Comentários do Prof. Fernando (Leituras da semana 3 a 9 de outubro de 2010)
1ª PARTE = COMENTÁRIO ao 27º DOMINGO do T.Comum
2ª PARTE = Introdução geral às Leituras da 27ª semana do Tempo Comum
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· 03/10 27ºdomingo do Tempo comum : Hab 1,2-3.2,2-4 Sl 95 2Tm 1,6-8.13-14 Lc 17,5-10
04/10 SEGUNDA São Francisco de Assis
05/10 TERÇA da 27ªsemana
06/10 QUARTA da 27ªsemana
07/10 QUINTA Nossa Senhora do Rosário
08/10 SEXTA da 27ªsemana
09/10 SÁBADO da 27ªsemana
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1ª PARTE = as LEITURAS do DOMINGO, 03 de outubro de 2010
1ª. leitura = Habacuc 1,2-3. 2,2-4
O profeta Habacuc, assim como Jeremias, destacam-se entre os Profetas por apresentarem seus questionamentos a Deus enquanto os demais profetas limitam-se a transmitir os questionamentos de Deus ao povo (os Oráculos proferidos). Mas sempre essas perguntas do Profeta supõem a fé na fidelidade divina e Deus é Deus: ele conclui esse diálogo quando e como quer.
O livro de Habacuc só tem três capítulos: no primeiro, os oráculos são a resposta de Deus ao “interrogatório” a que o submete o profeta; o cap.2 compõe-se de cinco oráculos que são maldições diversas desde injustiças sociais até o pecado da idolatria. O cap.final é uma oração litúrgica em tom de lamento e se apresenta como um Salmo.
A leitura de hoje traz dois versos do cap.1 e três versos do cap.2. N pergunta inicial Habacuc reclama com Deus: por que tanta maldade? A resposta de Deus virá em 2,4: Os ímpios confiam apenas em si próprios, e falham; mas o justo confia em mim e vive! Esta frase final tornou-se bem conhecida (em geral com a tradução “o justo viverá pela fé’ pelas argumentações de Paulo (cf. Rom 1, 17 e Gal 3,11) sobre a fé. Como vemos quase em todas as leituras a confiança, a fé, é a grande mensagem bíblica e o centro da pregação evangélica.
2ª. leitura = 2ª carta a Timoteo 1,6-8.13-14
A Timóteo, que é uma autoridade religiosa recomenda-se especialmente o mesmo, aliás, que é pedido a todos os cristãos: guardar o depósito da fé e do amor sem medo ou timidez mas “fortificado pelo poder de Deus”. Novamente a importância da fé, como no evangelho do dia:
Evangelho = segundo Lucas 17,5-10
A fé é um dom precioso que foi derramado pelo Espírito no coração humano. Por isso pedem os apóstolos que o Senhor aumente sua fé. A resposta do Mestre pode ser interpretada como uma certa ironia: ele duvida até se os discípulo têm alguma fé e, exagerando a linguagem afirma que, por menor que seja, a fé pode realizar maravilhas.
Entre os ensinamentos que transmite aos discípulos nessa longa viagem a Jerusalém, segundo o esquema de Lucas, Jesus apresenta, nesse trecho, 4 orientações para o discipulado ou seguimento do Mestre: não atrapalhar a caminhada do outro, ter coragem de intervir também para a correção fraternal e, sobretudo, perdoar; finalmente, na comparação da relação servo-senhor (que seus ouvintes bem entendiam) mostra que eles não devem esperar nenhuma recompensa especial pelo seu serviço. Pode ser, ainda, uma alusão crítica aos chefes religiosos da época que muitas vezes julgavam a observância dos preceitos e costumes como merecedora de recompensa divina.
Afinal, a salvação nos é dada, gratuitamente, como a fé. Sem esse poder que nos foi dado não seríamos nada mais do que “servos inúteis”.
