X DOMINGO DO TEMPO COMUM
Introdução
Movido por belzebu, ou pelo
Espírito de Deus Pai?
(Mc. 3,20-35)
Antes
os automóveis eram movidos apenas por gasolina.
Depois surgiu o carro movido álcool. E como a tecnologia era insuficiente,
esses carros ficaram desvalorizados. Hoje, (2012) os carros são flexíveis. Isto
é, tanto podem ser movidos a álcool como a gasolina.
E
nós? Qual o combustível que nos move? Muitos são movidos pelo dinheiro, pelo
lucro , pelo acúmulo da riqueza. Outros e outras são estimulados principalmente
pelo prazer sexual. Ainda outros que pautaram suas vidas pela intelectualidade,
uns diriam, pelo ascetismo puro, isto é, uma ideologia, ou auto-disciplina sem
seguir necessariamente, os ensinamentos de Deus. Outros levam a vida toda dedicando-se à
música, a arte, à poesia etc, que são os motivos de suas existências. Nada mais
os preocupa. Até sabem de Deus, de Jesus, da vida eterna, mais não dão um passo
em direção a ela. Quando a solidão e o tédio lhes atacam, recorrem à
embriaguês, e amanhã depois da ressaca, será outro dia... Assim, vivem sem nenhum sentido porque suas
vidas não têm um sentido verdadeiro... Uma razão de ser, um combustível que não
falha! Constantemente blasfemam contra
Deus e contra seus representantes na Terra. Cuidado! Todos os pecados serão
perdoados. Menos os pecados contra o Espírito Santo!
Felizmente,
existem e sempre existirão, aqueles que seguem os passos de Jesus, Aqueles que
bebem da fonte da água viva, que é o seu principal combustível infalível.
Aqueles e aquelas que vivem para servir a Deus, e ao Reino, numa doação e numa
entrega parcial, ou total de suas vidas terenas. Você pertence a este grupo. Se está lendo
este texto até aqui, com certeza é um deles! Parabéns! Multiplique-se. Leve
estes valores eternos para outros irmãos. Assim, estará construindo um tesouro
no Céu.
Jesus
foi acusado pelos mestres da Lei de estar movido por Belzebu... Já os seus
parentes acharam que Ele estava fora de si!
Não
era nada disso! a Força do Espírito de Deus que estava nele e com Ele era tão
forte, que pela sua determinação em alcançar os objetivos do Plano do Pai, a
sua concentração era tamanha, que até dava a impressão que Ele não estava se
comportando como todo mundo fazia.
Jesus
agia pela ação do Espírito Santo. Ou seja, Ele era movido não por Belzebu, mais
pela graça de Deus Pai que o enviou ao mundo.
Os
apóstolos também faziam coisas incríveis, muitos milagres, levaram muitos a
abraçar a fé, era o início da Igreja, o começo da comunidade universal iniciada
por Jesus Cristo.
Os
apóstolos eram movidos pela fé inabalável, e pela graça de Deus presente em
suas caminhadas diariamente.
Prezado
leitor. Como sabemos, a nossa vida não termina com a nossa morte. Assim, se o
combustível que impulsiona nossas ações é formado por coisas puramente
passageiras, das quais não levaremos nada para a segunda parte da nossa
existência, mais muito pelo contrário, tais coisas podem até destruir a nossa
esperança de um dia estar na vida eterna, certamente estamos iludidos, estamos
no caminho errado!
É
muito importante conhecer tudo sobre a nossa profissão. Ser cada dia mais especializado no que
fazemos. E à medida que mais nos aprofundamos, que nos preparamos, apesar de
sermos invejados por uns, seremos procurados por outros que nos pagam até mais
do que merecemos, pois a nossa eficiência é grande e necessária.
Porém,
não devemos deixar de conhecer a nós mesmo. Muitos já morreram cedo demais, por
ignorar totalmente como funciona o seu corpo. Como funcionam os seus órgãos,
quais os cuidados que se deve ter com os ossos,
juntas, pressão arterial, com a alimentação, etc.
Caríssimo.
Não seja você um desses! Desejo que o
motivo, o combustível, a razão de ser da sua existência, seja a graça divina, e
melhor, que seja o Plano de Deus. Paute sua caminhada pelos ensinamentos
divinos, e assim estará preparando-se
para a vida sem fim. Coloque no Senhor suas esperanças. Espera em sua
palavra e terá a resposta certa, na hora certa.
Isso
é cuidar da alma. Mais cuide também do seu corpo. Aprenda como fazer isso. Não
espera o pior, com a aproximação da velhice. Não dependa tanto dos demais.
Mesmo que tenha muito dinheiro. Aprenda a cuidar-se.
Cuidar
da saúde da alma e da saúde do corpo, é um dever de todos nós.
Cuide-se.
Tenha um bom domingo, movido pela vontade
e pela graça de Deus.
Sal.
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10 DE JUNHO
X DOMINGO DO TEMPO
COMUM 10/06/2012
1ª Leitura Gênesis 3,
9-15
Salmo 129 (130), 7
“Junto ao Senhor se acha a misericórdia: encontra-se nele copiosa redenção” – Diac. José da Cruz
2ª Leitura 2Cor 4, 13
– 5,1
Evangelho Mc , 3,
20-35
Quando a gente está super ocupado ,
costuma-se dizer que não se tem tempo nem para comer, esse evangelho começa
constatando exatamente isso, pois Jesus e seus discípulos chegaram na casa de
alguém onde pretendiam tomar uma refeição, mas um grande número de
pessoas foram ali á sua procura e Jesus teve que lhes dar atenção. Não ter mais
tempo para si, vai ter para os seus parentes a conotação de loucura
“Ele está fora de si”. Amar as pessoas preocupar-se com elas, doar-se aos
serviços da comunidade para servir a Deus e aos irmãos, nos tempos da
pós-modernidade também soa como uma loucura, pois vivermos no mundo das
relações mercantilizadas onde tempo é dinheiro e perder tempo com coisas
que não dão nenhum retorno, é realmente coisa de louco.
Pior que esses parentes de Jesus que não
entendiam á sua missão, eram os escribas que atribuíam suas ações
libertadoras e curas prodigiosas á Belzebu, príncipe dos demônios,
acusando Jesus de fazer o Bem , através da força do mal, o que era uma grande
incoerência, pois Bem e Mal são duas coisas que jamais podem agir em conjunto,
se as obras de Jesus eram boas em si mesmo, curava e libertava as pessoas, elas
jamais poderiam provir do mal.
Em nossa sociedade também sofremos desse
mal, porém no sentido contrário, querendo atribuir ao Bem algo que
provém do mal, senão vejamos, para muitos, inclusive cristãos, a pena de morte,
o aborto, o divórcio, a eutanásia, são coisas do Bem, e já tem até traficante
de Favela pousando de herói do povo, defensor dos pobres, dos velhos e das
crianças. Quando isso acontece e essa mentalidade começa a dominar a todos, é
porque se está cometendo o temível pecado contra o Espírito Santo, que
Jesus afirma não ter perdão. E que pecado terrível será este?
Exatamente o mesmo que os Escribas e os
parentes de Jesus cometiam: o de não acreditar e não aceitar a Graça que Jesus
nos trouxe, em uma recusa contra a ação Divina, libertadora e Salvadora nele
presente, e colocada a favor das pessoas. Quem comete esse pecado está
apostando todas as suas fichas nas forças do Mal presente no mundo, por crer no
fundo, que esta é mais poderosa que o Bem supremo que Jesus nos oferece.
O Mal já foi derrotado por Jesus mas o
homem ainda não se apercebeu disso, o Reino está presente na vida da
humanidade, não de maneira ostensiva como a Força do mal, mas como
semente em desenvolvimento e que requer cuidado e atenção para crescer e ser a
maior de todas as árvores, mas o homem imediatista deste tempo prefere
acreditar no Mal e deixa de investir e acreditar no Bem.
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Domingo,
10 de junho de 2012
10º Domingo do Tempo Comum
Missionários Claretianos
Santos do Dia: Arésio, Rogato e seus quinze
Companheiros (mártires da África), Astério de Petra (bispo), Basílides,
Trípode, Mandal e seus vinte Companheiros (mártires na Via Aurélia, em Roma),
Bogomilo de Gnesen (monge, bispo), Cesúrio de Auxérre (bispo), Críspulo e
Restituto (mártires da Espanha), Evremundo de Fontenay (abade), Getúlio,
Cereal, Amâncio e Primitivo (mártires de Tívoli), Iladan de Rathlihen (bispo),
Itamar de Rochester (bispo), Landérico de Novalese (monge, mártir), Landérico
de Paris (bispo), Maurino de Colônia (abade), Máximo de Nápoles (bispo,
mártir), Olívia de Palermo (virgem, mártir), Timóteo de Prusa (bispo, mártir),
Zacarias de Nicomédia (mártir).
Jesus, com sua ação e sua palavra, desafia os costumes da época. Sua forma de
agir se converte em uma ameaça para a autoridade política do momento;
transforma-se em blasfêmia para o aparato religioso e se constitui em
verdadeira vergonha para os mais próximos dele e até para os de sua família.
Hoje vemos como a família de Jesus o busca, com o único desejo de deter sua
ação no meio daquela sociedade. Jesus não é compreendido pelas pessoas de seu
tempo, tampouco pela sua família. Ele, que era um líder social e religioso,
vive na própria carne a rejeição e a incompreensão dos seus. As pessoas estão
tão conformadas com a realidade em que vivem que não se imaginam em algo novo,
não querem conhecer novas realidades, nem de Deus nem do ser humano, nem de sua
sociedade. Jesus sabe que tem que pagar muito caro ao tocar nas estruturas de
poder. A incompreensão é um dos testes para a autenticidade de nossa missão.
Os familiares acreditavam
que Jesus estivesse fora de si, maluco; mais ainda: agora os líderes religiosos
lançam o boato de que estava possuído por Belzebu, o chefe dos demônios, devido
aos exorcismos que realizava.
A maneira mais eficiente
dos inimigos tentarem abalar o prestígio de Jesus foi satanizar a sua obra.
Jesus não seria apenas um louco digno de pena, mas um agente de Satanás. Jesus,
porém, descobre suas más intenções. Aí aparece a forma como o mal se manifesta:
na tentativa de perverter a intenção dos que fazem o bem. Porém o evangelista
nos diz: com chegada do reino de Deus, com a chegada de Jesus, o mal vai ser
derrotado. O bem vai vencer a maldade do coração humano e das estruturas
sociais perversas. Jesus veio para isso: para destruir o reino do mal que
destrói a dignidade do ser humano. E o demônio deveria ser detido e impedido de
agir.
No mundo de hoje muitos
procuram demonizar a atuação e o compromisso dos que são comprometidos com a
justiça e a paz. Muitas vezes são tachados de demagogos, comunistas,
pró-terroristas. A forma de descobrir o que é de Deus e o que não é já foi dada
por Jesus: por seus frutos os conhecereis.
Oração
Senhor, que sejamos portadores de tua luz e tua paz. Que afastemos
de nós toda treva e pecado. Ensina-nos a viver na alegria e que as pessoas
sintam em nós a tua presença
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Dia 10 de junho- domingo
Mc 3,20-35
www.franciscanos.org.b
Escribas e irmãos de Jesus se opõem
ao seu projeto de Reino de Jesus, o novo Éden. A serpente/Satanás continua
agindo.
O evangelho de hoje mostra Jesus na
sua casa, a física e a dos pobres, por quem ele tinha especial apreço. Seus
familiares, sabendo de suas ações, tentaram impedi-lo, condenando-o de louco.
Antes que chegassem seus irmãos, os escribas já dão a sentença: “ele está
possuído por Belzebu, bem como realiza tudo em parceria com Satanás” (v.22).
Jesus se defende dizendo que as suas ações não podem ser feitas em parceria com
quem já é seu inimigo, Satanás. Fazendo jogo com o substantivo Satanás, aquele
que divide, assim como a serpente da primeira leitura, Jesus demonstra que um
reino e uma casa divididos não podem subsistir. Assim como no paraíso, Deus
condena a serpente, Jesus condena os escribas de blasfemadores do Espírito
Santo, seu real parceiro na missão, e decreta que eles não terão perdão por tal
atitude.
Nesse momento, Maria e os irmãos de
Jesus chegam para se encontrarem com Jesus. Tendo a multidão impedido a
passagem deles, Jesus, avisado do fato, declara em alto e bom tom que sua mãe e
os seus irmãos são aqueles que fazem a vontade de Deus. A resposta de Jesus,
dura em um primeiro momento, teve várias repercussões entre os intérpretes
desse texto. Irmão, em hebraico ’ah, significa irmão de sangue, mas também
parentes próximos, patrícios e vizinhos. São Jerônimo dirá que no evangelho
trata-se de primos de Jesus. Os evangelhos apócrifos nos conservaram a tradição
de que José, ao ser escolhido para casar-se com Maria era viúvo, tinha 90 anos
e quatro filhos: Judas, Justo, Tiago e Simeão; e duas filhas: Lísia e Lídia.
Quando Maria chegou à casa de José, ela logo se afeiçoou a Tiago, o filho
menor de José, que ainda sofria a ausência da mãe. Maria cuidou dele como mãe.
O evangelho de Mateus fala, por isso, de Maria, a mãe de Tiago (Mt 27,56),
embora não o fosse. Sendo assim, os irmãos de Jesus são de criação. Assim,
Jesus, seguindo o mesmo trocadilho com o substantivo Satanás, quis dizer que os
seus irmãos são também os que seguem os seus ensinamentos, povo e discípulos
(as), inclusive sua mãe. Jesus não nega os seus irmãos, e tampouco sua mãe.
Isso não era possível na cultura judaica. Irmão aqui quer dizer aquele que
assume a causa, contrário a Satanás, aquele que divide, tornando-se uma
serpente, assim como agiram os escribas.
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Dia 10
Marcos
3,20-35
”.
E a união em torno da pratica da vontade de Deus que cria os novos laços
familiares no Reino. Viver – Maria Regina
O evangelho
de Marcos revela a nova geração entre o povo e Deus, que se estabelece através
de Jesus. o que se vê é uma grande multidão de excluídos , seja dentre os
gentios, seja da dispersão do judaísmo, que se reúne em torno da casa onde se
encontra Jesus. Esta multidão se diferencia do “pequeno resto”, estabelecido na
sinagoga e no Templo, gozando de privilégios e isolando da maioria do povo,
considerada pecadora por infringir qualquer um dos 613 mandamentos da Lei,
tendo como protótipo Eva, que infringiu a proibição do criador.
