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sábado, 25 de fevereiro de 2012

I DOMINGO DA QUARESMA


I DOMINGO DA QUARESMA

 

Comentários-Prof.Fernando


Domingo, 26 de fevereiro de 2012
 O diabo raramente se mostra como de fato ele é, a tentação vem sempre disfarçada de algo bom, que vai nos fazer bem!
 Pe. Erivaldo
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Introdução

Entramos hoje no tempo da Quaresma, no tempo de rever as nossas atitudes, a nossa caminhada, e mudar de vida. Depois da grande folia do Carnaval, depois de tantos desvios do caminho da casa do Pai, é chegada a hora de pensar seriamente no grande enigma da vida: De onde venho e para onde vou?
Poderemos responder que viemos dos nossos pais, e estamos nos dirigindo par o nada, para o cemitério, para o fim, ou para a morte. Porém, nós que acreditamos nos mistérios de Cristo e nas promessas do Pai através do seu plano de salvação da humanidade, sabemos que a vida não termina com a morte. Sabemos que esta vida terrena é apenas uma pequena parcela da nossa vida, a qual continua depois da morte, e não estamos nos referindo a reencarnação. Estamos falando da Vida Eterna anunciada por Jesus Cristo. Então, nós viemos do Pai e devemos voltar para o Pai. Sabemos que muitos não voltarão para o Pai, mas sim, irão para o inferno.  E quem disse isso foi o próprio Jesus.
Então temos na Quaresma, uma grande oportunidade de rever os nossos atos, de refletir sobre a nossa vida até aqui vivida, e com certeza chegaremos à conclusão de que está mais que na hora de mudar o rumo, de mudar de direção, de mudar para o lado da direita, que é a entrada para se atingir a estrada que nos leva para a Casa do Pai Eterno, e nos livrar do caminho da esquerda que leva ao inferno.

Se o Carnaval foi o tempo de pecar, de se afastar de Deus, a Quaresma  é o tempo do Filho Pródigo, o tempo de voltar-se para Deus, através da conversão.

Sal.
O reino de Deus está próximo, isto é, está dentro do nosso coração, porém ele só acontece em nós, depois que nós nos apossamos do Espírito Santo -
Maria Regina



                                           Impelido pelo Espírito Santo Jesus se dirigiu ao deserto para um tempo de recolhimento e oração. Os quarenta dias, (quarentena), que Jesus passou no deserto se constituiu num período de purificação, de penitência e também de tentação, pois foi nestas circunstâncias que o demônio aproximou-se dEle a fim de tentá-lo aproveitando-se do Seu estado debilitado pelo longo período de sacrifício. No entanto, apesar de parecer fisicamente abatido Jesus estava cheio do poder do Espírito Santo e pôde rechaçar as investidas do inimigo.
                                      Para nós, também, a quaresma é um tempo propício para que nós possamos, imitando a Jesus, vivenciar a oração e a penitência e, assim, experimentar a força e o poder do Espírito Santo na nossa caminhada. Sempre que estivermos dispostos  a fazer a vontade de Deus e nos decidirmos seguir a Jesus nós estaremos sujeitos a tentação. Todavia, em todas as situações em que nós nos deixarmos guiar pelo Espírito Santo, mesmo que hajam lutas e tribulações, nós, a exemplo de Jesus, sairemos vitoriosos pois o demônio não tem poder sobre nós.
                                  O Evangelho nos revela também que Jesus esteve em companhia dos animais selvagens. Para nós, os animais selvagens, com certeza, são os empecilhos que encontraremos no nosso caminho nos desviando do propósito da nossa vivência  deste tempo da quaresma.O reino de Deus está próximo, isto é, está dentro do nosso coração, porém ele só acontece em nós, depois que nós nos apossamos do Espírito Santo para vencemos os inimigos que também moram dentro do nosso interior. Reflita– Você já pensou em viver o deserto neste tempo da Quaresma?– Como você espera vencer as dificuldades? – O que você irá renunciar neste tempo? – Você tem se apossado do Espírito Santo para que Ele o ajude?


Amém
Abraço carinhoso
              
Maria Regina

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COM JESUS ENFRENTEMOS AS TENTAÇÕES
Pe. Erivaldo Gomes de Almeida
eri_gomesseminarista@yahoo.com.br
A quaresma é um tempo de graça para cada cristão. É o período em que somos convidados a nos prepararmos para o grande acontecimento de nossa fé: a páscoa.
O que este tempo litúrgico de quarenta dias nos lembra e qual o seu sentido?
·        Os quarenta dias que durou o dilúvio no tempo de Noé: tempo de purificar a humanidade corrompida.
·        Os quarenta anos de marcha do povo de Deus pelo deserto em busca da terra prometida: tempo de caminhada em busca da liberdade, é também tempo de purificação, de abandono dos falsos deuses e adesão ao Deus de Jacó.
·        Os 40 dias de jejum e oração que Jesus Cristo passou no deserto, preparando-se para a vida pública: tempo de preparação para a missão.
Para vivermos bem este tempo litúrgico que dura 40 dias a Igreja nos propõe três instrumentos: a caridade, o jejum e a oração. São gestos exteriores que devem ser realizados não para agradar aos homens, mas para agradar a Deus.
O jejum não é regime, não brota da necessidade estética, brota da necessidade que o homem tem de experimentar práticas ascéticas para purificar o próprio espírito e de se tornar solidário com os que sofrem privações das coisas essenciais da vida.
1-     O jejum ajuda-nos a controlar os próprios desejos e instintos. Não podemos fazer tudo que queremos. Vários de nossos desejos não podem ser satisfeitos.
2-     Ensina-nos a ser solidários. A partilhar, CARIDADE, que em nossas partilhas e gestos de caridade, saibamos valorizar o outro. Não posso dar ao outro aquilo que não quero para mim. Pobre não é lata de lixo. Lugar de lixo é no lixo.
3-    
Neste primeiro domingo o Espírito Santo nos conduz ao deserto para, juntamente com Cristo, enfrentarmos as tentações e sairmos vencedores.
O evangelho de hoje (Mc 1,12-15) é composto de duas partes: a primeira tem como tema central a tentação de Cristo no deserto e a segunda já nos mostra Cristo anunciando a chegada do Reino de Deus.
Marcos não cita o diálogo entre Jesus e Satanás tal como fazem Mateus e Lucas. Marcos nos faz notar que Jesus se deixa conduzir pelo Espírito de Deus. O Espírito o conduz ao deserto, lugar onde o povo de Deus também foi tentado e, ao contrário de Jesus, muitas vezes caiu.
Mesmo de forma breve, Marcos faz questão de mostrar que Jesus foi tentado por Satanás durante os quarenta dias em que passou no deserto, sua condição divina não o eximiu de fazer a dura experiência humana da luta contra o mal. Jesus não foi tentado somente durante estes quarenta dias, toda a sua vida foi uma constante e dura batalha contra o mal.
Toda a vida do Mestre foi de luta: às vezes era diretamente contra Satanás, outras, com seus adversários, outras ainda por parte de seus discípulos que por o amarem não o queriam ver pregado no alto de uma cruz (Mc 8,33). A tentação culminou no alto do Calvário, lá foi tentado a descer do madeiro e a salvar-se a si mesmo, traindo assim sua missão (Mc 15,29-32).
A Grande tentação que Cristo teve que encarar foi a de negar sua condição de ser filho obediente do Pai. Existem dois modos de entender o que significa ser filho de Deus: para o tentador equivale a ter poder e glória; para Jesus ser filho de Deus significa cumprir fielmente a vontade do Pai. Esta mesma tentação experimentamos a cada dia quando somos convocados a viver na glória, a ostentar poder e a abandonar o caminho da cruz, precisamos, como Jesus, optar por fazer a vontade do Pai.
Assim como Jesus, somos tentados quotidianamente a desobedecermos a Deus. O diabo raramente se mostra como de fato ele é, a tentação vem sempre disfarçada de algo bom, que vai nos fazer bem! Mas é só aparência, é como o pescador que para fisgar o peixe esconde a agulha dentro de um pedaço de carne. Precisamos ficar atentos e pedir forças a Deus para não nos curvarmos diante das tentações que o mundo nos apresenta. Não vale a pena ceder às tentações, não se arrisque, elas trarão somente destruição para sua vida e para a vida de sua família.
Jesus não ficou no deserto, foi em missão, à procura daqueles que dele precisava. E vai para a Galiléia, um lugar insignificante ao norte da Palestina. Cristo anuncia a chegada do Reino de Deus, que significa a soberania universal de Deus. O Reino é um presente de Deus pela humanidade, a resposta esperada de quem quer adentrar neste dinamismo é conversão e fé. É justamente essa a mensagem central da quaresma: converter-se para chegar à páscoa de Cristo renovados.
O Reino de Deus vai acontecendo à medida que os nossos corações se converterem e se abrirem à ação divina. Que esta quaresma nos sirva para darmos espaço ao Reino de Deus.

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“Arrependimento e fé” – Claudinei M. Oliveira

Domingo, 26 de fevereiro de 2012
Evangelho: Mc  1, 12--15  

Estamos no tempo litúrgico que busca a conversão dos pecados e das atitudes que ferem o diálogo com Deus. Momento oportuno para revermos nossas ações: estamos seguindo retamente os ensinamentos do filho do Homem ou estamos fazendo nossa caminhada paralela com o Evangelho? O que podemos fazer para mudar a direção da  vida, caso não esteja a contento com o Pai? Se Deus fez a aliança com todos os seres e cumpriu sua palavra  e Jesus foi tentado  a deixar sua missão, mas manteve perseverante, qual lição possamos tirar desta lógica para amadurecer na fé?  Será que consigamos buscar o arrependimento dos pecados  na construção de um Novo Reino? Afinal, buscamos qual Reino: o reino da justiça ou da injustiça; o reino do amor ou do desamor? Que atitude poderemos tomar a partir da nossa introspecção?
Diante de nossos olhos têm-se dois caminhos: o caminho do bem e o caminho do mal. O caminho do bem requer um pouco de atenção, solicitude, compaixão e amor com o próximo. Este, por sua vez, é um caminho lento, moroso e pesado, devido às atenções a serem contempladas. Enquanto que o caminho do mal é reto, limpo, colorido e cheio de pegadinhas. Não cansa muito, pois sempre nos chama a atenção para a distração. Além disso, o caminho do mal oferece uma deixa para resolver a situação amanhã e não cobra comprometimento um com o outro.  Agora, estamos numa bifurcação: qual dos caminhos devemos seguir?
Para muitos cristãos do mundo de hoje o caminho a ser seguido não é o caminho verdadeiro e correto, ou seja, o caminho de Cristo. Talvez pela exigência, pela renúncia, pelo compromisso com o outro não oferece atração inequívoca para a dedicação. São tantas atrações e tentações que o mundo mundano ofereça  que enche os olhos dos descrentes e dos sem fé. São alegrias falsas como o carnaval desregradas a pura bebida, dinheiro, traição e vale tudo; são ostentações baratas dos realitys shows, nas observâncias das facilidades, nas entregas carnais e nos tramas da desunião a preço de conchavos que saltam pelos olhos, mais uma vez, dos descrentes e dos sem fé. Estes na verdade são caminhos desejados, maturados por muitos na intenção da luxúria e do status pessoal.
Jesus salientou que seguir os ensinamentos do Pai requer tolerância consigo mesmo. Não é fácil dispor das tentações e dos arrependimentos para construir nova vida. Estes que aventurarem por seguir os preceitos da justiças serão perseguidos, maltratados, violentados e achacados pelos covardes acobertados de peles de carneiros.  Porém são lobos famintos  e afoitos por víveres que não aprenderam a discernir.
Olha que os Hebreus viveram quarenta anos no deserto, tempo necessário para compreender o valor e a fé no Senhor. Ali no deserto foram colocados a prova do amor para com Deus. Sentiram-se fome, sede, frio, abandonados, mas provaram que estavam crentes na promessa feita ao Pai Abraão, Isaac e Jacó.  Não arredaram o pé, mesmo em contratempo. Foi também no deserto que Moisés teve a experiência com Deus e colocou diante de si os mandamentos que fundamenta até hoje nossa caminhada.  Sem dúvida, tanto os hebreus quanto Moisés  sentiram vontade de abandonar tudo e seguir outros caminhos. As tentações eram evidentes. O povo cobrava de Moisés alimentos, saída daquelas dificuldades, exigia respostas claras e objetivas. Porém, no abraço a missão e no caminho escolhido não deixou abalar por nenhuma tentação.
Jesus também foi tentado. No Evangelho de Marcos não encontramos uma tentação explicita, mas no conjunto do Evangelho percebemos que foram muitas as tentações que colocaram a prova o amor do Filho Amado para com os irmãos necessitados durante a sua vida. Em meios aos animais selvagens  e o Satanás de um lado e os espíritos e anjos que os servem de outro, Jesus precisava discernir  um caminho que levasse a construção de um Reino que contemplasse a felicidade. Assim a prática de Jesus vai mostrar como venceu as tentações e como foi fiel ao projeto do Pai até o fim.
Ao retirar-se para o deserto Jesus queria isolar do poder opressor dos grandes centros para abastecer das vitalidades. Sabia que o povo estava a sua espera. Não tinha como enfrentar o poder operante despreparado. Não que Jesus era desprovido da santidade, ele tinha poder para tal, mas ao afastar dos traidores  o pensamento do Homem Libertador se concentrava no bem-fazer para uma legião de necessitados. Tanto que quanto fica sabendo que João foi morto, Ele segue para Galiléia na pregação de que o Reino está próximo.
A proximidade do Reino está na sua morte. A completa eficácia da construção do Reino está na morte de Cruz que causará pavor entre  seus seguidores. Somente os seguidores que tiveram fé e acreditaram nas suas palavras vão continuar na missão de evangelizar e denunciando todas as mazelas sociais que machucam   povo.  Pedro, o discípulo fiel e amado de Jesus afirmou: “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus”  Por que então Jesus morreu? Ou seja, qual o motivo que levou Jesus a morte? Jesus morreu por pregar severamente contra o domínio opressor, por rejeitar as propostas maléficas do poder dos fariseus e  doutores da lei. Jesus morreu por querer uma sociedade justa, fraterna, solidária,  saudável e sem tentações perniciosas.  A escolha que Jesus fez foi da vida e da liberdade para atender a vontade do Pai. Ele foi fiel e deixou este legado para nos atentar seguir com discernimento o que fez.
Nesta quaresma, tempo de jejum, oração e esmola requer muito de nós. Procuremos atentar-se para os caminhos que nos levam ao Pai, mas antes tentamos compreender em nós o arrependimento das tentações que abraçamos por prazer. Colocamos em primeiro lugar a busca incessante de um Deus fraterno que nos quer o bem e a felicidade e/ou espelhamos nos Salmo 24“mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a vossa estrada! Que vossa verdade me oriente e me conduza, porque sóis o Deus da minha salvação”. As tentações estão nos cercando por todos os lados. Não desanimem de buscar o Verdadeiro Deus que é o caminho reto e honrado de todo o cristão. Quem ousar conhecer o caminho de Cristo Ressuscitado, for batizado para obter uma boa consciência, estará junto do Pai no céu. Que assim seja, Amém!
Arrependa-se, converta-se e tenha fé, Claudinei M. Oliveira.

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FIEL A CRISTO, O CRISTÃO VENCE TODAS AS TENTAÇÕES! Olívia Coutinho

Dia 26de Fevereiro de 2012

Evangelho – Mc 1,12-15
     Primeiro domingo da Quaresma!  Inicia-se um tempo de graça para a vida da Igreja e de todos os cristãos que se dispõem a caminhar com o Cristo vencedor!
Somos chamados a viver esse tempo com mais intensidade e espírito de fé!  A liturgia Quaresmal nos leva a transformar o nosso coração de pedra em um coração de carne, onde o amor, a paz e a misericórdia estejam sempre presentes!
     No evangelho de hoje, vemos que Jesus foi tentado a desistir de sua missão, a abrir mão da salvação do povo em troca de bens matérias.   A sua resposta foi imediata: “Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus”!
Jesus foi tentado a aceitar e a confiar no poder do demônio, mas Ele respondeu com firmeza: ”Não tentarás o Senhor teu Deus”!
     Jesus enfrentou e venceu o demônio, pois Ele estava fortalecido pelo Espírito Santo e mesmo diante de tantas propostas sedutoras, manteve-se firme no propósito de levar em frente o plano de Deus: salvar a humanidade!
     Assim como aconteceu com Jesus, acontece também com cada um de nós, a tentação do TER, do PODER, do PRAZER, está sempre nos rondando! Precisamos estar dia e noite vigilantes para não sermos pegos de surpresa, pois a tentação é oportunista, surge inesperadamente, principalmente quando nos propomos a mudar de vida, quando estamos enfraquecidos na fé, ou vivendo alguma dificuldade.
     Para nos seduzir, o mal chega até a nós disfarçado do bem, por isto precisamos estar sempre atentos para não tornarmos presas fácies, deixando-nos enganar pelas aparências!
       Ninguém está livre das tentações, elas estão presentes em toda parte, principalmente onde existe o bem. Para vencer a tentação, é importante estarmos sempre em sintonia com Deus, perseverantes na fé, munidos com a arma mais poderosa que temos ao nosso alcance: a oração!
     Na oração do Pai Nosso, Jesus nos ensinou a pedir ao Pai: “E não nos deixeis cair em tentação”...
  Que o Espírito Santo, que fortaleceu Jesus nas tentações, nos fortaleça também e  que nenhuma proposta do mundo, nos convença a trocar o SER pelo TER.
    
