·  O caminho que Paulo percorreu continua a não ser um caminho fácil. Hoje, como ontem, descobrir Jesus e viver de forma coerente o compromisso cristão implica percorrer um caminho de renúncia a valores a que os homens dos nossos dias dão uma importância fundamental; implica ser incompreendido e, algumas vezes, maltratado; implica ser olhado com desconfiança e, algumas vezes, com comiseração… Contudo, à luz do testemunho de Paulo, o caminho cristão vivido com radicalidade é um caminho que vale a pena, pois conduz à vida plena.
·  Concordo? É este o caminho que eu me esforço por percorrer? Convém ter sempre presente esse dado fundamental que deu sentido às apostas de Paulo: aquele que escolhe Cristo não está só, ainda que tenha sido abandonado e traído por amigos e conhecidos; o Senhor está a seu lado, dá-lhe força, anima-o e livra-o de todo o mal. Animados por esta certeza, temos medo de quê?

Evangelho – Mateus 16,13-19 - AMBIENTE
O Evangelho deste domingo situa-nos no norte da Galileia, perto das nascentes do rio Jordão, em Cesareia de Filipe (na zona da atual Bânias). A cidade tinha sido construída por Herodes Filipe (filho de Herodes o Grande) no ano 2 ou 3 a.C., em honra do imperador Augusto.
O episódio que nos é proposto ocupa um lugar central no Evangelho de Mateus.
Aparece num momento de viragem, quando começa a perfilar-se no horizonte de Jesus um destino de cruz. Depois do êxito inicial do seu ministério, Jesus experimenta a oposição dos líderes e um certo desinteresse por parte do Povo. A sua proposta do Reino não é acolhida senão por um pequeno grupo – o grupo dos discípulos.
É, então, que Jesus dirige aos discípulos uma série de perguntas sobre Si próprio.
Não se trata, tanto, de medir a sua quota de popularidade; trata-se, sobretudo, de tornar as coisas mais claras para os discípulos e confirmá-los na sua opção de seguir Jesus e de apostar no Reino.
O relato de Mateus é um pouco diferente do relato do mesmo episódio feito por outros evangelistas (nomeadamente Marcos – cf. Mc. 8,27-30). Mateus remodelou e ampliou o texto de Marcos, acrescentando a afirmação de que Jesus é o Filho de Deus e a missão confiada a Pedro.
MENSAGEM
O nosso texto pode dividir-se em duas partes. A primeira, de caráter mais cristológico, centra-se em Jesus e na definição da sua identidade. A segunda, de caráter mais eclesiológico, centra-se na Igreja, que Jesus convoca à volta de Pedro.
Na primeira parte (vs. 13-16), Jesus interroga duplamente os discípulos: acerca do que as pessoas dizem d’Ele e acerca do que os próprios discípulos pensam.
A opinião dos “homens” vê Jesus em continuidade com o passado (“João Batista”, “Elias”, “Jeremias” ou “algum dos profetas”). Não captam a condição única de Jesus, a sua novidade, a sua originalidade. Reconhecem, apenas, que Jesus é um homem convocado por Deus e enviado ao mundo com uma missão – como os profetas do Antigo Testamento… Mas não vão além disso. Na perspectiva dos “homens”, Jesus é, apenas, um homem bom, justo, generoso, que escutou os apelos de Deus e que Se esforçou por ser um sinal vivo de Deus, como tantos outros homens antes d’Ele (vs. 13-14). É muito, mas não é o suficiente: significa que os “homens” não entenderam a novidade do Messias, nem a profundidade do mistério de Jesus.
A opinião dos discípulos acerca de Jesus vai muito além da opinião comum. Pedro, porta-voz da comunidade dos discípulos, resume o sentir da comunidade do Reino na expressão: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo” (v. 16). Nestes dois títulos, resume-se a fé da Igreja de Mateus e a catequese aí feita sobre Jesus. Dizer que Jesus é “o Cristo” (Messias) significa dizer que Ele é esse libertador que Israel esperava, enviado por Deus para libertar o seu Povo e para lhe oferecer a salvação definitiva. No entanto, para os membros da comunidade do Reino, Jesus não é apenas o Messias: é também o “Filho de Deus”. No Antigo Testamento, a expressão “Filho de Deus” é aplicada aos anjos (cf. Dt. 32,8; Sal. 29,1; 89,7; Job. 1,6), ao Povo eleito (cf. Ex. 4,22; Os 11,1; Jer. 3,19), aos vários membros do Povo de Deus (cf. Dt. 14,1-2; Is. 1,2; 30,1.9; Jer. 3,14), ao rei (cf. 2Sm. 7,14) e ao Messias/rei da linhagem de David (cf. Sal. 2,7; 89,27). Designa a condição de alguém que tem uma relação particular com Deus, a quem Deus elegeu e a quem Deus confiou uma missão. Definir Jesus como o “Filho de Deus” significa, não só que Ele recebe vida de Deus, mas que vive em total comunhão com Deus, que desenvolve com Deus uma relação de profunda intimidade e que Deus Lhe confiou uma missão única para a salvação dos homens; significa reconhecer a profunda unidade e intimidade entre Jesus e o Pai e que Jesus conhece e realiza os projetos do Pai no meio dos homens. Os discípulos são convidados a entender dessa forma o mistério de Jesus.
Na segunda parte (vs. 17-19), temos a resposta de Jesus à confissão de fé da comunidade dos discípulos, apresentada pela voz de Pedro. Jesus começa por felicitar Pedro (isto é, a comunidade) pela clareza da fé que o anima. No entanto, essa fé não é mérito de Pedro, mas um dom de Deus (“não foram a carne e o sangue que to revelaram, mas sim o meu Pai que está nos céus” – v. 17). Pedro (os discípulos) pertence a essa categoria dos “pobres”, dos “simples”, abertos à novidade de Deus, que têm um coração disponível para acolher os dons e as propostas de Deus (esses “pobres” e “simples” estão em contraposição com os líderes – fariseus, doutores da Lei, escribas – instalados nas suas certezas, seguranças e preconceitos, incapazes de abrir o coração aos desafios de Deus).
O que é que significa Jesus dizer a Pedro que ele é “a rocha” (o nome “Pedro” é a tradução grega do hebraico “Kephâ” – “rocha”) sobre a qual a Igreja de Jesus vai ser construída? As palavras de Jesus têm de ser vistas no contexto da confissão de fé precedente. Mateus está, portanto, afirmando que a base firme e inamovível, sobre a qual vai assentar a Ekklesia de Jesus é a fé que Pedro e a comunidade dos discípulos professam: a fé em Jesus como o Messias, Filho de Deus vivo.
Para que seja possível a Pedro testemunhar que Jesus é o Messias Filho de Deus e edificar a comunidade do Reino, Jesus promete-lhe “as chaves do Reino dos céus” e o poder de “ligar e desligar”. Aquele que detém as chaves, no mundo bíblico, é o “administrador do palácio”… Ora o “administrador do palácio”, entre outras coisas, administrava os bens do soberano, fixava o horário da abertura e do fechamento das portas do palácio e definia quais os visitantes a introduzir junto do soberano… Por outro lado, a expressão “atar e desatar” designava, entre os judeus da época, o poder para interpretar a Lei com autoridade, para declarar o que era ou não permitido, para excluir ou re-introduzir alguém na comunidade do Povo de Deus. Assim, Jesus nomeia Pedro para “administrador” e supervisor da Igreja, com autoridade para interpretar as palavras de Jesus, para adaptar os ensinamentos de Jesus a novas necessidades e situações, e para acolher ou não novos membros na comunidade dos discípulos do Reino (atenção: todos são chamados por Deus a integrar a comunidade do Reino; mas aqueles que não estão dispostos a aderir às propostas de Jesus não podem aí ser admitidos).
