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sábado, 26 de março de 2011

III DOMINGO DA QUARESMA – JESUS E A SAMARITANA

 

HOMILIAS PARA O

 PRÓXIMO DOMINGO

27 DE MARÇO – 2011

 

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III DOMINGO DA QUARESMA – JESUS E A SAMARITANA
27 de Março de 2011

INTRODUÇÃO

Evangelho - Jo 4,5-42

Uma fonte de água que jorra para a vida eterna.

O encontro de Jesus com a Samaritana na cidade da Samaria, de Sicar, não foi por acaso, tudo foi previamente planejado por Deus, assim como toda a experiência divina e humana de Jesus na Terra. Afinal, não cai uma folha de uma árvore sem que Ele o permita. Aquele encontro sem dúvida fez parte do Plano de Deus para conosco.

Jesus Deus e homem. Enquanto homem sentiu-se cansado e com sede. Enquanto Deus, fez vir ao poço aquela mulher bem na hora em que Ele estava lá, e revelou toda a sua história.

E a Samaritana estranhou o fato de Jesus sendo um judeu, falar com ela. Pois os judeus discriminavam e desprezavam os samaritanos por se um povo formado pela miscigenação de várias raças.

Enquanto Deus, Jesus sabia tudo sobre o passado daquela mulher, nem por isso a discriminou, assim como não discriminou pelo fato dela ser uma samaritana.

Muitos de nós discriminamos os nordestinos, os negros, os pobres, os analfabetos, os chineses que estão invadindo o Brasil causando o aumento do desemprego dos nossos jovens, discriminamos as mulheres e os homes que são separados, etc.

Muitas pessoas já me perguntaram, dizendo. Que são separadas e se podem receber a Eucaristia. Eu geralmente passo a bola para um padre, pois como leigo, não tenho competência para responder a essa pergunta.

Jesus no Evangelho de hoje oferece àquela mulher, a qual já havia passado por várias separações, água viva, a água que mata definitivamente a nossa sede..

Apesar de Jesus ter condicionado  a oferta da água viva com a presença do seu marido, nestas palavras Ele garante que se a samaritana lhe pedisse, Ele daria a ela aquela água especial.

"Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: 'Dá-me de beber", tu mesma lhe pedirias a ele, e ELE TE DARIA ÁGUA VIVA.

A mulher disse a Jesus:  De onde vais tirar a água viva?

Respondeu Jesus: "Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo.
Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede."


         Fico pensando, preocupado com tantas pessoas vítimas de separações, será que não está na hora da gente de se rever a situação dos casais separados?  Conhecemos muitas pessoas infelizes,  por terem sido vítimas de separações, e por não poderem participar da Eucaristia.  São pessoas que hoje estão nesta situação, sem ter nenhuma culpa, pois a causa da separação foi de total responsabilidade do cônjuge: marido ou a esposa.

Então.  Se Jesus ofereceu água viva àquela mulher separada várias vezes, porque cada caso de separação não pode ser analisado? Para que os separados (sem culpa) do mundo de hoje não sejam impedidos de comungar?

Longe de mim estar aqui criticando a minha Igreja. Só estou levantando um questionamento com o objetivo de contribuir para a atualização da presença de Deus no mundo. Através de uma possível tomada de posição, para uma nova atualização. Se estou errado, que alguém me corrija e me convença do contrário. Pois na verdade, a Igreja está perdendo adeptos, pois muitos dos seus filhos, são obrigados a se desgarrarem. 

Jesus que perdoou Madalena, hoje acolhe essa estrangeira discriminada, e que já tinha passado pelas mãos de cinco maridos, foi o mesmo Jesus que nos disse: "Não julgueis e não sereis julgados..."

Jesus acrescentou que quem receber aquela água iria jorrar água viva pelo mundo, preparando-nos para a vida Eterna.

E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna.'

E a samaritana fez isso. Ela se convenceu que Jesus era o Messias, e saiu dali dizendo a todos o que Jesus tinha feito: porque Ele sabia de toda a sua história.

Então a mulher deixou o seu cântaro e foi à cidade, dizendo ao povo:
'Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Será que ele não é o Cristo?'

Os discípulos não  fizeram nenhum comentário ao ver Jesus conversando com uma mulher. Apesar de terem ficado admirados de ver Jesus falando com uma samaritana, ninguém perguntou ou disse nada.

Nós também, cristãos continuadores dos discípulos de Jesus, somos assim. Certo?  Nunca fizemos nenhum comentário ou fofoca quando vemos o padre conversando com uma mulher. Nunca fizemos nenhum mau juízo ou julgamento apressado a respeito disso. É certo que devemos zelar pela integridade espiritual dos nossos padres. Mas para isso, ao invés de ficarmos espionando-os, por que não lhe damos calor humano? O carinho que eles precisam e merecem?  Por que não convidamos o vigário para almoçar conosco?

Certa vez participei de uma paróquia da periferia de gente humilde. Onde a acolhida ao padre pelos paroquianos era uma coisa maravilhosa! Eram tantos que queriam levar o padre para almoçar nas suas casas, que até fizeram uma escala para que ninguém fosse deixado de lado, e ninguém forre privilegiado com a repetição.

O sacerdote tem o amor e a proteção e a companhia de Jesus  presente sempre ao seu lado. Mas os paroquianos devem fazer a sua parte, acolhendo-os, fazendo-lhes companhia, oferecendo ajuda e apoio, conversando, brincando com os padres, tudo isso na mais perfeita sinceridade e fraternidade.

Sabemos que somente Deus completa os sacerdotes, mas isso deve se realizar através do carinho sincero e reconhecedor dos fiéis, ou paroquianos, os quais nunca se esquecem as datas de seus aniversários natalinos e de ordenação entre outras coisas.

Caro leitor, prezada leitora: Hoje Jesus nos mostra como devemos ser. Não discriminar,  acolher, beber da sua fonte de água viva, mas não é só isso. Devemos fazer jorrar esta mesma água em nossos irmãos. E fazemos isso meditando, rezando, participando da Eucaristia, e depois levando a mensagem de Cristo ao Mundo.

O MUNDO TEM SEDE DE DEUS, PORÉM MUITOS BUSCAM SACIAR-SE EM ÁGUAS PARADAS, CONTAMINADAS.

SÓ JESUS É A VERDADEIRA FONTE DE ÁGUA VIVA  QUE ELIMINA A NOSSA SEDE PARA A ETERNIDADE!

REZEMOS  PARA QUE A ÁGUA DE JESUS LAVE OS NOSSOS PECADOS, E CONDUZA-NOS  À CONVERSÃO, PARA QUE POSSAMOS CAMINHAR  EM SANTIDADE, E PULVERIZAR O MUNDO COM A PALAVRA DE JESUS, FONTE DE ÁGA VIVA.

ASSIM SEJA.

Sal.

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Jesus sacia nossa fome e nossa sede e com a sua presença.

 

 

                                                          O Evangelho de hoje nos apresenta um grande encontro entre um homem e uma mulher. O homem, Jesus, chega ao poço de Jacó muito cansado de uma viagem. Também ele ficava cansado, e sentia sede como nós (natureza humana). É muito bom notar que Jesus precisava das pessoas. E quando ele precisava, ele pedia. Como fez com a samaritana pedindo-lhe água para beber.

                                                      Ele nos dá esta lição e por que não? Precisamos uns dos outros. Entretanto, o mundo de hoje propaga um tipo de atitude diferente: a auto-suficiência. Precisar dos outros? Ah, isso nos torna vulneráveis. Queremos ser totalmente independentes. Queremos não precisar de ninguém nem nos sentirmos fracos, mesmo sabendo que o somos

                                                   Mas por que não precisar? Por que não reconhecer que sim? Precisamos uns dos outros! Jesus precisa de água pra matar sua sede e isto é a causa de um encontro profundo tanto para ele como para a mulher samaritana: ele encontra a fé, onde era de se esperar que não houvesse; e, a mulher no desenrolar da conversa, redescobre a si mesma, sente-se liberta, restaurada e encontra o Messias esperado há tantos séculos.

                                               A relação entre judeus e samaritanos era de permanente hostilidade e a Samaria era considerada território impuro pelo mundo judaico, tanto que não se podia atravessá-la durante os percursos de viagem. Normalmente, para ir a Galileia, havia outras vias como o percurso à beira do mar, ou pelo lado oposto, à margem do rio Jordão. A "necessidade" de Jesus descrita por João de passar obrigatoriamente pela Samaria não é de tipo geográfica, mas teológica: porque em suas intenções havia a vontade do Pai de que também aquele povo, como todos os outros, tivessem a salvação trazida por Cristo.

                                              Assim, livre de inimizades e preconceitos, Jesus não hesita tratar aquela aparentemente desconhecida samaritana como teria tratado qualquer amigo seu. De fato, o seu pedido é de uma abertura e desenvoltura que  supera qualquer formalidade e estranheza O encontro quebra todas as regras religiosas. Além do problema acima citado, um Rabi (Mestre) nunca devia dirigir a palavra a uma mulher fora de casa. Além disso, falar num poço com uma mulher significava cortejá-la, costume que sempre acabava em casamento. O poço na Bíblia é o lugar dos encontros de amor: foi a partir daí que Isaque casou com Rebeca (Gn 24), Jacó com Raquel (Gn 29) e Moisés com Séfora (Ex 2). Só que normalmente isso acontecia ao cair da tarde.

                                        E o Evangelho em questão diz: "era por volta do meio dia". Por aí, já sabemos que este encontro não terá como finalidade um casamento.

                                        Assim, Jesus pede a mulher: "dá-me de beber". A mulher surpresa, diz: "como é que você, sendo judeu, tem coragem de dirigir a palavra a mim, uma mulher samaritana?". E Jesus responde: "se você conhecesse o dom de Deus e quem é que te pede: 'Dá-me de beber', você mesma me pediria e eu te daria água viva". Notamos claramente aqui que há uma distância de pensamento enorme. Enquanto Jesus está falando seriamente sobre o nosso lado espiritual, a mulher segue a conversa sem ter a mínima idéia do que ele está falando e podemos até sentir um pouco de chacota por parte dela: "Senhor, você nem sequer tem um balde e o poço é fundo. De onde vai tirar esta água viva? Por acaso você é maior que nosso pai Jacó...?" Mas Jesus não desiste e argumenta que todo aquele que beber da água do poço de Jacó, voltará a ter sede, mas qualquer um que beber da água que ele lhe der, nunca mais terá sede.

                                   A partir daí, a mulher passa da descrença para a dúvida; ela desconfia que há algo de verdadeiro na conversa de Jesus. Assim, não custa tentar e agora é ela quem pede: "Senhor, pois, então, dá-me dessa água para que eu não tenha mais o trabalho de voltar aqui". Finalmente, Jesus vendo a abertura por parte da samaritana, arranja uma maneira de fazê-la acreditar de uma vez por todas nele, pedindo para que ela vá chamar o seu marido. A mulher responde que não tem marido. E aí, Jesus convence a mulher: "realmente, você disse bem que não tem marido, pois teve cinco e o que tem agora não é teu marido. Nisso você foi verdadeira". A mulher cai em si que realmente Jesus é um profeta e os dois vão  desenvolvendo um diálogo com relação ao tema do Messias até chegar ao ponto de Jesus se apresentar como tal: "o Messias sou eu que estou falando com você neste exato momento ".

                            Quantas  vezes acontece isso na nossa vida. Deus está tentando nos mostrar uma coisa, mas nem sempre entendemos o que Ele está querendo nos falar, às vezes até porque não queremos entender. Jesus não se cansou, insistiu até a mulher entender. Há coisas mais profundas que Deus quer nos mostrar. Há momentos que Jesus fala conosco e não percebemos.

                           O caminho que a mulher samaritana percorre é o nosso caminho de cristãos em busca de Deus. O evangelista João sabe muito bem que a busca de Deus por parte do homem arrisca sempre num fechar-se em si mesmo. Há muita incompreensão. O homem, fechado em si mesmo, não é capaz de entender a Palavra de Deus, nem de atingi-la, nem de interpretar corretamente as próprias aspirações. A tentação de quem busca Deus é sempre de colocar o dom de Deus dentro dos próprios interesses. A mulher até procurou fazer isso, mas Jesus não hesitou em mostrar a sua inadequação. Por duas vezes, ela sempre volta ao passado: patriarca, culto etc. Ela está sempre presa ao passado.

                                Mas, Jesus a constringe a olhar para o futuro e a tomar consciência de que no mundo chegou a novidade e que esta renova toda a nossa vida. O testemunho da mulher contagia os outros e permite que cada um tenha sua própria experiência pessoal com Jesus Cristo. Jesus sacia nossa fome e nossa sede e com a sua presença e o seu anúncio podemos ter a certeza de ser verdadeiramente libertos e salvos.Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita.

 

Amém.

Abraço carinhoso da professora

Maria Regina

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Homilia de Mons. José Maria Pereira – III Domingo da Quaresma – Ano A

Jesus e a Mulher Samaritana

A Quaresma é para nós um tempo forte de conversão e renovação em preparação à PÁSCOA.

O grande tema que marca este Domingo é a ÁGUA, símbolo da vida.

A 1ª leitura (Ex 17, 3-7) nos fala da água que brota da rocha golpeada por Moisés para saciar a sede do povo no deserto. Moisés dá de beber a seu povo. É imagem de Cristo, que no futuro dará a água da vida, que é o Espírito Santo.

Em Rm 5, 1-2. 5-8 São Paulo faz uma releitura significativa: A rocha é Cristo. Do Cristo morto e ressuscitado brota o Espírito como rio de água viva. "O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado" (Rm 5, 5).

No Evangelho (Jo 4, 5-42), Jesus pede e oferece ÁGUA à Samaritana.

O Evangelho da Samaritana é encantador! A fina psicologia de Jesus manifesta-se a cada passo. Jesus, cansado da caminhada, sentou-se junto ao poço. Quando se aproximava a mulher, Jesus lhe pede: "Dá-me de beber". E estabelece-se o diálogo. Jesus apresenta-se como água viva. Quem beber dessa água nunca mais terá sede. É a água que jorra para a vida eterna. Quando a mulher lhe pede dessa água, para que não mais precise buscá-la no poço, Jesus penetra mais fundo na alma dessa mulher: "Vai, chama o teu marido e volta aqui". Ela, por sua vez, reconhece que não tem marido. Jesus a valoriza, louvando sua sinceridade e a mulher o reconhece como um profeta. Jesus, a partir dessa sua fé incipiente, revela-lhe que é o Messias. E a Samaritana abandona o "Velho balde" e corre para a cidade, para anunciar ao povo a verdade que tinha encontrado.

Essa mulher desprezada, após escutar Jesus como Discípula, torna-se MISSIONÁRIA de Cristo, antes mesmo dos apóstolos…

Jesus veio para salvar o que estava perdido.

Ensinava São Josemaria Escrivá: "Sempre que nos cansemos – no trabalho, no estudo, na tarefa apostólica – sempre que no horizonte haja trevas, então é preciso olhar Cristo: Jesus bom, Jesus cansado, Jesus faminto e sedento. Como te fazes compreender bem, Senhor! Como te fazes amar! Mostras-te igual a nós em tudo, exceto no pecado, para que sintamos que contigo poderemos vencer as nossas más inclinações e as nossas culpas. Efetivamente, não têm importância o cansaço, a fome, a sede, as lágrimas… Cristo cansou-Se, passou fome, teve sede, chorou. O que importa é a luta – uma luta amável, porque o Senhor permanece sempre a nosso lado – para cumprir a vontade do Pai que está nos céus" (Amigos de Deus, nº 176 e 201).

É profundo o diálogo de Jesus com a Samaritana. "Jesus pede de beber e promete dar de beber. Apresenta-se como necessitado que espera receber, mas possui em abundância para saciar os outros. Se tu conhecesses o dom de Deus, diz Ele. O dom de Deus é o Espírito Santo. Que água lhe daria Ele, senão aquela da qual está escrito: em vós está a fonte da vida? (Sl 35, 10). Pois como podem ter sede os que vêm saciar-se na abundância de vossa morada? (Sl 35, 9).

O Senhor prometia à mulher um alimento forte, prometia saciá-la com o Espírito Santo. Mas ela ainda não compreendia e disse-Lhe: "Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la" (Santo Agostinho).

A transformação que a graça opera na Samaritana é maravilhosa! O pensamento dessa mulher centra-se agora somente em Jesus e, esquecendo-se do motivo que a tinha levado ao poço, deixa o seu cântaro e dirige-se à aldeia para comunicar a sua descoberta! "Os Apóstolos, quando foram chamados, deixaram as redes, a Samaritana deixa o seu cântaro e anuncia o Evangelho, e não chama somente um, mas põe em alvoroço toda a cidade" (Hom. sobre São João, 33). Toda conversão autêntica projeta-se necessariamente para os outros, num desejo de os tornar participantes da alegria de se ter encontrado com Jesus.

Que a Caminhada quaresmal nos ajude a voltar ao POÇO, lugar de ENCONTRO.

Os homens continuam ainda hoje procurando um Poço, para saciar sua sede profunda de vida. Só Cristo mata definitivamente a sede de vida e felicidade do homem.

Como discípulos e missionários possamos, como a Samaritana, anunciar a todos o Cristo, nossa vida e felicidade…

Façamos nosso o pedido da Samaritana: "Senhor, dá-nos sempre dessa água!".

Mons. José Maria Pereira

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"JESUS É A ÁGUA VIVA"

 

DEUS TEM SEDE

 

"O deserto é belo porque no meio dele há um poço" (St. Exupéry). 

