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HOMILIAS PARA O

PRÓXIMO DOMINGO


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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Maria foi acolhida, completamente, de corpo e alma, no céu, porque ela acolheu o céu nela.

padre Johan Konings, sj.

 

HOMILIAS PARA O

 PRÓXIMO DOMINGO

21 DE AGOSTO – 2011

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ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

 

Introdução

Maria, mulher judia, mãe de Jesus, terá um lugar na nossa fé?
No nosso imaginário?
Será ela uma rainha de quem se esperam favores?
Um refúgio maternal na dureza da vida?
Uma presença feminina numa instituição masculina?
Uma luz no caminho?


E se, esquecendo por momentos o que vinte séculos de cristianismo fizeram de Maria, pegássemos simplesmente no Evangelho?

Na sobriedade da linguagem evangélica esconde-se uma grande densidade de vida. Nos primeiros capítulos de Lucas, portadores de um sentido muito para além daquilo que contam, Maria não é ofuscada pela promessa mirífica do anjo Gabriel. Não é uma mulher crédula, pede uma explicação:

"Como é que vai ser isso?". Depois parte ao encontro da sua prima Isabel. Quando se tem um segredo muito grande, muito pesado, tem-se necessidade de se confiar num amigo, alguém de quem se está seguro de que compreenderá; daí o longo trajeto de Nazaré a Eln-Karem. O encontro entre as duas mulheres é extraordinário de interioridade. Pelo sopro do Espírito, são transparentes uma com a outra. E Maria, a silenciosa, entoa o Magnificat que anuncia que Deus derruba os poderosos dos seus tronos e despede os ricos de mãos vazias.

Mais tarde, a vemos inquieta. Circulam rumores de que Jesus está fora de si. Um dia, estando a ensinar, vêm dizer-lhe: "Tua mãe e teus irmãos estão lá fora a perguntar por ti". Maria sentia subir a oposição à volta de Jesus. Conhecia o destino reservada aos profetas. Temia pela vida do seu filho. Certamente também estava um pouco perturbada com o seu ensinamento nem sempre coincidente com o dos sumos-sacerdotes. Opor-se àqueles que são considerados os depositários da verdade exige muita lucidez e coragem.

No Evangelho de João, encontramo-la em Caná. "Já não têm vinho", diz ela ao seu filho, que lhe responde: "Ainda não chegou a minha hora". É um pouco como se Maria desse Jesus à luz para o ministério. Ela diz aos criados, simplesmente: "Fazei o que ele vos disser".

Junto à cruz, está de pé. Assume até ao fim. Jesus dirige-se à sua mãe pela última vez. Solenemente chama-lhe "mulher" e acrescenta "eis aí o teu filho", designando João de pé ao lado dela. A este diz-lhe "eis a tua mãe!". Palavra terna e cruel. O seu filho, aquele que ela trouxe no ventre, deu à luz, criou, amou, horrivelmente morto, confia-lhe um outro filho a quem, ao mesmo tempo, a confia. Como se um filho pudesse substituir outro! A maternidade não pode dobrar-se sobre si mesma, deve continuar a dar vida.

Nada nos é dito de Maria e da Ressurreição, isso aconteceu no segredo do seu coração.

Voltamos a encontrá-la no cenáculo, o quarto do sótão onde, depois da partida de Jesus, os discípulos se encontravam "unânimes, dizem-nos os Atos dos Apóstolos, assíduos à oração, com algumas mulheres, entre as quais Maria, a mãe de Jesus, e os seus irmãos". É a primeira imagem, simples e bela, da Igreja nascente: os amigos de Jesus, homens e mulheres, seus irmãos, sua mãe, todos juntos na expectativa do Espírito.

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Maria mãe de Deus

 

Hoje celebramos a maior de todas as solenidades da Mãe de Deus: a sua Assunção gloriosa ao céu.

A oração inicial da missa hodierna pediu: "Deus eterno e todo-poderoso, que elevastes à glória do céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria, Mãe do vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória". A liturgia da Igreja, sempre tão sábia e tão sóbria, resumiu aqui o essencial desta solenidade santíssima. Com efeito, Deus elevou à glória do céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria! Ela, uma simples criatura, ela, tão pequena, tão humilde, foi elevada a Deus, ao céu, à plenitude em todo o seu ser, corpo e alma! Como isso é possível? Não é a morte o destino comum e final de tudo quanto vive? Isso dizem os pagãos, isso dizem os descrentes, os sábios segundo o mundo, que se conformam com a morte... Mas, nós, nós sabemos que não é assim! Nosso destino é a vida, nosso ponto final é a glória no coração de Deus: glória no corpo, glória na alma, glória em tudo que somos! Foi isso que Deus nos preparou – bendito seja ele para sempre!

Mas, como isso é possível? A Palavra de Deus deste hoje no-lo afirma, de modo admirável. Escutai, irmãos, escutai, irmãs, consolai-vos todos vós: "Cristo ressuscitou dos mortos, primícia dos que morreram. Em Cristo todos reviverão, cada qual segundo uma ordem determinada; em primeiro lugar Cristo, como primícia!" Eis por que, eis como ressuscitaremos: Cristo ressuscitou! Jesus de Nazaré, caríssimos, é o Senhor! O nosso Jesus é Deus bendito e foi ressuscitado pela glória do Pai! O nosso Senhor Jesus venceu e nos faz participantes da sua vitória, dando-nos o seu Espírito Santo! Credes nisso, meus caros? Neste mundo que só crê no que vê, que só leva a sério o que toca, que só dá valor ao que cai no âmbito dos sentidos, credes que Cristo está vivo e é Senhor, primícia, princípio de todos os que morrem unidos a ele? Pois bem, escutai: o Cristo que ressuscitou, que venceu, concedeu plenamente a sua vitória à sua Mãe, à Santíssima Virgem Maria, que esteve sempre unida a ele. Ela, totalmente imaculada, nunca se afastou do filho: nem na longa espera do parto, nem na pobreza de Belém, nem na fuga para o Egito, nem no período de exílio, nem na angústia de procurá-lo no Templo, nem nos anos obscuros de Nazaré, nem nos tempos dolorosos da pregação do Reino, nem no desastre da cruz, nem na solidão do sepulcro no Sábado Santo... nem mesmo após, nos dias da Igreja, quando discretamente, ela permanecia em oração com os irmãos do Senhor... Sempre imaculada, sempre perfeitamente unida ao Senhor. Assim, após a sua preciosa morte, ela foi elevada à glória do céu, isto é, à glória de Cristo que ressuscitou e é primícia da nossa ressurreição!

A presente solenidade é, então, primeiramente, exaltação da glória do Cristo: nele está a vida e a ressurreição; nele, a esperança de libertação definitiva! Por isso, todo aquele que crê em Jesus e é batizado no seu Espírito Santo no sacramento do Batismo, morrerá com Cristo e com Cristo ressuscitará. Imediatamente após a morte, nossa alma será glorificada e estaremos para sempre com o Senhor. Quanto ao nosso corpo, será destruído e, no final dos tempos, quando Cristo nossa vida aparecer, será também ressuscitado em glória e unido à nossa alma. Será assim com todos nós. Mas, não foi assim com a Virgem Maria! Aquela que não teve pecado também não foi tocada pela corrupção da morte! Imediatamente após a sua passagem para Deus, ela foi ressuscitada, glorificada em corpo e alma, foi elevada ao céu! Podemos, portanto, exclamar como Isabel: "Bendita és tu entre as mulheres! Bendito é o fruto do teu ventre! Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu!"

Esta é, portanto, a festa de plenitude de Nossa Senhora, a sua chegada a glória, no seu destino pleno de criatura. Nela aparece claro a obra da salvação que Cristo realizou! Ela é aquela Mulher vestida do sol, que é Cristo, pisando a instabilidade deste mundo, representada pela lua inconstante, toda coroada de doze estrelas, número da Israel e da Igreja! A leitura do Apocalipse mostra-nos tudo isso; mas, termina afirmando: "Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus e o poder do seu Cristo!" Eis: a plenitude da Virgem é realização da obra de Cristo, da vitória de Cristo nela!

Quanto nos diz esta solenidade! A oração inicial, citada no início desta homilia, pedia a Deus: "Dai-nos viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória dai-nos viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória". Eis aqui qual deve ser o nosso modo de viver: atentos às coisas do alto, onde está Cristo, onde contemplamos a Virgem totalmente glorificada em Cristo. Caminhar neste mundo sem nos prendermos a ele. Aqui somos estrangeiros, aqui estamos de passagem, aqui somos peregrinos; lá é que permaneceremos para sempre: nossa pátria é o céu, onde está Cristo, nossa vida! O grande mal do mundo atual é entreter-se com seu consumismo, com sua tecnologia, com seu bem-estar, com seu divertimento excessivo e esquecer de viver atentos às coisas do alto. Mas, pior ainda, os cristãos também muitas vezes são infectados por essa doença! Nós, que deveríamos ser as testemunhas do mundo que há de vir, quantas vezes vivemos imersos, metidos somente nas ocupações deste mundo – muitos até com o pretexto de que estão trabalhando pelos irmãos e por uma sociedade melhor. Nada disso! Os pés devem estar na terra, mas o coração deve estar sempre voltado para o alto! Não esqueçamos: nosso destino é o céu, participando da glória de Cristo, da qual a Virgem Maria já participa plenamente! Aí, sim, poderemos cantar com ela e como ela: "A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador: o poderoso fez em mim maravilhas!" Seja ele bendito agora e para sempre.

dom Henrique Soares da Costa

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A Mãe gloriosa e a grandeza dos humildes

Em 1950, o papa Pio XII proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora ao céu. Um dogma é um marco referencial de nossa fé, por trás do qual ela não pode retroceder e sem o qual ela não é completa. Proclamamos que Maria, no fim de sua vida, foi acolhida por Deus no céu "com corpo e alma", ou seja, coroada, plena e definitivamente, com a glória que Deus preparou para os seus santos. Assim como ela foi a primeira a servir Cristo na fé, é a primeira a participar na plenitude de sua glória, a "perfeitissimamente redimida". Maria foi acolhida, completamente, de corpo e alma, no céu, porque ela acolheu o céu nela – inseparavelmente.

A presente festa é uma grande felicitação de Maria por parte dos fiéis, que nela vêem, a um só tempo, a glória da Igreja e a prefiguração da própria glorificação. A festa tem uma dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira a crer em Cristo e, por isso, também, é a mãe de todos os fiéis. Daí a facilidade com que se aplica a Maria o texto do Apocalipse, na primeira leitura, originariamente uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois se refugiou no deserto. Na segunda leitura, a assunção de Maria ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Observe-se, portanto, que a glória de Maria não a separa de nós, mas a torna unida a nós mais intimamente.

Merece consideração, sobretudo, o texto do evangelho, o Magnificat, que hoje ganha nova atualidade, por traduzir a pedagogia divina: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Esse pensamento pode ser o fio condutor da celebração. Na homilia, convém que se repita e se faça entrar no ouvido e no coração esse pensamento ou uma frase do Magnificat que o exprima.

1º leitura (Ap. 11,19a; 12,1.3-6a.10ab)

O sinal da Mulher, no Apocalipse, aplica-se em primeiro lugar ao povo de Deus do qual nasce o Messias: à Igreja do Novo Testamento, nascida dos que seguem o Messias. Aparece no céu a Mulher que gera o Messias; as doze estrelas indicam quem ela é: o povo das doze tribos, Israel – não só o Israel antigo, do qual nasce Jesus, mas também o novo Israel, a Igreja, que, no século I d.C., quando o livro foi escrito, precisava esconder-se da perseguição, até que, no fim glorioso, o Cristo se possa revelar em plenitude. Ao ouvir esse texto, a liturgia pensa em Maria. Maria assunta ao céu sintetiza em si, por assim dizer, todas as qualidades desse povo prenhe de Deus, aguardando a revelação de sua glória.

Salmo responsorial (Sl. 45/44,10bc.11-12ab.16)

O salmo responsorial é belo canto nupcial em honra da esposa régia. Em Maria se reconhece o povo-esposa, Sião, que se apresenta em toda a sua beleza para as núpcias messiânicas: Deus que será dele como ele é de Deus.

2º leitura (1Cor. 15,20-27a)

No quadro da glória celestial, a segunda leitura evoca a visão da vitória de Cristo sobre a morte (presente também na liturgia da festa de Cristo Rei no ano A). O sinal da vitória definitiva de Cristo é a ressurreição, seu triunfo sobre a morte. Essa vitória se realizou na sua própria morte e se realizará também na morte dos que o seguem. Maria já está associada a Jesus nessa vitória definitiva; nela, a humanidade redimida reconhece sua meta.

Evangelho (Lc. 1,39-56)

O evangelho de hoje é o Magnificat. O quadro narrativo é significativo: Maria vai ajudar sua parenta Isabel, grávida, no sexto mês. Ao dar as boas-vindas à prima, Isabel interpreta a admiração dos fiéis diante daquilo que Deus operou em Maria. Esta responde, revelando sua percepção do mistério do agir divino: um agir de pura graça, que não se baseia em poder humano; pelo contrário, envergonha esse poder, ao elevar e engrandecer o pequeno e humilhado, porém dedicado ao serviço de sua vontade amorosa. O amor de Deus se realiza por meio não da força, mas da humilde dedicação e doação. E nisso manifesta sua grandeza e glória.

O Magnificat, hoje, ganha nova atualidade, por traduzir a pedagogia divina: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Ele escolhe o lado de quem, aos olhos do mundo, é insignificante. Podemos ler no Magnificat a expressão da consciência de pessoas "humildes" no sentido bíblico: rebaixadas, humilhadas, oprimidas. A "humildade" não é vista como virtude aplaudida, mas como baixo estado social mesmo, como a "humilhação" de Maria, que nem tinha o status de casada, e de toda a comunidade de humildes, o "pequeno rebanho" tão característico do Evangelho de Lucas (cf. 12,32, texto peculiar de Lc.). Na maravilha acontecida a Maria, a comunidade dos humildes vê claramente que Deus não obra por meio dos poderosos. É a antecipação da realidade escatológica, na qual será grande quem confiou em Deus e se tornou seu servo (sua serva), não quem quis ser grande pelas próprias forças, pisando os outros. Assim, realiza-se tudo o que Deus deixou entrever desde o tempo dos patriarcas (as promessas).

A glorificação de Maria no céu é a realização dessa perspectiva final e definitiva. Em Maria são coroadas a fé e a disponibilidade de quem se torna servo da justiça e da bondade de Deus; impotente aos olhos do mundo, mas grande na obra que Deus realiza. É a Igreja dos pobres de Deus que hoje é coroada.

A celebração litúrgica deverá, portanto, suscitar nos fiéis dois sentimentos dificilmente conjugáveis: o triunfo e a humildade. O único meio para unir esses dois momentos é pôr tudo nas mãos de Deus, ou seja, esvaziar-se de toda glória pessoal, na fé em que Deus já começou a realizar a plenitude das promessas.

Em Maria vislumbramos a combinação ideal da glória e da humildade: ela deixou Deus ser grande na sua vida.

PISTAS PARA REFLEXÃO

A mãe gloriosa e a grandeza dos pobres

O Magnificat de Maria é o resumo da obra de Deus com ela e em torno dela. Humilde serva – faltava-lhe o status de mulher casada –, foi "exaltada" por Deus para ser mãe do Salvador e participar de sua glória, pois o amor verdadeiro une para sempre. Sua grandeza não vem do valor que a sociedade lhe confere, mas da maravilha que Deus nela opera. Aconteceu um diálogo de amor entre Deus e a moça de Nazaré: ao convite de Deus responde o "sim" de Maria, e à doação dela na maternidade e no seguimento de Jesus responde o grande "sim" de Deus, com a glorificação de sua serva. Em Maria, Deus tem espaço para operar maravilhas. Em compensação, os que estão cheios de si mesmos não o deixam agir e, por isso, são despedidos de mãos vazias, pelo menos no que diz respeito às coisas de Deus. O filho de Maria coloca na sombra os poderosos deste mundo, pois, enquanto estes oprimem, ele salva de verdade.

Essa maravilha só é possível porque Maria não está cheia de si mesma, como os que confiam no seu dinheiro e status, mas "cheia de graça". Ela é serva, está a serviço – também de sua prima, grávida como ela – e, por isso, sabe colaborar com as maravilhas de Deus. Sabe doar-se, entregar-se àquilo que é maior que sua própria pessoa. A grandeza do pobre é que ele se dispõe para ser servo de Deus, superando todas as servidões humanas. Ora, para que seu serviço seja grandeza, o fiel tem de saber decidir a quem serve: a Deus ou aos que se arrogam injustamente o poder sobre seus semelhantes. Consciente de sua opção, quem é pobre segundo o espírito de Deus realizará coisas que os ricos e os poderosos, presos na sua auto-suficiência, não realizam: a radical doação aos outros, a simplicidade, a generosidade sem cálculo, a solidariedade, a criação de um homem novo para um mundo novo, um mundo de Deus.

A vida de Maria, a "serva", assemelha-se à do "servo", Jesus, "exaltado" por Deus por causa de sua fidelidade até a morte (cf. Fl 2,6-11). De fato, o amor torna as pessoas semelhantes entre si. Também na glória. Em Maria realiza-se, desde o fim de sua vida na terra, o que Paulo descreve na segunda leitura: a entrada dos que pertencem a Cristo na vida gloriosa concedida pelo Pai, uma vez que o Filho venceu a morte.

Congratulando Maria, congratulamo-nos a nós mesmos, a Igreja. Pois, mãe de Cristo e mãe da fé, Maria é também mãe da Igreja. Na "mulher vestida de sol" (primeira leitura) confundem-se os traços de Maria e os da Igreja. Sua glorificação são as primícias da glória de seus filhos na fé.