Com Jesus temos uma nova realidade, destacada pelos evangelhos ao
mencionarem centro e quarentena e nove vezes a “multidão” que se relacionado
com Jesus. Esta relação é uma característica muito mais marcante da índole e da
personalidade de Jesus do que as narrativas de seus milagres possam significar.
É uma chave de leitura para compreendermos a presença de Jesus no mundo, em
relação com todos os povos e culturas, não se limitando a grupos religiosos
específicos.
O termo grego
traduzido por “familiares” pode significar uma proximidade consanguínea ou de
amizade. Pode-se também interpretar que o verbo usado no texto, “enlouqueceu”,
refira-se a Jesus ou a multidão. Assim, pode-se entender que, ou os familiares
ou os discípulos de Jesus, não o compreendendo e julgando-o fora de si, queriam
retê-lo, ou julgamento a multidão demais agitada queiram protegê-lo.
Os escribas vindos de Jerusalém são os enviados dos chefes religiosos que
tinham em mãos o culto sacrifical do Templo e o dinheiro do Tesouro, anexo ao
Templo. Eles se empenham em difamar Jesus, para afastar o povo dele.
O
Espírito Santo é o amor. Considerar as obras de amor do Espírito como sendo
obras do demônio significa o distanciamento e até a ruptura com o próprio amor
de Deus. Rejeitar e matar os que com amor buscam resgatar a dignidade humana
dos empobrecidos explorados e excluídos significa a rejeição da vida e do amor
de Deus.
A partir de uma referencia à sua família carnal, Jesus afirma: “Quem é minha
mãe? Quem são meus irmãos? Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha
irmã e minha mãe”. E a união em torno da pratica da vontade de Deus que cria os
novos laços familiares no Reino. Viver o amor, o serviço, a partilha, a
misericórdia, solidariamente com os mais necessitados, é inserir-se na família de
Jesus, quer seja por laços consanguíneos, quer não, certo da comunhão de vida
eterna com Jesus.
Amém
– Maria Regina
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Evangelhos
Dominicais Comentados
10/junho/2012 -- 10o Domingo da Páscoa
Evangelho: (Mc 3, 20-35)
Este Evangelho nos leva a vivenciar
a vida agitada de Jesus e de seus discípulos. Apresenta-nos Jesus sempre pronto
a atender todos os que o procuravam. É tão grande sua preocupação em ouvir os
menos favorecidos, que não lhe sobrava tempo, nem mesmo para comer.
Jesus não se limitava a falar. Seu
testemunho, sua abnegação é um exemplo que deve ser imitado por nós que
freqüentemente relutamos em abrir as nossas portas aos estranhos, a ouvir seus
lamentos e a lutar por mudanças.
Observe que os apóstolos, os auxiliares de Jesus, também não têm
tempo para cuidar de si próprios e, nem podem! Jesus não aceita o comodismo e
exige que o atendimento seja carregado de amor e dedicação. Exige dedicação
total ao próximo. Quem não se doa totalmente, não consegue permanecer ao lado
de Jesus. É impossível trabalhar ao lado do Mestre sem renúncia e
sacrifícios.
O seguidor de Jesus deve estar
disposto a renunciar aos seus momentos de lazer e sacrificar seus horários de
refeições para se colocar a serviço do Reino.
Certamente é preciso muita coragem para seguir Jesus. Nem sempre estamos
dispostos a permitir mudanças em nossa rotina e em nossos hábitos diários.
Não pode haver intervalo, nem mesmo para um lanche, enquanto houver
uma só pessoa para ser atendida. Nem pensar em parar enquanto um único irmão
estiver necessitando de uma palavra. Precisamos imitar esse Mestre, exigente e
amoroso, sempre pronto a ouvir, sempre disposto a perdoar. Deixa tudo de lado
por amor.
No entanto, esse seu empenho, essa sua dedicação faz com que, até
mesmo seus parentes e amigos o considerem um louco ou fora de si. Por isso,
você discípulo, discípula de Jesus, não estranhe que pessoas de seu convívio
venham a criticá-lo por se empenhar na árdua tarefa de fazer a vontade do Pai.
Lute sempre! Jesus não se intimida, assume a postura de um leão e
esclarece que fazer a vontade de Deus é algo concreto e definido. É algo
espontâneo que deve expressar a nossa livre escolha e a nossa liberdade. A
vontade de Deus é fazer-nos entender que o que nos identifica, e nos une como
irmãos, é muito mais do que o parentesco e a amizade, é muito mais do que laços
de sangue.
O que nos une como família e como filhos do mesmo pai é o amor. Não
basta morar na mesma casa, não basta viver sob o mesmo teto, é preciso fazer a
vontade do Pai para ser chamado de irmão, de irmã e de mãe. Deus é Pai, é Amor
e quer ver-nos transformados.
Vamos então transformar o nosso modo de agir e de pensar. Em nome
da justiça e da paz vamos assumir a postura de um leão e, em nome da unidade,
assumir a mansidão do cordeiro. Vamos viver o amor, essa é a vontade do Pai.
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“A família de Jesus” - Claudinei M. Oliveira.
Domingo, 10 de Junho de 2012.
Evangelho: Mc 3, 20-35
Neste
domingo da graça do Senhor reunimos em torno do altar para dar
glória a todas as coisas boas recebidas e por bendizer Seu Santo
nome. Jesus é a luz que indica o caminho a ser seguida com segurança a fim de
sedimentar a fé como princípio da adesão ao seu projeto de vida e de
comunidade. No passado, Jesus concebido pelo Espírito Santo, se fez homem e
habitou entre os víveres. Sentiu todas as injustiças sofridas pelo seu povo,
não desanimou e partiu para a construção de uma grande família. Para
tanto, todos aqueles que temem a Deus e seguem seus preceitos são
verdadeiramente irmãos, primos, pais e mães de Jesus, pois, superou a ordem
estabelecida do homem da cidade grande (Jerusalém) e abraçou a verdadeira
justiça que não aceita o mal como divisor do bem.
Mas
aqueles que não compactuavam com a prática de Jesus o julgava como doido ou
possuído de demônio. Com estas palavras tentavam desmascarar o trabalho lindo do
Mestre que não tinha medo de denunciar as desordens estabelecidas pelos
aproveitadores. Entretanto, enquanto o Homem de Nazaré percorria as periferias
das cidades e os centros urbanos levando a mensagem da desalienação,
os mestres da Lei juntavam-se num complô falaciano na tentativa de prendê-Lo
para calar a voz da libertação.
Porém,
como Jesus estava cercado por pessoas que compreenderam a lição na ponta da
língua dificilmente corria o risco de ser preso ou exilado para sua terra
natal. Não que Jesus escondia entre a multidão, afinal não tinha como esconder
porque era uma pessoa pública, contudo, a multidão o protegia dos
rastejadores do poder econômico e do poder político.
Veja
como uma pessoa foi capaz de colocar um pedregulho no calçado de muitos sem
coração! Jesus fez isto muito bem. Sendo um homem pobre, nascido no meio dos
miseráveis, sem instrução necessária para concorrer com os ditos “sabidos” do
templo, deixou todos com a pulga atrás da orelha: ou aceita os
ensinamentos novos, para um novo Reino da justiça, ou acabe com ele para não
deixar crescer a fúria do povo. É sabido de todos que quando o povo tem
instrução e conhecimento real do que está acontecendo, nada segura o avanço do
mesmo sobre seus direitos. Por isso que os “mandam chuvas” de
Jerusalém temiam a reação do povo se Jesus continuasse insistindo em ensiná-los
os caminhos para superar os obstáculos.
A
condenação do mal no meio do povo já é bem antiga. Em Gênesis encontramos uma
passagem em que o Senhor ao visitar Adão e Eva percebeu que estavam escondendo
dele. Como pode minhas criaturas ter vergonha de mim? Dei tudo que
precisava! Ah, esqueci que tinha proibido de comer dos frutos
de certa árvore, e com certeza, infligiram a regra e comeram! Foi
isto mesmo que aconteceu. Eva e Adão deixaram o mal penetrar em suas vidas, em
seu habitat e colocou tudo a perder. Agora sente vergonha do Seu Senhor. O
Senhor, então, perguntou ao mal (a serpente): “Por que
fizeste isso, serás maldita entre todos os animais domésticos e todos os
animais selvagens! Rastearás sobre o ventre e comerás pó todos os dias da tua
vida!”. O senhor condenou o mal que deu vida mal para o homem que criou
com prazer para embelezar a natureza.
Todavia,
perguntamos: quais os males que insistem em desviar as virtudes boas do
homem? Olha que tem males em quantidade elevada como: a cobiça, o
ódio, a traição, as injustiças. Estes males destoem à vida solidária na
sociedade, acabam com a estrutura da família, plantam a divisão num grupo que
vivia em harmonia. Estes males foram condenados pelo Senhor.
Mesmo
tão distante no tempo da criação parece que foi ontem que aconteceu a chegada
do mal no seio da humanidade. São tantos males que insistem em praguejar a vida
com Deus que acabam criando um mal-estar com a doutrina da fé. São pessoas
desviadas do caminho correto sob efeito das drogas licitas e ilícitas,
permeadas no mundo da corrupção, das vantagens e nas elucubrações
alienantes. São pessoas viciadas no mau que atacam vidas
inocentes sob práticas de abuso sexuais em menores, estupros, mortes violentas
e desovas de corpos. Ainda por cima encontramos o mal fazendo
dicotomia nas famílias; pais maltratam filhos, filhos matam pais, avós, ou
seja, ninguém mais entende o outro, tudo por causa do encardido posto no meio
da vida do homem.
Já
na segunda Carta de são Paulo aos Coríntios, lemos um motivo de ser fiel ao
Deus, quando Paulo escreve: “(...) não desanimamos. Mesmo se o nosso
homem exterior se vai arruinando, o nosso homem interior, pelo contrário,
vai-se renovando dia-a-dia”. Para tanto, faz se necessário
acreditar na presença real de Deus, sem Ele não consegue o homem
interior se refazer por completo. Isto acontece por causa dos males que tentam
a todo custo pleitear o discernimento do homem exterior, ou seja, o mal
sobrepõe o homem interior com severidade, cegando-o, e induzindo a caminhos
errados. Entretanto, Paulo afirma que fazemos parte da família de
Deus e, portanto, temos a hombridade de segui-lo em todos os aspectos.
Neste
contexto do mal, assolando a família de Deus, aparece no Santo Evangelho.
Surgem dois grupos tentando tirar Jesus da cena. Primeiro surge seus familiares
que acreditavam que Ele estava louco, por contrariar os costumes, as leis
vigentes. Assim os parentes consideraram a atitude de Jesus uma loucura. Na
verdade, os parentes de Jesus querem evitar que Jesus “saísse do normal”, isto
é, contrariar as leis e costumes da época era anormal, o
normal seria obedecer cegamente e sem crítica as leis severas e as tradições
retrógradas. Mas, a prática de Jesus não condizia com as injustiças
e, portanto deveria sim ser criticada e renovada para o bom uso do povo de
Deus. Veja que ainda hoje acontece esta cena: quem ousa a
querer fazer interpretação diferente nas tradições alienantes ou resolve
colocar o dedo na ferida de alguns homens de colarinho branco, com certeza,
sofrerá sansões severas ou até poderá desaparecer sem deixar rastros.
Lamentável esta situação na sociedade do século XXI que se diz democrática!
Continuando
a reflexão notemos o segundo grupo que foi a Cafarnaum com a missão de prender
o Mestre, eram os doutores da Lei, homens instruídos que tinha o poder de
decidir o que se pode ou o que não se pode fazer. Chegaram com a sentença
debaixo das mangas: “Ele está possuído por Belzebu” e “É
pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios”. Com
isso acusaram Jesus de estar possuído pelo pior dos demônios e estava agindo em
nome dele. Veja que blasfêmia, que torpeza.
Jesus
sai deste imbróglio de forma magnífica: “como pode expulsar demônios
pelo poder do demônio é absurdo, pois se assim fosse, Satanás
estaria destruindo a si mesmo”. Jesus sabiamente tinha como colocá-los
na berlinda facilmente. Tentaram acusar Jesus de cura através do próprio mau.
Isto é inconcebível. Do mesmo modo Jesus interpela: se um ladrão vai
a casa de uma pessoa forte, primeiramente vai amarrá-lo, para dominá-lo, assim
vai levar o que quiser, porém, se não amarar o dono da casa, com certeza
encontrar dificuldade em agir. Contudo a cartada fulminante vem em seguida na
afirmação de Jesus: “quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca
será perdoado, pois a culpa desse pecado dura para sempre”. Se
quiserem acabar com Jesus, vai ter muito trabalho, pois o Espírito
Santo, que é Deus, penetrou no Ser de Jesus e nenhum mal vai conseguir
derrubar.
Os
argumentos dos doutores da Lei se voltam contra si pelo descuido ou pela sede
exagerada de eliminar a verdadeira justiça. Pois querendo impedir
que Jesus realize sua prática nociva para o sistema que defendem, negam para si
a possibilidade de entrar no Reino.
Portanto,
a grande família de Jesus são todos aqueles que aderiram ao seu projeto e, por
conseguinte, fizeram a vontade do Pai. Não que Jesus desconhecesse seus pais e
irmãos, mas a grande família dava segurança e vivacidade no seu
projeto. Tanto que em sua casa, cercados de pessoas admiradas, não
enxergou seus parentes fora da casa, mas quem estava dentro da casa eram
pessoas compromissadas com seu projeto e assim a vontade de Deus pode ser
realizada através dele. Amém!
Claudinei
M. Oliveira
“BLASFEMAR CONTRA O ESPÍRITO SANTO, É UM
PECADO SEM PERDÃO”. - Olívia Coutinho
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X Domingo do tempo comum
Dia 10 de Junho 2012
“BLASFEMAR CONTRA
O ESPÍRITO SANTO, É UM PECADO SEM PERDÃO”. - Olívia Coutinho
Evangelho
Mc 3,20-35
Vivemos numa cultura do individualismo, do descartável!
O mundo continua rejeitando a proposta de Jesus, são muitos os que não
querem enxergar a verdade que liberta, preferindo a escravidão do consumismo,
dos prazeres do mundo.
Dar testemunho de Jesus, num mundo onde a inversão de valores
distancia a humanidade da sua verdadeira origem, chega a ser um grande desafio,
mas é justamente dentro desta triste realidade, que o testemunho se faz
necessário.