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2ª PARTE = Leituras da semana: Carta aos Gálatas c.1,2 e 3; Ev.: Lucas cap. 10 e 11
(Exceto na quinta, dia 7, dia de Nossa Senhora do Rosário: At 1,12-14 Lc 1,46-55 e Lc 1,26-38)
Carta aos Gálatas – contexto, introdução e comentários de cada dia:
Apesar de não sabermos exatamente que cidades correspondiam à “Galácia” ao tempo dessa Carta ela foi escrita a pagãos convertidos por Paulo,em região da atual Turquia. Posteriormente alguns cristãos de origem judaica argumentavam que era preciso primeiro ser um bom judeu observando a circuncisão e outros preceitos a Lei mosaica. Isso contradizia a pregação paulina que continuava aceitando a Toráh como Escritura enquanto história referente ao caminho de Israel até a condição atual da fé em Jesus Cristo (J.J.Pilch). Daí essa carta em estilo polêmico insistindo sobre o núcleo da Fé.
O esquema geral da Carta pode ser dividido em 5 seções: 1) Saudações e introdução; 2) a pregação de Paulo e sua relação com os outros apóstolos; 3) Um novo modo de fé extraído de explicações da argumentação bíblica; 4) Exortações práticas; 5) Conclusão.
· - Na segunda, dia 4, Paulo lamenta que os gálatas façam confusão entre o Evangelho e outros “evangelhos” ou pregações: Irmãos, asseguro-vos que o evangelho pregado por mim não é conforme a critérios humanos. Com efeito, não o recebi nem aprendi de homem algum, mas por revelação de Jesus Cristo.
· Na terça, dia 5. Paulo lembra sua condição de Apóstolo pois, tendo sido educado nas tradições de seu povo e tendo sido grande perseguidor dos cristãos, foi chamado diretamente pelo próprio Senhor para pregar entre os não judeus. Antes de começar essa missão reuniu-se com Pedro e os outros líderes do colégio apostólico. Para evitar que os gálatas fossem enganados pelos grupos que desejavam manter, além do evangelho, uma religião judaica, Paulo demonstra que Pedro e os demais aprovaram sua conversão e sua condição de igualdade entre os Apóstolos.
· Na quarta, dia 6, insiste que teve um segundo encontro com Pedro, quatorze anos depois, no qual ficou esclarecido novamente que Paulo estava em harmonia com aqueles “considerados colun as da Igreja” (verso 9). Além disso ficou estabelecida uma espécie de divisão territorial: Pedro e seus colaboradores ficariam com a pregação na Palestina, enquanto Paulo com a pregação tanto a judeus como a pagãos, que viviam fora da Palestina em outras cidades do Império Romano. A reivindicação de igualdade entre Paulo e os demais Apóstolos é tal que lhe permitiu também opor-se a Pedro quando ele agiu exteriormente de forma a contradizer o que ensinava. Paulo preferiu censurá-lo em público exigindo que ele agisse conforme a fé e não para não desagradar alguns ainda preocupados com os costumes religiosos de sua tradição.
· Na sexta, dia 8, Paulo inicia uma série de 4 argumentações bíblicas ou explicações baseadas na Escritura (capítulos 3 e 4). Na primeira (lida nessa sexta-feira) Paulo recorre ao exemplo de Abraão para insistir no tema da Carta: Abraão foi justificado pela fé – até antes de conhecer a Lei mosaica – e nele Deus abençoa também as nações pagãs pela fé, não pela prática da Lei. Lembremos que na evolução da história de Israel a Torah (=instrução, diretriz) que a tradução grega da bíblia chamou de Nomos , quer dizer, “regra” (diretriz explícita) ou “norma” (implícita). Conforme o contexto histórico ou literário essa norma seria um “padrão” (como um acordo a ser cumprido entre dois indivíduos), como “costume” (normas institucionalizadas em sociedade) ou como “lei” (quando essas normas são elevadas à ordem política ou legal). A Toráh foi “lei” em sentido estrito, durante a monarquia na restauração após o exílio em Babilônia (587-537 a.C.), ou seja, enquanto Israel tinha autonomia soberana. Porém, no período helenista (300 a 6 a.C.) e romano (de 6 a.C em diante), ela ficou como costume legitimado por Deus com diversas raízes na família, governo, economia, educação e religião. Após abandonar sua estrita observância dos costumes judaicos e, particularmente, o zelo que tinha pelo cumprimento de todas as prescrições religiosas como bom fariseu que era. Paulo afirma com todos os apóstolos: agora somos justificados pela fé e não mais pelos costumes normativos da lei, pois Deus ressuscitou Jesus constituindo-o Cristo (Messias).