No momento histórico em que vivemos, a contemplação da "serva gloriosa" pode trazer uma luz preciosa. Quem seria a "humilde serva" no século XXI, século da publicidade e do sensacionalismo? Sua história é: serviço humilde e glória escondida em Deus. Não se assemelha a isso a Igreja dos pobres? A exaltação de Maria é sinal de esperança para os pobres. Sua história também joga luz sobre o papel da mulher, especialmente da mulher pobre, "duplamente oprimida". Maria é "a mãe da libertação".

padre Johan Konings, sj.

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A assunção de Maria e nossa esperança na ressurreição

Neste terceiro domingo do mês de agosto, em que celebramos a Assunção de Nossa Senhora ao céu, celebramos também a vocação à vida religiosa. Pessoas chamadas por Deus para formar uma comunidade de fé, seguindo os princípios do evangelho e o carisma de um(a) fundador(a). As leituras de hoje iluminam o papel de Maria na história da salvação e o dogma de fé na assunção de Maria. Qual o significado da assunção para os cristãos católicos? Por que a Igreja transformou em dogma de fé a tradição popular e apócrifa sobre a assunção de Maria?

É nos evangelhos apócrifos que encontramos a tradição sobre a assunção de Maria. Três anos antes de morrer, ela recebeu de Jesus o anúncio de sua morte, no monte das Oliveiras. Em sua casa, em Jerusalém, ela dormiu – daí, a tradição da Dormição de Maria. Jesus veio ao seu encontro nesse momento. Ele pede aos apóstolos que preparem o corpo e o levem até um lugar indicado por ele, no vale de Josafá. Quando ali chegam, eles depositam o corpo de Maria e se sentam à porta do sepulcro. Jesus aparece rodeado de anjos, saúda-os com o desejo de paz, reafirma a escolha de Maria para que dela ele pudesse nascer e pede aos anjos que levem a sua alma para o céu. Jesus ressuscita o seu corpo. Quando o corpo chega ao céu, Jesus coloca a alma novamente no corpo glorioso e a coroa como rainha do céu (cf. a tradição apócrifa sobre Maria, agrupada com base em 15 evangelhos apócrifos, em nosso livro História de Maria, mãe e apóstola de seu Filho, nos evangelhos apócrifos - 2006b).

A Dormição de Maria nasce da fé em que Maria não morreu, mas dormiu. E, por ter sido levada ao céu, assunta, nasceu a terminologia Assunção, usada a partir do século VIII. Essa festa começou a ser celebrada liturgicamente na Igreja do Oriente, no século VI, isto é, entre os anos 600 e 700, propriamente no dia 15 de agosto, a mando do imperador Maurício. A Roma, a festa chegou no século VII.

O dogma da Assunção de Maria, diferentemente da maioria dos dogmas da Igreja Católica, foi proclamado recentemente, em 1950, pelo papa Pio XII, com a bula Munificentíssimo Deus. O texto diz o seguinte: "Definimos ser dogma divinamente revelado: que a imaculada mãe de Deus, sempre virgem Maria, cumprindo o curso de sua vida terrena, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".

Mesmo que não esteja dito expressamente no dogma, a Assunção de Maria é o mais apócrifo dos dogmas. Para a fé, acreditar que Maria foi assunta ao céu de corpo e alma significa crer, como afirma Afonso Murad, que "Maria não precisou esperar o fim dos tempos para receber um corpo glorificado. Depois de sua vida terrena, ela já está junto de Deus com o corpo transformado, cheio de graça e de luz. Deus antecipou nela o que vai dar a todas as pessoas de bem, no final dos tempos" (cf. citado por Faria, 2006b, p.181).

1ª leitura (Ap. 11,19a; 12,1.3-6a.10ab)

A mulher vestida com o sol.

Escrito por volta do ano 95 da nossa era, o livro do Apocalipse não tem nada a ver como "fim dos tempos", visto de modo trágico e terrível, mas, sim, com a "esperança" dita de forma figurada, velada. A perseguição romana era grande. Imagine que à época desse texto, Nero, o imperador romano, mandava queimar cristãos para iluminar as noites romanas. Os cristãos não tinham outro caminho que não fosse dizer e celebrar de forma velada e figurada a esperança que os animava na caminhada. A mulher que aparece vestida com o sol (Deus) representa a nova Eva, a Igreja e também Maria, que deu à luz Jesus, o novo Moisés e libertador do novo povo de cristãos, simbolizado pela coroa de 12 estrelas sobre a sua cabeça. O dragão é a "antiga serpente" que cresceu até tornar-se um imenso dragão, isto é, o império romano que oprimia os seguidores de Jesus. O dragão é também a famosa besta do Apocalipse (Ap. 13), cunhada com o número 666, que provém da soma das letras hebraicas de César e Nero, simbolizando, portanto, tais imperadores; a força do mal. O dragão quis devorar o filho da mulher, o que simboliza a opressão vivida pelos cristãos. A mulher foge para o deserto, lugar de refúgio e da presença de Deus. Uma mulher, Maria, na memória e na resistência dos cristãos, é sinal de libertação. O fraco se tornava forte. Era nisso que as comunidades precisavam acreditar. Jesus e Maria estavam presentes na vida deles, encorajando-os a vencer as forças do mal, o dragão.

Evangelho (Lc. 1,39-56)

Maria: símbolo da ação libertadora de Deus

Celebrando, hoje, a Assunção de Maria, nada melhor que recordar o famoso canto do Magnificat, atribuído a Maria, e entoado no momento em que ela se encontra com a prima Isabel, nas montanhas de Ein Karen, nome que significa "fonte da vinha", e que hoje é um bairro judeu de Jerusalém. Já não existem cristãos nessa região que um dia foi berço do cristianismo. Encravado nas montanhas, esse lugarejo preserva a memória de João Batista, o precursor do Messias. Perto da casa de João Batista, no alto de uma montanha, está a memória do encontro de Isabel com Maria, que viera de Nazaré para visitar a prima. Os evangelhos narram que Isabel aclamou Maria como bem-aventurada por ser ela a escolhida para ser a mãe do Messias. Nesse contexto, Maria entoa o cântico do Magnificat, obra literária de rara beleza teológica (Faria, 2010c, p. 74-75).

Duas mulheres se encontram. Uma (Isabel) louva a grandeza da outra (Maria) – que se vê pequena diante do grande mistério que toma conta de sua vida. O cântico pode ser dividido em duas partes: a) Maria, que se vê como a serva bem-aventurada; b) dois grupos, os orgulhosos e ricos e os que temem a Deus. Os fatos se desenrolam em duas ações: a) como o povo de Deus, Maria é sua serva; b) Deus, o poderoso, derruba os poderosos e ricos de seus tronos. Maria torna-se o símbolo da ação libertadora de Deus no Egito. Séculos mais tarde, depois da morte e ressurreição de Jesus, a comunidade reivindicou da Igreja o reconhecimento do papel de Maria como Nossa Senhora e Rainha poderosa. Dessa intuição nasceram literaturas apócrifas, segundo as quais, à sua chegada ao céu, foi coroada rainha por Jesus. A tradição popular perpetuou essa devoção com as celebrações marianas no mês de maio.

2ª leitura (1Cor. 15,20-27a)

Deus venceu a morte

Paulo, escrevendo aos coríntios, faz uma bela teologia da vitória da vida sobre a morte. Membros da comunidade de Corinto não acreditavam na ressurreição dos mortos (15,12). Ainda hoje muitos se perguntam: como o nosso corpo há de ressuscitar? Isso é possível? Paulo fala de um corpo espiritual, tal como o Cristo ressuscitado.

Mais do que aprofundar, neste momento homilético, o grande significado da ressurreição para o cristão, vale ligar a leitura à festa da assunção de Maria. Como dissemos anteriormente, o grande mérito da tradição popular em relação à Assunção de Maria, transformada em dogma pela Igreja, foi demonstrar pela fé que Maria foi a primeira dos mortais que encontrou a ressurreição do corpo, levado para o céu pelo seu próprio Filho e nosso salvador, Jesus Cristo.

Pistas para reflexão

1. Iluminar a vocação à vida religiosa com o exemplo de Maria, a mulher que proclamou a libertação dos oprimidos.

2. Demonstrar à comunidade que Maria – por ter vivido a experiência amorosa de ser a mãe de Jesus, Deus que se fez carne no meio de nós – foi agraciada por Jesus como a primeira pessoa, depois dele, a receber a glória da ressurreição. Nisso tudo está o amor maternal e filial de Deus Pai e Mãe de todos nós. Em Maria e com Maria, vivemos a esperança de também nós chegarmos lá. Ela foi, mas não partiu, pois continua próxima de nós. Ela é a nossa origem, é nossa mãe na fé, para a qual queremos voltar sempre. Ela é desejo! Ela é mãe! Caminhar com ela, na fé, é acreditar que também seremos assuntos ao céu. Antes, porém, devemos transformar nossa realidade de sofrimento, angústia, dores, exploração social etc. em situações de vida, de glória. A assunção já começa aqui. Maria vive. Ela não morreu.

frei Jacir de Freitas Faria, ofm

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Assunção de Maria

A Assunção de Maria, a festa de Maria entrando na glória, no final de sua vida terrestre, corresponde à Imaculada Conceição no início de sua vida. De um lado Maria foi preservada da morte espiritual do pecado, e de outro da corrupção do túmulo. Em 1950, o papa Pio XII definiu solenemente que a Imaculada Mãe de Deus, Maria sempre virgem, terminada sua carreira terrestre, foi elevada em alma e corpo à glória do céu. Deus não quis que conhecesse corrupção, aquela que havia gerado do Senhor da vida. Cremos na Assunção de Maria a partir da fé tradicional da igreja que interpretou os dados do Novo Testamento.

Assim canta o prefácio da solenidade de hoje: "Hoje, a Virgem Maria, mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou, de modo inefável, vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida". Preces e orações a Maria exprimem bem a verdade de sua assunção:

• Salve, Filha dos homens, nossa irmã em humanidade. Salve, Mãe de Jesus Cristo que deste a luz a Deus feito homem. O Senhor te cumulou de ternura. Salve, ó mulher aureolada de estrelas. Tens como manto o sol e a lua aos teus pés. Venceste as potências do mal. Geraste Cristo, vencedor da morte e foste elevada à glória junto de teu Filho ressuscitado. Roga por nós, Mãe dos homens, leva-nos para o caminho da vida para que possamos caminhar com alegria rumo à nossa ressurreição (Philippe Warnier, in Prier, n 193, p. 15).

João, o Geômetra, nos oferece um belo texto a respeito daquela que partindo para o céu não abandona a terra:

• Nós te damos graças, Senhor, que provês a todo o criado, por todos os teus mistérios e sobretudo porque escolheste Maria, como ministra de teus mistérios. Nós te damos graças por tua inefável sabedoria, pela tua força e o teu amor pelos homens, porque não somente quiseste unir a ti a nossa natureza e em ti glorificá-la e divinizá-la, mas sobretudo porque não consideraste indigno tomar como mãe uma das nossas e fazê-la rainha do céu e da terra. Nós te damos graças, Pai de todos, porque quiseste que a tua mãe se tornasse também nossa mãe (...) Acolhe nossa oração de agradecimento! Por nós muito sofreste e dispuseste que também tua mãe sofresse por ti e por nós, para que a honra de participar na tua paixão fosse preparação para comunhão em tua glória, e também porque recordando os sofrimentos experimentados por nós, se dedicasse ainda com maior solicitude em prol da nossa salvação e perseverasse no seu amor para conosco não somente em razão da nossa natureza mas também em recordação de tudo o que sofreste por nos...

A ti também, Senhora, manifestamos nosso reconhecimento pelos sofrimentos e tribulações que experimentaste por nós. Para ti não cantamos hinos fúnebres, mas cânticos nupciais. Não lamentamos tua partida, mas cantamos de alegria porque penetraste no céu.

Subiste ao céu, mas não abandonaste a terra: livre das penúrias desta terra e alçada à felicidade inefável e infinita não esqueceste a miséria de nossa condição. Da glória mais ainda te lembras de nós e te mostras solícita para com nossas tribulações.

Não nos deixaste duplamente órfãos, mas decretaste o fim de nossa orfandade e, junto a ti, tornaste teu Filho a nos propicio, bem como ao Pai que é nosso e com ele nos reconciliaste.

Agora estás constituída rainha ao lado do Rei, circundada de outras esplendias rainhas (cf. Sl. 45,10.15), isto é, das almas virgens e reais, com veste tecida de ouro pelo Espírito, envolta do manto real de tua dignidade, de tuas muitas virtudes e de teus carismas.

Recebeste das mãos de teu filho e Deus o diadema da graça, o cetro do Reino, o cinto e a púrpura, ou seja um poder universal e uma luz que mana da tua pessoa e da tua divinização.

 

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Maria, senhora da glória

Com alegria e toda devoção nos aproximamos hoje da Mãe de Jesus. Maria, a jovem de Nazaré, chamada pelo Alto a ser a Mãe do Senhor depois de percorrer os tempos da história foi assunta na glória dos céus. Esta a solenidade bela da Senhora da Gloria. A Constituição Apostólica Munificentissimus Deus de Pio XII assim se exprime: "Por conseguinte, desde toda a eternidade unida misteriosamente a Jesus Cristo, pelo mesmo desígnio de predestinação, a augusta Mãe de Deus, imaculada na concepção virgem inteiramente intacta na divina maternidade, generosa companheira no divino Redentor, que obteve pleno triunfo sobre o pecado e suas conseqüências, ela alcançou ser guardada imune das corrupções do sepulcro, como suprema coroa de seus privilégios. Semelhante a seu Filho, uma vez vencida a morte, foi levada em corpo e alma à glória celeste, onde rainha, refulgente à direita do seu Filho, o imortal rei dos séculos".

Uma mulher privilegiada. Maria, uma judia piedosa que buscava a Deus e percorria os caminhos da Palestina. Uma mulher que vivia a espiritualidade dos pobres de Javé, que caminhava à luz do jeito de viver de Abraão buscando a terra da prometida, de caminho em caminho, de etapa em etapa. Uma peregrina e aquela que convivia com a espiritualidade dos salmos. Uma buscadora de Deus que foi olhada de modo especial pelo Altíssimo.O anjo do Senhor se aproxima dela e pede que ele aceite acolher em seu seio Aquele que os céus não podem conter. Toda transparência, feita com o tecido da harmonia desde sua conceição, cheia de graça por privilegio do Alto, ela aceita ser a Mãe transparente do Transparente.

Deus luminoso passa a ser o hóspede de seu Seio. A Imaculada é templo daquele que vem para dominar as forças do pecado e do mal.

Ela acolhe a chegada do filho na simplicidade das coisas simples. Contempla, olha. Vê os pastores que chegam, coloca-se perto do silencioso José, vê depois o Menino crescer em idade e sabedoria diante de Deus e dos homens. Mulher escondida durante os anos de vida escondida de Jesus. Guardava as coisas no fundo do coração. Fez-se discretamente presente na vida publica do Filho, sempre discretamente.

Vamos encontrá-la ao pé da cruz na hora das horas de seu Filho. Ali, a imaculada, permanece feito um soldado na fidelidade. Os escritores sacros dizem que ela ali se ofereceu com o Filho. Ali ela deve ter compreendido as palavras de Simeão que havia dito que uma espada de dor haveria de atravessar seu coração. Ale ela, muito unida ao Filho, sempre unida ao Filho, se associava à entrega do Gólgota. Maria Imaculada, Maria do Calvário.

Ora, essa mulher transparente e toda harmonia, a predestinada, a mulher do sim irrestrito, segundo o ensinamento da Igreja, não conheceu a corrupção da morte, mas vive hoje na pátria da gloria com seu corpo glorificado.

frei Almir Ribeiro Guimaeães

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Assunção da Virgem Maria

A presente festa é uma grande felicitação de Maria da parte dos fiéis, que nela vêem, ao mesmo tempo, a glória da Igreja e a prefiguração de sua própria glorificação. A festa tem uma dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira e a Mãe dos fiéis. Daí a facilidade com que se aplica a Maria o texto de Ap 12 (1ª leitura), originariamente uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto (a Igreja perseguida do 1° século) até a vitória final do Cristo. Na 2ª leitura, a Assunção de Maria ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Observe-se, portanto, que a glória de Maria não a separa de nós, mas a une mais intimamente a nós.

Merece consideração, sobretudo, o texto do evangelho, o Magnificat, que hoje ganha nova atualidade, por traduzir a pedagogia de Deus: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Deus escolhe o lado de quem, aos olhos do inundo, é insignificante. Podemos ler no Magnificat a expressão da consciência de pessoas "humildes" no sentido bíblico, isto é, rebaixadas, humilhadas, oprimidas (a "humildade" não como aplaudida virtude, mas como baixo estado social): Maria, que nem tinha o status de casada, e toda uma comunidade de humildes, o "pequeno rebanho" tão característico do evangelho de Lc. (cf. 12,32, peculiar de Lc). Na maravilha acontecida a Maria, a comunidade dos humildes vê claramente que Deus não obra através dos poderosos: antecipação da realidade escatológica, em que será grande quem confiou em Deus e se tomou seu servo (sua serva), e não quem quis ser grande por suas próprias forças, pisando em cima dos outros. Assim, realiza-se tudo o que Deus deixou entrever desde o tempo dos patriarcas (as promessas).

Pois bem, a glorificação de Maria no céu é a realização desta visão escatológica. Nela, é coroada a fé e a disponibilidade de quem se toma servo da justiça e bondade de Deus, impotente aos olhos do mundo, mas grande na obra que Deus realiza. É a Igreja dos pobres de Deus, que hoje é coroada.

A "arte" litúrgica deverá, portanto, suscitar nos fiéis dois sentimentos dificilmente conjugáveis: o triunfo e a humildade. O único meio para unir estes dois momentos é colocar tudo nas mãos de Deus, ou seja, esvaziar-se de toda glória pessoal, na fé de que Deus já começou a realizar a plenitude das promessas.