O
testemunho de quem vive no amor, incomoda quem não quer
mudar de vida, é daí que vão surgindo as divisões, principalmente
dentro da família; uns aceitam a proposta de Jesus, outros fazem opção pelas
propostas do mundo.
O
anuncio do Reino, não entra no coração de quem já fez a sua opção pelas coisas
do mundo, esses, não querem mudanças, pois já se sentem beneficiados por este
sistema injusto que oprime o povo.
Todo
aquele que faz opção por Jesus, já sabe dos desafios que encontrará pela
frente, sabe que será criticado, que será taxado como moralista,
ironicamente chamado de "santo", ou até mesmo de louco.
A cruz
é inevitável na vida daquele que quer levar em frente a missão de anunciar o
Reino de Deus, pois as forças contrárias ao evangelho, tentam a todo
custo tirá-lo do caminho.
Jesus
venceu o mal, o pecado e a morte, nós também venceremos, se ligados a Ele!
A
todo instante, somos chamados a conversão, mas para atendermos este apelo de
Jesus, precisamos estar abertos à graça que vem do alto, se tivermos
voltados somente para as coisas do mundo, perdemos a noção do que é
pecado, neste estado de alma, é impossível a conversão, pois não abrimos ao
Espírito Santo.
O evangelho de hoje, nos chama a atenção para um risco muito grande que
corremos, quando não estamos em sintonia com o projeto de Deus, quando não
assimilamos a proposta do Reino, anunciado por Jesus. Foi o que aconteceu com
alguns parentes de Jesus, que se deixaram levar pelos pensamentos humanos,
chegando ao ponto de achar que Jesus estava louco por defender a causa do
Reino. Isso também pode acontecer conosco, quando não entendemos a
dinâmica do Reino.
O
texto também nos alerta, sobre o perigo de nos contaminar com a
pior cegueira que existe: ver e não querer enxergar, e da pior doença do
ser humano, a de não querer ser curado.
Foi o que aconteceu com os doutores da
lei, vindos de Jerusalém, centro da oposição à proposta nova de Jesus. Eles
sabiam que Jesus era o enviado de Deus, mas não queriam enxergar esta verdade,
para não terem que mudar, já que o mal para eles, era visto como o
bem.
Diferente
do povo, que clamava por mudanças, os doutores da lei, não queriam mudanças,
pois eles já se beneficiavam das vantagens das leis vigentes, que eles mesmos
criaram para satisfazer seus próprios interesses.
Quem se fecha ao Espírito, torna-se incapaz de discernir a manifestação
da misericórdia de Deus. Fechar-se a ação do Espírito Santo, significa
fechar-se a misericórdia de Deus, é não querer o perdão.
Jesus nos assegura: o nosso seguimento a Ele, nos torna íntimos, ao
ponto de constituir conosco, um vínculo mais forte que o familiar.
Maria entendeu tudo isso, ela foi a primeira discípula de Jesus, a
primeira pessoa, que colocou o Reino de Deus acima de todas as relações
de parentescos, quando abriu mão de todos os seus projetos
pessoais, para entregar-se por inteira, à vontade de Deus.
Foi Maria, a mãe de Jesus, que proclamou: “bem-aventurados todos
os que ouvem a palavra de Deus e as põe em prática”, o que ela sempre fez.
Ser mãe, irmão, irmã de Jesus, é fazer a
vontade de Deus!
FIQUE NA PAZ DE JESUS! - Olívia
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Domingo, 10 de junho de 2012
Missionários Claretianos
10º
Domingo do Tempo Comum
Santos do Dia: Arésio, Rogato e seus quinze
Companheiros (mártires da África), Astério de Petra (bispo), Basílides,
Trípode, Mandal e seus vinte Companheiros (mártires na Via Aurélia, em Roma),
Bogomilo de Gnesen (monge, bispo), Cesúrio de Auxérre (bispo), Críspulo e
Restituto (mártires da Espanha), Evremundo de Fontenay (abade), Getúlio,
Cereal, Amâncio e Primitivo (mártires de Tívoli), Iladan de Rathlihen (bispo),
Itamar de Rochester (bispo), Landérico de Novalese (monge, mártir), Landérico
de Paris (bispo), Maurino de Colônia (abade), Máximo de Nápoles (bispo,
mártir), Olívia de Palermo (virgem, mártir), Timóteo de Prusa (bispo, mártir),
Zacarias de Nicomédia (mártir).
Jesus, com sua ação e sua palavra, desafia os costumes da época. Sua forma de
agir se converte em uma ameaça para a autoridade política do momento;
transforma-se em blasfêmia para o aparato religioso e se constitui em
verdadeira vergonha para os mais próximos dele e até para os de sua família.
Hoje vemos como a família de Jesus o busca, com o único desejo de deter sua
ação no meio daquela sociedade. Jesus não é compreendido pelas pessoas de seu
tempo, tampouco pela sua família. Ele, que era um líder social e religioso,
vive na própria carne a rejeição e a incompreensão dos seus. As pessoas estão
tão conformadas com a realidade em que vivem que não se imaginam em algo novo,
não querem conhecer novas realidades, nem de Deus nem do ser humano, nem de sua
sociedade. Jesus sabe que tem que pagar muito caro ao tocar nas estruturas de
poder. A incompreensão é um dos testes para a autenticidade de nossa missão.
Os familiares acreditavam
que Jesus estivesse fora de si, maluco; mais ainda: agora os líderes religiosos
lançam o boato de que estava possuído por Belzebu, o chefe dos demônios, devido
aos exorcismos que realizava.
A maneira mais eficiente
dos inimigos tentarem abalar o prestígio de Jesus foi satanizar a sua obra.
Jesus não seria apenas um louco digno de pena, mas um agente de Satanás. Jesus,
porém, descobre suas más intenções. Aí aparece a forma como o mal se manifesta:
na tentativa de perverter a intenção dos que fazem o bem. Porém o evangelista
nos diz: com chegada do reino de Deus, com a chegada de Jesus, o mal vai ser
derrotado. O bem vai vencer a maldade do coração humano e das estruturas
sociais perversas. Jesus veio para isso: para destruir o reino do mal que
destrói a dignidade do ser humano. E o demônio deveria ser detido e impedido de
agir.
No mundo de hoje muitos
procuram demonizar a atuação e o compromisso dos que são comprometidos com a
justiça e a paz. Muitas vezes são tachados de demagogos, comunistas,
pró-terroristas. A forma de descobrir o que é de Deus e o que não é já foi dada
por Jesus: por seus frutos os conhecereis.
Oração
Senhor, que sejamos portadores de tua luz e tua paz. Que afastemos
de nós toda treva e pecado. Ensina-nos a viver na alegria e que as pessoas
sintam em nós a tua presença.
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Saudade do paraíso, vivência do reino e
imortalidade na ressurreição
As leituras de hoje nos levam a refletir sobre a
nossa condição humana de viver optando ora pelo bem, ora pelo mal. Estivemos no
simbólico paraíso terrestre e decidimos sair dele para viver lutando pela
sobrevivência, em meio a espinhos e dores. Muitos dos conterrâneos de Jesus não
o aceitaram como enviado de Deus e lhe fizeram oposição, até mesmo seus irmãos.
Após a morte de Jesus, viver, para o cristão, passou a ser a certeza de que
reconquistaremos a nossa morada eterna e definitiva. Vejamos como as leituras
que ouvimos nos ajudam a compreender esses mistérios.
1ª leitura: Gn. 3,9-15
A estulta serpente / o mal engana as pessoas
A primeira leitura de hoje faz parte de um bloco
maior de texto: Gn 2,4b-3,24, escrito no século IX a.E.C. Trata-se de narrativa
mitológica da condição humana no paraíso e fora dele. O trecho do qual nos
ocupamos aqui fala da expulsão do paraíso. O que vem antes é bem conhecido de
todos nós, ou seja: não havia ser humano para cultivar o solo. Havia um jardim
com quatro rios e, no meio dele, duas árvores, uma da vida e outra do
conhecimento do bem e do mal. Deus cria os seres humanos com o objetivo de eles
gerarem filhos; Adão e Eva, o tirado da terra e a mãe dos viventes, que
representam o ser humano de forma geral. Nunca existiram como personagens.
Trata-se de profundo simbolismo; sua verdade não é da ordem da história
positivista.
O casal é colocado nu no jardim, com a proibição de
comer o fruto da árvore do conhecimento. Até que um dia a serpente, na sua
estultícia, os engana, e eles comem do fruto proibido. O medo se apodera deles.
Ambos abrem os olhos, veem-se nus e passam a ter vergonha, a ponto de terem de
se cobrir com vestes de folhas que eles mesmos teceram. Ouvindo os passos de
Deus, que passeava pelo jardim, eles se escondem, porque também já sentem medo.
Deus os interroga pelo ato de desobediência. Homem e mulher acusam a serpente.
Todos os três recebem um castigo do Criador. A serpente se arrastará e será
pisada pela mulher, que, agora, chamada de Eva – a mãe dos viventes –, passará
a ter dores de parto e desejo voltado para o homem; já o homem terá de tirar do
solo maldito o sustento com o suor do seu rosto. O fim é trágico: a perda do
paraíso. Para cobrir as vergonhas, eles recebem de Deus uma roupa de pele. Fora
do paraíso, uma nova etapa se inicia na vida deles. O cultivo do solo para
comer passa a ser um labor pesado e diário. O paraíso é lacrado. Um querubim e
uma espada fulgurante passam a guarnecê-lo, impedindo ao ser humano o acesso ao
caminho da árvore da vida.
Esse clássico texto da literatura bíblica foi, ao
longo da história da humanidade, fonte de inspiração para tantos outros, para
pinturas, discursos poéticos e moralistas. A esperança de retorno ao paraíso
perdido e a saudade dele foram, e continuam sendo, objeto de desejo dos
humanos, sejam eles judeus, sejam cristãos. Na sinagoga judaica, a árvore da
vida recebe os nomes dos falecidos. Para os cristãos, Jesus é o caminho, a
verdade e a vida em Gn. 2,4b-3,24. Com a sua morte e o seu sangue derramado na
terra outrora maldita, a vida eterna volta a ser condição para o ser humano,
que ressuscitará com ele. Na organização dos livros que compõem a Bíblia, há o
cuidado de colocar, como livro final, o Apocalipse, que descreve uma nova
Jerusalém Celeste – um novo Éden Celeste –, tendo no seu centro, também, uma
árvore da vida. Alguns elementos desse mito que explicam a condição humana e
sua relação com o sagrado merecem destaques, tais como:
a) Jardim: símbolo do paraíso terrestre. “Jardim”
em hebraico é gan, que também significa proteger. No Oriente Antigo, na Pérsia
e na Babilônia, era muito comum a construção de um jardim cercado. Os jardins
podiam ser propriedade exclusiva de um rei, bem como simbolizavam o poder real
e o seu controle sobre a agricultura e as fontes de água. Muitos deles eram
ornamentais e serviam para o descanso do rei ou para a sua sepultura (2Rs.
21,18.26). Na leitura, o jardim é chamado de Éden. Éden é substantivo hebraico
que significa “delícias”. O jardim passa a ser um paraíso celeste. Um paraíso
das delícias em um jardim plantado no Éden (Gn. 2,8), região e lugar da
felicidade plena. Deus é o companheiro do ser humano, que vive em plena
liberdade sem se preocupar com nada. O mito expressa o desejo humano, que, na
sua relação com o Sagrado (Vida), foi possível outrora e será novamente. Jardim
é sinônimo de esperança, de vida realizada. Não é por menos que Is. 51,3 chama
o Éden de “Jardim do Senhor”.
b) Árvores da vida e do conhecimento: a primeira
árvore é o símbolo da imortalidade, a segunda, do conhecimento do bem e do mal.
No último livro da Bíblia, o Apocalipse cita a árvore da vida no centro da Nova
Jerusalém (Ap 22,2). A nova árvore da vida representa o novo céu e a nova
terra. Trata-se de uma inclusão. Sabedor de sua condição mortal, o ser humano
almeja a imortalidade. Ele sabe também que essa condição só é possível no
Sagrado, em Deus. Por isso, o seu desejo será sempre o da imortalidade. Ninguém
quer morrer, à exceção daqueles que perdem o sentido da vida. Na mitologia, a
fonte da vida está na divindade, nos deuses, os quais não aceitam repassar esse
segredo para o ser humano. No texto em questão, o fato de Deus passear pelo
jardim demonstra que a vida humana está, no paraíso, bem próxima de Deus. Há,
no entanto, um contraste: o fruto da árvore da vida confere imortalidade, o da
árvore do conhecimento, a morte. Ao ser humano fica expressa a proibição divina
de não comer o segundo fruto (Gn. 2,17). Ao ser humano, após comer
mitologicamente esse fruto, é conferida a faculdade de optar pelo bem ou pelo
mal. A primeira consequência de tudo isso foi a perda do paraíso.
c) Serpente: um animal astuto e falador, portador
de falsas promessas, deixando as consequências para os humanos. A serpente no
mundo antigo tinha vários simbolismos, sobretudo aqueles relacionados com a
vida e o poder opressor de um país. O faraó tinha uma serpente sobre a sua
cabeça para representar o seu poder, a vida e sua imortalidade. Na Babilônia, a
divindade principal, Marduk, era representada por uma serpente-dragão. Em
Israel, a partir de Gênesis, a serpente passou a significar a força do mal.
d) Punição: o encontro da serpente com os humanos
se transformou em punição para a serpente, que deverá se arrastar pela terra e
terá a descendência da mulher como sua inimiga. A mulher, por sua vez, terá
dores de parto, e o homem terá de cultivar a terra com seu suor. A parceria
entre Eva, Adão e a serpente resulta em sofrimento. O poder da serpente leva o
homem a viver de suor e fadigas. A serpente, o poder dominador, precisa desse
trabalho forçado para sobreviver. O homem se torna pó da terra e morre de tanto
trabalhar. O mito explica o sofrimento pelo viés da opressão, que o lavrador
conhecia.
Evangelho: Mc. 3,20-35
Escribas e irmãos de Jesus se opõem ao projeto de
reino de Jesus, o novo Éden. A serpente/satanás continua agindo
O evangelho de hoje mostra Jesus na sua casa, a
física e a dos pobres, por quem ele tinha especial apreço. Seus familiares,
sabendo de suas ações, tentaram impedi-lo, julgando-o louco. Antes que
chegassem seus irmãos, os escribas já dão a sentença: “Ele está possuído por
Belzebu, bem como realiza tudo em parceria com satanás” (v. 22). Jesus se
defende, dizendo que as suas ações não podem ser feitas em parceria com quem já
é seu inimigo, satanás. Fazendo jogo com o substantivo “satanás”, aquele que
divide, assim como a serpente da primeira leitura, Jesus demonstra que um reino
e uma casa divididos não podem subsistir. Assim como no paraíso Deus condena a
serpente, Jesus condena os escribas, acusando-os de blasfemadores do Espírito
Santo, seu real parceiro na missão, e decreta que eles não terão perdão por tal
atitude.