Os patriarcas, em suas migrações, armavam uma tenda e cavavam um poço. A história da salvação faz referência a vários poços. Jacó dera esse poço, que era uma fonte de vida, a sua descendência.

Jesus, ao meio dia, senta-se ao lado do poço e pede de beber a uma samaritana. Na Cruz, repetirá: "Tenho sede". A sede de Deus é dar de beber!

Junto àquela água, dá-se um diálogo. Era Deus que abria um novo poço para sua sede. Ali esperou uma mulher "meio pagã", símbolo do mundo sedento, que não sabe onde encontrar a água.

"A água que eu lhe der se tomará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna" (Jo. 4,14), diz Jesus. Esse evangelho é colocado nesse domingo em vista da preparação para a celebração do Batismo, na noite de Páscoa.

Temos cinco domingos da quaresma. No primeiro domingo, Cristo vence o mal; no segundo, Ele é transfigurado. Faz a promessa da "água viva" no terceiro domingo e, no quarto, manifesta-se como Luz. Finalmente, no quinto, Ele é a vida.

No simbolismo da água, encontramos Cristo que dá a Água Viva no batismo. Ali, junto ao poço de Jacó, Ele espera pela samaritana. Os samaritanos eram o resultado de uma mistura de judeus e cinco povos e seus deuses (os 5 maridos da mulher). Ela se admira que Ele peça água a uma mulher e, pior, a uma samaritana.

Jesus é a realização da profecia: "Bebereis com alegria das fontes da salvação" (Is. 12,3). Ele faz-lhe uma catequese. Jesus que não cede na fé - "A salvação vem dos judeus"; abre os tesouros de Deus a todos: "Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e Verdade" (Jo. 4,23). A verdade está ali: O Cristo. "Sou eu que estou falando contigo" (Jo. 4,26).

Os samaritanos creem em Jesus. Ele é a fonte da Água da Vida. "Quem beber desta água não terá mais sede. E a água que. eu lhe der se tomará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna" (Jo 4,14). As águas do Batismo matam a sede de vida eterna. Crer em Jesus é ser lavado do pecado. O batismo faz germinar uma vida nova em Cristo. 

2. Nós Temos Sede

A samaritana busca água para sua sede e encontra em Jesus a fonte. "Dá-me desta água". Dar água é acolher. Jesus, ao pedir água, pediu para ser acolhido e, ao mesmo tempo, acolheu. A água que Jesus dá é o Espírito, a força que vem de dentro e 'jorra para a vida eterna'.

O Povo no deserto murmura contra Moisés. Eles não têm água, preferem voltar ao Egito e ser escravos (Ex. 17,3). Moisés bate na rocha e brota água abundante (Ex. 17,6).

Cristo é a Rocha que dá a água do Espírito. Paulo nos ensina que somos salvos e justificados por Ele. Essa salvação vem a nós pelas águas do batismo que saciam nossa sede fundamental de ter Deus. A sociedade quer fazer-se salvadora de si mesma e não salva ninguém. Temos uma fonte, de água corrente (água viva) que jorra do lado aberto de Cristo (Jo. 9,34). Esse rio fecunda nossas vidas a partir do batismo, e jorra em nossas celebrações.

3. Adorar em Espírito e Verdade

Jesus tem um diálogo religioso com a samaritana, que queria saber onde adorar a Deus: em Jerusalém ou no monte Garizim. Ele responde que os verdadeiros adoradores superarão a religião de templos, e irão à adoração em Espírito e Verdade. No Espírito Santo e em Cristo.

A mulher vai avisar o povo sobre Jesus. Encontrar Jesus leva-a a deixar o balde vazio e levar outros às fontes d'Água Viva. Ela é a primeira missionária que convida a acolher a fé. Relata a experiência que ela própria fez. "Vi um homem... assim, assim; não será ele o Messias?"

No tempo da quaresma, fazemos uma caminhada batismal. Para nós, em cada Eucaristia, brota um rio de Água Viva na assembleia da Igreja.

Como nós já havíamos refletido no primeiro domingo da Quaresma, nos primórdios da Igreja, a Quaresma era o tempo de preparação dos catecúmenos para a solenidade do Batismo. E o terceiro domingo da Quaresma era o momento em que os catecúmenos prestavam o exame de admissão, ou seja, os escrutínios. Neste dia liam-se os grandes textos bíblicos com alusões ao Batismo em referência ao Evangelho de João. Na renovação da vida Litúrgica da Igreja os textos que se referem ao Batismo são lidos e refletidos de hoje até ao 5o. Domingo da Quaresma.

A Primeira Leitura deste domingo (cf. Ex 17,3-7) e o Evangelho relacionam-se como figura e realização: a água pedida pelos israelitas no deserto prefigura a água viva que Jesus dá. Mas a água exigida pelos hebreus era coisa que eles conheciam e queriam; murmuraram até, pondo Deus à prova, conforme nos anuncia o salmo responsorial: "Não fecheis, irmãos, o vosso coração, como outrora no deserto!" (Cf. Sl. 94). A samaritana, entretanto, não conhece nem pede o dom que Jesus, misteriosamente, Lhe oferece gratuitamente. Jesus tem de conduzi-la para além de sua incompreensão. E assim, ela mesma provoca a busca dos samaritanos, que acabam se dirigindo a Jesus.

Na primeira leitura os israelitas pedem água, no deserto. Deus é conosco, ou não? Nestes termos, Israel colocou Deus à prova, quando faltou água e em outras circunstâncias na travessia do deserto. Apesar dos desafios, Deus se tem mostrado fiel, dando água, não só para matar a sede no deserto, mas a água da vida eterna de cada dia, a água de um poço já representa este grande dom.

A liturgia deste domingo coloca em evidência a água, no sentido simbólico que se apresenta no batismo. Significa o dom de Deus, que é Jesus mesmo. E como nos ensina a Segunda Leitura, esse dom de Deus é gratuito: seu representante, seu Filho, deu a vida por nós enquanto éramos seus inimigos! Receber essa água, no batismo, é deixar-se envolver com esse amor gratuito de Deus, em Jesus Cristo, é comprometer-se com essa imensurável bondade. Isso só é possível porque Deus nos amou primeiro.

O episódio da samaritana nos é apresentado porque ele dá um encantamento a quaresma, que é tempo de penitência, de jejum e de oração para bem celebrarmos a Páscoa do Senhor. E este episódio coloca em evidência que a samaritana nos ensina a adorar verdadeiramente a Deus, e com isso nos diz como manter vivo e intenso o contacto entre nós e Deus.

Assim, a conversão é um reavivamento do nosso batismo, onde a água, pela força divina, nos lavou dos pecados, nos abriu as portas do céu. Não a água em si, mas aquele que ela significa: o Redentor, o Salvador, o Cristo Senhor.

O batismo não pode ficar preso apenas a um ritualismo de tirar a criança do paganismo. O batismo envolve toda a vida do cristão e gera um compromisso de participar da vida da comunidade, de crescer em sabedoria, em caminhar em santidade para termos três atitudes básicas na vida dos batizados: o louvor, a reverência e o serviço a Cristo pelos irmãos.

Jesus usa, por doze vezes, o termo mulher no Evangelho de hoje (cf. Jo 4,5-42 ou 4,5-15.19b-26.39.40-42). Por isso é importante notar que a Samaritana se torna o modelo de verdadeira discípula de Jesus. Isso porque ela convida seus conterrâneos com as palavras da fé: "vinde e vereis!". Verdadeira discípula porque a samaritana ouve, abre o coração e a mente à verdade, crê com fidelidade e dá ao mundo o testemunho. Essa deve ser a nossa atitude nesta preparação mais próxima para a Páscoa.

Isso porque Jesus, um Judeu, passando pela Samaria, teria que superar uma antiga rivalidade entre os judeus e os samaritanos, que se evitavam, se odiavam e se provocavam mutuamente. E isso, muitas vezes, infelizmente ocorrem em nossas famílias, em nossas comunidades e em nossas Paróquias. Jesus estava sentado ao lado do poço, Ele o Filho predileto do Pai do Céu, capaz de dar não apenas um poço de água corrente, mas água viva, que jorra para a vida eterna.

Naquele tempo, nenhum homem descente abordava uma mulher em público, conforme o costume, tanto judeu quanto samaritano. Assim, um judeu que se prezasse não pedia jamais um favor a um samaritano. Jesus, entretanto, quebra dois preconceitos ao mesmo tempo, coisa que escandalizou aos seus próprios discípulos: conversa com a samaritana, mulher e pede a ela que lhe desse de beber.

Isso tem um significado muito especial para todos nós: Jesus veio para chamar os pecadores à conversão, não importando qual a categoria de seu pecado, se leve ou grave, se público ou privado, Jesus veio dar um rio de água viva, que é a mudança de vida, a emenda de comportamento e a graça pela santidade.

Jesus chocou os hebreus que detestavam os pecadores. Os hebreus que não acolhiam o diferente, como a samaritana que era pagã, de vida desregrada, e, infelizmente mulher. Seria uma insanidade perder tempo, qualquer rabino que fosse, passando ensinamentos para uma mulher.

Jesus vai na contra-mão: tem uma atitude de misericórdia, abrindo o coração a uma pessoa necessitada de sua ajuda.

O dom da água viva, Jesus o Salvador. O simbolismo da água sugere o dom do Espírito – que nos ensina a segunda leitura – de Deus, mas para entender isso é preciso ser ensinado por Cristo. O Evangelho hodierno mostra tal ensinamento. No fundo, o próprio Cristo é dom de Deus – e para os que vêm depois dEle, é o Espírito que se lhes dá, na água que significa o dom divino. Assim, será verdadeiramente possível amar Deus "em espírito e verdade", ou seja, não em instituições humanas.

A misericórdia tem muitas faces: misericórdia que gera justiça, misericórdia que dá o pão a quem tem fome. E o pão que interessa é o pão da vida eterna, que dá alimento para o contacto com o Criador. Por isso somos convidados a nos esforçarmos não pelo pão que perece, mas pelo alimento capaz de dar a vida eterna, a vida em Deus, conforme nos ensinou Jo 6,27.

A água do Batismo gera a fonte da vida eterna. O Batismo é o sacramento-porta, que abre as portas da eternidade, apagando nossos pecados e nos tornando herdeiros da vida divina. No Batismo nos tornamos morada da Santíssima Trindade.

Para ser batizado é necessário conhecer o dom de Deus; reconhecendo no Cristo o Messias e Salvador e sair do pecado e de si mesmo e ir ao encontro de Jesus, fazendo a vontade do Pai, realizando no  mundo as obras que o Pai quer e continuar a missão de Jesus na terra, dando sempre o testemunho da pessoa divina-humana de Jesus.

A segunda leitura (cf. Rm. 5,1-2.5-8) mostra que Deus nos amou – em Cristo – por pura graça. O que o batismo nos oferece é um puro dom, pura graça. Não o merecemos: Cristo morreu por nós enquanto éramos pecadores. Paz, graça, esperança da glória divina, nossa justificação e adoção por Deus, nós temos e sabemos tudo isso pelo Espírito que Cristo nos dá, o Pai.

Por ocasião deste ano o santo Padre Bento XVI, tornou pública uma exortação ao povo fiel em que fala: "O pedido de Jesus à Samaritana: "Dá-Me de beber" (Jo 4,7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da "água a jorrar para a vida eterna" (v. 14): é o dom do Espírito Santo, que faz dos cristãos "verdadeiros adoradores" capazes de rezar ao Pai "em espírito e verdade" (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, "enquanto não repousar em Deus", segundo as célebres palavras de santo Agostinho".

Encontramos-nos diante da sede de um povo no deserto, da sede de uma mulher no poço. A sede e símbolo de uma necessidade íntima, vital, torturante. Além da sede fisiológica há uma sede mais profunda em todo homem, em toda a sociedade, em toda comunidade de nosso tempo, particularmente naqueles que estão afastados de Deus e da Igreja: buscamos cada vez mais "coisas" para saciar a nossa sede. Nada nos basta. Nada nos satisfaz. Nossa civilização somente nos oferece os "bens de consumo", não os benditos valores espirituais.

O mundo convida aos homens e mulheres ao oportunismo, ao mais fácil, ao mais seguro e ao mais cômodo. Os ideais de coerência, de sinceridade, de amor, que existem em todos os homens, são em geral frustrados, traídos por quem os propugna ou pelo indivíduo incapaz de resistir à pressão dos que o cercam. Todos falam do valor de colaboração, todos reconhecem que somos globalmente responsáveis pelo caminho da humanidade, no entanto, o que encontramos é insensatez, orgulho, instintos de domínio, de grandeza, inclinação para a agressividade, para um prazer às vezes exacerbado, incontrolado e irracional.

Ao lado do poço, aonde a humanidade vem buscar a água que mata a sede e purifica o corpo, Jesus se apresenta como a água viva, capaz de satisfazer por inteiro a sede espiritual da humanidade. Jesus é a fonte de água viva e quem beber desta água nunca mais terá sede.

 

padre Wagner Augusto Portugal

 

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Homilia do Padre Françoá Costa – III Domingo da Quaresma – Ano A

Sede de Deus

"O pedido de Jesus à Samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho" (Bento XVI, Mensagem para a Quaresma de 2011).

Deus está apaixonado pelo ser humano, tem sede do pobre amor dos nossos corações. Nós pedimos de beber a alguém que afirma claramente que tem sede. Essa sede de Deus por cada pessoa humana ficou claramente expressada naquele grito que somente o evangelista João conservou no Evangelho: "Tenho sede" (Jo 19,28).  Deus tem sede de que nós tenhamos sede do seu Espírito, da sua vida, da sua graça, da sua glória. Ele tem água abundante, mas tem sede de que nós a bebamos.

"Dá-me de beber" (Jo 4,7) é a expressão daquilo que todo ser humano tem: sede de Deus, que pode ser saciada: aqui pela graça e no céu pela glória. André Frossard no famoso relato da sua conversão, "Deus existe. Eu encontrei-o", terminava com essas palavras: "l'éternité sera courte" – a eternidade será curta. Trata-se de uma maneira poética de afirmar que diante da grandeza de Deus, a mesma eternidade –um presente sem começo nem fim– será "curta" para deliciar-nos com a presença do Senhor.

Essa sede de viver conforme aquilo que Deus pensou para nós, de apetecer aquilo que constrói realmente uma existência cheia de sentido, de contemplar todas as coisas com a visão purificada e descobrir o esplendor de cada criatura, é uma sede existencial, é uma insatisfação da alma que não encontra sentido fora de Deus. Santo Tomás de Aquino fez uma análise cientificamente rigorosa sobre a felicidade do ser humano (cfr. S.Th. II-II, q. 2–5), na qual começava por estudar o fato de que a felicidade não pode consistir nas riquezas, nem na honra, na fama ou na glória; tampouco consiste no poder, no bem do corpo, no prazer, nalgum bem da alma ou num bem criado qualquer. Talvez, na sociedade atual, vale a pena enfatizar que a felicidade não consiste nas riquezas nem nos prazeres. Penso somente nessas duas questões porque, infelizmente, os nossos tempos não se destacam pelo cultivo das coisas do espírito e, por tanto, a honra, a glória, os bens da alma e o conhecimento das dimensões mais profundas dos elementos criados geralmente importam pouco.

Como poderia consistir a felicidade do homem nas riquezas, naturais ou artificiais, se estas são sempre finitas? A uma riqueza sempre se pode acrescentar outra. Como se pode ver, podemos passar a vida acumulando riquezas sem saciar-nos. Por outro lado, como poderia consistir a felicidade do ser humano nos prazeres se esses são apenas um principio de conhecimento? "O apetite veemente pelo deleite sensível deve-se ao fato de que as operações dos sentidos são mais perceptíveis, porque são princípios do nosso conhecimento. É por isso que a maioria deseja os deleites sensíveis" (Santo Tomás de Aquino). Logicamente, o prazer, quando surge de um bem real, é bom. Sem dúvida, é bom e agradável a Deus o prazer que os membros de uma família experimentam numa deliciosa comida dominical num ambiente festivo e moderado pela virtude; é bom e agradável a Deus o prazer que o homem e a mulher, unidos por santo matrimônio, sentem ao gerar os filhos; é bom e muito agradável a Deus o prazer que podemos sentir ao cumprir os nossos deveres de estado. Não obstante, o prazer, quando procede dos desejos desordenados, pode absorver de tal maneira as faculdades superiores, inteligência e vontade, que poderia cegar-nos. Os prazeres desordenados poderiam levar ao desprezo da virtude, inclusive poderia levar ao pior pecado que dar-se pode: o ódio a Deus. Neste caso, Deus seria odiado porque apareceria aos olhos do pecador como inimigo da sua vida desordenada de prazeres.

A leitura atenta descobre facilmente a importância da água para S. João. É somente nesse Evangelho que nós lemos o relato das bodas de Caná, onde Jesus transforma a água em vinho (cfr. Jo 2,1-12); no capítulo seguinte encontramos aquela afirmação que sempre nos comove: "quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus" (Jo 3,5); depois a passagem, que acabamos de escutar, que nos relata o encontro de Jesus com a Samaritana (cfr. Jo 4,1-42); era pelo movimento da água que os enfermos eram curados na piscina de Betesda (cfr. Jo 5,1-18). De fato, o Catecismo da Igreja Católica afirma que o simbolismo da água significa a ação do Espírito Santo, que brota do lado aberto de Cristo crucificado (cfr. Cat 694).

