HOMILIAS PARA O
PRÓXIMO DOMINGO DE RAMOS
17 DE MARÇO– 2011
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Domingo de Ramos e Paixão do Senhor - Quaresma
17 de Abril de 2011
Comentários – Prof. Fernando
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INTRODUÇÃO
SEJAMOS RAMOS VERDES POR ESTARMOS LIGADOS A JESUS
No domingo de ramos, vamos refletir sobre as palavras proferidas por Jesus e escritas por João. Jo 15,1-8, nas quais Jesus se compara a uma árvore, e a nós Ele compara com os ramos.
E le sendo a árvore verde alimentada pela água viva que é o Pai, fará com que permaneçamos sempre verdes, desde que fiquemos sempre ligados a Ele ouvindo e praticando os seus ensinamentos, e produzindo frutos através da conquista de mais adeptos para o Reino de Deus.
Assim disse Jesus naquele dia: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que em mim não dá fruto ele o corta”... Jesus é presença de Deus no meio de nós. Presença essa que um dia foi visível, porém agora ela permanece invisível, mas a percebemos, desde que estejamos sintonizados com Jesus, seguindo suas palavras. Que não sejamos ramos infrutíferos! Para que não sejamos cortados.
“...e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda. “ Limpar é podar. A árvore que é podada (cortar as pontas dos galhos) no tempo certo, crescerá mais rápido com folhas, brotos e galhos viçosos e produzirá muito mais frutos. Deus efetua a nossa poda, cortando os nossos galhos (vícios) que cresceram desordenadamente, e se tornaram empecilhos para a nossa espiritualidade ou santificação e para a produção de frutos para o Reino. Um exemplo disso é o nosso olhar. Precisamos cortar a nossa mania de olharmos para tudo aquilo que nos arrasta para o pecado, como a sensualidade que geralmente começa pelos olhos.
E Jesus nos limpa através de sua palavra, através de seus ensinamentos. Assim como o ramo que permanece ligado à árvore continua verde, se permanecermos ligados em Cristo, produziremos muito mais frutos. Ao contrário, o ramo que é cortado da árvore, murcha e morre e não produzirá mais frutos. Pois como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim. “Eu sou a videira e vós os ramos. Aquele que permaneceu em mim, e eu nele,
esse produz muito fruto;
Prezada leitora, prezado leitor. Como você está neste exato momento? Permanece ligada (o) em Cristo, ou você foi cortado, desligado da videira pelo pecado? Se isso aconteceu, meu irmão, minha irmã. É fácil. É só religar-se a Jesus pelo sacramento da confissão. Caso contrário, você não conseguirá fazer direito o seu trabalho missionário. Fica difícil mostrar Jesus aos irmãos. É impossível dar o que não temos. “... porque sem mim nada podeis fazer.”
“Quem não permanecer em mim, será lançado fora como um ramo e secará.” Na verdade, Jesus não nos joga fora, mas sim, nós é que nos lançamos fora, que ficamos por fora do seu Plano salvífico, nós é que nos desligamos de Deus, virando as costas para Jesus e seus ensinamentos, e muitas vezes tudo começou com um simples olhar demorado para uma fonte de pecado. Você está me entendendo?
“Tais ramos são recolhidos, lançados no fogo e queimados.” Queimados no fogo ardente do inferno! Que isso não seja o nosso destino fatal um dia!
Porém, “Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, peçam o que quiserdes e vós será dado.” Caríssimos! Vamos pedir a Jesus, não só o sustento, a roupa, o emprego, o abrigo, mas sim, vamos pedir pelos nossos filhos que estão a mercê de outras influências que mesmo sendo religiosas, são contrárias aos ensinamentos de Cristo os quais são ministrados ou veiculados pela Igreja Católica, muitos jovens mudam de direção, muitos jovens são como ramos cortados da árvore principal, da videira que é Jesus, e isso tem ocorrido pelos amigos, pelos namorados, pelas namoradas os quais sendo de outras religiões, arrastam nossos filhos para longe dos caminhos de Deus, caminho que nos foi mostrados por seu Filho.
Irmãos. Seremos ramos que produzem muitos frutos para que o Pai seja glorificado. Da mesma forma que também garantimos o nosso lugar na vida eterna.
Produzir frutos é conquistar cada dia mais discípulos para o Reino. E só conseguimos fazer isso se permanecermos ligados a Deus por Jesus.
O nosso trabalho missionário é a obra de Deus realizada através de nossa pessoa. E esta presença de Jesus do nosso lado nos conduzindo, protegendo iluminando e nos dando força, é que nos faz imitadores de Paulo, o qual, com seus amigos, após atravessar a Fenícia e a Samaria, falava com alegria sobre a conversão dos pagãos. E contava em Jerusalém, as maravilhas que Deus tinha realizado por meio deles.
O verdadeiro catequista sabe que os frutos do seu trabalho é o resultado de sua permanente ligação com Deus através de Jesus. O catequista consciente tem plena consciência de que ele não atua por suas próprias forças. Também sabe que a missão à qual participa não é uma missão sua ou mesmo humana. Por que Jesus é o grande missionário, que realiza sua obra usando nossas mãos, nossas pernas, nossos olhos, nossa boca, etc. isto é, Jesus quis contar com a nossa participação na construção do Reino, e assim realiza a sua obra através de nós. Portanto, permaneçamos sempre ligados à videira, para nunca murchar, nem mesmo secar. Senão seremos cortados e lançados sabe onde?
Para que os ramos das plantas e árvores permaneçam verdes, floridos e com frutos, é necessário que se alimentem de água. É por isso que no deserto não há florestas.
Sejamos aquele ramo verdinho e que produz muitos frutos, por estar ligado a verdadeira fonte de água viva, que é Jesus.
Desejo a você um santo domingo, grande abraço, e... Fique ligado!
Sal.
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Jesus, O Rei Pacífico que conquista pela humildade que dá testemunho da verdade,e não pela astúcia ou violência.
O Domingo de Ramos é o dia em que toda a igreja se volta para a determinação de Jesus, o Filho de Deus, como servo obediente até o fim, e Mestre da Justiça, ao entrar por sua própria vontade na cidade de Jerusalém, mesmo sabendo que lá O levariam até o Monte Calvário.
Ao final do tempo da Quaresma quando Jesus chega ao ápice de sua caminhada neste mundo, a liturgia se apresenta como momento de reflexão e de compromisso para todo cristão de assumir a vida cristã,com a responsabilidade e a renovação da fé em Jesus que é a Luz do mundo.Jesus escolhe se apresentar em Jerusalém, cidade de “Davi, seu pai”, montado em um jumento, uma besta de carga. Era a entrada de uma pessoa humilde e não a de um conquistador militar. Ele é o Messias prometido que se apresenta de forma pobre e despojada, diferentemente do que o povo esperava: aquele que viria valente, poderoso e imperialista
Jesus é o Rei-Messias que vai confrontar-se com o centro da sociedade Judaica, simbolizada por Jerusalém e pelo Templo, sede do poder econômico, político, ideológico e religioso. Ele entra na cidade, não como rei guerreiro. mas como simples homem, humilde e pacífico. Ele traz consigo a inversão de um sistema de sociedade apoiado na violência da força militar, que defende os privilegiados. O povo o aclama como aquele que traz o reino da verdadeira justiça.
E assim, Ele é aclamado Rei. O Rei Pacífico que conquistou o seu povo não pela astúcia ou violência, mas pela humildade que dá testemunho da Verdade.Neste dia, quem o aclama são as crianças e os “pobres de Deus”, seus seguidores, que estendem suas capas e ramos no chão para abrir passagem dizendo: “Bendito o que vem em nome do Senhor”.A cidade toda está interessada em Jesus e Ele é reconhecido como o profeta da Galiléia.
Na aclamação entusiasmada e eufórica do povo, o termo “Hosana” quer dizer: “Salva-nos, dá-nos a salvação!”
Amém
Abraço carinhoso
Maria Regina
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DOMINGO DE RAMOS
Frei Aloísio Antônio de Oliveira OFV Conv
Estamos, hoje, celebrando o Domingo que abre as portas da Semana Santa: é o Domingo de Ramos. Jesus é aclamado Rei. Há palmas, vivas e aclamações para recebê‑lo: a multidão carrega ramos para simbolizar a alegre homenagem que o povo lhe quer prestar. Jesus se apresenta em Jerusalém montado num jumento porque vem trazer a paz. Não entra montado num cavalo porque não é um Rei guerreiro. Vem como Rei sem exército, simplesmente oferecendo a paz àquela cidade onde, poucos dias depois, encontrará a morte por crucificação. Propõe a paz. Em troca dão‑lhe violência. No Evangelho deste Domingo de Ramos é lido o "Evangelho da Paixão".
A presença ameaçadora do mal, camuflada por semblantes humanos, serpeia através dos fatos; como a traição insensata de Judas, a fraqueza dos discípulos, a implacável hostilidade dos chefes, o consentimento da multidão, a curiosidade escarnecedora de Herodes, a indecisão e o ato de injustiça final de Pilatos e os escárnios sem fim infligidos a um homem que morre. Ele prenuncia aos seus discípulos que, na Paixão, que já está próxima ele enfrentará a luta entre a vida e a morte, entre o bem e o mal.
Ele, Jesus, será entregue às mãos dos pecadores e eles mesmos ficarão decepcionados por causa dele. Mesmo mostrando Jesus como alguém senhor do próprio destino a narração evangélica não subestima o papel agressivo e desconcertante que o mal e o sofrimento exercem sobre a experiência humana. Ao mesmo tempo, toda a perspectiva da narrativa da Paixão não deixa dúvidas sobre a derrota do mal: este parece descarregar toda a sua fúria contra Jesus, o Filho de Deus.
Pelo poder do amor de Deus, o poder da morte é destruído, para todo homem e todo tempo. 0 triunfo da graça sobre a mor ‑e vê‑se na ambivalência daqueles que são instrumentalizados pelo poder do mal. 0 oficial romano e seus soldados que guardavam Jesus, chegam a reconhecer que Ele era mesmo Filho de Deus".
José de Arimatéia um membro do conselho que condenou Jesus, toma coragem de pedir o seu corpo crucificado, e Jerusalém, a cidade assassina de profetas ‑ onde o Filho de Deus é rejeitado e crucificado, tornar‑se a Cidade Santa, o lugar da epifania da ressurreição.
Desenvolvendo até o fim o drama da vida e da morte, a Paixão de Jesus proclama o sentido pleno do Evangelho. Em Jesus, o Filho de Deus, Filho de Adão, é representada toda a esperança da humanidade.
A injustiça, a sofrimento e a morte são realidades dolorosas, e a história da Paixão o reconhece, mas elas não têm a última palavra sobre o destino do homem. Isto é claramente demonstrado no drama da Paixão em que Deus atua à revelia das forças do mal.
Sigamos a Cristo, vivendo intensamente esta Semana Santa.
Frei Aloísio
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“BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR”! Olívia Coutinho
DOMINGO DE RAMOS
Evangelho - Mt 21,1-11
Iniciamos hoje a semana Santa!
Para nós cristãos, é um tempo forte em que estaremos reunidos em comunidade, para reviver os passos de Jesus a caminho da cruz e principalmente, celebrando a vida que a morte não venceu!
Somos levados a uma profunda reflexão do mistério da paixão e morte de Jesus!
Não pensemos que foi fácil para Jesus, passar por tamanho sofrimento, pois Ele, assim como nós, não era isento das dores físicas e das dores da alma!
Sabemos que Jesus podia ter recusado a cruz, mas Ele quis levar em frente a sua obediência ao Pai, obediência que resultou na sua morte! Morte, que também não foi da vontade de Deus, pois foi a maldade humana, que o condenou injustamente! O sofrimento de Jesus poderia ter sido evitado, mas Deus, não quis quebrar a aliança de amor feita com a humanidade desde a criação, por isto, deixou que Seu Filho pagasse o preço da salvação de todos!
A entrada festiva de Jesus em Jerusalém marca o início de seu calvário! Jesus é aclamado pelo povo oprimido, sem voz e sem vez e para se identificar com eles, entra em Jerusalém montado num jumentinho, que era naquela época, um instrumento de trabalho e de transporte dos pobres!
A entrada triunfal de Jesus e seus discípulos em Jerusalém, foi uma maneira forte de proclamar a chegada do Messias, o Rei tão esperado pelos pobres e tão indesejado pelos poderosos.
“As multidões que iam na frente de Jesus e os que o seguiam, gritavam: Hosana ao filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus”! Ao presenciarem isso, os seus adversários se encheram de inveja e sentindo-se ameaçados de perder o trono, para um rei servidor dos pobres, apressaram em dar fim na pessoa de Jesus, usando como sempre, a força política e religiosa, como mecanismo de morte.
Nas celebrações da semana santa, nos comovemos diante das encenações da Paixão e morte de Jesus, achamos uma injustiça o que fizeram com Ele, mas será que nós, não continuamos de alguma forma, fazendo o mesmo com Jesus, na pessoa do nosso irmão? Será que hoje, nós também não estamos crucificamos-O no nosso dia a dia, com as nossas atitudes?
Não podemos esquecer que toda vez, que não praticamos a justiça, a solidariedade, que negamos ajuda ao nosso irmão, estamos também crucificando Jesus! E ao contrário, todo vez que praticamos a justiça, que promovemos o nosso irmão, estamos ressuscitando Jesus!
Rasguemos então, as vestes do homem velho, para nos revestirmos do homem novo, que aprendeu com Jesus a partilhar a vida, a ser vida para o outro, para assim, podermos desde já, vivenciar o grande sentido da páscoa: Passagem... Vida nova... Renovação...
A páscoa é celebrar a vida, é resgatar valores hoje, tão esquecidos como: a fidelidade, a defesa da vida, o respeito ao outro! Devemos celebrá-la sempre, comparando-a como um belo amanhecer de um novo dia!
Como verdadeiros seguidores do Cristo Vivo, que caminha no meio de nós, devemos estar sempre disposto a enfrentar toda e qualquer situação de perigo, sem medo de levar em frente a nossa missão de portadores e anunciadores do amor, pois uma certeza carregaremos conosco: Jamais estaremos sozinhos se o nosso Deus, é o Deus da vida!
Sejamos, pois, continuadores da presença viva de Jesus no mundo!
Quiseram eliminar Aquele que falou da vida, que acolheu os pobres, os abandonados, mas não conseguiram, pois a vida vence, quando se diz "SIM", ao amor!
Olívia Coutinho
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“Hosana ao Filho de Davi!” – Claudinei Oliveira
Domingo, 17 de Abril de 2011.
Evangelho – Mt 21,1-11
Neste domingo de Ramos preparamo-nos para a grande festa da páscoa. Festa esta que inicio-se no século V quando os cristão se reuniam no monte das Oliveiras para a longa liturgia da Palavra e ao anoitecer entravam em Jerusalém levando consigo ramos de oliveira ou de palmeiras nas mãos.
Contudo, o evangelista Mateus nos convida a entrarmos em Jerusalém ao lado de Jesus de Narazé como rei, manso, humilde e sensato com o povo pobre. Montado num jumentinho Jesus é aclamado pela multidão que acompanhava e pela multidão que o esperava. Com mantos e ramos preparava o caminho para a passagem do rei pobre. Caminho este que levaria para o calvário a fim de cumprir sua missão: morrer pelos pecados dos homens incompreensíveis.
Com ramos nas mãos mostramos a cumplicidade da fé e confirmamos a força de vontade em estar perto de Jesus. Sabemos que Ele é o Messias que veio para trazer nova luz para os povos; novos olhares para com aqueles desprezados e novos ânimos para enfrentar o poder opressor. Não o abandonamos por mais árduo que seja a missão. Também é domingo de comungar o corpo e o sangue de Cristo, renovar a fé batismal e preparar para ouvir a Santa Palavra. Abastecido pela Palavra e pelo Pão, fortificamos para o mistério Semana Santa e acompanharmos o caminhar de Jesus para a vitória e ressurreição.
Jesus ao entrar em Jerusalém de peito aberto enfrentou destemidamente toda a ordem estabelecida do poder. Não enxergou os fariseus e nem os sumos sacerdotes que tanto relutaram em não aceitá-lo. Colocou-se de pé diante deles e assumiu a postura de rei, bravo e defensor da Verdade. Não se acovardou. Levou seriamente o projeto do Pai avante. Antagonicamente viu-se exultado pela multidão e aclamado “Hosana ao Filho de Davi! Bendito, aquele que vem em nome do Senhor. Hosana no mais alto do céu!”, e dias depois grita por sua condenação: “Crucifica-o! Crucifica-o!” Ele sabia que iria passar por está situação. Porém, não fraquejou. Este é o nosso Jesus libertador! Quem não sente orgulho deste magnífico Homem! (...) Acontece que muitos hoje ainda olham de rabo de olho.