Em Maria vislumbramos a combinação ideal de glória e humildade: ela deixou Deus ser grande na sua vida. É o jeito...

Johan Konings "Liturgia dominical"

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Em Maria, deus nos revela a imagem da humanidade redimida

1. Imagem da humanidade redimida

A festa da Assunção de Maria antecipa-nos a visão da plena redenção de toda humanidade em Jesus, o Filho de Deus. Maria, nova Eva, em sua resposta de amor a Deus, gera o novo Adão, Cristo, nascido da graça e da fidelidade. Sua 'vida é plenamente assumida por Deus. Ela, elevada à glória do céu, simboliza toda a humanidade que, por mérito e ação de Jesus Cristo, será redimida e participará da vida divina.

2. Deus se Identifica com os humildes e pobres 

Em tempos fortes de perseguição, o poder do mal parece sufocar as esperanças daqueles que lutam pela justiça e confessam a fé num Deus, fonte de vida.

A linguagem do Apocalipse traduz o horror presente no auge da perseguição romana às primitivas comunidades cristãs. Todavia, ao confrontar a força do dragão com a fragilidade da mulher em trabalho de parto, o autor apresenta a fraqueza do opressor. Além de não conseguir a total destruição da terra (somente dois terços das estrelas), o império treme ante a visão de um frágil recém-nascido.

Esse relato do Apocalipse, confrontado com o evangelho da visitação, revela que o desígnio salvífico de Deus encontra em Maria uma porta aberta para se fazer história.

Isabel, por sua condição, incorpora de forma simbólica a situação de todos os pobres e humildes de seu tempo. Eles, sem alento e esperança nos poderes humanos, têm em Deus sua única segurança. A exultação de Isabel exprime a esperança e o desejo de libertação que a fé imprime no coração dos humildes. Aquilo que aos olhos dos poderosos passa despercebido é revelado aos pequenos e acalenta seu sonho de vida.

Em sua fragilidade, o povo sente em Jesus o Deus presente em sua vida, que é solidário com seu sofrimento e dor e com ele caminha para o Reino da Vida e da Liberdade.

3. Nascidos na Graça

A Festa da Assunção, celebrada hoje, resulta da grande confiança que a Igreja deposita em Maria, a mãe de Jesus. Em Maria, a Igreja reconhece que Deus, ao preparar um lar para acolher o seu Filho, inaugura uma humanidade nova.

De um lado, assumindo a vida de Maria, Deus revela que sua graça pode superar todos os limites da condição humana e nos conceder a vida em plenitude. Por outro, plenamente assumida por Deus, ao dar seu sim fecundo a Deus, Maria ajuda-nos a compreender que a salvação é prerrogativa única de Deus que, todavia, quis precisar da colaboração humana.

O sim de Maria se contrasta com o não de Eva. Por isso, Deus, em Maria, recria a humanidade, nascida agora para a graça e a vida e não para o pecado e a morte.

 

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A alegria tornada vida cotidiana

A solenidade da Assunção nos presenteia no evangelho com o texto do Magnificat. Trata-se do canto de Maria, ainda grávida de Jesus, que agradece a Deus pela graça recebida. É curioso, e convém sublinhá-lo, o fato de a Igreja nos oferecer um texto evangélico de uma Maria jovem para nos explicar o que aconteceu depois de sua morte. Diz o dogma que Maria subiu ao céu de corpo e alma. Que foi a primeira dentre todos nós. Sua Assunção é sinal e promessa da nossa. Mas a Assunção não foi apenas um fato que aconteceu em um momento determinado. Maria subiu ao céu porque viveu com o olhar posto em Deus. O Magnificat - o canto de Maria, jovem ainda, grávida de seu filho, que se encontra com sua prima Isabel, igualmente grávida - não é apenas uma bela poesia. Trata-se de claro testemunho do estilo de vida de Maria.

Aquela jovenzinha de uma aldeia da Galiléia tinha a alegria impregnada no corpo. Era uma alegria fruto da fé e da confiança no Deus de seu povo. Para além das aparências, ela sabia ficar acima do cotidiano e olhar para a história com perspectiva. Por isso, Maria sabe que "sua misericórdia (a de Deus) chega a seus fiéis de geração em geração" e que "auxilia a Israel, seu servo, lembrando-se da misericórdia". Isso não significa dizer que Maria não tenha passado por momentos cinzentos em sua vida cotidiana. Não deveria dar para muitas alegrias a vida naquelas aldeias das montanhas da Galiléia. Lavar, cozinhar, limpar, ajudar nas tarefas do campo, todos os trabalhos de uma mulher agravados pela pobreza em que vivia aquela gente. Naquela situação, a maioria das pessoas permanecia ao rés do chão. Não eram capazes de ver nada além do imediato, do que a vida tem de cinzento, dor, negatividade e morte. Maria - e isto é o importante - passou exatamente pelo mesmo, mas olhava para outros horizontes. Olhava para o céu e enxergava o rosto bondoso do Deus que havia sido sempre misericordioso com seu povo e que lhe havia prometido a salvação. Por sua fé, Maria transformou sua vida de cinzenta em algo luminosa.

Sua luz continua iluminando a todos nesta festa. Nossa vida, também, costuma ficar cinza quando permitimos que nosso olhar fique no rés do chão. A festa de hoje nos recorda que precisamos levantar nosso olhar e colocar nossos horizontes um pouco mais adiante. Devemos olhar nossa vida e a de nossos irmãos com os olhos de Deus, com a perspectiva de Deus. Nós nos surpreenderemos ao descobrir a cor diferente que terá a vida. E aprenderemos a rezar o Magnificat com o prazer e a fé de Maria.

Por que não experimento rezar diariamente o Magnificat? Basta fazer um instante de silêncio e permitir que as palavras de Maria se tornem minhas palavras. Que, por meio delas, fale, igualmente, o meu coração dando graças a Deus por tudo que me concedeu, porque viu a minha humilhação e me fez seu filho. Talvez isso nos ajude a levantar o nosso olhar até o horizonte de Deus.

Victor Hugo Oliveira

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Maria nossa mãe

A liturgia de hoje é dedicada à Maria, humilde serva, escolhida por Deus para ser a mãe do seu Filho. Ao declarar-se serva do Senhor, Maria concebe Jesus. Mulher corajosa, que aceita sem medo a importante missão, e logo após se coloca a caminho da casa de sua prima Isabel para servi-la, demonstrando desde então que Jesus não viria para ser servido, mas para servir.

A cena mostra o encontro de duas mães agraciadas com o dom da fecundidade e da vida (Isabel era estéril e Maria não teve relação com nenhum homem). Maria se torna assim, pioneira insuperável de evangelização, pois leva Jesus-Messias às pessoas. Maria é discípula fiel (em relação a Deus) e solidária (em relação ao próximo).

No ventre destas duas mães estão, Jesus e João Batista no primeiro encontro entre eles. João começa ali a sua missão de anunciar a vinda do Messias: "Logo que ouvi você me cumprimentar, a criança ficou alegre e se mexeu dentro de mim", e Isabel inspirada pelo Espírito Santo saúda Maria, reconhecendo-a como a mais abençoada das mulheres, a mãe do Messias.

Ao ser saudada por Isabel, Maria entoa um cântico a Deus, o "Magnificat, ou canto de Maria", que está entre o Antigo e o Novo Testamento, saindo do tempo de espera para o de realizações. Neste louvor Maria revela a alegria de ser considerada digna de dar a luz ao Salvador, e com humildade de serva abençoada por Deus, louva o santo Nome do Senhor que veio libertar seu povo da opressão e do pecado defendendo os pobres e marginalizados das injustiças.

Através do louvor de Maria, se vê claramente que, diante de Deus, grande é aquele que se torna seu servo e não o que quer se tornar grande explorando e humilhando os outros. Maria era uma mulher simples, e esse louvor cheio de graça e beleza, só é possível porque ela não está cheia de si, mas está a serviço do Pai, cheia do amor de Deus, repleta do Espírito Santo.

O canto de Maria nos estimula a lutar pelo mundo novo já iniciado com a ressurreição de Jesus. Esse mundo novo vai se tornando realidade concreta quando somos cidadãos conscientes e responsáveis.

A assunção de Nossa Senhora celebrada no dia 15 de agosto não está relatada na Bíblia, porém foi assistida por vários discípulo, entre eles são Dionísio que narrou os fatos transmitidos oralmente e por escrito durante séculos, e foi definida como dogma (verdade absoluta sobre a qual não se pode ter nenhuma dúvida) pelo papa Pio XII na Constituição Apostólica de 1950, o que significa que Maria foi acolhida ao céu em sua plenitude, de corpo e alma.

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A glorificação de Maria

A festa da assunção de Nossa Senhora leva-nos a repensar todo o seu peregrinar neste nosso mundo, pois se trata de celebrar o desfecho de sua caminhada. O fim da existência terrena de Maria consistiu na plenificação de todos os seus anseios de mulher de fé e disponível para servir. A expressão "repleta de graça", dita pelo anjo, encontrou sua expressão consumada na exaltação dela junto de Deus. A estreita conexão entre a existência terrena de Maria e a sua sorte eterna foi percebida desde cedo pela comunidade cristã, apesar de a Bíblia não contar os detalhes de sua vida e de sua morte. A comunidade deu-se conta de que Deus assumiu e transformou toda a sua história, suas ações e seu corpo. O relato evangélico é um pequeno retrato de Maria. Sua condição de mãe do Messias, o "Senhor" esperado pelo povo, proveio da profunda comunhão com Deus e da disponibilidade total em fazer-se sua servidora. Expressou sua fé no canto de louvor – o Magnificat –, no qual proclamou as maravilhas do Deus e as grandezas de seus feitos em favor dos fracos e pequeninos. A comunhão com Deus desdobrava-se, na vida de Maria, na sua disponibilidade a servir o próximo. A ajuda prestada à prima Isabel é uma pequena amostra do que era a Mãe de Deus no seu dia-a-dia. Assunta ao céu, Maria experimentou, em plenitude, a comunhão vivida na Terra.

padre Jaldemir Vitório

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Depois da ascensão de Jesus, Nossa Senhora foi morar com o apóstolo são João em Éfeso, na atual Turquia. Voltou mais tarde para Jerusalém, onde viveu seus últimos dias na casa de João, no monte Sião.

Lá ela adormeceu no Senhor, sendo sepultada no vale do Cedron, diante da porta dos Leões, em Jerusalém. Seu túmulo se encontra vazio, e nele nenhum corpo se corrompeu, pois nossa fé nos ensina que Maria, a Mãe de Jesus, foi levada viva, em corpo e alma, para o céu, onde está junto da Santíssima Trindade. E nem podia ser de outro jeito, porque a corrupção da morte é consequência do pecado original, e Maria é a Imaculada Conceição, cheia de graça, concebida sem pecado.

Já nas portas do paraíso foi dito que entre ela, a mulher, e a serpente, o demônio, haveria uma inimizade. Maria nunca deu a mão ao demônio, que introduz o pecado e leva à morte. Aquele que escolheu e preparou para seu Filho uma mãe digna dele, preservou-a do pecado e também, da corrupção da morte, levando-a em corpo e alma para o céu.

Por isso, quando o salmista escreve que "à vossa direita se encontra a rainha com veste esplendente de ouro de ofir", pensamos em Maria, a Mãe de Jesus, glorificada no céu. É ela a mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que o vidente do Apocalipse vê como um grande sinal no céu. Esta mulher dará à luz um filho homem, que vem para governar todas as nações com cetro de ferro e que será levado para junto de Deus e de seu trono.

Antes de dar à luz, ela deve se defrontar com um dragão que quer devorar o recém-nascido. O dragão é o demônio e todas as potências do mal que querem que o Filho da mulher desapareça e não tenha nenhuma presença no mundo dominado por ele e seus assessores, que o Apocalipse chama de "bestas".

A mulher, que é Maria e ao mesmo tempo todos os seus filhos congregados na Igreja, procura refúgio no deserto, mas lá há outra mulher, que o vidente também vê. Ela está no deserto, vestida de púrpura e de escarlate, adornada com ouro, pedras preciosas e pérolas. E tem na mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundície da sua prostituição, e está sentada sobre uma besta.

Mesmo no deserto, os filhos de Maria, seguidores de Jesus, continuam no seio da grande cidade que domina os reis da terra. A segunda mulher representa essa cidade, onde se concentra o poder demoníaco.

Maria não teve nenhuma amizade com o demônio, e seu Filho veio para lutar contra o poder demoníaco que se abate sobre o ser humano e lhe tira a dignidade. O conflito está aberto e se estabelece uma luta de destruição até que a morte seja vencida. Em Cristo morto e ressuscitado, ela é vencida e, pela vontade de Deus, também em Maria, assim como em todos os que fazem a vontade do Pai.

Ser devoto de Maria é algo natural para quem aceita seu Filho Jesus como único salvador. E ser devoto de Maria significa também se posicionar diante do dragão e das bestas que o assessoram, e entrar na luta. Os congregados marianos cantavam: "Tu nos proteges, ó Mãe potente, contra a inimiga cruel serpente. De mil soldados não teme a espada quem pugna à sombra da Imaculada!".

cônego Celso Pedro da Silva

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Jesus em relação a João Batista

Lucas, no início de seu evangelho, aproxima e inter-relaciona João Batista e Jesus. Isto é feito com as narrativas dos anúncios a Zacarias e a Maria, respectivamente, dos anúncios das concepções de João Batista e Jesus, seguindo-se com a narrativa dos dois nascimentos em paralelo, e com esta narrativa da visitação de Maria a Isabel. Com estas narrativas procura-se afirmar uma supremacia de Jesus em relação a João Batista desde os seus nascimentos. Maria, ao receber o anúncio de que conceberia a Jesus, teve como sinal dado pelo anjo Gabriel a própria concepção que acontecia com sua prima Isabel, já no sexto mês. Ela parte então para visitar e servir Isabel já nos últimos meses de sua gravidez. Lucas apresenta Maria, levando seu filho no ventre, seguindo o percurso da gentílica e periférica Galiléia à Judéia, na casa de Zacarias, sacerdote do Templo de Jerusalém, em um encontro do desabrochar da vida. Mais tarde Jesus fará este percurso, em direção a Jerusalém, para o momento da consumação final de seu ministério e de sua vida. Da mesma forma como o anjo entrou em casa de Maria e a saudou, comunicando-lhe o Espírito Santo, Maria, agora, entra e saúda Isabel. Esta, ouvindo a saudação de Maria, fica cheia do Espírito Santo. Isabel passa então a profetizar. Confirma que Maria é mãe do seu Senhor, cuja presença comunica a alegria ao menino no seu próprio ventre. E Maria, em sua maternidade, é bem-aventurada por ter acreditado em tudo o que foi dito da parte do Senhor e que será realizado. Maria, então, pronuncia seu cântico de louvor a Deus pelo cumprimento de sua vontade nela. O cântico de Maria e sua bem-aventurança são a expressão da bem-aventurança dos pobres e do canto de liberdade de todos os oprimidos, explorados e excluídos, de todos os tempos. Maria apresenta como já concretizado, a partir de sua gestação, o projeto vivificante de Deus. Pela vida e presença de Jesus os pobres humildes são restaurados em sua dignidade, enquanto que os favorecidos pela sociedade são destituídos de seus privilégios. Está em ato a intervenção de Deus na história, trazendo a esperança de um mundo novo onde vigore a justiça e o amor. Sob uma perspectiva escatológica, em uma apoteose de poder e glória, o livro do Apocalipse (primeira leitura) e a Primeira Carta aos Coríntios (segunda leitura) apresentam a vitória final de Deus sobre toda ameaça à sua Igreja.

José Raimundo Oliva

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A festa da mãe puríssima

Esta é a maior das festas da Santíssima Virgem Maria; é a sua Assunção; a festa da sua entrada na glória, da sua plenitude como criatura, como mulher, como mãe, como discípula de Cristo Jesus. Como um rio, que após longa corrida deságua no mar, hoje, a Virgem Toda Santa deságua na glória de Deus: transfigurada no Espírito Santo, derramado pelo Cristo, ela está na glória do Pai!

Para compreendermos o profundo sentido do que celebramos, tomemos as palavras de são Paulo: "Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada". – Eis a nossa fé, o centro da nossa esperança: Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que adormeceram. Ele é o primeiro a ressuscitar, ele é a causa e o modelo da nossa ressurreição. Os que nele nascem pelo batismo, os que nele crêem e nele vivem, ressuscitarão com ele e como ele: logo após a morte ressuscitarão naquela dimensão imaterial que temos, núcleo da nossa personalidade, a que chamamos "alma"; e, no final dos tempos, quando todo o universo for glorificado, ressuscitaremos também no nosso corpo. Assim, em todo o nosso ser, corpo e alma, estaremos, um dia, revestidos da glória de Cristo, nosso Salvador, estaremos plenamente conformados a ele!

Ora, a Igreja crê, desde os tempos antigos, que a Virgem Maria já entrou plenamente nessa glória. Aquilo que todos nós só teremos em plenitude no final dos tempos, a Santíssima Mãe de Deus, já recebeu logo após a sua morte. Ela é a "Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas". Ela já está totalmente revestida da glória do Cristo, Sol de justiça – e esta glória é o próprio Espírito Santo que o Cristo Senhor nos dá. Ela já pisa a lua, símbolo das mudanças e inconstâncias deste mundo que passa. Ela já está coroada com doze estrelas, porque é a Filha de Sião, filha perfeita do antigo Israel e Mãe do novo Israel, que é a Igreja. Assim, a Virgem, logo após a sua morte – doce como uma dormição -, foi elevado ao céu, à glória do seu Filho em todo o seu ser, corpo e alma. Aquela que esteve perfeitamente unida ao Filho na cruz (cf. Lc. 2,34s; Jo 19,25ss.), agora está perfeitamente unida a ele na glória. São Paulo não dissera, falando do Cristo morto e ressuscitado? "Fiel é esta palavra: Se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos" (2Tm. 2,12). Eis! A Virgem que perfeitamente esteve unida ao seu Filho no caminho da cruz, perfeitamente foi unida a ele na glória da ressurreição. Aquela que sempre foi "plenamente agraciada" (Lc. 1,28), de modo a não ter a mancha do pecado, não permaneceu na morte, salário do pecado. Assim, o que nós esperamos em plenitude para o fim dos tempos, a Virgem já experimenta agora e plenitude. Como é grande a salvação que o Cristo nos obteve! Como é grande a sua força salvífica ao realizar coisas tão grandes na sua Mãe!