· No sábado, dia 9, Paulo continua a explicação sobre a figura de Abraão e o trecho de nossa leitura pergunta: qual era, então, o papel da Lei? Segundo essa meditação paulina a Toráh servia para a disciplina e moderação como o faziam os pedagogos de antigamente: cuidavam de “levar pela mão as crianças” (é o significado da palavra pedagogo) até a escola cuidando de sua segurança moral e física. Esse papel pedagógico quando Cristo veio e nos trouxe, por assim dizer, a maioridade, pois agora somos todos filhos de Deus pela fé (v.26). As marcas e diferenças de tradições e costumes não são mais importantes assim como “o que vale não é mais ser judeu nem grego; nem escravo nem livre; nem homem nem mulher” (v.28). Infelizmente, entre nós, talvez mais do que entre os gálatas destinatários dessa Carta paulina, há ainda muita preocupação quanto a diferenças. Talvez demos valor demasiado às diferenças culturais, religiosas, tradições, modos exteriores de identificar as próprias crenças e convicções. Isso acontece em nível familiar, paroquial e mesmo dentro do conjunto dos cristãos, para não falar dos grandes grupos no planeta coalhado de diversas culturas e religiões. Os preconceitos têm conduzido até a guerras, desde a antiguidade até os dias atuais.
Lucas (cap. 10 e 11)
Jesus continua a ensinar o caminho para ser discípulo nessa quarta seção do esquema de Lucas: a subida em direção a Jerusalém. Ao final do cap. 10 lemos duas histórias: a parábola do Bom samaritano e o episódio das duas irmãs de Lázaro, Marta e Maria, recebendo Jesus em casa. Para ser discípulo é preciso aprender aproximar-se do outro (o chamado amor ao próximo) e aproximar-se do Senhor (o amor de Deus experimentado na oração).
· Na segunda-feira, 4/10, dia de S. Francisco de Assis, ouvimos a parábola do “Bom Samaritano” (10,25-37) sob re a qual meditamos no dia 11 de julho na 15ª.semana do tempo comum. Nessa ocasião consideramos que, em geral, admiramos os profissionais que cuidam de outros e salvam vidas. Assim, os bombeiros, paramédicos, enfermeiros, médicos, cuidadores de idosos, voluntários no auxílio a vítimas de catástrofes naturais ou o salva-vidas de piscina ou praia. Eles desempenham literalmente o papel de “bons samaritanos” salvando vidas. Mas, todo dia, toda hora, em qualquer lugar onde estivermos, em casa, na rua, no trabalho, no lazer, na vida social, participando da política – nem que seja só como eleitor – criando filhos, sendo filhos, fazendo compras ou fazendo almoço: sempre podemos ter o olhar daquele samaritano. Em nosso coração existe compaixão e só falta arrancá-la de lá, vencendo talvez a preguiça. Aquele que nos deu o seu próprio Espírito nos faz atentos pelo caminho por onde passam todos na vida. Há os que (talvez nós mesmos) são até muito “religiosos” como se diz. Na parábola passaram pelo outro homem, largado à beira do caminho, um “sacerdote” e um “levita” (não podia haver gente mais piedosa em Israel ! ). Mas estavam muito ocupados com suas importantes funções na sociedade!! Ou, quem sabe, tão preocupados em cumprir a lei que não podiam se fazer próximos do outro. Jesus coloca como o único que se aproximou do ferido exatamente um “estrangeiro”, de um povo considerado pelos judeus como pouco ortodoxos, dissidentes da “verdadeira” religião de Israel. O bem não é privilégio dos que pertencem ao clube dos “bons cidadãos” ou, como se diz às “famílias de bem”. Para tentar viver – até na forma exterior como o Mestre – Francisco de Assis radicalizou seu modo de viver tornando-se ele próprio companheiro de estrada, próximo dos excluídos da cidade, buscando uma forma de viver como o Bom Samaritano. Não é preciso nem é possível a todos, imitar o modo de vida franciscano. Mas certamente pode-se aprender com ele que não há humanidade em nós nem à nossa volta sem descobrir, cada um em seu contexto, a maneira de se tornar próximo dos companheiros de estrada.