Nesse momento, Maria e os irmãos de Jesus chegam
para se encontrar com ele. Tendo a multidão impedido a passagem deles, Jesus,
avisado do fato, declara em alto e bom som que sua mãe e seus irmãos são
aqueles que fazem a vontade de Deus. A resposta de Jesus, dura em um primeiro
momento, teve várias repercussões entre os intérpretes desse texto. Irmão, em
hebraico ’ah, significa irmão de sangue, mas também parentes próximos,
patrícios e vizinhos. São Jerônimo dirá que no evangelho se trata de primos de
Jesus. Os evangelhos apócrifos nos conservaram a tradição de que José, ao ser
escolhido para casar-se com Maria, era viúvo, tinha 90 anos, quatro filhos –
Judas, Justo, Tiago e Simeão – e duas filhas, Lísia e Lídia. Quando Maria
chegou à casa de José, logo se afeiçoou a Tiago, o filho menor de José, que
ainda sofria a ausência da mãe. Maria cuidou dele como mãe. O Evangelho de
Mateus fala, por isso, de Maria, a mãe de Tiago (Mt 27,56), embora ela não o
fosse. Sendo assim, os irmãos de Jesus são de criação. Portanto, Jesus, seguindo
o mesmo trocadilho feito com o substantivo “satanás”, quis dizer que irmãos
seus são também os que seguem os seus ensinamentos, povo e discípulos(as),
incluindo sua mãe. Jesus não nega os seus irmãos, tampouco sua mãe. Isso não
era possível na cultura judaica. Irmão aqui quer dizer aquele que assume a
causa, ao contrário de satanás, aquele que divide, tornando-se uma serpente,
assim como agiram os escribas.
2ª leitura: 2Cor. 4,13-5,1
A ressurreição nos confere a imortalidade querida
pelo ser humano no paraíso
A primeira leitura nos apresentou o Éden como
morada paradisíaca da condição humana, que, por sua opção, diante da liberdade
proporcionada por Deus, acaba por perdê-lo. O ser humano alimenta uma saudade
eterna por ele. Já o evangelho nos anuncia que Jesus é a esperança que nos
mostra o caminho de volta. Ele age em parceria com o Espírito Santo e com todos
os que são seus irmãos. Nesta terceira leitura, Paulo expressa sua firme
convicção de fé na ressurreição de todos nós, no mesmo Deus que ressuscitou Jesus
(2Cor. 4,13-15). O apóstolo lembra que vivemos num corpo, morada terrestre que
será destruída em favor de uma morada eterna em Deus. Morre o ser humano
exterior para viver o interior. É como se dissesse: saímos de Deus para morar
num paraíso, perdemo-lo, mas, com a graça de Deus e o testemunho vivo de Jesus,
voltaremos para a eternidade. A imortalidade querida pelo ser humano, ao comer
o fruto proibido, só será possível com a ressurreição.
Pistas para reflexão
– Demonstrar à comunidade que a nossa vida é marcada
pela lembrança do paraíso perdido e pelo mal que nos levou a perdê-lo. A
parceira com a serpente, inclinação para o mal, ocasionou isso. Cabe-nos
esmagar-lhe a cabeça, o lugar pensante de toda vil estrutura humana
injusta.
– Os irmãos de Jesus somos todos nós, seus
seguidores. Muitas vezes, no entanto, tornamo-nos seus opositores, com satanás.
A Igreja é a grande irmã de Jesus na construção da sociedade justa, espelho de
seu reino. É uma pena que muitos cristãos e igrejas caminhem em sentido oposto.
O reino de Deus é a nossa esperança de um novo Éden, já presente, mas em
caminhada para a plenitude.
padre Jacir de Freitas Faria, ofm
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Adão, onde tu estás?
Temos saudade de viver num mundo de
harmonia. Por vezes nosso interior experimenta terremotos e
turbulências. Temos vontade de dizer com Paulo: “Quem nos
livrará deste corpo de morte” A essa desordem de nosso coração não é de
hoje. A Escritura nos ensina que tudo começou quando nossos primeiros
pais foram tentados pelo inimigo. Adão foge dos olhos de
Deus. Depois da queda não tem mais coragem de encarar o Senhor. Seu
interior se agita e tudo nele se atropela. Sim, o esposo de Eva, depois
de comer do fruto que não podia ser colhido, tendo feito isto por sugestão da
mulher, fica desamparado e some da vista do Senhor.
“Adão, aquele que plasmei do barro da terra,
Adão que recebeste de minhas narinas o sopro da vida, Adão tu que
circulavas pelo Paraíso e me encontravas no cair da tarde. De repente,
desapareceste. Onde estás?”
Adão dá explicação sem dar explicação. “Ouvi a tua
voz no jardim e fiquei com medo porque estava nu; e me escondi”. O homem
não dá a verdadeira explicação que seria o ter desobedecido a Deus. Na
verdade, a nudez de Adão que, antes do pecado, não era problema passou a ser
motivo de perturbação. Acontecera o pecado e a desordem estava
instaurada. O livro do Gênesis dá a entender que a serpente, o tentador , a
partir de então começou a perturbar a vida de nossos primeiros pais. O
Evangelho de Marcos hoje proclamado vai dizer que Jesus nada
tem a ver com Belzebu, o príncipe dos demônios. Os seus adversários
diziam queele estava possuído por um demônio, justamente aquele que viera para
estabelecer uma luta terrível contra o inimigo. Desde o deserto, passando
pelas coisas da caminhada, e chegando ao abandono da cruz…Jesus será aquele que
não se dobrará ao mal, terá como alimento fazer a vontade do pai e sendo de
condição divina não hesitou em tomar a condição de servo, não aceitando o ídolo
do prestígio. De aniquilamento em aniquilamento, não tendo uma pedra para
reclinar a cabeça, até o jardim das oliveiras e à colina do
Crâneo, Jesus vai vencendo o inimigo para que com o dom de
sua vida o pecado de Adão e o pecado de cada ser humano pudesse ser
perdoado. Para que pudéssemos olhar nos olhos do Senhor e não nos
importamos com nossa nudez, nossa pobreza, na obediência que se
transforma em riqueza.
Paulo, lembra que aquele que
ressuscitou Jesus dos mortos, também haverá de ressuscitar a nós. E
lembra: “ Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, nossos
homem interior, pelo contrário, vai se renovando a cada dia”. A
vida cristã é luta contra a tentação, contra as solicitações do mal, contra
essa proposta que é sempre repetida. “Se comerdes do fruto da árvore
proibida serias como deus”. Os homens de ontem e de hoje sempre
querem ser “deuses” . Quando conseguem seus intentos precisam correr e
buscar um esconderijo para esconder sua nudez….
“Ó homem, onde estás nesta altura de tua vida? Por
que te escondes de mim? Não te esqueças que no alto da cruz
arrancaram minhas vestes, expuseram minha nudez para que pudesse te vestir da
graça. Onde tu estás?”
frei Almir Ribeiro Guimarães
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Os verdadeiros irmãos e os adversários de Jesus
No evangelho de hoje, Mc apresenta a exigência da
conversão, da opção pró ou contra Jesus. Tudo gira em redor da pergunta pela
origem de seu “poder”: virá do demônio (1ª leitura) ou de Deus?
Esta questão é tratada por Mc. num “sanduíche”
literário. As fatias externas (3,20-21.31-35) são a tentativa dos parentes de
Jesus para desviá-lo de sua pregação messiânica, sob alegação de que ele “está
fora de si”, o que equivalia a dizer que ele estava possuído pelo demônio.
Quanto à intervenção dos parentes, Jesus explica que sua verdadeira família não
é a do sangue, mas a da fé operante: os que fazem a vontade do Pai (3,35).
Ficamos chocados porque a mãe de Jesus está incluída entre os parentes. Mas
isto acentua ainda mais a mensagem: a mãe de Jesus não tem prerrogativas por
causa de seu parentesco carnal, mas por causa da fé (como Lc sugere numa
duplicata do presente episódio: Lc. 11,27-28).
A fatia central (3,22-30) é a acusação de que Jesus
exorciza pelo poder de Beelzebul (6). A resposta de Jesus contém três
elementos.
1) Quanto a seu ”poder”: este não vem do demônio,
pois como poderiam o reino ou a casa do demônio ficarem em pé, se fossem
divididos? Convite velado para entender que o poder de Jesus vem de Deus e é
aquela misteriosa “autoridade” do Filho do Homem, que Mc já apontou na primeira
atuação de Jesus (cf. 4º domingo T.C.).
2) Quanto à pessoa de Jesus, uma pequena parábola:
se alguém quer arrombar uma casa (esta palavra a liga com a imagem anterior)
deve primeiro amarrar o “forte” que está lá dentro. Portanto, aquele que
consegue isso, é o “mais forte” título com o qual Jesus tinha sido anunciado
pelo Batista (1,7) e imagem messiânica (cf. Is. 49,24-25).3) Quanto aos
escribas: eles se firmam no próprio pecado do demônio, o orgulho contra o
Espírito de Deus. Mc. (3,28-30) utiliza aqui uma palavra que aparece,
provavelmente num contexto mais original, em Lc. 12,10. Em Lc., significa que o
que contraria o Filho do Homem (Jesus histórico) pode ser perdoado, mas não o
que se faz contra o Espírito Santo, que auxilia os cristãos na perseguição (Lc.
12,11-12; a apostasia). Em Mc., significa que tudo pode ser perdoado (por Jesus
ou por Deus, cf. Mc. 2,10.17), mas não o pecado contra o Espírito Santo, ou
seja, a rejeição da força de Deus que se revela na atuação de Jesus, vencendo
todo o mal.
A conclusão do conjunto (a segunda fatia do tema
dos parentes), forma assim um contraste com a atitude dos escribas, a
incredulidade levada a um extremo diabólico: unir-se a Jesus para fazer a
vontade do Pai é pertencer à sua “casa”, comunidade de irmãos e irmãs.
A 2ª leitura é a continuação da de domingo passado.
Paulo reconhece em Sl. 116[115],10 o Espírito da fé se expressando (é escrito
sob inspiração do Espírito):
“Creio, por isso falo”. Tendo este Espírito, Paulo
fala: seu testemunho evangélico a respeito da Ressurreição de Cristo e nossa.
Isso é o que o toma firme (2Cor. 4,16). Mesmo que agora estejamos na tribulação
(vaso de barro!), este “pesar” é leve em comparação com o “peso” da glória
(“glória”, kabod, significa “peso”), pois nós enxergamos o que não se vê! A
morada em que estamos (a existência neste mundo) será desfeita, mas teremos uma
que não é feita com mãos humanas (termos que Cristo usou para anunciar sua
ressurreição, cf. Me. 14,58).
O espírito global da presente liturgia é o da força
de Cristo, em que devemos confiar, para que ela se manifeste em nós também.
(6). Este é um dos principais demônios. O judaísmo
contemporâneo de Jesus tinha elaborado toda uma doutrina sobre os anjos e
demônios. O demônio é considerado como um anjo decaído, por causa de seu
orgulho, e isso, antes da criação do mundo. Em Sb. 2,24 é identificado com a
serpente que seduziu o primeiro casal humano a pecar contra Deus, por orgulho,
causando a morte. Por esta razão, a 1ª leitura de hoje é o relato do pecado
original, terminando com o tema da descendência humana esmagando a cabeça da
serpente. Mais tarde, este tema foi interpretado num sentido messiânico, como
tratando não mais da raça humana em geral, mas de um descendente específico, o
Messias, que venceria o demônio. É exatamente isso que é sugerido nas
entrelinhas do episódio central do evangelho.
Johan Konings "Liturgia dominical"
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Irmãos de Jesus!
A atuação de Jesus, depois de ser batizado por João
Batista, provocou uma dupla atitude diante dele: a dos que acreditavam ser ele
um profeta ou possivelmente o Messias, e a dos que, não acreditando, o
consideravam um herege. Os homens e mulheres de boa vontade diziam que ninguém
podia realizar aquelas obras e falar com tamanha autoridade, a não ser que
fosse enviado por Deus. A atitude adversária se fundamentava no fato de que
ele, Jesus, não observava certos preceitos da Lei Mosaica, como, por exemplo,
trabalhar aos sábados. Logo, ele devia ser um emissário de Satanás. Seus
próprios familiares, inclusive sua mãe, se preocuparam com o que andavam
dizendo a respeito dele, pois alguns chegaram a afirmar que ele tinha ficado
doido.
O projeto de Jesus era o de iniciar uma nova
família de Deus, que ele denominou de "Reino de Deus." A este novo
tipo de família espiritual irão pertencer aqueles homens e mulheres de boa
vontade que, sem preconceitos, querem fazer a vontade de Deus, que ele vai
explicitar ao afirmar que se trata de colocar a prática do amor como fundamento
da verdadeira religião. Entre os integrantes desta nova família, sua mãe é a
discípula número um, porque se colocou como a escrava do Senhor, quando disse
"faça-se em mim segundo a vossa vontade." Era a atitude oposta àquela
de Adão e Eva, no paraíso, ao comer o fruto da árvore, proibido por Deus.
O homem natural (carnal, na expressão de são Paulo)
tende a fazer a sua própria vontade, quando segue seus instintos, muitos dos
quais o conduzem à desobediência dos mandamentos. Como integrante do Reino de
Deus, (a família de Jesus) o homem espiritual, interior, cresce em cada pessoa
e em muitas pessoas, manifestando-se em ação de graças, para gloria do próprio
Deus. O cristão de hoje, (é o desejo da Igreja), não pode desanimar, ao
encontrar-se imerso em um mundo que favorece e incentiva atitudes
comportamentais opostas ao plano de Jesus, sobretudo no que diz respeito à
violência, ao egoísmo e ao consumismo. A decisão é individual e é a única que
poderá proporcionar a paz interior, que somente o Cristo pode dar.
tradução "Prions en Église”
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"Quem é minha Mãe?"
Reiniciamos, no ano litúrgico, os domingos do tempo
comum. A liturgia, através das leituras bíblicas, vai nos introduzindo nos
Mistérios de Deus e iluminando a realidade humana.
