Comentários – Prof.Fernando(*)01 de
JULHO(29junho)
Apóstolos PEDRO e PAULO 2012
Observações iniciais e observações históricas:
A solenidade dos
apóstolos Pedro e Paulo é celebrada pelos católicos no Brasil nesse domingo. A
data tradicional era 29 de junho (continua usada em outras Tradições cristãs e
em outros países, também pelos católicos). Mesmo no Brasil em que o calendário
litúrgico (e o lecionário bíblico em três anos,“A-B-C”) é adotado por várias tradições
cristãs (algumas oficialmente, outras não) como luterana, anglicana, católica
há variantes litúrgicas (por ex. a forma extraordinária do missal romano –
católico – tradições de origem alemã entre luteranos, etc.). Por isso, em
alguns lugares, a liturgia desse 1 de julho terá as leituras do 13º domingo do
tempo Comum (ou 5º depois de Pentecostes).
A memória dos
Apóstolos Pedro e Paulo já era celebrada no século 4º antes mesmo de haver uma festa de Natal. Em Roma, num
mesmo dia havia celebração em dois lugares: 1) no local onde depois se
construiu a basílica e 2) no local onde será erguido o templo de São Paulo
“extra-muros” (porque fora dos limites e muralhas da cidade). Afinal ninguém
sabia a data exata do martírio de cada um desses apóstolos. Mas essa será uma
herança simbólica para a liturgia: Pedro, no centro da cidade da qual fora o pastor.
Paulo – fundador de núcleos cristãos na periferia do império romano – será
homenageado “fora-dos-muros”.
Simbolismo também dessa igreja que cresceu na tensão permanente de buscar um centro de
unidade e conviver com a diversidade (cada grupo nascido e criado em contextos
históricos diversos). Algumas tensões trouxeram também rupturas dolorosas. O
cristianismo era um só até 1054 d.C., mas espalhado em 5 “regiões” que eram os
“Patriarcados”:“orientais” nos quais predominava a língua grega e os costumes
mais antigos eram: Jerusalém, Alexandria, Antioquia e Constantinopla; e o “ocidental”
com sede em Roma, de língua latina e rito naturalmente “romano”. O que eram dissensões
e conflitos superados durante séculos, por debates teológicos e concílios que
reuniam as igrejas e conclusões de consenso, no ano de 1054 tornou-se a famosa
separação entre Ocidente e Oriente. Também no início do século 16 a igreja
européia viu surgirem vários movimentos contrários ao predomínio religioso e
político de Roma, dentre os quais se destacou a reforma proposta por Lutero. A
ela somou-se o apoio de Príncipes e reinos que criaram guerras, não só doutrinais,
mas políticas e culturais para não falar de longos conflitos militares e suas
perseguições mútuas geradoras de ódios, prisões e mortes. Naquele tempo o
contexto é bem mais complexo do que a polaridade que tiveram os debates de Pedro
e Paulo (lá pelo ano 50 d.C. os apóstolos se reúnem e acontece o chamado
“concílio de Jerusalém que aceita o modo de agir de Barnabé, Tito e Paulo em
sua pregação a não judeus). Há 500 anos, porém, o quadro histórico europeu era
bem mais complicado com suas mudanças científicas, econômicas e culturais que
vieram a ser chamadas mais tarde de Modernidade,
RESUMO: de At12: Enquanto Pedro era mantido na prisão, a
Igreja orava continuamente a Deus por ele
E de Mt 16: Feliz és tu Simão,
filho de Jonas, porque não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai
que está no céu. Por isso eu te digo: tu és Pedro e sobre esta pedra
construirei a minha Igreja
- Um texto de Santo AGOSTINHO [cf.Agostinho, Sermão295,1-2 4.7-8 in PL38]
·
È o próprio Cristo a
pedra, sobre a qual é edificada a Igreja.
Pedro foi
bem-aventurado porque, tendo afirmado, por revelação interior:Tu és Cristo o Filho de Deus vivo, o Senhor
lhe disse: eu te digo que és Pedro e
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Quer dizer: Sobre essa pedra
edificarei a fé, porque a professaste; edificarei sobre isso que disseste (Tu és o Cristo...) a minha Igreja. Tu és
Pedro: Pedro deriva de pedra (não pedra de Pedro). Pedro, de pedra. Como
cristão, de Cristo.
·
São dadas a Pedro,
personificando a Igreja, as chaves do reino dos céus.
A um só, porque dadas à Igreja que é uma.
Entre os apóstolos
somente Pedro recebeu o encargo de personificar em quase toda parte a Igreja. Por
causa dessa personificação mereceu ouvir Eu
te darei as chaves do reino dos céus. Não foi um homem só que recebeu essas
chaves mais a inteira Igreja. Daí a grandeza de Pedro, porque ele personificou
a universalidade e a unidade da Igreja quando lhe foi dito: a ti entrego, o que a todos foi
entregue. Pois para que saibais que a Igreja recebeu as chaves do reino dos
céus, ouvi o que o Senhor dizia em outro lugar a todos os seus Apóstolos: Recebei o Espírito Santo. Se a alguém
perdoardes os pecados serão perdoados e a quem não perdoardes, não o serão.
·
A Pedro representante da
unidade da Igreja, foram confiadas as ovelhas de Cristo, quando Pedro reafirma 3
vezes seu arrependimento.
Merecidamente também
depois da ressurreição o Senhor encarregou ao mesmo Pedro de apascentar as suas
ovelhas. Quando fala a um está ressaltando a unidade; e a Pedro em primeiro
lugar porque é o primeiro entre os Apóstolos. Nas três vezes em que o Apóstolo
respondeu, o Senhor confiou as suas ovelhas, uma, duas e três vezes.