FIQUE NA PAZ DE JESUS!  - Olívia 

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Este Evangelho nos lembra que é só pensar em assumir a evangelização, que o demônio vem rapidinho para tentar tirar essa idéia de sua cabeça.
Não desista e que Deus abençoe sua semana!


Evangelhos Dominicais Comentados

26/fevereiro/2012--  1o Domingo da Quaresma

Evangelho: (Mc 1, 12-15)


Quaresma é um tempo muito especial para o cristão. É período de oração e penitência para nos prepararmos para os acontecimentos centrais de nossa fé; a morte e Ressurreição de Jesus.

O período da quaresma representa os quarenta dias que Jesus passou no deserto após ter sido batizado. Jesus se preparava para assumir sua missão e, durante todos esses dias, foi tentado pelo demônio. Não teve um só minuto de sossego.

Durante as vinte e quatro horas do dia o demônio tentava fazê-lo mudar de idéia. O príncipe da terra sabia dos objetivos de Jesus e não estava gostando nada, nada, daquela história de pregar a conversão e a aceitação da Palavra de Deus.

Jesus quis se fazer semelhante a nós em tudo, menos no pecado, no entanto, quis também experimentar as tentações que enfrentamos diariamente. Este evangelho é o nosso próprio dia-a-dia, vivemos rodeados pelas tentações. É só o demônio perceber que estamos nos preparando para assumir a evangelização, e lá vem ele.

Vem como quem não quer nada. Oferece mundos e fundos para nos ver desistindo. Não tem fraco que resista suas ofertas. Se ele não consegue por "bem", coloca pedrinhas em nossos sapatos. Faz de tudo para atrapalhar e desestimular.

Marcos diz que Jesus foi para o deserto "movido pelo Espírito Santo". Jesus deixou-se guiar pelo Espírito. Foi no Espírito, que encontrou forças para superar as provações e as tentações que se apresentaram em seu caminho.


Esta é a prova concreta que Jesus nos deixou. O vencedor deixa-se guiar e entrega-se com fé. Porém, não podemos vacilar, é preciso estar atento, pois o demônio não desiste e vai estar permanentemente cochichando maravilhas, em nossos ouvidos.

Estar atento significa estar preparado. Jesus preparou-se para iniciar sua missão fazendo penitência, Jejuando e orando durante os quarenta dias em que ficou no deserto. Mais uma vez, Jesus quis mostrar-nos o poder da penitência e da oração.

Mais uma lição nós aprendemos com o evangelho de hoje. O jejum e a oração não nos isentam das tentações, porém são os meios mais eficazes para vencê-las. O jejum e a oração devem levar-nos à conversão e à aproximação.

Quaresma é tempo de aproximar-se do irmão e de viver a experiência da intimidade com Deus. Tempo de lembrar que Jesus foi traído. Tempo de meditar a perseguição, o calvário e sua morte. É tempo de profunda meditação e não de profunda tristeza, pois Jesus Ressuscitou.

Jesus venceu a morte! Nessa verdade se baseia toda nossa fé, por isso, vamos viver a alegria e a esperança de vida eterna. É preciso deixar de lado o comodismo e dar continuidade ao trabalho iniciado. Vamos nos preparar para a vinda Gloriosa de Jesus e levar este recado para todos os irmãos:

"O Reino de Deus já chegou, convertam-se e creiam nesta boa notícia!"

(2470)

jorgelorente@ig.com.br – 26/fevereiro/2012



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""NO ACONCHEGO DO DESERTO" -Diac. José da Cruz



26 de Fevereiro - 1º Domingo da Quaresma
Evangelho Marcos 1, 12-15

                                                          

Neste primeiro domingo da quaresma, Deus nos chama ao deserto com Jesus, para uma conversa de pé de ouvido, a liturgia se reveste de roxo, que é a cor da paixão, não é tristeza, luto e desconsolo, como muitos pensam, é como se Deus, o amado de nossa vida, quisesse que ao longo de quarenta dias, prestássemos mais atenção nele, no seu jeito diferente de nos amar, roxo seria isso: um olhar para dentro, enquanto se olha para o céu, podendo evocar o poeta “De tudo ao meu amor serei atento...”, quaresma é tempo de deixar-se remodelar, permitindo que Deus refaça a nossa vida.
Quando presido o Sacramento do matrimonio percebo que os casais têm dificuldade de se olhar nos olhos, na hora do consentimento, e não é só com quem está casando que isso acontece, um amigo confidenciou-me que sentiu um certo “desconforto” ao olhar nos olhos da esposa, na renovação do matrimonio, em uma missa de encontro de casais. Olhar nos olhos nos causa medo, porque é enigmático e misterioso, não se tem medo de olhar o corpo, que se torna facilmente objeto de desejo, em uma sociedade tão “erotizada”, mas quando se olha nos olhos, estamos diante da alma do outro, há comunhão de corpo mais não há comunhão de alma. A relação entre namorados, noivos, e até entre marido e mulher, fica na maioria das vezes banalizada, alguns conseguem emigrar do erótico para o Eros, e há outros, que na graça de Deus, confiada pelo Sacramento do matrimonio, conseguem chegar no Ágape, que é o amor em toda sua plenitude, o Eros é o meio, e não o fim, é um caminho que tem de ser percorrido do começo ao fim da vida conjugal e que só será obstruído pela morte.
Nossa relação com Deus ás vezes também é assim, um tanto quanto banal, pois temos medo de contemplar o seu mistério. Na capela do Santíssimo, lugar sagrado em nossas comunidades, onde Aquele que é o Amor Absoluto se esconde em um pedaço de pão, sentimo-nos embaraçados e procuramos sempre dizer algo, fazer um pedido, recitar uma fórmula de louvor e adoração, daí somos capazes de ficar horas ali falando , porque este “Falar” nos dá a ilusão de que penetramos no mistério de Deus e podemos dominá-lo. Invertemos o jogo e queremos seduzir a Deus, diferente do profeta, relutamos em ser por ele seduzidos e dominados.
Deserto é lugar teológico do “namoro”, onde movidos pelo mesmo Espírito que conduziu Jesus, vamos ter nosso encontro pessoal com Deus, o esposo apaixonado que quer olhar nos nossos olhos, sussurrar em nossos ouvidos e nos envolver com a sua ternura, para sentirmos de novo o encanto do primeiro amor, como na visão do profeta Oséias “Eis que eu mesmo a seduzirei e a conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração”. Deserto é lugar de fazer a experiência da esposa jovem, que manifesta a sua alegria ao colocar toda sua confiança no amado, e descobrir, como no Cântico dos cânticos, que somente Deus é a sua Segurança – “Quem é esta que sobe do deserto apoiada em seu Amado?”
É o Povo da antiga aliança, é o povo da nova aliança, é a Santa Igreja, somos eu e você, a razão do amor divino, que nos trouxe, com a encarnação de Jesus, a possibilidade real de experimentarmos em nossa vida a salvação. Deserto é, portanto lugar do encontro onde o amor se revela, é a mesma experiência do povo do Êxodo, que se repete em Jesus Cristo, porém, ao contrário do povo da antiga aliança, não mais se deixará enganar pela tentação, propostas sedutoras dos amantes, para fazê-lo perder o paraíso de delícias, onde o homem convivia com os animais selvagens, servido pelos anjos de Deus, evocando a proteção Divina do Eterno Amado sob o objeto do seu amor.
Revistamo-nos do roxo da paixão e não da tristeza, quaresma é dar um tempo para aquelas coisas que em nossa vida são secundárias, para nos ocuparmos com um Deus apaixonado, que suspira quando vamos ao seu encontro enquanto Igreja, na dimensão celebrativa. Quaresma é quarenta dias de amor, como um casal que retoma a lua de mel, após longa caminhada na vida conjugal, foi no deserto que Deus celebrou a aliança com seu povo, estabelecendo com ele uma relação única, “Eu serei o seu Deus e vós sereis o meu povo”, evocando o cerne da união conjugal – e os dois serão uma só carne.
É esse amor que salvará o mundo, verdade ignorada pelos que prenderam João Batista tentando sufocar um Amor que não se deixa aprisionar, e em Jesus irrompe ainda mais forte, no meio da humanidade, para levar o homem de volta ao paraíso! Nada irá deter a força desse amor, nem a miséria dos homens ou os pecados da igreja, o AMOR triunfará definitivamente! Pois o tempo se completou, o Reino está próximo. Converter e crer no evangelho, é uma forma contínua de corresponder a esse amor misterioso de Deus que em Jesus busca a todos os homens, sem distinção ou acepção de qualquer pessoa. Converter-se é dar um solene “basta” aos falsos amores de “amantes” mentirosos, que nos enganam, oferecendo-nos um falso paraíso, arrastando-nos à tristeza da morte do pecado, deixando-nos longe...bem longe Daquele que é o nosso único e verdadeiro Amor...
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Chegaram, para nós, os sagrados dias da Quaresma: dias de oração, penitência, esmola, combate aos vícios e leitura espiritual. Esses dias tão intensos nos preparam para as alegrias da Páscoa do Senhor. Estejamos atentos, pois não celebrará bem a Páscoa da Ressurreição quem não combater bem nos dias roxos da Quaresma.
A Palavra que o Senhor nos dirige já neste primeiro domingo é uma séria advertência neste sentido. A leitura do Gênesis nos mostrou como Deus é cheio de boas intenções e bons sentimentos em relação a nós: depois de haver lavado todo pecado da terra pelo dilúvio, misericordiosamente, o Senhor nosso Deus fez aliança com toda a humanidade e com todas as criaturas: “Eis que vou estabelecer minha aliança convosco e com todos os seres vivos! Nunca mais criatura alguma será exterminada pelas águas do dilúvio.” E, de modo poético, comovente, o Senhor colocou no céu o seu arco, o arco-íris, como sinal de paz, de ponte que liga a criatura ao Criador: “Ponho meu arco nas nuvens, como sinal de aliança entre mim e a terra!” Com esta imagem tão sugestiva, a Escritura Sagrada nos diz que os pensamentos do Senhor em relação a nós são de paz e salvação. Podemos rezar como o Salmista: “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos; sois o Deus da minha salvação! Recordai, Senhor, meu Deus, vossa ternura e a vossa salvação, que são eternas! O Senhor é piedade e retidão, e reconduz ao bom caminho os pecadores!”
Ora, se já a aliança após o dilúvio revelava a benignidade do coração de Deus, é em Cristo que tal bondade, tal misericórdia, tal compaixão se nos revelam totalmente: “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim de nos conduzir a Deus!” Não é este Mistério tão grande que vamos celebrar na Santa Páscoa? Nosso Senhor, morto na sua natureza humana, isto é, morto na carne, foi justificado, ressuscitado pelo Pai no Espírito Santo para nos dar a salvação definitiva, selando conosco a aliança eterna, da qual aquela de Noé era apenas uma prefiguração. Deus nos salvou em Cristo, dando-nos o seu Espírito Santo, recebido por nós nas águas do Batismo, que purificam mais que aquelas outras, do dilúvio! Nunca esqueçamos: fomos lavados, purificados, gerados de novo, no santo Batismo. Somos membros do povo da aliança nova e eterna, somos uma humanidade nova, nascida “não da vontade do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1,12). Somos o povo santo de Deus, povo resgatado pelo sangue de Cristo, povo que vive no Espírito Santo que o Ressuscitado derramou sobre nós. Uma grande miséria dos cristãos destes tempos nossos é terem perdido a consciência que somos um povo sagrado, vivendo entre os outros povos do mundo. Brasileiros, argentinos, mexicanos, estadunidenses, europeus, asiáticos, africanos... não importa: aqueles que crêem em Cristo e nele foram batizados, são a sua Igreja, são o povo santo de Deus, congregado no Corpo do Senhor Jesus, para formar um só templo santo no Espírito de Cristo! Somos um povo que vive entre os pagãos, um povo que vive espalhado por toda a terra, Igreja dispersa pelo mundo inteiro, que deve viver no mundo sem ser do mundo! A miséria nossa é querermos ser como todo mundo, viver como todo mundo, pensar e agir como todo mundo. Isso é trair a nossa vocação de povo sagrado, povo sacerdotal, povo que deve, com a vida e a boca cantar as maravilhas daquele que nos chamou das trevas para a sua luz admirável! (cf. 2Pd. 2,9) Convertamo-nos! Sejamos dignos da nossa vocação! 
Eis o tempo da Quaresma! Somos convidados nestes dias a retomar a consciência de ser este povo santo. E como fazê-lo? Como Jesus, o Santo de Deus, que passou quarenta dias no deserto em combate espiritual, sendo tentado por Satanás. A Quaresma é um tempo de deserto, de provação, de combate espiritual contra Satanás, o Pai da mentira, o enganador da humanidade. Sem combate não há vitória e não há vida cristã de verdade! A Igreja, dá-nos as armas para o combate: a oração, a penitência e a esmola. A Igreja nos pede neste tempo, que combatamos nossos vícios com mais atenção e empenho; a Igreja nos recomenda a leitura da Sagrada Escritura e de livros edificantes, que unjam o nosso coração. Deixemos a preguiça, cuidemos do combate espiritual! Que cada um programe o que fazer a mais de oração. Há tantas possibilidades: rezar um salmo todos os dias, rezar todo o saltério ao longo da Quaresma, rezar a via-sacra às quartas e sextas-feiras. Quanto à penitência, não enganemos o Senhor! Que cada um tire generosamente algo da comida durante todos os dias da Quaresma (exceto aos domingos); que se abstenha da carne às sextas-feiras, como sempre pediu a tradição ascética da Igreja, que tire também algo das conversas inúteis, dos pensamentos levianos, dos programas de TV tão nocivos à saúde da alma! E a esmola, isto é, a caridade fraterna? Há tanto que se pode fazer: acolher melhor quem bate à nossa porta, aproximar-nos de quem necessita de nossa ajuda, reconciliarmo-nos com aqueles de quem nos afastamos, visitar os doentes e presos... No Brasil, a Igreja procura também dá um tema e uma direção comunitária à caridade fraterna, com a Campanha da Fraternidade. Assim, os Bispos pedem que, neste ano, nossa caridade comunitária esteja atenta ao problema da segurança pública e sua causas. Que nós estejamos mais atentos aos problemas ligados à segurança, recordando sempre que a paz verdadeira e duradoura é fruto da justiça: justiça como obediência ao Senhor Deus e justiça como reto comportamento em relação ao próximo, que significa respeito pela dignidade do outro, espírito de partilha e de solidariedade que socorre nas necessidades. Quanto ao combate dos vícios, que cada um veja um vício dominante e cuida de combatê-lo com afinco nesses dias! Escolha também uma leitura espiritual para o tempo quaresmal, leitura que alimente a mente e o coração. Esta leitura, mais que um estudo, deve ser uma oração, um refrigério para o coração, uma leitura edificante, que nos faça tomar mais gosto pelas coisas de Deus... Vamos! Deixemos a preguiça, combatamos o combate da nossa salvação! Finalmente, que ninguém esqueça a confissão sacramental, para celebrar dignamente a Páscoa sagrada. Se alguém não puder se confessar por se encontrar em situação irregular perante Cristo e a Igreja, que não se sinta excluído! Procure o sacerdote para uma direção espiritual, uma revisão de vida e peça uma bênção, que, certamente, não lhe será negada. Não é a confissão, não permite o acesso à comunhão sacramental, mas é também um modo medicinal de aliviar o coração e ajudar no caminho do Senhor!
O importante, em Cristo, é que ninguém fique indiferente a mais essa oportunidade que a misericórdia do Senhor nos concede! Notem que somente depois do combate no deserto é que Jesus nosso Senhor saiu para anunciar a Boa Nova do Reino. Também cada um de nós e a Igreja como um todo, somente poderá testemunhar o Reino que Cristo nos trouxe se tiver a coragem de enfrentar o deserto interior e combater o combate da fé! Não recebamos em vão a graça de Deus! Que ele, na sua imensa misericórdia, nos conceda uma santa Quaresma!
dom Henrique Soares da Costa
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A restauração da humanidade  em Cristo e o batismo
Estamos iniciando a Quaresma, tempo de conversão em vista da celebração do mistério pascal. Tempo de volta ao nosso “primeiro amor”, nosso projeto de vida assumido diante de Deus e Jesus Cristo. As leituras deste domingo ensinam-nos a acreditar na possibilidade da renovação de nossa vida cristã.
A liturgia de hoje se inspira na catequese batismal. Nos primórdios da Igreja, a Quaresma era a preparação para o batismo, administrado na noite pascal. O batismo era visto como participação na reconciliação operada pelo sacrifício de Cristo por nós (cf. Rm. 3,21-26; 5,1-11; 6,3 etc.). No mesmo espírito, a liturgia renovada do Concílio Vaticano II insiste em que, na noite pascal, sejam batizados alguns novos fiéis, de preferência adultos, e que todos os fiéis façam a renovação de seu compromisso batismal. Essa insistência na renovação da vida batismal faz sentido, pois, enquanto não tivermos passado pela última prova, estamos sujeitos à desistência. Como à humanidade toda, no tempo de Noé, também a cada um, batizado ou não, Deus dá novas chances: eis o tempo da conversão.
A liturgia de hoje é animada por um espírito de confiança (por exemplo, no canto da Comunhão II). Ora, confiança significa entrega: corresponder ao amor de Deus por uma vida santa (oração do dia). É claro, devemos sempre viver em harmonia com Deus, correspondendo a seu amor. Na instabilidade da vida, porém, as forças do mal nos apanham desprevenidos. Mas a Quaresma é um “tempo forte”, em que convém pôr à prova o nosso amor, esforçando-nos mais intensamente por uma vida santa.
1ª leitura (Gn. 9,8-15)
As águas do dilúvio representavam, para os antigos, um desencadeamento das forças do mal. Mas quem tem a última palavra é o amor divino. Deus não quer destruir o ser humano, impõe limites ao dilúvio e já não voltará a destruir a terra. O dilúvio é o símbolo do juízo de Deus sobre este mundo, mas acima de tudo está a sua misericórdia, simbolizada pelo arco-íris. No fim do dilúvio, Deus faz uma aliança com Noé e sua descendência, a humanidade inteira: apesar da presença do mal, ele não voltará a destruir a humanidade. Deus repete o dia da criação, em que venceu o caos originário, separou as águas de cima e de baixo e deu ao ser humano um lugar para morar. Faz uma nova criação, melhor que a anterior, acompanhada de um pacto de proteção. O arco-íris que, no fim do temporal, espontaneamente nos alegra é o sinal natural dessa aliança.
O salmo responsorial (Sl. 25[24],4bc-5ab.6-7bc.8-9) lembra a fidelidade de Deus a seu amor. O íntimo ser de Deus é, ao mesmo tempo, bondade e justiça: “Ele reconduz ao bom caminho os pecadores, os humildes conduz até o fim, em seu amor”. Por essa razão, todos os batizados renovam, na celebração da Páscoa, seu compromisso batismal.
2ª leitura (1Pd. 3,18-22)
A segunda leitura faz parte da catequese batismal que caracteriza a 1ª carta de Pedro. O batismo supõe a transmissão de credo. Assim, 1Pd. 3,18-4,6 contém os elementos do primitivo credo: Cristo morreu e desceu aos infernos (3,18-19), ressuscitou (3,18.21), foi exaltado ao lado de Deus (3,22), julgará vivos e mortos (4,5). Tendo ele trilhado nosso caminho até a morte, nós podemos seguir seu caminho à vida (3,18). O batismo, que lembra o dilúvio no sentido contrário (salvação em vez de destruição), purifica a consciência e nos orienta para onde Cristo nos precedeu. 
Jesus, porém, não vai sozinho. Leva-nos consigo. Ele é como a arca que salvou Noé e os seus das águas do dilúvio. Com ele somos imersos no batismo e saímos dele renovados, numa nova e eterna aliança. Ao fim da Quaresma, serão batizados os novos candidatos à fé. Na “releitura” do dilúvio feita pela 1ª carta de Pedro, a imagem da arca está num contexto que lembra os principais pontos do credo: a morte de Cristo e sua descida aos infernos (para estender a força salvadora até os justos do passado); sua ressurreição e exaltação (onde ele permanece como Senhor da história futura, até o fim). Batismo é transmissão da fé.
Evangelho (Mc. 1,12-15)
Quando de seu batismo por João, Jesus foi investido por Deus com o título de “Filho amado” e com seu beneplácito, que é na realidade a missão de realizar no mundo aquilo que faz a alegria de Deus: a salvação de todos os seus filhos. Assim, a missão de Jesus começa com a vitória sobre o mal, que se opõe à vontade de seu Pai. 
O mal tem muitas faces e, além disso, uma coerência interior que faz pensar numa figura pessoal, embora não visível no mundo material. Essa figura chama-se “satanás”, o adversário, ou “diabo”, destruidor, presente desde o início da humanidade. Impelido pelo Espírito de Deus, Jesus enfrenta no deserto as forças do mal – satanás e os animais selvagens –, mas vence, e os anjos do Altíssimo o servem. A “provação” de Jesus no deserto, depois de seu batismo por João, prepara o anúncio do reino. Aproxima-se a grande virada do tempo: Jesus anuncia a boa-nova do reino. Deus oferece novas chances. Incansavelmente deseja que o ser humano viva, mesmo sendo pecador (cf. Ez. 18,23). Sua oferta tem pleno sucesso com Jesus de Nazaré. Este é verdadeiramente seu Filho (Mc. 1,11). Vitória escondida, como convém na primeira parte de Marcos, tempo do “segredo messiânico”. 
Nos seus 40 dias de deserto, Jesus resume a caminhada do povo de Israel e antecipa também seu próprio caminho de servo do Senhor. A tentação no deserto transforma-se em situação paradisíaca: Jesus é o novo Adão, vencedor da serpente. Seu chamado à conversão é um chamado à fé e à confiança. Nas próximas semanas o acompanharemos em sua subida a Jerusalém, obediente ao Pai. Será a verdadeira prova, na doação até a morte, morte de cruz. E, “por isso, Deus o exaltou”... (cf. Fl. 2,9).
Assim preparado, Jesus inicia o anúncio do reino de Deus e pede conversão e fé no evangelho, o euangélion, a alegre notícia (cf. 3º domingo do tempo comum). Que ele exorte a acreditar na novidade, a gente entende. Mas por que conversão, se se trata de boa notícia? Exatamente por isso. Pois, como mostram os noticiários da TV, estamos muito mais sintonizados com notícias ruins que com notícias boas. Conversão não é a mesma coisa que penitência, como às vezes se traduz em Mc 1,15, sem razão. Conversão significa dar nova postura à nossa vida e à nosso coração, deixar para lá a imagem de um Deus ameaçador para voltar-nos a ele e a seu reinado com um coração alegre e confiante. 
Dicas para reflexão
Celebramos o 1º domingo da Quaresma. Muitos jovens nem sabem o que é a Quaresma. Nem sequer sabem de onde vem o carnaval, antiga festa do fim do inverno (no hemisfério norte) que, na cristandade, se tornou a despedida da fartura antes de iniciar o jejum da Quaresma.
A Quaresma (do latim quadragésima) significa um tempo de 40 dias vivido na proximidade do Senhor, na entrega a Deus. Depois de batizado por João Batista no rio Jordão, Jesus se retirou ao deserto de Judá e jejuou durante 40 dias, preparando-se para anunciar o reino de Deus. Vivia no meio das feras, mas os anjos de Deus cuidavam dele. Preparando-se desse modo, Jesus assemelha-se a Moisés, que jejuou durante 40 dias no monte Horeb (Ex. 24,18; 34,28; Dt. 9,11 etc.), e a Elias, que caminhou 40 dias, alimentado pelos corvos, até chegar a essa montanha (1Rs 19,8). O povo de Israel peregrinou durante 40 anos pelo deserto (Dt. 2,7), alimentado pelo Senhor.
Na Quaresma, deixamos para trás as preocupações mundanas e priorizamos as de Deus. Vivemos numa atitude de volta para Deus, de conversão. Isso não consiste necessariamente em abster-se de pão, mas sobretudo em repartir o pão com o faminto e em todas as demais formas de justiça. Tal é o verdadeiro jejum (Is. 58,6-8).
A Igreja, desde seus inícios, viu nos 40 dias de preparação de Jesus uma imagem da preparação dos candidatos ao batismo. Assim como Jesus, depois desses 40 dias, se entregou à missão recebida de Deus, os catecúmenos eram, depois de 40 dias de preparação, incorporados a Cristo pelo batismo, para participar da vida nova. O batismo era celebrado na noite da Páscoa, noite da ressurreição. E toda a comunidade vivia na austeridade material e na riqueza espiritual, preparando-se para celebrar a ressurreição.
A meta da Quaresma é a Páscoa, o batismo, a regeneração para uma vida nova. Para os que ainda não receberam o batismo – os catecúmenos –, isso se dá no sacramento do batismo na noite pascal; para os já batizados, na conversão que sempre é necessária em nossa vida cristã: daí o sentido da renovação do compromisso batismal e do sacramento da reconciliação nesse período. 
Conversão e renovação, se preciso também arrependimento por nossas infidelidades, mas o tom principal é a alegria pela boa-nova e por Deus que, em Cristo, renova nossa vida.