No mundo em que vivemos, existem muitos males.
Nasce espontânea a pergunta: "Qual é a sua origem?" Na busca de um
responsável, somos levados a acusar alguém como culpado. A Bíblia tem uma
resposta clara: a origem e a causa dessa situação é o pecado. O homem rompeu a
sua relação amorosa com Deus e surgiu uma mudança essencial em sua vida.
Pretendeu libertar-se de Deus e tornou-se escravo
de suas paixões e egoísmos.
A 1ª leitura fala da primeira família (Adão e Eva –
Gn. 3,9-15)
Esses capítulos da Bíblia não querem mostrar como
aconteceu no início... mas sim levar a refletir sobre o caos social em que
viviam no tempo em que o autor sagrado escreveu. Deus fez todas as coisas
perfeitas. Esse mundo conturbado não é o que Deus queria... então como deveria
ser?
Qual é a causa e a origem de tudo isso? A
"serpente" seduziu e continua seduzindo o homem para se apropriar dos
frutos proibidos...
Consequência: surge a desarmonia na natureza, com
os homens, com Deus...
- O homem não se encontra mais no lugar que lhe foi
designado na criação.
"Onde estás?" - Teve medo e se
escondeu...
- Adão acusa Eva, Eva acusa a serpente...
- Sente-se "nu", despojado a dignidade
com que foi criado...
- Abala a ordem da natureza: perde a fertilidade e
produz espinhos e ervas daninhas. Mas a narrativa termina com uma mensagem de
esperança: a luta entre a "serpente" e o homem continuará até o fim
dos tempos. Mas a descendência da mulher conquistará a vitória final, esmagará
a cabeça da "serpente".
O pecado é a origem do mal: rompeu a harmonia da
criação de Deus. Para o autor sagrado, o paraíso terrestre é saudades ou
esperança?
Na 2ª leitura, Paulo manifesta seu interesse pela
Comunidade de Corinto e expõe os motivos pelos quais sofre com paciência: a
esperança da ressurreição gloriosa e a fé no prêmio que espera. (2Cor.
4,13-5,1)
O Evangelho fala da Família de Jesus (Mc. 3,20-35)
Os familiares de Jesus chegam e, de fora, mandam
chamá-lo. Não entram; ele que deve sair: querem levá-lo de volta a Nazaré.
Estão preocupados... julgam que ele "está fora de si".
E Jesus: "Quem é minha mãe? Quem são meus
irmãos?" A verdadeira família de Jesus, a partir de agora, é formada pelos
que estão ao redor dele e fazem a vontade de Deus.
Os doutores da lei pretendem desprestigiar o Mestre
diante do Povo e o acusam de endemoniado. Jesus contesta com duas imagens: o
reino dividido e uma família dividida: não se mantém de pé.
A nova família de Jesus.
A verdadeira família de Jesus, a partir de agora, é
formada pelos que estão ao redor dele, numa atitude de companheiros na ação
libertadora, e que fazem a vontade de Deus.
A relação mais intima com Jesus não se faz através
do parentesco de sangue, mas na sintonia com sua prática libertadora. Só quem
passa do estar fora para o estar dentro, com Jesus, é que será considerado
irmão, irmão e mãe de Jesus.
Maria era "Mãe" duplamente: porque gerou
a Jesus e porque mais do que ninguém soube fazer sempre a vontade de Deus.
O pecado nasce e é fruto do orgulho.
- Adão acusa Eva... Eva acusa a serpente...
- Os judeus não aceitaram o desfio da conversão: e
acusaram o Cristo como um endemoniado...
- E nós? Procuramos sempre uma desculpa...
Reconhecer o próprio erro, por escabroso que seja,
é sempre mais dignificante e libertador do que repassá-lo injustamente a
outros.
Quem acusa está querendo se esconder atrás da
acusação.
Quanto esposo acusando a esposa e vice-versa.
Quantos filhos acusando os pais e vice-versa.
Quantos adultos acusando os jovens e quantos jovens
acusando os adultos.
Ouvimos toda hora parente contra parente, vizinho
contra vizinho, patrão contra empregado e empregado contra patrão.
Há acusações necessárias e justas.
Há acusações que devem ser feitas e que não merecem
punição.
Mas, muitas vezes, a pessoa que acusa está se
defendendo.
Está escondendo algo de errado em si mesmo.
A acusação nunca leva a nada e acaba com o dialogo
entre as pessoas.
Há uma necessidade de busca de diálogo e não de
acusação.
Quando na sociedade for instaurado o diálogo,
acabarão as acusações.
Ninguém mais estará escondendo sua covardia com a
acusação.
padre Antônio Geraldo Dalla Costa
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“A família de Jesus”
Neste domingo da graça do Senhor reunimos em torno
do altar para dar glória a todas as coisas boas recebidas e por bendizer Seu
Santo nome. Jesus é a luz que indica o caminho a ser seguida com segurança a
fim de sedimentar a fé como princípio da adesão ao seu projeto de vida e de
comunidade. No passado, Jesus concebido pelo Espírito Santo, se fez homem e
habitou entre os víveres. Sentiu todas as injustiças sofridas pelo seu povo,
não desanimou e partiu para a construção de uma grande família. Para
tanto, todos aqueles que temem a Deus e seguem seus preceitos são
verdadeiramente irmãos, primos, pais e mães de Jesus, pois, superou a ordem
estabelecida do homem da cidade grande (Jerusalém) e abraçou a verdadeira
justiça que não aceita o mal como divisor do bem.
Mas aqueles que não compactuavam com a prática de
Jesus o julgava como doido ou possuído de demônio. Com estas palavras tentavam
desmascarar o trabalho lindo do Mestre que não tinha medo de denunciar as
desordens estabelecidas pelos aproveitadores. Entretanto, enquanto o Homem de
Nazaré percorria as periferias das cidades e os centros urbanos levando a
mensagem da desalienação, os mestres da Lei juntavam-se num complô falaciano na
tentativa de prendê-Lo para calar a voz da libertação.
Porém, como Jesus estava cercado por pessoas que
compreenderam a lição na ponta da língua dificilmente corria o risco de ser
preso ou exilado para sua terra natal. Não que Jesus escondia entre a multidão,
afinal não tinha como esconder porque era uma pessoa pública, contudo, a
multidão o protegia dos rastejadores do poder econômico e do poder político.
Veja como uma pessoa foi capaz de colocar um
pedregulho no calçado de muitos sem coração! Jesus fez isto muito bem. Sendo um
homem pobre, nascido no meio dos miseráveis, sem instrução necessária para
concorrer com os ditos “sabidos” do templo, deixou todos com a pulga atrás da
orelha: ou aceita os ensinamentos novos, para um novo Reino da justiça, ou
acabe com ele para não deixar crescer a fúria do povo. É sabido de todos que
quando o povo tem instrução e conhecimento real do que está acontecendo, nada
segura o avanço do mesmo sobre seus direitos. Por isso que os “mandam
chuvas” de Jerusalém temiam a reação do povo se Jesus continuasse
insistindo em ensiná-los os caminhos para superar os obstáculos.
A condenação do mal no meio do povo já é bem
antiga. Em Gênesis encontramos uma passagem em que o Senhor ao visitar Adão e
Eva percebeu que estavam escondendo dele. Como pode minhas criaturas ter
vergonha de mim? Dei tudo que precisava! Ah, esqueci que tinha proibido de
comer dos frutos de certa árvore, e com certeza, infligiram a regra
e comeram! Foi isto mesmo que aconteceu. Eva e Adão deixaram o mal
penetrar em suas vidas, em seu habitat e colocou tudo a perder. Agora sente
vergonha do Seu Senhor. O Senhor, então, perguntou ao mal (a
serpente): “Por que fizeste isso, serás maldita entre todos os animais
domésticos e todos os animais selvagens! Rastearás sobre o ventre e comerás pó
todos os dias da tua vida!”. O senhor condenou o mal que deu vida mal para o
homem que criou com prazer para embelezar a natureza.
Todavia, perguntamos: quais os males que insistem
em desviar as virtudes boas do homem? Olha que tem males em quantidade elevada
como: a cobiça, o ódio, a traição, as injustiças. Estes males destoem à vida
solidária na sociedade, acabam com a estrutura da família, plantam a divisão
num grupo que vivia em harmonia. Estes males foram condenados pelo Senhor.
Mesmo tão distante no tempo da criação parece que
foi ontem que aconteceu a chegada do mal no seio da humanidade. São tantos
males que insistem em praguejar a vida com Deus que acabam criando um mal-estar
com a doutrina da fé. São pessoas desviadas do caminho correto sob efeito das
drogas licitas e ilícitas, permeadas no mundo da corrupção, das vantagens e nas
elucubrações alienantes. São pessoas viciadas no mau que atacam
vidas inocentes sob práticas de abuso sexuais em menores, estupros, mortes
violentas e desovas de corpos. Ainda por cima encontramos o mal
fazendo dicotomia nas famílias; pais maltratam filhos, filhos matam pais, avós,
ou seja, ninguém mais entende o outro, tudo por causa do encardido posto no
meio da vida do homem.
Já na segunda carta de são Paulo aos Coríntios,
lemos um motivo de ser fiel ao Deus, quando Paulo escreve: “(...) não
desanimamos. Mesmo se o nosso homem exterior se vai arruinando, o nosso homem
interior, pelo contrário, vai-se renovando dia-a-dia”. Para tanto, faz se
necessário acreditar na presença real de Deus, sem Ele não consegue
o homem interior se refazer por completo. Isto acontece por causa dos males que
tentam a todo custo pleitear o discernimento do homem exterior, ou seja, o mal
sobrepõe o homem interior com severidade, cegando-o, e induzindo a caminhos
errados. Entretanto, Paulo afirma que fazemos parte da família de
Deus e, portanto, temos a hombridade de segui-lo em todos os aspectos.
Neste contexto do mal, assolando a família de Deus,
aparece no Santo Evangelho. Surgem dois grupos tentando tirar Jesus da cena.
Primeiro surge seus familiares que acreditavam que Ele estava louco, por
contrariar os costumes, as leis vigentes. Assim os parentes consideraram a
atitude de Jesus uma loucura. Na verdade, os parentes de Jesus querem evitar
que Jesus “saísse do normal”, isto é, contrariar as leis e costumes da
época era anormal, o normal seria obedecer cegamente e sem
crítica as leis severas e as tradições retrógradas. Mas, a prática
de Jesus não condizia com as injustiças e, portanto deveria sim ser criticada e
renovada para o bom uso do povo de Deus. Veja que ainda hoje
acontece esta cena: quem ousa a querer fazer interpretação diferente nas
tradições alienantes ou resolve colocar o dedo na ferida de alguns homens de
colarinho branco, com certeza, sofrerá sansões severas ou até poderá
desaparecer sem deixar rastros. Lamentável esta situação na sociedade do século
XXI que se diz democrática!
Continuando a reflexão notemos o segundo grupo que
foi a Cafarnaum com a missão de prender o Mestre, eram os doutores da Lei,
homens instruídos que tinha o poder de decidir o que se pode ou o que não se
pode fazer. Chegaram com a sentença debaixo das mangas: “Ele está possuído por
Belzebu” e “É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios”. Com isso
acusaram Jesus de estar possuído pelo pior dos demônios e estava agindo em nome
dele. Veja que blasfêmia, que torpeza.
Jesus sai deste imbróglio de forma magnífica: “como
pode expulsar demônios pelo poder do demônio é absurdo, pois se
assim fosse, Satanás estaria destruindo a si mesmo”. Jesus sabiamente tinha
como colocá-los na berlinda facilmente. Tentaram acusar Jesus de cura através
do próprio mau. Isto é inconcebível. Do mesmo modo Jesus interpela: se um
ladrão vai a casa de uma pessoa forte, primeiramente vai amarrá-lo, para dominá-lo,
assim vai levar o que quiser, porém, se não amarar o dono da casa, com certeza
encontrar dificuldade em agir. Contudo a cartada fulminante vem em seguida na
afirmação de Jesus: “quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca será
perdoado, pois a culpa desse pecado dura para sempre”. Se quiserem acabar
com Jesus, vai ter muito trabalho, pois o Espírito Santo, que é Deus, penetrou
no Ser de Jesus e nenhum mal vai conseguir derrubar.
Os argumentos dos doutores da Lei se voltam contra
si pelo descuido ou pela sede exagerada de eliminar a verdadeira justiça. Pois
querendo impedir que Jesus realize sua prática nociva para o sistema que
defendem, negam para si a possibilidade de entrar no Reino.
Portanto, a grande família de Jesus são todos
aqueles que aderiram ao seu projeto e, por conseguinte, fizeram a vontade do
Pai. Não que Jesus desconhecesse seus pais e irmãos, mas a grande família dava
segurança e vivacidade no seu projeto. Tanto que em sua casa,
cercados de pessoas admiradas, não enxergou seus parentes fora da casa, mas
quem estava dentro da casa eram pessoas compromissadas com seu projeto e assim
a vontade de Deus pode ser realizada através dele. Amém!
diácono Claudinei M. Oliveira
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Fazer a vontade de Deus
Em Cafarnaum Jesus deixou uma de suas
marcantes mensagens: “Quem faz a vontade de Deus esse é meu irmão minha irmã e
minha mãe” (Mc. 3,35). Deus e homem verdadeiro, enquanto homem pôde solenemente
asseverar: “Não procuro fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me
enviou” (Jo 5,30). A exemplo de Cristo cumpre sempre realizar o que Deus quer.
Já Davi assim se expressava: “Eu quero fazer tua vontade, meu Deus; e tua lei
está no fundo do meu coração” (Sl. 40,8).
O salmista desejava que a verdade estivesse no seu
íntimo e, por isto, ele pedia ao Todo-Poderoso: “Faz penetrar a sabedoria
dentro de mim” (Sl 51,6). Sem as luzes do Espírito Santo é impossível discernir
o que Deus deseja de cada um em particular, dado que para todos ele declarou a
sua lei expressa no Decálogo, a qual se acha, igualmente, impressa na
consciência de todo ser humano. Como o ser racional é frágil e sua inteligência
está obnubilada por força do pecado original, eis o pedido que está no salmo
143: “Ensina-me a fazer tua vontade; porque tu és o meu Deus. É tão bom o teu
espírito que ele me conduza por vereda plana” (Sl. 143,10). Assim procedem os
que amam o Senhor e almejam fazer em tudo seu santo desígnio. Portanto,
submissão e obediência ao Ser Supremo devem caracterizar o verdadeiro imitador
de Jesus. O cristão deve estar consciente de que não há nenhuma alegria
profunda, nenhuma felicidade perfeita longe de tudo que a sabedoria divina
traceja para cada um.