Como pode receber tão bem Jesus em Jerusalém, festejar sua entrada triunfal, estender vestes e ramos em seu caminhar, mas depois expulsá-lo. Olhar para Jesus e dizer você quer mostrar que é alguma coisa, chegou a nos enfrentar com um simples jeguinho e vem cantar de rei no seio de nosso reinado! Isto não vai acontecer. Prepare-se e verás. Santa misericórdia destes homens que enrijecem o coração para nova vida! Olha que cumpriram a promessa de condená-lo, tanto fomentado nos dias que precederam a entrada em Jerusalém.
Despojado na essência de ser filho de Deus, Jesus caminha serenamente para ser abatido. Sem usar seu mistério de reverter a situação passa em revista pela assembléia na mais pura inocência. Como descreve no Prefácio de hoje: “inocente, Jesus quis sofrer pelos pecadores. Santíssimo, quis ser condenado a morrer pelos criminosos. Sua morte apagou nossos pecados e sua ressurreição nos trouxe a vida” .
A Páscoa virá após a morte e ressurreição de Jesus trazendo vida nova – a vida no Espírito, que implica amor absoluto a Deus e ao próximo. Novo jeito de ser – revestir um novo homem e uma nova mulher capaz de entender e ajudar o outro na paz e na harmonia. Nova maneira de agir – ir ao encontro dos infelizes, dos Lázaros da vida, dos cegos e dos surdos. Assim, o homem pecador não terá o Filho de Deus na terra. O homem ficará órfão na terra e conquistará a companhia do Espírito Santo quando morrer para o mundo e viver para Cristo. Caso não despojará dos vícios mudanos que corroem a salvação, dificultará ainda mais o encontro com o Pai.
Caros leitores, não façamos como muitas pessoas que acolheram Jesus em Jerusalém, aplaudiram e fizeram toda cortesia, mas depois o condenaram. Acolhamos este Deus que nos dá toda a força de Espírito Santo e façam o caminho para Nova Jerusalém. Uma Jerusalém que acolha todos de braços abertos. Que não maltrata ninguém e onde viva a alegria de pertencer a família de Cristo, a família abençoada.
Façamos dos ramos deste domingo a extensão dos ramos espirituais. Clamamos diariamente a Deus de bendito o que vem em nome do Senhor, o rei de povo esquecido, o rei de Israel. Façamos com que as preces chegam ao Pai Eterno, mas não cruze o braço.
Está quase terminando a caminhada da quaresma. Pedimos a proteção divina na conversão para o caminho sagrado do Senhor; penitenciamos com propósito de pedir perdão pelas faltas cometidas contra o Senhor e contra nosso irmão; aproximamos dos inimigos para voltar-se para Deus e os acolhemos com gratidão. Rezemos, rezemos muito para libertarmos das cobiças e da falta de esperança. Agora, estamos preparados para vivenciar uma semana de sofrimento, de muita dor, mas uma semana que vamos encontrar o Cristo Ressuscitado.
Como cantamos na música também sou teu povo senhor, estou nesta estrada, cada dia mais perto da terra esperada. Acreditamos que a terra esperada está tão perto de nós. Claro que no caminho, às vezes, não encontraremos um tapete vermelho veludo ou muitos enfeites dos verdes ramos, talvez seja um caminho sem expectadores, cheio de buracos e obstáculos para ultrapassarmos. Mas com a fé e determinação superaremos tudo que provir em nossa direção de mal: estamos com Jesus ou não estamos?
Podemos não encontrar consolo porque a hora ainda não chegou. Como no salmo 21 (22) alguém clama por socorro para amenizar o sofrimento: “Ó meu Deus e Pai, por que me abandonastes, clamo a vós e não me ouvis?” É a suplica que nos leva a observar Jesus na Cruz. Jesus não abandona o seu povo, é o povo quem abandona Jesus. Foi o homem que aplaudiu Jesus e depois transpassou a espada em seu corpo. Deus concede a Graça e a Misericórdia para todos. Temos que crer e observar seus mandamentos.
Portanto, cremos na ressurreição do filho do Homem. Ele que provou para o mundo que a relação entre os irmãos deve ser de cordialidade e honestidade. Combateu a corrupção e os corruptos. Denunciou toda forma de injustiça. Não humilhou ninguém. Tratou até seus inimigos com respeito. Mostrou para que veio na terra. Enfrentou tranquilamente seus opositores com argumentação simples em parábolas. Este é o homem que devemos seguir. Então com ramos nas mãos acenamos para nossa fé a partida para Deus. Seguimos Cristo com amor. Amém.
--
Claudinei M. de Oliveira
Tenha a Paz de Cristo em seu Coração!
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DOMINGO DE RAMOS
1. Servo Sofredor
Temos no livro do profeta Isaias os chamados "Cânticos do Servo de Javé", que são um conjunto de poemas que descrevem a imagem misteriosa de um servidor de Deus, sofredor, que dá sua vida pelo povo. Essa grande missão, ele a cumpre até a entrega total de si (Is 50,4-7).
Esse Servo é identificado com Cristo que, como Davi, entra na Cidade Santa com o esplendor de um rei. Ele é manso e pacífico como o Servo. A cena da entrada de Jesus em Jerusalém é significativa no relato da Paixão. Ele vem e é acolhido por parte do povo que canta "Hosana", que quer dizer "salva-nos".
É reconhecido como o Filho de Davi em sua realeza. Mas, na mente de Jesus, seu trono é a cruz; sua coroa é de espinhos; seu manto é o sangue; sua glória é ser elevado da terra, crucificado. Ele se oferece ao Pai para que o mundo se abra a seu amor. Mostra até onde vai esse amor.
O sofrimento do Cristo vai além das dores. Ele sofre o peso de todos os pecados do universo. Nele fervem dois sentimentos: acolhimento do Pai que perdoa, e a recusa da humanidade. Quando abrem seu lado com a lança, está aberto o caminho para que todo homem possa beber nas fontes da salvação (Is 12,3). Ali, o tentador, pela boca das pessoas, lhe diz novamente: "Se és o Filho de Deus..." - "Que Deus o salve, se o ama!".
O domingo de Ramos resume em si todo o mistério pascal de glória e cruz, que acontecerá no Tríduo Sacro. Não são dois acontecimentos que se opõem, mas um fato único que mostra que a glória do Cristo é sua vida doada ao Pai na obediência.
2. Ele Era Mesmo o Filho de Deus
Os diversos sinais (milagres) que refletimos nessa Quaresma levam à profissão de fé. Jesus pergunta: "Crês no Filho do Homem?" A resposta: "Creio" (Jo 9,35.38). Mateus anota: "O oficial e os soldados... ao notarem o que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: 'Ele era mesmo Filho de Deus' (Mt 27,54). Sua fé é a profissão de fé de toda humanidade que reconhece e acolhe a "visita que Deus faz a seu povo".
Jesus, em sua morte, esvaziou-se totalmente, como nos escreve Paulo na carta aos Filipenses (2,6-11). Esse esvaziamento é o melhor modo de revelar o projeto de Deus. Ele chega ao mais profundo do ser humano para aí redimir o homem, não com palavras, mas com a vida doada. Por isso Deus O glorifica. A espiritual idade se concretiza quando assumimos a atitude de Cristo no esvaziamento. Sem nosso vazio, Deus não nos preenche.
3. Chegar à Glória da Ressurreição
Paulo, que viveu o mistério de Cristo em seu esvaziamento convida a viver como Cristo viveu. Cristo procurou, com todas as forças, realizar o projeto do Pai: "Que não se perca nenhum daqueles que me deste"! (Jo 6,38). Ao morrer, tinha diante de si um mundo a ser transformado. Seus discípulos, na força do Espírito que O ressuscitou, partiram para anunciar e "fazer discípulos seus todos os povos".
Hoje, os cristãos estão separados e cuidando do próprio ninho. E Cristo crucificado, onde está? A religião mais falsa é aquela que usa Cristo para seu proveito pouco cristão. O sentido da entrega de Jesus ao Pai era abrir o caminho da Glória para todos chegarem à Casa do Pai. Celebrando hoje a glorificação de Jesus como Rei que vem para tomar posse de seu domínio; queremos não colocar ramos, mas nossas vidas para que delas, Ele tome posse.
Rezamos na oração da missa: "Concedei-nos aprender o ensinamento de sua Paixão e ressuscitar com Ele em sua glória". Assim, participando de sua Paixão, que nós possamos chegar à Ressurreição celebrada na liturgia, antecipando desta forma, a glória.
Contemplamos na abertura da Semana Santa a figura do Messias Padecente. Neste ano litúrgico A podemos entrar no espírito do Evangelista Mateus ao narrar a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo (cf. Mt. 26,14-27,66). Mateus ressalta o cumprimento, na vida e na morte de Jesus de Nazaré, do plano divino, expresso no Antigo Testamento. Neste sentido, podemos observar como Jesus realiza a figura do Servo Padecente de Deus, apresentada na primeira leitura (cf. Is. 50,4-7). Na cena do Getsêmani, por exemplo, Mateus é o único evangelista a colocar literalmente nos lábios de Jesus a expressão do Pai Nosso: “Seja feita a tua vontade” (cf. Mt. 26,42).
Neste domingo lemos dois Evangelhos: um antes de começar a procissão de Ramos e outro na hora litúrgica costumeira. No primeiro Evangelho (cf. Mt. 21,1-11) vamos repetir a cena dos judeus ao aclamar o Senhor como Cristo Senhor e Rei. E o segundo Evangelho (cf. Mt. 26,14-27,66), o da Paixão, tem a tonalidade da morte. Morte que Mateus aponta ao Cristo como vitória da vida plena, vitória de quem tem a plenitude de todo o poder, no céu e na terra.
Vamos rezar neste domingo a partir da reflexão da Paixão do Senhor. Que os ramos que hoje trazemos conosco em nossas mãos nos levem ao Cristo mártir, vitorioso sobre a morte e que nos traz a vida plena. O Cristo que padece condenado por homens insanos, para garantir às criaturas humanas a libertação da injustiça e da morte e a posse da santidade e da vida. As palmas em nossas mãos querem significar que estamos prontos a fazer o mesmo itinerário, o mesmo horizonte, o mesmo caminho de Jesus.
Mateus acentua que Jesus realiza o plano divino da salvação, expresso clara ou veladamente em todo o Antigo Testamento. Mateus atualiza as profecias em Jesus, daí a assertiva: “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonastes?” (cf. Sl. 22). Quando os sumos sacerdotes pedem a Jesus que ele coloque a sua confiança em Deus, para que Deus o livre agora deste cálice, Mateus faz um paralelo entre a angústia e a confiança absoluta. Tudo estava programado na missão do Senhor. A angústia vai dando lugar à confiança em Deus, ao convite para louvar, glorificar e venerar o Senhor, que não abandona o atribulado, e passa a falar da realeza do senhor, diante de quem se prostrarão todos os poderosos do mundo, e do novo povo que há de nascer deste momento.
Presente, também está, a figura do Servo de Javé, que foi castigado e humilhado por Deus, foi transpassado e esmagado por causa de nossos crimes, embora não tivesse praticado nenhuma violência, nem houvesse falsidade em seus lábios. Depois de profundos sofrimentos a causa do Evangelho vai triunfar, todos serão justificados na ressurreição do Cristo.
Mateus nos deixa uma clara mensagem sobre a morte de Judas, depois de ter recebido trinta moedas de prata: Judas é o símbolo da pessoa que recebeu o Messias, mas o rejeita por interesses mesquinhos, e por isso será duramente julgado e condenado, mesmo percebendo seu erro. Por isso, não sejamos como Judas que traiu o Cristo por uma ninharia. Que o seu exemplo afaste de nós o desejo do ter, do poder e da disputa de poder, da inveja, da calúnia e da ausência de caridade.
No trecho da Paixão que lemos a pouco fica clara a glorificação de Cristo sobre a morte. A morte não está sendo visa como uma vergonha, mas como um caminho de glória, uma “teofania”, isto é, uma manifestação de Deus. Várias vezes Jesus aplicou a si a expressão do Antigo Testamento: “Filho de Deus” (cf. profeta Daniel 7,13s).
O Filho de Deus vai ser julgado e condenado, ele aproxima a expressão à glória divina. O Filho de Deus que será julgado é “um ser misterioso, conduzido por Deus sobre as nuvens ao céu para receber a realeza divina” (cf. Dn. 7,13s).
A um messias meramente humano, os inteligentes poderiam compreender, adaptar-se a ele sem deixar os interesses pessoais. Mas a um Messias Divino, quem quisesse compreender e seguir deveria renunciar-se primeiro. Jesus mesmo prevenira: “Se alguém quiser me seguir, renuncie primeiro a si mesmo” (cf. Mc. 8,34).
A paixão foi decisiva para Jesus, para os discípulos, para os apóstolos e para a humanidade. A paixão inaugura um tempo novo, um novo mundo, um novo céu e uma nova terra.
No dia da morte de Jesus as trevas cobriram o mundo de meio dia até as quinze horas. No início da criação Deus cria a luz. Agora aquele que é a luz do mundo “entrega o seu espírito” para que uma nova luz, a luz da vida (cf. Jo 8,12) seja instalada no mundo, brilhe para toda a humanidade.
Na morte e da morte nasce a vida plena. A morte de Jesus não é a palavra final e nem o fim. A morte de Jesus é uma recreação, um novo começo. Ressuscitam mortos em torno do Calvário, e, dentro de três dias, o próprio Jesus, morto e sepultado, ressurgirá vitorioso.
O templo teve o seu véu rasgado de cima até embaixo: aqui reside a simbologia de um tempo novo. No novo templo a cortina não terá mais sentido, porque o Cristo assumiu o povo todo, que passou a ser o “corpo do Senhor” (cf. 1Cor. 12,27).
O novo templo é o próprio Cristo, a morada perfeita, ou somos todos nós (cf. 1Cor3,16), em fase de crescimento. O “santo dos Santos”, que marcava a presença de Deus no templo, deixa de ser um lugar para ser uma comunidade: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles” (cf. Mt 18,20).
A Igreja está com Jesus crucificado. Somente deste modo a Igreja Católica continua hoje oferecendo um sacrifício espiritual agradável ao Pai; quando, reconhecendo-se pecadora e sempre necessitada de salvação, apresenta não os próprios méritos e sucessos, mas a lembrança viva da sua Cabeça crucificada, do Filho bem-amado, de cuja morte e ressurreição recebe luz e força para ser fiel a sua missão. Aceitando com alegria o sofrimento que completa a paixão de seu Senhor e Mestre, a Igreja pode oferecer o sacrifício eucarístico, como voz dos pobres, dos humilhados, dos desafortunados e dos oprimidos, anunciando a esperança da libertação. E pode fazê-lo com tanto mais verdade, quanto mais houver escolhido não os caminhos do poder, do sucesso e do bem-estar, mas o da coragem para repelir a injustiça e compartilhar plenamente da sorte dos humildes.
Enquanto temos facilidade em ver as culpas ou fraquezas dos outros, não estamos nós corrompidos pelos mesmos males? Pensemos talvez que acusando os outros nos desculpamos a nós mesmos? Nesse caso, São Paulo nos diria que somos “indesculpáveis” (cf. Rm. 2,1).
Jesus aceitou todos os acontecimentos, conforme nos ensinou Paulo: “Humilhou-se, feito obediente até à morte e morte de Cruz; por isso Deus o exaltou e lhe deu um Nome que está acima de todo o nome, para que ao Nome de Jesus se dobre todo joelho de quantos há na terra, no céu e nos abismos” (cf. Fl. 2,8-10). Este despojamento de Jesus está resumido na segunda leitura que realiza na figura do Servo e que, por sua obediência até a morte – o amor radical que manifesta o Deus-Amor – é glorificado no senhorio de Deus.
Guardemos estas palmas que carregamos em nossos lares e oratórios, pois são sacramentais, isto é, objetos dignos de toda a nossa veneração e cujo uso respeitoso, como ensina a tradição da Igreja nas orações que emprega, podem trazer muitas graças de Deus às pessoas e lugares que os guardam. O exemplo de Cristo que nos ensina o caminho de libertação nos chama a viver a intensidade desta semana Santa. Vamos procurar realizar a missão de libertar o mundo pela fidelidade radical à vontade do Pai. Por isso, devemos “prestar-lhe ouvidos”- sentido original de obediência. Obedecer não é deserção da liberdade. Obedecer é unir nossa vontade a vontade do Pai, para realizar seu projeto de amor, e as outras vontades que estão no mesmo projeto. E é também dar ouvidos aos gritos dos injustiçados, que denuncia o pisoteamento do projeto de Deus.