É no Coração de Deus que nós encontramos o nosso descanso, a nossa paz, os nossos prazeres, a nossa felicidade, a nossa bem-aventurança. Distanciar-nos daí é sair do caminho da felicidade, é correr pelos prados da insensatez, é viver uma vida que só pode levar à escuridão mais profunda e ao pior absurdo da vida humana, não ser feliz.

Pe. Françoá Costa

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Homilia do D. Henrique Soares da Costa – III Domingo da Quaresma – Ano A

Ex 17,3-7
Sl 94
Rm 5,1-2.5-8
Jo 4,5-42

A Quaresma é tempo de caminho para a santa Páscoa, Páscoa de Cristo e nossa. Ora, é pelo Batismo e a Eucaristia que entramos misteriosamente na Páscoa do Senhor, no seu mistério de morte e ressurreição. Por isso celebramos a Noite Santa de Páscoa com o Batismo e a Eucaristia! Pois bem, o Evangelho de hoje é uma belíssima catequese batismal!

Acompanhemos passo a passo este texto belíssimo. "Chegou uma mulher da Samaria para buscar água". Essa mulher, essa samaritana, essa pagã, representa os povos não-judeus, os que ainda não conheciam o Deus verdadeiro. Eles vêm, sedentos, procurando uma água que não sacia definitivamente; eles têm de voltar sempre ao poço, buscam saciar a sede de tantos modos, e continuam sempre com sede: "Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo". Consumismo, sexo, liberdade desenfreada, droga, poder, dinheiro, ciência sem ética nem limites, facilidades… nada disso sacia de modo definitivo o nosso coração! Jesus provoca a mulher:"Se conhecêsseis o dom de Deus e quem é que te pede 'Dá-me de beber', tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva". Frase estupenda! O Dom de Deus é o Espírito Santo; é ele á água que jorra para a vida eterna. Em Jo 7,37, Jesus convidou: "Se alguém tem sede, venha a mim, e beba aquele que crê em mim". E o Evangelista recorda que do seio do Messias sairão rios de água viva, o Espírito Santo (cf. Jo 7,38). E quem é que pede de beber? O Messias, isto é, o Ungido com o Espírito, o doador do Espírito, da água que nos sacia de vida eterna!

Diante disso, a Samaritana – e nós também – suplica: "Senhor, dá-me dessa água!" Esta água só pode ser recebida no sacramento do Batismo! Como aquele outro pedido: "Senhor, dá-nos deste pão" (Jo 6,34). Eis o Batismo; eis a Eucaristia! É assim que a vida de Jesus nos chega! Mas, não se pode receber o Batismo sem primeiro se reconhecer pecador, sem primeiro confessar seu pecado e buscar a remissão no Espírito Santo que Jesus dá! Quem não se humilha diante do Senhor, quem não se reconhece pecador, não beberá dessa água! Por isso, Jesus revela o pecado da mulher, toca seu ponto fraco, fá-la reconhecer-se indigna, não para envergonhá-la, mas para libertá-la com a verdade: "Vai chamar teu marido!" A mulher era adúltera, com vários maridos, como os pagãos, com seus vários deuses! Jesus, então, revela que os pagãos adoram o que não conhecem, porque "a salvação vem dos judeus!" Interessante o ecumenismo de Jesus: não mascara a verdade, não nega a verdadeira fé, em nome de um falso diálogo! A salvação vem dos judeus, porque é dos judeus que Cristo vem – ele, o único verdadeiro Salvador, fora do qual não há nem pode haver salvação alguma! Há tanto teólogo sabido esquecendo isso! Por outro lado, o judaísmo vai ser superado: "Está chegando a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e Verdade" e não mais em Jerusalém! Eis: quando Cristo der o seu Espírito, é nesse Espírito de Verdade, Espírito de Cristo, recebido nas águas do Batismo, que a humanidade encontrará a Deus! Esses são os adoradores que o Pai procura, pois a salvação definitiva vem de Cristo, presente nos sacramentos da sua Igreja católica, sobretudo no Batismo e na Eucaristia! É nele que judeus e pagãos são chamados a formar um só povo de verdadeiros adoradores!

Finalmente, o misterioso diálogo de Jesus com os apóstolos: "Tenho um alimento que não conheceis: o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra". O alimento de Jesus é levar o Reino do Pai a todos os povos, judeus e pagãos! É o que Jesus acabara de fazer com a Samaritana… e ela está chamando outros até Jesus. Por isso, Jesus diz: "Levantai os olhos e vede os campos: eles estão dourados para a colheita! O ceifeiro já está recebendo o salário e recolhe fruto para a vida eterna! Um é o que semeia, outro o que colhe!" O Senhor está semeando para que os Apóstolos colham depois da Páscoa! Mas, a conversão daqueles samaritanos é já um sinal e uma antecipação da colheita, da conversão dos pagãos.

Que dizer mais? Somos a colheita de Cristo! "Estamos em paz com Deus por Jesus Cristo". Porque fomos batizados nele, vivemos na esperança, pois já experimentamos em nós a vida eterna, pois "o amor de Deus foi derramado como água em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!" E tudo isso, graças ao que Cristo semeou com sua morte, tornando-se grão que dá fruto para a vida eterna! Eis que prova de amor tão grande o Pai nos deu! Eis em que consiste o Reino que Jesus veio anunciar e trazer! Eis a obra do Pai, que é o alimento de Jesus!

Eis! Na sede do nosso caminho de vida e de Quaresma, olhemos para Jesus, aproximemo-nos dele, o Rochedo que, ferido na cruz, de lado aberto, faz jorrar a água do Espírito para o seu povo peregrino e sedento. O mundo, tão sedento, procura matar a sede em tantas águas sujas, envenenadas, águas que matam! Que nós matemos nossa sede no Cristo, novo Rochedo, que jorra a água do Espírito, que dura para a vida eterna! Que ele alimente nosso caminho quaresmal até a Páscoa da glória! Amém.

D. Henrique Soares da Costa

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Cristo, pão que alimenta, água que sacia

O Evangelho de hoje nos apresenta um grande encontro entre um homem e uma mulher. O homem, Jesus, chega ao poço de Jacó muito cansado de uma viagem. Também ele ficava cansado, e sentia sede como nós (natureza humana). É muito bom notar que Jesus precisava das pessoas. E quando ele precisava, ele pedia. Como fez com a samaritana pedindo-lhe água para beber.

Ele nos dá esta lição e por que não? Precisamos uns dos outros. Entretanto, o mundo de hoje propaga um tipo de atitude diferente: a autossuficiência. Precisar dos outros? Ah, isso nos torna vulneráveis. Queremos ser totalmente independentes. Queremos não precisar de ninguém nem nos sentirmos fracos, mesmo sabendo que o somos.

Mas por que não precisar? Por que não reconhecer que sim? Precisamos uns dos outros! Jesus precisa de água pra matar sua sede e isto é a causa de um encontro profundo tanto para ele como para a mulher samaritana: ele encontra a fé, onde era de se esperar que não houvesse; e, a mulher no desenrolar da conversa, redescobre a si mesma, sente-se liberta, restaurada e encontra o Messias esperado há tantos séculos.

A relação entre judeus e samaritanos era de permanente hostilidade e a Samaria era considerada território impuro pelo mundo judaico, tanto que não se podia atravessá-la durante os percursos de viagem. Normalmente, para ir a Galileia, havia outras vias como o percurso à beira do mar, ou pelo lado oposto, à margem do rio Jordão. A "necessidade" de Jesus descrita por João de passar obrigatoriamente pela Samaria não é de tipo geográfica, mas teológica: porque em suas intenções havia a vontade do Pai de que também aquele povo, como todos os outros, tivessem a salvação trazida por Cristo. Assim, livre de inimizades e preconceitos, Jesus não hesita tratar aquela aparentemente desconhecida samaritana como teria tratado qualquer amigo seu. De fato, o seu pedido é de uma abertura e desenvoltura que supera qualquer formalidade e estranheza.

O encontro quebra todas as regras religiosas. Além do problema acima citado, um Rabi (Mestre) nunca devia dirigir a palavra a uma mulher fora de casa. Além disso, falar num poço com uma mulher significava cortejá-la, costume que sempre acabava em casamento. O poço na Bíblia é o lugar dos encontros de amor: foi a partir daí que Isaque casou com Rebeca (Gn. 24), Jacó com Raquel (Gn. 29) e Moisés com Séfora (Ex. 2). Só que normalmente isso acontecia ao cair da tarde. E o Evangelho em questão diz: "era por volta do meio dia". Por aí, já sabemos que este encontro não terá como finalidade um casamento.

Assim, Jesus pede a mulher: "dá-me de beber". A mulher surpresa, diz: "como é que você, sendo judeu, tem coragem de dirigir a palavra a mim, uma mulher samaritana?". E Jesus responde: "se você conhecesse o dom de Deus e quem é que te pede: 'Dá-me de beber', você mesma me pediria e eu te daria água viva". Notamos claramente aqui que há uma distância de pensamento enorme. Enquanto Jesus está falando seriamente sobre o nosso lado espiritual, a mulher segue a conversa sem ter a mínima ideia do que ele está falando e podemos até sentir um pouco de chacota por parte dela: "Senhor, você nem sequer tem um balde e o poço é fundo. De onde vai tirar esta água viva? Por acaso você é maior que nosso pai Jacó...?" Mas Jesus não desiste e argumenta que todo aquele que beber da água do poço de Jacó, voltará a ter sede, mas qualquer um que beber da água que ele lhe der, nunca mais terá sede.

A partir daí, a mulher passa da descrença para a dúvida; ela desconfia que há algo de verdadeiro na conversa de Jesus. Assim, não custa tentar e agora é ela quem pede: "Senhor, pois, então, dá-me dessa água para que eu não tenha mais o trabalho de voltar aqui". Finalmente, Jesus vendo a abertura por parte da samaritana, arranja uma maneira de fazê-la acreditar de uma vez por todas nele, pedindo para que ela vá chamar o seu marido. A mulher responde que não tem marido. E aí, Jesus convence a mulher: "realmente, você disse bem que não tem marido, pois teve cinco e o que tem agora não é teu marido. Nisso você foi verdadeira". A mulher cai em si que realmente Jesus é um profeta e os dois vão desenvolvendo um diálogo com relação ao tema do Messias até chegar ao ponto de Jesus se apresentar como tal: "o Messias sou eu que estou falando com você neste exato momento".

Quantas vezes acontece isso na nossa vida. Deus está tentando nos mostrar uma coisa, mas nem sempre entendemos o que Ele está querendo nos falar, às vezes até porque não queremos entender. Jesus não se cansou, insistiu até a mulher entender. Há coisas mais profundas que Deus quer nos mostrar. Há momentos que Jesus fala conosco e não percebemos. O caminho que a mulher samaritana percorre é o nosso caminho de cristãos em busca de Deus. O evangelista João sabe muito bem que a busca de Deus por parte do homem arrisca sempre num fechar-se em si mesmo. Há muita incompreensão.

João quer evidenciar que o homem, fechado em si mesmo, não é capaz de entender a Palavra de Deus, nem de atingi-la, nem de interpretar corretamente as próprias aspirações. A tentação de quem busca Deus é sempre de colocar o dom de Deus dentro dos próprios interesses. A mulher até procurou fazer isso, mas Jesus não hesitou em mostrar a sua inadequação. Por duas vezes, ela sempre volta ao passado: patriarca, culto etc. Ela está sempre presa ao passado. Mas, Jesus a constringe a olhar para o futuro e a tomar consciência de que no mundo chegou a novidade e que esta renova toda a nossa vida. O testemunho da mulher contagia os outros e permite que cada um tenha sua própria experiência pessoal com Jesus Cristo. Jesus sacia nossa fome e nossa sede e com a sua presença e o seu anúncio podemos ter a certeza de ser verdadeiramente libertos e salvos.

Como disse o papa Bento XVI na mensagem quaresmal deste ano: "o pedido de Jesus à samaritana: «Dá-Me de beber» (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da «água a jorrar para a vida eterna» (v. 14): é o dom do Espírito Santo, que faz dos cristãos «verdadeiros adoradores» capazes de rezar ao Pai «em espírito e verdade» (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, «enquanto não repousar em Deus», segundo as célebres palavras de Santo Agostinho".

Que nos demos conta que a sua Palavra é Água viva que sacia, isto é, que dá sentido a tantas perguntas e dúvidas

padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento

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A Quaresma, na Igreja primitiva, além de ser um tempo de penitência e de conversão,era um tempo de preparação para os batizados, que aconteciam no sábado santo, na vigília pascal.

Por isso, nesses três domingos, que antecedem a semana santa, aparece o tema batismal com os símbolos: da água, no diálogo com a Samaritana, da Luz, na cura do cego; da Vida, na ressurreição de Lázaro.

Hoje nos apresenta o símbolo mais importante, a água, que exprime o milagre renovado da Vida.

Na 1ª leitura, o povo pede água (Ex. 17,3-7). No deserto, o povo reclama revoltado contra Moisés, pedindo água, para manter-se vivo: "Dá-nos água para beber..."

E Deus intervém, fazendo brotar milagrosamente água da rocha de Horeb. Moisés dá de beber a seu povo. É imagem de Cristo,   que no futuro dará a água da vida, que é o Espírito Santo.

Na 2ª leitura, são Paulo reafirma que Deus derrama sempre seu Amor em nossos corações, como aconteceu com a samaritana. (Rm. 5,1-2.5-8)

No Evangelho, Jesus pede e oferece água à samaritana. (Jô. 4,5-42)

Jesus cansado... sedento... senta-se ao lado do poço de Jacó... Uma mulher anônima... balde vazio... coração vazio... busca água...

Jesus quebra preconceitos de raça, de sexo, de religião... e toma a iniciativa: "Dá-me de beber". A mulher estranha... (os apóstolos também): falar com samaritana e mulher... Do diálogo nasce a mútua compreensão.

A mulher descobre em si mesma uma sede mais profunda de amor, pois apesar dos 5 maridos que já tivera, vivia um grande vazio...

E Jesus se revela como água viva, capaz de saciar qualquer sede humana...

Inicialmente ela fica confusa... no final ela pede "dessa água". Reconhece Jesus como "Salvador do mundo", o Templo onde Deus "deve ser adorado em espírito e verdade". Abandona o "velho balde" e corre para a cidade, para anunciar ao povo a verdade que tinha encontrado.

O Caminho da Samaritana: esse diálogo mostra a grande pedagogia de Jesus, que se revela aos poucos, até chegar à manifestação plena.

No começo, a mulher só pensa na água material (seus desejos, os maridos...)

Aos poucos começa a compreender e aceitar a proposta de Jesus: Inicialmente, ela vê nele apenas um judeu viajante; depois, o chama de "Senhor"; em seguida, reconhece que é um profeta; no final, descobre nele o Messias esperado pelo povo. Abandona então o balde que dá acesso às suas propostas limitadas de felicidade, e corre até a cidade para anunciar a sua descoberta. Essa mulher desprezada, após escutá-lo como discípula, torna-se missionária de Cristo, antes mesmo dos apóstolos...

A água do poço é símbolo de todas as satisfações humanas, na esperança de encontrar nelas a nossa felicidade, mas que no fim deixam sempre muito vazio e muitas desilusões...

Essa água não satisfaz plenamente, todos os dias precisamos voltar ao poço...

A água de Jesus é o espírito de Deus, o amor que enche os corações. Só Cristo mata definitivamente a sede de vida e felicidade do homem. Essa água nos faz pensar também no batismo, que foi o nosso primeiro encontro com Jesus.

O Prefácio resume em poucas palavras o episódio:

Ao pedir à Samaritana que lhe desse de beber, Jesus lhe dava o dom de crer. E, saciada sua sede de fé, lhe acrescentou o fogo do amor". O nosso caminho...

No passado, o poço sempre foi um lugar de encontro.

Os homens continuam ainda hoje procurando um Poço,  para saciar sua sede profunda de vida. Buscam cada vez mais "coisas" para saciá-la e nada os satisfaz.

Cristo continua vindo ao nosso encontro. Senta perto do nosso poço e nos diz: "Quem tiver sede... venha a mim... e beba..."

Antes de nos encontrar com Cristo, também nós estávamos preocupados com nossos problemas, desejos, ambições, e o nosso coração estava sempre repleto de tristeza e insatisfação.  Precisávamos todos os dias voltar ao poço e encher o nosso balde...

Um belo dia, o encontro com Cristo aconteceu...

A conversa com esse "Jesus" despertou em nós uma curiosidade,

que nos levou a conhecer melhor a pessoa de Cristo e sua mensagem.

No final da caminhada, encontramos essa água viva, prometida por Jesus.

Abandonamos então o "velho balde" e sentimos a necessidade de correr para anunciar a todos, como missionários, a nossa descoberta e a nossa felicidade... Façamos nosso o pedido da Samaritana: "Senhor, dá-nos sempre dessa água!"

padre Antônio Geraldo Dalla Costa

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Os que se preparam para o batismo na Vigília Pascal saíram do Paraíso de Adão e Eva para o encontro com Abraão, que buscava uma terra para a formação de um povo. Hoje, Moisés os guia pelo deserto e lhes dá água para beber. Eles esperam pelas águas do batismo que os integrarão no Corpo Místico de Jesus Cristo. Que não nos falte em nosso planeta a água, matéria do sacramento do batismo.

A sede fez com que o povo provocasse Deus pondo em dúvida a sua presença. O lugar em que isso aconteceu se chamou de Massa, isto é, provocação, e Meriba, que quer dizer contestação.