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“O tempo já se cumpriu… Convertam-se!”
Os versículos que compõem o evangelho deste domingo seguem imediatamente o batismo de Jesus, em que ele é declarado Filho de Deus e Servo (cf. evangelho da festa do Batismo do Senhor). Vamos dividir os versículos de hoje em dois momentos.
No deserto (vv. 12-13): a tentação
Com o batismo, Jesus é investido do Espírito Santo, e este o leva para o deserto (v. 13). Os quarenta dias e o deserto, tanto no Evangelho de Marcos quanto na Bíblia como um todo, são um baú cheio de recordações. Não são simples contagem de dias nem lugar geográfico, mas “tempo e lugar teológicos”. É aí que João Batista se apresenta, pregando a chegada do “forte” (1,4-7), aquele que vai vencer o mal. João Batista se apresenta no deserto, em oposição a Jerusalém e ao templo, sede do poder político, econômico e religioso da época.
O povo de Deus passou 40 anos no deserto, organizando-se, lutando, perdendo e vencendo, até caminhar para conquistar a terra da promessa (cf. Ex. 16,35). Marcos abre o baú da memória do povo e ajuda a ver que Jesus vai inaugurar novo e definitivo êxodo, concretizado na sua pregação e prática. Os 40 dias recordam o tempo que durou o dilúvio, depois do qual surgiu a humanidade renovada na pessoa do justo Noé (cf. 1ª leitura); lembram também os dias que Moisés permaneceu no monte para receber a aliança; fazem pensar, ainda, nos 40 dias que Elias permaneceu na montanha, depois dos quais provoca mudanças radicais no Reino do Norte. Todos esses aspectos repercutem na apresentação de Jesus: com ele tudo recomeça (como com Noé), chega a nós a nova aliança (a antiga veio por Moisés) e aproxima-se a mudança radical (superior à de Elias).
Marcos afirma que Jesus permaneceu no deserto por 40 dias e ali foi tentado por Satanás (vv. 12-13a). O evangelista não revela o conteúdo da tentação sofrida. É que ela vai aparecer constantemente na vida do Mestre. Satanás (palavra que significa adversário) quer dizer pessoas e sistemas que se opõem ao projeto de Deus a ser anunciado e realizado na pregação e na prática de Jesus (cf. 1,36-37; 8,33; 12,13). No deserto, o Mestre vive novo tipo de relação. Os animais selvagens recordam a realidade nova anunciada por Isaías 11,1-9. Jesus inaugura novas relações das pessoas entre si e com toda a criação, e isso é fruto do Espírito que age nele (cf. v. 12). No deserto, Jesus é servido pelos anjos, ou seja, é sustentado pelo próprio Deus, que o declarou seu Filho e Servo para instaurar o Reino.
b. Na Galileia (vv. 14 - 15): “O tempo já se cumpriu, e o reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no evangelho”
Marcos situa rapidamente o contexto em que apareceu o programa de Jesus, sintetizado pela primeira declaração do Mestre nesse evangelho. Temos uma vaga indicação de tempo (“Depois que João Batista foi preso”) e de lugar (“Jesus foi para a Galileia”, v. 14). O mensageiro de Jesus foi preso. Marcos dirá mais adiante quais os motivos da prisão do Batista e as razões que o levaram à morte (cf. 6,17ss). Esse dado é importante. O mensageiro de Jesus mexeu com os interesses e privilégios dos poderosos. O que vai acontecer com Jesus? Aos poucos o evangelho mostrará que Jesus, “o forte” (1,7), não se deixa amedrontar pelos poderosos, vencendo os mecanismos que geram morte para o povo. A Galileia é o lugar social onde Jesus inicia sua atividade. Essa região era sinônimo de marginalidade, lugar de gente sem valor e impura. É no meio dessa gente e a partir dela que Jesus anuncia seu programa de vida: “O tempo já se cumpriu, e o reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no evangelho” (v. 15). Depois que ressuscitou, o Mestre convida os discípulos a descobri-lo vivo na Galileia (cf. 16,7), sinal de que a prática de Jesus em nada difere da dos que o desejam seguir.
O programa de Jesus (v. 15) consta de três momentos. Em primeiro lugar, ele anuncia que “o tempo já se cumpriu”. A espera da libertação chegou ao fim. Deus está presente em Jesus, realizando seu projeto de vida e liberdade. O caminho de Deus e o caminho dos marginalizados são uma coisa só (cf., acima, o evangelho da festa do Batismo do Senhor). O desejo expresso em Is. 63,19 (“Quem dera rasgasses o céu para descer!”) se cumpriu, pois com Jesus o céu se rasgou (cf. Mc. 1,10) e o Deus invisível se tornou gente no meio dos empobrecidos. Fez-se pobre como eles.
Em segundo lugar, Jesus anuncia que “o reino de Deus está próximo”. Deus tomou a decisão de reinar. Por que o reino de Deus está próximo? Porque a realeza de Deus vai tomando corpo por meio dos atos libertadores que Jesus realiza ao longo do evangelho. Está sempre próximo também mediante a prática dos seus discípulos, aos quais confiou a continuação daquilo que anunciou e fez. O Reino é uma realidade dinâmica. Refazendo a prática de Jesus no tempo, as pessoas e as comunidades vão abrindo espaços para que o Reino se torne realidade.
Em terceiro lugar, Jesus diz: “Convertam-se e creiam na boa notícia”. Conversão é sinônimo de adesão à prática de Jesus. A libertação esperada, o céu rasgado de nada adiantariam se as pessoas que anseiam pela libertação continuassem amarradas aos esquemas que mantêm uma sociedade desigual e discriminadora. O Evangelho de Marcos é apenas o início da boa notícia da libertação trazida por Jesus (cf. 1,1). Ela se tornará realidade mediante o compromisso das pessoas e comunidades que dizem sim ao Mestre.
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Ele ficou um tempo no deserto
Percorremos nosso caminho quaresmal. Estamos apenas no começo. Temos ainda muitas outras sendas a trilhar.
A descrição de Marcos é breve, sucinta e resume-se ao essencial, quando descreve a tentação de Jesus no deserto. Fala da permanência no deserto e do que vem depois que João Batista é preso. O Espírito leva Jesus ao deserto. Sabemos que esses 40 dias constituem um tempo simbólico. Marcos não enumera nem descreve as tentações. Limita-se a dizer que Jesus “foi tentado”. Supõe que Jesus tenha vencido as tentações e conclui que o paraíso tenha voltado à terra: “Vivia entre os animais selvagens e os anjos o serviam”. Jesus faz a experiência no deserto, vence as tentações e começa a “reorganização” das coisas desorganizadas.
Deserto: lugar de silêncio, de quietude, de aquietação da agitação, lugar de viagem ao fundo do coração, espaço de reorientação da vida. Na quaresma o deserto quer dizer deixar de lado apoios  terrenos e contar apenas com o Senhor. A Quaresma é tempo de  buscar as coisas essenciais e não se prender ao acessório.  Lá se ouve a voz do coração e a voz de Deus.
Deserto: lugar de escuta da voz do Senhor, escuta que se faz pelo murmúrio do silêncio, que se realiza através de um percorrer orante das páginas das Escrituras. Os discípulos se retiram…Nesse silencio cruel e nessa aridez sem qualificados  chegamos ao essencial das coisas.
Deserto: lugar que lembra a trajetória do povo da Aliança durante quarenta anos… trajetória marcada pela fidelidade e pela infidelidade.  Há  um refrão que sempre volta: “Oxalá ouvísseis hoje a voz do Senhor e não endureçais o vosso coração como vossos pais…”. Alegria dos primeiros passos nas terras ardentes de areia e pedra, depois o cansaço, a sede e a fome. Cansaço, demora de chegarem à terra da promessa, desconfiança de que o Senhor parecia ter abandonado o povo.
Há escolhas fundamentais a serem feitas. Não se pode viver de tudo e com tudo… Nem só de pão vive o homem, nem só de prestígio e de poder, nem só de aplausos ou de sucessos…mas de toda palavra que sai da boca de Deus. O Senhor não permitirá que venhamos a cair em tentação para não transformar nossa aventura espiritual num beco sem saída… mas não poupa da tentação.
Belas as palavras do Prefácio para o  domingo da tentação: “Jejuando quarenta dias no deserto, Jesus consagrou a observância quaresmal. Desarmando as ciladas do antigo inimigo, ensinou-nos a vencer o fermento da maldade. Celebrando agora o mistério pascal, nós nos preparamos para a Páscoa definitiva”.
frei Almir Ribeiro Guimarães
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A restauração da humanidade em Cristo e o batismo
O mal tem muitas faces e, além disso, uma coerência interior que faz pensar numa figura pessoal, embora não identificável no mundo material. Chama-se “satanás”,o adversário; ou “diabo”, destruidor. Está presente desde o início da humanidade. As águas do dilúvio representavam, para os antigos, um desencadeamento das forças do mal. Mas quem tem a última palavra, na criação, é o amor de Deus. Deus não quer destruir o homem, ele impõe limites ao dilúvio e não mais voltará a destruir a terra (1ª leitura). No fim do dilúvio, Deus repete o dia da criação, em que ele venceu o caos originário, separou as águas de cima e de baixo e deu um lugar ao homem para morar. Faz uma nova criação, melhor que a anterior, pois acompanhada de um pacto de proteção. O arco-íris, que no fim do temporal nos alegra espontaneamente, é o sinal natural desta aliança. Oito pessoas foram preservadas, na arca de Noé. Elas serão, graças à aliança, o início de uma nova humanidade.
Deus oferece novas chances. Incansavelmente deseja que o ser humano viva, mesmo sendo pecador (cf. Ez 18,23). Sua oferta tem pleno sucesso com Jesus de Nazaré. Este é verdadeiramente seu Filho (Mc 1,11). Impelido por seu Espírito, enfrenta no deserto as forças do mal – Satã e os animais selvagens -, mas vence, e os anjos do Altíssimo o servem (evangelho). Vitória escondida, como convém na 1ª parte de Mc. Nos seus 40 dias de deserto, Jesus resume a caminhada do povo de Israel e antecipa também seu próprio caminho de Servo de Javé. Por sua fidelidade na tentação, alcança um novo paraíso. Nas próximas semanas, o acompanharemos em sua subida a Jerusalém, obediente ao Pai. Será a verdadeira prova, na doação até a morte, morte de cruz. E “por isso, Deus o exaltou”… (cf. Fl. 2,9).
Jesus, porém, não vai sozinho. Leva-nos consigo. Ele é como a arca que salvou Noé e os seus através das águas do dilúvio. Com ele somos imersos no batismo e saímos dele renovados, numa nova e eterna Aliança. Ao fim da Quaresma, serão batizados os novos candidatos à fé. A imagem da arca, apresentada pela 2ª leitura, está num contexto que menciona os principais pontos do credo: a morte de Cristo e sua descida aos ínferos (para estender a força salvadora até os justos do passado); sua ressurreição e exaltação (onde ele permanece como Senhor da História futura, até o fim). Batismo é transmissão da fé.
Portanto, a liturgia de hoje é como o início de uma grande catequese batismal, e isso mesmo é o sentido da Quaresma: prepararmo-nos para o batismo, que é a participação na reconciliação que o sacrifício de Cristo por nós operou (cf. Rm. 3,21-26; 5,1-11; 6,3 etc.)(*).
Mergulhar com ele na provação que nos purifica. Também os que já foram batizados participam disso, pois, enquanto não tivermos passado pela última prova, estamos sujeitos a desistências. Mas, como à humanidade toda, no tempo de Noé, também a cada um, batizado ou não, Deus dá novas chances: eis o tempo da conversão. Nisso consiste a expressão de seu íntimo ser, que é, ao mesmo tempo, bondade e justiça: “Ele reconduz ao bom caminho os pecadores, aos humildes conduz até o fim, em seu amor”(salmo responsorial). Por essa razão, todos os batizados renovam, na celebração da Páscoa, seu compromisso batismal.
Anima a liturgia de hoje um espírito de confiança (canto da comunhão II). Ora, confiança significa entrega: corresponder ao amor de Deus por uma vida santa (oração do dia). Claro, devemos sempre viver em harmonia com Deus, correspondendo a seu amor, como num novo paraíso. Na instabilidade da vida, porém, as forças do mal nos surpreendem desprevenidos. Mas a Quaresma é um “tempo forte”, e neste devemos aplicar a nós mesmos a prova do nosso amor, esforçando-nos mais intensamente por uma vida santa.
Johan Konings "Liturgia dominical"
(*) A liturgia renovada do Concílio Vaticano II insiste para que, na noite pascal, sejam batizados alguns novos fiéis, de preferência adultos, e que todos os fiéis façam a renovação de seu compromisso batismal.
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A pedagogia de Jesus
Em Marcos, esta narrativa da tentação parece ser o prenúncio simbólico o ministério de Jesus, prestes a se iniciar: a agressão sucessiva dos líderes religiosos que se colocam como seus adversários é a provação de satanás e o convívio com as feras; e o conforto da fraternidade dos discípulos, iniciados no seu aprendizado, é o serviço dos anjos. Mateus e Lucas apresentam a tentação por satanás em três etapas. Transformar pedras em pães, adorar o tentador e apossar-se do mundo, e atirar-se do alto do Templo desafiando a Deus. São as características de um messias que tem soluções enganosas para as aspirações populares, que se apossa do poder e que ostenta uma condição divina. Tal messianismo é descartado por Jesus.
O Espírito recebido no batismo conduz Jesus, o qual vence as tentações. As tentações foram associadas à narrativa do batismo de Jesus como pedagogia catequética: os neo-batizados devem estar preparados e fortalecidos para enfrentar as tentações após terem recebido seu batismo. As duas primeiras leituras de hoje são alusivas ao batismo: "Nesta arca [de Noé], umas poucas pessoas... foram salvas, por meio da água. À água corresponde o batismo, que hoje é a vossa salvação". Pode-se ver que, em sua leitura alegórica do dilúvio, o autor da Primeira Carta de Pedro se ateve ao segundo momento do dilúvio, quando Noé e os seus sobrevivem, após a destruição total pelas águas.
O tempo litúrgico da quaresma, que se inicia hoje, tem uma característica de tempo forte de conversão. Resistir às tentações que se apresentam agradáveis aos sentidos, ao conforto, à segurança, à vaidade, estimulando o sucesso pessoal no usufruto do poder, levando à indiferença pelo próximo humilde e sofredor. É tempo de voltar-se amorosamente para o nosso próximo, particularmente aquele excluído e empobrecido, na partilha e na comunhão de vida.
padre Jaldemir Vitório
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Fraternidade e saúde pública é o tema da Campanha da Fraternidade
No Evangelho de Marcos, Jesus liberta o ser humano do poder demoníaco que se manifesta em tudo o que diminui a dignidade da pessoa criada por Deus. Por isso, Ele expulsa demônios e cura os doentes de diversas enfermidades.
Na sinagoga de Cafarnaum, Ele enfrenta o demônio identificado com o escriba e seu ensinamento. Em Gerasa, terra de pagãos, Ele enfrenta o demônio que se chama Legião e se identifica com o poderio romano. Há no mundo uma artimanha demoníaca que não tem piedade e tira proveito do sofrimento alheio. O demônio também mostra sua força na fraqueza dos doentes.
Fraternidade e saúde pública é o tema da Campanha da Fraternidade deste ano e tema de conversão quaresmal. A Igreja Católica propõe a todos os brasileiros que examinem a sua consciência no que diz respeito à saúde do povo, e se convertam se alguma coisa não vai bem. Cada um de nós seria capaz de contar muitas histórias das dificuldades no cuidado da própria saúde.
"Quanta espera pelo remédio para aliviar a dor! Nos hospitais, quanta gente fica a sofrer sem leito e sem medicamento!" - cantamos nesta Quaresma. O cartaz da campanha "recorda aos profissionais da saúde que foram escolhidos para atualizarem a atitude do Bom Samaritano em relação aos enfermos".
"A conversão pede que as estruturas de morte sejam transformadas. A Igreja, nesta Quaresma, à luz da Palavra de Deus, deseja iluminar a dura realidade da saúde pública e levar os discípulos-missionários a serem consolo na doença, na dor, no sofrimento e na morte. E, ao mesmo tempo, exigir que os pobres tenham um atendimento digno em relação à saúde" - escreve o secretário-geral da Conferência nacional dos bispos do Brasil, dom Leonardo Steiner.
O SUS (Sistema único de saúde), se funciona, é uma bênção para toda a população, mas temos que estar atentos para que o Sistema tenha recursos suficientes e agilize o atendimento indiscriminado de todos os brasileiros. A corrupção e a impunidade são braços do poder demoníaco que estrangulam a saúde pública. Na Quaresma, todos podemos nos converter.
O demônio se mostra e provoca Jesus no deserto, mas não o vence. Jesus proclama a conversão e a adesão ao Evangelho do Reino. É o tempo da renovação do nosso Batismo, da tomada de consciência de que, batizados, somos protegidos por Deus e assumimos responsabilidades. O Batismo é "um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Jesus".
A boa consciência se adquire na prática da justiça que gera a paz e o bom entendimento entre as pessoas. Deus fez uma aliança com Noé e com os Patriarcas. Jesus a tornou nova e eterna, em nosso favor para a remissão dos pecados. As águas do dilúvio se tornaram água medicinal no Batismo, para a limpeza do corpo e a aquisição de uma boa consciência. Que a verdade de Deus nos oriente e nos reconduza ao bom caminho, Ele, que dirige os humildes na justiça e ensina aos pobres o seu caminho, como canta o Salmista.
Os corruptos insensíveis não se preocupam com a saúde do povo humilde que não tem a quem clamar, mas Deus se preocupa. Se o demônio tem os seus agentes, as duas Bestas do Apocalipse, Jesus também tem a sua Igreja, colocada no mundo como um sinal de esperança. Ela não é uma sentinela muda, por isso clama nesta Quaresma.
cônego Celso Pedro da Silva
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Quaresma é um tempo de conversão
O tempo da Quaresma, com cinco semanas e quatro dias, e o tempo pascal que o sucede, com sete semanas, se inserem dentro do ano litúrgico, tendo como data de referência o domingo de Páscoa, o qual ocorre logo após a primeira lua cheia de primavera (a partir de 21 de março, no hemisfério norte). A Quaresma é um tempo de aprofundamento da conversão, com seu apelo a uma mudança de valores recebidos da sociedade discriminatória e elitista em que vivemos.
A partir da revelação em Jesus, em sua vida e sua prática, encontramos novos valores a serem assumidos em vista da promoção da vida plena para todos. O ato de conversão decorre do compromisso assumido no batismo. O batismo de João e a pregação de Jesus se fundamentam nesta conversão: "Convertei-vos e crede na Boa-Nova". No Antigo Testamento encontramos a simbologia da permanência no deserto como um tempo de conversão. No êxodo do Egito, o povo indócil a Javé, no momento em que deveria entrar na Terra Prometida, acaba ficando quarenta anos no deserto, curtindo um tempo de reconciliação com a divindade.
Os evangelistas sinóticos (Mateus, Marcos, Lucas) vão associar ao batismo de Jesus um tempo de permanência no deserto, quarenta dias, como tempo de sua conversão. De fato, depois da prisão de João Batista, há uma mudança na vida de Jesus. Voltando para a Galileia, sua terra, abandona sua cidade de origem, Nazaré, e, acompanhado de discípulos em uma vida itinerante, passa a anunciar a chegada do Reino de Deus.
A sucinta narrativa de Marcos sobre a tentação de Jesus resume o seu ministério prestes a se iniciar: o convívio em confronto com seus adversários e o conforto da fraternidade dos discípulos, iniciados no aprendizado do serviço. A aliança com Deus é apresentada na primeira leitura de uma maneira antropomórfica. O deus que, arrependendo-se de ter feito os homens sobre a terra, resolveu exterminá-los pelo dilúvio, agora promete que não voltará a exterminar seu povo pelas águas. Salvam-se apenas Noé, prefiguração de Abraão, e sua família, com quem é feita uma aliança, da qual, a partir de uma etiologia bíblica, o arco-íris passa a ser uma lembrança.
A "primeira carta de Pedro", na segunda leitura, associa as águas destrutivas e saneadoras do dilúvio com a água do batismo que é fonte de salvação. É uma teologia que se distancia do batismo de João e de Jesus como conversão à prática concreta da justiça. A conversão a que somos chamados envolve mudanças de valores e práticas pessoais em interação com os relacionamentos comunitários e sociais. Cumpre rompermos com os valores impostos pela cultura consumista que atende aos interesses dos poderosos. Somos atraídos, caindo na rede das TVs, dos shoppings e similares, cedendo às tentações que se apresentam agradáveis aos sentidos, ao conforto, à segurança, à vaidade, estimulando o sucesso pessoal no usufruto do poder, levando à indiferença para com os humildes, explorados, carentes e sofredores. É tempo de, libertando-nos, nos voltarmos amorosamente para o nosso próximo, particularmente aquele excluído e empobrecido, na prática da justiça, na partilha e na comunhão de vida.
José Raimundo Oliva
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No primeiro domingo do tempo da quaresma,