Mas, a Festa de hoje não é somente da Virgem Maria. Primeiramente, ela glorifica o Cristo, Autor da nossa salvação, pois em Maria aparece a vitória sobre a morte, que Jesus nos conquistou. A liturgia hoje exclama: "Preservastes, ó Deus, da corrupção da morte aquela que gerou de modo inefável vosso próprio Filho feito homem, Autor de toda a vida". Este senhorio de Cristo aparece hoje radiante na sua Mãe toda santa: em Maria, Cristo venceu a morte de Maria! Em segundo lugar, a festa de hoje é também festa da Igreja, de quem Maria é Mãe e figura. A liturgia canta: "Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho". Sim! A Mãe Igreja contempla a Mãe Maria e fica cheia de esperança, pois um dia, estará totalmente glorificada como ela, a Mãe de Jesus, já se encontra agora. Finalmente, a festa é de cada um de nós, pois já vemos em Nossa Senhora aquilo que, pela graça de Cristo, o Pai preparou para todos nós: que sejamos totalmente glorificados na glória luminosa do Espírito do Filho morto e ressuscitado. Aquilo que a Virgem já possui plenamente, nós possuiremos também: logo após a morte, na nossa alma; no fim dos tempos, também no nosso corpo!

Estejamos atentos! A festa hodierna recorda o nosso destino, a nossa dignidade e a dignidade do nosso corpo. O mundo atual, por um lado exalta o corpo nas academias, no culto da forma física, da moda e da beleza exterior; por outro lado, entrega o corpo à sensualidade, à imoralidade, à droga, ao álcool... É comum escutarmos que o que importa é o "espírito", que a matéria, o corpo passa... Os cristãos não aceitam isso! Nosso corpo é templo do Espírito Santo, nosso corpo ressuscitará, nosso corpo é dimensão indispensável do nosso eu. Um documento recente da Igreja sobre a relação homem-mulher, chamava-se atenção exatamente para essa questão: o corpo em si, para o mundo, parece que não significa muita coisa, que não tem uma linguagem própria, que não diz algo do que eu sou, da minha identidade – inclusive sexual. Para nós, cristãos, o corpo integra profundamente a personalidade de cada um: meu corpo será meu por toda eternidade; meu corpo é parte de minha identidade por todo o sempre! Honremos, então nosso corpo: "O corpo não é para a fornicação e, sim, para o Senhor e o Senhor é para o corpo. Ora, Deus, que ressuscitou o Senhor, ressuscitará também a nós – em nosso corpo- pelo seu poder. Glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo" (1Cor. 6,14.20).

Então, caríssimos, olhemos para o céu, voltemos para lá o nosso coração! Celebremos! Com a Virgem Maria, hoje vencedora da morte, com a Igreja, que espera, um dia, triunfar totalmente como Maria Virgem, cantemos as palavras da Filha de Sião, da Mãe da Igreja, pensando na nossa vitória: "A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. O Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor!" A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

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Maria, santa mãe de Deus

Bendita és tu, Maria! Hoje, Jesus ressuscitado acolhe a sua mãe na glória do céu… Hoje, Jesus vivo, glorificado à direita do Pai, põe sobre a cabeça da sua mãe a coroa de doze estrelas.

Primeira leitura - Maria, imagem da Igreja.

Como Maria, a Igreja gera na dor um mundo novo. E como Maria, participa na vitória de Cristo sobre o Mal.

Salmo - Bendita és tu, Virgem Maria!

A esposa do rei é Maria. Ela tem os favores de Deus e está associada para sempre à glória do seu Filho.

Segunda leitura - Maria, nova Eva.

Novo Adão, Jesus faz da Virgem Maria uma nova Eva, sinal de esperança para todos os homens.

Evangelho - Maria, Mãe dos crentes.

Cheia do Espírito Santo, Maria, a primeira, encontra as palavras da fé e da esperança: doravante todas as gerações a chamarão bem-aventurada!

1º leitura – Ap. 11,19a;12,1-6a.10ab – Breve comentário

As visões do Apocalipse exprimem-se numa linguagem codificada. Elas revelam que Deus arranca os seus fiéis de todas as formas de morte. Por transposição, a visão o sinal grandioso pode ser aplicada a Maria.

O livro do Apocalipse foi composto no ambiente das perseguições que se abatiam sobre a jovem Igreja, ainda tão frágil. O profeta cristão evoca estes acontecimentos numa linguagem codificada, em que os animais terrificantes designam os perseguidores. A Mulher pode representar a Igreja, novo Israel, o que sugere o número doze (as estrelas). O seu nascimento é o do batismo que deve dar à terra uma nova humanidade. O dragão é o perseguidor, que põe tudo em ação para destruir este recém-nascido. Mas o destruidor não terá a última palavra, pois o poder de Deus está em ação para proteger o seu Filho.

Proclamando esta mensagem na Assunção, reconhecemos que, no seguimento de Jesus e na pessoa de Maria, a nova humanidade já é acolhida junto de Deus.

2º leitura – 1Cor. 15,20-27 – Breve comentário

A Assunção é uma forma privilegiada de Ressurreição. Tem a sua origem na Páscoa de Jesus e manifesta a emergência de uma nova humanidade, em que Cristo é a cabeça, como novo Adão.

Todo o capítulo 15 desta epístola é uma longa demonstração da ressurreição. Na passagem escolhida para a festa da Assunção, o apóstolo apresenta uma espécie de genealogia da ressurreição e uma ordem de prioridade na participação neste grande mistério. O primeiro é Jesus, que é o princípio de uma nova humanidade. Eis porque o apóstolo o designa como um novo Adão, mas que se distingue absolutamente do primeiro Adão; este tinha levado a humanidade à morte, ao passo que o novo Adão conduz aqueles que o seguem para a vida.

O apóstolo não evoca Maria, mas se proclamamos esta leitura na Assunção, é porque reconhecemos o lugar eminente da Mãe de Deus no grande movimento da ressurreição.

Evangelho – Lc. 1,39-56 – Breve comentário

O cântico de Maria descreve o programa que Deus tinha começado a realizar desde o começo, que ele prosseguiu em Maria e que cumpre agora na Igreja, para todos os tempos.

Pela Visitação que teve lugar na Judeia, Maria levava Jesus pelos caminhos da terra. Pela Dormição e pela Assunção, é Jesus que leva a sua mãe pelos caminhos celestes, para o templo eterno, para uma Visitação definitiva. Nesta festa, com Maria, proclamamos a obra grandiosa de Deus, que chama a humanidade a se juntar a ele pelo caminho da ressurreição.

Em Maria, Ele já realizou a sua obra na totalidade; com ela, nós proclamamos: "dispersou os soberbos, exaltou os humildes". Os humildes são aqueles que crêem no cumprimento das palavras de Deus e se põem a caminho, aqueles que acolhem até ao mais íntimo do seu ser a Vida nova, Cristo, para o levar ao nosso mundo. Deus debruça-se sobre eles e cumpre neles maravilhas.

Rezar por Maria.

Frequentemente, ouvimos a expressão: "rezar à Virgem Maria". Esta maneira de falar não é absolutamente exata, porque a oração cristã dirige-se a Deus, ao Pai, ao Filho e ao Espírito: só Deus atende a oração. Os nossos irmãos protestantes que, contrariamente ao que se pretende, por vezes têm a mesma fé que os católicos e os ortodoxos na Virgem Maria Mãe de Deus, recordam-nos que Maria é e se diz ela própria a Serva do Senhor.

Rezar por Maria é pedir que ela reze por nós: "Rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte!" A sua intervenção maternal em Caná resume bem a sua intercessão em nosso favor. Ela é nossa "advogada" e diz-nos: "Fazei tudo o que Ele vos disser!"

Rezar com Maria.

Ela está ao nosso lado para nos levar na oração, como uma mãe sustenta a palavra balbuciante do seu filho. Na glória de Deus, na qual nós a honramos hoje, ela prossegue a missão que Jesus lhe confiou sobre a Cruz: "Eis o teu Filho!" Rezar com Maria, mais que nos ajoelharmos diante dela, é ajoelhar-se ao seu lado para nos juntarmos à sua oração. Ela acompanha-nos e guia-nos na nossa caminhada junto de Deus.

Rezar como Maria.

Aprendemos junto de Maria os caminhos da oração. Na escola daquela que "guardava e meditava no seu coração" os acontecimentos do nascimento e da infância de Jesus, nós meditamos o Evangelho e, à luz do Espírito Santo, avançamos nos caminhos da verdade. A nossa oração torna-se ação de graças no eco ao Magnificat. Pomos os nossos passos nos passos de Maria para dizer com ela na confiança: "que tudo seja feito segundo a tua Palavra, Senhor!"

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

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"Grande sinal apareceu no céu: uma mulher que tem o sol por manto, a lua sob os pés, e uma coroa de doze estrelas na cabeça" (cf. Ap. 12,1).

Admirável alegria a festa que neste domingo, exatamente o domingo dia 15 de agosto, estamos celebrando: a assunção da bem aventurada Virgem Maria, nossa Mãe e Senhora.

Nesta festa se recorda a presença admirável de Maria na vida dos fiéis católicos, que em Nossa Senhora vêem, ao mesmo tempo, a glória da Santa Igreja e a prefiguração de sua própria glorificação. A festa tem uma íntima dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira e a Mãe dos fiéis cristãos. Daí a facilidade com que se aplica a Maria o texto de Apocalipse 12, conforme nos exorta a Primeira Leitura, originariamente uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto (a Igreja perseguida do primeiro século) até a vitória final do Cristo. Assim o livro do Apocalipse (cf. Ap. 11,19a;12,1-6a.10ab) nos apresenta o sinal da Mulher – Aparece no céu a Mulher que gera o Messias; as doze estrelas indicam quem ela é: o povo das doze tribos, Israel, mas não só o Israel antigo, do qual nasce Jesus; é também o novo Israel, a Igreja, que deve esconder-se da perseguição, no primeiro século depois de Cristo, até que, no fim glorioso, o Cristo se possa revelar em plenitude. Maria assunta ao Céu sintetiza em si, por assim dizer, todas as qualidades deste povo prenhe de Deus, aguardando a revelação de sua glória.

Na segunda leitura (cf. 1Cor. 15,20-26), o sinal da vitória definitiva de Nosso Senhor Jesus cristo é a ressurreição, a vitória sobre a morte. Ela se realizou na sua própria morte e se realizará na nossa. Maria já está associada a Jesus nesta vitória definitiva. Nela, a humanidade redimida reconhece sua meta. A Assunção da Virgem Maria ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Observe-se, portanto, que a glória de Maria não a separa de nós, mas a une mais intimamente a nós.

O momento da Anunciação de Nossa Senhora, que significa para nós católicos que a Virgem Maria é conduzida por Deus, de corpo e alma, para junto de seu Filho amantíssimo, na glória celeste, é cantado e celebrado com grandes galas pelo povo cristão, sendo para nós um santo mistério, o mistério da Encarnação de Deus.

Esta festa considerada festa da nova criação. Isto, porque com a vinda do Filho de Deus em carne humana, Jesus se tornou a primeira de todas as criaturas, a cabeça de todos os seres vivos e nele todas as criaturas foram regeneradas. A primeira criação ficou marcada pela desobediência. A segunda criação, por conseguinte, ficou marcada por um forte sim obediencial.

A morte nos veio por Eva, e a vida nos veio por Maria. Sim, a Anunciação celebra o início da nova criação, da nova vida, vida que ultrapassa o tempo da velha criação e jorra para dentro da eternidade de Deus.

Nota-se, claramente, no Evangelho que hoje lemos (cf. Lc. 1,39-56) a presença das três pessoas da Santíssima Trindade, um mistério que o Antigo Testamento não chegou a descobrir, mas que foi revelado nitidamente por Nosso Senhor Jesus Cristo.

A pessoa de Deus, em primeiro lugar, que a partir desse momento, chamar-se-á Pai também de seu Filho feito homem. Um Deus que, misericordioso em seu amor, abre-se para nós, criaturas suas. Um Deus que sempre quis bem as suas criaturas, fruto de um ato de amor gratuito seu. Um Deus que enviou profetas para manter em fidelidade e obediência as criaturas rebeldes. Um Deus que resolve enviar o seu próprio Filho parque, na sua pessoa humana e divina, a humanidade fosse doravante absolutamente fiel e obediente.

Em seguida vem o Espírito Santo. Força que dá vida e vivifica a comunidade fiel. O Espírito que fecunda a Virgem, tornando-a Mãe do Filho de Deus. E o mesmo Espírito que vai acompanhar o Filho ao longo de sua vida, quando o próprio Senhor exclamou: "O Espírito Santo está sobre mim" (cf. Lc. 4,18).

Com Jesus, Filho do Altíssimo, herdeiro de todos os Reinos, para quem foram criadas todas as coisas do céu e da terra, tornando realidade acessível as mais ricas e preciosas obras.

O Anjo que aparece no Evangelho de hoje é o mensageiro do Pai do céu. Gabriel significa "força de Deus". Gabriel aparece a Zacarias para anunciar a concepção de João Batista e é ele mesmo que diz chamar-se Gabriel. Sua missão, maior, contudo, foi trazer a Nossa Senhora a notícia de que Deus a escolhera para ser a mãe de seu Filho.

O justo José, outro personagem do Evangelho, teve um papel fundamental no nascimento de Jesus e na sua infância. Seu exemplo de dignidade, de justiça e de senso de trabalho fizeram dele o responsável pela paternidade jurídica que, no Oriente é muito importante.

Maria, estrela da nova evangelização, significa "Estrela do Mar" na palavra de São Jerônimo. Deus pediu a Maria o seu consentimento para que concebesse o Seu Filho Jesus. Maria, assim, com seu FIAT, com o seu SIM, se tornou a mãe do doador da Vida, aquele que é a Vida, e não apenas uma vida temporal, mas a vida eterna, as alegrias sem fim.

E Maria deu o seu decidido sim, tornando-se não só um instrumento passivo de Deus, mas também cooperadora do mistério da salvação. Maria, a servidora, que sob seu Filho e com seu Filho, de toda a nova humanidade, chamada à comunhão eterna com Deus.

O Evangelho de hoje é o Magnificat de Maria, resumo da obra de Deus com ela e em torno dela. Humilde serva – nem sequer tinha o status de mulher casada – ela foi exaltada por Deus, para ser Mãe do Salvador e para participar de sua glória, pois o amor verdadeiro une para sempre. Sua grandeza não vem do valor que a sociedade lhe confere, mas da maravilha que Deus opera nela. Um diálogo de amor entre Deus e a moça de Nazaré: ao convite de Deus, responde o sim de Maria, e à doação de Maria na maternidade e no seguimento de Jesus., responde o grande sim de Deus, a glorificação de sua serva. Em Maria, Deus tem espaço para operar maravilhas. Em compensação, os que estão cheios de si mesmo não deixam Deus agir e, por isso, são despedidos de mãos vazias, pelo menos no que diz respeito às coisas de Deus. O Filho de Maria coloca na sombra os poderosos deste mundo, pois enquanto estes oprimem, ela salva de verdade.

Maria, glorificada no corpo, mostra-se hoje como estrela de esperança para a Igreja e para a humanidade, particularmente neste tempo favorável de missões diocesanas em nossa Igreja Particular. A sua altura sublime não a afasta do seu Povo nem dos problemas do mundo, pelo contrário, permite-lhe vigiar de maneira eficaz sobre as vicissitudes humanas com a mesma solicitude atenciosa com que obteve de Jesus o primeiro milagre, durante as bodas de Caná.

Celebramos, assim, hoje, o Dia da Vocação à Vida Consagrada. Homens e mulheres que a exemplo de Maria deram o seu SIM a JESUS e se consagram na obediência, na pobreza e na castidade para se aproximar mais no autêntico seguimento do Salvador. Rezemos, pois, pelos nossos consagrados. Assim, que os consagrados, seguindo o exemplo de Maria possam dar ao mundo testemunho de coerência e santidade de vida em tudo amando e servindo. Em Maria, pois, celebremos a nossa vocação para a ressurreição e a vida feliz pela participação na glória de Deus. Em Maria assunta ao Céu contemplamos a aurora e o esplendor da Igreja triunfante.

 

 

"Grande sinal apareceu no céu: uma mulher que tem o sol por manto,

a luz sob os pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça." (cf. Ap. 12,1)

Celebrar a Assunção de Nossa Senhora, de corpo e alma, ao céu é a manifestação de felicidade de todo o povo fiel pela Mãe de Jesus, Mãe da Igreja e nossa Mãe, que nela vêem, ao mesmo tempo, a glória da Igreja e a prefiguração de sua própria glorificação. Por isso, esta festa tem a dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira e a Mãe de todos os batizados.

Com muita facilidade, o Apocalipse aplica em seu capítulo 12, de maneira poética, a missão da Virgem Maria: "Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas" (cf. Ap. 12, 1-2).

Se esta perícope era apresentada como uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto - na alusão à Igreja perseguida do primeiro século - até a vitória de Cristo é salutar apresentar esta nova exegese, em que na pessoa de Maria vislumbramos a combinação ideal de glória e humildade: ela deixou Deus ser grande na sua vida.