Trata-se, aqui, de confiar a um homem (Pedro) um primado, um papel de liderança absoluta (o poder das chaves, o poder de ligar e desligar) da comunidade dos discípulos? Ou Pedro é, aqui, um discípulo que dá voz a todos aqueles que acreditam em Jesus e que representa a comunidade dos discípulos? É difícil, a partir deste texto, fazer afirmações concludentes e definitivas. O poder de “ligar e desligar”, por exemplo, aparece noutro contexto, confiado à totalidade da comunidade e não a Pedro em exclusivo (cf. Mt. 18,18). Provavelmente, o mais correto é ver em Pedro o protótipo do discípulo; nele, está representada essa comunidade que se reúne em volta de Jesus e que proclama a sua fé em Jesus como o “Messias” e o “Filho de Deus”. É a essa comunidade, representada por Pedro, que Jesus confia as chaves do Reino e o poder de acolher ou excluir. Isso não invalida que Pedro fosse uma figura de referência para os primeiros cristãos e que desempenhasse um papel de primeiro plano na animação da Igreja nascente, sobretudo nas comunidades da Síria (as comunidades a que o Evangelho de Mateus se destina).
ATUALIZAÇÃO
· Quem é Jesus? O que é que “os homens” dizem de Jesus? Muitos dos nossos conterrâneos vêem em Jesus um homem bom, generoso, atento aos sofrimentos dos outros, que sonhou com um mundo diferente; outros vêem em Jesus um admirável “mestre” de moral, que tinha uma proposta de vida “interessante”, mas que não conseguiu impor os seus valores; alguns vêem em Jesus um admirável condutor de massas, que acendeu a esperança nos corações das multidões carentes e órfãs, mas que passou de moda quando as multidões deixaram de se interessar pelo fenômeno; outros, ainda, vêem em Jesus um revolucionário, ingênuo e inconseqüente, preocupado em construir uma sociedade mais justa e mais livre, que procurou promover os pobres e os marginais e que foi eliminado pelos poderosos, preocupados em manter o “statu quo”.
Estas visões apresentam Jesus como “um homem” – embora “um homem” excepcional, que marcou a história e deixou uma recordação imorredoira. Jesus foi, apenas, um “homem” que deixou a sua pegada na história, como tantos outros que a história absorveu e digeriu?
Para os discípulos, Jesus foi bem mais do que “um homem”. Ele foi e é “o Messias, o Filho de Deus vivo”. Definir Jesus dessa forma significa reconhecer em Jesus o Deus que o Pai enviou ao mundo com uma proposta de salvação e de vida plena, destinada a todos os homens. A proposta que Ele apresentou não é, apenas, uma proposta de “um homem” bom, generoso, clarividente, que podemos admirar de longe e aceitar ou não; mas é uma proposta de Deus, destinada a tornar cada homem ou cada mulher uma pessoa nova, capaz de caminhar ao encontro de Deus e de chegar à vida plena da felicidade sem fim. A diferença entre o “homem bom” e o “Messias, Filho de Deus”, é a diferença entre alguém a quem admiramos e que é igual a nós, e alguém que nos transforma, que nos renova e que nos encaminha para a vida eterna e verdadeira.
·  “E vós, quem dizeis que Eu sou?” É uma pergunta que deve, de forma constante, ecoar nos nossos ouvidos e no nosso coração. Responder a esta questão não significa papaguear lições de catequese ou tratados de teologia, mas sim interrogar o nosso coração e tentar perceber qual é o lugar que Cristo ocupa na nossa existência… Responder a esta questão obriga-nos a pensar no significado que Cristo tem na nossa vida, na atenção que damos às suas propostas, na importância que os seus valores assumem nas nossas opções, no esforço que fazemos ou que não fazemos para O seguir… Quem é Cristo para mim?
· É sobre a fé dos discípulos (isto é, sobre a sua adesão ao Cristo libertador e salvador, que veio do Pai ao encontro dos homens com uma proposta de vida eterna e verdadeira) que se constrói a Igreja de Jesus. O que é a Igreja? O nosso texto responde de forma clara: é a comunidade dos discípulos que reconhecem Jesus como “o Messias, o Filho de Deus”. Que lugar ocupa Jesus na nossa experiência de caminhada em Igreja? Porque é que estamos na Igreja: é por causa de Jesus Cristo, ou é por outras causas (tradição, inércia, promoção pessoal…)?
· A Igreja de Jesus não existe, no entanto, para ficar a olhar para o céu, numa contemplação estéril e inconsequente do “Messias, Filho de Deus”; mas existe para O testemunhar e para levar a cada homem e a cada mulher a proposta de salvação que Cristo veio oferecer. Temos consciência desta dimensão “profética” e missionária da Igreja? Os homens e as mulheres com quem contatamos no dia a dia – em casa, no emprego, na escola, na rua, no prédio, nos acontecimentos sociais – recebem de nós este anúncio e este convite a integrar a comunidade da salvação?
· A comunidade dos discípulos é uma comunidade organizada e estruturada, onde existem pessoas que presidem e que desempenham o serviço da autoridade. Essa autoridade não é, no entanto, absoluta; mas é uma autoridade que deve, constantemente, ser amor e serviço. Sobretudo, é uma autoridade que deve procurar discernir, em cada momento, as propostas de Cristo e a interpelação que Ele lança aos discípulos e a todos os homens.
p. Joaquim Garrido, p. Manuel Barbosa, p. José Ornelas Carvalho
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Neste domingo, celebramos a solenidade de são Pedro e são Paulo. O que podemos destacar destes dois grandes apóstolos, dos testemunhos de cada um deles?
Pedro e Paulo são bastante diferentes quanto à personalidade, mas idênticos no amor a Cristo e à Igreja. Ambos dão a vida por Jesus Cristo até o martírio em Roma. Dois santos, podemos dizer, que nunca estão parados. Homens como nós, com tantas fraquezas, medos, capazes de trair, mas que tiveram plena confiança em Jesus. E Jesus aposta tudo neles. Dá sempre uma nova chance a Pedro, e Paulo não se cansa de repetir que se tornou apóstolo somente pela graça.
Falando de Pedro e Paulo, podemos falar da grandeza e santidade que eles representam, mas podemos também falar das suas fraquezas e dos seus pecados, e aí, descobrimos que uma coisa leva à outra, pois é exatamente a bondade e a misericórdia do Senhor que muda o coração deles e os transforma até se tornarem de pecadores a grandes santos e a transformar suas vidas num amor humilde e apaixonado pelo Senhor Jesus.
