Comentários do Prof. Fernando (Leituras da semana 10 a 16 de outubro de 2010)
1ª PARTE = COMENTÁRIO ao 28º DOMINGO do T.Comum
2ª PARTE = Introdução geral às Leituras da 28ª semana do Tempo Comum
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· 10/10 28ºdomingo do Tempo comum : 2Rs 5,14-17 Sl 98 2Tm 2,8-13 Lc 17,11-19
11/10 Gl 4,22-24.26-27.31-5,1 Sl 113 Lc 11,29-32 seg.da 28ªsemana T.comum
12/10 Est 5,1.7,2-3 Sl 45 Ap 12,1-16 Jo 2,1-11 NªSªda Conceição Aparecida
13/10 Gl 5,18-25 Sl 1 Lc 11,42-46 qua.da 28ªsemana T.comum
14/10 Ef 1,1-10 Sl 98 Lc 11,47-54 qui.da 28ªsemana T.comum
15/10 Ef 1,11-14 Sl 33 Lc 12,1-7 Santa Tereza d’Ávila – Doutora da Igreja
16/10 Ef 1,15-23 Sl 8 Lc 12,8-12 sáb.da 28ªsemana T.comum
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1ª PARTE = as LEITURAS do DOMINGO, 10 de outubro de 2010
1ª. leitura = 2º livro dos Reis 5, 14-17 o estrangeiro curado: “não há outro Deus”
Os livros dos Reis cobrem séculos de história dos reinos em Israel desde o final do reinado de Davi (sec. 10 a.C.) até meados do séc.6 a.C. A bíblia hebraica divide-se tradicionalmente em três grandes partes: a Lei, os Profetas e os Escritos. “Os Profetas”, por sua vez, subdivide-se em: Anteriores ou Primeiros Profetas e os Posteriores (que nós habitualmente chamamos de livros proféticos ou dos profetas, de Isaías a Malaquias). Os “Profetas Anteriores” é o conjunto dos livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis. Isso reflete a convicção dos profetas para os quais Deus está acima da história mas também dentro da história. Os livros que falam, portanto, da história de Israel até o Exílio de Babilônia (também conhecidos como livros “históricos”) trazem essa marca de fé na ação de Jahwé na história de seu povo eleito. Por isso mescladas com os relatos da realeza, aparecem figuras de profetas que além de pronunciarem os oráculos de Deus são também taumaturgos com seus gestos de maravilha e milagres.
A nossa leitura de hoje traz o episódio da cura de um oficial do reino de Aram que era, à época, inimigo de Israel. O milagre produz-se sob orientação de Eliseu que é herdeiro da vocação e dos carismas do profeta Elias. A leitura traz o final da história desse general Nahaman, o Sírio. Curado da lepra esse estrangeiro expressa sua gratidão, confessando que “não há outro Deus” senão o de Israel.
Como no texto do evangelho do dia, a mensagem desse domingo não é apenas sobre o dever da gratidão humana. A atitude de Nahaman é passar da cura à fé no Deus dos hebreus, assim como o leproso curado (cf. Lucas 17, 16ss) louva o Deus pela sua saúde.
Evangelho = Lucas 17, 11-19 dez foram curados só voltou um... estrangeiro ...
O relato de hoje faz eco à 1ª. leitura pois também “o estrangeiro” (o povo samaritano, era menosprezado pelos judeus) é elogiado em sua atitude. A ênfase no texto não está no milagre da cura mas na fé de um dos homens curados. Ele dá graças a Deus não tanto porque conseguiu a cura mas porque percebeu a presença e ação de Deus em Jesus, reconhecendo-o como Salvador.
Não se trata simplesmente de transpor em metáfora a saúde corporal como símbolo da saúde da “alma”. Até porque o judeu, como em toda a bíblia, não distingue como nós (de cultura ocidental com pensamento de origem grega) que usamos corpo & alma conceitos bem separados.