a liturgia garante-nos que Deus está interessado em destruir o velho mundo do egoísmo e do pecado e em oferecer aos homens um mundo novo de vida plena e de felicidade sem fim.
A primeira leitura é um extrato da história do dilúvio. Diz-nos que Jahwéh, depois de eliminar o pecado que escraviza o homem e que corrompe o mundo, depõe o seu “arco de guerra”, vem ao encontro do homem, faz com ele uma Aliança incondicional de paz. A ação de Deus destina-se a fazer nascer uma nova humanidade, que percorra os caminhos do amor, da justiça, da vida verdadeira.
No Evangelho, Jesus mostra-nos como a renúncia a caminhos de egoísmo e de pecado e a aceitação dos projetos de Deus está na origem do nascimento desse mundo novo que Deus quer oferecer a todos os homens (o “Reino de Deus”). Aos seus discípulos Jesus pede – para que possam fazer parte da comunidade do “Reino” – a conversão e a adesão à Boa Nova que Ele próprio veio propor.
Na segunda leitura, o autor da primeira Carta de Pedro recorda que, pelo Batismo, os cristãos aderiram a Cristo e à salvação que Ele veio oferecer. Comprometeram-se, portanto, a seguir Jesus no caminho do amor, do serviço, do dom da vida; e, envolvidos nesse dinamismo de vida e de salvação que brota de Jesus, tornaram-se o princípio de uma nova humanidade.
1ª leitura – Gn. 9,8-15 – AMBIENTE
Os primeiros onze capítulos do livro do Gênesis apresentam um conjunto de tradições sobre as origens do mundo e dos homens. Construídos com dados heterogêneos, estes capítulos descrevem uma “pré-história” que decorre num mundo ideal antes que as etnias, as nações, a política ou as classes sociais separassem os homens. Os episódios que compõem este bloco não são informações de fatos históricos concretos, acontecidos na aurora da humanidade. São lendas e mitos, muitas vezes com extraordinárias semelhanças literárias com as lendas e mitos de outros povos do Crescente Fértil (nomeadamente da Mesopotâmia). Naturalmente, os catequistas de Israel tomaram esses mitos, adaptaram-nos, modificaram-nos e puseram-nos ao serviço da transmissão da sua própria fé. Através desses mitos e lendas, os teólogos de Israel expuseram as suas convicções e as suas descobertas sobre Deus, sobre o homem e sobre o mundo.
O texto que hoje nos é proposto faz parte de uma secção que abrange Gn. 6,1-9,17. É a história de um cataclismo de águas, que teria eliminado toda a humanidade, exceto Noé e a sua família. A história do dilúvio, apresentada nesta secção, deverá ser considerada uma reportagem de acontecimentos concretos?
Para alguns, o dilúvio bíblico poderia estar relacionado com o fim da era glacial, quando a fusão dos gelos provocou notáveis avalanchas de água que invadiram as terras habitadas e deixaram profundos sinais na memória coletiva dos povos. Mas o mais provável é que o dilúvio descrito nos textos do Gênesis (e que é quase copiado de certos textos mesopotâmicos que apresentam o mesmo tema) se refira a uma das inúmeras inundações do Tigre e do Eufrates… A arqueologia dá, aliás, conta de várias inundações especialmente catastróficas nessa parte do mundo entre 4000 e 2800 a.C.. É provável que o texto bíblico evoque essa realidade. Não se tratou, em qualquer caso, de um dilúvio universal; mas, com o tempo, a fantasia popular teria feito dessas inundações um “castigo universal” que atingiu o conjunto da humanidade. O autor bíblico, conhecedor dessas lendas antigas, vai usá-las como pano de fundo para fazer catequese e transmitir uma mensagem religiosa.
Os catequistas jahwistas e sacerdotais quiseram dizer ao seu Povo que Jahwéh não fica de braços cruzados quando os homens se lançam por caminhos de corrupção e de pecado… Com esse propósito, lançaram mão da velha lenda mesopotâmica do dilúvio, que falava de uma catástrofe universal enviada pelos deuses para punir os pecados dos homens… Mas, porque Deus não castiga às cegas bons e maus, justos e injustos, os autores vão propor a história do justo Noé e da sua família, salvos por Deus da catástrofe.
O nosso texto situa-nos na fase imediatamente posterior ao dilúvio, quando já tinha deixado de chover e quando Noé e a sua família já tinham desembarcado em terra seca. Os sobreviventes construíram um altar e ofereceram holocaustos sobre o altar; por sua vez, o Senhor Deus comprometeu-Se a não mais “castigar os seres vivos” de forma tão radical (cf. Gn. 8,13-22), abençoou Noé e a sua família (cf. Gn. 9,1-7) e fez uma Aliança com eles.
MENSAGEM
O nosso texto propõe-nos os termos de uma Aliança, oferecida por Jahwéh à nova humanidade (representada por Noé e sua família, presente e futura) e a todos os seres criados (representados pelos animais que saíram da Arca). Nela, Deus compromete-Se a depor o seu “arco de guerra” e a garantir a perenidade da ordem cósmica.
A Aliança com Noé apresenta-se, no entanto, como uma Aliança completamente diferente da Aliança feita com Abraão, ou da Aliança feita com Israel no Sinai, ou de qualquer outra Aliança que Jahwéh fez com os homens. Nas outras Alianças, um indivíduo ou um Povo eram chamados a uma relação de comunhão com Deus e aceitavam ou não esse desafio; se o indivíduo ou o Povo em causa não aceitassem, não haveria relação e, portanto, não haveria Aliança… Ao contrário, a Aliança de Jahwéh com Noé não implica nenhuma adesão ou reconhecimento da parte do homem, nem implica qualquer promessa, por parte do homem, no sentido de não voltar a percorrer caminhos de corrupção e de pecado. A Aliança que Jahwéh faz com Noé aparece, assim, como um puro dom de Deus, um fruto do seu amor e da sua misericórdia. É uma Aliança incondicional e sem contrapartidas, que resulta exclusivamente da bondade e da generosidade de Deus.
O sinal desta Aliança será o arco-íris. Em hebraico, a mesma palavra (“qeshet”) designa o “arco-íris” e o “arco de guerra”… Jogando com esta duplicidade, o teólogo sacerdotal, autor deste texto, sugere que Jahwéh pendurou na parede do horizonte o seu “arco de guerra”, a fim de demonstrar ao homem as suas intenções pacíficas. O “arco-íris”, sinal belo e misterioso que toca o céu e a terra, é o “arco” de Jahwéh, através do qual a bondade de Deus abraça o mundo e os homens. O “arco-íris é assim, para o teólogo sacerdotal, um sinal que sugere a vontade que Deus tem de oferecer a paz a toda a criação.
ATUALIZAÇÃO
• Evidentemente, não foi Deus que enviou o dilúvio para castigar os homens. Os catequistas de Israel apenas pegaram na velha lenda mesopotâmica para ensinar que o pecado é algo incompatível com Deus e com os projetos de Deus para o homem e para o mundo; por isso, quando o ódio, a violência, o egoísmo, o orgulho, a prepotência enchem o mundo e trazem infelicidade aos homens, Deus tem de intervir para corrigir o rumo da humanidade. Esta catequese recorda-nos, no início da nossa caminhada quaresmal, que o pecado não é uma realidade que possa coexistir com essa vida nova que Deus nos quer oferecer e que é a nossa vocação fundamental. O pecado destrói a vida e assassina a felicidade do homem; por isso, tem de ser eliminado da nossa existência.
• O sentido geral do texto que nos é proposto aponta, contudo, no sentido da esperança. A Aliança que Deus faz com Noé e com toda a humanidade é uma Aliança totalmente gratuita e incondicional, que não depende do arrependimento do homem ou das contrapartidas que o homem possa oferecer a Deus… Nos termos desta Aliança revela-se um Deus que Se recusa a fazer guerra ao homem, que abençoa e abraça o homem, que ama o homem mesmo quando ele continua a trilhar caminhos de pecado e de infidelidade. Nesta Quaresma, somos convidados a fazer esta experiência de um Deus que nos ama apesar das nossas infidelidades; e somos convidados, também, a deixar que o amor de Deus nos transforme e nos faça renascer para a vida nova.
• A lógica do amor de Deus – amor incondicional, total, universal, que se derrama até sobre os que o não merecem – convida-nos a repensar a nossa forma de abordar a vida e de tratar os nossos irmãos. Podemos sentir-nos filhos deste Deus quando utilizamos uma lógica de vingança, de intolerância, de incompreensão perante as fragilidades e limitações dos irmãos? Podemos sentir-nos filhos deste Deus quando respondemos com uma violência maior àqueles que consideramos maus e violentos? Talvez este tempo de Quaresma que nestes dias iniciamos seja um tempo propício para repensarmos as nossas atitudes e para nos convertermos à lógica do amor incondicional, à lógica de Deus.
2ª leitura – 1Pe. 3,18-22 - AMBIENTE
A primeira carta de Pedro é uma carta dirigida aos cristãos de cinco províncias romanas da Ásia Menor (a carta cita explicitamente a Bitínia, o Ponto, a Galácia, a Ásia e a Capadócia – cf. 1Pe. 1,1). O seu autor apresenta-se com o nome do apóstolo Pedro; no entanto, a análise literária e teológica não confirma que Pedro seja o autor deste texto: em termos literários, a qualidade literária da carta não corresponde à maneira de escrever de um pescador do lago de Tiberíades, pouco instruído; a teologia apresentada demonstra uma reflexão e uma catequese bem posteriores à época de Pedro; e o “ambiente” descrito na carta corresponde, claramente, à situação da comunidade cristã no final do séc. I. Se Pedro morreu em Roma durante a perseguição de Nero (por volta do ano 67), não pode ser o autor deste escrito. O autor da carta será, portanto, um cristão anônimo – provavelmente um responsável de alguma comunidade cristã – culto e que conhece profundamente a situação das comunidades cristãs da Ásia Menor. Ele escreve em finais do séc. I (nunca antes dos anos 80), provavelmente a partir de uma comunidade cristã não identificada da Ásia Menor.
Em concreto, os destinatários desta carta são as comunidades cristãs que vivem em zonas rurais da Ásia Menor. A maioria destes cristãos são pastores ou camponeses que cultivam as propriedades das classes dominantes. Também há, nestas comunidades, pequenos proprietários que vivem em aldeias, à margem das grandes cidades. De qualquer forma, trata-se de gente que vive no meio rural, economicamente débil, vulnerável a um ambiente que começa a manifestar alguma hostilidade para com o cristianismo.
O autor da carta conhece as provações que estes cristãos sofrem todos os dias. Exorta-os, no entanto, a manterem-se fiéis à sua fé, apesar das dificuldades. Convida-os a olharem para Cristo, que passou pela experiência da paixão e da cruz, antes de chegar à ressurreição; e exorta-os a manterem a esperança, o amor, a solidariedade, vivendo com alegria, coerência e fidelidade a sua opção cristã.
O texto que nos é proposto é a parte final de uma perícope (cf. 1Pe. 3,13-4,11) na qual o autor da carta explica qual deve ser a atitude dos crentes, confrontados com as provocações, as injustiças e a hostilidade do mundo. Depois de pedir aos crentes que mesmo no meio do sofrimento não se cansem de fazer o bem (cf. 1Pe. 3,13-17), o autor da carta apresenta a razão fundamental pela qual os crentes devem agir desta forma tão “ilógica”: esse foi o exemplo que Cristo deixou.
MENSAGEM
Na verdade, Cristo veio a este mundo, partilhou as nossas dores e limitações, a fim de realizar o projeto de salvação que o Pai tinha para os homens. Ele que era justo e bom aceitou morrer para conduzir todos os homens – mesmo os maus e os injustos – ao encontro da vida verdadeira, da felicidade plena. A sua morte não foi um fracasso, pois a sua existência não terminou no sepulcro; vivificado pelo Espírito, Ele alcançou de novo a vida e a glória (v. 18) e “foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte e tinham sido outrora rebeldes” (vs. 19-20. A afirmação não é totalmente clara. Provavelmente, refere-se à velha verdade proclamada no credo cristão de que Jesus ressuscitado teria descido “à mansão dos mortos” para libertar todos aqueles que eram prisioneiros da morte). A morte e a ressurreição de Cristo tiveram uma dimensão salvadora que atingiu toda a humanidade, mesmo essa humanidade pecadora que conheceu o dilúvio, no tempo de Noé.
No dilúvio, o pecado foi afogado e da água ressurgiu uma nova humanidade. A água do dilúvio pode, assim, ser para os crentes uma figura do batismo. Pelo batismo, os crentes aderiram a Cristo e à salvação que Ele veio oferecer, comprometeram-se a segui-l’O nessa vida de amor, de dom, de entrega, foram envolvidos neste dinamismo de vida e de salvação que brota de Jesus, tornaram-se o princípio de uma nova humanidade. Na água do batismo, os crentes nasceram para a vida do bem, da justiça e da verdade (v. 21).
A conclusão que o autor da carta sugere aos crentes parece ser a seguinte: se Cristo propiciou, mesmo aos injustos, a salvação, também os cristãos devem dar a vida e fazer o bem, mesmo quando são perseguidos e sofrem. Comprometidos com Cristo pelo batismo, eles nasceram para uma vida nova; e devem testemunhar essa vida nova diante de todos os homens, mesmo diante dos maus e dos perseguidores.
ATUALIZAÇÃO
• Mais uma vez, põe-se-nos o problema do sentido de uma vida feita dom e entrega aos outros, até à morte (sobretudo se esses “outros” são os nossos perseguidores e detratores). É possível “dar o braço a torcer” e triunfar? O amor e o dom da vida não serão esquemas de fragilidade, que não conduzem senão ao fracasso? Esta história de o amor ser o caminho para a felicidade e para a vida plena não será uma desculpa dos fracos? Não – responde a Palavra de Deus que nos é proposta. Reparemos no exemplo de Cristo: Ele deu a vida pelos pecadores e pelos injustos e encontrou, no final do caminho, a ressurreição, a vida plena.
• Diante das dificuldades, das propostas contrárias aos valores cristãos, é em Cristo – o Senhor da vida, do mundo e da história – que colocamos a nossa confiança e a nossa esperança? Ou é noutros esquemas mais materiais, mais imediatos, mais lógicos, do ponto de vista humano?
• Diante dos ataques – às vezes incoerentes e irracionais – daqueles que não concordam com os valores de Jesus, como nos comportamos? Com a mesma agressividade com que nos tratam? Com a mesma intolerância dos nossos adversários? Tratando-os com a lógica do “olho por olho, dente por dente”? Como é que Jesus tratou aqueles que O condenaram e mataram?
Evangelho – Mc. 1,12-15 - AMBIENTE
O Evangelho de Marcos começa com uma introdução (cf. Mc. 1,2-13) destinada a apresentar Jesus. Em três quadros iniciais, Marcos diz-nos que Jesus é Aquele que vem “batizar no Espírito” (cf. Mc. 1,2-8), o Filho amado, sobre quem o Pai derrama o Espírito e a quem envia em missão para o meio dos homens (cf. Mc. 1,9-11), o Messias que enfrenta e vence o mal que oprime os homens, a fim de fazer nascer um mundo novo e uma nova humanidade (cf. Mc. 1,12-13). A primeira parte do texto que nos é proposto apresenta-nos o terceiro destes quadros. Situa-nos num “deserto” não identificado, não longe do lugar onde Jesus foi batizado por João Baptista.
Depois deste trítico introdutório, entramos na primeira parte do Evangelho (cf. Mc. 1,14-8,30). Aí, Marcos vai descrever a ação de Jesus, o Messias que o Pai enviou ao mundo para anunciar aos homens uma realidade nova chamada “Reino de Deus”. Na segunda parte do texto que nos é hoje proposto, temos um “sumário-anúncio” da pregação inaugural de Jesus sobre o “Reino” (cf. Mc. 1,14-15). O texto situa-nos na Galileia, região setentrional da Palestina, zona em permanente contacto com o mundo pagão e, portanto, considerada à margem da história da salvação.
MENSAGEM
Temos então, como primeira cena, o episódio da tentação de Jesus no deserto (vs. 12-13). Mais do que uma descrição fotográfica de acontecimentos concretos, trata-se de uma catequese. Está carregado de símbolos, que é preciso descodificar para entender a mensagem proposta.
O deserto é, na teologia de Israel, o lugar privilegiado do encontro com Deus; foi no deserto que o Povo experimentou o amor e a solicitude de Jahwéh e foi no deserto que Jahwéh propôs a Israel uma Aliança. Contudo, o deserto é também o lugar da “prova”, da “tentação”; foi no deserto que Israel foi confrontado com opções e foi no deserto, também, que Israel sentiu, várias vezes, a tentação de escolher caminhos contrários aos propostos por Deus… O “deserto” para onde Jesus “vai” é, portanto, o “lugar” do encontro com Deus e do discernimento dos seus projetos; e é o “lugar” da prova, onde se é confrontado com a tentação de abandonar Deus e de seguir outros caminhos.
Nesse “deserto”, Jesus ficou “quarenta dias” (v. 13a). O número “quarenta” é bastante frequente no Antigo Testamento. Muitas vezes refere-se ao tempo da caminhada do Povo de Israel pelo deserto, desde que deixou a terra da escravidão, até entrar na terra da liberdade; mas também é usado para significar “toda a vida” (a esperança média de vida, na época, rondava os quarenta anos). Deve ser entendido com o sentido de “toda a vida” ou, então, “todo o tempo que durou a caminhada”.
Durante esse tempo, Jesus foi “tentado por Satanás” (v. 13b). A palavra “satanás” designava, originalmente, o adversário que, no contexto do julgamento, apresentava a acusação (cf. Sal. 109,6). Mais tarde, a palavra vai passar a designar uma personagem que integrava a corte celeste e que acusava o homem diante de Deus (cf. Job. 1,6-12). Na época de Jesus, “satanás” já não era considerado uma personagem da corte celeste, mas um espírito mau, inimigo do homem, que procurava destruir o homem e frustrar os planos de Deus. É neste sentido que ele vai aparecer aqui… “Satanás” representa um personagem que vai tentar levar Jesus a esquecer os planos de Deus e a fazer escolhas pessoais, que estejam em contradição com os projetos do Pai.
Ao referir as tentações de “satanás”, é provável que Marcos estivesse a pensar, em concreto, em tentações de poder e de messianismo político. O deserto era, tradicionalmente, o lugar de refúgio dos agitadores e dos rebeldes com pretensões messiânicas. A tentação pretende, portanto, induzir Jesus a enveredar por um caminho de poder, de autoridade, de violência, de messianismo político, frustrando os projetos de Deus que passavam por um messianismo marcado pelo amor incondicional, pelo serviço simples e humilde, pelo dom da vida.
A referência às “feras” que rodeavam Jesus e aos “anjos” que O serviam (v. 13c) deve aludir a certas interpretações de Gn. 2-3, muito em voga nos ambientes rabínicos, no século I. Alguns “mestres” de Israel ensinavam que Adão, o primeiro homem, vivia no paraíso em paz completa com todos os animais e que os anjos estavam à sua volta para o servir; mas, quando Adão escolheu o caminho da auto-suficiência e se revoltou contra Deus, rompeu-se a harmonia original, os animais tornaram-se inimigos do homem e até os anjos deixaram de o servir. A catequese dos “rabis” adiantava ainda que, quando o Messias chegasse, nasceria um mundo harmonioso, sem violência e sem conflito, onde até os animais ferozes viveriam em paz com o homem. Seria o regresso à harmonia original, ao plano original de Deus para os homens e para o mundo. É isso que Marcos está aqui a sugerir: com Jesus, chegou esse tempo messiânico de paz sem fim, chegou o tempo de o mundo regressar a essa harmonia que era o plano inicial de Deus. Haverá, também, uma intenção de estabelecer um paralelo entre Adão e Jesus: Adão cedeu à tentação de escolher caminhos contrários aos de Deus e criou inimizade, violência, conflito, escravidão, sofrimento; Jesus escolheu viver na mais completa fidelidade aos projetos de Deus e fez nascer um mundo novo, de harmonia, de paz, de amor, de felicidade sem fim.