Pedro demonstrou várias vezes o seu caráter, a sua fraqueza, o seu cansaço para entender o coração de Jesus. Lembremo-nos quando Jesus lhe diz: “afasta-te de mim, Satanás!”; ou quando caminhando sobre as águas, duvida e Jesus lhe diz: “homem de pouca fé!” Mas, sobretudo é humano e fraco no momento da paixão de Jesus. Ele que tinha afirmado: “mesmo que todos os outros te abandonem, eu jamais te abandonarei”, é o mesmo que na sua fraqueza nega por três vezes a Jesus, jurando nunca tê-lo visto. Entretanto, é esta pobreza de Pedro que encontra o olhar misericordioso de Jesus e por ele se deixa curar.
Depois da ressurreição, às perguntas repetidas de Jesus se ele o ama, responde: “sim, Senhor, tu sabes tudo, tu sabes que eu te amo, tu sabes como te amo”. E a sua vida, mesmo em meio às dificuldades e fraquezas, será sempre a demonstração deste amor apaixonado pelo seu Senhor, até a prisão, às viagens, e, finalmente, ao martírio.
Também Paulo, fariseu convicto, fanático, perseguidor ferrenho dos cristãos, colaborador do martírio de Estevão, é transformado por Jesus, e, assim, vive o resto de vida numa missão contínua dirigida aos vários povos que ele pode alcançar. Até o momento no qual pode afirmar: “combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Não me resta outra coisa senão esperar a coroa da justiça que o Senhor, o justo juiz, preparou para mim. O Senhor veio em meu auxílio e me deu forças” (2ª leitura).
Homens frágeis, pecadores, transformados pela misericórdia do Senhor e pela força do seu Espírito. Deram a vida pelo Senhor e estabeleceram as bases da comunidade cristã, a Igreja, destinada a se espalhar por todo o mundo. Aquela de Pedro e de Paulo é a nossa humanidade resgatada; também nós não devemos nunca ficar desencorajados diante das nossas fraquezas, de nossas dúvidas, de nossa falta de fé, mas sempre renovar o nosso amor ao Senhor.
Dois apóstolos diferentes, colunas fundamentais da Igreja, garantindo a unidade desta. Pedro recebe o carisma, isto é, o dom e a tarefa, de ser referência para a unidade e a comunhão entre os que acreditam em Cristo, através do serviço à Verdade. Pedro é a pedra sobre a qual Cristo quis edificar a sua Igreja, a sua comunidade e a ele confia as chaves do Reino. Paulo recebeu a tarefa de difundir a palavra de Verdade, o Evangelho, até os confins da terra, pregando e fundando comunidades cristãs. São santos que encontram no Papa o continuador e o testemunho da missão de Cristo que continua em meio a nós. No Papa, encontra-se a autoridade de Pedro, chefe visível da Igreja e centro de unidade, e no Papa, encontramos o ardor missionário de Paulo. A festa de hoje nos ajuda a renovar a nossa fé. A fé cristã católica não é simplesmente uma fé em Deus ou em Cristo, mas é fé na Igreja. Dizemos no Credo: “Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica”. É na Igreja que nós podemos ter uma relação autêntica com Cristo, único salvador e com Deus, o Pai, que Cristo nos revelou. A solenidade deste domingo nos chama a ser presença ativa, assumindo a nossa responsabilidade na Igreja, para que sejamos sempre mais “comunhão” no interior dela e sejamos sempre mais “missão” no mundo de hoje.
Ao comentário do ano passado como vimos acima, acrescento:
Pedro e Paulo. Simão e Saulo. Dois novos nomes, dois percursos de novidade. Quem encontra Jesus não pode permanecer como era. Porque o Senhor toma aquilo que mais detestamos em nós e nos transforma. A cabeça dura do pescador Simão se faz rocha sobre a qual é construída a Igreja. Disto, ninguém duvida, nem Dan Brown em “Anjos e demônios”,quando o professor Langdon, da Universidade de Harvard, encontra-se na frente da basílica de São Pedro e os pensamentos em sua mente neste momento são: “Pedro é a pedra. A fé de Pedro em Deus foi tão firme, que Jesus o chamou de “a pedra”, o discípulo sobre cujos ombros Jesus construiria sua Igreja. Neste lugar, pensou Langdon, na colina do Vaticano, Pedro havia sido crucificado e enterrado. Os primeiros cristãos construíram um pequeno santuário sobre o seu túmulo. À medida que o cristianismo se estendeu, o santuário cresceu, passo a passo, até converter-se nesta basílica colossal. Toda a fé católica havia sido levantada, literalmente, sobre são Pedro, a pedra” (Anjos e demônios, cap.118).
A paixão exagerada de Paulo pela lei se transforma em ardor por Jesus Cristo. O que pode unir estas duas figuras tão diferentes? O amor por Jesus Cristo. É Cristo quem coloca os dois em estreita colaboração porque a diversidade de carismas é o que faz crescer.
Em que sentido a trajetória da nossa vida espiritual se identifica com a de Pedro e a de Paulo?
Meus atos dão testemunho de que eu realmente amo a Jesus Cristo?
Meu serviço na minha Igreja local faz crescer a união e o amor na comunidade ou divide-a ainda mais?
padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento
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Evangelho: Mt. 16,13 – 19
1. Dentro do contexto do trecho de hoje (que vai até o v. 28) Pedro recebe a revelação de que Jesus é o Messias: “não foi alguém de carne e sangue que te revelou isso, e sim meu Pai do céu” (v. 17b). Mas para Pedro a revelação do Jesus-Messias não passa por um Jesus plenamente humano a ponto de enfrentar a morte. Pedro está ligado ainda a um Messias glorioso e poderoso (mentalidade da época).
2. Tanto que, logo após Jesus confirmar que Pedro será a pedra sobre a qual edificará a sua Igreja (v. 18-19), o mesmo Jesus vai dizer-lhe que ele é pedra de tropeço (satanás), porque não pensa do modo de Deus, mas do modo humano (v. 22-23).
3. A seguir Jesus vai mostrar as conseqüências para quem reconhecê-lo como Messias (vv. 24-28: tomar a cruz … perder a vida … que adianta ganhar o mundo inteiro …). O reconhecimento de Jesus-Messias conduz ao testemunho e à cruz. Pedro vai fazer um longo processo de conversão para identificar sua vida com a do Mestre. Vai deixar de lado um Messias à moda humana (à nossa imagem e semelhança) para tornar-se discípulo à imagem e semelhança de Jesus-Messias-Servo (1ª leitura).
4. Pedro recebe o título de satanás, porque não é inspirado pelo Pai, mas pelo inimigo, o rival que tem um projeto oposto ao do Pai (4,10), a pedra que se transforma em tropeço (cf. Is. 8,14-15). Pedro não aceita a paixão de seu Mestre porque não compreende o valor fecundo que ela tem.
5. Pedro (e nós também) tinha dificuldade em aceitar do seu Mestre os anúncios da paixão: um primeiro e antecipado anúncio da paixão em Mt 16,21-28, outro anúncio rápido em Mt. 17,22-23 e mais um novo anúncio da paixão em Mt. 20,17-19. Mateus e sua comunidade antecipam o anúncio da paixão e morte, iluminados pela Páscoa. Jesus vai ao encontro do seu destino, segundo a vontade do Pai plenamente aceita.