Jesus foi fiel ao projeto do Pai. Deus esperava de Jesus fidelidade a seu plano de amor e que Ele agisse conforme este plano. Jesus foi fiel a esta missão até o fim. Com sua morte ele trouxe a vida. Que nós todos esperamos, pela nossa fé, a ressurreição final.
padre Wagner Augusto Portugal
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Homilia de Mons. José Maria Pereira – Domingo de Ramos – Ano A
Domingo de Ramos
Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a Igreja abre a Semana Santa. No Evangelho (Mt 21, 1-11) vemos que o cortejo organizou-se rapidamente. Jesus faz a sua entrada em Jerusalém, como Messias, montado num burrinho, conforme havia sido profetizado muitos séculos antes (Zac. 9,9). Jesus aceita a homenagem, e quando os fariseus, que também conheciam as profecias, tentaram sufocar aquelas manifestações de fé e alegria, o Senhor disse-lhes: “Eu vos digo, se eles se calarem, as pedras gritarão.” (Lc 19, 40). Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montaria humilde: quer que demos testemunho d’Ele com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a nossa sincera preocupação pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através das circunstâncias do viver humano. Naquele cortejo triunfal, quando Jesus vê a cidade de Jerusalém, chora! Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira. O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como estes, um dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos depois a cidade será arrasada. Jesus chora a impenitência de Jerusalém. Como são eloquentes estas lágrimas de Cristo. O Concílio Vaticano II, G.S,nº 22, diz: De certo modo, o próprio Filho de Deus se uniu a cada homem pela sua Encarnação. Trabalhou com mãos humanas, pensou com mente humana, amou com coração de homem. Nascido de Maria Virgem, fez-se verdadeiramente um de nós, igual a nós em tudo menos no pecado. Cordeiro inocente, mereceu-nos a vida derramando livremente o seu sangue, e n’Ele o próprio Deus nos reconciliou consigo e entre nós mesmos e nos arrancou da escravidão do demônio e do pecado, e assim cada um de nós pode dizer com o Apóstolo: “Ele me amou e se entregou por mim (Gal. 2,20)”. A história de cada homem é a história da contínua solicitude de Deus para com ele. Cada homem é objeto da predileção do Senhor. Jesus tentou tudo com Jerusalém, e a cidade não quis abrir as portas à misericórdia. É o profundo mistério da liberdade humana, que tem a triste possibilidade de rejeitar a graça divina. Como é que estamos correspondendo às inúmeras instâncias do Espírito Santo para que sejamos santos no meio das nossas tarefas, no nosso ambiente? Quantas vezes em cada dia dizemos sim a Deus e não ao egoísmo à preguiça, a tudo o que significa falta de amor, mesmo em pormenores insignificantes? A entrada triunfal de Jesus foi bastante efêmera para muitos. Os ramos verdes murcharam rapidamente. O hosana entusiástico transformou-se, cinco dias mais tarde, num grito furioso: Crucifica-o! Por que foi tão brusca a mudança, por que tanta inconsistência? São Bernardo comenta: “Como eram diferentes umas vozes e outras! Fora, fora, crucifica-o e bendito o que vem em nome do Senhor, Hosana nas alturas! Como são diferentes as vozes que agora o aclamam Rei de Israel e dentro de poucos dias dirão: Não temos outro rei além de César! Como são diferentes os ramos verdes e a Cruz, as flores e os espinhos! Àquele a quem antes estendiam as próprias vestes, dali a pouco o despojam das suas e lançam a sorte sobres elas.” A entrada triunfal de Jesus em Jerusalém pede-nos coerência e perseverança,aprofundamento da nossa fidelidade, para que os nossos propósitos não sejam luz que brilha momentaneamente e logo se apaga. Muito dentro do nosso coração, há profundos contrastes: somos capazes do melhor e do pior. Se queremos ter em nós a vida divina, triunfar com Cristo, temos de ser constantes e matar pela penitência o que nos afasta de Deus e nos impede de acompanhar o Senhor até a Cruz. A Igreja nos lembra que a entrada triunfal vai perpassar todos os passos da Paixão de Cristo. Terminada a procissão mergulha-se no mistério da Paixão de Jesus Cristo: Em Is 50 4-7 descreve o Servo sofredor, na esperança da vitória final. Vemos nele a própria pessoa de Jesus Cristo. Em Fl 2,6-11 temos a chave principal de todo o mistério deste Domingo de Ramos: Jesus humilhou-se e por isso Deus o exaltou! Em Mt 26, 14-27,66 somos chamados a contemplar a PAIXÃO e a MORTE de Jesus. Que durante a Semana Santa possamos tirar muitos frutos da meditação da Paixão de Cristo. Que em primeiro lugar tenhamos aversão ao pecado; possamos avivar o nosso amor e afastar a tibieza!
Mons. José Maria Pereira
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A cruz do amor
A liturgia de hoje nos convida a celebrarmos dois acontecimentos: por um lado, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, acolhido e aclamado por uma numerosa multidão com fé e alegria; por outro, o início da Semana Santa, na qual Jesus realiza a salvação do mundo mediante seu amor e seu sacrifício da cruz. Eis o motivo pelo qual lemos também hoje o relato comovente e profundo da paixão de Cristo que será proclamado com mais detalhes na sexta-feira da Paixão do Senhor.
Entrando em Jerusalém, Jesus é aplaudido pelas multidões: “Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!”. Nossa fé é sempre luz, vida, força, alegria. As pessoas atraídas por Jesus, talvez inspiradas e portadoras da verdadeira fé da humanidade que esperava o Messias vão ao encontro de Jesus, celebram, o aclamam com ramos de palmeira. Percebemos que Jesus gosta desta acolhida de fé, ele mesmo decidiu entrar em Jerusalém não mais a pé, mas montado num jumentinho. Que humildade! Ele é verdadeiramente o Salvador, o Filho de Deus, vindo ao mundo para nos trazer o amor e a misericórdia do Pai. Também nós queremos viver este dia renovando toda a nossa fé, o nosso fervor, o nosso afeto a Jesus, sentindo o seu amor misericordioso que chega a cada um de nós.
Mas a liturgia de hoje também é marcada por um forte contraste, pois Jesus até gosta da acolhida calorosa, mas ele sabe que sua glória não acontecerá como nós pensamos, com pompas, esplendor, mas pendurado numa cruz, uma das formas mais humilhantes de pena de morte do mundo daquela época: a sua grandeza é o seu amor infinito, que o leva a doar a sua vida por todos. Enquanto o povo o aclamava, os inimigos se preparavam para prendê-lo e condená-lo à morte. Jesus sabia que sua hora estava chegando, mas ele veio para essa hora; mesmo se humanamente sentia ainda toda a angústia e tristeza pela qual passou no monte das Oliveiras, ele soube invocar e obedecer à vontade do Pai, que é o verdadeiro bem para ele e para todo o mundo.
Nesta missa de Ramos, que abre a Semana Santa, também domingo da paixão do Senhor, cai muito bem a leitura do relato da paixão, pois neste se concentra todo o mistério do amor de Deus, do pecado do homem, da salvação que Jesus nos faz merecer. O texto da paixão do Senhor não tem necessidade de ser comentado: é o relato dos fatos através dos quais chegou a cada um de nós a Redenção. Todo o mal, que se realiza sobre a terra, de alguma forma é concentrado naqueles fatos: a violência, a sede de poder, a inveja, a traição dos amigos, a covardia, a bajulação dos poderosos, a maldade, o insulto à dignidade humana, as indiretas, a mentira e todo tipo de maldade que as pessoas cometem, tudo parece estar presente na paixão de Jesus.
Deus conhece toda a maldade praticada no mundo. E o paradoxo da cruz é exatamente esta dor, este sofrimento que foi aceito por ele, tornando-se nas mãos de Deus o instrumento através do qual ele nos salvou. O amor de Deus venceu este mal e o tornou redenção.
Reunir, como faz a celebração de hoje, as duas atitudes da multidão que antes o aclama e depois o condena, nos faz perceber como é fácil esquecer o amor de Deus, deixar-se conduzir pelo pecado, rejeitar o Senhor. Percebemos isto em nós, mas também em Pedro e nos outros apóstolos. O texto da paixão ressalta a traição de Pedro, quando Jesus anuncia durante a ceia e quando Pedro o nega por três vezes diante da serva. Se formos confrontar a traição de Pedro àquela de Judas, vemos que Pedro, depois de ter negado Jesus, caiu num pranto, Judas depois da traição, foi se matar. Pedro teve confiança na misericórdia de Deus, enquanto Judas não, se desesperou. Também cada um de nós, muitas vezes, caímos na tentação, no medo, no egoísmo, no pecado, como Pedro e como Judas. Temos, porém, de seguir o exemplo de Pedro: acreditar em Deus, no seu amor infinito, na sua misericórdia sem limites. O amor de Deus, mostrado na cruz é a nossa plena, contínua e eterna salvação! Mesmo quando pecamos gravemente, e sentirmos o peso do nosso pecado, saibamos que Deus é maior do que o nosso pecado, e veio justamente para “tirar” os nossos pecados, para nos dar alegria e os frutos do seu amor. Que esta mensagem nos ajude a celebrar com profunda fé os sacramentos pascais, a viver a semana santa em união com a paixão de Cristo, fazendo nossos os mesmos sentimentos que existiram em Jesus, e implorando a graça e a força da sua morte e ressurreição para todos nós.
padre Carlos Henrique de Jesus Nascimento
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Ramos
Celebramos hoje o domingo de Ramos. A liturgia apresenta dois momentos bem distintos: a entrada de Jesus em Jerusalém, com a procissão de Ramos... num clima de alegria... como gesto de fé e de compromisso.
O início da Semana Santa, com a leitura da Paixão do Senhor, na missa, relembrando o caminho do sofrimento e da Cruz.
Dois momentos distintos da vida de Jesus: triunfo e humilhação.
Jesus se apresenta em Jerusalém propondo a paz e recebe a violência...
As leituras nos ajudam a viver o clima dos mistérios que celebramos:
A 1ª leitura apresenta um profeta anônimo, chamado por Deus, a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação.
Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. (Is. 50,4-7)
Os primeiros cristãos viram neste "servo sofredor" a figura de Jesus. Ele é a Palavra de Deus feita carne, que oferece a sua vida para trazer a salvação aos homens.
A 2ª leitura é um lindo hino cristológico. (Fl. 2,6-11) Cristo é o princípio e o fim de todas as coisas, exemplo de toda criatura. Enquanto a desobediência de Adão trouxe fracasso e morte, a obediência de Cristo ao Pai trouxe exaltação e vida.
Ele se despojou de sua condição divina, assumiu com humildade a condição humana, para servir, para dar a vida, para revelar totalmente aos homens o ser e o amor do Pai.
Esse caminho não levará ao fracasso, mas à glória, à vida plena. E é esse mesmo caminho de vida, que a Palavra de Deus nos propõe. O Evangelho convida a contemplar a paixão e morte de Jesus, segundo são Mateus. (Mt. 26,14-27,66)
O texto nos introduz no clima espiritual da Semana Santa.
Não é apenas o relato dos fatos acontecidos com Jesus, mas o anúncio de um mundo novo de justiça, de paz e de amor:
- Jesus passou pelos caminhos da Palestina "fazendo o bem" e anunciando
um mundo novo de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos.
- Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem os pecadores.
- Ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos, não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus.
- Ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o "Reino";
- E avisou os "ricos" (os poderosos, os instalados), de que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.
Esse projeto libertador de Jesus entrou em choque com a atmosfera de egoísmo e de opressão que dominava o mundo.
As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar aos mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios.
Não estavam dispostas a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus.
Por isso, prenderam e condenaram Jesus, pregando-o numa cruz.
A morte de Jesus é a conseqüência do anúncio do "Reino", que provocou tensões e resistências entre os que dominavam o povo.
A morte de Jesus é o ponto mais alto de sua vida; é a afirmação mais radical de tudo aquilo que pregou: o dom total.
Aprofundemos alguns dados que são exclusivos da Paixão segundo são Mateus: Mateus relaciona os fatos da Paixão como Cumprimento das Escrituras: Mateus escreve para cristãos, provenientes do judaísmo...
por isso, quer demonstrar que Jesus é o Messias anunciado pelos profetas.
No Getsêmani, Jesus condena a violência contra o servo do sacerdote...
O caminho do Pai passa pelo amor e pelo dom da vida.
Por isso, os discípulos não podem recorrer à violência.
Só no Evangelho segundo Mateus aparece o relato da Morte de Judas.
O episódio deixa clara a falsidade do processo e a inocência de Jesus.
Mateus sublinha o desespero e o arrependimento de Judas, e deixa clara a inocência de Jesus.
Só Mateus fala do sonho da mulher de Pilatos e da lavagem das mãos.
Quer deixar claro que os pagãos reconhecem a inocência de Jesus e o próprio povo o rejeita.
Só Mateus descreve os fatos que acompanharam a morte de Jesus: "O véu do Templo rasgou-se em duas partes... a terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos dos corpos, que tinham morrido saíram do sepulcro, entraram na cidade e apareceram a muitos".
Para Mateus, são sinais de que Deus está ali como o salvador e libertador do seu Povo, apesar do aparente fracasso de Jesus, finalmente, só Mateus narra o episódio da "guarda" do sepulcro.
Para os cristãos, o sepulcro vazio era a evidência de que Jesus tinha ressuscitado.
Os Ramos verdes, que hoje carregamos, recordam a saudação de acolhida do Povo a Jesus, ao entrar em Jerusalém.
Nós também queremos saudar a vida que ele trouxe e a misericórdia que encontramos em seu bondoso coração.
padre Antônio Geraldo Dalla Costa
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DOMINGO DE RAMOS
Semana Santa é a semana dos grandes acontecimentos da vida de Jesus. Ele entra em Jerusalém, a cidade santa, para entregar sua vida em favor da humanidade. Ele veio para que tenhamos vida, e essa vida nos é dada na sua morte. Hoje celebramos a paixão e morte de nosso Senhor Jesus Cristo. A celebração é precedida da recordação de sua entrada triunfal em Jerusalém. O povo o aclamou: “Hosana ao Filho de Davi. Bendito o que vem em nome do Senhor. Hosana no mais alto dos céus”. “Quem é este homem?” – perguntaram em Jerusalém.
“Este é o profeta Jesus, de Nazaré da Galileia” – respondeu a multidão. As portas abrem-se e entra o Rei da glória.
O clima, porém, transforma-se rapidamente. Da alegria da acolhida, passa-se à solidão do abandono. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” Jesus inicia o tempo doloroso de sua paixão e morte. Vítima de tramas e traição, Ele é entregue às mãos dos pecadores. O Deus encarnado se humilha e se faz obediente até a morte e morte de cruz. Ele oferece as costas para lhe baterem e as faces para lhe arrancarem a barba, sem se deixar abater, porque sabia que não sairia humilhado.
Jesus vai morrer crucificado. A cruz, pesada e dolorosa, tinha por finalidade acabar de vez com as fugas de escravos ou revoltas contra a ordem estabelecida. Jesus é condenado pelo Império Romano e pela aristocracia do Templo. Era preciso defender a ordem pública da Judeia, assim como proteger o Templo de fanáticos e revoltosos. O modo de ser de Jesus e sua mensagem punham em risco o poder demoníaco dominante. O imenso sofrimento que se abateu sobre Jesus, e que Ele suportou livremente com amor, mostra a feiúra do pecado encarnado no desrespeito pela pessoa humana, criatura de Deus por excelência.
Is. 50,4-7 – O Servo dos cânticos de Isaías é Jesus Cristo e o povo que sofre na construção do Reino de Deus. Apesar dos sofrimentos e das contradições, o Servo se mantém na atitude de discípulo que escuta e persevera com coragem, porque conta com o auxílio de Deus.
Sl. 21 (22) – O Salmista já expressava a dor do abandono de Jesus na cruz quando exclamou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?”.
Fl. 2,6-11 – O Verbo eterno de Deus desce ao nível dos seres humanos, se faz um deles e os eleva consigo fazendo a natureza humana subir ao nível de Deus.
Mt. 26,14-27,66 – Depois da ressurreição de Jesus, os evangelistas olham para trás e refletem sobre os acontecimentos de sua paixão e morte, que na hora não tinham compreendido. A partir dos mesmos fatos, cada um destaca o aspecto teológico que lhe chama a atenção. São Mateus vê a realização plena das Escrituras de Israel.
Ele relê as Escrituras Sagradas e vê nelas o anúncio da paixão e morte do Senhor. Todas estão realizadas e consumadas e o Reino dos Céus está instaurado. Jesus não beberá mais do fruto da videira até o dia em que beberá de novo conosco o vinho novo no Reino de seu Pai. Reúne em seu texto todos os fenômenos extraordinários que haviam sido anunciados para o dia do julgamento do mundo. A morte de Jesus é o grande dia do Senhor, no qual Ele afirma: “O que deixastes de fazer a um desses pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer”.
cônego Celso Pedro da Silva
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RAMOS E PAIXÃO
Uma entrega confiante ao Pai
Desde o Natal até a Páscoa e Pentecostes a liturgia celebra, em sucessão, os momentos marcantes da vida de Jesus. Na Semana Santa se faz a memória dos últimos dias de ministério de Jesus, centrada na sua morte redentora e ressurreição gloriosa, conforme a tradição sacrifical templária.