O salmo 94 nos lembra esse acontecimento e nos exorta a não fechar o coração como em Massa e Meriba, mas ouvir a voz do Senhor. Apesar disso, o fechamento continua assim como a contestação quando mudamos o clima da Terra e perturbamos o curso normal das águas.

Precisamos de água para sobreviver. Ela é tão importante que foi tomada como símbolo da vida nova em Cristo pelo batismo.

No deserto de sua existência, os catecúmenos vão em direção ao rochedo de onde lhes brota a água que os mantém vivos. Os penitentes, na figura da samaritana, sentam-se com Jesus à beira do poço de Jacó e falam da conversão. Para que aquele poço continue com água se faz necessária uma conversão.

Para descobrirmos que a água que mata toda sede é o próprio Jesus, precisamos de conversão. Alguma coisa deve mudar de rumo e de direção. É preciso soltar-se dos lugares geográficos tanto do monte Garizim como da cidade santa de Jerusalém e tornar-se adorador do Pai em espírito e verdade.

Os fiéis que participam da caminhada com os catecúmenos e os penitentes examinam a qualidade de sua liberdade nesses dias de Quaresma.

Há estruturas deste mundo impedindo a visão do Pai em nossa adoração?

Ex. 17,3-7 – O povo precisa de água e não havia água no deserto. Surgem revoltas, contestações, mas contra Deus e seu servo Moisés. A intervenção de Moisés faz com que brote água do rochedo e o povo saiba que Deus está em seu meio e a seu favor. A contestação deve se dirigir a nós mesmos enquanto somos responsáveis pelas perturbações da natureza. Num mundo desorganizado, a água necessária para vida também mata. A inteligência humana é capaz de prever e prevenir.

Sl. 94 – Não provoquemos Deus destruindo suas obras depois de tê-las visto.

Rm 5,1-2.5-8 - Cristo se aproximou de nós e por nós se entregou à morte quando ainda éramos pecadores. Esta é a prova de seu amor para conosco, amor gratuito, que se aproximou de nós assim como somos, para fortalecer a nossa fraqueza.

Jo 4,5-42 – Em torno de um poço, na busca da água, Jesus se aproxima dos samaritanos e se revela a eles como o Messias. Eles estavam no poço de Jacó, e de Jacó surgirá uma estrela, diziam as profecias. A estrela é Cristo e nele um povo novo nasce das águas. A samaritana se julga muito segura com o seu balde que lhe permite alcançar a água. Sua falsa segurança, porém, se desfaz, quando ela descobre uma nova água que a liberta de todos os vínculos e de todas as prisões. Ela agora pode voar sobre Jerusalém e o monte Garizim.

cônego Celso Pedro da Silva

Jesus e a samaritana

O evangelho de João dá um destaque particular ao povo samaritano, valorizando-o e colocando-o em contraposição aos judeus. Neste sentido temos, logo no inicio do evangelho, o contraste entre o chefe fariseu Nicodemos, um homem importante, que vai procurar Jesus na calada da noite e a mulher pobre samaritana que dialoga com Jesus em pleno meio-dia. Enquanto que Nicodemos não entende as palavras de Jesus a samaritana o entende e ainda vai chamar os moradores da cidade, os quais, acorrendo a Jesus, crêem nele e o acolhem. Este longo e belo diálogo entre Jesus e a samaritana tem um estilo poético, tecido com inúmeros fios de simbolismo.

O povo da Samaria, de raça miscigenada em uma região que ficava entre a Judéia, ao sul, e a Galiléia, ao norte, era desprezado e evitado pelos judeus que se consideravam raça pura. A partir da água da fonte de Jacó, de grande importância nas tradições religiosas dos samaritanos, Jesus oferece à mulher a novidade da água viva do Espírito.

Na seqüência do diálogo, a mulher pede a Jesus esta água viva e compreende o anúncio de Jesus, crendo nele. Vai, por sua vez, anunciá-lo ao povo que acolhe Jesus, e Jesus fica com eles por um tempo. Com Jesus estão superadas as discriminações baseadas em crenças religiosas. Os verdadeiros adoradores de Deus o adoram em Espírito e Verdade.

A ação missionária é o reconhecimento e a proclamação da presença de Deus em todos os valores de todos os povos e culturas.

José Raimundo Oliva

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A Palavra de Deus que hoje nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.

A primeira leitura mostra como Jahwéh acompanhou a caminhada dos hebreus pelo deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação.

A segunda leitura repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo – de forma gratuita e incondicional – a salvação.

O Evangelho também não se afasta desta temática… Garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como "o salvador do mundo" torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva.

1ª leitura (Ex. 17,3-7) – AMBIENTE

O texto que nos é proposto como primeira leitura pertence às "tradições sobre a libertação" (cf. Ex 1-18). Trata-se de um bloco de tradições que narram a libertação dos hebreus do Egito (por ação de Jahwéh e do seu servo Moisés) e a caminhada pelo deserto até ao Sinai.

O texto leva-nos até ao deserto do Sinai. O vs. 1 do nosso texto situa o episódio de Massa/Meribá nos arredores de Refidim, provavelmente no sul da península do Sinai (cf. Nm. 33,14-15); mas Nm. 20,7-11 situa-o nos arredores de Kadesh, a norte (aliás, não é possível traçar com rigor o caminho percorrido pelos hebreus, desde o Egito até à Terra Prometida: estamos diante de textos que provêm de "fontes" diferentes, aqui combinados por um redator final; e essas "fontes" referem-se, provavelmente, a viagens distintas e a grupos distintos, que em épocas distintas atravessaram o deserto do Sinai). De qualquer forma, também não interessa definir exatamente o enquadramento geográfico: mais do que escrever um diário de viagem, aos catequistas de Israel interessa fazer uma catequese sobre o Deus libertador, que conduziu o seu Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade.

A questão fundamental para este grupo de fugitivos que, chefiados por Moisés, fugiu do Egito, é a questão da sobrevivência num cenário desolado como é o deserto do Sinai. Os beduínos conheciam diversos "truques" que lhes asseguravam a sobrevivência no deserto. Um desses "truques" pode relacionar-se com o texto que nos é proposto… Alguns autores garantem a existência no deserto do Sinai de rochas porosas que, quando quebradas em certos lugares, permitem o aproveitamento da água aí armazenada. Terá sido qualquer coisa parecida que aconteceu na caminhada dos hebreus e que deixou um sinal na memória do Povo? É possível; mas o importante é que Israel viu no fato um sinal da presença e do amor do Deus libertador.

MENSAGEM

Este episódio é um episódio paradigmático, que reproduz as vicissitudes e as dificuldades da caminhada histórica do Povo de Deus.

Desde que o Povo fugiu do Egito, até chegar a este lugar (Massa/Meribá, segundo os autores do relato), Jahwéh manifestou, de mil formas, o seu amor por Israel… No episódio da passagem do mar (cf. Ex 14,15-31), no episódio da água amarga transformada em água doce (cf. Ex 15,22-27), no episódio do maná e das codornizes (cf. Ex. 16,1-20), Deus mostrou o seu empenho em conduzir o seu Povo para a liberdade e em transformar a experiência de morte numa experiência de vida… Jahwéh mostrou, sem margem para dúvidas, estar empenhado na salvação do seu Povo. Depois dessas experiências, Israel já não devia ter qualquer dúvida sobre a vontade salvadora de Deus e sobre o seu projeto de libertação.

No entanto, não é isso que acontece. Diante das dificuldades da caminhada, o Povo esquece tudo o que Jahwéh já fez e manifesta as suas dúvidas sobre os objetivos de Deus. A falta de confiança em Deus ("o Senhor está ou não no meio de nós?" - v. 7) conduz ao desespero e à revolta. O Povo entra em contenda com Moisés (o nome "meribá" vem da raíz "rib" – "entrar em contencioso") e desafia Deus a clarificar, através de um gesto espetacular, de que lado está (o nome "massa" vem da raíz "nsh" – "tentar", no sentido de "provocar"). Acusam Deus de ter um projeto de morte, apesar de Ele, tantas vezes, ter demonstrado que o seu projeto é de vida e de liberdade. Afinal, depois de tantas provas, Israel ainda não fez uma verdadeira experiência de fé: não aprendeu a confiar em Deus e a entregar-se nas suas mãos.

Como é que Deus reage à ingratidão e à falta de confiança do seu Povo? Com "paciência divina", Deus responde mais uma vez às necessidades do seu Povo e oferece-lhe a água que dá vida. À pergunta do Povo ("o Senhor está ou não no meio de nós?"), Deus responde provando que está, efetivamente, no meio do seu Povo.

Desta forma os israelitas – e os crentes de todas as épocas – são convidados a reter esta verdade definitiva: o Senhor é o Deus que está sempre presente na caminhada histórica do seu Povo oferecendo-lhe, em cada passo da caminhada, a vida e a salvação.

ATUALIZAÇÃO

• A caminhada dos hebreus pelo deserto é, um pouco, o espelho da nossa caminhada pela vida. Todos nós fazemos, todos os dias, a experiência de um Deus libertador e salvador, que está presente ao nosso lado, que nos estende a mão e nos faz passar da escravidão para a liberdade. No entanto, ao longo da travessia do deserto que é a vida, experimentamos, em certas circunstâncias, a nossa pequenez, a nossa dependência, as nossas limitações e a nossa finitude; as dificuldades, o sofrimento e o desencanto fazem-nos duvidar da bondade de Deus, do seu amor, do seu projeto para nos salvar e para nos conduzir em direção à verdadeira felicidade. No entanto, a Palavra de Deus deste domingo garante-nos: Deus nunca abandona o seu Povo em caminhada pela história… Ele está ao nosso lado, em cada passo da caminhada, para nos oferecer gratuitamente e com amor a água que mata a nossa sede de vida e de felicidade.

• Ao longo da caminhada do Povo de Deus pelo deserto vêm ao de cima as limitações e as deficiências de um grupo humano ainda com mentalidade de escravo, agarrado à mesquinhez, ao egoísmo e ao comodismo, que prefere a escravidão ao risco da liberdade. No entanto, Deus lá está, ajudando o Povo a superar mentalidades estreitas e egoístas, fazendo-o ir mais além e obrigando-o a amadurecer. À medida que avança, de mãos dadas com Deus, o Povo vai-se renovando e transformando, vai alargando os horizontes, vai-se tornando um Povo mais responsável, mais consciente, mais adulto e mais santo.

• É esta, também, a experiência que fazemos. Muitas vezes somos egoístas, orgulhosos, comodistas, "meninos mimados" que passam a vida a lamentar-se e a acusar Deus e os outros pelos "dói-dóis" que a vida nos faz. No entanto, as dificuldades da caminhada não são um castigo ou uma derrota; são, tantas vezes, parte dessa pedagogia de Deus para nos forçar a ir mais além, para nos renovar, para nos amadurecer, para nos tornar menos orgulhosos e auto-suficientes. Devíamos, talvez, aprender a agradecer a Deus alguns momentos de sofrimento e de fracasso que marcam a nossa vida, pois através deles Deus faz-nos crescer.

2ª leitura (Rom. 5,1-2.5-8) - AMBIENTE

Quando escreve aos Romanos, Paulo está a terminar a sua terceira viagem missionária e prepara-se para partir para Jerusalém. O apóstolo sentia que tinha terminado a sua missão no oriente (cf. Rom. 15,19-20) e queria levar o Evangelho a outros cantos do mundo, nomeadamente ao ocidente. Sobretudo, Paulo aproveita a ocasião para contatar a comunidade de Roma e para apresentar aos Romanos os principais problemas que o ocupavam (entre os quais avultava o problema da unidade – um problema bem actual na comunidade cristã de Roma, então afetada por alguma dificuldade de relacionamento entre judeo-cristãos e pagano-cristãos). Estamos no ano 57 ou 58.

Paulo aproveita para dizer aos Romanos e a todos os cristãos que o Evangelho deve unir e congregar todo o crente, sem distinção de judeu, grego ou romano. Para desfazer algumas ideias de superioridade (e, sobretudo, a pretensão judaica de que a salvação se conquista pela observância da Lei de Moisés), Paulo nota que todos os homens vivem mergulhados no pecado (cf. Rom 1,18-3,20) e que é a "justiça de Deus" que a todos dá a vida, sem distinção (cf. Rom. 3,1-5,11).

No texto que a segunda leitura deste domingo nos propõe, Paulo refere-se à ação de Deus, por Jesus Cristo e pelo Espírito, no sentido de "justificar" todo o homem.

MENSAGEM

Paulo parte da ideia de que todos os crentes – judeus, gregos e romanos – foram justificados pela fé. Que significa isto?

Na linguagem bíblica, a justiça é, mais do que um conceito jurídico, um conceito relacional. Define a fidelidade a si próprio, à sua maneira de ser e aos compromissos assumidos no âmbito de uma relação. Ora, se Jahwéh se manifestou na história do seu Povo como o Deus da bondade, da misericórdia e do amor, dizer que Deus é justo não significa dizer que Ele aplica os mecanismos legais quando o homem infringe as regras; significa, sim, que a bondade, a misericórdia e o amor próprios do ser de Deus se manifestam em todas as circunstâncias, mesmo quando o homem não foi correto no seu proceder. Paulo, ao falar do homem justificado, está a falar do homem pecador que, por exclusiva iniciativa do amor e da misericórdia de Deus, recebe um veredicto de graça que o salva do pecado e lhe dá, de modo totalmente gratuito, acesso à salvação. Ao homem é pedido somente que acolha, com humildade e confiança, uma graça que não depende dos seus méritos e que se entregue completamente nas mãos de Deus. Este homem, objeto da graça de Deus, é uma nova criatura (cf. Gal. 6,15): é o homem ressuscitado para a vida nova (cf. Rom. 6,3-11), que vive do Espírito (cf. Rom. 8,9.14), que é filho de Deus e co-herdeiro com Cristo (cf. Rom. 8,17; Gal. 4,6-7).

Quais os frutos que resultam deste acesso à salvação que é um dom de Deus?

Em primeiro lugar, a paz (v. 1). Esta paz não deve ser entendida em sentido psicológico (tranquilidade, serenidade), nem em sentido político (ausência de guerra), mas no sentido teológico semita de relação positiva com Deus e, portanto, de plenitude de bens, já que Deus é a fonte de todo o bem.

Em segundo lugar, a esperança (vs. 2-4 – embora os versículos 3 e 4 não apareçam no texto que nos é proposto). Trata-se desse dom que nos permite superar as dificuldades e a dureza da caminhada, apontando a um futuro glorioso de vida em plenitude. Não se trata de alimentar um otimismo fácil e irresponsável, que permita a evasão do presente; trata-se de encontrar um sentido novo para a vida presente, na certeza de que as forças da morte não terão a última palavra e que as forças da vida triunfarão.

Em terceiro lugar, o amor de Deus ao homem (vs. 5-8). O cristão é, fundamentalmente, alguém a quem Deus ama. A prova desse amor está em Jesus de Nazaré, o Filho amado a quem Deus "entregou à morte por nós quando ainda éramos pecadores".

Como pano de fundo, o nosso texto propõe-nos o cenário do amor de Deus. Paulo garante-nos algo que já encontramos na primeira leitura de hoje: Deus nunca abandona o seu Povo em caminhada pela história… Ele está ao nosso lado, em cada passo da caminhada, para nos oferecer gratuitamente e com amor a água que mata a nossa sede de vida e de felicidade (a paz, a esperança, o seu amor).

ATUALIZAÇÃO

• Este texto convida-nos a contemplar o amor de um Deus que nunca desistiu dos homens e que sempre soube encontrar formas de vir ao nosso encontro, de fazer caminho conosco. Apesar de os homens insistirem, tantas vezes, no egoísmo, no orgulho, na auto-suficiência e no pecado, Deus continua a amar e a fazer-nos propostas de vida. Trata-se de um amor gratuito e incondicional, que se traduz em dons não merecidos, mas que, uma vez acolhidos, nos conduzem à felicidade plena.

• A vinda de Jesus Cristo ao encontro dos homens é a expressão plena do amor de Deus e o sinal de que Deus não nos abandonou nem esqueceu, mas quis até partilhar conosco a precariedade e a fragilidade da nossa existência, a fim de nos mostrar como nos tornarmos "filhos de Deus" e herdeiros da vida em plenitude.

• A presença do Espírito acentua no nosso tempo – o tempo da Igreja – essa realidade de um Deus que continua presente e atuante, derramando o seu amor ao longo do caminho que, dia a dia, vamos percorrendo e impelindo-nos à renovação, à transformação, até chegarmos à vida plena do Homem Novo. É esse caminho que a Palavra de Deus nos convida a percorrer, neste tempo de Quaresma.

• Está em moda uma certa atitude de indiferença face a Deus, ao seu amor e às suas propostas. Em geral, os homens de hoje preocupam-se mais com os resultados da última jornada do campeonato de futebol, com as últimas peripécias da "telenovela das nove", com os investimentos na Bolsa, com as vantagens da última geração de computadores ou com o caminho mais rápido e mais seguro para atingir o topo da carreira profissional do que com Deus e com o seu amor. Não será tempo de redescobrirmos o Deus que nos ama, de reconhecermos o seu empenho em conduzir-nos rumo à felicidade plena e de aceitarmos essa proposta de caminho que Ele nos faz?

Evangelho (Jo 4,5-42) – AMBIENTE

O Evangelho deste domingo situa-nos junto de um poço, na cidade samaritana de Sicar. A Samaria era a região central da Palestina – uma região heterodoxa, habitada por uma raça de sangue misturado (de judeus e pagãos) e de religião sincretista.