O próprio Deus assim se expressou através do
profeta Isaías: “Ai de vós, filhos rebeldes, diz o Senhor, que executais
intentos que não vos sugeri e que estreitais ligas que eu não inspirei! (Is.
30,1) Fazer a própria vontade é ser cativo do mal, pois só é livre quem adere
inteiramente a Deus. Impõe-se então uma questão: Como saber se estamos fazendo
sempre a vontade do Senhor? A resposta é dada por são Paulo que assim escreveu
aos Colossenses: “Não cessamos de orar por vós e de pedir que vos seja
concedida a plenitude do conhecimento da vontade de Deus com toda a sabedoria e
inteligência espiritual. Assim podereis comportar-vos de maneira digna do
Senhor e agradar-lhe inteiramente, produzindo frutos de toda a espécie de boas
obras e progredindo no conhecimento de Deus” (1Cl. 9,10). É que Deus sempre
manifestou e patenteou sua vontade, a questão é saber se nós queremos, de fato,
fazer o que ele deseja, mas isto com toda sinceridade. Conhecer esta vontade é
penetrar fundo nas mensagens bíblicas, sobretudo em tudo que Jesus ensinou.
Lemos na Carta aos Hebreus: “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou
Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho,
que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas” (Hb.
1,1-2).
São Paulo, que perscrutou as Escrituras com rara
acuidade, resumiu numa frase esplendorosa o que é estar de acordo com o Criador
de tudo: “Esta é a vontade de Deus a vossa santificação” (1Ts. 4,3). Esta
consiste na união com Cristo que afirmou: “O meu alimento é fazer a vontade
daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4,34). Eis por que o Concílio
Vaticano II doutrinou: “Por causa de sua mais íntima união com Cristo, os
bem-aventurados consolidam toda a Igreja na santidade” (LG 49). Trata-se, pois,
a santidade de uma realidade vivida deliberadamente, que penetra a existência
da pessoa justamente porque, com a riqueza do seu ser e com a espontaneidade de
sua vontade livre, se une a Deus entregando-se a ele com o calor do amor. É o
caminho seguro que conduz à salvação eterna. Deste modo, sendo a vontade de Deus
a santificação do cristão a santidade de vida significa, em conseqüência, a
total entrega a Deus.
A incorporação em Cristo obriga o batizado a estar
totalmente disposto ao sacrifício mais sublime do amor a Deus e ao próximo.
Todo cristão por ser cristão é chamado, portanto, a ser santo no sentido
estrito da palavra, fazendo, como Jesus, em tudo, o que Deus quer, como está
expresso na Sua palavra revelada a qual se encontra nas Escrituras e nas
inspirações contínuas do Espírito Santo. Tal deve ser, de fato, a união do
cristão com o divino Redentor, que, fazendo sempre a vontade divina, ele se
torna, realmente, seu irmão, sua irmã, sua mãe, ou seja, ocorre uma total
inserção nele. A recíproca é verdadeira: quem não observa os Mandamentos se
encontra, portanto, inteiramente longe seu Salvador, o Senhor Jesus.
cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho
A liberdade diante do bem e do mal
Os textos deste domingo pretendem ensinar que a
raiz de todos os males não está em Deus, mas no fato da humanidade prescindir
de Deus e abdicar de construir o mundo a partir de critérios de justiça, paz e
solidariedade. O egoísmo e a auto-suficiência são caminhos que conduzem a
humanidade à desgraça, ao sofrimento e à morte.
O mistério do mal é o que provoca o maior
questionamento na cabeça dos homens e mulheres em todos os tempos. Este tempo
não podia ser exceção. É normal que assim seja, ninguém deseja o mal, mas pouco
fazemos para o evitar. Ele existe por todo lado.
O mal resulta das escolhas erradas, do orgulho, do
egoísmo e da ganância. O viver orgulhosamente só, mais tarde ou mais cedo
conduz à tragédia, porque os caminhos humanos sem Deus e sem o amor, constroem
enormes cidades de egoísmo, de injustiças, de pobreza, de marginais, de
prepotência, de sofrimento, de desgraças de toda a ordem…
Os textos da missa deste domingo ensinam também que
deixar Deus de lado e caminhar fora do Seu projeto de salvação, conduz ao
confronto, à hostilidade com os outros. A seguir emerge a injustiça, a
exploração, a insegurança, a desconfiança, a pobreza, a violência. Os outros
deixam de ser irmãos, para passarem a ser ameaças ao bem-estar e aos interesses
pessoais. Tudo isto conduz a guerras terríveis, que cerceiam a felicidade, a
alegria e a festa que Deus deseja para todos.
Daqui advém a inimizade com todos e com o resto da
criação. A natureza deixa de ser «casa comum» que Deus ofereceu a todos como
espaço de vida e de felicidade, para se tornar um objeto que se explora
egoisticamente sem olhar à sua grandeza, às suas regras, à sua beleza e à sua
dignidade. Por isso, todos estamos a pagar seriamente pelos atentados
ecológicos e a exploração desmedida da natureza que a ganância humana produziu.
São Paulo apresenta a convicção de que será melhor
nos concentrarmos nas «coisas invisíveis» que são eternas ao invés de estarmos
fixados nas «coisas visíveis» que são passageiras. É muito difícil de se
aceitar isto, mas pensando bem, o Apóstolo tem toda a razão. Mas, acreditemos
que Deus, apesar de todas as nossas limitações, também nos ressuscitará para
vida eterna, exatamente como ressuscitou Jesus Cristo.
Jesus no Evangelho acerca-se da Galileia para
cumprir a Sua missão de anunciar o Reino. A onda de contestação começa a
crescer, os líderes judaicos políticos e religiosos começam a opor-se à
novidade do Reino. As polêmicas e controvérsias marcam esta fase da caminhada
de Jesus. Nada que não seja inspirador para nós se nos empenharmos na luta pela
justiça, pela verdade e pelo bem para todos. Não tenhamos medo.
padre José Luís Rodrigues
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"Aqui estão minha mãe e meus irmãos"
Domingo dos verdadeiros parentes de Jesus. A Igreja
professa sua fé em Deus, fonte de todo o bem. Como explicar, então, e conviver
com a existência do mal? A liturgia deste Domingo enfrenta esta questão e
responde com a própria Palavra de Deus: "Deus é amor, e quem permanece no
amor permanece em Deus, e Deus nele.
Celebramos a Páscoa de Jesus Cristo que se
manifesta na vida de todas as pessoas e grupos que fazem o que é agradável a
Deus.
Antífona de entrada: O Senhor é minha luz e minha
salvação: a quem poderei eu temer? O Senhor é o baluarte de minha vida: perante
quem tremerei? Meus opressores e inimigos, são eles que vacilam e sucumbem
(Salmo 26/27,1-2).
Primeira leitura - Gênesis 3,9-15
Depois do pecado, Deus não acaba o diálogo com o
homem: vai à procura dele, chama-o e fala com ele (vs. 8-9). O
"homem", envergonhado e amedrontado (v. 10), procura lanças as culpas
sobre a "mulher" (v. 12) e esta sobre a "serpente" (v. 13)
que é a única a ser amaldiçoada por Deus (v. 14).
Adão e Eva, antes amigos de Deus, agora se
escondem. É o lado psicológico do pecado: o escrúpulo, o medo, a insegurança, o
sentimento de culpa. Para designar o desequilíbrio emocional, resultante do
pecado, o autor sagrado apresenta o casal com vergonha de comparecer nus diante
do Senhor, com quem antes conversavam tão familiarmente, apesar da nudez. Ao
sentimento de pudor une-se ao de remorso. Romperam-se as relações e Deus, juiz
universal, pede contas, insinuando, porém, desde o início, como Criador e Pai
que vai reatá-las, embora fora do paraíso. Ao pecado segue-se o julgamento
divino, salientando-se a astúcia da Serpente. A proibição e respectiva ameaça
foi dada diretamente a Adão. É a ele que Deus se dirige em primeiro lugar
poucas palavras "onde estás"? Adão tenta justificar-se, culpando,
traindo sua esposa e, afinal, responsabilizando o próprio por lhe ter dado uma
companheira tão frágil e tentadora. Inclusive parece querer diminuir sua culpa,
dizendo que aceitaria da companheira apenas uma fruta. "Eis a soberba! Não
aceita o pecado. Em lugar de humilde confissão, a desordem, a confusão"!
(Santo Agostinho, PL 34,449).
O Senhor, então, se dirige à Mulher que, por sua
vez, acusa a Serpente. A desculpa dela é mais procedente, pois reconhece ter
sido ludibriada pelo Maligno. O juiz divino leva em conta essa diminuição, sem
porém isentar a Mulher do pecado. É a história do homem: peca, não aceita,
busca pretextos, culpa os outros, vai à procura de atenuantes... mas Deus lhe
pedirás contas.
A Serpente é um ser inteligente e maldoso, que
encarna o espírito do mal e conhece o preceito divino, instigando o homem a
desobedecer-lhe. E, nessa desobediência, o livro sagrado vê a causa de todo
mal. A cobra é talvez o animal que mais repugnância e aversão instintiva
provoca. Com certeza é um bicho "maldito"; ela sempre foi num réptil
por natureza, mas o autor sagrado, teologizando, vê nessa atitude e no
"comer o pó" uma humilhação, um indício de abatimento e derrota, ao
passo que o caminhar ereto é sinal de realeza; os ofídios, isto é, os animais
que se assemelham à Serpente, não se nutrem de pó, como pensavam os antigos
(Isaias 65,23.25; Salmo 71/72,9; Miquéias 7,17). "Comer o pó"
simboliza a derrota da Serpente, não como simples animal, embora divinizado na
cultura Cananéia, mas como símbolo do mal, autor como Adão e Eva, do pecado.
A serpente foi escolhida pelo autor sagrado para
desempenhar o papel de tentador. As razões são várias. No Oriente Próximo
principalmente no culto cananeu, com efeito, a serpente representa a divindade
da fecundidade, tanto a dos campos quanto a das mulheres. E muitas mulheres, em
Israel como nas nações vizinhas, de boa vontade recorriam ao culto da serpente
pra garantir um casamento fecundo. Aos olhos de Israel era o símbolo de toda a
iniqüidade e a origem principal da apostasia e superstição. Por isso a serpente
pode simbolizar a narração da queda como quem atua como adversário de Deus.
Chama-se "o mais astuto de todos os animais", simbolizando a ciência
secreta divinizada e da magia.
A descendência da Serpente, em sentido coletivo, é
o conjunto das forças do mal que, aliadas à Serpente, lutam contra Deus.
Paralelamente à descendência da Mulher, como coletividade, seriam as forças do
bem que promovem o Reino de Deus e lutam contra seus inimigos, vencendo todos
eles (cf. Apocalipse 11,19a; 12,1.3-6a.10ab), primeira leitura proclamada na
Solenidade da Assunção de Nossa Senhora.
A maldição da Serpente esclarece uma constante do
Primeiro Testamento. Quando Deus pune o homem, a condenação jamais é absoluta:
um futuro permanece possível. De certo modo, esse relato destaca que Deus
sempre se põe ao lado do ser humano. No momento mesmo em que amaldiçoa a
Serpente, Deus abre o caminho para a esperança. Segundo Gênesis 2,8, as
maldiçoes jamais têm a última palavra. Elas podem acumular-se uma após a outra
(Gênesis 3,14-20; 4,11-14; 6,5-7.10), mas a bênção termina sempre por triunfar
(Gênesis 8,21) e por orientar o sentido da história.
Jesus Cristo, e somente Ele, pode conhecer o bem e
o mal e passar da vida à morte, mas à maneira de um Deus que triunfa sobre a
morte por sua vida que ninguém pode tomar, e que vence o mal por um perdão sem
medida.
A todas as pessoas que conhecem, depois de Adão, a
morte e a vida, o bem e o mal, a Eucaristia oferece o fruto da árvore da vida
que Adão não pode comer (v. 22), a fim de que um pouco de vida divina neles
lhes permitem justificar o mal e vencer a morte.
Salmo responsorial - Salmo 129/130,1-8
Salmo penitencial De profundis é
utilizado na liturgia dos fiéis defuntos, não como lamentação, mas antes como
expressão de confiança e de esperança. Também quem está mergulhado na sombra da
morte ou passando por uma situação muito difícil, espera do Senhor
"misericórdia, redenção" e vida (cf. v. 7). O Salmo 129/130 é uma
súplica individual, com convite à assembléia. Sete vezes é invocado o nome do
Senhor no breve salmo.
A profundeza é temível para os israelitas,
incompreensível, semelhante à morte e o Xeol. De sua profundidade humana o homem
grita, e seu grito sobe até o céu A profundidade radical é o pecado, que
distancia a pessoa humana de Deus, e o envolve em escuridão. Só de Deus pode
vir o perdão, por isso a pessoa humana deve respeitar a Deus com respeito
sagrado. Em sua ignorância e obscuridade o ser humano pode atravessar a
obscuridade com seu grito; depois aguarda a resposta. Como a aurora devolve a
luz, assim Deus enviará seu favor.
É preciso descobrir o rosto de Deus neste Salmo
como o "aliado" do povo. O esquema do Êxodo (clamor, descida de Deus
e libertação, resgate ou redenção) está bem presente neste Salmo. Deus se
mostra, mais uma vez, o Deus da Aliança (a palavra "redenção" recorda
o resgate de escravos. Mas há outros aspectos igualmente interessantes.
Atingindo as profundidades da própria alma, o ser humano descobre sua fraqueza
e miséria totais. Aí, então, clama. E o clamor se torna a expressão da alam e
da vida. Prestando atenção no clamor, Deus desce para ver o que há em nossas
profundezas. Surpreendentemente, Ele deixa de investigar as culpas da pessoa ou
do povo, e se apresenta como aliado que se compadece. Sua resposta é perdão (v.
4a), a graça e a redenção (v. 7b). Ao invés de infundir medo por meio de
castigos, infunde respeito ao pecador por meio do perdão (v. 4).
A palavra "redenção" ecoou profundamente
em Jesus. Em Mateus 1,21 se diz que Jesus irá salvar (isto é, redimir) seu povo
dos seus pecados. Além disso, o episódio de Marcos 2,1-12 apresenta Jesus
perdoando os pecados do paralítico. Cura-o pela raiz, devolvendo-lhe liberdade
e vida.