Assim, ouvindo os clamores do povo santo de Deus, o grande Papa Pio XII, em 1o de novembro de 1950, definiu a Assunção de Maria como dogma, ou seja, como ponto referencial de nossa fé católica. Diz a fórmula do dogma: "Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste". Maria, no fim de sua vida, foi acolhida por Deus no céu com corpo e alma, ou seja, coroada plenamente e, mais do que isso, definitivamente com a glória que Deus preparou para os seus santos. Então, Maria foi a primeira a servir a Cristo na fé. Maria é a primeira a participar na plenitude de sua glória, porque ela é a "perfeitíssimamente" redimida. Ela foi acolhida completamente no céu porque acolheu nela o Céu - inseparavelmente.

Celebrar a solenidade da Assunção de Nossa Senhora é reafirmar um dos princípios fundamentais da nossa fé católica e apostólica: o nosso destino imortal, nossa ressurreição, nossa glorificação, nosso mergulho na eternidade de Deus.

De fato, Maria foi acolhida em corpo e alma no céu. Essa imagem é a consoladora esperança e a garantida da realização do sonho humano: viver para sempre, destino de todos aqueles que Cristo fez irmãos, ao ter com eles "em comum o sangue e a carne" (cf. Hb. 2,14).

Contemplando Maria assunta ao céu, a Igreja nos convida a contemplar o futuro que espera a todos aqueles e aquelas que são fiéis discípulos e missionários de Jesus Cristo, como nos leva a rezar o prefácio da Missa de hoje: "Elevada à glória do céu, aurora e esplendor da Igreja triunfante, Maria é consolo e esperança de todo o povo ainda em caminho". Assim, hoje não celebramos somente Nossa Senhora da Assunção, mas, também, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da Alegria, Nossa Senhora da Vitória ou Nossa Senhora Vitoriosa.

Santo Antônio, doutor da Igreja muito estimado por todos os fiéis, tem um sermão inteiro dedicado à Assunção de Maria, no qual deixa muito claro a dependência da assunção à encarnação do Filho de Deus. O discípulo de Francisco de Assis ensina que: "Esta nossa gloriosa Ester foi levada hoje pelas mãos dos anjos aos aposentos do rei Assuero, isto é, ao tálamo etéreo, onde reside em trono de estrelas o Rei dos reis, felicidade dos anjos, Jesus Cristo, o qual amou a gloriosa Virgem acima de todas as mulheres, de quem recebeu a carne. Ela encontrou, diante dele, graça e misericórdia, acima de todas as mulheres. Ó inestimável dignidade de Maria! Ó inenarrável sublimidade da graça! Ó inescrutável profundidade da misericórdia! Nunca tanta graça, nem tanta misericórdia, foi nem pode ser concedida a um anjo ou a um homem, como a Maria Virgem Santíssima, que Deus Pai quis fosse Mãe de seu próprio Filho, igual a si, gerado antes de todos os séculos! Havia de ser graça e dignidade máxima mulher pobrezinha ter um filho do imperador. Verdadeiramente superior a toda a graça foi a graça de Maria Santíssima, que teve um filho com Deus Pai, e por este motivo mereceu ser hoje coroada no céu".

Irmãos e Irmãs,

A liturgia hodierna nos apresenta o MAGNIFICAT. Nesta bela página evangélica nós podemos observar a pedagogia de Deus: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Deus escolhe o lado de quem, aos olhos do mundo, é insignificante. São os rebaixados, humilhados, oprimidos e oprimidas que Deus escolhe para serem os mensageiros de seu projeto de salvação. Maria, que nem casada era, foi escolhida, e nela está representada toda a humanidade humilhada e espoliada. Exatamente porque Maria afirmou que seja feita não a sua vontade, mas a vontade de Deus, que Ela foi exaltada como a Mãe do Salvador, partícipe de sua glória, de seu amor verdadeiro que une sempre.

A grandeza de Maria não vem do valor social, que infelizmente não tinha porque era mulher, pobre e solteira, mas da maravilhosa obra que Deus realiza em sua grandeza espiritual.

O Evangelho é um magnífico diálogo de amor entre Deus e a moça simples de Nazaré: ao convite de Deus responde o "sim" de Maria e, à doação de Maria na maternidade e no seguimento de Jesus, responde o grande "sim" de Deus, a glorificação de sua serva. Em Maria, Deus tem espaço para operar maravilhas. Em compensação, os que estão cheios de si mesmos não deixam Deus agir, por isso, são despedidos de mãos vazias, pelo menos no que diz respeito às coisas de Deus. Assim, o filho de Maria coloca na sombra os poderosos deste mundo, pois enquanto eles oprimem, ele salva de verdade.

Maria é grande. A maior grandeza da Virgem é ser a Mãe de Jesus, Mãe de Deus.

Inspirada por Deus, sua prima Isabel reconhece a maternidade divina de Maria (cf. Lc. 1,43) e a declara cheia de graça e "bendita entre todas as mulheres" (cf. Lc. 1,42). Elogia Maria por ter acreditado no Senhor (cf. Lc. 1,45).

Celebramos, portanto, a glorificação dessa fé sólida da Santíssima Virgem e a coroação conseqüente de sua maternidade. Perfeita entre todas as mulheres, Nossa Senhora é a medianeira de todas as graças.

Assim, rogai por nós Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos das promessas de Cristo, Amém!

padre Wagner Augusto Portugal

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BENDITA ÉS TU ENTRE AS MULHERES"...

 

21 de agosto de 2011

 

Evangelho Lc1, 39-56

 

 

É motivo de muita alegria para nós católicos, celebrar a Assunção de Nossa Senhora!

Maria é a voz que grita na defesa dos pobres que buscam nela, a confiança e a resistência para lutar e vencer os poderosos! Deus escolheu Maria, mulher simples, no meio dos pobres para reacender a chama do amor no coração da humanidade!

Maria é a mulher mãe, toda cheia de graça! Nela, Deus fez maravilhas!

Ao dizer Sim, para Deus, ela foi iluminada pelo sol da justiça e acolheu o Salvador!

Ao receber o anuncio do anjo, que seria a mãe de Jesus, Maria  ficou sabendo da gravidez de Isabel, sua prima, que morava bem distante.

Ao se colocar como serva do Senhor, ela se põem a serviço! Impulsionada pelo amor ao próximo, dirigi-se apressadamente, para a casa de Isabel, já de idade avançada e que certamente necessitaria de maiores cuidados. Com este gesto de amor e doação, Maria nos deixa um grande exemplo de solidariedade, nos ensinando que o amor, é mais do que sentimento, o amor é gesto concreto, é decisão de ir ao encontro do outro, de inteirar-se de suas necessidades, de partilhar as alegrias e também as dores.

O evangelho de hoje, narra um dos mais belos encontros de amor: o encontro de duas mães: uma se alegra com a alegria da outra e juntas agradecem pelo dom da fecundidade!

A narração deixa claro o poder infinito de Deus: para Ele, nada é impossível!

Ao se colocar a caminho, subindo montanhas, levando Jesus em seu ventre, Maria torna-se a primeira discípula de Jesus!

O relato nos mostra também o encontro de duas crianças que estavam sendo geradas no ventre de duas mulheres distintas! No ventre da jovenzinha Maria, crescia Jesus, o Salvador do mundo, Aquele que daria a sua vida para nos resgatar! E no ventre, antes estéril, de Isabel, já de idade avançada, crescia o menino que pulou de alegria, ao sentir a presença de Jesus: João Batista o grande profeta, o precursor, aquele que iria preparar o caminho para a entrada de Jesus na historia da salvação.

Com o Sim, de Maria, abriram-se as cortinas de uma nova Era! O sonho de Deus, que havia sido ameaçado pela mancha do pecado, desde o início da criação, tornava-se possível! Iniciava-se a construção de um novo Reino, onde o amor, a justiça e a paz triunfariam.

O amor misericordioso do Pai ultrapassou todos os limites; Deus se fez menino, se humanizou no ventre de uma mulher, para ficar mais perto de nós, para caminhar conosco, sentir as nossas dores e as nossas alegrias também!

Maria, a serva do Senhor, participou da historia da libertação da humanidade ao se entregar totalmente a serviço de Deus! Enfrentou todos os desafios, desde a concepção de Jesus, até a sua morte de cruz! E mesmo com o coração transpassado com uma espada de dor, ela se manteve de pé, aos pés da cruz!

O papel  desempenhado por Maria na encarnação, na morte e na Ressurreição de Jesus, nos deixa um grande exemplo de mulher forte, que ama, que não se deixa abater diante do sofrimento, porque confia no poder grandioso de Deus!

Com Maria, aprendemos a dar passos ao encontro do outro e a buscar o seu filho Jesus!

 

Olívia Coutinho

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                      Domingo, 21/08/2011                         

Evangelho Lucas 1,39-56

 

"A minha alma engrandece o Senhor"

  Caríssimos irmãos e irmãs,

 Hoje é a grande festa em homenagem a mãe do Salvador e por afiliação também a nossa mãe santíssima. É o evangelista Lucas narrando a visita, o encontro de duas mães e dos seus filhos conseqüentemente, os benditos do Pai. É Maria com Isabel, sua prima e de Jesus Cristo com o seu primo, João Batista, ainda nos ventres maternos. É o evangelista falando às comunidades dispersas, fora do eixo de Jerusalém, sobre como devemos nos relacionar com Deus Pai: Louvando-O e glorificando-O. Dando assim vazão à vivência e prática cristã.

Este encontro da mãe do nosso Senhor com sua prima nos ensinam também como igreja-comunidade a se relacionar na ajuda, socorro e serviço ao próximo. Esta narrativa tão própria de Lucas nos faz lembrar-se daquela mulher, que em meio à multidão grita: Feliz é a mulher que gestou e amamentou o Filho do Homem.

O cântico de Maria é um autêntico louvor que brota do fundo do coração da nossa mãe. É um ato solene de liturgia que Maria descortina para nós sobre a graça que é ser mãe do Messias.

Maria quando é comunicada pelo anjo que sua prima Isabel já se encontrava no sexto mês de gravidez, e lembrando-se da idade avançada da mesma, vai ao seu encontro para ajudá-la nos afazeres domésticos tanto quanto na hora do parto, uma vez que Zacarias, por ser sacerdote, se encontrava em Jerusalém, administrando o templo.

Este encontro representa o término do 1º testamento e o começo do 2º. É o antigo acolhendo e aceitando o novo para completar e realizar as profecias de Isaías. É o Espírito Santo que presente faz agitar as crianças em seus ventres. Um reino se inicia quando a alegria das crianças, a ajuda e partilha dos adultos e  as casas das famílias unidas umas às outras vivem o mandamento do amor tão característico de Jesus.

As palavras abençoadas de Isabel ecoam todos os dias em nossos ouvidos quando rezamos a Ave Maria. "Bem aventurada és tú, que creste, pois hão de se cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas".

Caríssimos, vejam que esforço Maria desprendeu para se deslocar das montanhas onde habitava até a cidade onde Isabel residia. – distância aproximada de 100 quilômetros. Considerando que o meio de transporte da época era por camelos, foi uma viagem difícil, não é mesmo? Porém, o amor transpassa todas as barreiras físicas da distância para que se complete o plano divino da qual elas são peças fundamentais da história do novo testamento. É através da revelação do anjo e a força do Espírito Santo que a faz viajar por caminhos íngremes e tortuosos, por amor.

É Maria, proclamando a mudança em sua vida após o olhar amoroso do Pai para com a sua serva preferida. Ela canta a fidelidade de Deus em favor dos pobres e famintos. Tudo é misericórdia de Deus para com o seu povo e na fidelidade d'Ele nas promessas com Abraão e Moisés.

Caríssimos, assim como Isabel rejubilou-se juntamente com seu filho, no encontro com Jesus e sua mãe, pergunto: O que o impede de participar ativamente deste encontro pessoal com o Cristo na sagrada eucaristia?

Como posso realizar e concretizar a presença de Jesus não só na minha vida, mas em conjunto com a comunidade a qual pertenço?

 Louvado seja o nosso Senhor Jesus Cristo.

Gilberto Silva

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ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Na anunciação, o anjo informa a Maria a respeito da gravidez de Isabel, como uma garantia de que nada é impossível para Deus. Declarando-se serva do Senhor, Maria concebe Jesus, e como sinal do seu serviço, se dirige apressada para a casa de Zacarias, para encontrar sua parenta Isabel.
O Evangelho deste domingo (missa do dia) mostra o encontro das duas mães agradecidas pelo dom da fecundidade e da vida. O relato mostra também o encontro entre duas crianças, o precursor e o salvador. Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo; João Batista exulta no ventre de Isabel que, cheia do Espírito Santo, proclama Maria bem-aventurada. O relato mostra, sobretudo, que a Santíssima Trindade se revela nos pobres e faz deles a sua morada permanente. O Pai tinha revelado a Maria o dom feito a Isabel, a excluída por causa de sua condição estéril; o Espírito revela a Isabel que Maria, a serva do Pai, tornara-se a "mãe do Senhor". Assim, a Trindade entra na casa dos pobres humilhados que esperam a libertação.
A nossa oração mariana mais comum, a Ave Maria, na primeira parte é constituída exatamente pelas primeiras palavras do anjo a Maria. "Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é contigo". A estas se seguem as primeiras palavras de Isabel: "Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre". O anjo chama Maria "cheia de graça", Isabel a chama "bendita". Ambas as expressões indicam antes de tudo qual é a relação de Deus com Maria. É desta relação que depende tudo aquilo que podemos afirmar sobre Maria.
As primeiras palavras de Isabel a Maria recordam os elogios feitos às mulheres libertadoras do Antigo Testamento; Jael: "que seja bendita entre as mulheres" (Jz 5,24); e Judite: "Ó filha, seja bendita pelo Deus altíssimo, mais que todas as mulheres da terra" (Jt 13,18). Também a segunda parte do versículo se inspira nas promessas de vida a Israel: "bendito o fruto do teu ventre" (Dt 28,4). João pula no ventre de Isabel e esta proclama Maria "bendita", isto é, bem-aventurada. As bênçãos do Antigo Testamento são renovadas definitivamente em Maria.
Pedir a bênção é pedir a vida. Só Deus em definitiva pode dar a bênção. E em toda benção humana se pede a bênção de Deus, costume que também nós herdamos dos judeus. Na Bíblia, as pessoas abençoam (dão a benção) quando descobrem a presença de Deus que salva. Maria é motivo de bênção de maneira especial porque se tornou o lugar privilegiado no qual se experimenta Deus. Ela trouxe ao mundo o Senhor da vida por meio do qual foi vencida a morte e chegou até nós à vida eterna. Proclamando-a bendita, Isabel reconhece que Maria é cheia da bênção de Deus. O seu grande grito é um louvor (típico semítico) à ação de Deus, mas também é um grito de alegria por Maria.
Em relação à Maria, Isabel experimenta a sua própria condição indigna: "quem sou eu, para merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar?". Maria concebeu o Filho do Altíssimo, por isso, é a "mãe do Senhor", a mãe de Deus. Na segunda parte da ave Maria, nós recitamos "Santa Maria, mãe de Deus, rogai por nós, pecadores". Também nós, como Isabel, reconhecemos ser pecadores e indignos diante da mãe do Salvador. Como ela, reconhecemos a diferença, e temos por Maria o apreço e a veneração que a ela compete.
Enfim, Isabel reconhece a bem-aventurança de Maria por causa de sua atitude: "bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu". Maria acolheu com fé a Palavra do Senhor. Levou a sério tudo o que Deus lhe anunciou. Assim, a fé se torna a forma fundamental da sua relação com Deus. Isabel é apresentada como aquela que por primeiro venerou Maria. Com as suas palavras, ela nos delineia os traços essenciais da figura de Maria.
Maria, diante de tudo isso, no canto do Magnificat, fala com júbilo de Deus, daquilo que ele operou nela. Maria fica impressionada pela grandiosidade do Senhor e da sua obra poderosa. E ao mesmo tempo reconhece a sua pequenez. Ela sabe que é pequena e insignificante diante dele. Reconhece tudo isso com sinceridade e não se ensoberbece. No cântico, Maria reconhece que todas as gerações a chamarão bem-aventurada. Não por orgulho, mas porque o motivo de sua bem-aventurança é a obra de Deus nela. Assim, não há nenhum motivo pelo qual nós não possamos venerá-la. O todo-poderoso fez grandes coisas nela. E, como Isabel, nos enchemos de alegria. Com Maria, aprendemos a reconhecer que Deus é grande, poderoso e misericordioso, se dirige aos humildes e permanece absolutamente fiel a sua Palavra. Ele abate a soberba do homem.

Padre Carlos

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Domingo, 21 de agosto de 2011

Assunção de Nossa Senhora

Outros Santos do Dia: São Pio X, Papa (Memória), Anastácio de Savona (mártir), Balduíno (abade), Bassa e seus três filhos: Teogônio, Agapito e Fidelis (mártires), Bernardo Tolomei (abade, fundador do Mosteiro de Monte Olivetto), Ciríaco e Hilário (mártires), Ciselo, Camerino e Luxório (mártires), Euprépio de Verona (bispo), Maximiano e Bonoso de Antioquia (mártires), Paterno de Fondi (mártir), Privado de Mende (bispo, mártir), Quadrato de Utique (bispo, mártir), Sidônio Apolinário (bispo de Clermont), Umbelina (monja, irmã de São Bernardo de Claraval).

Primeira leitura: Apocalipse 11, 19; 12,1.3-6.10
Uma mulher vestida como sol, tendo a lua sob os pés.
Salmo responsorial: 44
À vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de Ofir.
Segunda leitura: 1 Coríntios 15, 20-27
Primeiro Cristo, que é as primícias, depois os que pertencem a Cristo.
Evangelho: Lucas 1, 39-56
O Todo-poderoso fez grandes coisas por mim.