Na época do Novo Testamento, existia uma animosidade muito viva entre samaritanos e judeus. Historicamente, a divisão começou quando, em 721 a.C., a Samaria foi tomada pelos assírios e foi deportada cerca de 4% da população samaritana. Na Samaria instalaram-se, então, colonos assírios que se misturaram com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se (cf. 2Re. 17,29). A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, após o regresso do Exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos (cf. Esd. 4,1-5) para reconstruir o Templo de Jerusalém (ano 437 a.C.) e denunciaram os casamentos mistos. Tiveram, então, de enfrentar a oposição dos samaritanos na reconstrução da cidade (cf. Ne. 3,33-4,17). No ano 333 a.C., novo elemento de separação: os samaritanos construíram um Templo no monte Garizim; no entanto, esse Templo foi destruído em 128 a.C. por João Hircano. Mais tarde, as picardias continuaram: a mais famosa aconteceu por volta do ano 6 d.C., quando os samaritanos profanaram o Templo de Jerusalém durante a festa da Páscoa, espalhando ossos humanos nos átrios.

Os judeus desprezavam os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé jahwista; e os samaritanos pagavam aos judeus com um desprezo semelhante.

A cena passa-se à volta do "poço de Jacob", situado no rico vale entre os montes Ebal e Garizim, não longe da cidade samaritana de Siquém (em aramaico, Sicara – a atual Askar). Trata-se de um poço estreito, aberto na rocha calcária, e cuja profundidade ultrapassa os 30 metros. Segundo a tradição, teria sido aberto pelo patriarca Jacob… Os dados arqueológicos revelam que o "poço de Jacob" serviu os samaritanos entre o ano 1000 a.C. e o ano 500 d.C. (embora ainda hoje se possa extrair dele água).

O "poço" acaba por transformar-se, na tradição judaica, num elemento mítico. Sintetiza os poços abertos pelos patriarcas e a água que Moisés fez brotar do rochedo no deserto (primeira leitura de hoje); mas, sobretudo, torna-se figura da Lei (do poço da Lei brota a água viva que mata a sede de vida do Povo de Deus), que a tradição judaica considerava observada já pelos patriarcas, antes de ser dada ao Povo por Moisés.

O Evangelho segundo São João apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Homem Novo. No chamado "Livro dos Sinais" (cf. Jô. 4,1-11,56), o autor apresenta – recorrendo aos "sinais" da água (cf. Jô. 4,1-5,47), do pão (cf. Jô. 6,1-7,53), da luz (cf. Jô. 8,12-9,41), do pastor (cf. Jô. 10,1-42) e da vida (cf. Jô. 11,1-56) – um conjunto de catequeses sobre a ação criadora do Messias.

O nosso texto é, exatamente, a primeira catequese do "Livro dos Sinais": através do "sinal" da água, o autor vai descrever a acção criadora e vivificadora de Jesus.

MENSAGEM

No centro da cena, está o "poço de Jacob". À volta do "poço" movimentam-se as personagens principais: Jesus e a samaritana.

A mulher (aqui apresentada sem nome próprio) representa a Samaria, que procura desesperadamente a água que é capaz de matar a sua sede de vida plena. Jesus vai ao encontro da "mulher". Haverá neste episódio uma referência ao Deus/esposo que vai ao encontro do povo/esposa infiel para lhe fazer descobrir o amor verdadeiro? Tudo indica que sim (aliás, o profeta Oséias, o grande inventor desta imagem matrimonial para representar a relação Deus/Povo, pregou aqui, na Samaria).

O "poço" representa a Lei, o sistema religioso à volta do qual se consubstanciava a experiência religiosa dos samaritanos. Era nesse "poço" que os samaritanos procuravam a água da vida plena. No entanto: o "poço" da Lei correspondia à sede de vida daqueles que o procuravam? Não. Os próprios samaritanos tinham reconhecido a insuficiência do "poço" da Lei e haviam buscado a vida plena noutras propostas religiosas (por isso, Jesus faz referência aos "cinco maridos" que a mulher já teve: há aqui, provavelmente, uma alusão aos cinco deuses dos samaritanos de que se fala em 2Re. 17,29-41).

Estamos, pois, diante de um quadro que representa a busca da vida plena. Onde encontrar essa vida? Na Lei? Noutros deuses? A mulher/Samaria dá conta da falência dessas "ofertas" de vida: elas podem "matar a sede" por curtos instantes; mas quem procura a resposta para a sua realização plena nessas propostas voltará a ter sede.

É aqui que entra a novidade de Jesus. Ele senta-se "junto do poço", como se pretendesse ocupar o seu lugar; e propõe à mulher/Samaria uma "água viva", que matará definitivamente a sua sede de vida eterna (vs. 10-14). Jesus passa a ser o "novo poço", onde todos os que têm sede de vida plena encontrarão resposta para a sua sede.

Qual é a água que Jesus tem para oferecer? É a "água do Espírito" que, no Evangelho de João, é o grande dom de Jesus. Na conversa com Nicodemos, Jesus já havia avisado que "quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus" – Jô. 3,5; e quando Jesus se apresenta como a "água viva" que matará a sede do homem, João tem o cuidado de explicar que Ele se referia ao Espírito, que iam receber aqueles que acreditassem n'Ele (cf. Jo. 7,37-39). Esse Espírito, uma vez acolhido no coração do homem, transforma-o, renova-o e torna-o capaz de amar Deus e os outros.

Como é que a mulher/Samaria responde ao dom de Jesus? Inicialmente, ela fica confusa. Parece disposta a remediar a situação de falência de felicidade que caracteriza a sua vida, mas ainda não sabe bem como: essa vida plena que Jesus está a propor-lhe significa que a Samaria deve abandonar a sua especificidade religiosa e ceder às pretensões religiosas dos judeus, para quem o verdadeiro encontro com Deus só pode acontecer no Templo de Jerusalém e na instituição religiosa judaica ("nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que é em Jerusalém que se deve adorar")?

No entanto, Jesus nega que se trate de escolher entre o caminho dos judeus e o caminho dos samaritanos. Não é no Templo de pedra de Jerusalém ou no Templo de pedra do monte Garizim que Deus está… O que se trata é de acolher a novidade do próprio Jesus, aderir a Ele e aceitar a sua proposta de vida (isto é, aceitar o Espírito que Ele quer comunicar a todos os homens).

Dessa forma – e só dessa forma – desaparecerá a barreira de inimizade que separa os povos – judeus e samaritanos. A única coisa que passa a contar é a vida do Espírito que encherá o coração de todos, que a todos ensinará o amor a Deus e aos outros e que fará de todos – sem distinção de raças ou de perspectivas religiosas – uma família de irmãos.

A mulher/Samaria responde à proposta de Jesus abandonando o cântaro (agora inútil), e correndo a anunciar aos habitantes da cidade o desafio que Jesus lhe faz. O texto refere, ainda, a adesão entusiástica de todos os que tomam conhecimento da proposta de Jesus e a "confissão da fé": Jesus é reconhecido como "o salvador do mundo" – isto é, como Aquele que dá ao homem a vida plena e definitiva (vs. 28-41).

O nosso texto define, portanto, a missão de Jesus: comunicar ao homem o Espírito que dá vida. O Espírito que Jesus tem para oferecer desenvolve e fecunda o coração do homem, dando-lhe a capacidade de amar sem medida. Eleva, assim, esses homens que buscam a vida plena e definitiva à categoria de Homens Novos, filhos de Deus que fazem as obras de Deus. Do dom de Jesus nasce a nova comunidade.

ATUALIZAÇÃO

• A modernidade criou-nos grandes expectativas. Disse-nos que tinha a resposta para todas as nossas procuras e que podia responder a todas as nossas necessidades. Garantiu-nos que a vida plena estava na liberdade absoluta, numa vida vivida sem dependência de Deus; disse-nos que a vida plena estava nos avanços tecnológicos, que iriam tornar a nossa existência cômoda, eliminar a doença e protelar a morte; afirmou que a vida plena estava na conta bancária, no reconhecimento social, no êxito profissional, nos aplausos das multidões, nos "cinco minutos" de fama que a televisão oferece… No entanto, todas as conquistas do nosso tempo não conseguem calar a nossa sede de eternidade, de plenitude, dessa "mais qualquer coisa" que nos falta para sermos, realmente, felizes. A afirmação essencial que o Evangelho de hoje faz é: só Jesus Cristo oferece a água que mata definitivamente a sede de vida e de felicidade do homem. Eu já descobri isto, ou a minha procura de realização e de vida plena faz-se noutros caminhos? O que é preciso para conseguirmos que os homens do nosso tempo aprendam a olhar para Jesus e a tomar consciência dessa proposta de vida plena que Ele oferece a todos?

• Essa "água viva" de que Jesus fala faz-nos pensar no batismo. Para cada um de nós, esse foi o começo de uma caminhada com Jesus… Nessa altura acolhemos em nós o Espírito que transforma, que renova, que faz de nós "filhos de Deus" e que nos leva ao encontro da vida plena e definitiva. A minha vida de cristão tem sido, verdadeiramente, coerente com essa vida nova que então recebi? O compromisso que então assumi é algo esquecido e sem significado, ou é uma realidade que marca a minha vida, os meus gestos, os meus valores e as minhas opções?

• Atentemos no pormenor do "cântaro" abandonado pela samaritana, depois de se encontrar com Jesus… O "cântaro" significa e representa tudo aquilo que nos dá acesso a essas propostas limitadas, falíveis, incompletas de felicidade. O abandono do "cântaro" significa o romper com todos os esquemas de procura de felicidade egoísta, para abraçar a verdadeira e única proposta de vida plena. Eu estou disposto a abandonar o caminho da felicidade egoísta, parcial, incompleta, e a abrir o meu coração ao Espírito que Jesus me oferece e que me exige uma vida nova?

• A samaritana, depois de encontrar o "salvador do mundo" que traz a água que mata a sede de felicidade, não se fechou em casa a gozar a sua descoberta; mas partiu para a cidade, a propor aos seus concidadãos a verdade que tinha encontrado. Eu sou, como ela, uma testemunha viva, coerente, entusiasmada dessa vida nova que encontrei em Jesus?

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho - www.ecclesia.pt

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Da Judéia, Jesus regressa à Galileia. O caminho mais curto passava pela Samaria. Os judeus e os samaritanos hostilizavam-se, embora falassem a mesma língua e tivessem praticamente a mesma religião. (Os samaritanos não aceitavam as autoridades religiosas dos judeus e afirmavam que o seu lugar de oração, no monte Garizim, valia tanto como o Templo de Jerusalém).

Jesus segue o caminho da Galileia e detém-se, fatigado, no poço de Jacob, junto à cidade de Sicar. Os discípulos vão comprar mantimentos. Uma mulher samaritana vem ao poço tirar água. Jesus pede-lhe de beber, pois só se alcançava a água com um balde e uma longa corda. A samaritana responde torto. Porque ele é judeu e porque não era costume um homem dirigir-se a uma mulher fora de casa. De resto, não há nela constrangimento. Viremos a saber que é uma mulher muito vivida, habituada a fazer o que lhe apetece, e de resposta pronta.

Jesus não se mostra desconcertado. "Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é aquele que te diz: ´dá-me de beber´, tu é que lhe pedirias, e Ele dar-te-ia uma água viva." (Jo 4,10). Os judeus tinham vivido no deserto (veja-se a primeira leitura). Davam valor à água. Mais ainda à "água viva", que brota fresca duma fonte, diferente da água estagnada duma poça. O Evangelho de S. João conta que Jesus utilizava com frequência imagens tiradas da experiência diária: o caminho, a vida, a luz, o cordeiro, a água viva.

A mulher resolve brincar: "Tu, que nem tens balde, que ideia é essa de te armares em fornecedor de água? Ou pensas que és mais poderoso do que o Patriarca Jacob, que abriu este poço?

E Jesus continua:"Todo aquele que beber desta água voltará a ter sede, quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. A água que eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte a jorrar para a vida eterna."

A conversa prossegue, até que a mulher, que é pecadora, mas não é estúpida, pressente que está diante dum profeta. Muda de tom e faz perguntas sensatas. E Jesus revela-lhe algo que indignaria os fariseus: Ele é o Messias. Deus quer ser adorado em espírito e em verdade, pouco Lhe importa o lugar. Sem dureza, também a faz compreender que a vida que tem levado não é digna. A mulher deixa o balde e vai chamar as gentes da cidade. Venham ouvir este homem. Será ele o Messias? Jesus demorou-se dois dias entre eles e foram muitos os que acreditaram.

Com a recordação deste episódio, que os Evangelhos sinópticos acharam secundário, são João sublinha muitas coisas. Jesus veio salvar todos s homens, de todas as raças e grupos, ignorantes e cultos, santos e pecadores. Esta mulher pertencia a um povo que os judeus desprezavam; tinha uma vida irregular e não parecia arrependida. Jesus não reage com "santa indignação". Fala-lhe com serena autoridade, ajuda-a a sentir que, para além das bravatas, não está em paz consigo mesma; desperta nela uma sede maior, que só pode ser estancada pela água viva que é o dom de Deus; até lhe ensina que, doravante, terá a fonte em si mesma e que essa fonte jorra para a vida eterna. Finalmente, aceita que ela seja sua "apostola" entre as gentes da cidade. E a palavra fica posta a cada um de nós: Se tu conhecesses o dom de Deus…

A segunda leitura ensina a mesma doutrina, num estilo diferente. Apesar de sermos pecadores, Jesus Cristo amou-nos até ao ponto de morrer por nós. A fé identifica-nos com Ele e torna-nos "justos", em paz com Deus. Pela fé e pela esperança, este dom deixa de ser precário: é uma realidade na qual permanecemos. Na verdade, "a esperança não engana".

padre João Resina

 

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JESUS E A MULHER SAMARITANA

Caro leitor, o texto desse domingo apresenta o encontro fascinante de Jesus com a mulher samaritana. Como eu desejo também que nessa liturgia dominical pudéssemos encontrar com Jesus. Jesus hoje nos oferece a água viva para a nossa existência. Ao participarmos da liturgia de hoje para celebrarmos a Eucaristia, aproximemo-nos de Jesus que é fonte de água viva para a vida eterna.

Que todos nós, pobres e sedentos, acolhamos a água viva do seu Espírito e bebamos quotidianamente à sua fonte, para torna-nos também fonte de água viva do Amor Misericordioso! – para muitos irmãos também pobres e sedentos que nos procuram buscando ajuda.

            Do encontro com Jesus nasce também o verdadeiro culto a Deus "em Espírito e verdade", que se traduz, na união íntima com Jesus, alimentada pela escuta da Palavra Daquele que é tudo verdade, da meditação, dos sacramentos que nos oferecem água viva. Esta verdadeira adoração sustenta e dá sentido à toda nossa vida.

               Como a samaritana precisamos encontrar com Jesus nos poços do dia a dia. Esse encontro nos leva ao conhecimento das coisas de Deus, tal conhecimento no sentido de adesão total e fiel do coração. Estou convencido de que esse encontro não pode se reduzir a um fato teórico, cultural e intelectual, mas precisa se tornar um empenho para a assimilação dos sentimentos de Cristo, depois do encontro como Jesus é preciso: "amar como Jesus amou, sonhar como Jesus sonhou, pensar como Jesus pensou, viver como Jesus viveu. Sentir como Jesus sentia, sorrir como Jesus sorria". (Pe Zezinho)
Como a samaritana, Jesus quer ter um encontro pessoal com o homem de hoje, sedento de verdade, de amor e de plenitude de vida. Ele quer nos levar a superar os condicionamentos sociais e religiosos. Ele nos leva a promover o bem do outro, comunicando-lhe a água viva do Espírito, que é a força curativa de Jesus.

O encontro com Jesus, a amizade com a qual nos acolhe entre os seus, coloca na luz da verdade toda a nossa vida, as vezes ansiosa pela inútil e decepcionante busca de algo que dê senso e plenitude. "Quem conhece os próprios pecados é maior de quem com a oração ressuscita os mortos... quem conhece a própria fraqueza é maior de quem vê os anjos" (Isaac, o Ciro).

É hoje que ele esta nos dizendo: "Se tu conhecesses o dom de Deus", esse dom é o Espírito Santo, água viva que satisfaz a nossa sede de amor e de felicidade.

No prefácio desse terceiro domingo diz assim: "Ao pedir à samaritana que lhe desse de beber, Jesus lhe dava o dom de crer. E, saciada sua sede de fé, lhe acrescentou o fogo do amor". Contemporaneamente nos pede para oferecer-lhe a nossa disponibilidade, mesmo limitada e frágil – Dá-me de beber -, para que ele mesmo, autor de todo dom, a torne instrumento de misericórdia para todos os nossos irmãos que precisam desta água. Acolhendo o Espírito de misericórdia de Jesus, tornamo-nos seus apóstolos, como a samaritana, depois do encontro com Ele.

Pe Vicente Paulo Braga

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"Jesus, água viva que sacia toda a sede!" – Claudinei Oliveira

 

 

Domingo, 27 de março de 2011.

 

Leituras: Ex  17, 3-7 – Sl   95 (94) – Rm   5, 1-2.5-8 -  Jo  4, 5-42.