A liturgia cristã ama este canto penitencial e está
também no Ritual das Exéquias. Embora a Igreja e cada um dos cristãos tenham
sido tocados já pela luz de Cristo, vivem na profundeza do mundo, e pecam. A
redenção abundante de Cristo vai se realizando continuamente, muna expectativa
contínua de redenção definitiva.
Embora tenhamos sido tocados pela luz de Cristo,
vivemos ao mesmo tempo a pobreza de nossa condição humana. Com este salmo,
gritamos a Deus, das profundezas de nosso pecado, contemplando a salvação que
vai se realizando em nós gratuitamente.
Segunda leitura – 2 Coríntios 4,13-5,1
A fé descrita por Paulo ilumina o ver e o sentir, o
falar e o rezar, a mente e o coração, o dia-a-dia e a esperança das pessoas.
"Acreditamos e por isso falamos" (2 Coríntios 4,13), estamos
convictos de que "Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de
ressuscitar" (2 Coríntiso 4,14); "Tudo é por vossa causa",
"tudo é graça" (cf. 2 Coríntiso 4,15), "por isso não desanimamos"
(4,16). A fé cristã consiste em "olhar para as coisas invisíveis"
(cf. 2 Coríntios 4,18), as que o Senhor constrói para nós (2 Coríntios 5,1).
Paulo sabe ler com fé a sua situação triste e
atribulada. Sabe que a "glória", a "ressurreição e a
redenção" passam através do sofrimento e da morte (cf. 2 Coríntios 4,7). O
destino do Apóstolo segue as pisadas do destino de Jesus. A fé faz ver as
coisas invisíveis aos olhos humanos (2 Coríntios 4,18), a fé consiste em ver as
coisas como Deus as vê. A lente divina que permite ver o que é invisível: Jesus
Cristo morto e ressuscitado.
Da fé, consiste em ver tudo e todos à luz de Jesus
Cristo, nascem as outras duas virtudes teologais: a caridade/graça, que se
torna força para suportar as provações e "hino de louvor" para glória
de Deus (2 Coríntios 4,15); e a esperança/certeza de saber que nem tudo em nós
é corruptível (2 Coríntios 4,16) mas, pelo contrário, Deus está a construir
para nós uma "habitação eterna" (2 Coríntios 5,1).
Esse texto de Paulo mostra, então, a ressurreição
do cristão como algo de futuro, excluindo que ela já tenha acontecido no
batismo (cf. Colossenses 3,1-2,12), como significando um tempo cronológico no
passado.
A parte física, corruptível do homem pode se
consumir e sua força vital ser aniquilada, o homem interior, espiritual criado
em nós no batismo, porém, é imortal, animado pela fé e o Espírito Santo. Cada
dia de novo recriado pela força do amor de Deus, ele assume a imagem de seu
Criador (cf. Colossenses 3,10) torna-se criatura. A esperança é portanto maior
que as tribulações, pois a força interior da graça levará à vida da glória, à
salvação definitiva, tornando nosso corpo ação do Espírito Santo que o
realimenta.
Hoje Paulo diria: se o nosso homem biológico
caminha para a ruína, o nosso homem psicológico e espiritual se renova a cada
momento da nossa caminhada cristã para o Reino definitivo.
A eucaristia alimenta sem cessar a reconciliação da
esperança teologal com a esperança humana. Com efeito, ela convida os cristãos
à construção do Reino e purifica-os de seu egoísmo, colocando-os em condições
para o mais lúcido exercício de seus recursos. Mas convida os cristãos ao mesmo
tempo a mobilizar estes recursos, assim transfigurados, para a construção de
uma cidade humana onde ele testemunhará, o mais possível, a vitória cotidiana
sobre a morte e sobre o ódio.
Evangelho - Marcos 3,20-35
Em toda a primeira parte do Evangelho de Marcos
(capítulos 1-8) surge uma pergunta que salta de página em página: quem é Jesus?
Quem é esta pessoa que fala com autoridade e atua com poder? As suas palavras
sacodem e fascinam, os Seus milagres colocam interrogações. Coloca medo o poder
que demonstra até sobre os espíritos maus. Os discípulos têm dificuldade em
compreender, mas permanecem junto do Mestre, a multidão oscila entre entusiasmo
e curiosidade; mas no texto de hoje os escribas e os fariseus procuram
desacreditá-Lo, apresentando-O como possuidor de um poder diabólico (cf. vs.
22-30). Os parentes, preocupados, procuram levá-Lo para casa (v. 21).
Com argumentos convincentes (vs. 23-27) e
libertando os endemoninhados (cf. Marcos 1,23-27), Jesus procura dar a entender
que Ele é, mas sem encorajar falsas interpretações da Sua condição messiânica.
São palavras dramáticas as que dirige a quem impugna a verdade conhecida (vs.
28-29), e mostram-se duras até as palavras dirigidas aos parentes (vs. 33-35).
A fé é mais importante do que os próprios vínculos de sangue.
O pecado contra o Espírito Santo. A resposta de
Jesus é um dos textos que melhor acentua a força de perdão presente em Deus. A
discurso começa com a palavra hebraica "amen" (= "em
verdade") que tem um sentido afirmativo reforçado. O Cristo diz "aos
homens tudo será perdoado, os pecados e até as blasfêmias" (versículo 28).
Impossível perdoas mais!
Porém, diante de tanta bondade de Deus, há
entretanto o famoso pecado contra o Espírito Santo que parece abrir uma
exceção. O que significa exatamente? Conforme o contexto imediato, é o
seguinte: quem atribuir, de má fé, às forças do mal o bem gerado por Jesus
Cristo exclui-se a si mesmo do plano salvador de Deus. Não é Deus que recusa o
perdão, é o pecador que recusa em acolher a salvação oferecida gratuitamente
pelo Pai através do Espírito Santo que age em Jesus. É a própria pessoa que se
fecha, radical e voluntariamente, por causa da cegueira e dureza de coração
(Marcos 3,5). Tal recusa de conversão impede o perdão. Nisto entendemos a
blasfêmia contra o Espírito Santo ou, em outras palavras, o pecado eterno (v.
29).
Os versículos de 31-35 relatam o verdadeiro
parentesco de Jesus. Os três sinóticos contam este episódio, seja antes do
ensino em parábolas (Mateus/Marcos, seja depois (Lucas.
Em Marcos, a chegada da mãe e dos
"irmãos" (= os primos) de Jesus (cf. Mateus 12,46) constitui uma
seqüência direta aos vs. 20-21. Jesus está pregando na casa de André e de Simão.
Por causa da multidão, Maria e os outros familiares não podem falar
pessoalmente com Jesus. Por causa disto, mandam alguém avisá-Lo de sua
presença.
É um fato muito banal do qual Jesus vai
aproveitar-se para mostrar que veio reunir todas as pessoas numa só família. A
dureza aparente da sua resposta desaparece se considerarmos que Jesus está
falando não com os membros da sua família, mas sim à multidão. Em termos
atuais, Jesus diria que sua família não se restringe aos vínculos do sangue:
reúne todos aqueles que fazem a vontade de Deus (parentes espirituais), o Pai
de todos os homens e de todas as mulheres. Com efeito, o Espírito que o Filho
veio trazer é um espírito de comunhão e participação no próprio Amor de Deus
que se exerce soberanamente perdoando a todos. É só acreditar e agir de maneira
conseqüente.
O ser humano foi criado livre: portanto, não pode
ser o joguete de outras criaturas, mesmo espirituais. Foi isto que Cristo veio
revelar libertando-se desta solidariedade cósmica que o envolvia como homem, e
libertando seus irmãos do domínio das potencias do mal.
Esperando a clara manifestação desta vitória, o
cristão se encontra envolvido por duas solidariedades opostas: ora ele cede ao
pecado, e mergulha na primeira; ora escuta a Palavra e obedece a ela, e
elabora, assim, a solidariedade do novo Reino.
Esta escuta da Palavra toma corpo na liturgia da
Palavra e colocá-la em prática, na obediência, constitui o conteúdo do
sacrifício espiritual oferecido na Eucaristia que contém os nutrientes para
alimentar a nossa fé em nossa caminhada tão cheia de perigos.
Da Palavra celebrada ao cotidiano da vida
No Evangelho, os adversários de Jesus querem dizer
que Jesus também tem uma inclinação para o mal, isto é, esta
"ambivalência" que parece ser natural no ser humano: o bem e o mal.
Ao dizer que ele está "possuído" por Belzebu, indagam sob qual
inspiração Jesus age. Quem está por trás de seu trabalho, uma vez quer a
mentalidade judaica via os demônios como seres pessoais, capazes de se
relacionar com o homem e a mulher e influenciá-lo? Aqui encontramos a conexão
com a primeira leitura. Adão e Eva se deixaram induzir pela palavra da
Serpente, imagem usada no relato do Gênesis para personificar o mal. Jesus
deixa claro na parábola para nós e, sobretudo, na conclusão da narrativa
evangélica, que age sob o impulso/inspiração de Deus: "quem faz a vontade
de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe". Jesus age como o
"Novo Adão", o ser humano totalmente novo, livre da inclinação para o
mal porque é ciente de sua origem: o próprio Deus. Os cristãos, pela fé, sabem
que estão ao lado de Jesus. Sabem que Ele - o Cristo Senhor - corresponde a seu
"homem interior", que sustenta suas atitudes em obediência à fé.
Ressuscitados com Jesus, os cristãos têm a consciência de serem homens e
mulheres pascais, cuja postura não pode ser quebrada pela inclinação ao mal,
uma vez que esta foi definitivamente vencida.
A mensagem da liturgia da Palavra está cheia de
esperança. Jesus é o redentor e o salvador de todos e de cada um, de cada
pecado e de todos os pecados. Há um só obstáculo capaz de se opor à ação
universal e redentora de Cristo: a recusa em reconhecê-Lo como Redentor, ou
então não reconhecer a nossa necessidade Dele. Este é o pecado contra o
Espírito Santo. Só a fé nos consente reconhecer o nosso pecado e nos dá a
possibilidade da salvação.
A celebração é momento de firmar os passos neste
caminho, de escutar a Palavra de Deus e discernir a sua vontade sobre nós, de
nos confiar no Espírito Santo que suscita em nós o desejo de amar e servir.
A Palavra se faz celebração
A liturgia expulsa de nós a inclinação para o mal
A celebração cristã do Dia do Senhor alimenta este
"homem interior" em nós. Anima e mantém nossa atitude de fidelidade à
vontade de Deus. Por isso, pedir inspiração que guie nossas ações é a única
súplica admissível nesta celebração dominical. A liturgia exorciza, expulsa de
nós toda e qualquer inclinação para o mal. É animador perceber como esta noção
vai sendo amadurecida nos ritos e nas preces da celebração dominical: a
oração sobre as oferendas reza: "vede nossa disposição em vos servir e acolhei
a nossa oferenda para que este sacrifício vos seja agradável e nos faça crescer
na caridade". De fato ao nos reconhecermos como povo convocado por Deus e
reunido no Espírito de Cristo, somos curados da influência do "príncipe
deste mundo", pois ele perde o trono e é incapacitado como possível líder
de nossos atos. É o próprio Senhor quem nos guia e preside: "Ó Deus, que
curai os nossos males, agi em nós por esta Eucaristia, libertando-nos das más
inclinações e orientando para o bem a nossa vida" (Oração depois da
comunhão).
Avaliar nossa caminhada de fé
Ao regressar para nossas casas, para o convívio com
os familiares, parentes, amigos, vizinhos e colegas de trabalho é preciso
verificar o que nos inspira a estar com eles. Quem, de fato, conduz nossos
atos, estabelece nossas posturas e direciona nosso coração? Este é um exercício
permanente que devemos fazer, revisando nosso caminhar. Conscientes de quem
somos e do que queremos da vida, não nos dobremos à maldade! Não nos escondamos
atrás de justificativas que fazem da maldade algo necessário ou irremediável,
não façamos da mentira uma verdade.
Ligando a Palavra com a ação eucarística
Muitas vezes vamos a uma celebração e não
conseguimos avaliar a importância dela na nossa vida, o quanto ela faz a
comunidade crescer do ponto de vista espiritual, psicológico. Não percebemos a
dimensão missionária da liturgia que nos envia ao mundo. Isso porque vamos às
celebrações por devoção, para conseguir alcançar graças, cura, solucionar
problemas e só.
A celebração é o momento culminante da nossa vida,
o kairós, de firmar nosso compromisso com Jesus, com a Igreja missionária. Mas
é preciso acolher a Palavra de Deus, deixar que ela nos converta e transforme a
nossa a nossa vida para fazer a vontade do Pai e servir aos irmãos e irmãs,
sobretudo os doentes, os pobres, os abandonados. A celebração ao mesmo tempo
que faz memória de Jesus, renova para nós a mesma compaixão que Ele teve das
pessoas. Atualiza para a comunidade e cada um de nós, a prática de Jesus.
A força do Pai e do Filho Jesus, não estão na
ostentação do poder econômico e político, mas na fraqueza daqueles que se
organizam para um mundo melhor para vencer os males.
Reunidos em comunidade em torno da mesa da Palavra
e do Altar, para celebrar a Divina Liturgia, peçamos ao Pai, no Filho e na
unidade do Espírito Santo a mesma prece do salmista de hoje: "No Senhor
ponho a minha esperança, espero em sua palavra".
padre Benedito Mazeti
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Quando a gente está super ocupado, costuma-se dizer
que não se tem tempo nem para comer, esse evangelho começa constatando
exatamente isso, pois Jesus e seus discípulos chegaram na casa de alguém onde
pretendiam tomar uma refeição, mas um grande número de pessoas foram ali á sua
procura e Jesus teve que lhes dar atenção. Não ter mais tempo para si, vai ter
para os seus parentes a conotação de loucura “Ele está fora de si”. Amar as
pessoas preocupar-se com elas, doar-se aos serviços da comunidade para servir a
Deus e aos irmãos, nos tempos da pós-modernidade também soa como uma loucura,
pois vivermos no mundo das relações mercantilizadas onde tempo é dinheiro e
perder tempo com coisas que não dão nenhum retorno, é realmente coisa de louco.
Pior que esses parentes de Jesus que não entendiam
á sua missão, eram os escribas que atribuíam suas ações libertadoras e
curas prodigiosas á Belzebu, príncipe dos demônios, acusando Jesus de
fazer o Bem, através da força do mal, o que era uma grande incoerência, pois
Bem e Mal são duas coisas que jamais podem agir em conjunto, se as obras de
Jesus eram boas em si mesmo, curava e libertava as pessoas, elas jamais
poderiam provir do mal.