Em síntese: temos aqui uma catequese sobre as opções de Jesus. Marcos sugere que, ao longe de toda a sua existência (“quarenta dias”), Jesus confrontou-Se com dois caminhos, com duas propostas de vida: ou viver na fidelidade aos projetos do Pai, fazendo da sua vida uma entrega de amor, ou frustrar os planos de Deus, enveredando por um caminho messiânico de poder, de violência, de autoridade, de despotismo, ao jeito dos grandes deste mundo. Jesus escolheu viver na obediência às propostas do Pai; da sua opção, vai surgir um mundo de paz e de harmonia, um mundo novo que reproduz o plano original de Deus.
Na segunda parte do Evangelho deste domingo (vs. 14-15), temos uma outra cena. Marcos transporta-nos para a Galileia, onde Jesus aparece a concretizar esse plano salvador do Pai que, na cena anterior, Ele escolheu cumprir.
Jesus começa, precisamente, por anunciar que “chegou o tempo”. Que “tempo” é esse? É o “tempo” do “Reino de Deus”. A expressão – tão frequente no Evangelho segundo Marcos – leva-nos a um dos grandes sonhos do Povo de Deus…
A catequese de Israel (como aliás acontecia com a reflexão teológica de outros povos do Crescente Fértil) referia-se, com frequência, a Jahwéh como a um rei que, sentado no seu trono, governa o seu Povo. Mesmo quando Israel passou a ter reis terrenos, esses eram considerados, apenas, como homens escolhidos e ungidos por Jahwéh para governar o Povo, em lugar do verdadeiro rei que era Deus. O exemplo mais típico de um rei/servo de Jahwéh, que governa Israel em nome de Jahwéh, submetendo-se em tudo à vontade de Deus, foi David. A saudade deste rei ideal e do tempo ideal de paz e de felicidade em que Jahwéh reinava (através de David) sobre o seu povo vai marcar toda a história futura de Israel. Nas épocas de crise e de frustração nacional, quando reis medíocres conduziam a nação por caminhos de morte e de desgraça, o Povo sonhava com o regresso aos tempos gloriosos de David. Os profetas, por sua vez, vão alimentar a esperança do Povo anunciando a chegada de um tempo, no futuro, em que Jahwéh vai voltar a reinar sobre Israel e vai restabelecer a situação ideal da época de David. Essa missão, na perspectiva profética, será confiada a um “ungido” que Deus vai enviar ao seu Povo. Esse “ungido” (em hebraico “messias”, em grego “cristo”) estabelecerá, então, um tempo de paz, de justiça, de abundância, de felicidade sem fim – isto é, o tempo do “reinado de Deus”.
O “Reino de Deus” é, portanto, uma noção que resume a esperança de Israel num mundo novo, de paz e de abundância, preparado por Deus para o seu Povo. Esta esperança está bem viva no coração de Israel na época em que Jesus aparece a dizer: “cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus”. Certas afirmações de Jesus, transmitidas pelos Evangelhos sinópticos, mostram que Ele tinha consciência de estar pessoalmente ligado ao Reino e de que a chegada do Reino dependia da sua ação.
Jesus começa, precisamente, a construção desse “Reino” pedindo aos seus conterrâneos a conversão (“metanoia”) e o acolhimento da Boa Nova (“evangelho”).
“Converter-se” significa transformar a mentalidade e os comportamentos, assumir uma nova atitude de base, reformular os valores que orientam a própria vida. É reequacionar a vida, de modo a que Deus passe a estar no centro da existência do homem e ocupe sempre o primeiro lugar. Na perspectiva de Jesus, não é possível que esse mundo novo de amor e de paz se torne uma realidade, sem que o homem renuncie ao egoísmo, ao orgulho, à auto-suficiência e passe a escutar, de novo, Deus e as suas propostas.
“Acreditar” não é, apenas, aceitar um conjunto de verdades intelectuais; mas é, sobretudo, aderir à pessoa de Jesus, escutar a sua proposta, acolhê-la no coração, fazer dela o guia da própria vida. “Acreditar” é escutar essa “Boa Notícia” de salvação e de libertação (“evangelho”) que Jesus propõe e fazer dela o centro à volta do qual se constrói toda a existência.
“Conversão” e “adesão ao projeto de Jesus” são duas faces de uma mesma moeda: a construção de um homem novo, com uma nova mentalidade, com novos valores, com uma postura vital inteiramente nova. Então, sim teremos um mundo novo – o “Reino de Deus”.
ATUALIZAÇÃO
• O quadro da “tentação no deserto” diz-nos que Jesus, ao longo do caminho que percorreu no meio dos homens, foi confrontado com opções. Ele teve de escolher entre viver na fidelidade aos projetos do Pai e fazer da sua vida um dom de amor, ou frustrar os planos de Deus e enveredar por um caminho de egoísmo, de poder, de auto-suficiência. Jesus escolheu viver – de forma total, absoluta, até ao dom da vida – na obediência às propostas do Pai. Os discípulos de Jesus são confrontados a todos os instantes com as mesmas opções. Seguir Jesus é perceber os projetos de Deus e cumpri-los fielmente, fazendo da própria vida uma entrega de amor e um serviço aos irmãos. Estou disposto a percorrer este caminho?
• Ao dispor-se a cumprir integralmente o projeto de salvação que o Pai tinha para os homens, Jesus começou a construir um mundo novo, de harmonia, de justiça, de reconciliação, de amor e de paz. A esse mundo novo, Jesus chamava “Reino de Deus”. Nós aderimos a esse projeto e comprometemo-nos com ele, no dia em que escolhemos ser seguidores de Jesus. O nosso empenho na construção do “Reino de Deus” tem sido coerente e consequente? Mesmo contra a corrente, temos procurado ser profetas do amor, testemunhas da justiça, servidores da reconciliação, construtores da paz?
• Para que o “Reino de Deus” se torne uma realidade, o que é necessário fazer? Na perspectiva de Jesus, o “Reino de Deus” exige, antes de mais, a “conversão”. “Converter-se” é, antes de mais, renunciar a caminhos de egoísmo e de auto-suficiência e recentrar a própria vida em Deus, de forma a que Deus e os seus projetos sejam sempre a nossa prioridade máxima. Implica, naturalmente, modificar a nossa mentalidade, os nossos valores, as nossas atitudes, a nossa forma de encarar Deus, o mundo e os outros. Exige que sejamos capazes de renunciar ao egoísmo, ao orgulho, à auto-suficiência, ao comodismo e que voltemos a escutar Deus e as suas propostas. O que é que temos de “converter” – quer em termos pessoais, quer em termos institucionais – para que se manifeste, realmente, esse Reino de Deus tão esperado?
• De acordo com a Palavra de Deus que nos é proposta, o “Reino de Deus” exige, também, o “acreditar” no Evangelho. “Acreditar” não é, na linguagem neo-testamentária, a aceitação de certas afirmações teóricas ou a concordância com um conjunto de definições a propósito de Deus, de Jesus ou da Igreja; mas é, sobretudo, uma adesão total à pessoa de Jesus e ao seu projeto de vida. Com a sua pessoa, com as suas palavras, com os seus gestos e atitudes, Jesus propôs aos homens – a todos os homens – uma vida de amor total, de doação incondicional, de serviço simples e humilde, de perdão sem limites. O “discípulo” é alguém que está disposto a escutar o chamamento de Jesus, a acolher esse chamamento no coração e a seguir Jesus no caminho do amor e do dom da vida. Estou disposto acolher o chamamento de Jesus e a percorrer o caminho do “discípulo”?
• O chamamento a integrar a comunidade do “Reino” não é algo reservado a um grupo especial de pessoas, com uma missão especial no mundo e na Igreja; mas é algo que Deus dirige a cada homem e a cada mulher, sem exceção. Todos os batizados são chamados a ser discípulos de Jesus, a “converter-se”, a “acreditar no Evangelho”, a seguir Jesus nesse caminho de amor e de dom da vida. Esse chamamento é radical e incondicional: exige que o “Reino” se torne o valor fundamental, a prioridade, o principal objetivo do discípulo.
• O “Reino” é uma realidade que Jesus começou e que já está, decisivamente, implantada na nossa história. Não tem fronteiras materiais e definidas; mas está a acontecer e a concretizar-se através dos gestos de bondade, de serviço, de doação, de amor gratuito que acontecem à nossa volta (muitas vezes, até fora das fronteiras institucionais da “Igreja”) e que são um sinal visível do amor de Deus nas nossas vidas. Não é uma realidade que construímos de uma vez, mas é uma realidade sempre em construção, sempre a fazer-se, até à sua realização final, no fim dos tempos, quando o egoísmo e o pecado desaparecerem para sempre. Em cada dia que passa, temos de renovar o compromisso com o “Reino” e empenharmo-nos na sua edificação.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
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Quaresma
Evangelho: Marcos 1,12-15
1. Os versículos de hoje seguem imediatamente o batismo de Jesus.
Vamos dividi-los em dois momentos:
a. no deserto – vv. 12-13: a tentação
b. na Galileia – vv. 14-15: o tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no evangelho.
a. no deserto – vv. 12-13: a tentação
2. A partir do batismo, Jesus é investido do Espírito Santo, e este o leva para o deserto (v. 13). Quarenta dias e deserto, tanto no evangelho de Marcos quanto na Bíblia com um todo, são um baú cheio de recordações. Não são simples contagem de dias nem lugar geográfico, mas “tempo e lugar teológicos” É aí que João Batista se apresenta pregando a chegada do “forte” (1,4-7), aquele que vai vencer o mal. João Batista se apresenta no deserto, em oposição a Jerusalém e ao Templo, sede do poder político, econômico e religioso da época.
3. O povo de Deus passou quarenta anos no deserto, organizando-se, lutando, perdendo e vencendo, até caminhar para conquistar a terra da promessa (cf. Ex. 16,35). Marcos abre o baú da memória do povo e ajuda a ver que Jesus vai inaugurar novo e definitivo êxodo, concretizado na pregação e na prática.
4. Quarenta anos recorda:
- recorda o tempo que durou o dilúvio, depois do qual surgiu a humanidade renovada na pessoa do justo Noé (Gn. 97,12);
- lembram também os 40 dias e noites que Moisés permaneceu no monte Horeb para receber a aliança (Ex. 24,18; 34,28; Dt. 9,11);
- fazem ainda pensar nos quarenta dias e quarenta noites que Elias caminhou, alimentado pelo anjo do Senhor, até chegar ao Horeb (1Rs. 19,8), o monte de Deus; depois dos quais provoca mudanças radicais no Reino do Norte.
- lembram ainda os 40 anos que o povo de Israel peregrinou pelo deserto (Dt. 2,7).
Todos esses aspectos repercutem na apresentação de Jesus: com ele tudo recomeça (como com Noé), chega a nova aliança (a antiga veio por Moisés) e aproxima-se a mudança radical (superior à de Elias).
5. Marcos afirma que Jesus permaneceu no deserto por quarenta dias e ali foi tentado por Satanás (vv.12-13a). O evangelho não revela o conteúdo da tentação sofrida. È que ela irá aparecer constantemente na vida do Mestre. Satanás (= adversário) quer dizer pessoas e sistemas que se opõem ao projeto de Deus a ser anunciado e realizado na pregação e na prática de Jesus (cf. 1,36-37; 8,33; 12,13).
6. No deserto, o Mestre vive novo tipo de relação. Os animais selvagens recordam a realidade nova anunciada por Isaías 11,1-9. Jesus inaugura novas relações de pessoas entre si e com toda a criação, e isso é fruto do Espírito que age nele (cf.v.12). No deserto, Jesus é servido pelos anjos, ou seja, é sustentado pelo próprio Deus, que o declarou seu Filho e Servo para instaurar o Reino.
b. na Galileia – vv. 14-15: o tempo já se cumpriu e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no evangelho.
7. Marcos situa rapidamente o contexto em que apareceu o programa de Jesus, sintetizado pela primeira declaração do Mestre nesse evangelho. Temos uma vaga indicação de tempo (“depois que João Batista foi preso”) e de lugar (“Jesus foi para a Galileia”, v. 14). O mensageiro de Jesus foi preso. Marcos dirá, mais adiante, quais os motivos da prisão do Batista e as razões que o levaram à morte (cf. 6,17ss). Esse dado é importante. O mensageiro mexeu com os interesses e privilégios dos poderosos.
E aí? O que irá acontecer com Jesus?
8. Aos poucos o evangelho mostrará que Jesus, o “forte” (1,7), não se deixa amedrontar pelos poderosos, vencendo os mecanismos que geram morte para o povo. A Galileia é o lugar social onde Jesus inicia a sua atividade. Essa região era sinônimo de marginalidade, lugar de gente sem valor e impura. É no meio dessa gente e a partir dela que Jesus anuncia seu programa de vida: “O tempo já se cumpriu, e o Rei-no de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no Evangelho” (v. 15). Depois que ressuscitou, o Mestre convida os discípulos a descobri-lo vivo na Galileia (cf. 16,7), sinal de que a prática de Jesus em nada difere da dos que o desejam seguir.
9. O programa de Jesus (v. 15) consta de três momentos:
- O tempo já se cumpriu.
- O Reino de Deus está próximo.
- Convertam-se e creiam na Boa Notícia.
10. Em primeiro lugar ele anuncia que “O tempo já se cumpriu”. A espera da libertação chegou ao fim. Deus está presente em Jesus, atuando seu projeto de vida e liberdade. O caminho de Deus e o caminho dos marginalizados são uma coisa só. O desejo expresso em Is. 63,19 (“quem dera rasgasses o céu para descer!”) se cumpriu, pois com Jesus o céu se rasgou (cf. Mc. 1,10) e o Deus invisível se tornou gente no meio dos empobrecidos. Fez-se pobre como eles.
11. Em segundo lugar, Jesus anuncia que “o Reino de Deus está próximo”. Deus tomou a decisão de reinar. Por que o Reino de Deus está próximo? Porque a realeza de Deus vai tomando corpo através dos atos libertadores que Jesus realiza ao longo do evangelho. Está sempre próximo também mediante a prática dos seus discípulos, aos quais confiou a continuação daquilo que anunciou e fez. O Reino é uma realidade dinâmica. Refazendo a prática de Jesus no tempo, as pessoas e as comunidades vão abrindo espaços para que o Reino se torne realidade.
12. Em terceiro lugar, Jesus diz; “convertam-se e creiam na Boa Nova”. Conversão é sinônimo de adesão à pratica de Jesus. A libertação esperada, o céu rasgado, de nada adiantariam se as pessoas que anseiam pela libertação continuassem amarradas aos esquemas que mantêm uma sociedade desigual e discriminadora. O evangelho de Marcos é apenas o início da Boa Nova da libertação trazida por Jesus (cf. 1,1). Ela se tornará realidade mediante o compromisso das pessoas e comunidades que dizem sim ao Mestre.
1ª leitura: Gn. 9,8-15
13. Os versículos de hoje situam-se logo após o dilúvio e são de tradição sacerdotal. Com Noé, homem justo, a humanidade renasce do caos gerado pela violência e pelo mal. Isso nos ajuda a crer que a humanidade pode se salvar do caos, desde que as pessoas pratiquem a justiça.
14. O dilúvio, símbolo do mal que ameaça destruir o mundo, terminou. A vida recomeça a partir das pessoas justas, a nova criação, com as quais Deus faz aliança para sempre: “De minha parte, vou firmar minha aliança com vocês e com os seus descendentes … com todos os animais da terra que saíram com vocês da arca” (vv. 9-10). O resultado da aliança de Deus com Noé, com seus filhos e com toda a criação é este: “Nenhum ser que respira será novamente exterminado pelas águas de um dilúvio, e não haverá mais dilúvio para destruir a terra” (v. 11)
15. Desses versículos tiramos algumas conclusões.
15.1. A primeira nasce da constatação de que Deus faz aliança não somente com Noé, com sua família e descendente, mas também com todos os animais da terra que saíram da arca (cf.v. 10), ou seja, com toda a criação. É uma aliança universal. Esta se encontra, novamente, nas mãos de Deus, como no início (cf.Gn. 1-2).
15.2. A segunda conclusão brota do v. 11: Deus quer a vida e por isso, torna-se aliado da humanidade na luta pela continuidade e preservação da vida, não só a das pessoas, mas da natureza como um todo.
15.3. A terceira conclusão é esta: se Deus é a favor da vida em todas as suas manifestações, o mal, a destruição e todas as formas de morte não podem ser atribuídas a ele. Quem será, então, o responsável?
16. A aliança de Deus com Noé, com sua família, descendentes e animais da terra (= aliança com toda criação, para sempre), não exige, como as demais alianças do AT, um sinal concreto por parte do aliado de Deus (para Abraão, por exemplo, o selo da aliança foi a circuncisão; para os hebreus, o descanso do sábado). Há outro aspecto. A aliança com Abraão e com os hebreus exige compromisso do parceiro. Na aliança com Noé, Deus se compromete sozinho, independentemente do compromisso do aliado (Noé e os seus). Isso reforça a idéia de que Deus está, – para sempre e de modo irreversível, – compro-metido com a vida da criação. Cabe, portanto, ao ser humano o respeito e a co-responsabilidade na transmissão e preservação da vida.
17. O arco-íris é o símbolo da aliança de Deus com a humanidade: “Ponho o meu arco nas nuvens, como sinal da aliança entre mim e a terra. Quando eu cobrir de nuvens a terra, aparecerá o arco-íris. Então me lembrarei da minha aliança com vocês e com todas as espécies de animais vivos, e as águas nunca mais virão como dilúvio para destruir todo ser que respira” (vv. 13-15). O arco, instrumento de guerra, é trans-formado em instrumento de paz e aliança para a vida. E para nós, quais são hoje os sinais de que Deus é nosso aliado na luta pela defesa da vida?
2ª leitura: 1Pd. 3,18-22
18. A primeira carta de Pedro é um texto endereçado aos cristãos dispersos, migrantes forçados, que vivem como estrangeiros, passando por duros sofrimentos e perseguições. Nos versículos de hoje é possível descobrir uma espécie de profissão de fé batismal: “Cristo morreu uma vez por causa dos pecados, o justo pelos injustos” (v. 18a);
- “ele recebeu nova vida pelo Espírito” (v. 18b);
- “desceu à mansão dos mortos” (cf. v. 19);
- “subiu ao céu e está à direita de Deus” (v. 22a).
19. Este é o núcleo central desta leitura. Em torno disto, o autor constrói algumas reflexões que ajudam os cristãos dispersos a entender e a vivenciar seus compromissos batismais.
20. O tema da “descida de Jesus à mansão dos mortos” era muito caro aos primeiros cristãos. É a isso que o autor se refere nos vv. 19-20, fazendo uma ponte entre o tempo de Noé e o tempo dos primeiros cristãos. No passado, um pequeno grupo (oito pessoas) foi salvo pela ação do justo Noé, surgindo daí a nova humanidade. A descida de Jesus à mansão dos mortos provocou um encontro e um confronto dos que não foram salvos com a pessoa de Jesus: “Pelo Espírito, Jesus foi também pregar aos espíritos em prisão, isto é, aos que foram incrédulos antigamente…”
21. No tempo em que a carta foi escrita, os batizados eram minoria, mas são justamente eles os que provocam na humanidade inteira o confronto com o Evangelho de Jesus. Daí surgem a identidade e a missão dos batizados, e isso irá provocar novas criaturas e nova humanidade. O batismo não é um rito, como os antigos ritos de purificação, ”mas, é o pedido de uma boa consciência para com Deus pela ressurreição de Jesus Cristo” (v. 21). Ele confere, portanto, identidade nova, tornando as pessoas criaturas novas. E implica uma missão: fazer com que o mundo todo se confronte com as propostas do Evangelho, reconhecendo Jesus como único Senhor, pois a ele foram submetidos os anjos, dominações e poderes” (v. 22b).
R e f l e t i n d o