6. Veremos: a. quem é Jesus? – vv. 13-16
b. a comunidade nasce do reconhecimento de quem é Jesus – vv. 17-18
c. o projeto de Deus continua na comunidade – v. 19
a. Quem é Jesus? – vv. 13-16
7. Pedagogicamente Jesus leva os discípulos para longe de Jerusalém, centro do poder político, econômico e ideológico. Cesaréia de Filipe é uma espécie de “periferia” e terra que espera um anúncio qualificado acerca de quem é Jesus. Assim, a partir dessa realidade, – longe das influências ideológicas do centro, – é que os discípulos são convidados a dar uma resposta plena de quem é Jesus. (… será que hoje nós podemos dizer plena-mente quem é Jesus se estivermos comprometidos com os centros de poder?)
8. Dois momentos do episódio. Primeiro Jesus pergunta o que as pessoas (os outros) dizem dele (v. 13). A diversidade das respostas revela a insuficiência em responder à pergunta “quem é Jesus”, qualificando-o mais como um precursor dos tempos messiânicos. A sociedade e as pessoas tem uma visão distorcida de Jesus exatamente por causa da sua humanidade. O título de “Filho do Homem” o situa no chão da vida de todos os mortais, ele é carne e osso como qualquer um de nós. Por isso acontecem as distorções: João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas (v. 14). Eles o situam na tradição profética, não ultrapassam a barreira do antigo, do velho (não há nada de novo ou de boa nova).
9. Num segundo momento Jesus interpela diretamente os discípulos: “para vocês quem sou eu?” (v. 15). Pedro responde: “Tu és o Messias (o Cristo), o Filho do Deus vivo!”(v. 16). Essa resposta é um dos pontos altos do evangelho de Mateus que tem a preocupação de mostrar Jesus enquanto Emanuel (=Deus conosco) e o Salvador (Jesus = Deus salva – cf.1,25). Jesus é a realização das expectativas messiânicas, o porta-dor da justiça que cria sociedade e história novas. Ele supera, portanto, a barreira do velho e introduz a grande “novidade” (o novo).
b. a comunidade nasce do reconhecimento de quem é Jesus – vv. 17-18
10. Reconhecer Jesus desse modo é ser bem-aventurado (v. 17), porque através dele o cristão mergulha no projeto de Deus realizado em Jesus. Ninguém chega a entender “quem é Jesus” a não ser mediante o compromisso com suas propostas (a justiça do Reino) que são as mesmas do Pai.
11. O reconhecimento de Jesus é fruto da vivência de seu projeto (prática da justiça). E a partir de pessoas que, como Pedro, o reconhecem e o confessam é que nasce a comunidade (v. 18a). Essa confissão é forte como a rocha, porém, não é fácil confessar. A comunidade cresce em meio aos conflitos (as portas do inferno ou o poder da morte), onde forças hostis procuram derrubar o projeto de Deus.
12. E Jesus confia a grande responsabilidade da liderança a quem o confessa como Messias. Qual a função dessa liderança?
12.1. Conservar – no meio dos conflitos decorrentes da prática da justiça, – a firme convicção de que o projeto de Deus irá triunfar (o poder da morte – a injustiça – não vai vencer). A função do líder é manter viva a esperança da comunidade em torno da justiça que inaugura o Reino.
12.2. Testemunhar, – mediante o contínuo processo de conversão-confissão, – que a salvação e a vida provêm de Deus. Conversão (explicitada nos vv. 21-23) onde Jesus mostra seu verdadeiro Messianismo através do sofrimento, rejeição e morte (ou seja, enfrentando o centro do poder que mantém a injustiça causadora da morte do povo). Pedro, antes pedra de edificação, se torna “satanás”, pois propõe um messianismo diferente (já rejeitado por Jesus nas tentações – cf. 4,1-11).
13. A conversão de Pedro (e… dos cristãos) é a conversão ao Cristo que sofre, é rejeitado e morre por causa da justiça do Reino. Confessar é aderir a ele com todas as conseqüências que o testemunho acarreta. O Mestre não é do jeito que Pedro imagina. O Mestre não é do jeito que nós imaginamos. O Mestre, justa-mente por ser o Mestre, quer que nós sejamos do jeito que ele é.
c. o projeto de Deus continua na comunidade – v. 19
14. Jesus, o Messias, o Enviado, realiza o projeto de Deus num contexto de conflitos e violência, passando pela morte e vencendo-a. Seu messianismo é uma luta em favor da justiça do Reino e contra as injustiças que promovem a morte. E o cristianismo, o que é? É o prolongamento da ação de Cristo que promove a justiça e a torna possível. O poder de Jesus é um poder que comunica vida. Sua prática o demonstra. Seu nome o comprova.
15. E quem ele quer como colaboradores seus? Aqueles que estão dispostos a confessá-lo, pois é a partir do testemunho que nasce a comunidade de Cristo (“construirei a minha Igreja”). E mais. Jesus faz com que suas testemunhas participem do seu poder de vida (“darei as chaves do Reino do Céu”).
16. Os projetos de morte tem poder, mas um poder relativo. O poder da comunidade das testemunhas de Cristo é o poder do mesmo Cristo: é o próprio Jesus quem age na comunidade, permitindo-lhe ligar e desligar. É Jesus quem construirá e dará do que é seu. A comunidade administra esse poder a partir do testemunho que vive e anuncia. Agindo assim, demonstra quem é a favor e quem é contra Jesus.
17. E Pedro? Sua liderança, em que consiste? Sua função é:
- ser o ponto de união da comunidade que Cristo edificou com sua vida, morte e ressurreição;
- organizá-la para que seja continuadora do projeto de Deus;
- ser aquele que (-a partir da prática do Mestre-) leva a comunidade ao discernimento e aceitação de tudo o que promove a vida e ao discernimento e rejeição de tudo o que patrocina e provoca a morte.
1ª leitura: At. 12,1-11
18. Paixão de Pedro, paixão de Jesus.
19. Jesus deixara claro aos discípulos que aceitá-lo como Messias e testemunhá-lo significaria enfrentar e superar conflitos. Mas também deixara claro que é ele quem constrói a comunidade dos que crêem e lhe confere o seu próprio poder. No livro dos Atos dos Apóstolos vemos de um lado a comunidade que sofre por causa dos conflitos e perseguições e do outro a experiência concreta da solidariedade de Deus, que a liberta de situações difíceis.
20. Depois do capítulo 12, os Atos praticamente ignoram Pedro. Lucas passa a se preocupar com a dinâmica da evangelização na pessoa de Paulo itinerante.
21. O capítulo 12 fala de uma comunidade perseguida pelo poder opressor de Herodes Agripa I (neto de Herodes,o grande, aquele dos inocentes), que fere de morte os líderes cristãos (vv. 1-2). Herodes mata por interesses políticos (v. 3a): agradar aos judeus. Nesse clima de perseguição Pedro é posto na prisão pela terceira vez. A intenção de Herodes é apresentá-lo ao povo após a festa da Páscoa (o povo certamente teria pedido a morte de Pedro e, concordando, Herodes se isentava de culpa).
22. No plano de Lucas o episódio pode se chamar a “páscoa de Pedro” à semelhança da “páscoa de Jesus” (Lc. 22-24).
22.1. Acontece com Pedro o mesmo que acontecera com Jesus. Há inclusive coincidência de datas: a referência à festa dos pães sem fermento (v. 3 com Lc. 22,1). Assim como o Pai libertou Jesus da morte, o anjo do Senhor liberta Pedro da prisão.