Mas trata-se de perceber em cada gesto ou palavra (que, afinal, sempre são “corporais”) o sinal da salvação integral do ser humano. É bom notar que “salvação” e “saúde” (ou “cura”) são palavras da mesma raiz (verbo sózo em grego ou o termo “salus” em latim). Por isso Lucas conclui “a tua fé te salvou (te curou) como traz a mesma frase dirigida a outros personagens: no cap.7,50 (à prostituta em casa do fariseu Simão), em 8,48 (à mulher curada da hemorragia) e 18,42 (ao cego de Jericó). O “sinal”, em sentido bíblico (a tradução para “milagre” empobreceu o sentido original), é sempre a manifestação visível de um amor divino, transcendente, no qual se confia.
Jesus chama a atenção dos circunstantes não para a “boa educação” daquele samaritano ao dizer “obrigado por me curar”, mas sublinha a fé daquele estrangeiro. Reconhecendo a cura ele reconhecia em Jesus a ação (a mão, o toque, a presença) amorosa do divino em sua vida humana. Como o próprio Jesus lembrou em outra ocasião, Deus é bom e faz chover sobre os justos e os injustos sem discriminação. Mas, quanto ao reconhecimento ele reclama: “não eram dez os curados? Onde estão os outros nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus a não ser esse estrangeiro?”
No contexto, não importava se aquele homem era judeu ou samaritano (Paulo dirá: não há mais judeu nem grego, nem homem nem mulher, nem escravo nem livre), não importava tanto sua idade, sua cultura ou sua religião. O importante foi que ele fez o “reconhecimento”, o que é muito mais que “agradecimento”. Por causa de sua fé ouviu: “Levanta-te e vai! Tua fé te salvou”.
2ª. leitura = 2ª carta a Timoteo 2, 8-13 com ele viveremos ... se com ele ficarmos firmes
Continuando a meditação do domingo 27º (dia 3 out.) sobre as exortações feitas a Timóteo, hoje encontramos novamente, nesse cap.2, o tema da fé. Ele é o pano de fundo de toda a Segunda Epístola a Timóteo (cf.1,5). Fé que implica não só em guardar o “depósito” do que nos foi ensinado (cf. 1,14) mas supõe manter a fidelidade, mesmo nos sofrimentos que se tenha de suportar no ministério assumido. Mesmo quem está acorrentado por causa do evangelho sabe que a Palavra de Deus não “se deixa acorrentar” (v.9 do cap.2, de hoje). O núcleo da leitura encontra-se nos versos 11-12: os que se mantiverem firmes, até o fim, também viverão e reinarão com Cristo.
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2ª PARTE = Introdução geral às Leituras da semana:
Cartas: aos Gálatas cap.4 e 5 e aos Efésios cap. 1;
Evangelho: Lucas cap. 11 e 12
(Exceto terça, dia 12: leituras próprias da festa de Nossa Senhora da Conceição APARECIDA)
Carta aos Gálatas aos Efésios :
Nos comentários da semana anterior vimos que Paulo apresenta, nos cap.3 e 4 aos Gálatas, 4 sermões ou explicações baseadas na bíblia. O 1º e o 2º referem-se à fé de Abraão; o 3º aponta os que crêem em Cristo como herdeiros de Abraão e das promessas a ele feitas. A 4ª. explicação (leitura de segunda-feira) considera como alegoria a história dos dois filhos de Abraão (provavelmente recorrendo a uma interpretação rabínica de seu tempo). Um deles tinha por mãe a escrava. O outro foi gerado milagrosamente na velhice, por Sara, mulher de Abraão. A alegoria prepara a conclusão que lemos na primeira frase do cap. 5 enfatizando o ser livre:
para a Liberdade nós fomos libertados !