Jesus está em Jerusalém, após cerca de três anos de atividade na Galiléia e territórios vizinhos. Na sua ação libertadora e vivificante Jesus enfrenta a cúpula dos dirigentes religiosos da Judéia, sediada no Templo de Jerusalém. Pelos conflitos já ocorridos ao longo de seu ministério Jesus tem consciência que o confronto em Jerusalém será fatal. Mas ele não abre mão de sua liberdade de levar o anúncio de seu projeto de vida ao grande número de peregrinos que aí vão para a festa da Páscoa judaica. É a coerência e fidelidade ao projeto do Pai, que Paulo chama de "obediência".
Nestes últimos dias sucedem-se a ceia da partilha, a traição de Judas, as omissões dos discípulos, a prisão, o julgamento sumário, as torturas, a crucifixão, a morte e a sepultura de Jesus. Da parte dos dirigentes religiosos Jesus encontrou rejeição absoluta, pois consideravam-se ameaçados em seus privilégios pela prática de Jesus. Da parte dos discípulos Jesus não encontrou plena compreensão. A ideologia do poder em que tinham sido formados não seria removida de imediato por Jesus. Só após a sua morte, com o dom do Espírito, é que irão percebendo o pleno sentido da eternidade e da divindade de Jesus. Jesus em seu ministério anunciou a palavra com "língua habilidosa" (primeira leitura).
É a palavra que reanima os desanimados e restaura a vida. "De rosto impassível", sempre permaneceu fiel à sua missão que o Pai lhe entregou, apesar de toda e qualquer repressão dos poderosos. Agora, na cruz, fica consumado seu ministério. O sofrimento na carne e a proximidade da morte provocam um sentimento de abandono. Porém a consciência do amor do Pai leva a uma entrega confiante em suas mãos (Lc. 23,46).
José Raimundo Oliva
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DOMINGO DE RAMOS
A liturgia deste último domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anónimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projectos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus – esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
1ª leitura – Is. 50,4-7 – AMBIENTE
No livro do Deutero-Isaías (Is. 40-55), encontramos quatro poemas que se destacam do resto do texto (cf. Is. 42,1-9; 49,1-13; 50,4-11; 52,13-53,12). Apresentam-nos uma figura enigmática de um “servo de Jahwéh”, que recebeu de Deus uma missão. Essa missão tem a ver com a Palavra de Deus e tem caráter universal; concretiza-se no sofrimento, na dor e no abandono incondicional à Palavra e aos projetos de Deus. Apesar de a missão terminar num aparente insucesso, a dor do profeta não foi em vão: ela tem um valor expiatório e redentor; do seu sofrimento resulta o perdão para o pecado do Povo. Deus aprecia o sacrifício do profeta e recompensá-lo-á, elevando-o à vista de todos, fazendo-o triunfar dos seus detratores e adversários.
Quem é este profeta? É Jeremias, o paradigma do profeta que sofre por causa da Palavra? É o próprio Deutero-Isaías, chamado a dar testemunho da Palavra no ambiente hostil do Exílio? É um profeta desconhecido? É uma figura coletiva, que representa o Povo exilado, humilhado, esmagado, mas que continua a dar testemunho de Deus, no meio das outras nações? É uma figura representativa, que une a recordação de personagens históricas (patriarcas, Moisés, David, profetas) com figuras míticas, de forma a representar o Povo de Deus na sua totalidade? Não sabemos; no entanto, a figura apresentada nesses poemas vai receber uma outra iluminação à luz de Jesus Cristo, da sua vida, do seu destino.
O texto que nos é proposto é parte do terceiro cântico do “servo de Jahwéh”.
MENSAGEM
O texto dá a palavra a um personagem anônimo, que fala do seu chamamento por Deus para a missão. Ele não se intitula “profeta”; porém, narra a sua vocação com os elementos típicos dos relatos proféticos de vocação.
Em primeiro lugar, a missão que este “profeta” recebe de Deus tem claramente a ver com o anúncio da Palavra. O profeta é o homem da Palavra, através de quem Deus fala; a proposta de redenção que Deus faz a todos aqueles que necessitam de salvação/libertação ecoa na palavra profética. O profeta é inteiramente modelado por Deus e não opõe resistência nem ao chamamento, nem à Palavra que Deus lhe confia; mas tem de estar, continuamente, numa atitude de escuta de Deus, para que possa depois apresentar – com fidelidade – essa Palavra de Deus para os homens.
Em segundo lugar, a missão profética concretiza-se no sofrimento e na dor. É um tema sobejamente conhecido da literatura profética: o anúncio das propostas de Deus provoca resistências que, para o profeta, se consubstanciam, quase sempre, em dor e perseguição. No entanto, o profeta não se demite: a paixão pela Palavra sobrepõe-se ao sofrimento.
Em terceiro lugar, vem a expressão de confiança no Senhor, que não abandona aqueles a quem chama. A certeza de que não está só, mas de que tem a força de Deus, torna o profeta mais forte do que a dor, o sofrimento, a perseguição. Por isso, o profeta “não será confundido”.
ATUALIZAÇÃO
• Não sabemos, efetivamente, quem é este “servo de Jahwéh”; no entanto, os primeiros cristãos vão utilizar este texto como grelha para interpretar o mistério de Jesus: Ele é a Palavra de Deus feita carne, que oferece a sua vida para trazer a salvação/libertação aos homens… A vida de Jesus realiza plenamente esse destino de dom e de entrega da vida em favor de todos; e a sua glorificação mostra que uma vida vivida deste jeito não termina no fracasso, mas na ressurreição que gera vida nova.
• Jesus, o “servo” sofredor, que faz da sua vida um dom por amor, mostra aos seus seguidores o caminho: a vida, quando é posta ao serviço da libertação dos pobres e dos oprimidos, não é perdida mesmo que pareça, em termos humanos, fracassada e sem sentido. Temos a coragem de fazer da nossa vida uma entrega radical ao projeto de Deus e à libertação dos nossos irmãos? O que é que ainda entrava a nossa aceitação de uma opção deste tipo? Temos consciência de que, ao escolher este caminho, estamos a gerar vida nova, para nós e para os nossos irmãos?
• Temos consciência de que a nossa missão profética passa por sermos Palavra viva de Deus? Nas nossas palavras, nos nossos gestos, no nosso testemunho, a proposta libertadora de Deus alcança o mundo e o coração dos homens?
2ª leitura – Fil. 2,6-11 – AMBIENTE
A cidade de Filipos era uma cidade próspera, com uma população constituída maioritariamente por veteranos romanos do exército. Organizada à maneira de Roma, estava fora da jurisdição dos governantes das províncias locais e dependia diretamente do imperador; gozava, por isso, dos mesmos privilégios das cidades de Itália. A comunidade cristã, fundada por Paulo, era uma comunidade entusiasta, generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do resto da Igreja (como no caso da coleta em favor da Igreja de Jerusalém – cf. 2 Cor 8,1-5), por quem Paulo nutria um afeto especial. Apesar destes sinais positivos, não era, no entanto, uma comunidade perfeita… O desprendimento, a humildade e a simplicidade não eram valores demasiado apreciados entre os altivos patrícios que compunham a comunidade.
É neste enquadramento que podemos situar o texto que esta leitura nos apresenta. Paulo convida os Filipenses a encarnar os valores que marcaram a trajetória existencial de Cristo; para isso, utiliza um hino pré-paulino, recitado nas celebrações litúrgicas cristãs: nesse hino, ele expõe aos cristãos de Filipos o exemplo de Cristo.
MENSAGEM
Cristo Jesus – nomeado no princípio, no meio e no fim – constitui o motivo do hino. Dado que os Filipenses são cristãos – quer dizer, dado que Cristo é o protótipo a cuja imagem estão configurados – têm a iniludível obrigação de comportar-se como Cristo. Como é o exemplo de Cristo?
O hino começa por aludir subtilmente ao contraste entre Adão (o homem que reivindicou ser como Deus e Lhe desobedeceu – cf. Gn. 3,5.22) e Cristo (o Homem Novo que, ao orgulho e revolta de Adão responde com a humildade e a obediência ao Pai). A atitude de Adão trouxe fracasso e morte; a atitude de Jesus trouxe exaltação e vida.
Em traços precisos, o hino define o “despojamento” (“kenosis”) de Cristo: Ele não afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas aceitou fazer-Se homem, assumindo com humildade a condição humana, para servir, para dar a vida, para revelar totalmente aos homens o ser e o amor do Pai. Não deixou de ser Deus; mas aceitou descer até aos homens, fazer-Se servidor dos homens, para garantir vida nova para os homens. Esse “abaixamento” assumiu mesmo foros de escândalo: Jesus aceitou uma morte infamante – a morte de cruz – para nos ensinar a suprema lição do serviço, do amor radical, da entrega total da vida.
No entanto, essa entrega completa ao plano do Pai não foi uma perda nem um fracasso: a obediência e entrega de Cristo aos projetos do Pai resultaram em ressurreição e glória. Em consequência da sua obediência, do seu amor, da sua entrega, Deus fez d’Ele o “Kyrios” (“Senhor” – nome que, no Antigo Testamento, substituía o nome impronunciável de Deus); e a humanidade inteira (“os céus, a terra e os infernos”) reconhece Jesus como “o Senhor” que reina sobre toda a terra e que preside à história.
É óbvio o apelo à humildade, ao desprendimento, ao dom da vida, que Paulo aqui faz aos Filipenses e a todos os crentes: o cristão deve ter como exemplo esse Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da sua vida um dom a todos. Esse caminho não levará ao aniquilamento, mas à glória, à vida plena.
ATUALIZAÇÃO
• Os valores que marcaram a existência de Cristo continuam a não ser demasiado apreciados no séc. XXI. De acordo com os critérios que presidem à construção do nosso mundo, os grandes “ganhadores” não são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com humildade e simplicidade, mas são os que enfrentam o mundo com agressividade, com auto-suficiência e fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique não olhar a meios para passar à frente dos outros. Como pode um cristão (obrigado a viver inserido neste mundo e a ser competitivo) conviver com estes valores?
• Paulo tem consciência de que está a pedir aos seus cristãos algo realmente difícil; mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo. Também a nós é pedido, nestes últimos dias antes da Páscoa, um passo em frente neste difícil caminho da humildade, do serviço, do amor: será possível que, também aqui, sejamos as testemunhas da lógica de Deus?
• Os acontecimentos que, nesta semana, vamos celebrar, garantem-nos que o caminho do dom da vida não é um caminho de “perdedores” e fracassados: o caminho do dom da vida conduz ao sepulcro vazio da manhã de Páscoa, à ressurreição. É um caminho que garante a vitória e a vida plena.
Evangelho – Mt 26,14 - 27,66 - AMBIENTE
O Evangelho segundo Mateus começa por apresentar Jesus (cf. Mt. 1,1-4,22). Descreve, depois, o anúncio central de Jesus: nas suas palavras e nos seus gestos, Jesus anuncia esse mundo novo a que Ele chama “o Reino dos céus” (cf. Mt. 4,23-9,35). Do anúncio do “Reino” nasce a comunidade dos discípulos – isto é, nasce um grupo que assimila as propostas de Jesus (cf. Mt. 9,36-12,50). Os discípulos são a “comunidade do Reino”: instruídos por Jesus, formados na mentalidade do “Reino”, os discípulos recebem a missão de testemunhar o “Reino”, após a partida de Jesus (cf. Mt. 13,1-17,27). Na parte final do seu Evangelho, Mateus descreve a ruptura final de Jesus com o judaísmo (cf. Mt. 18,1-25,46) e o final do caminho de Jesus: a paixão, morte e ressurreição (cf. Mt. 26,1-28,15).
A leitura que hoje nos é proposta é o relato da paixão de Jesus. Descreve como o anúncio do Reino choca com a mentalidade da opressão e, portanto, conduz à cruz e à morte; no entanto, não podemos dissociar os acontecimentos da paixão daqueles que celebraremos no próximo domingo: a ressurreição é a prova de que Jesus veio de Deus e tinha um mandato do Pai para tornar realidade no mundo o “Reino dos céus”.
MENSAGEM
A morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida. Desde cedo, Jesus apercebeu-Se de que o Pai O chamava a uma missão: anunciar esse mundo novo, de justiça, de paz e de amor para todos os homens. Para concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os paralíticos, os cegos, não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos de Deus e aqueles que tinham um coração mais disponível para acolher o “Reino”; e avisou os “ricos” (os poderosos, os instalados), de que o egoísmo, o orgulho, a auto-suficiência, o fechamento só podiam conduzir à morte.
O projeto libertador de Jesus entrou em choque – como era inevitável – com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostas a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, julgaram-n’O, condenaram-n’O e pregaram-n’O numa cruz.
A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do “Reino”: resultou das tensões e resistências que a proposta do “Reino” provocou entre os que dominavam o mundo.
Podemos, também, dizer que a morte de Jesus é o culminar da sua vida; é a afirmação última, porém, mais radical e mais verdadeira (porque marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.
Na cruz, vemos aparecer o Homem Novo, o protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta contra o pecado – isto é, contra todas as causas objetivas que geram medo, injustiça, sofrimento, exploração e morte. Assim, a cruz mantém o dinamismo de um mundo novo – o dinamismo do “Reino”.
Para além da reflexão geral sobre o sentido da paixão e morte de Jesus, convém ainda notar alguns dados que são exclusivos da versão mateana da paixão.
• Ao longo do relato da paixão, Mateus insiste no fato de os acontecimentos estarem relacionados com o cumprimento das Escrituras (cf. Mt 26,24.30.54.56;27,9). Mesmo quando não refere explicitamente o cumprimento das Escrituras, Mateus liga os acontecimentos da paixão de Jesus com figuras e fatos do Antigo Testamento, a fim de demonstrar que a paixão e morte de Jesus faz parte do projeto de Deus, previsto desde sempre. A explicação para esta insistência no cumprimento das Escrituras deve ser buscada no seguinte fato: Mateus escreve para cristãos que vêm do judaísmo; Ele vai, portanto, fazer referência a citações e promessas do Antigo Testamento – conhecidas de cor por todos os judeus – a fim de demonstrar que Jesus era esse Messias anunciado pelos profetas e cujo destino passava pelo dom da vida.
• Também Marcos (cf. Mc. 14,47) e Lucas (cf. Lc. 22,50-51) contam como, no Getsemani, na altura em que Jesus foi preso, um dos elementos do grupo de Jesus agrediu com uma espada um servo do sumo-sacerdote. No entanto, só Mateus apresenta Jesus a condenar explicitamente o gesto, explicando que o projeto do Pai não passa pela violência, mesmo contra os agressores (cf. Mt 26,51-54). O caminho do Pai passa pelo amor e pelo dom da vida; por isso, os discípulos de Jesus não podem recorrer à violência, mesmo que se trate de defender uma causa justa. Este ensinamento tem, neste contexto, uma força especial: é quando Jesus é vítima inocente da violência que Ele afirma de forma clara a recusa absoluta da violência: o “Reino” de Deus nunca passará por esquemas de violência, de imposição, de poder e de prepotência. Na lógica do “Reino”, os fins nunca justificarão os meios.
• Só no Evangelho segundo Mateus aparece o relato da morte de Judas (cf. Mt. 27,3-10. Temos uma outra versão do acontecimento em At. 1,18-19). O episódio deixa clara a iniquidade do processo e a inocência de Jesus. A forma como Mateus sublinha o desespero e o arrependimento de Judas deixa clara a inocência de Jesus, por um lado e, por outro, o desnorte dos responsáveis pelo processo, empenhados em “sacudir a água do capote” e em declinar responsabilidades.
• São exclusivos de Mateus o sonho da mulher de Pilatos (cf. Mt. 27,19) e a lavagem das mãos por parte do procurador romano (cf. Mt. 27,24). Estes pormenores aparecem aqui com uma dupla finalidade: por um lado, Mateus quer deixar claro que Jesus é inocente e que os próprios romanos reconhecem o fato; por outro, Mateus sugere que não foi o império romano, mas sim o próprio judaísmo que rejeitou Jesus e a sua proposta de “Reino”. Os pagãos reconhecem a inocência de Jesus; mas o seu próprio Povo rejeita-O. A frase que, no contexto do julgamento de Jesus, Mateus atribui ao Povo (“o seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos” – Mt. 27,25) deve também ser entendida neste enquadramento. Mateus explica dessa forma – aos cristãos que vêm do judaísmo – porque é que o judaísmo como conjunto está fora do “Reino”: o judaísmo rejeitou Jesus e quis eliminar a sua proposta.