 

Na liturgia deste domingo nós somos convidados a beber da água viva, a água que nos enaltece para o Cristo  Ressuscitado, a água que nos encaminha para ao encontro de Deus. Somos batizados para livrar de todos os pecados e para mostrar nossa cumpricidade com  o projeto do Reino de Deus. Assim, a água que recebemos em nossas cabeças é a água viva de Cristo. Ela nos fortalece para encarar e lutar por novos dias de paz, amor, justiça e fraternidade. Este é o Deus que nos ama e não mede esforço para ter em nós a certeza da sua criação.

 

A água aparece como um estopim para duvidar de Javé. Moisés já não suportava as cobranças e ameaças pela escassez da água. Porque você tirou do Egito? Foi para matar de sede a nós, nossos filhos e nossos animais? (v. 3)  Ouvir do povo sedento  este desabafo,  Moisés sente cúmplice da fuga do povo da escravidão no Egito. Mas buscou refugio no Senhor e ganhou a garantia da libertação total. Eu vou esperar você junto à rocha de Horeb. Você baterá na rocha, e dela sairá água para o povo beber (v. 6). Neste momento Moisés juntou aos anciãos de Israel e partiram para revelar o que Javé tinha oferecido. Com a água jorrando da rocha a partir do toque de vara que abriu caminhos no rio Nilo fez o povo acreditar que o Pai Revelador estava bem perto e observando tudo.

 

As  privações  e as angústias dos cristãos   fazem  duvidar do Criador. Parece que os caminhos se fecham para uma saída de paz e harmonia. Tudo se contradiz; nada seria possível além do desespero e da descrença. Não imaginamos que Deus está tão perto. Os sinais da sua presença são sufocados. A luz acesa no batismo não clareia os caminhos. Perde-se o brilho para Deus. Na ofuscaridade  da vida o que vale é reclamar e acreditar que outros devem resolver nosso desamor.  Falta a fé. Falta o amor. Falta a esperança. Falta a compreensão. Falta reconhecer que se estamos vivos e lutando é porque recebemos de Deus uma missão para (re) construir novas realidades. Assim, o povo que há quarenta anos no deserto  tentando encontrar um espaço para refazer a  vida com dignidade, duvida da aliança feito à Moisés: salva o meu povo, porque este é meu filho de muito grato. A vida no Egito era escravidão, o povo de Deus sofria e era sugado pelo poder dos faraós. Porém, na luta e na árdua caminhada pelo deserto as privações fizeram o povo desacreditar da presença de Deus.

 

Perguntamos a nós mesmo: como estamos na caminhada para Deus? Ainda estamos no deserto sem rumo ou tem Alguém nos guiando? Vejo uma saída para alcançar a graça e a misericórdia? Ou estamos reclamando de Deus?  Para responder estas questões, olhemos para nosso interior  e reavaliamos nossas ações diárias. Assim saberemos o quanto estamos avançados ou perdidos no deserto. Agora, não que o deserto é perigoso e ruim, tem seu lado bom. O deserto é o tempo necessário para o povo de Deus reaver sua busca e sua fé. O deserto em nós é o tempo quaresmal para penitenciar, jejuar e rezar por quarenta dias, ou será por quarenta nãos? Este é o tempo necessário para nos preenchermos a vida com a essência de Deus. Não somos Deus, mas somos filhos deste Deus. Temos uma ínfima ligação com o Criador, porque somos criaturas perfeitas.

 

A proposta de encorajarmos para afastar as tentações  e seguirmos a caminhada para Deus vem de encontro no Salmo. A fortaleza que devemos encontrar para abastecermos do Ressuscitado está nas palavras que salva e nos alimenta. Venham, exultemos em Javé, aclamemos o  Rochedo que nos salva. (...) Porque Javé é um Deus grande, o soberano de todos os deuses. (vv. 1; 3). Louvar sempre a Deus Todo-Poderoso, pois ele criou tudo para seus filhos. O Projeto do Senhor é para viver e viver em harmonia entre todos. Assim a fidelidade daqueles que usufruem da criação vai nortear as futuras gerações. Como viver a paz no presente se nosso passado foi de pecado e dor. Os vestígios permanecem, mas o perdão é dado para aqueles que se arrependem dos pecados e renovam sua fé. 

 

Contudo, na Segunda Leitura, Paulo confessa que a aliança firmada com o povo de Deus ainda continua valendo. Mas a fé é a ligação da nossa esperança em Deus que nos consola e nos faz viver. Assim, justificados pela fé, estamos em paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.  (v. 1). Não se pode  acreditar que estão abandonados do Criador. A paz deve reinar entre todos na pequena comunidade de judeu-cristãos em Roma. Mesmo sabendo que o imperador Cláudio expulsou  da cidade por volta de 49 os judeus e provavelmente os cristãos, Paulo reafirma que a fé em Jesus Cristo é o caminho que leva ao alcance da graça. Lutando para sedimentar os ensinamentos de Jesus Paulo assegura aos cristãos a presença constante do Senhor. (...) Deus demonstra seu amo para conosco porque Cristo morreu por nós quando ainda éramos  pecadores (v. 8) Agora que conhece a Verdade  e pode abastecer dessa fonte bondosa que é Cristo, nada tem a temer a não ser as injúrias contra o Pai. Veja, Cristo morreu por nós para deixar o maior testemunho de amor. Ninguém é capaz de sacrificar sua vida para Outro. Somente sendo a Luz do mundo pode demonstrar tal virtude: veja quanto te amo, morro para deixar meus ensinamentos, agora, abrace a causa do evangelho e segue-me.

 

Mas, o evangelista João  contorna um diálogo do rejeitado com Aquele que abre as portas sem preconceitos. A saber: Jesus estava indo da Judéia para a Galileia. Estava atraindo muitos discípulos pelos ensinamentos e pelo batismo. Jesus estava cumprindo uma missão de levar a dignidade às pessoas  e apontar caminhos suaves para o encontro do Pai. Resolve, então, cortar caminho e passa por uma região marginalizada por acolher muitos pagãos, chamada de Samaria. Com sede e cansado aproxima do "poço de Jacó" situado no vale entre os montes Elba e Gazirim  de Siquém. Uma mulher samaritana aproxima  do poço e Jesus pede água para beber. A mulher espanta-se, pois como um homem ousa pedir água para uma samaritana? Afinal, aquele homem nem era da região! Com o cântaro vazio a samaritana queria água para beber e aquele homem parece que tinha outra proposta com a água. Era muitos estranho. Até que Jesus afirma: quem beber desta água vai ter sede de novo. Mas aquele que beber a água que eu vou dar, esse nuca mais terá sede. E a água que eu lhe darei, vai se tornar dentro dele uma fonte de água que jorra para a vida eterna (vv. 13-14). Com estas palavras a samaritana entendeu que a vida eterna estava em sintonia com o gesto  do amor  e da sinceridade com o projeto de Deus. Saiu correndo e foi para a cidade gritar para quem tivesse ouvido: venham ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Será que ele não é o Messias?(v.29) O pessoal saiu da cidade e foi ao encontro de Jesus(30). Se por onde Jesus passava causava euforia e manifestação de apreço e ódio, agora Jesus viu-se diante de uma legião de peregrino querendo tomar da água viva  que salva.

 

 A sede que devemos ter é a sede da Palavra Verdadeira. Devemos abastecer da água que purifica nossos pecados e nos faz enxergar as graças de Deus. O batismo é o sinal que fomos lavados por completo e, a partir do mesmo, fazemos parte da família cristã. Agora a água não satisfaz momentaneamente, ela nos eleva a pretensão de sermos servo de Cristo e seguidor das suas palavras.

  

A samaritana correu para a cidade e gritou arduamente a presença de Deus no meio deles. Fez ecoar  o milagre da água viva. Despertou nos corações o desejo ardente de ser cúmplice desta "novidade": a revelação de Jesus a um povo subjugado e maltratado. Devemos ter esta coragem de anunciar ao povo do  mundo todo quão grande é a Palavra de Deus. Ele liberta e sacia os  desejos daqueles que almejam uma plenitude junto ao Pai. Crer na revelação divina e não duvidar como fizeram o povo israelita no deserto que estava com sede e fez Moisés clamar ao Senhor para intervir nos desaforos  recebidos.

 

Quantas vidas vivem no mundo da mentira. Enganados  e feridos por aproveitadores. Até mesmo numa "família unida", onde as aparências distorcem a realidade. Necessitam de água pura; água que jorra da Palavra do Criador. Mas preferem cântaros vazios. Sem nada para preencher. No mundo das ilusões. Perdidos no espaço e na multidão. Sozinhos! Isto mesmo, sozinho e isolado no meio da multidão. A fé é um dom de acreditar que tudo é possível se passar pelo crivo de Deus. Não pode desacreditar de Deus. Pois o local menos improvável, lá estará Ele. Pronto para ajudar sem nada em troca. Tudo feito gratuitamente.

 

 Tempo bom para  repensar as promessas do batismo. Nestes quarenta dias da quaresma somos convocados e não tão somente chamados, mas convocados, a preencher nossos vazios da palavra. Devemos dar sabor às coisas, e para tanto, devemos ser sal. Carregar o sal em nossas vidas é assumir nosso compromisso batismal. Nada de dúvidas e reclamações, e se isso estiver acontecendo é sinal da falta da presença de Deus. Então, vá a um poço (igreja), bebe a água viva (comungar a palavra de Deus). Logo verás o quanto Deus é importante e sua vida.

 

Portanto, Jesus, água viva que sacia toda a sede, é a proposta que deveríamos encontrar. Deixemos de ser cântaros vazios e sem sentidos para a vida, mas sejamos alguém  cheio de fé, esperança e amor para com Deus e com o povo sedento de justiça.  Amém.

Abraço fraterno,

Claudinei Oliveira

 

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UM ENCONTRO COM JESUS! – Olívia Coutinho

 

27 de Março de 2011

 

Evangelho - Jo 4,5-42

 

 Somos caminheiros da esperança, caminhando  rumo a  Páscoa do Senhor!

Queremos beber da água viva que jorra do coração misericordioso de Jesus!

A palavra de Deus é sempre nova, mas neste tempo especial, ela nos chega com um novo sabor e encontra o nosso coração fecundo, pronto para acolhê-la e transformá-la  em vida!

 A  cada dia, vamos descobrindo com Jesus um novo jeito de viver e de ser feliz!

O evangelho de hoje, nos convida a um encontro pessoal com Jesus, a entrarmos na sua intimidade, chegar ao seu coração e nos deixar inundar com agua viva que nos purifica, que mata a nossa sede e nos liberta de tudo o que nos impede de lançarmos por inteiros, no universo do Seu  amor!

É este amor que nos leva a reconhecê-Lo como Nosso Salvador, o enviado do Pai!

O belíssimo  diálogo de Jesus com a samaritana, é algo extraordinário que nos enche de alegria e esperança! Podemos perceber como Jesus se comporta  diante dos preconceitos morais, de raça, das discriminações sociais, religiosas, existentes na humanidade.  

Sabemos que  naquele tempo, existia uma barreira intransponível entre judeus e samaritanos! Os judeus se julgavam superiores, os escolhidos de Deus e acreditavam que uma aproximação com Ele, só se dava mediante o conhecimento e a "prática da Lei", entretanto eles não aceitaram a mensagem de Jesus! Já, os samaritanos, que eram considerados pelos judeus, um povo herege e, consequentemente, marginalizados, acolheram Jesus como o Messias, o Salvador.

Podemos tirar várias lições deste belíssimo encontro de Jesus com a samaritana!

Um encontro de libertação, que transformou a vida de uma mulher marginalizada.

 É Jesus que se dirige a ela e lhe pede água de beber: "Dê-me de beber"! Isso nos mostra a Sua natureza humana, querer depender do outro, é assim, que devemos sentir; dependentes uns dos outros!

Corações entrelaçados é certeza de uma vida mais feliz!

No desenrolar daquele diálogo com linhas poéticas, aquela mulher redescobre a si mesma, sente-se liberta, restaurada ao encontrar o Messias tão esperado. Ele a escuta, acolhe, promove e fala de uma água que transborda de seu coração!  Jesus encontra fé, onde parecia impossível encontrar!

 A alegria da samaritana é tão grande, que a partir daquele encontro ela torna-se missionária do seu próprio povo. De evangelizada se tornou evangelizadora!

Graças ao seu testemunho, muitos samaritanos puderam fazer também, uma experiência pessoal com Jesus, beber da única água que verdadeiramente mata a sede!

O texto nos mostra bem como a proposta de Jesus para os seus seguidores é inclusiva, a mulher representa os que são excluídos, por motivo de pobreza, gênero, raça ou religião.

Jesus não aceita a exclusão de quem quer que seja.

 

Não precisamos sair em busca de outras  fontes, para saciar a nossa sede, pois bem perto de nós, está a fonte de água viva: Jesus!

 

Quem faz uma experiência de Deus em sua vida, não continua o mesmo!

A Sua presença  nos inquieta, nos impulsiona a deixar  as margens e avançar para as águas mais profundas!

 

Que as lições tiradas deste evangelho, nos transformem em afluentes deste rio de água viva, Jesus, que nos conduz  ao imenso oceano de amor: o coração do Pai!

 

Olívia Coutinho

 

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DÁ-ME DE BEBER

 

Os que se preparam para o batismo na Vigília Pascal saíram do Paraíso de Adão e Eva para o encontro com Abraão, que buscava uma terra para a formação de um povo. Hoje, Moisés os guia pelo deserto e lhes dá água para beber. Eles esperam pelas águas do batismo que os integrarão no Corpo Místico de Jesus Cristo. Que não nos falte em nosso planeta a água, matéria do sacramento do batismo.

A sede fez com que o povo provocasse Deus pondo em dúvida a sua presença. O lugar em que isso aconteceu se chamou de Massa, isto é, provocação, e Meriba, que quer dizer contestação.

O salmo 94 nos lembra esse acontecimento e nos exorta a não fechar o coração como em Massa e Meriba, mas ouvir a voz do Senhor. Apesar disso, o fechamento continua assim como a contestação quando mudamos o clima da Terra e perturbamos o curso normal das águas.

Precisamos de água para sobreviver. Ela é tão importante que foi tomada como símbolo da vida nova em Cristo pelo batismo.

No deserto de sua existência, os catecúmenos vão em direção ao rochedo de onde lhes brota a água que os mantém vivos. Os penitentes, na figura da samaritana, sentam-se com Jesus à beira do poço de Jacó e falam da conversão. Para que aquele poço continue com água se faz necessária uma conversão.

Para descobrirmos que a água que mata toda sede é o próprio Jesus, precisamos de conversão. Alguma coisa deve mudar de rumo e de direção. É preciso soltar-se dos lugares geográficos tanto do monte Garizim como da cidade santa de Jerusalém e tornar-se adorador do Pai em espírito e verdade.

Os fiéis que participam da caminhada com os catecúmenos e os penitentes examinam a qualidade de sua liberdade nesses dias de Quaresma.

Há estruturas deste mundo impedindo a visão do Pai em nossa adoração?

Ex. 17,3-7 – O povo precisa de água e não havia água no deserto. Surgem revoltas, contestações, mas contra Deus e seu servo Moisés. A intervenção de Moisés faz com que brote água do rochedo e o povo saiba que Deus está em seu meio e a seu favor. A contestação deve se dirigir a nós mesmos enquanto somos responsáveis pelas perturbações da natureza. Num mundo desorganizado, a água necessária para vida também mata. A inteligência humana é capaz de prever e prevenir.

Sl. 94 – Não provoquemos Deus destruindo suas obras depois de tê-las visto.

Rm 5,1-2.5-8 - Cristo se aproximou de nós e por nós se entregou à morte quando ainda éramos pecadores. Esta é a prova de seu amor para conosco, amor gratuito, que se aproximou de nós assim como somos, para fortalecer a nossa fraqueza.

Jo 4,5-42 – Em torno de um poço, na busca da água, Jesus se aproxima dos samaritanos e se revela a eles como o Messias. Eles estavam no poço de Jacó, e de Jacó surgirá uma estrela, diziam as profecias. A estrela é Cristo e nele um povo novo nasce das águas. A samaritana se julga muito segura com o seu balde que lhe permite alcançar a água. Sua falsa segurança, porém, se desfaz, quando ela descobre uma nova água que a liberta de todos os vínculos e de todas as prisões. Ela agora pode voar sobre Jerusalém e o monte Garizim.

cônego Celso Pedro da Silva

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JESUS E A SAMARITANA ENCONTRAM-SE NO POÇO

 

A Quaresma é tempo de caminho para a santa Páscoa, Páscoa de Cristo e nossa. Ora, é pelo batismo e a eucaristia que entramos misteriosamente na Páscoa do Senhor, no seu mistério de morte e ressurreição. Por isso celebramos a Noite Santa de Páscoa com o batismo e a eucaristia! Pois bem, o Evangelho de hoje é uma belíssima catequese batismal!

Acompanhemos passo a passo este texto belíssimo. "Chegou uma mulher da Samaria para buscar água". Essa mulher, essa samaritana, essa pagã, representa os povos não-judeus, os que ainda não conheciam o Deus verdadeiro. Eles vêm, sedentos, procurando uma água que não sacia definitivamente; eles têm de voltar sempre ao poço, buscam saciar a sede de tantos modos, e continuam sempre com sede: "Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo". Consumismo, sexo, liberdade desenfreada, droga, poder, dinheiro, ciência sem ética nem limites, facilidades... nada disso sacia de modo definitivo o nosso coração! Jesus provoca a mulher: "Se conhecêsseis o dom de Deus e quem é que te pede 'Dá-me de beber', tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva". Frase estupenda! O Dom de Deus é o Espírito Santo; é ele á água que jorra para a vida eterna. Em Jô. 7,37, Jesus convidou: "Se alguém tem sede, venha a mim, e beba aquele que crê em mim". E o Evangelista recorda que do seio do Messias sairão rios de água viva, o Espírito Santo (cf. Jô. 7,38). E quem é que pede de beber? O Messias, isto é, o Ungido com o Espírito, o doador do Espírito, da água que nos sacia de vida eterna!