22.2. O aparato repressivo de Herodes (dezesseis soldados vigiando, Pedro amarrado com duas correntes, dois soldados amarrados às correntes de Pedro) ressalta:
- de um lado, o medo da sociedade estabelecida frente a quem luta pela justiça,
- e, de outro lado, a intervenção maravilhosa de Deus, que imobiliza e rompe as cadeias do poder opressor de modo inesperado. Até o fato de Pedro achar que tudo não passa de uma visão põe em primeiro plano a perfeita solidariedade de Deus para com os seus fiéis.
23. Face à perseguição que se dirige à alta direção da Igreja, às testemunhas imediatas de Jesus, a resistência da comunidade se dá em forma de fervorosa oração que sobe constantemente a Deus (v. 5) e de confiança de que ele não abandona os que lhe são fiéis. Deus é aquele que liberta continuamente a comunidade dos seus seguidores. Da mesma forma que libertou Jesus da morte, também conduzirá a comunidade através dos conflitos, na continuidade do anúncio do projeto de Deus. E a comunidade, por sua vez, reproduzirá em sua vida a paixão e a páscoa de Jesus, que é uma “paixão” por um mundo novo e libertado.
2ª leitura: 2Tm 4,6-8.17-18
24. Paixão de Paulo, paixão de Jesus.
25. O trecho pertence ao chamado ‘testamento de Paulo’. Ele está acorrentado, prestes a morrer. E aproveita para fazer uma revisão de sua vida, olhando o passado e olhando o futuro. Para ele, tudo é graça de Deus.
26. Chegou o momento de dar o grande testemunho. Seu sangue derramado, ele interpreta como sacrifício de valor expiatório: “já fui oferecido em libação” (v.6a). A libação de vinho, água ou óleo era, nos sacrifícios judaicos, derramado sobre a vítima (Ex. 29,40; Nm. 28,7). O sangue, que Paulo irá derramar, fará aumentar e incrementar a evangelização. A partida do apóstolo é descrita como dissolução, ou seja, soltar as velas, permitindo ao barco partir. A morte não é o fim, mas o início da nova viagem. É o último gesto de auto-entrega, a porta de entrada para a meta definitiva. Qual meta? “O Senhor… me levará para o seu Reino eterno” (4,18b).
27. Olhando o passado, Paulo tem consciência de ter cumprido sua missão de forma exemplar, com garra e constância. Usa o exemplo do soldado: “combati o bom combate”, e do atleta que corre no estádio: “terminei minha corrida”. Mas o fundamental para ele é ter corrido em vista da evangelização: “guardei a fé!” (v. 7).
28. Olhando para o futuro tem esperança de receber a coroa da justiça. Como o atleta vitorioso recebia a coroa da vitória, Paulo receberá a coroa da justiça, que é símbolo da imortalidade, da vitória, da alegria e da recompensa que Deus, justo juiz, conferirá a ele e a todos os que esperam e lutam com amor para que o projeto de Deus seja conhecido e aceito (v. 8)
29. A seguir relata os últimos acontecimentos de sua vida e o que se passou no tribunal. Como aconteceu com Jesus, também aconteceu com ele: “todos me abandonaram” (cf. Mt. 26,31). Ele não teve advogado de defesa. Prisioneiro sem advogado,… sem amigos,… sem recursos. Contudo, Paulo não se ressente disso, e pede que “isto não lhes seja levado em conta” (v. 16) como Jesus: “Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem” (Lc. 23,24).
30. O comparecimento de Paulo perante o tribunal é motivo de testemunho “a fim de que a mensagem fosse proclamada e ouvida por todas as nações” (v. 17b; cf. Lc. 21,13). A paixão de Paulo é o prolongamento da paixão de Jesus (cf. Cl. 2,14: “completo em minha carne o que falta nas tribulações de Cristo”).
31. – O apóstolo não tem mais esperança de viver, embora sua sentença tenha sido retardada por um pouco de tempo (v. 17c).
- Contudo, sua esperança se fundamenta – não numa salvação momentânea, – mas na intervenção definitiva de Deus que o levará salvo para o seu Reino (v. 18a).
- Abandonado por todos, sua única esperança é Jesus. E isso se torna motivo de profunda alegria, que o leva a render graças e a dar glória a Deus enquanto viver (v. 18b).
R e f l e t i n d o
1. A comemoração dos santos na Igreja nos leva a participar da vida do Cristo que foi assumida e encarnada por eles. Nos santos se manifesta o que Deus faz por nós e como ele é admirável. Este é o significado da festa para nossa comunidade.
2. Mais do que recorrer à intercessão dos santos, o importante é perguntar-nos quem foi realmente aquela pessoa? Que conflitos viveu, que dificuldades passou e superou, que pecados cometeu? Isto porque os santos não foram isentos de limitações e pecados (não eram anjos!). O que importa realmente é que diante das próprias limitações e apesar delas e dos próprios pecados, eles fizeram opção radical por seguir Jesus Cristo, confiantes na graça do Espírito e na misericórdia do Pai.
3. Hoje a pergunta é: quem foi Pedro? Quem foi Paulo? Como viveram? O que fizeram da própria vida? Qual foi o centro (o ideal) da vida deles? Por que (por qual motivo) viveram desse jeito?
4. Ajudando a responder estas perguntas, o evangelho de hoje propõe a pergunta fundamental para a nossa vida de cristãos: quem é Jesus para nós?
5. Mateus, na sua narrativa, começa de longe, com Jesus perguntando: ”quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” Aí é fácil. Eles respondem logo dizendo o que os outros pensam: João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas. Dizer o que os outros dizem, repetir opiniões e convicções alheias é fácil. Mas Jesus vai ao ponto central: “E vós, quem dizeis que eu sou?”
6. Esta é a verdadeira pergunta. Aquela que merece resposta verdadeira: vós (não os outros!) o que pensais? Quem responde a esta pergunta conhece o risco que corre. Repetir simplesmente a idéia dos outros não compromete. Será sempre a opinião dos outros, não tem nada a ver conosco (comigo!), não nos envolve em nada, não nos compromete …
7. A verdade da resposta de Pedro revela a identidade de Jesus: “o Cristo, o Filho do Deus vivo!” Essa resposta comprometeu Pedro com Jesus, pois reconheceu quem ele é e a ele aderiu. Jesus acolhe esse comprometimento profundo de Pedro e o chama de bem-aventurado. Pedro reconhece do fundo do coração (não é uma simples idéia da sua cabeça ou uma constatação!), faz um ato de fé e de entrega a esse Mestre. Essa resposta tem conseqüências!
8. Quais conseqüências? Quando não conhecemos (ou reconhecemos) verdadeiramente “quem é Jesus”, não podemos seguí-lo nem aderir a ele e ao seu projeto de vida. Seguiremos as opiniões dos outros, as convicções dos outros, talvez o caminho dos outros, … mas não o caminho de Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo!
9. Apesar dessa confissão de fé e dessa adesão, Pedro continua com suas limitações. Não aceita que Jesus fale de sua paixão (e Jesus o chama de satanás); não queria que Jesus lhe lavasse os pés; usa a espada no monte das oliveiras; negou Jesus três vezes… e depois no primeiro momento da história da Igreja fica indeciso diante dos problemas dos não-judeus e das tradições judaicas.