• Também é exclusiva de Mateus a descrição dos fatos que acompanharam a morte de Jesus: “o véu do Templo rasgou-se em duas partes, de alto a baixo; a terra tremeu e as rochas fenderam-se. Abriram-se os túmulos e muitos dos corpos de santos que tinham morrido ressuscitaram; e, saindo do sepulcro, depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade e apareceram a muitos” (Mt. 27,51-53). Através destes elementos, Mateus quer sublinhar a importância do momento. É o tipo de sinais que, segundo a tradição apocalíptica, precederiam a manifestação de Deus, no final dos tempos. Estes sinais mostram que, apesar do aparente fracasso de Jesus, Deus está ali, a manifestar-Se como o salvador e libertador do seu Povo.
• Finalmente, só Mateus narra o episódio da “guarda” do sepulcro (cf. Mt. 27,62-66) Provavelmente, o relato de Mateus tem uma finalidade apologética… Para os cristãos, o sepulcro vazio era a evidência de que Jesus tinha ressuscitado; mas alguns grupos judeus puseram a circular o rumor de que o corpo de Jesus tinha sido roubado pelos discípulos. Mateus trata de explicar a origem do rumor e de negá-lo veementemente.
ATUALIZAÇÃO
• Celebrar a paixão e a morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágil… Por amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites e fragilidades, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conosco “até ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.
• Contemplar a cruz, onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus, significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidade… Olhar a cruz de Jesus significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amor… Viver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho - www.ecclesia.pt
1ª leitura – Is. 50,4-7
O 2º Isaías apresenta quatro cantos do Servo de Javé (42,1-9; 49,1-9a; 50,4-9; 52,13-53.12). Não se sabe bem quem é este “Servo Sofredor”. Seria o povo de Israel? Um anônimo? O próprio profeta? O Messias do futuro? O Primeiro Testamento não tem dúvida de que a profecia do Servo Sofredor se realiza plenamente em Jesus. Estamos num contexto, em que o povo exilado lamenta Javé ter repudiado Jerusalém - sua esposa - e vendido seus filhos como escravos.
Nos primeiros versículos do capítulo 50, Javé pede provas ao povo e o acusa de ser o responsável sobre a situação atual que foi motivada pelos seus próprios pecados.
O nosso texto se enquadra neste contexto, mostrando de um lado como Javé investiu no Servo em vista ao bem do povo - é a preparação para a missão. Do outro lado, a responsabilidade do Servo.
Preparação para a missão
O Senhor Javé transforma o servo num verdadeiro discípulo com capacidade de falar, de ouvir, de consolar e ajudar os desanimados (v. 4).
- Abre os ouvidos do servo, e o servo escuta atentamente e não recua diante de seus adversários (v. 5). O v. 7 expressa a certeza de que o servo será ajudado por Javé, por isso ele não se sente humilhado.
Responsabilidade do servo e fidelidade à missão
- Ele dá as costas aos que o torturam, ou seja, não oferece resistência (v. 6a).
- Oferece o queixo aos que queriam lhe arrancar a barba, quer dizer, o servo supera a humilhação e a desonra (v. 6b).
- Não esconde o rosto aos insultos e escarros (v. 6c) e, no v. 7b, ele afirma que endurece o rosto como pedra, para expressar a força, que ele recebe de Javé, para resistir e a certeza de que ele não vai se sentir fracassado.
2ª leitura – Fl. 2,6-11
Paulo aproveita um antigo hino da liturgia cristã para nos incentivar, através deste projeto de Deus assumido por Jesus Cristo, a assumir o mesmo projeto, a ter os mesmos sentimentos e atitudes que haviam em Jesus Cristo.
O hino é composto por dois movimentos. O primeiro descendente (vv. 6-8). O sujeito aqui é Jesus. O segundo é ascendente (vv. 9-11) e tem a Deus por sujeito.
O movimento descendente: Encarnação e morte de cruz (vv. 6-8).
Aqui temos a radicalidade do projeto de Jesus, que se tornou servo obediente até à morte e morte de cruz. O v. 6 lembra que Jesus era Deus, mas soube desapegar-se de sua glória e poder. O v.7 é um verdadeiro mergulho na miséria humana. Jesus foi ao fundo do poço. O texto, para salientar o esvaziamento radical, fala que Jesus assumiu primeiro a condição de servo e assim ele se torna semelhante ao homem, um simples homem. O v. 8 é a concretização do mergulho radical e profundo na miséria humana, através da humilhação e da obediência. Obediência até à morte e mais ainda, o que soa como “blasfêmia para judeus e loucura para gregos”, morte ignominiosa de cruz.
O movimento ascendente: (vv. 9-11) - A exaltação
Deus entra em cena a favor do Filho: “Quem se humilha será exaltado”. Deus ressuscitou seu Filho e o exaltou, fazendo-o assentar-se à sua direita na glória. É isso que os versículos 9-11 vão dizer com outras palavras. O “nome” é a identidade da pessoa. Dizer que Jesus é o Senhor é reconhecer novamente sua dignidade divina. E isso toda criatura e toda língua devem confessar. E o apóstolo termina afirmando: tudo isto “para a glória de Deus Pai”.
Evangelho – Mt. 26,14-27.66
Aqui não podemos fazer outra coisa senão sintetizar o grande relato da Paixão com algumas observações.
O Messias vai ser morto
Jesus prevê sua paixão. Os chefes dos sacerdotes decidem matá-lo. A unção em Betânia é uma preparação para a sepultura de Jesus e Jesus a aprova. Em contraste com o gesto de ternura da mulher, Judas vende Jesus por trinta moedas (vv.1-16).
Preparação da Ceia Pascal, traição e Eucaristia
Jesus manda preparar a ceia para recordar a libertação do Egito. Jesus é o novo cordeiro, que vai ser imolado. Durante a ceia Jesus revela o nome do traidor e celebra a Eucaristia consagrando-se pão e vinho. É o sinal da superação de toda idolatria escravizante. A ceia eucarística antecipa, simbolicamente, sua morte redentora e substitui todos os sacrifícios da Antiga Aliança (vv. 17-29).
Fidelidade de Jesus e anúncio da negação de Pedro
Jesus anuncia a desorientação dos discípulos na hora da sua prisão, mas promete ir à frente deles, ressuscitado, para a Galiléia. Então, Jesus prediz a tríplice negação de Pedro. Pedro não acredita nas palavras de Jesus e reafirma, com maior solenidade e ênfase, sua presunçosa fidelidade. E todos os discípulos aderiram a Pedro (vv. 30-35).
Agonia e prisão
No Getsêmani, Jesus em oração percebe todo o desfecho do grande drama da paixão: “Minha alma está numa tristeza de morte. Fiquem aqui e vigiem comigo”. Jesus precisa de companhia e solidariedade, mas fica só. Todos dormem. Jesus reza ao Pai, mas prefere que a vontade do Pai se realize. De repente, chega Judas, acompanhado de uma multidão, para prender Jesus. Jesus não quer que ninguém reaja usando a violência - arma dos opressores. Assim todos os discípulos o abandonam e, Jesus é preso, cumprindo assim as Escrituras ( vv. 36-56).
Testemunho de Jesus e traição de Pedro
Judas reconhece a inocência de Jesus, devolve o dinheiro e vai se enforcar. Com o dinheiro os sacerdotes compram o Campo do Oleiro para aí fazerem o cemitério dos estrangeiros. Por isso esse campo recebeu o nome de Campo de Sangue, conforme a profecia de Jeremias. Os versículos seguintes narram a condenação de Jesus, o Messias inocente, a libertação do prisioneiro famoso, chamado Barrabás. É o povo que decidiu tudo, e Pilatos tirou o corpo fora.
Jesus - Messias - Rei e Filho de Deus é crucificado e sepultado
No meio de gozações e zombarias, Jesus recebe vestes reais. Depois das gozações é levado para o Calvário. Simão de Cirene ajuda Jesus a levar a cruz. Depois de crucificado, as gozações continuam. O letreiro acima de sua cabeça, afirmava a nossa fé: “Este é Jesus, o Rei dos judeus”. Os insultos e zombarias continuaram por parte dos que passavam, por parte dos chefes dos sacerdotes, doutores da Lei e anciãos e até mesmo por parte dos dois bandidos que foram crucificados com ele. Jesus morre às quinze horas. Os fenômenos cósmicos querem lembrar, simbolicamente, a morte do Filho de Deus. Depois, Jesus é sepultado por José de Arimatéia e seu túmulo foi vigiado por guardas das autoridades assassinas, para que o corpo de Jesus não fosse roubado, dando oportunidade aos discípulos de inventarem que Jesus ressuscitou dos mortos (vv. 27-66).
padre João Resina
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Anunciar um “Deus na Cruz”. Por todos!
No portal da Semana Santa que hoje tem início (Evangelho), está gravada uma pergunta: “Quem é ele? (Mt. 21,10). Assim se interrogava a gente da cidade, em rebuliço, quando Jesus entrou em Jerusalém, entre os aplausos dos simpatizantes, montado não sobre um cavalo de guerra ou de corrida, mas sobre uma burra emprestada... Aquela entrada foi um acontecimento missionário, uma revelação de Jesus à gente. Um momento de triunfo efêmero, que durou um só dia; mas serviu pelo menos para provocar a pergunta sobre a identidade de Jesus. A multidão tinha uma resposta já pronta: “Este é o profeta Jesus, de Nazaré na Galileia” (Mt. 21,11). Uma resposta verdadeira, mas na boca deles era, também esta, uma resposta um tanto efêmera, a julgar pelo comportamento deles nos dias que se seguiram. Seria necessário, isso sim, um desejo sincero de aprofundar a identidade daquele surpreendente profeta de Nazaré. Tal era o desejo que alguns gregos tinham exprimido, ao chegarem a Jerusalém, quando disseram a Filipe: “Queremos ver Jesus” (Jo 12,21).
As respostas à pergunta inicial, encontramo-las de maneiras diversas durante esta Semana especial. Uma primeira resposta é o próprio Jesus a dá-la, provocado pelo pedido dos gregos: Ele é o grão de trigo, que cai à terra e morre para produzir muito fruto (cf. Jo 12,24); Ele é o Mestre que convida todos a segui-Lo para partilhar a sua sorte (cf. Jo 12,26); é o Senhor que pode dizer: “Eu, quando serei elevado da terra, atrairei todos a mim” (Jo 12,32). O destino universal da sua morte na cruz, elevado da terra, é claramente indicado também nas variantes dos códices antigos: atrairei ‘tudo’, ‘todos os homens’, ‘todo o homem’... A sua salvação é oferecida, como dom, por todos aqueles que, com coração sincero, “hão-de olhar para aquele que trespassaram” (Jo 19,37), isto é, por aqueles que com fé compaixão e amor olham para Cristo elevado sobre a cruz (cf. Num. 21,8; Zac. 12,10). Esta é a situação surpreendente do centurião romano e dos outros soldados pagãos que, à vista daquilo que sucedia, diziam: “Verdadeiramente este era Filho de Deus!” (Mt. 27,54). “Jesus é verdadeiramente o Filho de Deus, precisamente porque permaneceu sobre a cruz, em vez de descer (cf. Mt. 27,40.42); e enquanto os judeus o recusam, os pagãos reconhecem-no. Os pagãos vêem o que os judeus não conseguem ver” (Bruno Maggioni).
A chave para compreender quem é este Filho de Deus, que se faz grão de trigo, que morre na Cruz para atrair todos a si, é nos oferecida pelo evangelista João na última Ceia de Jesus com os seus discípulos: “Amou-os até ai fim” (Jo 13,1). É a declaração de um amor extremo, universal no espaço e no tempo. Palavras que convidam a viver a Semana Santa com um respiro universal, contemplando e anunciando um Deus na cruz por todos. São Daniel Comboni tinha compreendido bem quanto era necessário que os seus missionários se formassem nesta contemplação, e recomendava na sua Regra: “Hão-de crescer nesta atitude essencialíssima (espírito de sacrifício) tendo os olhos sempre fixos em Jesus Cristo, amando-o ternamente, e procurando compreender cada vez melhor o que significa um Deus morto na cruz pela salvação das almas”. (Escritos, n.2721)
A longa narração (Evangelho) da condenação e execução de um inocente vai muito mais além da crônica: contém a ‘Boa Nova’ de Cristo Salvador, morto e ressuscitado, que os missionários da Igreja levam por toda a parte no mundo inteiro. Deste núcleo central do Evangelho, derivam escolhas e atitudes fundamentais para os discípulos. Citamos uma entre tantas: a recusa da violência e do uso das armas, como Jesus ensina a Pedro: “Repõe a espada na bainha, porque todos aqueles que usam a espada, de espada morrerão” (v. 52). Uma palavra emblemática para os cristãos que já o apologista Tertuliano (III séc.) comentava assim: “Desarmando Pedro, Jesus tirou as armas das mãos de todos os soldados”.
O cântico do Servo (I leitura) e sobretudo o hino cristológico da Carta aos Filipenses (2ª leitura) cantam o ciclo completo daquele Deus-homem na cruz: a preexistência divina, o esvaziamento de si mesmo, a humilhação até à cruz, a glorificação com o nome de Senhor, perante o qual todos são convidados à adoração, “para a glória de Deus Pai” (v. 11). A glória do Pai é a meta para a qual tende toda a ação missionária da Igreja. Além da obediência filial, o hino de Filipenses “mostra também o aspecto da solidariedade com os irmãos: Cristo tornou-se semelhante aos homens, assumiu a nossa condição humilde; mais ainda, fez-se solidária com as pessoas mais criminosas, com os condenados à morte de cruz” (A. Vanhoye).
A mensagem da Paixão, mesmo se permanece sempre uma estrada em subida, consegue realizar o prodígio de transformar o coração e a vida das pessoas. De fato, diante da paixão de Jesus, ninguém pode ser um mero espectador. Todos são atores, desempenham um papel, hoje, na Paixão que Jesus continua a viver no seu Corpo místico, na família humana.
Deixando de lado os papéis dos personagens negativos (Judas, Pilatos, os chefes dos sacerdotes, o sinédrio, a multidão que se deixa manipular...), podemos escolher o papel de Simão de Cirene (v. 32), da mulher de Pilatos (v. 19), do centurião (v.54), das pias mulheres, Madalena, Maria, de João, José de Arimateia, Nicodemos... O papel mais apropriado ao cristão, e em particular ao missionário, é o do Cireneu, solidário com os crucificados da história, portador da salvação realizada por Jesus.
(*) «Cristo tomou sobre si a causa do homem. Quero renovar hoje este apelo à atual geração, a que dê testemunho com vigor afável e resplandecente da verdade, para que aos homens e às mulheres do terceiro milênio não falte o modelo mais autêntico: Jesus Cristo» (Bento XVI - Angelus no Domingo de Ramos, 28.3.2010)
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Domingo, 17 de abril de 2011
Domingo de Ramos na Paixão do Senhor
Santos do Dia: Aniceto (papa, mártir), Elias, Paulo e Isidoro (mártires de Córdova), Estêvão Harding (abade de Cister), Fortunato e Marciano (mártires de Antioquia), Inocêncio de Tortona (bispo), Landrício de Soignies (monge, bispo), Mapálico e Companheiros (mártires de Cartago, na África), Pantagato de Viena (bispo), Potenciana (virgem da Espanha), Roberto de Chaise-Dieu (abade), Vando de Fontenelle (abade).
Evangelho para benção de Ramos: Mateus 21,1-11
Bendito o que vem em nome do Senhor
Primeira leitura: Isaias 50,4-7
Não desviei meu rosto das bofetadas e cusparadas; sei que não serei humilhado
Salmo responsorial: Salmo 21(22), 8-9.17-18a.19-20.23-24 (R. 2a)
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
Segunda leitura: Filipenses 2,6-11
Humilhou-se a si mesmo; por isso, Deus o exaltou acima de tudo
Evangelho: Mateus 26,14-27,66
Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo
Vamos fazer um comentário pensando nas pessoas do povo, com suas preocupações diárias da vida. Pra começar, queremos nos perguntar: É possível celebrar a semana santa de uma forma alternativa? Comecemos perguntando-nos: o que sentem, o que sentimos, diante da semana santa? Muitos trabalhadores, profissionais dos mais variados setores e também intelectuais, ou pessoa de alguma cultura, se sentem mal quando, na semana santa, pela significação especial de tais dias, ou para acompanhar a família, e com a lembrança de uma infância e juventude religiosa, entram em uma igreja, captam o ambiente e escutam a pregação.
Sentem-se imersos de novo naquele mundo de conceitos, símbolos, referencias bíblicas... que elaboram uma mensagem sobre a base de uma crença central fora do templo a pessoa não se encontra nunca em nenhum outro setor da vida: a “redenção”. Estamos na semana santa, e o que celebramos é o grande mistério de todos os tempos, o mais importante acontecimento: a redenção.