Diante disso, a Samaritana – e nós também – suplica: "Senhor, dá-me dessa água!" Esta água só pode ser recebida no sacramento do Batismo! Como aquele outro pedido: "Senhor, dá-nos deste pão" (Jô. 6,34). Eis o Batismo; eis a Eucaristia! É assim que a vida de Jesus nos chega! Mas, não se pode receber o Batismo sem primeiro se reconhecer pecador, sem primeiro confessar seu pecado e buscar a remissão no Espírito Santo que Jesus dá! Quem não se humilha diante do Senhor, quem não se reconhece pecador, não beberá dessa água! Por isso, Jesus revela o pecado da mulher, toca seu ponto fraco, fá-la reconhecer-se indigna, não para envergonhá-la, mas para libertá-la com a verdade: "Vai chamar teu marido!" A mulher era adúltera, com vários maridos, como os pagãos, com seus vários deuses! Jesus, então, revela que os pagãos adoram o que não conhecem, porque "a salvação vem dos judeus!" Interessante o ecumenismo de Jesus: não mascara a verdade, não nega a verdadeira fé, em nome de um falso diálogo! A salvação vem dos judeus, porque é dos judeus que Cristo vem – ele, o único verdadeiro Salvador, fora do qual não há nem pode haver salvação alguma! Há tanto teólogo sabido esquecendo isso! Por outro lado, o judaísmo vai ser superado: "Está chegando a hora em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em Espírito e Verdade" e não mais em Jerusalém! Eis: quando Cristo der o seu Espírito, é nesse Espírito de Verdade, Espírito de Cristo, recebido nas águas do Batismo, que a humanidade encontrará a Deus! Esses são os adoradores que o Pai procura, pois a salvação definitiva vem de Cristo, presente nos sacramentos da sua Igreja católica, sobretudo no Batismo e na Eucaristia! É nele que judeus e pagãos são chamados a formar um só povo de verdadeiros adoradores!

Finalmente, o misterioso diálogo de Jesus com os apóstolos: "Tenho um alimento que não conheceis: o meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra". O alimento de Jesus é levar o Reino do Pai a todos os povos, judeus e pagãos! É o que Jesus acabara de fazer com a Samaritana... e ela está chamando outros até Jesus. Por isso, Jesus diz: "Levantai os olhos e vede os campos: eles estão dourados para a colheita! O ceifeiro já está recebendo o salário e recolhe fruto para a vida eterna! Um é o que semeia, outro o que colhe!" O Senhor está semeando para que os Apóstolos colham depois da Páscoa! Mas, a conversão daqueles samaritanos é já um sinal e uma antecipação da colheita, da conversão dos pagãos.

Que dizer mais? Somos a colheita de Cristo! "Estamos em paz com Deus por Jesus Cristo". Porque fomos batizados nele, vivemos na esperança, pois já experimentamos em nós a vida eterna, pois "o amor de Deus foi derramado como água em nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!" E tudo isso, graças ao que Cristo semeou com sua morte, tornando-se grão que dá fruto para a vida eterna! Eis que prova de amor tão grande o Pai nos deu! Eis em que consiste o Reino que Jesus veio anunciar e trazer! Eis a obra do Pai, que é o alimento de Jesus!

Eis! Na sede do nosso caminho de vida e de Quaresma, olhemos para Jesus, aproximemo-nos dele, o Rochedo que, ferido na cruz, de lado aberto, faz jorrar a água do Espírito para o seu povo peregrino e sedento. O mundo, tão sedento, procura matar a sede em tantas águas sujas, envenenadas, águas que matam! Que nós matemos nossa sede no Cristo, novo Rochedo, que jorra a água do Espírito, que dura para a vida eterna! Que ele alimente nosso caminho quaresmal até a Páscoa da glória!

dom Henrique Soares da Costa

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DOMINGO, 27 de Março

JESUS E A SAMARITANA

Evangelho - Jo 4,5-42

            O Evangelho deste domingo situa-nos junto de um poço, na cidade samaritana de Sicar. A Samaria era a região central da Palestina – uma região heterodoxa, habitada por uma raça de sangue misturado (de judeus e pagãos) e de religião sincretista.Na época do Novo Testamento, existia uma animosidade muito viva entre samaritanos e judeus. Historicamente, a divisão começou quando, em 721 a.C., a Samaria foi tomada pelos assírios e foi deportada cerca de 4% da população samaritana. Na Samaria instalaram-se, então, colonos assírios que se misturaram com a população local. Para os judeus, os habitantes da Samaria começaram, então, a paganizar-se (cf. 2 Re 17,29). A relação entre as duas comunidades deteriorou-se ainda mais quando, após o regresso do Exílio, os judeus recusaram a ajuda dos samaritanos (cf. Esd 4,1-5) para reconstruir o Templo de Jerusalém (ano 437 a.C.) e denunciaram os casamentos mistos. Tiveram, então, de enfrentar a oposição dos samaritanos na reconstrução da cidade (cf. Ne 3,33-4,17). No ano 333 a.C., novo elemento de separação: os samaritanos construíram um Templo no monte Garizim; no entanto, esse Templo foi destruído em 128 a.C. por João Hircano. Mais tarde, as picardias continuaram: a mais famosa aconteceu por volta do ano 6 d.C., quando os samaritanos profanaram o Templo de Jerusalém durante a festa da Páscoa, espalhando ossos humanos nos átrios.Os judeus desprezavam os samaritanos por serem uma mistura de sangue israelita com estrangeiros e consideravam-nos hereges em relação à pureza da fé jahwista; e os samaritanos pagavam aos judeus com um desprezo semelhante.A cena passa-se à volta do "poço de Jacob", situado no rico vale entre os montes Ebal e Garizim, não longe da cidade samaritana de Siquém (em aramaico, Sicara – a actual Askar). Trata-se de um poço estreito, aberto na rocha calcária, e cuja profundidade ultrapassa os 30 metros. Segundo a tradição, teria sido aberto pelo patriarca Jacob… Os dados arqueológicos revelam que o "poço de Jacob" serviu os samaritanos entre o ano 1000 a.C. e o ano 500 d.C. (embora ainda hoje se possa extrair dele água).O "poço" acaba por transformar-se, na tradição judaica, num elemento mítico. Sintetiza os poços abertos pelos patriarcas e a água que Moisés fez brotar do rochedo no deserto (primeira leitura de hoje); mas, sobretudo, torna-se figura da Lei (do poço da Lei brota a água viva que mata a sede de vida do Povo de Deus), que a tradição judaica considerava observada já pelos patriarcas, antes de ser dada ao Povo por Moisés.

O Evangelho segundo São João apresenta Jesus como o Messias, Filho de Deus, enviado pelo Pai para criar um Homem Novo. No chamado "Livro dos Sinais" (cf. Jo 4,1-11,56), o autor apresenta – recorrendo aos "sinais" da água (cf. Jo 4,1-5,47), do pão (cf. Jo 6,1-7,53), da luz (cf. Jo 8,12-9,41), do pastor (cf. Jo 10,1-42) e da vida (cf. Jo 11,1-56) – um conjunto de catequeses sobre a acção criadora do Messias.O nosso texto é, exactamente, a primeira catequese do "Livro dos Sinais": através do "sinal" da água, o autor vai descrever a acção criadora e vivificadora de Jesus.

 

Publicada por Ir. Ma. Mendes, SSpS em 21:36

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JESUS E A SAMARITANA

 

(Jo 4,5-42)

 

- A samaritana era 4 vezes rejeitada:

Por ser mulher: a sociedade judaica era bem machista. Só a mulher podia ser

condenada no caso de adultério.

Por ser pecadora: o meio-dia não é horário para buscar água.

Por ser estrangeira: os samaritanos eram considerados como bastardos, mistura de raças.

Por ser pobre: ela mesma foi buscar água no poço.

- Jesus: cansado, se senta na beira do poço de Jacó.

A. A saída do círculo vicioso marcado pela tradição e as forças coletivas (v. 7-9).

"Você um judeu... eu, uma samaritana".

Jesus disse: "Dá-me de beber!" A reação da mulher é de surpresa:

"Como sendo judeu, tu me pedes de beber, a mim que sou samaritana".

A mulher está insegura porque Jesus quebra um tabu. Um judeu não ia humilhar-se

para pedir uma ajuda a uma pecadora, só se este estivesse na pior.

É o confronto com a nossa miséria que nos leva à conversão.

A mulher estranha a atitude de Jesus porque já tinha incorporado a tradição:

judeu e samaritano não se falam;

Ela aceita seu papel, sua "Persona" (máscara) em função do que os outros esperam

dela.

Jesus quebra o seu papel de judeu e obriga a mulher a se questionar na sua situação de

samaritana. Jesus não vê nela simplesmente uma "samaritana".

B. O dom de Deus: "água viva" Oferta de uma nova vida (v.10).

Jesus propõe uma água que corre, não mais uma água parada. É isso o dom de Deus.

O dom de Deus é o próprio Jesus.

A intervenção de Jesus marca um salto qualitativo. Jesus quer que a mulher descubra

que ele não é simplesmente um judeu, mas o dom de Deus capaz de dar água viva.

Isso a mulher não consegue entender.

C. Rompeu com a tradição: "Você é maior que o nosso pai Jacó" (v.11-14 c 5-6).

Jacó é considerado o pai dos samaritanos. Ele representa a tradição. O poço indica a

descida na profundeza da origem religiosa. Por isso, a mulher pergunta se Jesus é

maior do que o pai Jacó.

O poço, a água são símbolos materiais e representam a origem.

Em todas as culturas "os pais" significam a Lei, a Ordem, a Consciência.

A pergunta da mulher: "Você é maior que o nosso pai Jacó", revela a crise de valores

sentida por ela.

Não é por acaso que o encontro se realiza no poço de Jacó que representa para a

mulher a fonte dos valores que ela tinha até agora. Ela se questiona: "Será que este

judeu é uma nova fonte da qual posso viver?"

Por isso, os versículos 13-14 respondem bem ao que preocupa a mulher. "Aquele que

bebe desta água (Jacó) terá sede novamente; mas quem beber da água que eu lhe

darei, nunca mais terá sede. Pois a água que eu lhes der, tornar-se-á nele uma fonte

de água jorrando para a vida eterna".

D. Desejo da nova fonte de vida (v. 15)

A samaritana começa a alimentar o desejo de uma água (de uma fé) capaz de satisfazer

plenamente. A água (a fé) do poço de Jacó não conseguiu satisfazê-la porque precisava

tirá-la todos os dias e necessitava de esforço.

A mulher pede nesse versículo 15, o que Jesus tinha proposto que pedisse no versículo

10.

Assim termina a 1ª parte. A samaritana descobre que precisava sair do seu

"egocentrismo", da sua "persona", do seu papel no qual estava trancada para descobrir

seu verdadeiro "ego".

É dentro de nós, que encontramos o caminho do místico.

E. A mudança na metade da vida: a sexta-hora (v. 6,16-19).

C.G. Jung escreve que e a primeira parte da nossa vida é orientada pela ação, enquanto a

segunda leva para a interioridade.

Quando Jesus disse: "Vai, chama teu marido", ele provocou a mulher para reconhecer o

lado escuro da sua vida. Ela o reconhece, no entanto, só parcialmente quando disse: "Não

tenho marido", escondendo que já teve 5 maridos. Jesus a questiona para obrigá-la a

reconhecer toda a verdade.

Só quem aceita reconhecer e confessar o seu lado escuro é capaz de fazer a experiência

da água viva. Não adianta esconder alguma coisa a si mesmo ou ao confessor.

O reconhecimento do lado escuro da nossa personalidade é o inicio da cura e o primeiro

passo para a "individuação".

A mulher não vê mais em Jesus um judeu, mas um profeta (v. 19) e mais tarde o messias

(v.25) e finalmente o salvador (v.42).

O segundo passo para a individuação é o reconhecimento da anima para o homem e do

animus para a mulher. O fato que a mulher reconhece Jesus como profeta e que ela aceita

exercer ela mesma este papel para com os samaritanos, prova que começa a descobrir no

seu caminho para a "individuação" seu lado masculino feito de iniciativa.

F. O encontro com Deus (v. 20-26): o símbolo unificado

Deus se encontra no mais interior de si mesmo.

" Deus interior íntimo" como disse S. Agostinho.

Só pode encontrar Deus quem para de apresentar aos outros e a si mesmo uma "persona".

A mulher só foi capaz de fazer uma pergunta sobre Deus, após ter aceito seu lado escuro.

A descoberta de Deus se faz a partir do conhecimento do seu ego mais profundo.

A partir do v. 20, a mulher começa a ter iniciativa do diálogo. Pela primeira vez, ela faz

uma pergunta e a resposta é no mesmo nível.

Agora a mulher é capaz de se confrontar com sua própria tradição.

No versículo 25, a mulher manifesta o desejo de encontrar Cristo, aquele que não

somente lhe revelou seu lado escuro, como o fez Jesus, mas aquele que é capaz de revelar

"tudo".

A mulher ainda pensa de maneira dualista: adorar em Jerusalém ou em Garizim? Jesus

fala que precisa rezar em espírito e verdade. Ele acaba deste jeito com qualquer dualismo.

Refaz a unidade entre o humano e o divino, entre o espírito e a carne.

Quando Jesus diz: "Sou eu, que falo contigo", isso significa, para a mulher samaritana, o

encontro com Cristo na sua plenitude e a realização plena na sua personalidade.

G. Mensageira para o povo (v. 28-30 c 42)

A mulher abandona sua jarra, porque descobriu uma outra "água".

A água do poço (religião de Jacó) já não a satisfaz mais. Ela descobre a água viva: Jesus é

o Messias.

A volta para a cidade, mostra uma mulher bem diferente. Agora, não é mais uma mulher

que segue um papel coletivo, mas alguém que tem sua própria personalidade.

CONCLUSÃO

Na metade de sua vida, uma mulher experimenta uma mudança radical na qual o seu

passado se torna consciente e na qual seu futuro se orienta radicalmente para Cristo.

O texto da samaritana é um texto de revelação (e não de moral), no qual Jesus vai se

revelando. A conversão é o resultado concreto deste encontro.

Enquanto a religião se resume simplesmente a formas externas e a função religiosa não

leva a uma experiência íntima de Deus, não acontece nada de fundamental. Quem não

compreende isso, pode ser doutor em teologia, mas de religião não entende nada e menos

ainda de educação.

Textos: Salmos 42 (41) e 63 (62)

 

O ENCONTRO PESSOAL COM JESUS

 

"A Paixão, o Calvário, são uma suprema declaração de amor. Não foi para resgatar-nos que

sofreste tanto, ó Jesus... O menor dos teus gestos tem um preço infinito, pois é o ato de um

Deus e teria bastado, mais do que bastado, para resgatar mil mundos... É para nos levar, nos

atrair a te amar livremente, porque o amor é o meio mais poderoso de atrair o amor, porque

amar é o meio mais poderoso de fazer amar... Como ele nos fez assim sua declaração de

amor, imitemo-lo fazendo-lhe a nossa... Não nos é possível amá-lo sem imitá-lo, amá-lo sem

querer ser o que ele foi, fazer o que ele fez, sofrer e morrer nos seus tormentos; não nos é

possível amá-lo e querer ser coroado de rosas quando ele foi coroado de espinhos" (MSE).

"Rezar é permanecer com Jesus".

"A conformidade ao Bem-Amado é uma premente necessidade do coração" (OE 602).

"Achar tempo para uma leitura de algumas linhas dos santos evangelhos... impregnar-nos do

espírito de Jesus lendo e relendo, meditando e re-meditando, sem cessar, suas palavras e seus exemplos; que façam em nossas almas o efeito de uma gota d'água que cai sem cessar sobre uma laje, sempre no mesmo lugar"(CLM).

"Imitemos Jesus por amor, contemplemos Jesus por amor, ajamos em tudo por amor de

Jesus" (MSE).

"Quanto ao amor que Jesus tem por nós, ele o mostrou suficientemente para que creiamos

nele sem o sentir: sentir que nós o amamos, seria o céu. O céu não é, exceto raros momentos

e raras exceções, para este mundo".

"Estou tão frio que não tenho coragem de dizer que amo, mas queria amar" (27-02-1903).

Textos: João 4,5-42; Salmos 42,43 e 63.

 

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DOM DE DEUS

Jesus tornou-se o dom de Deus na vida da mulher que ele encontrou junto ao poço de Siquém. A descoberta do dom divino deu-se de maneira gradativa. A reação inicial da mulher foi de rejeição, fruto de preconceitos. Ela não podia compreender como um judeu tivesse a ousadia de dirigir-se a uma samaritana, dado a inimizade histórica entre estes dois grupos.
O comentário de Jesus, diante desta negativa, despertou nela um certo interesse. A alusão à possibilidade de obter "água viva" suscitou um mal-entendido: a mulher entreviu a possibilidade de ver-se livre da obrigação de buscar água, naquele poço tão profundo. Assim, quando Jesus falou de uma água que jorra para a vida eterna, ela manifestou o desejo de obtê-la. Para isso, o Mestre colocou como condição que trouxesse consigo seu marido. Foi quando Jesus começou a penetrar na vida pessoal da samaritana, mostrando conhecê-la muito mais do que ela pensava. O Mestre manifestou seu interesse por aquela mulher desconhecida. A partir daí ela começou a se abrir para a fé. O tema da água foi substituído pela questão da adoração a Deus. De modo pedagógico e delicado, Jesus conduziu-a nos meandros da fé, a ponto de fazê-la compreender que tinha diante de si o Messias longamente esperado.
Assim que ela acolheu o dom de Deus na pessoa de Jesus, tornou-se proclamadora de sua presença como Messias salvador. E muitos acreditaram, a partir do testemunho da mulher.