Em nossa sociedade também sofremos desse mal, porém
no sentido contrário, querendo atribuir ao Bem algo que provém do mal,
senão vejamos, para muitos, inclusive cristãos, a pena de morte, o aborto, o
divórcio, a eutanásia, são coisas do Bem, e já tem até traficante de Favela
pousando de herói do povo, defensor dos pobres, dos velhos e das crianças.
Quando isso acontece e essa mentalidade começa a dominar a todos, é porque se
está cometendo o temível pecado contra o Espírito Santo, que Jesus afirma não
ter perdão. E que pecado terrível será este?
Exatamente o mesmo que os Escribas e os parentes de
Jesus cometiam: o de não acreditar e não aceitar a Graça que Jesus nos trouxe,
em uma recusa contra a ação Divina, libertadora e Salvadora nele presente, e
colocada a favor das pessoas. Quem comete esse pecado está apostando todas as
suas fichas nas forças do Mal presente no mundo, por crer no fundo, que esta é
mais poderosa que o Bem supremo que Jesus nos oferece.
O Mal já foi derrotado por Jesus mas o homem ainda
não se apercebeu disso, o Reino está presente na vida da humanidade, não de
maneira ostensiva como a Força do mal, mas como semente em
desenvolvimento e que requer cuidado e atenção para crescer e ser a maior de
todas as árvores, mas o homem imediatista deste tempo prefere acreditar no Mal
e deixa de investir e acreditar no Bem.
diácono José da Cruz
Tive a curiosidade de contar quantas vezes aparece
o verbo dizer no evangelho de hoje. Conte para você ver. Parece que o
evangelista quer salientar aqui o que o povo anda dizendo de Jesus. Jesus toma
posição e funda uma nova família.
1. O que andam dizendo os parentes de Jesus?
A “casa” de Jesus anda cercada de carentes,
aleijados, doentes etc. É nesse meio que Jesus se sente “em casa”. Mas os
parentes de Jesus não o compreendem, não conseguem entender sua ação
libertadora. Eles diziam que Jesus estava fora de si, e queriam agarrá-lo, ou
seja, impedir a realização de seu projeto libertador.
2. O que andam dizendo os doutores da lei?
Eles vinham de Jerusalém, centro da oposição ao
projeto de Jesus. Eles diziam que Jesus está possuído por Beelzebu e que é pelo
chefe dos demônios que ele expulsa os demônios. Duas fortes acusações a Jesus,
a de seus parentes carnais e a de sua família religiosa.
3. Jesus responde com três imagens
Nas duas primeiras, ele diz que o reino, ou a
família de Satanás, não pode brigar contra si mesma, pois assim ela seria
destruída. A 3ª é a do assalto à casa. É Jesus que é o homem forte, que amarra
Satanás e rouba-lhe os seus bens. Satanás é o chefe supremo dos demônios. Os
bens de Satanás são as pessoas oprimidas, despersonalizadas e marginalizadas
pelo sistema social, político e religioso da época. Na verdade, estas pessoas
foram aprisionadas por Satanás e Jesus vem libertá-los.
4. O pecado contra o Espírito Santo
É o pecado de não aceitar que é o Espírito Santo
quem atua em Jesus. É não aceitar sua libertação física e espiritual através da
doação de sua vida e do perdão. É fechar-se em si mesmo e não querer ser
perdoado por Jesus. É não acreditar na força e no poder de Jesus.
5. A nova família de Jesus
Jesus rejeita aqueles que querem estar ligados a
ele apenas pelo parentesco de sangue, ou de nacionalidade ou de religião. Ele
funda uma nova família, constituída daqueles que estão AO REDOR DELE, daqueles
que têm a coragem de passar do lado de fora para o lado de dentro, ou seja,
para dentro do seu projeto libertador dos pobres e oprimidos. É essa a vontade
de Deus, e só quem se dispõe a fazer a vontade de Deus é que faz parte da nova
família de Jesus. Será que todos os que frequentam a Igreja fazem parte da nova
família de Jesus?
dom Emanuel Messias de Oliveira
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A força regeneradora e libertadora do reino
1ª leitura: Génesis (3,9-15)
O egoísmo do pecado
1. Esta leitura (usada na festa da Imaculada
Conceição) é a manifestação teológica de um autor chamado javista que se limita
a pôr por escrito toda a tradição religiosa de séculos, em ambientes culturais
diversos, sobre a culpabilidade da humanidade: Adão e Eva. Hoje já é claramente
aceite que não é necessário entender tudo isto como se se tratasse de um só
casal humano. Os simbolismos do relato permitem-nos tudo isso e mais, uma vez
que cientificamente o monogenismo não resiste a uma análise coerente. O pecado,
pois, entorpece-nos, envolve-nos, fascina-nos, inunda-nos numa liberdade
desmesurada, até que vemos que estamos com as mãos vazias, nus, e sem nada do
que pensávamos que íamos conseguir fora dos planos de Deus. Então começam as
culpabilidades: a mulher, o ser fraco perante o forte, como sucedeu em quase
todas as culturas. E, pelo meio, aparece o mito da serpente, como símbolo de
uma inteligência superior a nós mesmos, ou de uma força obscura que pode
conosco, que não é divina, mas que o parece.
2.O mal foi sempre descrito miticamente. Mas, na
realidade, o mal somos nós que o fazemos e o projetamos para aquele que está na
nossa frente, especialmente se é mais frágil, segundo a única visão cultural
equivocada. Quem poderá libertar-nos disto? Sempre se viu neste texto uma
promessa de Deus; uma promessa para que possamos perceber que podemos vencer o
mal, sem o projetarmos sobre o outro, se soubermos amar e valorizar quem está
ao nosso lado; neste caso, o homem à mulher e a mulher ao homem, e, assim
sucessivamente, grupos familiares, povos, raças. Todos somos chamados a amar o
bem e a transmiti-lo…mas, desgraçadamente, os nossos caminhos separam-se. Só
Deus pode garantir-nos o melhor e devemos tê-lo em conta, acolhê-l'O,
obedecer-Lhe e procurá-l'O sempre.
2ª leitura: 2Cor. (4,13-5,1)
A morte vai-se transformando em vida
1. O tema "escatológico" que Paulo
desenvolve neste momento da 2Cor. é de verdadeira transcendência. O apóstolo
está mais aberto que nunca à sua própria morte e já não está preocupado com a
"Parusia" (como se pode verificar em 1Tes e em 1 Cor), porque sente
que a sua vida como pessoa e como apóstolo se vai gastando a pouco e pouco. Por
isso, não vai recorrer a um desenvolvimento filosófico, mas à sua experiência
pessoal que todo o crente deve ter com Jesus Cristo, com a sua morte e a sua
Ressurreição. Mas, mais ainda, o "emissário" do Evangelho deve estar
na disposição de viver esta vida em Cristo: entregar-se à morte, para que os
outros vivam deste Evangelho. Assim é dito clara e manifestamente em 4,12:
"deste modo, a morte acontece (energeit) em nós e em vós a vida".
Isto significa que enquanto o apóstolo, por causa do Evangelho, vai gastando a
sua vida, nessa medida semeia vida na comunidade que acolhe aquela mensagem.
Paulo expressou esta identificação com Cristo noutros momentos, como em Gl.
2,20 ou em Fl. 3,7-11. Mas o fato de agora apoiar o seu ministério no kerygma:
morte e ressurreição de Jesus, é porque serve extraordinariamente à metáfora
paradoxal do "vaso de barro" e do "tesouro". O pregador do
Evangelho experimenta, portanto, pessoalmente, a doutrina da salvação na sua
dupla dimensão de morte e de vida. Não se pode viver senão morrendo, da mesma
maneira que Cristo não pôde ressuscitar ou "ser ressuscitado", sem
passar pela debilidade da morte. Se todos os cristãos, pois, tivessem que
acolher esta experiência soteriológica de identificação com Cristo, não seria,
por isso, o apóstolo menos responsável por este ministério.
2. Daí que o apóstolo associe a sua sorte e
salvação à da comunidade. É o que vai expressar, além disso, com o apoio de uma
fórmula de ressurreição:"Aquele que ressuscitou (egeíras) Jesus nos
ressuscitará (egeirei) com Jesus e nos apresentará juntamente convosco"
(4,14). Esta fórmula primitiva de tom apocalíptico, sem dúvida, parece retocada
por Paulo naquela última parte ao unir o seu futuro ao da comunidade. Isto
mesmo se confirma com acrescentos em 4,15, uma vez que viveu e vive esta
experiência pessoal-apostólica para que a comunidade possa louvar a Deus. É uma
das páginas escatológicas de Paulo, provavelmente a mais distanciada do início.
De 1 Tes 4 e inclusive de 1 Cor 15, e a que mais deu que falar em torno dos
conceitos escatológicos da vida depois da morte, juntamente com Fl. 1,22-25. A
consciência da nékrôsis, ou seja, da afirmação da experiência da morte, sob a
imagem da casa e do vestido, é um contributo substancial vivido como pessoa e
como apóstolo. As duas coisas, portanto, são inseparáveis. Devemos esforçar-nos
por ler aqui uma convicção de Paulo de que já não é necessária a Parusia como
em 1Ts. 4,15. No horizonte da sua vida e com todos os sofrimentos, a doença, a
sua missão perspectiva-se para o futuro, não somente do ponto de vista
existencial, mas verdadeiramente escatológico.
Paulo não fala de forma dualista, nem apenas do
homem interior, mas de todo o seu ser, de toda a sua pessoa.
Evangelho: Marcos (3,20-35)
Face ao "demoníaco" a família dos filhos
de Deus.
1.De entre as curas de Jesus, vale a pena falar da
"desdemonização" como chave do anúncio da presença do Reino. Mas
isto, hoje, não pode ser abordado simplesmente como "expulsão dos
demônios", fenômeno de "exorcistas" que tanta curiosidade
provoca às vezes, mas da libertação da mente e do coração de que sofria e
padecia todo aquele que estava sob a influência do demônio, de Belzebu, como
personalização de tudo aquilo. A cultura da doença no judaísmo e, especialmente
na Galileia, tinha estes tons tão dramáticos de pessoas perturbadas. O drama é
que tudo isto era encarado como um castigo e um abandono de Deus.
É neste ponto que Jesus atua com o seu ato
"desdemonizador". E se o Reino de Deus não se reduz simplesmente a um
conceito, mas que é uma força que transforma, Jesus liberta todas estas pessoas
estigmatizadas pelos vizinhos e devem ser as primeiras a experimentar a
misericórdia de Deus.
2. Por isso, a acusação de que Jesus atua em nome
de Belzebu é negar-Lhe todo o pão e o sal do Reino que anuncia e da sua
misericórdia. A parábola é, portanto, sintomática: não pode atuar em nome de
Belzebu e expulsá-lo. Tem de ser em nome de uma força maior, mas é isso o que
não querem aceitar. Não há poderes mágicos nem ocultos, mas uma palavra de
vida, de aproximação, de misericórdia, de gratuidade em nome do mesmo Deus que
negam a estes desgraçados. É uma terapia psicológica, mas mais que isso,
teológica, e espiritual a que os seus adversários não podem resistir. Não é
preciso entrar nos termos técnicos dessas doenças da mente, porque o eram
também do coração. Na realidade, era então tanto uma doença cultural como
religiosa, que Jesus não estava disposto a aceitar perante a sua mensagem
evangélica de alegria e de amor.
3.Aquela acusação que quer dar a entender o redator
do Evangelho, é justamente o que vem a ser a blasfêmia contra o Espírito Santo.
Tratava-se, sem dúvida, de uma "afirmação" de Jesus independente que
agora, aqui, assume todo o seu sentido: acusá-l'O de estar a pactuar com
Satanás, porque libertar os "endemoninhados" é faltar a toda a
verdade. É colocá-l'O do lado das trevas, quando vem trazer a luz; é alinhá-l'O
ao lado dos cobardes, quando vem a ser a mesma força salvadora e libertadora de
Deus; é inseri-l'O no âmbito de uma cultura malsã de Satanás, quando tudo
experimenta e o faz em nome de Deus e da sua bondade. É este o pecado contra o
Espírito.
4. A cena que lemos de Marcos, é rematada com
aquela dose de maldade até ao ponto de pretenderem responsabilizar a própria
família de Jesus para que arranje remédio para o assunto: "A sua mãe e os
seus irmãos" vieram para O levar e convencê-l'O a deixar aquele caminho. É
uma notícia concisa, dura, realista, sem dúvida. Que uma parte da família não O
apoiasse na sua atividade de profeta itinerante, não deve surpreender-nos; é um
dos pontos que hoje são assumidos na aproximação à vida histórica de Jesus. A
sociedade galileia tinha as suas próprias identidades socioculturais e, nestes
casos, não se perdoa nem a uma pessoa nem à sua família. Mas Jesus responde
como tinha de responder. Sem renunciar à Mãe nem aos irmãos, estende a sua
família a todos os doentes e desvalidos que encontraram na sua "terapia
espiritual" uma família nova que os acolha e zele por eles. São os
seguidores do Reino de Deus que, libertando-se dessa inaceitável cultura
demoníaca, sentem, de verdade, que Deus está com eles nos seus sofrimentos.
fray Miguel de Burgos Núñez
tradução de Maria Madalena Carneiro
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Pobres de Cristo
Sermos pobres de Jesus Cristo é sabermos que tudo
Lhe devemos e vivermos como tudo vindo d'Ele. É saber que em Jesus Cristo, Deus
é o primeiro a amar-nos, que não cessa a todo o instante de ser Ele que nos ama
primeiro, Aquele que em nossas vidas tem constantemente a iniciativa.
É compreender – e de uma maneira muito concreta e
na realidade quotidiana – que a sua obra em nós conta muito mais do que a obra
que Lhe oferecemos.
Aprendi a dizer: "Meu Deus acolhe o meu dia,
eu recebo-o com tudo o que me dá, bem mais do que "ofereço-Vos o
dia".
O que eu posso oferecer é apenas o espírito com que
o recebo. Ser um pobre de Cristo é ser dono de méritos que não queremos fazer
valer.
Deus ama-nos livremente e não porque os nossos
títulos a isso o obriguem. A sua liberdade desperta a nossa; o seu dom atrai o
nosso consentimento; a santidade não é mais do que o encontro destas duas
liberdades
Robert-Guelluy († 1.999)
tradução de Maria Madalena Carneiro
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