O “homem” foi criado por Deus (só em segundo plano a mulher), porém esta, a mulher, convenceu o varão a comerem juntos uma fruta proibida por Deus. Aquilo foi uma queda no plano de Deus, que veio abaixo, foi interrompido, e precisou ser substituído por um novo plano, o plano da redenção, para redimir o ser humano que está em “desgraça com Deus” desde que praticou aquele “pecado original, devido à infinita ofensa que tal “pecado” infringiu a Deus.
Esse novo plano, de redenção, exigiu a “vinda de Deus ao mundo”, mediante sua encarnação em Jesus, para assumir assim nossa representação jurídica diante de Deus e “pagar” por nós a Deus uma reparação adequada por semelhante ofensa infinita. E é por isso, pelo que Jesus sofreu indizíveis tormentos em sua Paixão e Morte, para “reparar” a ofensa, redimindo dessa forma a humanidade, e conseguindo o perdão de Deus e o resgate do poder do domino sob o qual permanecia cativa.
Esta é a interpretação, a teologia sobre a qual se constroem e giram a maior parte das interpretações em curso durante a semana santa. E este é o ambiente diante do qual muitos crentes de hoje se sentem mal, muito mal. Sentem que se asfixiam. Se vêem transladados a um mundo que nada tem com o mundo real de cada dia, nem com o da ciência, o da informação, o do sentido mais profundo de sua vida. Por este mal estar, outros cristãos não somente se foram da semana santa tradicional como também da Igreja.
Há outra forma de entender a Semana Santa, que não nos obrigue a transitar pelo mundo dessa teologia na qual tantos já não cremos?
Podemos não crer em tal teologia. Não se trata de nenhum dogma de fé. Trata-se de uma maravilhosa construção interpretativa do mistério de Cristo, graças à genialidade medieval de santo Anselmo de Canterbury, que a partir de sua visão de direito romano, construiu, “imaginou” uma forma de explicar a si mesmo, naquele contesto cultural, o sentido da morte de Jesus. Estava condicionado por muitas crenças próprias da Idade Média e fez o que pode e o fez bem feito: elaborou uma fantástica interpretação que cativou tanto as mentes de seus coetâneos que perdurou até o século XX. É preciso felicitar santo Anselmo, sem dúvida.
O Concílio Vaticano II é o primeiro momento eclesial que supõe certo abandono da hipótese da Redenção, ou uma interpretação da significação de Jesus para mais além da redenção. Sem dúvida, nos documentos conciliares aparece a materialidade do conceito, numerosas vezes inclusive, porém a estrutura do pensamento e da espiritualidade conciliar vão muito mais além.
O significado de Jesus para a Igreja posconciliar – não digamos da Igr3eja com espiritualidade da libertação – deixa passa pela redenção, pelo pecado original, pelos terríveis sofrimentos expiatórios de Jesus e pela genial “substituição penal satisfatória” idealizada por Anselmo de Canterbury.
Desaparecem estas referencias, e quando ouvidas, soam estranhas, incompreensíveis, ou causam rejeição. É o caso do filme de Mel Gibson, que foi rejeitado por muito espectadores crentes, não por outra coisa senão pela imagem do “Deus cruel e vingador” que dava por suposta, imagem que, evidentemente, hoje não somente já não se crê, mas que convida veementemente à rejeição.
Como celebrar a semana santa quando se é um cristão que já não comunga com essas crenças? A pessoa se sente profundamente cristão, admirador de Jesus, discípulo seu, seguidor de sua causa, lutador por sua Utopia, porém sente-se mal nesse outro ambiente asfixiante das representações da paixão ao novo e velho estilo de Mel Gibson, das via-crúcis, os passos da semana santa, das meditações das sete palavras, das horas santas que retomar repetitivamente as mesmas categorias teológicas de santo Anselmo do século XI estando como estamos no século XXI.
Por trás da semana santa que celebramos não deixam de estar aí, mesmo que bem longe, as raízes ancestrais, as festa que os indígenas originários já celebravam sobre a base certa do equinócio astronômico. Trata-se de uma festa que evoluiu muito criativamente ao ser herdada de um povo a outro, de uma cultura a outra, de uma religião a outra.
Uma festa que foi herdada e recriada também pelos nômades israelitas com a festa do cordeiro pascal, e depois transformada pelos israelitas sedentários como que a festa dos pães ázimos, como lembrança e atualização da Páscoa, pedra angular da identidade israelita. Festa que os cristãos logo cristianizaram como a festa da Ressurreição de Cristo e que somente mais tarde, com o devir dos séculos, na obscura Idade Media, ficou opaca sob a interpretação jurídica da redenção por obra do genial santo já mencionado.
Podemos pensar que “outra semana santa é possível” e urgente! Mesmo não havendo espaço para desenvolver aqui uma nova interpretação desta festa, podemos por enquanto aliviar aos que se sentiam culpado pelo desejo de que ‘outra semana santa é possível’, e convidar também a todos à criatividade, livre, consciente, responsável e gozosa.
Certamente não vai ser possível em todas as partes ou em qualquer contexto, porém o será em muitas comunidades concretas. Se não é possível na minha comunidade, poderá sê-lo em alguma outra comunidade mais livre e criativa que talvez não esteja muito longe da minha por que não perguntar, por que não buscar essa comunidade?
Oração Comunitária
Deus, pai nosso, tu enviaste teu Filho entre nós, para que descubramos todo o amor que nos tens. E quando nós respondemos a esse amor com nossa rejeição, matando a teu filho, tu não voltaste atrás, mas que seguiste adiante com teu plano de ser nosso melhor amigo. Abranda nossos corações para que saibamos responder a teu amor com o nosso. Por Cristo nosso Senhor.
Missionários Claretianos
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Homilia do Padre Françoá Costa – Domingo de Ramos – Ano A
Junto aos da primeira multidão
Durante muitos anos eu preguei que a multidão que estava com Jesus na entrada de Jerusalém foi a mesma que depois gritaria “crucifica-o”. No entanto, J. Ratzinger-Bento XVI, no seu novo livro “Jesus de Nazaré – Da entrada de Jerusalém até a Ressurreição”, deu-me outra visão das coisas. Ratzinger nos explica que há duas multidões, a primeira é a que acompanhava a Jesus e que o aclamava com “hosanna” e com “bendito o que vem em nome do Senhor”; a outra multidão foi a que gritou “crucifica-o”. Ainda que não me estranhasse que algumas pessoas que faziam parte da primeira multidão estivessem entre os da segunda, pareceu-me convincente a explicação de Ratzinger. Ajuda-me a ver a primeira multidão de uma maneira mais próxima a nós. As pessoas que aclamam a Jesus no dia de hoje não aparecem como falsas ou mesquinhas e traidoras no porvir. Elas atuavam com um coração sincero. Ainda que as pessoas possam perverter-se, é preciso dar-lhes sempre um voto de confiança.
Nós, quando louvamos e bendizemos a Deus, quando estamos bem perto dele e dizemos que nós o amamos e depois, talvez não muitas horas depois, o traímos com alguma ofensa grave ou pedimos a sua morte a través dos nossos pecados, não estávamos sendo falsos nem hipócritas. Nós que louvamos a Deus, mas depois nos deparamos com as nossas fraquezas patentes, temos que apoiar-nos mais na misericórdia, mas não devemos pensar que estamos fazendo teatro.
Quando nós dizemos nos nossos atos de contrição, “eu não quero mais pecar”, o Senhor sabe que a nossa vontade é débil e sabe que o ofenderemos novamente, no entanto, Deus acredita de verdade, ele não finge que acredita na nossa contrição. Ele conhece o nosso coração e sabe que não queremos enganá-lo, sabe também que nem sempre nós acreditamos nas nossas promessas de fidelidade e de bons desejos. Não é verdade que nalgum momento fizemos um ato de contrição com aquela pergunta mais profunda que questionava a nossa sinceridade para com Deus?
Deus sabe mais. Claro que sim. Não é hipócrita quem peca e se arrepende, não é falso que ofende a Deus e se confessa, não é descarado quem chora os seus próprios pecados e depois se alegra em praticá-los. Não. A debilidade humana existe. E como existe! Mas a graça de Deus também existe. E como existe!
Aclamemos o Senhor no dia de hoje com todas as nossas forças. Nós nem sabemos quando gritaremos “crucifica-o”, talvez nunca mais diremos essas palavras. No entanto, livre-nos Deus da “presunção petrina”. Presunção petrina? Refiro-me àquele episódio no qual Jesus anuncia a Pedro que ele o negaria três vezes. O apóstolo, confiando nas suas próprias forças e no seu amor ao Senhor, diz que isso não aconteceria. Pobre Pedro! Nós já sabemos como termina a história. Graças a Deus termina bem: com um ato de arrependimento, com o perdão de Jesus e com um trabalho apostólico depositado nos ombros de Pedro que o faria não complicar a própria existência, mas simplesmente continuar trabalhando pela glória de Deus e pelo bem dos irmãos.
Não nos compliquemos a existência desde o começo, ou seja, evitaremos inclusive a presunção petrina. Deus nos recorda com frequência: “meu filho, cuidado, confia mais em mim; do contrário, você se quebrará”. Digamos ao Senhor: “é certo, Senhor, reconheço o real perigo de quebrar-me interiormente. Salva-me; do contrário, perecerei.” Digamos com o coração, sem nenhuma falsa humildade: “salva-me!” Não nos assustemos conosco mesmos. Haja sempre paz em nossa alma. Deus é nosso Pai e nós somos os seus filhos. Que mais queremos? Além do mais, o Senhor colocou à nossa disposição os meios para que fôssemos restaurados: a confissão, a comunhão, a oração, a caridade, etc. Permanecendo sempre no caminho de Deus, continuemos o nosso louvor a ele junto aos da primeira multidão: “bendito o que vem em nome do Senhor”.
Pe. Françoá Costa
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Homilia do D. Henrique Soares da Costa – Domingo de Ramos – Ano A
Para a Procissão de Ramos:
Mt 21,1-11
“Dizei à filha de Sião: ‘Eis que o teu rei vem a ti, manso e montado num jumento, num jumentinho, num potro de jumenta!” – Assim, caríssimos irmãos, o nosso Jesus entra hoje em Jerusalém para sofrer sua paixão e fazer sua Páscoa deste mundo para o Pai.
Jerusalém é a cidade do Messias; nele deveria manifestar-se o Reino de Deus. O Senhor Jesus, ao entrar nela de modo solene, realiza a esperança de Israel. Por isso o povo grita: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus!” Hoje, com nossos ramos levados em procissão, fazemos solene memória desse acontecimento e proclamamos com nossos cânticos que Jesus é o Messias prometido! Também nós cantaremos daqui a pouco: Hosana ao Filho de Davi!
Mas, atenção! Este Messias não vem como rei potente, num majestoso cavalo de guerra, símbolo de força e poder! Ele vem num burrico, usado pelos servos nos seus duros trabalhos. Ele vem como manso e humilde servo! Eis o escândalo que Israel não suporta! Esperava-se um Messias que fosse Rei potente e Deus envia um servo humilde e frágil! Que lógica, a de Deus! E, misteriosamente, Israel não consegue compreendê-la e refutará Jesus! Mas, e nós, compreendemos de verdade essa lógica? Hoje, seguir o Cristo em procissão é estar dispostos a aceita-lo como Messias que tem como trono a cruz e como coroa os espinhos! Segui-lo pela rua é comprometer-se a segui-lo pela vida! Caso contrário, nossa liturgia não passará de um teatro vazio…
Vamos com Jesus! Aclamemos Jesus! E quando na vida, a cruz vier, a dor vier, os espinhos vierem, tomemos nas mãos os ramos que levaremos hoje para nossas casas e recordemos que nos comprometemos a seguir o Cristo até a morte e morte de cruz, para chegarmos à Páscoa da Ressurreição!
Para a Missa da Paixão:
Is 50,4-7
Sl 21
Fl 2,6-11
Mt 26,14 – 27,66
O mistério que hoje estamos celebrando – a Paixão e Morte do Senhor – e vamos celebrar de modo mais pausado e contemplativo nesses dias da Grande Semana, foi resumido de modo admirável na segunda leitura desta Eucaristia: o Filho, sendo Deus, tomou a forma de servo e fez-se obediente ao Pai por nós até a morte de cruz. E o Pai o exaltou e deu-lhe um nome acima de todo nome, para nossa salvação! Eis o mistério! Eis a salvação que nos foi dada!
Mas isso custou ao Senhor! É sempre assim: os ideais são lindos; coloca-los na vida, na carne de nossa existência, requer renúncia, lágrimas, sangue! O Filho, para nos salvar, teve que aprender como um discípulo, teve que oferecer as costas aos verdugos e o rosto às bofetadas! Que ideal tão alto; que caminho tão baixo! Que ideal tão sublime, que meios tão trágicos!
Foi assim com o nosso Jesus; é assim conosco! É na dor da carne da vida que o Senhor nos convida a participar da sua cruz e caminhar com ele para a ressurreição. Infelizmente, nós, que aqui nos sentamos à mesa com ele, tantas vezes o deixamos de lado: “Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato!” – Eis! É para nós esta palavra! Comemos o seu Pão ao redor deste Altar sagrado e, no entanto, o abandonamos nas horas de cruz: “Esta noite vós ficareis decepcionados por minha causa!” – Que pena! Queríamos um Messias fácil, um Messias que nos protegesse contra as intempéries da vida, que fosse bonzinho para o mundo atual. Como seria bom um Messias de acordo com o assassinato de embriões, com o aborto, com a libertinagem reinante… Mas, não! Esse Messias prefere morrer a matar, esse Messias exige que o sigamos radicalmente, esse Messias nos convida a receber a mesma rejeição que ele recebe do mundo: Minha alma está triste até à morte. Ficais aqui e vigiai comigo!”
Irmãos, que vos preparais para celebrar estes dias sagrados, não vos acovardeis, não renegueis o nosso Senhor, não o deixeis padecer sozinho, crucificado por um mundo cada vez mais infiel e ateu, um mundo que denigre o nome de Cristo e de sua Igreja católica! Cuidado, irmãos! Não é fácil, não será fácil a luta: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação, pois o espírito está pronto, mas a carne é fraca!” Que nos sustente a força daquele que por nós se fez fraco! Que nos socorra a intercessão daquele que orou por Pedro para que sua fé não desfalecesse! E se, como Pedro cairmos, ao menos, como Pedro, arrependamo-nos e choremos!
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos porque pela vossa santa cruz remistes o mundo!
D. Henrique Soares da Costa
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DOMINGO DE RAMOS - DIA 17 DE ABRIL
Evangelho - Mt 21,1-11
Estamos, hoje, celebrando o Domingo que abre as portas da Semana Santa: é o Domingo de Ramos. Jesus é aclamado Rei. Há palmas, vivas e aclamações para recebê‑lo: a multidão carrega ramos para simbolizar a alegre homenagem que o povo lhe quer prestar. Jesus se apresenta em Jerusalém montado num jumento porque vem trazer a paz. Não entra montado num cavalo porque não é um Rei guerreiro. Vem como Rei sem exército, simplesmente oferecendo a paz àquela cidade onde, poucos dias depois, encontrará a morte por crucificação. Propõe a paz. Em troca dão‑lhe violência. No Evangelho deste Domingo de Ramos é lido o "Evangelho da Paixão".
A presença ameaçadora do mal, camuflada por semblantes humanos, serpeia através dos fatos; como a traição insensata de Judas, a fraqueza dos discípulos, a implacável hostilidade dos chefes, o consentimento da multidão, a curiosidade escarnecedora de Herodes, a indecisão e o ato de injustiça final de Pilatos e os escárnios sem fim infligidos a um homem que morre. Ele prenuncia aos seus discípulos que, na Paixão, que já está próxima ele enfrentará a luta entre a vida e a morte, entre o bem e o mal.
Ele, Jesus, será entregue às mãos dos pecadores e eles mesmos ficarão decepcionados por causa dele. Mesmo mostrando Jesus como alguém senhor do próprio destino a narração evangélica não subestima o papel agressivo e desconcertante que o mal e o sofrimento exercem sobre a experiência humana. Ao mesmo tempo, toda a perspectiva da narrativa da Paixão não deixa dúvidas sobre a derrota do mal: este parece descarregar toda a sua fúria contra Jesus, o Filho de Deus.
Pelo poder do amor de Deus, o poder da morte é destruído, para todo homem e todo tempo. O triunfo da graça sobre a mor ‑e vê‑se na ambivalência daqueles que são instrumentalizados pelo poder do mal. 0 oficial romano e seus soldados que guardavam Jesus, chegam a reconhecer que Ele era mesmo Filho de Deus".
José de Arimatéia um membro do conselho que condenou Jesus, toma coragem de pedir o seu corpo crucificado, e Jerusalém, a cidade assassina de profetas ‑ onde o Filho de Deus é rejeitado e crucificado, tornar‑se a Cidade Santa, o lugar da epifania da ressurreição. Desenvolvendo até o fim o drama da vida e da morte, a Paixão de Jesus proclama o sentido pleno do Evangelho. Em Jesus, o Filho de Deus, Filho de Adão, é representada toda a esperança da humanidade.