Num só dia se celebra
os dois Apóstolos. Mas os dois eram uma só coisa, mesmo martirizados em
diferentes dias. Pedro foi na frente, Paulo depois, porque Pedro primeiro de soberbo
passou a humilde. Saulo era como um Saul perseguindo o santo Davi. Caiu como perseguidor,
levantou-se pregador, Mudou o nome de soberbo para a humildade, como ele mesmo
depois disse: sou o menor de todos os Apóstolos.
- PEDRO e PAULO
·
Pedro, antes se chamava Simão er pescador, filho
de Jonas e irmão de André. Ele também foi escolhido para ser alicerce, num grupo,
do novo edifício eclesial, do novo Israel, no qual Cristo é a “pedra angular
que os construtores rejeitaram” (Mc12,10). Tinha uma personalidade forte, mas
também suas fraquezas. A esse Simao (agora Pedro) (leiamos alguns versos
adiante no mesmo capítulo) Jesus também chama de “Satanás” (=“adversário”)
quando age como pedra de tropeço (o termo “escândalo” em grego significa “pedra
de tropeço”, queda). Mas sua verdadeira vocação será a de ser pedra para
edificar e construir, não para derrubar.
·
Pedro, arrependido de sua traição, não
desistiu como seu companheiro Judas. Aceitou o perdão. Ao lado do “outro
discípulo”, será o primeiro a entrar no túmulo vazio e começar a sua definitiva
conversão à fé e à confiança. Do ressuscitado recebe uma visita em separado
(cf. Lucas 24,34). Após a Ascensão do seu Senhor estará à frente da primeira
comunidade (Jerusalém). Como os discípulos que ele apresenta ao povo em
Pentecostes, ele também é uma testemunha-chave para continuar o projeto do
Homem de Nazaré. Ainda em Jerusalém será o primeiro a compreender a necessidade
de abertura aos pagãos (e não apenas aos judeus – Atos 10-11). Mais tarde será
bispo em Roma, onde será assassinado, como o foram muitos outros mártires.
·
Paulo. Se Pedro renegou a Cristo, Paulo o perseguiu querendo eliminar
o novo grupo de seguidores de Jesus). Tinha “dupla cidadania” (judeu e membro
do império). Por um lado era fanático por sua rigorosa formação farisaica. De
outro lado, como outros na “diáspora” (dispersão em muitos países) podia ser “cidadão
romano”, título por ele invocado quando apela para seus direitos civis”,
opondo-se a ser preso e condenado.
·
Paulo antes se chamava Saulo. Nascido em Tarso
era cidadão judeu e romano. Tornou-se Paulo (=o pequeno), como afima de si um
dia:“eu sou
o menor dos apóstolos” (1Cor15). No entanto transformou-se talvez no mais ativo
dos apóstolos no que se refere à expansão do cristianismo. Enquanto
Pedro iniciou o anúncio da Boa Nova nos limites de Israel, Paulo dirigiu-se principalmente
às cidades do Império pagão.
- COLUNAS DA
IGREJA
·
Diferentes histórias
individuais e personalidades levaram os dois até a divergèncias em debates
teológicos, mas houve acordo ao se reunir o primeiro “concílio” (uma espécie de
“assembleia geral” dos cristãos - cf. Gál.2). Pedro reconhece dificuldades em
compreender alguns pontos (constam das cartas paulinas), mas conhecendo Paulo,
recomenda à comunidade não deturpar o que falava ou escrevia.
·
Porque não existe forma
(nem fôrma) única para ser discípulo. Pentecostes ensinou a diversidade de dons
e a Igreja construiu sua unidade pouco a pouco, no respeito às diferenças
legítimas. Hoje os cristãos parecem mais medrosos e têm dificuldade para
aceitar as diferenças. Até no interior de uma tradição (por exemplo entre
católicos) e mais ainda entre eles as várias igrejas (ortodoxas, reformadas ou
evangélicas). Menos preparados ainda para o diálogo com outras religiões e com
pessoas e grupos que se autoproclamam agnósticos, não crentes ou ateus
·
A solenidade do martírio
de Pedro e Paulo em Roma já era celebrada muito antes da festa de Natal, no
século 4º quando se havia uma celebração no local onde séculos depois se
construirá a igreja de São Pedro; outra onde se erguerá o templo de São Paulo
“fora dos muros” (fora das muralhas que cercavam as cidades antigas). A herança
simbólica dessas antigas basílicas é significativa: Pedro no centro de Roma,
Paulo “fora dos muros da cidade”.
·
A Igreja se construiu
nessa tensão permanente entre a procura de unidade visível e as diversidades
nascidas em contextos históricos determinados. Em alguns momentos, como acima
se disse chegou-se a rupturas (como em 1054 e em 1517). A história da Igreja
tem seus altos e baixos. As figuras extraordinárias de Pedro e Paulo não são
como as personalidades excepcionais de filósofos, na ciência ou governantes,
nos impérios. Na verdade o Espírito conduziu os fundadores do Cristianismo. Mas
eram homens comuns com suas fraquezas, falhas e dificuldades. De Pedro ficou
mais conhecida a negação do Mestre. Paulo confessa (cf. 2ª.coríntios12) viver
sempre com um “espinho na Carne” (=em sua vida mortal), embora desconheçamos a
natureza desse sofrimento. Declarava ainda que – como todos nós – estava sob a
lei do pecado” (cf.Romanos 7,14-24).
·
A Memória Pedro e Paulo
nos levam a reconhecer que a Graça supera o Pecado e a semente do Reino cresce
no meio das limitações humanas.
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(*) Prof.
(USU-Rio) mestre (educação/ teologia/ teo.moral). fesomor2@gmail.com
(Administração universitária e consultoria)
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