1. Celebramos o 1º domingo da Quaresma. Muitos jovens nem sabem o que é a Quaresma. Nem sequer sabem de onde vem o carnaval, antiga festa do fim do inverno (no hemisfério norte) que, – na cristandade, – se tornou a despedida da fartura antes de se iniciar o jejum da Quaresma.
2. Quaresma (do latim quadragésima) significa um tempo de 40 dias vivido na proximidade do Senhor, na entrega a Deus. Na Quaresma, deixamos para trás as preocupações mundanas e priorizamos as de Deus. Vivemos numa atitude de volta para Deus, de conversão. Isso não consiste necessariamente em abster-se de pão, mas sobretudo em repartir o pão com o faminto e em todas as demais formas de justiça. Tal é o verdadeiro jejum (Is. 58,6-8).
3. Depois de batizado por João Batista no rio Jordão, Jesus se retirou ao deserto de Judá e jejuou durante 40 dias, preparando-se para anunciar o Reino de Deus. A Igreja viu nesses 40 dias de preparação de Jesus uma imagem da preparação dos candidatos ao batismo. Assim como Jesus, depois desses 40 dias, se entregou à missão recebida de Deus, os catecúmenos eram, depois de 40 dias de preparação, incorporados a Cristo pelo batismo, para participar da vida nova. Batismo que era celebrado na noite da Páscoa, noite de ressurreição.
4. A meta da Quaresma é a Páscoa, o batismo, a regeneração para uma vida nova. Para os que ainda não receberam o batismo – os catecúmenos – isso se dá no sacramento do batismo na noite pascal. Para os já batizados, na conversão sempre necessária em nossa vida cristã: daí o sentido da renovação do compromisso batismal e do sacramento da reconciliação nesse período.
Conversão e renovação, se preciso também arrependimento pelas infidelidades, mas o tom principal é a alegria pela Boa-Nova e por Deus, que em Cristo, renova e transforma nossa vida.
5. A primeira carta de Pedro recorda os fundamentos da nossa fé e nossos compromissos batismais. Nessa quaresma é possível nos confrontarmos com o Evangelho de Jesus Cristo? Confrontar nossa vida com a mensagem e a prática de Jesus, o Nazareno?
6. Marcos apresenta Jesus sendo tentado por Satanás no deserto. E isso indica e aponta para um novo Êxodo. Se satanás é a encarnação de pessoas e estruturas que geram a morte, como descobri-lo e vencê-lo no que diz respeito à situação de quem está na exclusão? Quem precisa converter-se: o excluído ou nós, ou ambos? Se é verdade que Jesus inaugura novas relações das pessoas entre si e com toda a criação, o que isso representa para os excluídos?
7. Deus sempre oferece novas chances. Incansavelmente deseja que o ser humano viva, mesmo sendo pecador (cf. Ez. 18,23). Sua oferta tem pleno sucesso com Jesus de Nazaré. Este é verdadeiramente o seu Filho (Mc. 1,11). Impelido por seu Espírito, enfrenta no deserto as forças do mal, mas vence e os anjos do Altíssimo o servem. Por sua fidelidade na tentação, alcança um novo paraíso. Nas próximas semanas, o acompanharemos em sua subida a Jerusalém, obediente ao Pai. Será a verdadeira prova, na doação até a morte, morte de cruz. E “por isso”, Deus o exaltou… (cf. Fl. 2,9).
8. Jesus, porém, não vai sozinho. Leva-nos consigo. Com ele somos imersos no batismo e saímos dele renovados, numa nova e eterna Aliança. Portanto, a liturgia de hoje é como o início de uma grande catequese batismal: preparamo-nos para o batismo e para a renovação do nosso batismo, que é a participação na reconciliação que o sacrifício de Cristo operou por nós (cf. Rm. 3,21-26; 5,1-11; 6,3). Mergulhar com ele na provação que nos purifica, é o grande desafio da Quaresma na nossa vida. Mas à humanidade toda, – tanto a Noé como aos batizados, Deus dá novas chances: eis o tempo de conversão! Nisso consiste a revelação do íntimo do seu ser, que é, ao mesmo tempo, bondade e justiça: “Ele reconduz ao bom caminho os pecadores; aos humildes conduz até o fim, em seu amor!” (Sl. 25,8-9).
9. Gênesis 9,8-15 afirma que Deus está comprometido, para sempre e de modo irreversível, com a vida da humanidade como um todo. Aliás, desde a criação Deus sempre esteve presente na vida dos homens. Como isso repercute na nossa vida? Como isso repercute na vida dramática dos excluídos e suas famílias?
10. O mal tem muitas faces e está presente desde o início da humanidade. As águas do dilúvio representavam – para os antigos – um desencadeamento das forças do mal. Mas quem tem a última palavra, na criação, é o amor de Deus. Deus não quer destruir o homem, ele impõe limites ao dilúvio, que não mais voltará a destruir a terra. No fim do dilúvio, Deus repete o dia da criação, em que ele venceu o caos originário, separou as águas de cima e de baixo e deu um lugar ao homem para morar. Faz uma nova criação, melhor que a anterior, pois acompanhada de um pacto de proteção. O arco-íris, que no fim do temporal nos alegra espontaneamente, é o sinal natural desta aliança.
11. A nossa quaresma: começamos a quaresma deste ano. Um tempo que nos prepara para a celebração da vitória de Jesus sobre o sofrimento e a morte, e … tempo de conversão. De todos os lados escutamos clamores de solidariedade e a fraternidade não pode deixar-nos indiferentes. Este é um tempo especial – tempo de graça – que nos faz esperar e agir, pois a última palavra não pertence à morte, mas à vida. Aquele que vai ser crucificado será ressuscitado para que todos tenham vida em plenitude. Deus é nosso aliado na luta pela vida (ele vence a morte!), aliado de toda a criação. E a prática de Jesus o confirma, pedindo nossa colaboração solidária na implantação do projeto de Deus.
12. Complementos esclarecedores da 2ª leitura: sobre o batismo e sobre a descida à Mansão dos mortos.
Para termos um melhor esclarecimento do texto da 2ª leitura, transcrevemos aqui notas explicativas da Bíblia de Jerusalém, da Bíblia do Peregrino e do Novo comentário bíblico são Jerônimo NT.
12.1. Batismo e nossos compromissos batismais
12.1.1. Da Bíblia de Jerusalém: – comentário 1Pd. 3,18 letra c: ”Todo o trecho (3,18-4,6) contém os elementos de uma antiga profissão de fé: morte de Cristo (3,18), a descida à mansão dos mortos (3,19), a ressurreição (3,21d), o sentar-se à direita de Deus (3,22), o julgamento dos vivos e dos mortos (4,5).
12.1.2. Da Bíblia do Peregrino: – comentário nota 1Pd. 3, 17-22: ”Voltando ao tema favorito da carta, o sofrimento inocente, introduz uma profissão ou instrução batismal, que contém um dos textos mais enigmáticos do NT.
Vejamos o que está claro no texto.
- Primeiro: a morte redentora de Cristo, de alcance universal e definitivo, irrepetível (cf. Hb. 6,6; 9,26), que conduz o homem para Deus, consumando a reconciliação (2Cor. 5,20).
- Segundo: a morte de Jesus por sua condição humana (de carne) e a ressurreição pela ação do Espírito vivificante (Jo 6,63; Rm. 8,10-11; 1Cor. 15,44).
- Terceiro: a ascensão e senhorio universal ou glorificação (At. 1,10; Ef. 1,20-21).
- Quarto: a virtude “salvadora” do batismo em função da ressurreição de Jesus Cristo, e que inclui: uma “boa consciência”, não mais turbada (Sl. 32,2), e um compromisso pessoal com Deus. Isso é claro e representa uma síntese doutrinal, que bem pode proceder de ritos batismais primitivos”.
12.2. Sobre a descida à mansão dos mortos.
12.2.1. Da Bíblia de Jerusalém: – comentário 1Pd. 3,19 nota e: ”Alusão provável à descida de Cristo ao Hades (cf. Mt. 16,18) entre a sua morte e a sua ressurreição (Mt. 12,40, At. 2,24.31; Rm. 10,7; Ef. 4,9; Hb. 13,20), ao qual foi “em espírito” (cf. Lc. 23,46), ou antes, segundo o Espírito (Rm. 1,4) enquanto a sua “carne” estava morta na cruz (Rm. 8,3s). Os “espíritos em prisão” aos quais ele “pregou” (ou “anunciou”) a salvação são, segundo alguns, os demônios acorrentados de que fala o livro de Henoc (alguns, corrigindo o texto, atribuem esta pregação a Henoc e não a Cristo): nesta ocasião eles foram então submetidos ao seu domínio de Kyrios (v. 22; cf. Ef. 1,21s; Fl. 2,8-10), enquanto aguardavam sua sujeição definitiva (1Cor. 15,24s). Outros querem ver neles os espíritos dos mortos que, embora punidos no dilúvio, são, entretanto, chamados para a vida pela “paciência de Deus” (cf. 4,6). Mateus 27,52s contém uma alusão a uma liberação dos “santos”, operada por Cristo, entre a sua morte e a sua ressurreição. Esses “santos” eram justos que esperavam a sua vinda (Hb. 11,39s; 12,23), para entrarem com ele na “santa cidade” escatológica. ”
12.2.2. Da Bíblia do Peregrino: – comentário 1Pd. 3, 19-20 nota. ”O enigmático está nos vv. 19-20, ou seja, a pregação de Jesus às “almas encarceradas” de antepassados. O enigma não foi resolvido até agora, antes, tem provocado múltiplas explicações conjeturais. Entre todas, proponho uma leitura baseada na mentalidade do AT sobre a existência no além-túmulo. Quando morre, o homem “desce” pelo sepulcro ao Xeol, mundo subterrâneo e tenebroso dos mortos, que possuem uma existência umbrática (como os ‘fantasmas” do nosso folclore). Cf. Is. 14; Ez 32, etc. (Não tem sentido no AT dizer que o corpo inerte fica no sepulcro e a alma separada ‘desce ao inferno’ ). Nesse mundo dos mortos encontram-se, como grupo representativo, homens contemporâneos de Noé, a quem o patriarca anunciava o dilúvio e não lhe deram atenção. ”
12.2.3. Do Novo Comentário Bíblico S. Jerônimo – Novo Testamento ”V. 18. Cristo sofreu ["morreu na BJ] … O vocabulário de 1Pd. e o contexto exigem a leitura “sofreu” (cf.3,14.17; 4,1). Na carne … no espírito: esta distinção não é a de “corpo” e “alma” que se encontra na filosofia grega. Deste modo, 3,19 não se refere à atividade da “alma” de Cristo. O texto se refere a duas esferas da existência de Cristo, a de sua vida terrena e a de seu estado como Senhor ressuscitado, transformado pelo Espírito (cf. Rm. 1,3; 1Cor. 15,45; 1Tm. 3,16). No qual foi pregar aos espíritos em prisão: a interpretação universal do termo “no qual” por parte dos comentaristas antigos da língua grega favorecem a tradução “no qual” como equivalente a “e em seu espírito”. Cristo fez sua proclamação como Senhor ressurreto. Aos espíritos em prisão: no uso do NT, “espíritos” sem uma expressão identificadora (cf. Hb. 12,23) , significa “seres sobrenaturais” e não “almas humanas”. Em 1 Henoc, um livro bastante popular na época do protocristianismo, Henoc, em uma missão recebida de Deus, foi e anunciou aos anjos rebelados (cf.Gn 6,1-2) que eles tinham sido condenados à prisão. Nesta tradição, a rebelião dos anjos é expressamente ligada com o dilúvio. Em um desenvolvimento posterior, Henoc cruza os céus e se encontra com os anjos rebeldes aprisionados no segundo céu (2 Henoc 7,1-3). A história de Henoc é aplicada ao Cristo ressurreto em 1 Pd 3,19, o qual, em sua ascensão, atravessou “todos os céus” (veja Ef. 4-8; Hb. 4,14; cf. 1Tm. 3,16; Fl. 2,9; Ef. 1,20; 6,12; Hb. 7,26). Todos os espíritos hostis foram sujeitados a ele (cf. Ef. 1,20-22; 4,8; 1Pd. 3,22). Foi pregar: este verbo se refere à atividade de Cristo após sua ressurreição corpórea. Tal ida foi entendida natural-mente como sua ascensão ao céu (cf. 3,22; At. 1,10-11). … Pregar significa “atuar como arauto”. Aqui Cristo proclama a si mesmo como “Senhor” (cf. Fl. 2,11).
Assim como em 3,22, declara-se que o poder dos espíritos hostis chegou ao fim. Tanto em 3,19 como em 3,22, o autor não está interessado na reação psicológica dos espíritos, mas unicamente na libertação dos seres humanos do poder desses espíritos.
prof. Ângelo Vitório Zambon
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Tempo de Quaresma
1. “Eis que vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência” (Gen 9,9).
Parece-me ser este o tema central do tempo de Quaresma: o desejo de Deus de estabelecer uma aliança com o homem, a mulher, a humanidade toda perdida no pecado. Este desejo de Deus, muito antigo- o encontramos, de fato, expressado já  nas primeiras paginas da Bíblia- transforma de vez a maneira comum de entender a religião. O nosso Deus, o Deus dos nossos pais, não quer simples adoradores, que prestam um culto externo em oras preestabelecidas em lugares fixos: o nosso Deus quer parceiros de uma aliança. E aliança quer dizer compromisso, empenho, um compromisso que envolve os parceiros de uma forma definitiva. É isso que chama atenção na maneira de Deus agir: Deus arrisca  a si mesmo, a própria identidade, podemos dizer a própria reputação, com parceiros tão fracos e pequenos como nós. Poderíamos nos perguntar, nessa altura: porque Deus faz uma coisa dessa? Eu acho que a resposta deveria ser esta: porque Deus ama. E o amor verdadeiro não mede riscos, não calcula, simplesmente se doa.  Pelas leituras escutadas nós sabemos onde Deus quer chegar com esta aliança: uma união esponsal conosco. Não é um caso que a Bíblia encerre no livro do Apocalipse com a imagem do noivo e da noiva, ou seja do cordeiro imolado e da Igreja.
Se isso é verdade, quer dizer que o sentido da vida de fé é um caminho de educação ao amor. Freqüentamos a Igreja, participamos das missas para aprendermos a amar. E este é, também, o sentido da quaresma: um caminho de educação ao amor, para descobrirmos o sentido autentico da nossa existência, um sentido manchado pelo pecado. O amor envolve as pessoas numa experiência que si torna totalizante. O amor é exigente. Por isso, quem aceitar a proposta de Deus, deve responder de conseqüência. Se toda essa conversa, que puxei até agora tem um sentido, quer dizer que não podemos medir a nossa fé com o numero de celebrações que participamos. Deus se aproxima a nós em Jesus e agora na Igreja, para nos ajudar a viver uma vida de amor e, o amor, é responsável. A verdade da minha vida de fé é a fidelidade a minha vocação, uma fidelidade criativa, ativa, responsável. Nada, então, daquelas vidas paradas, sentadas, relaxadas, tranqüilas que muitas vezes encontramos nas nossas paróquias, sobretudo entre aqueles ou aquelas, que se dizem mais religiosos. O amor arrasta as pessoas,  não deixa quieto, provoca uma resposta envolvente. O amor é atento as pessoas, as acompanha, cria laços.
2. O texto da carta de Pedro, que ouvimos na segunda leitura, é na mesma direção daquilo que acabamos de refletir. “Cristo morreu, uma vez por todas, por causa dos pecados, o justo pelos injustos, a fim do nos conduzir a Deus” (1Pd. 3,18).  A morte vigária de Cristo, o seu morrer no nosso lugar, expressa um gesto extremo de amor. Em Jesus tudo é amor e isso se enxerga, de uma forma especial, na ora da sua morte. Morreu “ao fim de nos conduzir a Deus”. Quem ama deseja vida e, a cruz de Cristo, apesar das aparências imediatas, esbanja vida. O amor que derramou da cruz o recebemos no batismo, “que é um pedido de Deus para obter uma boa consciência”. Deus, ao longo dos séculos, predispôs as coisas para que o homem pudesse corresponder ao seu amor. O batismo é o instrumento que, purificando as nossas consciências, nos rende idôneos a corresponder ao amor de Deus. Nesta  perspectiva dá para perceber, a distancia que, a pratica  da Igreja, produziu ao longo dos séculos sobre o batismo.
3. É nesse olhar que podemos entrar no Evangelho para tentarmos uma interpretação.
“O tempo já se completou e o reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc. 1,15).
Não tem mais nada para esperar: Cristo, com a sua presença, preencheu o tempo de sentido. Qualquer busca existencial, deve encontrar em Jesus a justa conclusão. Se Deus em Cristo se aproximou a nós, então para o homem, a mulher não tem outra escolha que aderir a Ele. Na realidade, aquilo que assistimos todos os dias, é muito diferente. A humanidade, apesar de dois mil anos de cristianismo, não reconhece a Deus, não o enxerga. Esta falta de visibilidade de Deus, talvez seja também culpa nossa, de nós cristãos. Deus se fez carne e, agora o se u corpo é a Igreja. A Igreja é, então, a carne visível, sacramental de Cristo. A Igreja, porém, não é uma entidade impessoal: é feita de nós cristãos, de pessoas.. Esta conversão que Jesus pede no Evangelho de hoje, é em função da visibilidade de Deus, para que o mundo possa acreditar. O amor de Deus não agüenta pensar que, alguém dos seus filhos queridos, possa se perder.  Toda a historia da salvação é em função disso: a salvação da humanidade. Esta perspectiva universalista, deveria nos ajudar a entender que, o tempo de quaresma, não apenas um caminho de conversão pessoal: é a humanidade toda que Deus quer salvar. Através da minha conversão, Deus quer tocar no coração de outras pessoas.
4. Pedimos ao Espírito Santo que nos ajude a entrar no deserto desta Quaresma, para conseguirmos nos afastarmos das tentações e, assim, voltarmos purificados para Deus.
padre Paolo Cugini
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Convertei-vos e crede no Evangelho!
Em nossas últimas reflexões estudamos o Evangelho de Marcos e observamos que a pregação de Jesus não é em torno de sua pessoa, más é o anúncio da chegada do Reino de Deus. Diante disso exige conversão, mudança de vida. “Convertei-vos e crede no Evangelho”! Estamos iniciando um novo Tempo Litúrgico denominado de Quaresma. Iniciamos o Tempo Quaresmal colocando cinza sobre nossa cabeça como sinal de penitencia e conversão. O ritual das cinzas expressa uma atitude de conversão e arrependimento que precisamos reforçar durante a quaresma. “Agora, diz o Senhor, voltai para mim com todo o vosso coração” é o apelo do Profeta (Joel 2,12-18). O texto do Evangelho deste 1º domingo da quaresma (Mc 1,12-15) relata que depois que João Batista foi preso, Jesus dirigiu-se para a Galileia e pregava a Boa Nova dizendo: “Completou-se o tempo, o Reino de Deus está próximo; fazei penitencia e crede no Evangelho”. A Quaresma é um tempo privilegiado de quarenta dias de preparação para a maior festa do cristianismo – a Páscoa Cristã. A espiritualidade quaresmal é caracterizada pela conversão e escuta da Palavra de Deus que ilumina nossa vida e clama a uma verdadeira reconciliação com Deus e com os irmãos. Converter-se significa tomar outra direção, mudar de rumo. Durante quarenta dias, no deserto, Jesus foi tentado por satanás. Mateus e Lucas descrevem as tentações que Jesus teve que enfrentar com mais detalhes. Comprometidos com o projeto de Deus e no seguimento dos passos de Jesus, certamente teremos que enfrentar muitas tentações. Vencendo todas as tentações do demônio, Jesus propõe a cada um de nós três atitudes: Oração, jejum e esmola. São atitudes de vida que nos inserem no Mistério Pascal, abrem nosso coração para a construção de novas relações com Deus e com o próximo. Através do jejum saberemos nos unir as pessoas que habitualmente são privadas das necessidades básicas. Na oração, o encontro com Deus face a face. O terceiro aspecto é a esmola. Deus espera de nos gestos concretos de partilha em especial para com aqueles que estão à margem, sem voz e sem vez implorando por justiça e solidariedade. A Igreja através da CNBB promove anualmente a Campanha da Fraternidade que tem início na 4ª Feira de Cinzas. Pelos temas escolhidos nos últimos anos observa-se que a Igreja está atenta aos problemas cruciais da sociedade. Em 2009 a CF teve como tema “Fraternidade e Segurança Pública”. Esse ano a CF apresenta-nos como tema: “Fraternidade e a Saúde Pública” e o lema é: “Que a saúde se difunda sobre a terra” (Eclo 38,8). Tem como objetivo, promover ampla discussão sobre a realidade da saúde pública, contribuir no fortalecimento do SUS em vista da melhoria da qualidade dos serviços.
Pedro Scherer
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Quaresma é um tempo de conversão