Pela metade do mês de agosto a liturgia da Igreja se enche de alegria. No hemisfério norte, coincide, ou se fez coincidir, com as festas ancestrais da canícula do verão boreal. A alegria do auge das colheitas à sua plenitude agora ao celebrar a Assunção da Virgem Maria. Ela, a mãe de Jesus, é a "primeira cristã", deverá ser também a primeira a chegar até Jesus.

A fé da Igreja quis ver nela a confirmação definitiva de que nossa esperança tem sentido. Esta vida, ainda que nos pareça que está enferma de morte, na realidade está grávida de vida, de uma vida que se manifesta já em nós e que devemos celebrar já aqui e agora. E em primeiro lugar em Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe.

Na primeira leitura, encontramos um combate frontal entre a debilidade de uma mulher a ponto de dar a luz e a crueldade de um monstro perverso e poderoso que se apropriou de uma boa parte do mundo e quer arrebatar o filho à mulher. O Apocalipse faz um relato rico em simbologia no qual as comunidades cristãs podem estar representadas na mulher, reconhecendo que um setor do cristianismo dos primeiros dias teve um alto influxo da pessoa de Maria e da presença feminina em seu meio, como sustentador da fé da radicalidade.

Por outra parte, o monstro é sinônimo do aparato imperial. Com suas respectivas cabeças e chifres representa os tentáculos do poder civil, militar, cultural, econômico e religioso, empenhado em eliminar o cristianismo, por sua coragem profética já que se tornou incomodo para os poderosos da terra.

A segunda leitura abre belamente com a metáfora da ressurreição de Cristo como primeiro fruto da colheita. Em seguida esclarece que todos os que em vivem em Cristo, morrem em Cristo e também nele vão ressuscitar. Trata-se de uma afirmação da vida plena para os que assumem o projeto de Jesus como próprio e, nesse sentido, se fazem participantes da Gloria da ressurreição.

No evangelho, o canto de alegria de Maria proclamado no evangelho se faz nosso canto. Temos poucos dados sobre Maria nos evangelhos. Os estudiosos dizem que certamente esse cântico, o Magnificat, não foi pronunciado por Maria, mas que é uma composição do autor do evangelho de Lucas. Porém, não resta dúvida de que, ainda que não seja histórico, recolhe o autêntico sentir de Maria, seus sentimentos mais profundos diante da presença salvadora de Deus em sua vida. É cântico de louvor.

É a resposta de Maria diante da ação de Deus: Louvor e ação de graças. Ela não se sente grande nem importante por si mesma, mas pelo que Deus está realizando através dela. "Minha alma proclama a grandeza do Senhor".

Maria goza dessa vida em plenitude. Sua fé a fez viver já em sua vida a vida nova de Deus. Há um detalhe importante. O que o evangelho relata não acontece nos últimos dias de vida de Maria, quando já supomos que havia experimentado a ressurreição de Jesus, mas antes do nascimento de seu Filho. Já então estava tão cheia de fé que confiava totalmente na promessa de Deus. Maria tinha a certeza de que algo novo estava nascendo. A vida que ela levava em seu seio, ainda que em embrião, era o sinal de que Deus estava chegando e havia começado a agir em favor de seu povo.

Mais de uma vez, em certas ditaduras, este canto de Maria foi considerado revolucionário e subversivo, por isso censurado. Certamente o cântico é revolucionário e sua mensagem tende a reverter a ordem estabelecida, a ordem que os poderosos tentam manter a todo custo. Maria, cheia de confiança em Deus, anuncia que ele se colocou a favor dos pobres e deserdados deste mundo.

A ação de Deus muda totalmente a ordem social de nosso mundo: derruba do trono os poderosos e enaltece os humildes. Não é isso que estamos acostumados a ver em nossas sociedades, tampouco nos tempos de Maria. A vida de Deus é oferecida a todos, porém somente os humildes, os que sabem que a salvação vem somente de Deus, estão dispostos a acolhê-la. Os que se sentem seguros com o que possuem, esses perdem tudo. Maria soube confiar e estar aberta à promessa de Deus, confiando e crendo para além de toda esperança.

Hoje Maria anima nossa esperança e nosso compromisso para transformar este mundo, para torná-lo mais de Deus: um lugar de fraternidade, onde todos tenhamos um posto na mesa que Deus nos preparou. Porém, neste dia Maria anima sobretudo nosso louvor e ação de graças.

Maria nos convida a olhar para a realidade com olhos novos e descobrir a presença de Deus, talvez em embrião, porém já presente, ao nosso redor. Maria nos convida a cantar com alegria e a proclamar, com ela, as grandezas do Senhor.

Nota crítica: A esta altura é importante não falar da Assunção de Maria simplesmente como quem dá por suposto uma viagem quase sideral de Maria ao céu. Não é necessário deter-se uma vez mais na análise do tema dos "dois pisos" da cosmovisão religiosa clássica. Porém é necessário, ainda que seja só de passagem, lembrar os leitores que não estamos descrevendo uma anunciação literal, um transporte físico, mas uma expressão metafórica, para que não se entenda mal tudo o que com uma bela estética bíblico-litúrgica possamos dizer a respeito.

Missionários Claretianos

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DOMINGO - 21 de Agosto de 2011

ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA

Evangelho - Lc 1,39-56

Aprendamos com Maria

 Comemoramos hoje a Assunção de Nossa Senhora aos céus. É um grande momento para nós, devotos marianos, onde fazemos uma memória mais profunda da mãe de Deus e nossa.

Maria mostrou-se totalmente solicita ao querer visitar a sua prima Isabel. Ao se dispor para tal ato Maria se pré-dispõe internamente, pelo espírito, e externamente pela sua dedicação ao sair da sua casa rumo à casa de Isabel. Ao visitar sua prima Isabel, Maria se assemelha ao Cristo, quando visita João Batista. O gesto de humildade de Maria e Cristo mostram uma simplicidade especial. A gravidez dessas mulheres é um exemplo real da atuação de Deus. Maria ficou grávida por meio do Espírito Santo e Isabel no auge de sua velhice também engravidou

Maria era uma jovem desconhecida, uma jovem simples de seu povoado. Mas Deus na sua infinita sabedoria a elevou como "serva".

O cântico entoado por Maria torna-se uma resposta à felicitação de Isabel. Por meio do cântico Magnificat, Maria agradece a Deus o grande favor que esse lhe concedeu.

Podemos entender que o objetivo do evangelista e ressaltar a Mãe de Deus, fazendo assim com o seu exemplo de simplicidade e dedicação seja seguido por todos.

As vezes parece tão complicado falar sobre Maria. Mas pelo contrário, Maria é pura simplicidade. Seu jeito meigo e doce de ser, encanta o coração daqueles que visualizam a sua doce imagem. Maria quer falar ao coração de cada um de seus filhos. Ela deseja que a paz reine entre nós. Encante-se com Maria, encante-se com a Mãe.

Que possamos em nossas orações diárias pedir a intercessão de Maria. Devemos ter muita confiança, muito amor e sempre acreditar neste fiel amor de mãe.

 Professor Isaías da Costa   Contato:  (isaiadacosta@hotmail.com)

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A Mãe gloriosa e a grandeza dos humildes

 

Em 1950, o papa Pio XII proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora ao céu. Um dogma é um marco referencial de nossa fé, por trás do qual ela não pode retroceder e sem o qual ela não é completa. Proclamamos que Maria, no fim de sua vida, foi acolhida por Deus no céu "com corpo e alma", ou seja, coroada, plena e definitivamente, com a glória que Deus preparou para os seus santos. Assim como ela foi a primeira a servir Cristo na fé, é a primeira a participar na plenitude de sua glória, a "perfeitissimamente redimida". Maria foi acolhida, completamente, de corpo e alma, no céu, porque ela acolheu o céu nela – inseparavelmente.

A presente festa é uma grande felicitação de Maria por parte dos fiéis, que nela veem, a um só tempo, a glória da Igreja e a prefiguração da própria glorificação. A festa tem uma dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira a crer em Cristo e, por isso, também, é a mãe de todos os fiéis. Daí a facilidade com que se aplica a Maria o texto do Apocalipse, na primeira leitura, originariamente uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois se refugiou no deserto. Na segunda leitura, a assunção de Maria ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Observe-se, portanto, que a glória de Maria não a separa de nós, mas a torna unida a nós mais intimamente.

Merece consideração, sobretudo, o texto do evangelho, o Magnificat, que hoje ganha nova atualidade, por traduzir a pedagogia divina: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Esse pensamento pode ser o fio condutor da celebração. Na homilia, convém que se repita e se faça entrar no ouvido e no coração esse pensamento ou uma frase do Magnificat que o exprima.

1º leitura (Ap. 11,19a; 12,1.3-6a.10ab)

O sinal da Mulher, no Apocalipse, aplica-se em primeiro lugar ao povo de Deus do qual nasce o Messias: à Igreja do Novo Testamento, nascida dos que seguem o Messias. Aparece no céu a Mulher que gera o Messias; as doze estrelas indicam quem ela é: o povo das doze tribos, Israel – não só o Israel antigo, do qual nasce Jesus, mas também o novo Israel, a Igreja, que, no século I d.C., quando o livro foi escrito, precisava esconder-se da perseguição, até que, no fim glorioso, o Cristo se possa revelar em plenitude. Ao ouvir esse texto, a liturgia pensa em Maria. Maria assunta ao céu sintetiza em si, por assim dizer, todas as qualidades desse povo prenhe de Deus, aguardando a revelação de sua glória.

Salmo responsorial (Sl. 45/44,10bc.11-12ab.16)

O salmo responsorial é belo canto nupcial em honra da esposa régia. Em Maria se reconhece o povo-esposa, Sião, que se apresenta em toda a sua beleza para as núpcias messiânicas: Deus que será dele como ele é de Deus.

2º leitura (1Cor. 15,20-27a)

No quadro da glória celestial, a segunda leitura evoca a visão da vitória de Cristo sobre a morte (presente também na liturgia da festa de Cristo Rei no ano A). O sinal da vitória definitiva de Cristo é a ressurreição, seu triunfo sobre a morte. Essa vitória se realizou na sua própria morte e se realizará também na morte dos que o seguem. Maria já está associada a Jesus nessa vitória definitiva; nela, a humanidade redimida reconhece sua meta.

Evangelho (Lc. 1,39-56)

O evangelho de hoje é o Magnificat. O quadro narrativo é significativo: Maria vai ajudar sua parenta Isabel, grávida, no sexto mês. Ao dar as boas-vindas à prima, Isabel interpreta a admiração dos fiéis diante daquilo que Deus operou em Maria. Esta responde, revelando sua percepção do mistério do agir divino: um agir de pura graça, que não se baseia em poder humano; pelo contrário, envergonha esse poder, ao elevar e engrandecer o pequeno e humilhado, porém dedicado ao serviço de sua vontade amorosa. O amor de Deus se realiza por meio não da força, mas da humilde dedicação e doação. E nisso manifesta sua grandeza e glória.

O Magnificat, hoje, ganha nova atualidade, por traduzir a pedagogia divina: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Ele escolhe o lado de quem, aos olhos do mundo, é insignificante. Podemos ler no Magnificat a expressão da consciência de pessoas "humildes" no sentido bíblico: rebaixadas, humilhadas, oprimidas. A "humildade" não é vista como virtude aplaudida, mas como baixo estado social mesmo, como a "humilhação" de Maria, que nem tinha o status de casada, e de toda a comunidade de humildes, o "pequeno rebanho" tão característico do Evangelho de Lucas (cf. 12,32, texto peculiar de Lc.). Na maravilha acontecida a Maria, a comunidade dos humildes vê claramente que Deus não obra por meio dos poderosos. É a antecipação da realidade escatológica, na qual será grande quem confiou em Deus e se tornou seu servo (sua serva), não quem quis ser grande pelas próprias forças, pisando os outros. Assim, realiza-se tudo o que Deus deixou entrever desde o tempo dos patriarcas (as promessas).

A glorificação de Maria no céu é a realização dessa perspectiva final e definitiva. Em Maria são coroadas a fé e a disponibilidade de quem se torna servo da justiça e da bondade de Deus; impotente aos olhos do mundo, mas grande na obra que Deus realiza. É a Igreja dos pobres de Deus que hoje é coroada.

A celebração litúrgica deverá, portanto, suscitar nos fiéis dois sentimentos dificilmente conjugáveis: o triunfo e a humildade. O único meio para unir esses dois momentos é pôr tudo nas mãos de Deus, ou seja, esvaziar-se de toda glória pessoal, na fé em que Deus já começou a realizar a plenitude das promessas.

Em Maria vislumbramos a combinação ideal da glória e da humildade: ela deixou Deus ser grande na sua vida.

PISTAS PARA REFLEXÃO

A mãe gloriosa e a grandeza dos pobres

O Magnificat de Maria é o resumo da obra de Deus com ela e em torno dela. Humilde serva – faltava-lhe o status de mulher casada –, foi "exaltada" por Deus para ser mãe do Salvador e participar de sua glória, pois o amor verdadeiro une para sempre. Sua grandeza não vem do valor que a sociedade lhe confere, mas da maravilha que Deus nela opera. Aconteceu um diálogo de amor entre Deus e a moça de Nazaré: ao convite de Deus responde o "sim" de Maria, e à doação dela na maternidade e no seguimento de Jesus responde o grande "sim" de Deus, com a glorificação de sua serva. Em Maria, Deus tem espaço para operar maravilhas. Em compensação, os que estão cheios de si mesmos não o deixam agir e, por isso, são despedidos de mãos vazias, pelo menos no que diz respeito às coisas de Deus. O filho de Maria coloca na sombra os poderosos deste mundo, pois, enquanto estes oprimem, ele salva de verdade.

Essa maravilha só é possível porque Maria não está cheia de si mesma, como os que confiam no seu dinheiro e status, mas "cheia de graça". Ela é serva, está a serviço – também de sua prima, grávida como ela – e, por isso, sabe colaborar com as maravilhas de Deus. Sabe doar-se, entregar-se àquilo que é maior que sua própria pessoa. A grandeza do pobre é que ele se dispõe para ser servo de Deus, superando todas as servidões humanas. Ora, para que seu serviço seja grandeza, o fiel tem de saber decidir a quem serve: a Deus ou aos que se arrogam injustamente o poder sobre seus semelhantes. Consciente de sua opção, quem é pobre segundo o espírito de Deus realizará coisas que os ricos e os poderosos, presos na sua auto-suficiência, não realizam: a radical doação aos outros, a simplicidade, a generosidade sem cálculo, a solidariedade, a criação de um homem novo para um mundo novo, um mundo de Deus.

A vida de Maria, a "serva", assemelha-se à do "servo", Jesus, "exaltado" por Deus por causa de sua fidelidade até a morte (cf. Fl 2,6-11). De fato, o amor torna as pessoas semelhantes entre si. Também na glória. Em Maria realiza-se, desde o fim de sua vida na terra, o que Paulo descreve na segunda leitura: a entrada dos que pertencem a Cristo na vida gloriosa concedida pelo Pai, uma vez que o Filho venceu a morte.

Congratulando Maria, congratulamo-nos a nós mesmos, a Igreja. Pois, mãe de Cristo e mãe da fé, Maria é também mãe da Igreja. Na "mulher vestida de sol" (primeira leitura) confundem-se os traços de Maria e os da Igreja. Sua glorificação são as primícias da glória de seus filhos na fé.

No momento histórico em que vivemos, a contemplação da "serva gloriosa" pode trazer uma luz preciosa. Quem seria a "humilde serva" no século XXI, século da publicidade e do sensacionalismo? Sua história é: serviço humilde e glória escondida em Deus. Não se assemelha a isso a Igreja dos pobres? A exaltação de Maria é sinal de esperança para os pobres. Sua história também joga luz sobre o papel da mulher, especialmente da mulher pobre, "duplamente oprimida". Maria é "a mãe da libertação".

padre Johan Konings, sj.

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A Assunção de Maria, a festa de Maria entrando na glória, no final de sua vida terrestre, corresponde à Imaculada Conceição no início de sua vida. De um lado Maria foi preservada da morte espiritual do pecado, e de outro da corrupção do túmulo. Em 1950, o papa Pio XII definiu solenemente que a Imaculada Mãe de Deus, Maria sempre virgem, terminada sua carreira terrestre, foi elevada em alma e corpo à glória do céu. Deus não quis que conhecesse corrupção, aquela que havia gerado do Senhor da vida. Cremos na Assunção de Maria a partir da fé tradicional da igreja que interpretou os dados do Novo Testamento.

Assim canta o prefácio da solenidade de hoje: "Hoje, a Virgem Maria, mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho, pois preservastes da corrupção da morte aquela que gerou, de modo inefável, vosso próprio Filho feito homem, autor de toda a vida". Preces e orações a Maria exprimem bem a verdade de sua assunção:

• Salve, Filha dos homens, nossa irmã em humanidade. Salve, Mãe de Jesus Cristo que deste a luz a Deus feito homem. O Senhor te cumulou de ternura. Salve, ó mulher aureolada de estrelas. Tens como manto o sol e a lua aos teus pés. Venceste as potências do mal. Geraste Cristo, vencedor da morte e foste elevada à glória junto de teu Filho ressuscitado. Roga por nós, Mãe dos homens, leva-nos para o caminho da vida para que possamos caminhar com alegria rumo à nossa ressurreição (Philippe Warnier, in Prier, n 193, p. 15).

João, o Geômetra, nos oferece um belo texto a respeito daquela que partindo para o céu não abandona a terra:

• Nós te damos graças, Senhor, que provês a todo o criado, por todos os teus mistérios e sobretudo porque escolheste Maria, como ministra de teus mistérios. Nós te damos graças por tua inefável sabedoria, pela tua força e o teu amor pelos homens, porque não somente quiseste unir a ti a nossa natureza e em ti glorificá-la e divinizá-la, mas sobretudo porque não consideraste indigno tomar como mãe uma das nossas e fazê-la rainha do céu e da terra. Nós te damos graças, Pai de todos, porque quiseste que a tua mãe se tornasse também nossa mãe (...) Acolhe nossa oração de agradecimento! Por nós muito sofreste e dispuseste que também tua mãe sofresse por ti e por nós, para que a honra de participar na tua paixão fosse preparação para comunhão em tua glória, e também porque recordando os sofrimentos experimentados por nós, se dedicasse ainda com maior solicitude em prol da nossa salvação e perseverasse no seu amor para conosco não somente em razão da nossa natureza mas também em recordação de tudo o que sofreste por nos...