Na quarta-feira, dia 13, lemos a oposição existente entre as obras da Carne e as do Espírito. Como em outras passagens é preciso ter cuidado para não traduzir mal essa expressão paulina identificando os dois termos com “corpo” e “alma”. Paulo usa os termos gregos Sárx e Pnéuma mas refletindo a mentalidade hebraica que considera Carne como criatura e Pnéuma é a liberdade divina. Assim, nessa oposição, Paulo refere-se ao homem todo: corpo, alma, mente, coração, isto é, em todas as suas dimensões psíquicas e materiais. Esse Homem integral pode estar sob o domínio do mundo “natural”, quer dizer: não redimido. Mas deveria estar sob o influxo do sopro do Espírito de Deus. Tal compreensão da linguagem paulina pode ser comprovada pelo fato de estarem incluídas entre as obras da Carne ações e atitudes não “materiais” ou “corporais” que até consideramos “psíquicas” ou chamamos de “mentais” ou “espirituais”. Tais são, por exemplo, os ciúmes, a idolatria, as inimizades. Nessa lista não estão aquelas ações exclusivamente “corporais” (como as citadas bebedeiras e fornicação).
Com essa distinção não corremos o risco de cair na visão dualista tendendo a confundir Corpo com obras pecaminosas e Alma (ou mente) com ações por si boas ou mais dignas. Na verdade, o objetivo do ensinamento paulino encontra-se logo no início dessa leitura (verso 18). O importante é deixarmo-nos conduzir pelo Espírito. Quem vive segundo esse Espírito não está sob a escravidão de lei alguma. Pode seguir aquela máxima de Santo Agostinho: com amor, tudo que se faz só pode ser “do bem”.
De quinta a sábado a 1ª. leitura é extraída de Efésios cap. Primeiro. Aí encontramos hinos de louvor e ação de graças. Com efeito, em vista do Cristo, já estávamos no “plano de Deus” antes mesmo da criação, para sermos conformados pelo Espírito no grande Corpo de Cristo. Por sua ressurreição ele recapitula em si todas as criaturas. A nós é dada a graça da revelação desse Mistério da bondade divina. Por esse dom, o Pai nos quer integrados naquele que possui toda a plenitude. Nessa plenitude realiza-se a maior aspiração dos seres humanos: vencer a morte e superar toda divisão entre as criaturas.
Lucas (cap. 11 e 12)
(Jesus continua a ensinar como ser discípulo, nessa quarta seção do esquema de Lucas : subindo em direção a Jerusalém)
Na segunda-feira, Jesus contesta a exigência que lhe fazem seus ouvintes que pedem milagres e sinais extraordinários semelhantes aos que faziam os mais antigos profetas. Jesus responde que ele mesmo é “o sinal” e que todos podiam perceber esse sinal. Por isso, ele argumenta, os antigos pagãos (que ouviram Salomão ou a pregação de Jonas) vão condenar essa geração que não quer ver o sinal diante deles.
Na vida às vezes deixamos de enxergar o que está bem diante de nossos olhos. Falta atenção para perceber os sinais. Entretanto, parece que estamos sempre curiosos e prontos a seguir novos “gurus” e acolher muitas “novidades” (mesmo religiosas) e que consideramos extraordinárias. Talvez seja preciso olhar bem, à nossa volta, talvez até dentro de nossa casa (pais acompanhando a vida dos filhos, irmãos atentos uns aos outros, filhos cuidando de atender pais e avós). Talvez seja preciso olhar melhor nossos vizinhos, o bairro e a cidade em que vivemos. Talvez seja preciso entender os sinais em nosso país e até no mundo inteiro. Não podemos compreender tudo, mas há sinais que deixamos escapar de nossa vista por falta de atenção.
De 4ª.feira a sábado prossegue a leitura de Lucas, Primeiramente (4ª/5ª.feira) lemos a condenação implacável de Jesus àqueles fariseus que eram hipócritas e aos Mestres da Lei que oprimiam a população com prescrições legais que nem eles mesmos cumpriam. Depois (6ª.feira e sábado), no cap.12, Jesus se volta para os discípulos, e lhes ensina a evitar “o fermento dos fariseus” e toda falsidade. E os anima a acreditar no cuidado amoroso de Deus. E os prepara em relação ao futuro testemunho que darão do evangelho. E lhes assegura a constante presença do Espírito divino, mesmo na perseguição, porque eles serão instruídos pelo próprio Espírito e poderão responder a interrogatórios dos inimigos.
( Prof. FernandoSM, Univ.Santa Úrsula, Rio, fesomor2@gmail.com )
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