10. Entretanto, Jesus o estabelece como ponto de comunhão (tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja!) entre os discípulos. Ele será o responsável por manter unidos aqueles homens (tão diferentes) no seguimento de Jesus, o Mestre. Ele não é melhor que ninguém, talvez um dos mais “fracos” dos discípulos, pois, além de abandonar Jesus no pior momento, também o renegou. Por que Jesus o escolheu? Porque Pedro (apesar dos seus pecados) se entregou totalmente no seguimento de Jesus: “tu sabes que eu te amo! Tu sabes o quanto eu te amo! Tu sabes que eu sou fraco… mas tu sabes também o quanto te amo!”
11. Essas dificuldades e limitações de Pedro no seguimento de Jesus fazem dele um homem comum, de carne e osso, “humano” como todos nós. Pedro é um homem verdadeiro, espontâneo, honesto. Quando reconhece que errou volta atrás, se arrepende e continua seu comprometimento com o Mestre. Comprometimento que levou até às últimas conseqüências: perseguido, preso e martirizado.
12. Pedro foi um homem muito parecido conosco, muito humano nas suas limitações e quedas. Mas principalmente foi um homem verdadeiro (honesto consigo mesmo!) que descobriu a verdadeira identidade de Jesus e o seguiu verdadeiramente (entrega total, de corpo e alma) … até o fim!
13. E Paulo? Paulo de Tarso tem na 2ª leitura de hoje um resumo da sua vida, feito por ele mesmo, pouco antes do seu martírio. Nesse momento ele relembra as dificuldades por que passou, reafirma sua adesão a Cristo e, mais uma vez, toma consciência da sua pertença ao Senhor e da certeza do seu amor misericordioso.
14. Em trechos dos Atos ou de suas cartas ficamos conhecendo a rica personalidade de Paulo: judeu, fariseu observante e zeloso, discípulo do rabino Gamaliel, versado nas Sagradas Escrituras, ferrenho procurador e defensor da verdade. E também radical perseguidor dos cristãos por acreditar que eram contra o Deus verdadeiro.
15. O encontro e o reconhecimento de Jesus (quem és tu, Senhor? Eu sou Jesus a quem tu persegues!… At. 9,5) muda completamente a sua vida: de perseguidor para ardente evangelizador (ai de mim se não evangelizar!). Quando Paulo encontra a verdade da sua vida, não hesita em abraçá-la e seguí-la radicalmente, apesar de todas as dificuldades e todas as perseguições.
16. De personalidade forte, “briguento”, muitas vezes “radicalista”, Paulo será o grande responsável pela abertura do cristianismo a todos os povos (ele é o grande evangelizador, o grande missionário de Jesus Cristo… e, olha, ele era o grande perseguidor dessa mensagem!). Ele é a peça-chave para o primeiro movimento de “saída” e “inculturação” do novo modo de vida que estava nascendo. Sem Paulo, o cristianismo não seria o mesmo de hoje.
17. A celebração do martírio de Pedro e Paulo revela-nos o Mistério Pascal em três aspectos:
a. o enraizamento do Amor do Pai, como Jesus experimentou;
b. a resistência fundamentada na participação da Ceia-memória do Senhor e no testemunho de sua Palavra;
c. a experiência da vida fraterna (um só coração e uma só alma!).
Enquanto participamos da Páscoa do Senhor acontecida no testemunho-martírio de Pedro e Paulo vemos realizada em nós a Paixão de Jesus e sua Ressurreição.
18. Somos também continuadores e continuadoras da experiência apostólica: discípulos, missionários, testemunhas, mártires (martyria = testemunho). E o mundo inteiro e todas as gentes tem direito a esse anúncio de vida, a esse testemunho de vida: “ai de mim se eu não evangelizar!”
19. Temos tanta certeza do caminho dos apóstolos-mártires que rezamos:
- “Que Ele faça de nós uma oferenda perfeita para alcançarmos a vida eterna com os vossos santos: a Virgem Maria, Mãe de Deus, os vossos apóstolos e mártires” (oração eucarística II).
- “Esperamos entrar na vida eterna com a Virgem, Mãe de Deus e da Igreja, os apóstolos e todos os santos, que, na vida, souberam amar a Cristo e aos irmãos” (oração eucarística V).
- Celebrando a memória desses santos, dispomo-nos à mesma transformação de vida que viveram: “já não sou eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”!
prof. Ângelo Vitório Zambon
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À medida que se observa a história das nações, das sociedades públicas e privadas, dos regimes de governo e de autoridade, pode-se ver com relativa frequência a maneira como se super estruturam e se protegem para garantir a continuidade da sua existência e da sua influência sobre as pessoas e sobre aqueles que de algum modo garantem que tal condição permaneça.
Isso está narrado na leitura dos Atos dos Apóstolos, na carta de Paulo a Timóteo e no texto do Evangelho que se proclama neste domingo, todavia o que se vê nestes textos não é o exercício de autoridade e do poder para garantir a subsistência, mas experiência de comunhão e de oração.
No texto da primeira leitura se vê Herodes, tomando todas as medidas que “agradam” ao povo, e o faz servindo-se de sua autoridade não se importando com as consequências e com a legitimidade das ações que ordena. Manda prender e matar todos os que não concordam com seu estilo de governo e com a forma como exerce o poder. Entretanto, há uma realidade, que é invisível, que não precisa do uso da força. Trata-se do poder da oração e da comunidade como se lê: “A Igreja rezava continuamente a Deus”.  O resultado de tal atitude não poderia ser outro, depois de libertado, Pedro reconhece e proclama: “Agora sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava!”.
A mesma situação se repete com Paulo, convencido de ter feito tudo o que devia fazer conclui: “Combati o bom combate, terminei minha carreira, guardei a fé”.  E tem certeza que tudo foi possível porque “O Senhor esteve a meu lado e me deu forças; ele fez com que a mensagem fosse anunciada por mim integralmente, e ouvida por todas as nações; e eu fui libertado da boca do leão”.
Tal situação foi anunciada por Jesus, mediante a confissão de Pedro. Enquanto este o reconhece como Messias, enviado de Deus, aquele confirma: “Feliz és tu porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas meu Pai que está nos céus”. E lhe dá uma atribuição extraordinária. Ou seja, a partir desta convicção Pedro é chamado para Edificar a Igreja.
Em resumo, não há outro nome, não há outra condição, que não seja acreditar na pessoa de Jesus Cristo para que os projetos e instituições alcancem seus objetivos.
Eis que a Igreja convida a celebrar, neste domingo, a Solenidade de São Pedro e São Paulo e à sombra deles rezar pelo Papa e pelos pastores da Igreja a fim de que sejam, na mesma proporção, testemunhas da Boa Notícia de Jesus no meio do mundo.
Obviamente, que de algum modo, tal incumbência é extensiva a todos os cristãos, e é por isso que também se reza no salmo: “Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, seu louvor estará sempre em minha boca. Minha alma se gloria no Senhor; que ouçam os humildes e se alegrem!”. E a missa se conclui com esta oração: “Concedei-nos viver de tal modo na vossa Igreja que, perseverando na fração do pão e na doutrina dos apóstolos, sejamos um só coração e uma só alma”.
padre Elcio
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1. A solenidade dos santos Pedro e Paulo que este ano cai no domingo, é de extrema importância na caminhada da Igreja Católica. Trata-se, de fato, de duas colunas da Igreja que sustentam todo o edifício. Pedro é o discípulo que Jesus escolheu para dirigir a sua Igreja depois da sua despedida. Paulo é o grande missionário, fundador das primeiras comunidades cristãs. Deparar um pouco neste dia para refletir sobre estas duas grandes figuras de apóstolos, nos ajuda a aprofundar o sentido da nossa pertença a Igreja e aquilo que somos chamados a viver no mundo de hoje como cristãos, discípulos de Jesus.