A ti também, Senhora, manifestamos nosso reconhecimento pelos sofrimentos e tribulações que experimentaste por nós. Para ti não cantamos hinos fúnebres, mas cânticos nupciais. Não lamentamos tua partida, mas cantamos de alegria porque penetraste no céu.

Subiste ao céu, mas não abandonaste a terra: livre das penúrias desta terra e alçada à felicidade inefável e infinita não esqueceste a miséria de nossa condição. Da glória mais ainda te lembras de nós e te mostras solícita para com nossas tribulações.

Não nos deixaste duplamente órfãos, mas decretaste o fim de nossa orfandade e, junto a ti, tornaste teu Filho a nos propicio, bem como ao Pai que é nosso e com ele nos reconciliaste.

Agora estás constituída rainha ao lado do Rei, circundada de outras esplendias rainhas (cf. Sl. 45,10.15), isto é, das almas virgens e reais, com veste tecida de ouro pelo Espírito, envolta do manto real de tua dignidade, de tuas muitas virtudes e de teus carismas.

Recebeste das mãos de teu filho e Deus o diadema da graça, o cetro do Reino, o cinto e a púrpura, ou seja um poder universal e uma luz que mana da tua pessoa e da tua divinização.

frei Almir Ribeiro Guimarães

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Assunção da Virgem Maria

A presente festa é uma grande felicitação de Maria da parte dos fiéis, que nela vêem, ao mesmo tempo, a glória da Igreja e a prefiguração de sua própria glorificação. A festa tem uma dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira e a Mãe dos fiéis. Daí a facilidade com que se aplica a Maria o texto de Ap 12 (1ª leitura), originariamente uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto (a Igreja perseguida do 1° século) até a vitória final do Cristo. Na 2ª leitura, a Assunção de Maria ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Observe-se, portanto, que a glória de Maria não a separa de nós, mas a une mais intimamente a nós.

Merece consideração, sobretudo, o texto do evangelho, o Magnificat, que hoje ganha nova atualidade, por traduzir a pedagogia de Deus: Deus recorre aos humildes para realizar suas grandes obras. Deus escolhe o lado de quem, aos olhos do inundo, é insignificante. Podemos ler no Magnificat a expressão da consciência de pessoas "humildes" no sentido bíblico, isto é, rebaixadas, humilhadas, oprimidas (a "humildade" não como aplaudida virtude, mas como baixo estado social): Maria, que nem tinha o status de casada, e toda uma comunidade de humildes, o "pequeno rebanho" tão característico do evangelho de Lc. (cf. 12,32, peculiar de Lc). Na maravilha acontecida a Maria, a comunidade dos humildes vê claramente que Deus não obra através dos poderosos: antecipação da realidade escatológica, em que será grande quem confiou em Deus e se tomou seu servo (sua serva), e não quem quis ser grande por suas próprias forças, pisando em cima dos outros. Assim, realiza-se tudo o que Deus deixou entrever desde o tempo dos patriarcas (as promessas).

Pois bem, a glorificação de Maria no céu é a realização desta visão escatológica. Nela, é coroada a fé e a disponibilidade de quem se toma servo da justiça e bondade de Deus, impotente aos olhos do mundo, mas grande na obra que Deus realiza. É a Igreja dos pobres de Deus, que hoje é coroada.

A "arte" litúrgica deverá, portanto, suscitar nos fiéis dois sentimentos dificilmente conjugáveis: o triunfo e a humildade. O único meio para unir estes dois momentos é colocar tudo nas mãos de Deus, ou seja, esvaziar-se de toda glória pessoal, na fé de que Deus já começou a realizar a plenitude das promessas.

Em Maria vislumbramos a combinação ideal de glória e humildade: ela deixou Deus ser grande na sua vida. É o jeito...

Johan Konings "Liturgia dominical"

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A liturgia de hoje é dedicada à Maria, humilde serva, escolhida por Deus para ser a mãe do seu Filho. Ao declarar-se serva do Senhor, Maria concebe Jesus. Mulher corajosa, que aceita sem medo a importante missão, e logo após se coloca a caminho da casa de sua prima Isabel para servi-la, demonstrando desde então que Jesus não viria para ser servido, mas para servir.

A cena mostra o encontro de duas mães agraciadas com o dom da fecundidade e da vida (Isabel era estéril e Maria não teve relação com nenhum homem). Maria se torna assim, pioneira insuperável de evangelização, pois leva Jesus-Messias às pessoas. Maria é discípula fiel (em relação a Deus) e solidária (em relação ao próximo).

No ventre destas duas mães estão, Jesus e João Batista no primeiro encontro entre eles. João começa ali a sua missão de anunciar a vinda do Messias: "Logo que ouvi você me cumprimentar, a criança ficou alegre e se mexeu dentro de mim", e Isabel inspirada pelo Espírito Santo saúda Maria, reconhecendo-a como a mais abençoada das mulheres, a mãe do Messias.

Ao ser saudada por Isabel, Maria entoa um cântico a Deus, o "Magnificat, ou canto de Maria", que está entre o Antigo e o Novo Testamento, saindo do tempo de espera para o de realizações. Neste louvor Maria revela a alegria de ser considerada digna de dar a luz ao Salvador, e com humildade de serva abençoada por Deus, louva o santo Nome do Senhor que veio libertar seu povo da opressão e do pecado defendendo os pobres e marginalizados das injustiças.

Através do louvor de Maria, se vê claramente que, diante de Deus, grande é aquele que se torna seu servo e não o que quer se tornar grande explorando e humilhando os outros. Maria era uma mulher simples, e esse louvor cheio de graça e beleza, só é possível porque ela não está cheia de si, mas está a serviço do Pai, cheia do amor de Deus, repleta do Espírito Santo.

O canto de Maria nos estimula a lutar pelo mundo novo já iniciado com a ressurreição de Jesus. Esse mundo novo vai se tornando realidade concreta quando somos cidadãos conscientes e responsáveis.

A assunção de Nossa Senhora celebrada no dia 15 de agosto não está relatada na Bíblia, porém foi assistida por vários discípulo, entre eles são Dionísio que narrou os fatos transmitidos oralmente e por escrito durante séculos, e foi definida como dogma (verdade absoluta sobre a qual não se pode ter nenhuma dúvida) pelo papa Pio XII na Constituição Apostólica de 1950, o que significa que Maria foi acolhida ao céu em sua plenitude, de corpo e alma.

Depois da ascensão de Jesus, Nossa Senhora foi morar com o apóstolo são João em Éfeso, na atual Turquia. Voltou mais tarde para Jerusalém, onde viveu seus últimos dias na casa de João, no monte Sião.

Lá ela adormeceu no Senhor, sendo sepultada no vale do Cedron, diante da porta dos Leões, em Jerusalém. Seu túmulo se encontra vazio, e nele nenhum corpo se corrompeu, pois nossa fé nos ensina que Maria, a Mãe de Jesus, foi levada viva, em corpo e alma, para o céu, onde está junto da Santíssima Trindade. E nem podia ser de outro jeito, porque a corrupção da morte é consequência do pecado original, e Maria é a Imaculada Conceição, cheia de graça, concebida sem pecado.

Já nas portas do paraíso foi dito que entre ela, a mulher, e a serpente, o demônio, haveria uma inimizade. Maria nunca deu a mão ao demônio, que introduz o pecado e leva à morte. Aquele que escolheu e preparou para seu Filho uma mãe digna dele, preservou-a do pecado e também, da corrupção da morte, levando-a em corpo e alma para o céu.

Por isso, quando o salmista escreve que "à vossa direita se encontra a rainha com veste esplendente de ouro de ofir", pensamos em Maria, a Mãe de Jesus, glorificada no céu. É ela a mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que o vidente do Apocalipse vê como um grande sinal no céu. Esta mulher dará à luz um filho homem, que vem para governar todas as nações com cetro de ferro e que será levado para junto de Deus e de seu trono.

Antes de dar à luz, ela deve se defrontar com um dragão que quer devorar o recém-nascido. O dragão é o demônio e todas as potências do mal que querem que o Filho da mulher desapareça e não tenha nenhuma presença no mundo dominado por ele e seus assessores, que o Apocalipse chama de "bestas".

A mulher, que é Maria e ao mesmo tempo todos os seus filhos congregados na Igreja, procura refúgio no deserto, mas lá há outra mulher, que o vidente também vê. Ela está no deserto, vestida de púrpura e de escarlate, adornada com ouro, pedras preciosas e pérolas. E tem na mão um cálice de ouro cheio das abominações e da imundície da sua prostituição, e está sentada sobre uma besta.

Mesmo no deserto, os filhos de Maria, seguidores de Jesus, continuam no seio da grande cidade que domina os reis da terra. A segunda mulher representa essa cidade, onde se concentra o poder demoníaco.

Maria não teve nenhuma amizade com o demônio, e seu Filho veio para lutar contra o poder demoníaco que se abate sobre o ser humano e lhe tira a dignidade. O conflito está aberto e se estabelece uma luta de destruição até que a morte seja vencida. Em Cristo morto e ressuscitado, ela é vencida e, pela vontade de Deus, também em Maria, assim como em todos os que fazem a vontade do Pai.

Ser devoto de Maria é algo natural para quem aceita seu Filho Jesus como único salvador. E ser devoto de Maria significa também se posicionar diante do dragão e das bestas que o assessoram, e entrar na luta. Os congregados marianos cantavam: "Tu nos proteges, ó Mãe potente, contra a inimiga cruel serpente. De mil soldados não teme a espada quem pugna à sombra da Imaculada!".

cônego Celso Pedro da Silva

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A festa da Santíssima Virgem Maria

 

Esta é a maior das festas da Santíssima Virgem Maria; é a sua Assunção; a festa da sua entrada na glória, da sua plenitude como criatura, como mulher, como mãe, como discípula de Cristo Jesus. Como um rio, que após longa corrida deságua no mar, hoje, a Virgem Toda Santa deságua na glória de Deus: transfigurada no Espírito Santo, derramado pelo Cristo, ela está na glória do Pai!

Para compreendermos o profundo sentido do que celebramos, tomemos as palavras de são Paulo: "Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram. Com efeito, por um homem veio a morte e é também por um homem que vem a ressurreição dos mortos. Como em Adão todos morrem, em Cristo todos reviverão. Porém, cada qual segundo uma ordem determinada". – Eis a nossa fé, o centro da nossa esperança: Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que adormeceram. Ele é o primeiro a ressuscitar, ele é a causa e o modelo da nossa ressurreição. Os que nele nascem pelo batismo, os que nele crêem e nele vivem, ressuscitarão com ele e como ele: logo após a morte ressuscitarão naquela dimensão imaterial que temos, núcleo da nossa personalidade, a que chamamos "alma"; e, no final dos tempos, quando todo o universo for glorificado, ressuscitaremos também no nosso corpo. Assim, em todo o nosso ser, corpo e alma, estaremos, um dia, revestidos da glória de Cristo, nosso Salvador, estaremos plenamente conformados a ele!

Ora, a Igreja crê, desde os tempos antigos, que a Virgem Maria já entrou plenamente nessa glória. Aquilo que todos nós só teremos em plenitude no final dos tempos, a Santíssima Mãe de Deus, já recebeu logo após a sua morte. Ela é a "Mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas". Ela já está totalmente revestida da glória do Cristo, Sol de justiça – e esta glória é o próprio Espírito Santo que o Cristo Senhor nos dá. Ela já pisa a lua, símbolo das mudanças e inconstâncias deste mundo que passa. Ela já está coroada com doze estrelas, porque é a Filha de Sião, filha perfeita do antigo Israel e Mãe do novo Israel, que é a Igreja. Assim, a Virgem, logo após a sua morte – doce como uma dormição -, foi elevado ao céu, à glória do seu Filho em todo o seu ser, corpo e alma. Aquela que esteve perfeitamente unida ao Filho na cruz (cf. Lc. 2,34s; Jo 19,25ss.), agora está perfeitamente unida a ele na glória. São Paulo não dissera, falando do Cristo morto e ressuscitado? "Fiel é esta palavra: Se com ele morremos, com ele viveremos. Se com ele sofremos, com ele reinaremos" (2Tm. 2,12). Eis! A Virgem que perfeitamente esteve unida ao seu Filho no caminho da cruz, perfeitamente foi unida a ele na glória da ressurreição. Aquela que sempre foi "plenamente agraciada" (Lc. 1,28), de modo a não ter a mancha do pecado, não permaneceu na morte, salário do pecado. Assim, o que nós esperamos em plenitude para o fim dos tempos, a Virgem já experimenta agora e plenitude. Como é grande a salvação que o Cristo nos obteve! Como é grande a sua força salvífica ao realizar coisas tão grandes na sua Mãe!

Mas, a Festa de hoje não é somente da Virgem Maria. Primeiramente, ela glorifica o Cristo, Autor da nossa salvação, pois em Maria aparece a vitória sobre a morte, que Jesus nos conquistou. A liturgia hoje exclama: "Preservastes, ó Deus, da corrupção da morte aquela que gerou de modo inefável vosso próprio Filho feito homem, Autor de toda a vida". Este senhorio de Cristo aparece hoje radiante na sua Mãe toda santa: em Maria, Cristo venceu a morte de Maria! Em segundo lugar, a festa de hoje é também festa da Igreja, de quem Maria é Mãe e figura. A liturgia canta: "Hoje, a Virgem Maria, Mãe de Deus, foi elevada à glória do céu. Aurora e esplendor da Igreja triunfante, ela é consolo e esperança para o vosso povo ainda em caminho". Sim! A Mãe Igreja contempla a Mãe Maria e fica cheia de esperança, pois um dia, estará totalmente glorificada como ela, a Mãe de Jesus, já se encontra agora. Finalmente, a festa é de cada um de nós, pois já vemos em Nossa Senhora aquilo que, pela graça de Cristo, o Pai preparou para todos nós: que sejamos totalmente glorificados na glória luminosa do Espírito do Filho morto e ressuscitado. Aquilo que a Virgem já possui plenamente, nós possuiremos também: logo após a morte, na nossa alma; no fim dos tempos, também no nosso corpo!

Estejamos atentos! A festa hodierna recorda o nosso destino, a nossa dignidade e a dignidade do nosso corpo. O mundo atual, por um lado exalta o corpo nas academias, no culto da forma física, da moda e da beleza exterior; por outro lado, entrega o corpo à sensualidade, à imoralidade, à droga, ao álcool... É comum escutarmos que o que importa é o "espírito", que a matéria, o corpo passa... Os cristãos não aceitam isso! Nosso corpo é templo do Espírito Santo, nosso corpo ressuscitará, nosso corpo é dimensão indispensável do nosso eu. Um documento recente da Igreja sobre a relação homem-mulher, chamava-se atenção exatamente para essa questão: o corpo em si, para o mundo, parece que não significa muita coisa, que não tem uma linguagem própria, que não diz algo do que eu sou, da minha identidade – inclusive sexual. Para nós, cristãos, o corpo integra profundamente a personalidade de cada um: meu corpo será meu por toda eternidade; meu corpo é parte de minha identidade por todo o sempre! Honremos, então nosso corpo: "O corpo não é para a fornicação e, sim, para o Senhor e o Senhor é para o corpo. Ora, Deus, que ressuscitou o Senhor, ressuscitará também a nós – em nosso corpo- pelo seu poder. Glorificai, portanto, a Deus em vosso corpo" (1Cor. 6,14.20).

Então, caríssimos, olhemos para o céu, voltemos para lá o nosso coração! Celebremos! Com a Virgem Maria, hoje vencedora da morte, com a Igreja, que espera, um dia, triunfar totalmente como Maria Virgem, cantemos as palavras da Filha de Sião, da Mãe da Igreja, pensando na nossa vitória: "A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque olhou para a humildade de sua serva. O Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor!" A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém.

 

Hoje celebramos a maior de todas as solenidades da Mãe de Deus: a sua Assunção gloriosa ao céu.

A oração inicial da missa hodierna pediu: "Deus eterno e todo-poderoso, que elevastes à glória do céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria, Mãe do vosso Filho, dai-nos viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória". A liturgia da Igreja, sempre tão sábia e tão sóbria, resumiu aqui o essencial desta solenidade santíssima. Com efeito, Deus elevou à glória do céu em corpo e alma a imaculada Virgem Maria! Ela, uma simples criatura, ela, tão pequena, tão humilde, foi eleva a Deus, ao céu, à plenitude em todo o seu ser, corpo e alma! Como isso é possível? Não é a morte o destino comum e final de tudo quanto vive? Isso dizem os pagãos, isso dizem os descrentes, os sábios segundo o mundo, que se conformam com a morte... Mas, nós, nós sabemos que não é assim! Nosso destino é a vida, nosso ponto final é a glória no coração de Deus: glória no corpo, glória na alma, glória em tudo que somos! Foi isso que Deus nos preparou – bendito seja ele para sempre!