A injustiça, a sofrimento e a morte são realidades dolorosas, e a história da Paixão o reconhece, mas elas não têm a última palavra sobre o destino do homem. Isto é claramente demonstrado no drama da Paixão em que Deus atua à revelia das forças do mal. Sigamos a Cristo, vivendo intensamente esta Semana Santa.
Frei Aloísio Antônio de Oliveira OFV Conv
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DOMINGO DE RAMOS |
“Saudemos com hosanas o Filho de Davi! Bendito o que nos vem em nome do Senhor! Jesus, rei de Israel, hosana nas alturas!” (Mt 21,9)
Meus irmãos e minhas irmãs,
O último domingo da Quaresma, chamado Domingo da Paixão, nos introduz no mistério grandioso da chamada Semana das Dores de Nossa Senhora. A liturgia resumia bem o que deveríamos retirar como síntese do grande retiro quaresmal: CONHECER, SOFRER E VIVER JESUS CRISTO. Conhecer e aderir a nossa fé em Jesus Cristo. Sofrer como Jesus sofreu por nós, um sofrimento incruento, que foi até o grande final de ter que morrer na cruz pela Salvação de todo o gênero humano. E, mais do que tudo isso, conhecendo e sofrendo, todos somos convidados a viver em Jesus Cristo com a vitória do pecado, com a vitória da morte, anunciando a ressurreição com a vida eterna em Deus Trindade.
Meus irmãos,
A leitura da entrada de Jesus em Jerusalém e da Paixão segundo o evangelista Marcos, neste ano, enseja-nos a meditação da cristologia deste Evangelista. Jesus é mais do que o Filho de Davi. Ele é o filho querido de Deus, o “servo” que, em obediência ao incansável amor do Pai para com os homens, dá sua vida, realizando em plenitude o que prefigurou o servo fiel em Isaías 52-53, no tempo do exílio. Mas, como Filho de Deus, ele é também o Filho do Homem, portador de plenos poderes escatológicos.
A condenação de Jesus sob falsas alegações religiosas e políticas significa o primeiro passo para a sua vinda gloriosa e o juízo sobre o mundo, anunciando imediatamente antes da sua paixão. É a dispersão, prelúdio da reunião do rebanho pelo pastor de todos os tempos, depois da ressurreição, início do tempo final, prelúdio da vinda definitiva.
O domingo de hoje abre solenemente as festividades da Semana Santa ou, aqui em Minas, chamada de Semana Maior dos Mistérios do Senhor Jesus. Uma semana em que a sagrada liturgia católica vive na maior profundidade possível à paixão, morte e ressurreição do nosso Salvador.
A semana culmina com a Páscoa, que quer dizer passagem. Passagem da morte para a vida eterna. Embora celebrando a paixão e morte, nossos olhos estão fixos na ressurreição do Autor da Vida, como Pedro chamou a Jesus.
A missa de hoje tem dois momentos. Um inicial em que são bentos os ramos, compondo a bênção e a procissão solene com os ramos. A leitura desse primeiro momento (Mc 11,1-10) conta sobre a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Nesse ano se lê o Evangelho de Marcos. A procissão nos recorda a vitória de Jesus sobre a morte e a nossa vitória sobre a maldade e a destruição eterna. As palmas lembram que renasceram sobre a maldade e a destruição eterna. As palmas lembram que renasceram acordadas pelo sangue derramado pelo Senhor Jesus. A mesma lembrança nos devem trazer as palmas bentas, quando colocadas na cabeceira de nossa cama ou na sala de estar, ou sob o madeiro de nossos crucifixos.
Meus irmãos e Minhas irmãs,
O texto da Paixão narrado por Marcos (Mc 14,1-15,47), no segundo momento desta celebração, é o mais antigo relato deste episódio. O evangelista coloca que Jesus está plenamente consciente de sua morte, entretanto, não comentando detalhes e pormenores. Marcos quer narrar o desfecho final: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus”. Na frase do centurião romano está todo o dogma de nossa fé católica e apostólica: “Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1).
As duas naturezas de Jesus não se separam no agir, a ponto de devermos dizer que o Cristo-Deus-Homem padeceu a morte na cruz; o Cristo-Homem-Deus nos salvou. Por isso, “ver-me-eis assentado à direita do poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu” (Mc 14,62). Assentar-se à direita e vir sobre as nuvens são expressões bíblicas que afirmam que Jesus tem poderes divinos, permanece como Deus, presente e ativo no mundo, único juiz de todas as criaturas.
Meus irmãos,
Marcos coloca em relevo todos os passos de Jesus e a manifestação da glória de Deus. Cristo agonizante luta com vontade lúcida, abandonado por todos os amigos. É a convergência de todos os corações, anunciando a liberdade plena, julgado pelos romanos e judeus, é o juiz supremo. Pura contradição aos olhos humanos, o que nos leva a refletir: “apresentando-se como simples homem, humilhou-se, fez-se obediente até a morte e morte de cruz.. Por isso Deus o exaltou e deu-lhe um nome acima de todo nome... e diante dele dobrem-se todos os joelhos” (Fl 2,6-11).
Hoje nós devemos refletir sobre o protagonismo de Judas Iscariotes e de Simão Pedro. O primeiro porque entregou Jesus e o segundo, constituído Pedra angular de nossa Igreja, o renegou por três vezes. Judas e Pedro representam as atitudes dos homens e mulheres de dois mil anos atrás e de hoje. Ambos eram apóstolos, tomavam refeição na mesma mesa com Jesus, companheiros de três anos de profícua caminhada. Tudo igualzinho a nós outros. Ambos experimentaram do poder milagroso de Jesus. Na verdade, traímos como Judas e renegamos como Pedro e muitas vezes não conseguimos explicar para nós mesmos as nossas traições. Como não conseguimos explicar o comportamento de Judas e a fraqueza de Pedro.
Não saberia dizer qual dos dois traiu o divino Mestre de maneira mais infame. Judas traiu por decepção e ganância; Pedro, por medo e por orgulho. Cada um de nós traz dentro de nosso coração essas quatro más qualidades: decepção, ganância, medo e orgulho. A diferença está nas lágrimas de arrependimento e na conversão sincera.
Outro protagonista da Paixão de Nosso Senhor é Pôncio Pilatos. Homem frio, calculista, que odiava os judeus, muito dado à violência e à tortura, porém reconhece a inocência de Jesus, mas lava as suas mãos, mandando açoitar Jesus e soltar Barrabás. Político, agiu como os políticos, da pior política.
Quantas e quantas vezes acontecem gestos semelhantes! Para defender a própria carreira, a própria posição, sacrificamos a justiça. A mesma injustiça de Pilatos é repetida a todos os momentos pelos políticos e pelos homens simples. Assim, todos estamos ativos na crucificação do Senhor. Como Pilatos ou como os Apóstolos: ausentes.
Meus irmãos,
Hoje é um domingo em que poderíamos chamá-lo de domingo de Jesus pobre e sofredor. Este domingo é o dia especial da fraternidade, dentro da Campanha da CNBB, sobretudo porque hoje fazemos a Coleta da Fraternidade. Esse é o gesto mais simples que podemos fazer hoje, como um ato de solidariedade para com os milhares de vítimas da violência atendidas pelos mais diversos serviços da Igreja, principalmente os trabalhos assistenciais desenvolvidos pelas nossas comunidades, paróquias, Dioceses, a fim de resgatar a dignidade e promover os que vivem a realidade da violência e da insegurança, em todos os níveis, sendo chamados pelo Cristo: “Levanta-te, vem para o meio!” (Mc 3,3).
O dinheiro dessa coleta nacional ampliará e deverá melhorar muito o atendimento a esses nossos irmãos, injustamente condenados à exclusão da violência, do ódio, do medo, da insegurança, do fechamento em vistas da violência reinante, enfim, a uma cruz pesada que lhes roubam a alegria de chegar ao termo da vida com um mínimo de dignidade. A eles Cristo também se faz solidário e nos apela, hoje, a sairmos do comodismo e nos convertermos a uma nova prática, baseada no serviço, no despojamento de nós mesmos, no dom do amor sem reservas.
Está aberta, pois, a semana da conversão e da mudança de vida. O Código de Direito Canônico determina que a forma ordinária de confissão é a confissão auricular, ou seja, a confissão pessoal. Por isso, cada um faça o máximo de procurar a reconciliação com Deus e com a comunidade com um bom exame de consciência e uma perfeita confissão. Enfim, vivamos a paixão para cantar as alegrias da ressurreição. Amém!
Padre Wagner Augusto Portugal
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- Eu sou a videira, vós sois os ramos.
Evangelho – (João 15, 1-8)
A videira para os judeus representa o povo de Israel. E era considerada a árvore da vida para os gregos e romanos. E sabendo do simbolismo e da importância da videira naquela época, no evangelho de hoje Jesus diz aos seus discípulos: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor... e vos os ramos”. Jesus se compara à videira, o Pai é o agricultor, e os ramos somos nós.
Se nós somos os ramos, como eu posso produzir bons frutos, para não tornar a videira improdutiva. Como colaboradores do projeto de Jesus, é importante e necessário estarmos em comunhão, em união com Ele, para produzir bons frutos para o Reino. E produzindo bons frutos, tenhamos certeza que o Pai cuidará, Ele nos limpará, fará tudo para que continuemos produzindo, cada vez mais, e melhores frutos. Quando cuidamos de uma planta, ela precisa de limpeza, nós chamamos essa limpeza de poda, é a retirada de galhos secos. Da mesma forma nós precisamos ser podados por Deus de vez em quando, essa poda pode ser dolorida, mas é necessária, para continuarmos crescendo em pureza, em espírito, e devemos aceitá-la com humildade, permanecendo sempre unidos Pai ao Filho e ao Espírito Santo, dando os frutos necessários para o Reino. E Jesus nos adverte, quanto à possibilidade de nos afastarmos. O que acontece quando nos distanciamos Dele? Deixamos de produzir frutos, secamos e Deus não contará mais com a nossa colaboração em seu projeto de salvação. E como ramos secos, seremos cortados.
Estar em comunhão com Jesus, é dar sentido a nossa vida, pois sem ele nada poderemos fazer. Acredito que no evangelho de hoje Jesus deixa muito claro, como o Pai está unido a Ele, e nós a Jesus. Enquanto estivermos ligados a Jesus, ao tronco, recebemos dele a seiva que vem do Pai, e temos vida, temos amor. Ao nos desligarmos dele, nos distanciamos de Jesus e do amor do Pai, em conseqüência a vida perde o sentido, seca e morre. Unidos a Ele glorificaremos ao Pai com nossas ações pelo Reino. E temos a garantia de Jesus, que permanecendo unidos a Ele, poderemos pedir o que quisermos e nos será dado. Como somos comprometidos e aderimos a Jesus, sabemos que devemos ter cuidados com o que pedimos. Deixemos de ser egoísta, é pensando no evangelho de ontem, peçamos a paz de Cristo, para nós, para o mundo. Peçamos força, coragem e perseverança, para continuarmos firmes em nossa caminhada em busca da justiça, do amor fraterno, para que permaneçamos sempre unidos a Cristo, e assim produzir frutos de amor, de vida. Peçamos pela união das famílias, para que exista a união entre os cristãos. Com certeza se cada um de nós fizer a sua parte, unidos a Jesus, poderemos sim transformar nossa comunidade, nossa família, ter uma sociedade sem corrupção, violência, injustiças... Onde predomine o amor e a valorização da vida.
Oração:
Espírito de adesão ao Senhor, une-me cada vez mais profundamente a Jesus, para que eu possa produzir os frutos que o Pai espera de mim.
Um abraço a todos.
Elian
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Domingo de Ramos
Cristo obedeceu até à morte e morte de cruz.
Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome
que está acima de todos os nomes.
2010
A liturgia deste Domingo de Ramos convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz revela-se o amor de Deus, esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
Leituras Da condenação à salvação
Tão terrível a cena e o relato como o do domingo passado. Porém, com um final diferente. É como esses filmes nos quais o diretor roda dois finais e depois escolhe segundo o gosto do público. O relato da adúltera do domingo passado terminava em absolvição. O relato da paixão de Jesus termina em condenação. É um terrível paradoxo. O que perdoa, o que acolhe, o que salva, se vê castigado, excluído, condenado.
É como se toda sua pregação, tudo aquilo pelo qual entregou sua vida, a missão que tem dado consistência a sua trajetória vital, tivesse sido perfeitamente inútil. A graça e o perdão que presenteou não chegam a ele. Passou sua vida tentando salvar da morte os filhos e filhas de Deus, ao final não consegue se salvar a si mesmo das forças escuras da violência gratuita que percorrem o mundo. Sua morte é outra morte inútil das quais tratou de evitar com todas suas forças.
“Crucifica-o!”
Mas a vida segue. O povo pode ser terrivelmente cruel. Ao princípio, o tinham seguido multidões. O povo ia até ele apresentar suas dores, suas doenças. Agora são multidões os que se deixam levar pela violência e gritam em coro “crucifica-o!”. Nem sequer os seus seguem-lhe. Pedro nega que o conhecia, é o faz por três vezes. Na escuridão da noite a primeira regra é a de salvar a própria pele. Melhor que morra ele e que eu possa me salvar.
Sem dar-nos conta de que sua morte é a nossa. De que toda morte gratuita e violenta encurta nossa própria vida. Mas o povo, e até mesmos os discípulos, preferem olhar para outro lado, enquanto produzem-se os fatos. Ao final, um pouco de sentimento de culpabilidade por ter participado no linchamento daquele homem, por não ter feito nada para impedir, por não ter dado um passo à frente e dizer que... Já sabemos todos que o sentimento de culpabilidade com um pouco de tempo passa e, talvez, com um pouco de terapia e uns comprimidos se supere com relativa facilidade.
Pelo caminho temos esquecido essa preciosa cena da última Ceia de Jesus com seus discípulos. Jesus não era um ingênuo. Sabia o que ia passar. E, no momento de compartilhar o pão e o vinho na ceia, disse umas palavras que encheram de sentido tudo o que ia suceder. Não detiveram Jesus. Jesus entregou-se. É importante o matiz.
Comprometido até o final
Jesus foi a todo o momento o dono da situação. Sua morte não ia ser senão o último ato de uma forma de viver que tinha assumido livremente fazia muito tempo como conseqüência de sua experiência única de Deus. Ia confessar até o final que Deus é o das parábolas do Reino, o de sua aproximação com os marginalizados e pecadores, o de sua atenção extraordinária aos doentes, o que se preocupa com todos e com cada um.
E foi conseqüente até o final. Ainda que soubesse que ia ser duro. Isso é o que nos mostra a cena da oração no Horto. Não era agradável o que ia suceder. Mas Jesus ia ser fiel à sua missão. Sua confiança estava posta no Pai para além do imaginável, do previsível, do prudente.
Era muito realista. Na mesma cena da última Ceia já tinha visto o que davam de si seus discípulos. Após tanto tempo juntos, ainda seguiam pensando quem devia ser o primeiro entre eles. Não tinham entendido nada! Mas Jesus segue repetindo a mesma mensagem: vim para servir. Há que renunciar ao poder. O futuro, o Reino, está no serviço. E segue confiando neles. Para além do imaginável, do previsível, do prudente.
A história termina com a morte de Jesus. Não há resposta à sua confiança. Silêncio e escuridão. Abandonado pelos seus. Mas Jesus morreu confiando no Pai. E também na humanidade. Nos seus que o tinham deixado só. Nos soldados que debochavam dele. Nos judeus que o tinham condenado. Seguia confiando que o amor de Deus pode transformar os corações. Deter a sangria da violência e dar inicio a uma nova sociedade, a uma nova forma de viver, ao Reino de Deus. Essa confiança, essa entrega sem limites, esse amor até o final, essa é nossa salvação.
Fernando Torres
http://www.ciudadredonda.org/subsecc_ma_d.php?sscd=157&scd=1&id=2893
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DOMINGO DE RAMOS E A PAIXÃO DE CRISTO
A liturgia do Domingo de Ramos convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus - esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
Como antecipação à Semana Santa que começamos, lemos hoje o relato completo da Paixão e Morte de Jesus segundo o evangelista Mateus, do qual transcrevemos aqui o começo. Na Sexta-Feira Santa leremos o relato segundo são João. É sabido que os quatro evangelistas nos contam este mesmo fato embora não da mesma forma. Cada um busca dar-lhe sua própria orientação teológica e pastoral, uma vez que cada evangelho é uma forma de responder às inquietações diferentes de cada comunidade.