2. “Depois de prender Pedro, Herodes o colocou na prisão” (At. 12,4). “Eu já estou para ser derramado como sangue em sacrifício” (2Tm. 4,6).
São dois versículos tirados das primeiras duas leituras de hoje, que salientam bastante a entrega total a Cristo dos dois discípulos. Na primeira leitura Pedro Experimenta o cárcere por causa do seu testemunho, e é libertado pela intervenção do anjo. Enquanto isso, Paulo na segunda leitura percebe que por ele está chegando o fim da vida e se alegra porque ao longo dos anos enfrentou inúmeras dificuldades por causa do anuncio do Evangelho. Por isso por Paulo a vida foi como um combate, uma luta contra todas as forças do mal que se organizam para contrastar a propagação do Evangelho de Jesus. A vida e o testemunho de Pedro e Paulo apontam para todos nós o sentido da nossa fé e da nossa vida de cristãos. Quem se decide a seguir Cristo, a divulgar no mundo a sua Palavra, a contribuir pela construção do Reino do céu deve estar disposto a enfrentar muitas dificuldades seja fora eu dentro de nós. O mesmo Jesus um dia falou isso, na famosa pregação sobre a montanha, perto do lago de Galiléia: “Felizes vocês se forem insultados e perseguidos, e se disseram todo tipo de calunia contra vocês, por causa de mim” (Mt. 5,11). A Igreja é alicerçada no sangue de Cristo derramado na cruz e também no sangue derramado por milhares de discípulos que em todos os tempos e em todos os lados do mundo testemunharam sem medo e continua testemunhando o próprio amor, o próprio apego ao Cristo Jesus. Esta, de fato, é a grande realidade espiritual com a qual deparamos nesta grande solenidade dos apóstolos Pedro e Paulo, ou seja, o apostolo autentico é aquele que ama a Jesus e é disposto a segui-lo sempre, em qualquer circunstância da vida, também as mais graves e difíceis. Do outro lado, podemos afirmar, olhando a vida de Pedro e Paulo, que é possível enfrentar o mundo em nome do Evangelho somente amando em modo exclusivo e total o Senhor Jesus. Quantas vezes encontramos no nosso caminho pessoas super disposta e disponíveis a fazer de tudo em nome de Deus e em prol da Igreja, mas na hora da verdade, ou seja, na hora que chega o momento do aperto e da perseguição em nome do Evangelho tudo desmorona, desfalece como neve ao sol. O problema então não é a determinação, nem a consciência daquilo que está sendo realizado, mas a intensidade de amor que está envolvida na nossa experiência religiosa. Parece-me isso aquilo que mais pesa na experiência cristã, pelo menos é isso que a vida de Pedro e Paulo deixa passar por nós hoje.
3. “Mas o Senhor esteve ao meu lado e me deu forças”(2Tim. 4,17)
Somente quem persevera na hora da persecução pode experimentar a presença amorosa do Senhor. A fidelidade de Deus para de ser uma palavra bonita para ser uma realidade efetiva, somente para aquelas pessoas que nuca desistem da caminhada, sobretudo nas horas, mas difíceis. Esta é a certeza que sai como um brado de coragem das leituras que acabamos de escutar: Deus é fiel e nunca deixa os seus filhos desamparados. Podemos passar por dificuldades, fora e dentro da Igreja, Mas sempre haveremos Deus como um bom Pai ao nosso lado. É esta confiança, esta experiência da presença do Senhor ao nosso lado, que fortalece a nossa caminhada, imprimindo força e coragem as nossas decisões. Ao mesmo tempo é bom salientar que esta experiência da presença do Senhor é uma experiência intima, que acontece na profundeza do coração. Somente o discípulo acostumado a entrar em si mesmo, a dialogar constantemente com Deus, a invocá-lo, percebe a sua passagem misteriosa. Neste sentido, podemos afirmar que são as horas da perseguição em nome do Senhor, que descortinam a profundeza da nossa oração, a verdade, a autenticidade do nosso dialogo com Ele.
4. “Não tenho ouro nem prata, mas o que eu te dou: em nome de Jesus Cristo o Nazareno, levanta-te e anda” (At. 3,6).
Na vida do discípulo e de discípulos como Pedro e Paulo, não encontramos somente a disposição, a coragem, mas também o despojamento, o reconhecimento que Cristo é o único tesouro da vida. Esta unicidade totalizante marca a vida dos discípulos do Senhor. Nele é bem visível que nada existe de importante a não ser o Senhor e o seu Evangelho. De uma certa forma, sendo que Pedro e Paulo são as colunas da Igreja, podemos tranqüilamente afirmar que somente uma Igreja despojada é sinal no mundo da totalidade de Cristo pela humanidade. Uma Igreja opulenta, abastada, uma Igreja que esbanja riquezas e, as vezes luxo, não é mais sinal de uma plenitude presente no próprio meio, mas sim, de uma carência. Se a evangelização na nossa atualidade, demora a desabrochar e a surtir os efeitos esperados, é também porque a Igreja que evangeliza nem sempre é sinal da Palavra que está anunciando. É porque Pedro e João não tinham ouro e prata, que perceberam que na realidade tinham muito mais para oferecer: o nome de Cristo Jesus o Nazareno. A mesma coisa, as mesmas reflexões poderiam ser feitas sobre a vida despojada de Paulo, que passou a vida toda renunciando aos seus privilégios de ministro, trabalhando para ganhar o pão de cada dia. Tudo isso para dizer e reafirmar um dado fundamental para todos e todas as pessoas que se colocam a disposição de Jesus, na sua trilha: que segue ao Senhor aprende a renunciar a tudo aquilo que pode atrapalhar a seqüela. Aliás, podemos dizer que a verdade do seguimento a Jesus está exatamente na vida despojada dos discípulos. Existe, de fato, uma relação intrínseca entre discipulado e despojamento que, claramente, não é apenas externo, mas sim, sobretudo interno. É um coração novo que o Espírito de Jesus produz em nós, coração novo que de agora em diante se alimenta só de Deus e da sua palavra, gerando atitudes novas e pensamentos novo. É isso que é bem visível nas vidas de Pedro e Paulo. Acompanhando o histórico deles percebe-se que, a um certo ponto do caminho, houve algo que provocou uma mudança radical, mudança visível nas atitudes tomadas, nas decisões, na nova maneira de pensar.
Pedimos a Deus que nos ajude neste caminho de mudança, para nunca desistir, mas sim experimentar a sua presença paterna.
padre Paolo Cugini
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“Exemplos de seguidores do caminho de cristo”
1. Paixão de Pedro, paixão de Jesus
Jesus deixara claro aos discípulos que aceitá-lo como Messias e testemunhá-lo significaria enfrentar e superar conflitos. Mas também deixara claro que é ele quem constrói a comunidade dos que creem e lhe confere o seu próprio poder. No livro dos Atos dos Apóstolos vemos de um lado a comunidade que sofre por causa dos conflitos e perseguições e do outro a experiência concreta da solidariedade de Deus, que a liberta de situações difíceis. Depois do capítulo 12, os Atos praticamente ignoram Pedro. Lucas passa a se preocupar com a dinâmica da evangelização na pessoa de Paulo itinerante.