Mas, como isso é possível? A Palavra de Deus deste hoje no-lo afirma, de modo admirável. Escutai, irmãos, escutai, irmãs, consolai-vos todos vós: "Cristo ressuscitou dos mortos, primícia dos que morreram. Em Cristo todos reviverão, cada qual segundo uma ordem determinada; em primeiro lugar Cristo, como primícia!" Eis por que, eis como ressuscitaremos: Cristo ressuscitou! Jesus de Nazaré, caríssimos, é o Senhor! O nosso Jesus é Deus bendito e foi ressuscitado pela glória do Pai! O nosso Senhor Jesus venceu e no faz participantes da sua vitória, dando-nos o seu Espírito Santo! Credes nisso, meus caros? Neste mundo que só crê no que vê, que só leva a sério o que toca, que só dá valor ao que cai no âmbito dos sentidos, credes que Cristo está vivo e é Senhor, primícia, princípio de todos os que morrem unidos a ele? Pois bem, escutai: o Cristo que ressuscitou, que venceu, concedeu plenamente a sua vitória à sua Mãe, à Santíssima Virgem Maria, que esteve sempre unida a ele. Ela, totalmente imaculada, nunca afastou-se do filho: nem na longa espera do parto, nem na pobreza de Belém, nem na fuga para o Egito, nem no período de exílio, nem na angústia de procura-lo no Templo, nem nos anos obscuros de Nazaré, nem nos tempos dolorosos da pregação do Reino, nem no desastre da cruz, nem na solidão do sepulcro no Sábado Santo... nem mesmo após, nos dias da Igreja, quando discretamente, ela permanecia em oração com os irmãos do Senhor... Sempre imaculada, sempre perfeitamente unida ao Senhor. Assim, após a sua preciosa morte, ela foi elevada à glória do céu, isto é, à glória de Cristo que ressuscitou e é primícia da nossa ressurreição!

A presente solenidade é, então, primeiramente, exaltação da glória do Cristo: nele está a vida e a ressurreição; nele, a esperança de libertação definitiva! Por isso, todo aquele que crê em Jesus e é batizado no seu Espírito Santo no sacramento do Batismo, morrerá com Cristo e com Cristo ressuscitará. Imediatamente após a morte, nossa alma será glorificada e estaremos para sempre com o Senhor. Quanto ao nosso corpo, será destruído e, no final dos tempos, quando Cristo nossa vida aparecer, será também ressuscitado em glória e unido à nossa alma. Será assim com todos nós. Mas, não foi assim com a Virgem Maria! Aquela que não teve pecado também não foi tocada pela corrupção da morte! Imediatamente após a sua passagem para Deus, ela foi ressuscitada, glorificada em corpo e alma, foi elevada ao céu! Podemos, portanto, exclamar como Isabel: "Bendita és tu entre as mulheres! Bendito é o fruto do teu ventre! Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu!"

Esta é, portanto, a festa de plenitude de Nossa Senhora, a sua chegada a glória, no seu destino pleno de criatura. Nela aparece claro a obra da salvação que Cristo realizou! Ela é aquela Mulher vestida do sol, que é Cristo, pisando a instabilidade deste mundo, representada pela lua inconstante, toda coroada de doze estrelas, número da Israel e da Igreja! A leitura do Apocalipse mostra-nos tudo isso; mas, termina afirmando: "Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus e o poder do seu Cristo!" Eis: a plenitude da Virgem é realização da obra de Cristo, da vitória de Cristo nela!

Quanto nos diz esta solenidade! A oração inicial, citada no início desta homilia, pedia a Deus: "Dai-nos viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória dai-nos viver atentos às coisas do alto, a fim de participarmos da sua glória". Eis aqui qual deve ser o nosso modo de viver: atentos às coisas do alto, onde está Cristo, onde contemplamos a Virgem totalmente glorificada em Cristo. Caminhar neste mundo sem no prendermos a ele. Aqui somos estrangeiros, aqui estamos de passagem, aqui somos peregrinos; lá é que permaneceremos para sempre: nossa pátria é o céu, onde está Cristo, nossa vida! O grande mal do mundo atual é entreter-se com seu consumismo, com sua tecnologia, com seu bem-estar, com seu divertimento excessivo e esquecer de viver atento às coisas do alto. Mas, pior ainda, os cristãos também muitas vezes são infectados por essa doença! Nós, que deveríamos ser as testemunhas do mundo que há de vir, quantas vezes vivemos imersos, metidos somente nas ocupações deste mundo – muitos até com o pretexto de que estão trabalhando pelos irmãos e por uma sociedade melhor. Nada disso! Os pés devem estar na terra, mas o coração deve estar sempre voltado para o alto! Não esqueçamos: nosso destino é o céu, participando da glória de Cristo, da qual a Virgem Maria já participa plenamente! Aí, sim, poderemos cantar com ela e como ela: "A minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador: o poderoso fez em mim maravilhas!" Seja ele bendito agora e para sempre.

dom Henrique Soares da Costa

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Bendita és tu, Maria! Hoje, Jesus ressuscitado acolhe a sua mãe na glória do céu… Hoje, Jesus vivo, glorificado à direita do Pai, põe sobre a cabeça da sua mãe a coroa de doze estrelas.

Primeira leitura - Maria, imagem da Igreja.

Como Maria, a Igreja gera na dor um mundo novo. E como Maria, participa na vitória de Cristo sobre o Mal.

Salmo - Bendita és tu, Virgem Maria!

A esposa do rei é Maria. Ela tem os favores de Deus e está associada para sempre à glória do seu Filho.

Segunda leitura - Maria, nova Eva.

Novo Adão, Jesus faz da Virgem Maria uma nova Eva, sinal de esperança para todos os homens.

Evangelho - Maria, Mãe dos crentes.

Cheia do Espírito Santo, Maria, a primeira, encontra as palavras da fé e da esperança: doravante todas as gerações a chamarão bem-aventurada!

1º leitura – Ap 11,19a;12,1-6a.10ab – Breve comentário

As visões do Apocalipse exprimem-se numa linguagem codificada. Elas revelam que Deus arranca os seus fiéis de todas as formas de morte. Por transposição, a visão o sinal grandioso pode ser aplicada a Maria.

O livro do Apocalipse foi composto no ambiente das perseguições que se abatiam sobre a jovem Igreja, ainda tão frágil. O profeta cristão evoca estes acontecimentos numa linguagem codificada, em que os animais terrificantes designam os perseguidores. A Mulher pode representar a Igreja, novo Israel, o que sugere o número doze (as estrelas). O seu nascimento é o do batismo que deve dar à terra uma nova humanidade. O dragão é o perseguidor, que põe tudo em ação para destruir este recém-nascido. Mas o destruidor não terá a última palavra, pois o poder de Deus está em ação para proteger o seu Filho.

Proclamando esta mensagem na Assunção, reconhecemos que, no seguimento de Jesus e na pessoa de Maria, a nova humanidade já é acolhida junto de Deus.

2º leitura – 1Cor. 15,20-27 – Breve comentário

A Assunção é uma forma privilegiada de Ressurreição. Tem a sua origem na Páscoa de Jesus e manifesta a emergência de uma nova humanidade, em que Cristo é a cabeça, como novo Adão.

Todo o capítulo 15 desta epístola é uma longa demonstração da ressurreição. Na passagem escolhida para a festa da Assunção, o apóstolo apresenta uma espécie de genealogia da ressurreição e uma ordem de prioridade na participação neste grande mistério. O primeiro é Jesus, que é o princípio de uma nova humanidade. Eis porque o apóstolo o designa como um novo Adão, mas que se distingue absolutamente do primeiro Adão; este tinha levado a humanidade à morte, ao passo que o novo Adão conduz aqueles que o seguem para a vida.

O apóstolo não evoca Maria, mas se proclamamos esta leitura na Assunção, é porque reconhecemos o lugar eminente da Mãe de Deus no grande movimento da ressurreição.

Evangelho – Lc. 1,39-56 – Breve comentário

O cântico de Maria descreve o programa que Deus tinha começado a realizar desde o começo, que ele prosseguiu em Maria e que cumpre agora na Igreja, para todos os tempos.

Pela Visitação que teve lugar na Judeia, Maria levava Jesus pelos caminhos da terra. Pela Dormição e pela Assunção, é Jesus que leva a sua mãe pelos caminhos celestes, para o templo eterno, para uma Visitação definitiva. Nesta festa, com Maria, proclamamos a obra grandiosa de Deus, que chama a humanidade a se juntar a ele pelo caminho da ressurreição.

Em Maria, Ele já realizou a sua obra na totalidade; com ela, nós proclamamos: "dispersou os soberbos, exaltou os humildes". Os humildes são aqueles que crêem no cumprimento das palavras de Deus e se põem a caminho, aqueles que acolhem até ao mais íntimo do seu ser a Vida nova, Cristo, para o levar ao nosso mundo. Deus debruça-se sobre eles e cumpre neles maravilhas.

Rezar por Maria.

Frequentemente, ouvimos a expressão: "rezar à Virgem Maria". Esta maneira de falar não é absolutamente exata, porque a oração cristã dirige-se a Deus, ao Pai, ao Filho e ao Espírito: só Deus atende a oração. Os nossos irmãos protestantes que, contrariamente ao que se pretende, por vezes têm a mesma fé que os católicos e os ortodoxos na Virgem Maria Mãe de Deus, recordam-nos que Maria é e se diz ela própria a Serva do Senhor.

Rezar por Maria é pedir que ela reze por nós: "Rogai por nós pecadores agora e na hora da nossa morte!" A sua intervenção maternal em Caná resume bem a sua intercessão em nosso favor. Ela é nossa "advogada" e diz-nos: "Fazei tudo o que Ele vos disser!"

Rezar com Maria.

Ela está ao nosso lado para nos levar na oração, como uma mãe sustenta a palavra balbuciante do seu filho. Na glória de Deus, na qual nós a honramos hoje, ela prossegue a missão que Jesus lhe confiou sobre a Cruz: "Eis o teu Filho!" Rezar com Maria, mais que nos ajoelharmos diante dela, é ajoelhar-se ao seu lado para nos juntarmos à sua oração. Ela acompanha-nos e guia-nos na nossa caminhada junto de Deus.

Rezar como Maria.

Aprendemos junto de Maria os caminhos da oração. Na escola daquela que "guardava e meditava no seu coração" os acontecimentos do nascimento e da infância de Jesus, nós meditamos o Evangelho e, à luz do Espírito Santo, avançamos nos caminhos da verdade. A nossa oração torna-se ação de graças no eco ao Magnificat. Pomos os nossos passos nos passos de Maria para dizer com ela na confiança: "que tudo seja feito segundo a tua Palavra, Senhor!"

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

"Grande sinal apareceu no céu: uma mulher que tem o sol por manto, a lua sob os pés, e uma coroa de doze estrelas na cabeça" (cf. Ap. 12,1).

Admirável alegria a festa que neste domingo, exatamente o domingo dia 15 de agosto, estamos celebrando: a assunção da bem aventurada Virgem Maria, nossa Mãe e Senhora.

Nesta festa se recorda a presença admirável de Maria na vida dos fiéis católicos, que em Nossa Senhora vêem, ao mesmo tempo, a glória da Santa Igreja e a prefiguração de sua própria glorificação. A festa tem uma íntima dimensão de solidariedade dos fiéis com aquela que é a primeira e a Mãe dos fiéis cristãos. Daí a facilidade com que se aplica a Maria o texto de Apocalipse 12, conforme nos exorta a Primeira Leitura, originariamente uma descrição do povo de Deus, que deu à luz o Salvador e depois refugiou-se no deserto (a Igreja perseguida do primeiro século) até a vitória final do Cristo. Assim o livro do Apocalipse (cf. Ap. 11,19a;12,1-6a.10ab) nos apresenta o sinal da Mulher – Aparece no céu a Mulher que gera o Messias; as doze estrelas indicam quem ela é: o povo das doze tribos, Israel, mas não só o Israel antigo, do qual nasce Jesus; é também o novo Israel, a Igreja, que deve esconder-se da perseguição, no primeiro século depois de Cristo, até que, no fim glorioso, o Cristo se possa revelar em plenitude. Maria assunta ao Céu sintetiza em si, por assim dizer, todas as qualidades deste povo prenhe de Deus, aguardando a revelação de sua glória.

Na segunda leitura (cf. 1Cor. 15,20-26), o sinal da vitória definitiva de Nosso Senhor Jesus cristo é a ressurreição, a vitória sobre a morte. Ela se realizou na sua própria morte e se realizará na nossa. Maria já está associada a Jesus nesta vitória definitiva. Nela, a humanidade redimida reconhece sua meta. A Assunção da Virgem Maria ao céu é considerada como antecipação da ressurreição dos fiéis, que serão ressuscitados em Cristo. Observe-se, portanto, que a glória de Maria não a separa de nós, mas a une mais intimamente a nós.

O momento da Anunciação de Nossa Senhora, que significa para nós católicos que a Virgem Maria é conduzida por Deus, de corpo e alma, para junto de seu Filho amantíssimo, na glória celeste, é cantado e celebrado com grandes galas pelo povo cristão, sendo para nós um santo mistério, o mistério da Encarnação de Deus.

Esta festa considerada festa da nova criação. Isto, porque com a vinda do Filho de Deus em carne humana, Jesus se tornou a primeira de todas as criaturas, a cabeça de todos os seres vivos e nele todas as criaturas foram regeneradas. A primeira criação ficou marcada pela desobediência. A segunda criação, por conseguinte, ficou marcada por um forte sim obediencial.

A morte nos veio por Eva, e a vida nos veio por Maria. Sim, a Anunciação celebra o início da nova criação, da nova vida, vida que ultrapassa o tempo da velha criação e jorra para dentro da eternidade de Deus.

Nota-se, claramente, no Evangelho que hoje lemos (cf. Lc. 1,39-56) a presença das três pessoas da Santíssima Trindade, um mistério que o Antigo Testamento não chegou a descobrir, mas que foi revelado nitidamente por Nosso Senhor Jesus Cristo.

A pessoa de Deus, em primeiro lugar, que a partir desse momento, chamar-se-á Pai também de seu Filho feito homem. Um Deus que, misericordioso em seu amor, abre-se para nós, criaturas suas. Um Deus que sempre quis bem as suas criaturas, fruto de um ato de amor gratuito seu. Um Deus que enviou profetas para manter em fidelidade e obediência as criaturas rebeldes. Um Deus que resolve enviar o seu próprio Filho parque, na sua pessoa humana e divina, a humanidade fosse doravante absolutamente fiel e obediente.

Em seguida vem o Espírito Santo. Força que dá vida e vivifica a comunidade fiel. O Espírito que fecunda a Virgem, tornando-a Mãe do Filho de Deus. E o mesmo Espírito que vai acompanhar o Filho ao longo de sua vida, quando o próprio Senhor exclamou: "O Espírito Santo está sobre mim" (cf. Lc. 4,18).

Com Jesus, Filho do Altíssimo, herdeiro de todos os Reinos, para quem foram criadas todas as coisas do céu e da terra, tornando realidade acessível as mais ricas e preciosas obras.

O Anjo que aparece no Evangelho de hoje é o mensageiro do Pai do céu. Gabriel significa "força de Deus". Gabriel aparece a Zacarias para anunciar a concepção de João Batista e é ele mesmo que diz chamar-se Gabriel. Sua missão, maior, contudo, foi trazer a Nossa Senhora a notícia de que Deus a escolhera para ser a mãe de seu Filho.

O justo José, outro personagem do Evangelho, teve um papel fundamental no nascimento de Jesus e na sua infância. Seu exemplo de dignidade, de justiça e de senso de trabalho fizeram dele o responsável pela paternidade jurídica que, no Oriente é muito importante.

Maria, estrela da nova evangelização, significa "Estrela do Mar" na palavra de São Jerônimo. Deus pediu a Maria o seu consentimento para que concebesse o Seu Filho Jesus. Maria, assim, com seu FIAT, com o seu SIM, se tornou a mãe do doador da Vida, aquele que é a Vida, e não apenas uma vida temporal, mas a vida eterna, as alegrias sem fim.

E Maria deu o seu decidido sim, tornando-se não só um instrumento passivo de Deus, mas também cooperadora do mistério da salvação. Maria, a servidora, que sob seu Filho e com seu Filho, de toda a nova humanidade, chamada à comunhão eterna com Deus.

O Evangelho de hoje é o Magnificat de Maria, resumo da obra de Deus com ela e em torno dela. Humilde serva – nem sequer tinha o status de mulher casada – ela foi exaltada por Deus, para ser Mãe do Salvador e para participar de sua glória, pois o amor verdadeiro une para sempre. Sua grandeza não vem do valor que a sociedade lhe confere, mas da maravilha que Deus opera nela. Um diálogo de amor entre Deus e a moça de Nazaré: ao convite de Deus, responde o sim de Maria, e à doação de Maria na maternidade e no seguimento de Jesus., responde o grande sim de Deus, a glorificação de sua serva. Em Maria, Deus tem espaço para operar maravilhas. Em compensação, os que estão cheios de si mesmo não deixam Deus agir e, por isso, são despedidos de mãos vazias, pelo menos no que diz respeito às coisas de Deus. O Filho de Maria coloca na sombra os poderosos deste mundo, pois enquanto estes oprimem, ela salva de verdade.

Maria, glorificada no corpo, mostra-se hoje como estrela de esperança para a Igreja e para a humanidade, particularmente neste tempo favorável de missões diocesanas em nossa Igreja Particular. A sua altura sublime não a afasta do seu Povo nem dos problemas do mundo, pelo contrário, permite-lhe vigiar de maneira eficaz sobre as vicissitudes humanas com a mesma solicitude atenciosa com que obteve de Jesus o primeiro milagre, durante as bodas de Caná.

Celebramos, assim, hoje, o Dia da Vocação à Vida Consagrada. Homens e mulheres que a exemplo de Maria deram o seu SIM a JESUS e se consagram na obediência, na pobreza e na castidade para se aproximar mais no autêntico seguimento do Salvador. Rezemos, pois, pelos nossos consagrados. Assim, que os consagrados, seguindo o exemplo de Maria possam dar ao mundo testemunho de coerência e santidade de vida em tudo amando e servindo. Em Maria, pois, celebremos a nossa vocação para a ressurreição e a vida feliz pela participação na glória de Deus. Em Maria assunta ao Céu contemplamos a aurora e o esplendor da Igreja triunfante.

padre Wagner Augusto Portugal

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