O tempo da Quaresma, com cinco semanas e quatro dias, e o tempo pascal que o sucede, com sete semanas, se inserem dentro do ano litúrgico, tendo como data de referência o domingo de Páscoa, o qual ocorre logo após a primeira lua cheia de primavera (a partir de 21 de março, no hemisfério norte). A Quaresma é um tempo de aprofundamento da conversão, com seu apelo a uma mudança de valores recebidos da sociedade discriminatória e elitista em que vivemos. A partir da revelação em Jesus, em sua vida e sua prática, encontramos novos valores a serem assumidos em vista da promoção da vida plena para todos. O ato de conversão decorre do compromisso assumido no batismo. O batismo de João e a pregação de Jesus se fundamentam nesta conversão: "Convertei-vos e crede na Boa-Nova". No Antigo Testamento encontramos a simbologia da permanência no deserto como um tempo de conversão. No êxodo do Egito, o povo indócil a Javé, no momento em que deveria entrar na Terra Prometida, acaba ficando quarenta anos no deserto, curtindo um tempo de reconciliação com a divindade. Os evangelistas sinóticos (Mt, Mc, Lc) vão associar ao batismo de Jesus um tempo de permanência no deserto, quarenta dias, como tempo de sua conversão. De fato, depois da prisão de João Batista, há uma mudança na vida de Jesus. Voltando para a Galileia, sua terra, abandona sua cidade de origem, Nazaré, e, acompanhado de discípulos em uma vida itinerante, passa a anunciar a chegada do Reino de Deus. A sucinta narrativa de Marcos sobre a tentação de Jesus resume o seu ministério prestes a se iniciar: o convívio em confronto com seus adversários e o conforto da fraternidade dos discípulos, iniciados no aprendizado do serviço. A aliança com Deus é apresentada na primeira leitura de uma maneira antropomórfica. O deus que, arrependendo-se de ter feito os homens sobre a terra, resolveu exterminá-los pelo dilúvio, agora promete que não voltará a exterminar seu povo pelas águas. Salvam-se apenas Noé, prefiguração de Abraão, e sua família, com quem é feita uma aliança, da qual, a partir de uma etiologia bíblica, o arco-íris passa a ser uma lembrança. A "primeira carta de Pedro", na segunda leitura, associa as águas destrutivas e saneadoras do dilúvio com a água do batismo que é fonte de salvação. É uma teologia que se distancia do batismo de João e de Jesus como conversão à prática concreta da justiça. A conversão a que somos chamados envolve mudanças de valores e práticas pessoais em interação com os relacionamentos comunitários e sociais. Cumpre rompermos com os valores impostos pela cultura consumista que atende aos interesses dos poderosos. Somos atraídos, caindo na rede das TVs, dos shoppings e similares, cedendo às tentações que se apresentam agradáveis aos sentidos, ao conforto, à segurança, à vaidade, estimulando o sucesso pessoal no usufruto do poder, levando à indiferença para com os humildes, explorados, carentes e sofredores. É tempo de, libertando-nos, nos voltarmos amorosamente para o nosso próximo, particularmente aquele excluído e empobrecido, na prática da justiça, na partilha e na comunhão de vida. 