Oração
Pai, em Jesus, tu nos destes um dom precioso. Dá-me a graça de reconhecê-lo e acolhê-lo, cheio de fé, e deixar minha vida ser transformada por ele.

 Pe. Jaldemir Vitório

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JESUS E A SAMARITANA

No III Domingo da Quaresma, a Palavra de Deus que nos é proposta afirma, essencialmente, que o nosso Deus está sempre presente ao longo da nossa caminhada pela história e que só Ele nos oferece um horizonte de vida eterna, de realização plena, de felicidade perfeita.

A primeira leitura mostra como Jahwéh acompanhou a caminhada dos hebreus pelo deserto do Sinai e como, nos momentos de crise, respondeu às necessidades do seu Povo. O quadro revela a pedagogia de Deus e dá-nos a chave para entender a lógica de Deus, manifestada em cada passo da história da salvação.

A segunda leitura repete, noutros termos, o ensinamento da primeira: Deus acompanha o seu Povo em marcha pela história; e, apesar do pecado e da infidelidade, insiste em oferecer ao seu Povo - de forma gratuita e incondicional - a salvação.

O Evangelho também não se afasta desta temática… Garante-nos que, através de Jesus, Deus oferece ao homem a felicidade (não a felicidade ilusória, parcial e falível, mas a vida eterna). Quem acolhe o dom de Deus e aceita Jesus como "o salvador do mundo" torna-se um Homem Novo, que vive do Espírito e que caminha ao encontro da vida plena e definitiva.

 

 Primeira Leitura - Leitura do Livro do Êxodo (Êxodo 17,3-7)

Naqueles dias, 3o povo, sedento de água, murmurava contra Moisés e dizia: "Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado?"

4Moisés clamou ao Senhor, dizendo: "Que farei por este povo? Por pouco não me apedrejam!"

5O Senhor disse a Moisés: "Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Toma a tua vara com que feriste o rio Nilo e vai. 6Eu estarei lá, diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber".

Moisés assim fez na presença dos anciãos de Israel. 7E deu àquele lugar o nome de Massa e Meriba, por causa da disputa dos filhos de Israel e porque tentaram o Senhor, dizendo: "O Senhor está no meio de nós ou não?"
Palavra do Senhor.

 

Salmo Responsorial - Salmo 94

Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o Rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores,
e com cantos de alegria o celebremos!

Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.


Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra,
e ajoe­lhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor,
e nós somos o seu povo e seu rebanho,
as ovelhas que conduz com sua mão.

Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.


Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
- "Não fecheis os corações como em Meriba,
como em Massa, no deserto, aquele dia,
em que outrora vossos pais me provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras".

Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações.

 

Segunda Leitura - Segunda Carta de Paulo aos Romanos (Romanos 5,1-2.5-8)

Irmãos: 1Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. 2Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus.

5E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.

6Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. 7Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa talvez alguém se anime a morrer. 8Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores.
Palavra do Senhor.

 

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João (João 4,5-15.19b-26.39a.40-42)

Naquele tempo, 5Jesus chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José. 6Era aí que ficava o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço. Era por volta de meio-dia. 7Chegou uma mulher de Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: "Dá-me de beber".

8Os discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. 9A mulher samaritana disse então a Jesus: "Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?" De fato, os judeus não se dão com os samaritanos.
10Respondeu-lhe Jesus: "Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: 'Dá-me de beber', tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva".

11A mulher disse a Jesus: "Senhor, nem sequer tens balde e o poço é fundo. De onde vais tirar água viva? 12Por acaso, és maior que nosso pai Jacó, que nos deu o poço e que dele bebeu, como também seus filhos e seus animais?"

13Respondeu Jesus: "Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. 14Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna".

15A mulher disse a Jesus: "Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la". 19b"Senhor, vejo que és um profeta! 20Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar".

21Disse-lhe Jesus: "Acredita-me, mulher: está chegando a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus.

23Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. De fato, estes são os adoradores que o Pai procura. 24Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade".

25A mulher disse a Jesus: "Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar. Quando ele vier, vai nos fazer conhecer todas as coisas". 26Disse-lhe Jesus: "Sou eu, que estou falando contigo".

39a Muitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em Jesus. 40Por isso, os samaritanos vieram ao encontro de Jesus e pediram que permanecesse com eles. Jesus permaneceu aí dois dias. 41E muitos outros creram por causa da sua palavra. 42E disseram à mulher: "Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo".
Palavra da Salvação.

 

Comentário

Encontro junto ao poço

No fundo do coração humano guardamos uma profunda esperança que, de quando em quando, se mostra e nos sussurra: "Tudo pode ser diferente". Negar seria mentir; todos, de alguma maneira, ouvimos essa voz, ainda que, certamente, haja corações duros e resistentes. A eles (suspeitando que todos possam cair na mesma tentação) se dirige hoje o salmo responsorial: "Oxalá escuteis hoje a voz do Senhor. Não endureçais o coração" (Salmo 94).

Se há algo maravilhoso e humano (e divino!) é essa boca ilimitadamente sedenta à que chamamos desejo. Deus deu-nos a força do desejo para possibilitar a Esperança. Essa sede é a que, em definitivo, nós atira e nós leva a procurar a fonte onde sacia-la. "De noite iremos, de noite… que para encontrar a fonte - escrevia o poeta Luis Rosales - …só a sede nos ilumina".

Os políticos sabem-no bem. Querendo conectar com as fibras mais profundas e sensíveis de nossa desejosa estrutura humana estampam lemas e criam músicas que "pegam" para estimular nossos desejos. Em tempo de eleições, vê-se com clareza.  Ante a frustração - mais ou menos grande - à que os humanos nos vemos submetidos pelo desajuste entre nossos ideais e a realidade, os gabinetes de propaganda política procuram acordar e avivar essa voz interior que nos diz: "Sim se pode", "pode haver algo diferente", "podemos mudar".

Uma sede profunda

Porém não vamos falar de nossa sede material, tão mutável, ou de nossa sede política ou de partido. Há algo mais profundo e mais importante. A Palavra hoje convida-nos a encontrar essa "fonte de Água Viva" capaz de saciar essa sede tão profunda; algo que vai para além do sentimento, e da que - dizem  -  (dizemos?) depende nossa verdadeira felicidade.

Não nos vale o que outros digam, ou sabem. O evangelho recorda: não nos vale crer de ouvido, nem das palavras de outros. Como aqueles samaritanos que escutaram o depoimento da recém transformada, precisamos o experimentar por nós mesmos.

O diálogo entre Jesus e a Samaritana é a narração do mesmo encontro que se produz entre o Senhor e nós quando, sedentos, nos aproximamos do poço. É a mesma experiência que se renova hoje em nós se nos deixarmos. A não ser nossos preconceitos, não há obstáculos para o encontro. O Senhor acolhe-nos como somos, sem olhar se somos de Samaria ou de Jerusalém. Nada lhe importa para o encontro. Dá o mesmo ser de direita ou de esquerda; ser branco, negro ou amarelo; não lhe importa se és ou não ortodoxo, politicamente correto ou incorreto. Nem sequer assusta-se de nosso pecado. Antes, nos ama como somos, para nos fazer diferente. Ante de nosso amor para ele, ele nos fazer ver o seu. "Em Cristo, morto por nós, - nos diz São Paulo na segunda leitura - deu-nos a grande prova de seu amor". Nada lhe resiste. Nem as carências nem as dificuldades são obstáculos para que ele realize sua obra. Ele sabe encontrar seu poço (ou o nosso) para se abrir caminhos.

Água Viva transformadora

A experiência crente nasce, pois, deste encontro em profundidade. É um encontro mágico, maravilhoso. Nele se produz o grande milagre do amor. Quem se deixa encontrar por aquele que nos procura desde sempre - inclusive desde antes de procurar a ele - resulta transformado. Sucede-lhe como à samaritana. Sente - ainda que não seja um mero sentimento - que Deus lhe ama e perdoa seu pecado; que lhe aceita como é e que não lhe julga sem mais, senão que lhe estimula; que não lhe apresenta dogmas, senão propostas de vida.

É um encontro que sana o coração e o reorienta em outra direção. A que era presa de convencionalismos, se converte em atrevida evangelizadora. Assim, também nós nos vemos vivificados e purificados por esse maravilhoso e acolhedor encontro. Já não nos falta procurar outros poços. Encontramos a Água Viva, aquele desejo maior que nos faz capazes de relativizar os desejos pequenos. Nossa identidade transformada, como a da samaritana, não pode resistir gritar ao mundo e a nossos irmãos aquelas palavras do autor do Apocalipse: "O Espírito e a Esposa dizem: Vem. E o que ouve, diga: Vem. E o que tenha sede, que venha; e o que queira, que beba grátis da água da vida".

Fernando Prado Ayuso

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Domingo, 27 de março de 2011

 

3º Domingo da Quaresma

 

Santos do Dia: Alexandre (mártir da Panônia), Amador da Guarda (eremita), Ananias (profeta bíblico do Antigo Testamento), Augustade Treviso (virgem, mártir), Fileto, Lídia, Macedônio, Teoprépido, Anfilóquio e Crônidas (mártires de Ilíria), Gelásio de Armagh (bispo), João do Egito (eremita), Mateus de Beauvais (mártir), Roberto de Worms (bispo), Rômulo de Nîmes (abade), Zanitas, Lázaro, Marotas, Narsés e Companheiros (mártires da Pérsia).

 

Primeira leitura: Exôdo 17,3-7

Dá-nos água para beber!

Salmo responsorial: Salmo 94(95),1-2.6-7.8-9 (R. 8)

Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor!

Segunda leitura: Romanos 5,1-2.5-8
O amor foi derramado em nós pelo Espírito que nos foi dado.

Evangelho: João 4,5-42

Uma fonte de água que jorra para a vida eterna.

 

Lembramos o caráter aleatório da distribuição dos textos bíblicos na liturgia católica. Não existe nenhuma explicação de como se fez a distribuição, nem o por que de tal texto em tal data. Uma comissão assim o decidiu e não se conhecem os critérios seguidos. Quem quiser pode conjeturar sobre eles.

          Observa-se uma "associação de idéias" ou de imagens entre a primeira e a terceira leituras, enquanto a segunda, com freqüência, segue caminho próprio, sem nenhuma relação com as outras. A sucessão dos domingos tampouco mostra um critério claro (como poderia ser o de dar pé a um processo sistematizado de formação teológica ou bíblica), nem se dá oficialmente a liberdade para que ao menos algumas comunidades especiais (jovens, grupos de formação, ambientes especiais) pudessem fazer seu próprio calendário litúrgico". São temas que ficam pendentes para uma próxima reforma litúrgica.


          Oferecemos estes comentários teológico-pastorais dos textos da liturgia católica a partir de uma sensibilidade própria, sabendo que existem outras opções, outras visões do mundo e de vivencia da fé. Oferecemos a todos estes comentários com humildade, sabendo que não são os únicos, nem os melhores. São simplesmente um comentário, os quais queremos partilhar com quem sintoniza com esta espiritualidade que com freqüência chamamos "latinoamericana", não necessariamente de um modo geográfico-material. Mas em referencia a uma "geografia espiritual".


          Depois desta introdução que ao é própria deste domingo, entremos de cheio no comentário dos textos. O texto é da samaritana. Praticamente, o capítulo quarto inteiro do evangelho de João. O famoso episódio do encontro de Jesus com a Samaritana.


          Algo que nos parece importante sempre que se comenta um texto do evangelho de João, é a apelação a seu caráter simbólico peculiar. João não é um evangelho sinótico, não é um texto narrativo, nem o que nos conta é provavelmente histórico. João é um evangelista inteiramente simbólico. Nele os símbolos ocupam o espaço narrativo a ponto de  tomar o lugar da realidade. Em João não há cópias, mas identificações. João coloca na boca de Jesus a expressão: Eu sou a videira,  e não eu sou como a videira, ma eu sou a videira verdadeira.

          As demais videiras – as da realidade – não são verdadeiras. "Eu sou o Pão verdadeiro": o resto dos Paes são sucedâneos. /eu tenho a água verdadeira, a que dura para a vida eterna, a outra não tira a sede.


          Ao comentar qualquer texto do evangelho de João, é bom lembrar que este estilo literário e simbólico é inteiramente peculiar a Jesus. Por respeito ao público ouvinte e leitor, é conveniente recolocar muito claramente que não estamos escutando simplesmente a narrativa de uma conversação tal como foi, mas que se trata de uma sofisticada composição teológica, com intenções muito profundas e às vezes nada fáceis de detectar. E que, claro, está inscrito no mundo mental e ideológico peculiar de João, enormemente distante de nós e que esta barreira cultural que nos separa do autor exige prudência para não dar por válida qualquer conclusão.


          Dentre as muitas interpretações de que o texto pode ser objeto, vamos nos fixar em duas dimensões menos costumeiras e muito eloqüentes para hoje: a superação da religião e, consequentemente, a abertura ao diálogo inter-religioso.


          Está na moda o diálogo inter-religioso na teologia e no cristianismo em geral. A situação do mundo atual não somente o possibilita, como também o torna inevitável. O mundo atual está embaralhado religiosamente.

          A diferença do passado, no sentido atual da diversidade cultural e religiosa das sociedades plurais. As migrações, os intercâmbios e a mesma "mundialização", fazem com que todas as religiões se encontrem hoje diariamente com as demais, constante e inevitavelmente, enquanto que há milênios, viviam praticamente isoladas, tão distantes que comodamente podiam pensar em si mesmas como únicas.


          Jesus não viveu nesse contexto pluralmente religioso como o nosso, porém tinha que passar por Samaria em sua idas da Galileia a Jerusalém e vice-versa. O episódio simbólico do evangelho de João nos permite representar o comportamento de Jesus com respeito a este povo que, mesmo não sendo propriamente de "outra religião", era considerado como o mais distante, por ser considerado como herege ou cismático.


          Jesus dialoga com a samaritana, inclusive por própria iniciativa. João não nos apresenta uma fé como defensiva ou somente de resposta. A iniciativa original, a aproximação, é de Jesus.


          É importante destacar que Jesus dialogue inter-religiosamente porque tem um fundo de "teologia pluralista das religiões", diríamos em linguagem atual, com evidente anacronismo. Não é primeiro o diálogo e depois a teologia das religiões, mas ao contrário: porque se tem uma visão aberta da relação entre as religiões, por isso é porque se pode dialogar inter-religiosamente.


         Onde se deve adorar, em Jerusalém ou em Garizin?, pergunta a samaritana. Isto é: Qual é a religião verdadeira? E Jesus tem uma resposta verdadeiramente revolucionária, ainda não assimilada pelos teólogos do pluralismo religioso. Jesus não afirma que em Jerusalém ou em Garizin sejam opções inválidas (religiões falsas), mas que quem o segue deve ir mais a fundo (os verdadeiros adoradores) não vão ter que ir nem a um lugar nem a outro, nem uma religião nem em outra, mas "em espírito e verdade", isto é, devem ingressar na vivencia de uma "religação" profunda.


          É uma resposta revolucionária: as religiões são relativas, há algo mais nelas, a cujoserviço estão todas. Não há uma religião absoluta, à qual todas as demais devem ceder passagem. A única religiosidade absoluta (a "única religação verdadeira") é a "adoração em espírito e em verdade", que está além de uma ou outra religião.


          Um autor como Thomas Sheehan (The Firs Coming: How the Kingdom of God Became Christianity, Random House 1986), sustenta que a novidade de Jesus consiste na abolição de todas as religiões, de tal forma que possamos redescobrir nossa relação com Deus (religação) no mesmo processo da criação e da vida, na historia. Tal afirmação pode assustar, porém, somente no começo.

          Jesus sempre se manteve judeu e nunca pensou em fundar uma religião, mas sim em superá-la. Teria sido o cristianismo uma interpretação do que Jesus queria? Aquilo que logo depois ficou cristalizado no século IV em meio aos enormes condicionamentos históricos daquela época marcada por um império em decadência? Será que hoje, em meio a uma grave crise das religiões e, particularmente, nas instituições religiosas, se nos apresenta uma nova e melhor oportunidade de entender e colocar em prática a mensagem de Jesus?

          Não sabemos, porém a volta de Jesus nos convida a refletir e discernir com humildade e a buscar com paciência. Cada dia mais se cita e se espalha a distinção entre "religião e religação" sendo o importante o segundo, a "religação" – sem ater-se à sua etimologia – enquanto que a religião, as religiões, não seriam mais que formas concretas dessa dimensão profunda de que ser humano adotou ao longo da história.

          O importante, é obvio, não são as formas, mas o conteúdo que veiculam, a dimensão profunda à qual respondem. E quem nos diz que essa dimensão profunda não pode assumir outras formas diferentes, ou que não está assumindo já, e que isso que chamamos crise da religião não é mais que uma transformação das forma que a religação vai adotando num futuro próximo? Provavelmente a crise da religião vai ser, ou está sendo já, a oportunidade da religação.

 

Missionários Claretianos

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