O capítulo 12 fala de uma comunidade perseguida pelo poder opressor de Herodes Agripa I (neto de Herodes, o grande, aquele dos inocentes), que fere de morte os líderes cristãos (vv. 1-2). Herodes mata por interesses políticos (v. 3a): agradar aos judeus. Nesse clima de perseguição Pedro é posto na prisão pela terceira vez. A intenção de Herodes é apresentá-lo ao povo após a festa da Páscoa (o povo certamente teria pedido a morte de Pedro e, concordando, Herodes se isentava de culpa).
No plano de Lucas o episódio pode se chamar a “páscoa de Pedro” à semelhança da “páscoa de Jesus” (Lc. 22-24). Acontece com Pedro o mesmo que acontecera com Jesus. Há inclusive coincidência de datas: a referência à festa dos pães sem fermento (v. 3 com Lc. 22,1). Assim como o Pai libertou Jesus da morte, o anjo do Senhor liberta Pedro da prisão.
O aparato repressivo de Herodes (dezesseis soldados vigiando, Pedro amarrado com duas correntes, dois soldados amarrados às correntes de Pedro) ressalta: de um lado, o medo da sociedade estabelecida frente a quem luta pela justiça; e, de outro lado, a intervenção maravilhosa de Deus, que imobiliza e rompe as cadeias do poder opressor de modo inesperado. Até o fato de Pedro achar que tudo não passa de uma visão põe em primeiro plano a perfeita solidariedade de Deus para com os seus fiéis.
Face à perseguição que se dirige à alta direção da Igreja, às testemunhas imediatas de Jesus, a resistência da comunidade se dá em forma de fervorosa oração que sobe constantemente a Deus (v. 5) e de confiança de que ele não abandona os que lhe são fiéis. Deus é aquele que liberta continuamente a comunidade dos seus seguidores. Da mesma forma que libertou Jesus da morte, também conduzirá a comunidade através dos conflitos, na continuidade do anúncio do projeto de Deus. E a comunidade, por sua vez, reproduzirá em sua vida a paixão e a páscoa de Jesus, que é uma “paixão” por um mundo novo e libertado.
2. Paixão de Paulo, paixão de Jesus
O trecho pertence ao chamado “testamento de Paulo”. Ele está acorrentado, prestes a morrer. E aproveita para fazer uma revisão de sua vida, olhando o passado e olhando o futuro. Para ele, tudo é graça de Deus.
Chegou o momento de dar o grande testemunho. Seu sangue derramado, ele interpreta como sacrifício de valor expiatório: “já fui oferecido em libação” (v.6a). A libação de vinho, água ou óleo era, nos sacrifícios judaicos, derramado sobre a vítima (Ex. 29,40; Nm. 28,7). O sangue, que Paulo irá derramar, fará aumentar e incrementar a evangelização. A partida do apóstolo é descrita como dissolução, ou seja, soltar as velas, permitindo ao barco partir. A morte não é o fim, mas o início da nova viagem. É o último gesto de auto-entrega, a porta de entrada para a meta definitiva. Qual meta? “O Senhor… me levará para o seu Reino eterno” (4,18b).
Olhando o passado, Paulo tem consciência de ter cumprido sua missão de forma exemplar, com garra e constância. Usa o exemplo do soldado: “combati o bom combate”, e do atleta que corre no estádio: “terminei minha corrida”. Mas o fundamental para ele é ter corrido em vista da evangelização: “guardei a fé!” (v.7).
Olhando para o futuro tem esperança de receber a coroa da justiça. Como o atleta vitorioso recebia a coroa da vitória, Paulo receberá a coroa da justiça, que é símbolo da imortalidade, da vitória, da alegria e da recompensa que Deus, justo juiz, conferirá a ele e a todos os que esperam e lutam com amor para que o projeto de Deus seja conhecido e aceito (v.8)
A seguir relata os últimos acontecimentos de sua vida e o que se passou no tribunal. Como aconteceu com Jesus, também aconteceu com ele: “todos me abandonaram” (cf. Mt. 26,31). Ele não teve advogado de defesa. Prisioneiro sem advogado,… sem amigos,… sem recursos. Contudo, Paulo não se ressente disso, e pede que “isto não lhes seja levado em conta” (v. 16) como Jesus: “Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem” (Lc. 23,24).
O comparecimento de Paulo perante o tribunal é motivo de testemunho “a fim de que a mensagem fosse proclamada e ouvida por todas as nações” (v. 17b; cf. Lc. 21,13). A paixão de Paulo é o prolongamento da paixão de Jesus (cf. Cl. 2,14: “completo em minha carne o que falta nas tribulações de Cristo”).
O apóstolo não tem mais esperança de viver, embora sua sentença tenha sido retardada por um pouco de tempo (v. 17c). Contudo, sua esperança se fundamenta – não numa salvação momentânea, – mas na intervenção definitiva de Deus que o levará salvo para o seu Reino (v. 18a). Abandonado por todos, sua única esperança é Jesus. E isso se torna motivo de profunda alegria, que o leva a render graças e a dar glória a Deus enquanto viver (v. 18b).
3. E vós, quem dizeis que eu sou?
Pedagogicamente Jesus leva os discípulos para longe de Jerusalém, centro do poder político, econômico e ideológico. Cesaréia de Filipe é uma espécie de “periferia” e terra que espera um anúncio qualificado acerca de quem é Jesus. Assim, a partir dessa realidade, – longe das influências ideológicas do centro, – é que os discípulos são convidados a dar uma resposta plena de quem é Jesus ( será que hoje nós podemos dizer plenamente quem é Jesus se estivermos comprometidos com os centros de poder?)
Dois momentos do episódio. Primeiro Jesus pergunta o que as pessoas (os outros) dizem dele (v. 13). A diversidade das respostas revela a insuficiência em responder à pergunta “quem é Jesus”, qualificando-o mais como um precursor dos tempos messiânicos. A sociedade e as pessoas tem uma visão distorcida de Jesus exatamente por causa da sua humanidade. O título de “Filho do Homem” o situa no chão da vida de todos os mortais, ele é carne e osso como qualquer um de nós. Por isso acontecem as distorções: João Batista, Elias, Jeremias ou um dos profetas (v. 14). Eles o situam na tradição profética, não ultrapassam a barreira do antigo, do velho (não há nada de novo ou de boa nova).
Num segundo momento Jesus interpela diretamente os discípulos: “para vocês quem sou eu?” (v. 15). Pedro responde: “Tu és o Messias (o Cristo), o Filho do Deus vivo!”(v. 16). Essa resposta é um dos pontos altos do evangelho de Mateus que tem a preocupação de mostrar Jesus enquanto Emanuel (= Deus conosco) e o Salvador (Jesus = Deus salva – cf.1,25). Jesus é a realização das expectativas messiânicas, o portador da justiça que cria sociedade e história novas. Ele supera, portanto, a barreira do velho e introduz a grande “novidade” (o novo).
Victor Hugo Oliveira

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