· Na terça, lemos em Lc 10,38 a instrução de Jesus a Marta (cf.meditação de 18/7 p.p.): “uma só coisa é necessária”. Seja em meio às atividades de cada dia (tipificada por Marta preparando o almoço e ocupada com a organização da casa), seja na “escuta”, na oração (simbolizada por Maria sentada aos pés do Mestre) o que importa é estar sintonizado com o Deus que cumpre suas promessas. A isso chamamos confiança ou Fé. Podemos, é verdade, ficar inconformados com nossa vida e nosso trabalho (como Marta. Só não podemos deixar de viver da fé.
· Na quarta, Lc 11, 1-4: Jesus ensina a oração que é o resumo de toda oração. O texto de Mateus, provavelmente adaptado para uso litúrgico, é usado até hoje. O de Lucas é mais breve mas estrutura e conteúdo são basicamente os mesmos. Começa com a adoração e a disposição para participar do “Reino” (Mateus acrescenta que a realização do Reino é o que Deus quer, sua vontade a ser pouco a pouco completamente realizada). O Pai-Nosso continua com os pedidos da confiança, reconhecendo que o Deus da vida nos quer vivos e nos sustenta. Mas, com o pão, ele nos dá seu Espírito com ternura e afeto – que se expressa no perdão de nossos desvios ou pecados. E assim aprendemos também a tratar os outros como ele nos trata. (os pecados) pelo que aprendemos também a perdoar os outros. Ele nos sustenta também para não cair sob as provações e tentações. E assim, conforme o acréscimo em Mateus, ficamos livres de todo mal.
· Na sexta, dia 8, Jesus deixa claro que na aceitação do Reino não existe meio-termo “quem não está comigo está contra mim”. É preciso escolher: ou aceitamos a fé no Deus que quer a vida e não a morte, a liberdade e não o cativeiro sob todo tipo de demônios, ou colocamos nossa confiança em falsas seguranças. Com essas nos tornamos, ao contrário, mais suscetíveis à dominação de mais inimigos do que antes... S.João Cassiano que, ao lado de Agostinho, foi uma das figuras mais importantes do Cristianismo do séc.IV, dizia: Se o Reino de Deus está dentro de nós e consiste na justiça, paz e alegria, quem permanece nessas virtudes está certamente no Reino de Deus; quem, ao contrario, vive na injustiça, discórdia e tristeza que produzem a morte está sujeito ao reino do diabo, do inferno e da morte; pois é por essas marcas que podemos discernir os dois reinos (cf. Cassien, J., Conférences, tom.1, p.91, Du Cerf, Paris, 171)
· No sábado, dia 9, Jesus responde ao elogio feito à sua mãe, insinuando que a verdadeira grandeza dela – mais do que na maternidade – estava em escutar a Palavra e observá-la.
( prof.FernandoSM, Rio, fesomor2@gmail.com )
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