José Raimundo Oliva

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1º Domingo da Quaresma


Missionários Claretianos

Santos do Dia:Agrícola de Nevers (bispo), Alexandre de Alexandria (bispo), André de Florença (bispo), Dionísio de Ausburgo (bispo, mártir), Faustiniano de Bolonha (bispo), INestor de Perge (bispo, mártir), Pápias, Diodoro, Conon e Claudiano (mártires da Panfília, na Ásia Menor), Porfírio de Gaza (bispo), Quodvultdeus de Cartago (bispo), Vitor de Troyes (eremita).

Primeira leitura:Gênesis 9, 8-15
Aliança de Deus com Noé, salvo das águas do dilúvio.
Salmo responsorial: 24, 4-9
Verdade e amor, são os caminhos do Senhor.
Segunda leitura: 1 Pedro 3,22
O Batismo agora vos salva.
Evangelho: Marcos 1,12-15
Foi tentado por Satanás, e os anjos o serviam.

A primeira leitura, Genesis 9, fala da aliança de Deus com Noé. A aliança mais importante, será a realizada com Abraão... A Aliança com Noé pertence a um segundo plano da economia da salvação. Nunca mais haverá dilúvio para destruir a terra, assegura Deus a Noé (Gn 9,11). E esta promessa vai acompanhada de um memorial: o arco-íris, sinal de um novo pacto entre Deus e a humanidade.

O medo do “diluvio” foi quebrado! Agora temos uma nova aliança a partir de uma alternativa de vida para todos os seres viventes. A arca que abrigou a família se transforma em uma grande casa acolhedora da vida, onde o cuidado com os animais se destaca, de maneira especial (Gn 9, 10-7). É a casa da vida que coloca o ser humano em comunhão entre a terra, a natureza, e o cosmos.

O rio Jordão, o deserto e a Galiléia são como que um mesmo “fio condutor” de um deslocamento fundamental que dá início ao evangelho de Marcos. Aí percebemos o movimento do reino de Deus que convida a mobilizar-nos em busca de nossos próprios “lugares do Reino” onde se concretizam e se desenrolam nossas opções pela vida, pela dignificação das pessoas e das comunidades.

O rio Jordão evoca grandes e significativos feitos da historia de Israel. É mais importante, sem dúvida, quando Josué e o grupo do deserto atravessam o rio para entrar na terra prometida (Js 3-4). Relato das origens daquele projeto de vida igualitária revelado por Deus aos escravos fugitivos do Egito. A partir dessa memória primordial, João, o Batista, convoca o povo ao redor de uma nova esperança messiânica. Aí também chega Jesus, procurando “as águas de João”.

deserto é a mediação muito freqüente de discernimento, formação e amadurecimento do projeto de Deus. Jesus é levado pelo Espírito ao deserto, lugar por excelência onde Israel aprendeu a ser povo. Sujeito e projeto unidos na memória do êxodo, dando inicio ao evangelho de Jesus.

Galiléia
 o lugar onde Jesus concretiza sua opção pela humanidade e pela humanização. Essa geografia é, para Jesus, o espaço vital do Reino. É um mar, uma terra e um povo aberto às nações do entorno. As fronteiras se “cruzam” dando lugar à inclusão do diferente em múltiplas “misturas”. Tudo isto favoreceu o amadurecimento e a irrupção do kairós do reino de Deus.

A passagem do Jordão em direção ao deserto, propõe a articulação de movimentos messiânicos proféticos que têm nesses lugares suas fontes de inspiração e de organização. Marcos vincula o confronto com Satanás, principio cósmico do mal, com a enfermidade, a marginalização e a morte dos pobres; será para Jesus a definição de sua vida pela rota do reino de Deus.

O deserto deixa de ser um lugar de prova e penitencia, segundo a tradição judaica, para converter-se em lugar de aprendizagem definitiva no confronto e na superação do desequilíbrio. O Espírito de Deus leva Jesus até a memória fundamental de Israel; vencendo a Satanás, a vida se transforma em fidelidade para com Deus e para com o ser humano. O simbolismo dos “quarenta” tem a ver com o trauma do novo nascimento. Os poderes da historia se confrontam: Jesus, como princípio da humanidade, libertada a partir de Deus, e Satanás, que é símbolo e causa de morte no mundo. Nós nos encontramos frente ao relato de uma nova origem.

Marcos reescreve a historia, levando-nos da água do batismo à reconstrução da humanidade, par nos dizer que Jesus está aí apostando numa nova opção de vida, dignidade e felicidade humana. Porém, Jesus não assume o combate solitário. Está juto como os animais e os anjos como que evocando um novo paraíso. O serviço evangélico comunica esperança e a realidade da salvação.

Ao retomar o “paraíso” para reiniciar o caminho do humano, Jesus conta com forças naturais e angelicais (terra e céu) favoráveis. Jesus se encontra entre a tentação satânica e o serviço angélico. É o dilema que permanentemente enfrentamos. Marcos evocou estes poderes como em um espelho para que possamos nos espelhar neles.  Ele esclareceu o que é servir, conectando-nos à “historia original”. Já na historia concreta esses atores sobrenaturais desaparecem e é quando Jesus nos ensina a servir, servindo à sua comunidade discipular.

Obviamente, os quarenta dias de deserto não desaparecem. Duram todo o evangelho, toda a vida. São paradigma da contradição e do desequilíbrio, que permanentemente atravessam a historia. Na trama da vida humana nasceu e foi sendo introduzida e decidida a trama do pecado e a esperança de todos os viventes (incluindo animais, anjos e diabos). Definitivamente, a liturgia apresenta este evangelho do começo do ministério de Jesus em paralelo com o começo da quaresma. A quaresma é a vida humana...

Um chamado à conversão ecológica Urgente

A primeira leitura deste domingo introduz o tema ecológico na liturgia, concretamente no tema da conversão. Se a mensagem deste primeiro domingo da quaresma é centrado na conversão, este texto nos dá uma motivação bíblica para incluir a dimensão ecológica nessa conversão hoje necessária.

Embora nos custe admitir, é do conhecimento de todos que as três religiões monoteístas, a religiões do livro, tiveram e continuam tendo muito pouca sensibilidade ecológica. Mais ainda: a dimensão cultural da exploração sem misericórdia da natureza, vista como mero objeto, objeto de exploração, coisificada, objetivada como mero recurso à nossa disposição, não foi invenção humana alheia ao religioso, ao contrario se apóia literalmente nas palavras do Gênesis, (1, 26, no primeiro capítulo da Bíblia). E tudo isso pelo “antropocentrismo”, um erro de perspectiva do qual a Bíblia não nos libertou, mas nos confirmou, e pelo qual nos consideramos o centro da realidade do cosmos.

Um conceito novo, que especifica bem o sentido do “antropocentrismo” é o de “especismo”: concretamente, considera que nós somos a última espécie, somos os recém vindos ao mundo, nos convertemos em uma autêntica força geológica e nos consideramos os seus donos e protagonistas, postergando todas as demais espécies, considerando-as uma classe inferior, biologia e filosoficamente.

A “aliança com Noé” é um pacto com o qual, segundo a tradição recolhida do gênesis, Deus quer comprometer-se com toda a humanidade e todo ser vivo; promessa de que não haverá nenhum novo dilúvio que destrua o ser humano nem a vida sobre a face da terra. O arco-iris será sua lembrança para Deus, diz o Gênesis (9,13).

Hoje é necessário outro pacto ecológico, uma aliança de paz do ser humano com a natureza, para deixar de agredi-la e de destruí-la, para passar a uma atitude de cuidado e de responsabilidade. É preciso superar a postura tradicional de “concordismo bíblico”; pensamento segundo o qual tudo o que é bom que descobrimos ou amadurecemos... já estava previamente na Bíblia, ainda que tivéssemos passado vinte séculos sem percebê-lo.... A dimensão ecológica que hoje estamos descobrindo não está na bíblia.

Mais: na bíblia estão fundamentadas atitudes que hoje parecem ecologicamente irresponsáveis, ou anti-ecológicas. A Bíblia foi escrita em uma época sem perspectiva ecológica e é por isso que na liturgia e no ano litúrgico está tão ausente a ecologia. É necessário “forçar” adequadamente a situação para introduzir o tema, pela urgência do mesmo.

Neste momento, aumentar a consciência da responsabilidade ecológica da humanidade, sobretudo em vista da urgência de evitar o “ponto de retorno” que se aproxima perigosamente segundo todos os cálculos, é um dos deveres máximos do cristão e de todo simples ser humano consciente. Se a humanidade não toma urgentemente uma nova atitude, entra em crise sua própria sobrevivência.

E ainda que mudemos amanhã mesmo, os estragos causados no planeta já são irreversíveis, e vamos pagar caro por eles durante muito tempo. É importante que a conversão de que nos fala a quaresma inclua a conversão ecológica, além da conversão para um compromisso maior com a questão da saude.

Oração
Ó Deus Pai, ao começar esta Quaresma nós suplicamos tua ajuda: que nos empenhemos em uma autentica conversão de nossos corações e de nossa vida pessoal e comunitária. De nossa parte, nós nos esforçamos para transformar nossa família, nossa sociedade e o mundo. Nós te pedimos em nome de Jesus, teu Filho e irmão nosso. Amém
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Jesus é tentado no deserto.

Uma vez eu ouvi um padre dizer em seu sermão dominical: O demônio é como um cão feroz amarrado. Ele só morde se você chegar perto dele. Ficamos longe do demônio quando nos aproximamos de Deus o qual nos dará toda força necessária para resistirmos toda investida de satanás. Todos nós somos tentados constantemente. Porém quando estamos na paz e na amizade de Cristo, as tentações não nos derrubam.
As tentações estão em nossa volta e são mais perigosas quando somos jovens. É a moça de saia curta, é a viúva ainda jovem que sorri para nós, é o rapaz que insiste em procurar os olhos da mulher do próximo, é o contador da firma ou do banco que tem de empacotar aquele monte de notas de dinheiro e guardar no cofre pensando em suas dívidas, e em tudo o que poderia comprar com tanto dinheiro...
Tudo isso são tentações que nos incita a pecar, morrendo para a vida de graça e nos tornando merecedores do inferno.
Os filmes que mostram assaltos ou roubos são sempre campeões de bilheterias. Caso você esteja tramando um golpe na sua empresa, pense que hoje em dia, com a tecnologia, com as câmaras, a internet, e todo o avanço da informática, o mundo fica cada dia menor, e ninguém pode dizer que consegue sumir. Pegar o dinheiro e sumir, isso não existe mais. Se você escapar do GPS, sua mãe está indefesa eles vão localizá-la.
Resista a tentação, não se arrisque, não vale apena. Pense no pior lugar da Terra, a cadeia, se não está preocupado com o inferno!
“Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está preparado, mais a carne é fraca.”
Jesus não está usando meias palavras, ou colocando panos quentes, Ele está se referindo ao pecado contra a castidade mesmo. Vigiar é tomar cuidado, se ligar, prestar atenção para não se envolver em nenhuma situação que nos leva mais cedo ou m, ais tarde ao pecado. A oração é o segundo conselho dado pelo Mestre para que possamos resistir às tentações. Satanás adora quem relaxa nas suas orações diárias. “...não nos deixeis cair em tentações, mas livrai-nos do mal. Amém.” A coisa é tão séria que Jesus acrescentou na oração que nos ensinou, quando os discípulos pediram que os ensinasse a rezar, um pedido ao Pai para nos dar forças contra o pior mal. As tentações.
Vamos fugir de toda situação de pecado. Por que se seu espírito até pode está preparado, se você não se descuida, porém, a carne é fraca. O nosso corpo que transporta nossa alma invisível, é semelhante a um frágil vazo de barro que abriga uma planta.
Reze. Fica de olho. Não dê moleza para o demônio!
Sal.
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