Poderíamos esquematizar a narrativa que Mateus nos traz de um modo muito simples com a finalidade de tirar dele o melhor proveito possível para nossa reflexão. Oxalá tenhamos tempo para fazê-lo em nossos lares. Em primeiro lugar, é necessário começar a leitura no capítulo 26,1 para ter um marco de referência. Mateus ambienta estes acontecimentos na festa dos Ázimos, enfatizando a decisão dos sumos sacerdotes e dos anciãos de prender Jesus e eliminá-lo, mas não “durante as festas, para não amotinar o povo” (26,5).
Intencionalmente Mateus insere entre esta decisão e a de Judas (de colaborar com as autoridades), a passagem da unção de Jesus em Betânia; é como uma antecipação de sua aceitação por parte de um setor judaico e de sua sepultura (27,57-61).
É importante ressaltar também que à traição e à entrega por parte de Judas corresponde a cena contrastante do centurião que no momento da morte de Jesus pronuncia as palavras de reconhecimento da messianidade do Crucificado. Se Judas não pôde reconhecer em Jesus o enviado do Pai, o centurião, depois de tudo, faz a seu respeito um ato de fé: Verdadeiramente este era Filho de Deus (27,54), o qual é antecipação também do reconhecimento e da fé em Jesus por parte dos não-judeus, quer dizer, dos “pagãos”, os demais povos do mundo.
A Semana Santa que hoje nós, cristãos, iniciamos com a comemoração da entrada “triunfal” de Jesus em Jerusalém e sua aclamação como Messias e rei por parte do povo humilde e simples (Mateus 21,1-10) deveria ser a ocasião mais propícia para realizar durante toda a semana um ciclo de revisão dos fundamentos de nossa fé.
É ocasião de pensar sobre a maneira pela qual temos entendido e vivido nosso cristianismo e da renovação de nosso compromisso que, como fiéis, somos convidados a vivenciar num mundo realmente ávido de um testemunho e de uma mensagem como a de Jesus.
Padre Claudio
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Domingos de Ramos
Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?
09 de abril de 2006
A liturgia do Domingo de Ramos convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens, deixou-Se matar para que o egoísmo e o pecado fossem vencidos. A cruz (que a liturgia deste domingo coloca no horizonte próximo de Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura apresenta-nos um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projetos de Deus. Os primeiros cristãos viram neste “servo” a figura de Jesus.
A segunda leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz, revela-se o amor de Deus - esse amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
Evangelho de Jesus Cristo, segundo Marcos (Mc 15,1-39 )
A solidão de Jesus diante do sofrimento e da morte anuncia já a solidão do discípulo que percorre o caminho da cruz. Quando o discípulo procura cumprir o projeto de Deus, recusa os valores do mundo, enfrenta as forças da opressão e da morte, recebe a indiferença e o desprezo do mundo e tem de percorrer o seu caminho na mais dramática solidão. O discípulo tem de saber, no entanto, que o caminho da cruz, apesar de difícil, doloroso e solitário, não é um caminho de fracasso e de morte, mas é um caminho de libertação e de vida plena.
Leitor 1:
Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Marcos:
1 Logo pela manhã, os sumos sacerdotes, com os anciãos, os mestres da Lei e todo o Sinédrio, reuniram-se e tomaram uma decisão. Levaram Jesus amarrado e o entregaram a Pilatos.
2 E Pilatos o interrogou:
Leitor 3:
“Tu és o rei dos judeus?”
Leitor 2:
Jesus respondeu:
Jesus: “Tu o dizes”.
Leitor 1:
3 E os sumos sacerdotes faziam muitas acusações contra Jesus.
4Pilatos o interrogou novamente:
Leitor 3:
“Nada tens a responder? Vê de quanta coisa te acusam!”
Leitor 2:
5 Mas Jesus não respondeu mais nada, de modo que Pilatos ficou admirado.
6 Por ocasião da Páscoa, Pilatos soltava o prisioneiro que eles pedissem.
7 Havia então um preso, chamado Barrabás, entre os bandidos, que, numa revolta, tinha cometido um assassinato.
Leitor 1:
8 A multidão subiu a Pilatos e começou a pedir que ele fizesse como era costume.
9Pilatos perguntou:
Leitor 3:
“Vós quereis que eu solte o rei dos judeus?”
Leitor 2:
10 Ele bem sabia que os sumos sacerdotes haviam entregado Jesus por inveja.
11 Porém, os sumos sacerdotes instigaram a multidão para que Pilatos lhes soltasse Barrabás.
Leitor 1:
12 Pilatos perguntou de novo:
Leitor 3:
“Que quereis então que eu faça com o rei dos judeus?”
Leitor 2:
13 Mas eles tornaram a gritar:
Assistência: Crucifica-o!
Leitor 1:
14 Pilatos perguntou:
Leitor 3:
“Mas, que mal ele fez?”
Leitor 2:
Eles, porém, gritaram com mais força:
Assistência: Crucifica-o!
Leitor 1:
15 Pilatos, querendo satisfazer a multidão, soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus e o entregou para ser crucificado.
16 Então os soldados o levaram para dentro do palácio, isto é, o pretório, e convocaram toda a tropa.
Leitor 2:
17 Vestiram Jesus com um manto vermelho, teceram uma coroa de espinhos e a puseram em sua cabeça.
18 E começaram a saudá-lo:
Assistência:
“Salve, rei dos judeus!”
Leitor 1:
19 Batiam-lhe na cabeça com uma vara. Cuspiam nele e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante dele.
Leitor 2:
20 Depois de zombarem de Jesus, tiraram-lhe o manto vermelho, vestiram-no de novo com suas próprias roupas e o levaram para fora, a fim de crucificá-lo.
Leitor 1:
21 Os soldados obrigaram um certo Simão de Cirene, pai de Alexandre e de Rufo, que voltava do campo, a carregar a cruz.
22Levaram Jesus para o lugar chamado Gólgota, que quer dizer “Calvário”.
Leitor 2:
23 Deram-lhe vinho misturado com mirra, mas ele não o tomou.
24 Então o crucificaram e repartiram as suas roupas, tirando a sorte, para ver que parte caberia a cada um.
Leitor 1:
25 Eram nove horas da manhã quando o crucificaram.
26 E ali estava uma inscrição com o motivo de sua condenação: “O Rei dos Judeus”.
27 Com Jesus foram crucificados dois ladrões, um à direita e outro à esquerda.(28)
Leitor 2:
29 Os que por ali passavam o insultavam, balançando a cabeça e dizendo:
Assistência:
“Ah! Tu, que destróis o Templo e o reconstróis em três dias, 30 salva-te a ti mesmo, descendo da cruz!”
Leitor 1:
31 Do mesmo modo, os sumos sacerdotes, com os mestres da Lei, zombavam entre si, dizendo:
Assistência:
“A outros salvou, a si mesmo não pode salvar!”
32 O Messias, o rei de Israel... que desça agora da cruz, para que vejamos e acreditemos!”
Leitor 2:
Os que foram crucificados com ele também o insultavam.
Leitor 1:
33 Quando chegou o meio-dia, houve escuridão sobre toda a terra, até as três horas da tarde.
34Pelas três da tarde, Jesus gritou com voz forte:
Pres.: “Eloi, Eloi, lamá sabactâni?”
Leitor 2:
Que quer dizer:
Jesus:
“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”
Leitor 1:
35 Alguns dos que estavam ali perto, ouvindo-o, disseram:
Assistência: “Vejam, ele está chamando Elias!”
Leitor 2:
36 Alguém correu e embebeu uma esponja em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e lhe deu de beber, dizendo:
Leitor 3:
“Deixai! Vamos ver se Elias vem tirá-lo da cruz”.
Leitor 1:
Então Jesus deu um forte grito e expirou.
(Aqui todos se ajoelham e faz-se uma pausa.)
Leitor 2:
38 Nesse momento, a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes.
39 Quando o oficial do exército, que estava bem em frente dele, viu como Jesus havia expirado, disse:
Leitor 3:
“Na verdade, este homem era o Filho de Deus!”
Leitor 1:
Palavra da Salvação.
Assistência: Glória a vós, Senhor!
A entrada de Jesus em Jerusalém
A entrada de Jesus em Jerusalém merece uma reflexão especial. Não entrou como Messias, mais como um Messias "diferente", "alternativo". Dirigiu-se “direto para o templo” (Mc 11,11).
O contexto: uma cidade sob vigilância
A semana da Páscoa tinha uma grande afluência de peregrinos a Jerusalém, entre os quais tinham muitos galileus. Como prevenção de possíveis tumultos se reforçava a guarda romana. O governador romano se deslocava para Jerusalém para dirigir as operações de segurança. Os habitantes de Jerusalém sabiam conviver com a autoridade romana, não os peregrinos que vinham de outras partes de Palestina, especialmente os galileos. Não poucos esperavam o reino messiânico dos 1000 anos. Sonhavam em colocar Israel como cabeça das nações. É muito provável que quem acompanhara Jesus em sua entrada em Jerusalém não fossem precisamente de Jerusalém; alguns talvez eram celotas ou nacionalistas. Tinham previsto alguns detalhes: “um jumentinho, em que ainda ninguém montou; desprendei-o e trazei-o. E se alguém vos perguntar: Por que fazeis isso? respondei: O Senhor precisa dele, e logo tornará a enviá-lo para aqui” (Mc 11,2-3). Procura-se o burro com uma verdadeira clandestinidade. Há que evitar qualquer indiscrição. .
O Messias e o Templo
A entrada de Jesus em Jerusalém se entende a partir do contexto. Jesus vinha da Galileia:
“Ora, estavam a caminho, subindo para Jerusalém; e Jesus ia adiante deles, e eles se maravilhavam e o seguiam atemorizados. De novo tomou consigo os doze e começou a contar-lhes as coisas que lhe haviam de sobrevir, dizendo: Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos escribas; e eles o condenarão à morte, e o entregarão aos gentios; 34 e hão de escarnecê-lo e cuspir nele, e açoitá-lo, e matá-lo; e depois de três dias ressurgirá.” |
Os discípulos de Jesus, apesar de tudo, esperavam um golpe de força messiânica em Jerusalém. Jesus lhes tinha dito “E ordenou-lhes Jesus que a ninguém dissessem aquilo a respeito dele” (Mc 8,30). E agora entra em Jerusalém num burro para mostrar ao povo que não é o líder guerreiro que procuram. Jesus não quer substituir o governador romano. Por isso se dirigiu diretamente ao Templo (Mc 11,11). Jesus o fez com astúcia. Não entra simplesmente em Jerusalém, mais foi diretamente ao Templo. No Templo não atua imediatamente “porque era já tarde”.
“Depois de observar tudo a seu arredor, sendo já tarde, |
Jesus não queria correr perigos desnecessários. Refugiou-se em Betânia para preparar cuidadosamente o que faria no dia seguinte.
Não purificação! mais tomado do Templo!
Jesus não purifica o Templo, para que siga sendo centro de Israel. Mais “o toma” e suspende definitivamente sua atividade; coisa que se confirmará na morte de Jesus: o véu rasgado já é incapaz de encerrar dentro de si a Presença de Deus. O templo deveria ser a “casa do Pai”, ao qual todos devem ter acesso livre; mas as autoridades judias o converteram no lugar do isolamento de um Deus que fundamenta a injustiça. Os sacrifícios a Deus servem para enriquecer as classes poderosas. Converteram o lugar de acesso ao Pai em gruta para os bandidos. Joaquim Jeremías calcula que só pelo conceito do imposto para o Templo entraria uma quantidade próxima às 17 toneladas de prata anuais, além de outros impostos, mudanças de moeda, etc.
O lugar da gratuidade de Deus, converteu-se em gruta para os bandidos fazerem suas emboscadas para assaltar o pobre. O Templo estava ainda em reconstrução. Jesus diz que não tinha que seguir o reconstruindo. Era uma estrutura “irreformável”, cujo único remédio era a destruição. Sua inclusão dentro da passagem da figueira faz ver que Jesus não pretendia só uma “reordenação” do Templo, mais sua supressão. Na tensa atmosfera da festa, essa ação provocadora de Jesus pareceu áspera ao Sanedrín. Com sua ação Jesus paralisou o culto e a atividade do Templo, desmascarando sua esterilidade. Jesus, consciente do perigo, (“lhe tinham medo... pois toda as pessoas estavam assombradas com sua doutrina”) chegada à noite, procura refúgio fora da cidade.
O terceiro dia: “enquanto ia e vinha pelo Templo”. Não se trata de um “passear” inocente, senão um ir e vir para impedir que as coisas voltem a estar como antes.
Discussão com as autoridades
Com que autoridade fazes isto? As autoridades tinham medo. Jesus lhes evoca João o Batista e lhes recrimina. Eles não têm autoridade. Tudo o que digam contra Jesus não tem validade. Depois lhes narra uma parábola: os vinhateiros homicidas dirigidos contra o Centro judeu ritual, legislador e político, cuja conduta homicida Jesus desmascara. Resultado da parábola, que é perfeitamente compreendida por eles: tratavam de detê-lo, mas tiveram medo, deixando-lhe que se retirassem: anti-seguimento.
O sanedrín não se atreve a enfrentar diretamente a Jesus; enviados por eles chegam os fariseus e herodianos. Querem surpreendê-lo. A moeda tem uma imagem do César, proibida pelo segundo mandamento do Decálogo e uma inscrição que coloca o Imperador na esfera do divino. Aceitar o pagamento do tributo era aceitar a opressão do povo. Jesus que não tem um denario próprio pede que lhe mostrem um: “Que a César se leve essa moeda, que atenta contra os direitos de Deus e lhe regresse a Deus o que lhe pertence: o culto, o povo e a terra”. Não cai na armadilha de um confronto direto com a dominação romana; nem cai na armadilha da justificativa do imposto.
Depois Jesus desautoriza a leitura saducea da Escritura. Os saduceos se gloriavam de conhecer os livros de Moisés; só a estes lhes davam valor, recusando todo escrito posterior como novela apocalíptica do Reino de Deus, da ressurreição, do juízo. Diz-lhes que não conhecem nem as Escrituras, nem a força de Deus; nem sequer leram a passagem central de Moisés.
Nesse momento, um escriba que tinha visto discutir se aproximou e perguntou a Jesus pelo mandamento principal, reconhecendo a ortodoxia de Jesus, quando os demais o condenavam. Reconhece em Jesus a autoridade para limpar a questão da hierarquia dos mandamentos. Jesus responde com a fórmula proveniente da tradição deuteronómica, não sacerdotal. Jesus opta pela Lei da Aliança e desautoriza a lei sacerdotal. Tudo o reduz ao núcleo do amor. Isso é o importante e não os 613 mandamentos, que tinham a seus legisladores no Centro religioso.
“E ninguém se atrevia já a fazer-lhe perguntas” Há perguntas que as pessoas não se atrevem a fazer. Jesus responde em público a elas, para advertir ao povo contra a doutrina e conduta dos escribas-teólogos e dirigentes.
Desautoriza a interpretação que os escribas fazem de Messias: o Messias não é filho de Davi, mais seu Senhor; não têm de ver nele um poderoso líder ao estilo de Davi. O povo o acolhe muito bem, Depois adverte seriamente ao povo contra os escribas, cuja ânsia de poder e ostentação denuncia. Sua prática é mais perigosa que sua doutrina: abusam dos desprotegidos. Jesus observa como as pessoas dão esmola. Os ricos com ostentação. A viúva desde sua pequenez dá tudo.
José Cristo Rey Garcia Paredes
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DOMINGO DE RAMOS
A oferta de sacrifícios a Deus parece constituir, em todos os povos, a expressão mais significativa do senso religioso do homem. Despojando-se de tudo o que lhe pertence por conquista ou pelo trabalho, o homem reconhece que tudo pertence a Deus e lho restitui em agradecimento. E quando uma parte do que foi sacrificado é comida pelos ofertantes, então se estabelece uma comunhão simbólica entre Deus e os comensais, uma participação da mesma vida.
Na Bíblia, as tradições sacerdotais nos dão a conhecer uma legislação complexa, que poderia facilmente assumir valor autônomo e, portanto, formalista, esquecendo o significado da ação cultual em relação à salvação integral do homem. Os profetas lembram freqüentemente que Deus só aceita as ofertas e sacrifícios se são acompanhados de uma atitude interior de humildade, de oferta espiritual de si mesmo, de reconhecimento da própria e radical pobreza e da necessidade de uma libertação que nós sozinhos não podemos obter, mas podemos invocar e esperar de Deus.
O servo de Javé
A pobreza é, pois, o sacrifício espiritual, isto é, a realidade profunda de toda oferta e imolação de animais e de coisas em honra de Deus. Esta é a atitude dos "pobres de Javé", e especialmente do "Servo de Javé"; este, tanto no sentido individual como no corporativo. Enviado para salvar seu povo (a humanidade), é obrigado a suportar perseguições e ultrajes; aceita-os, entretanto, com paciência e mansidão, sabendo que Deus o salvará (1ª leitura e salmo responsorial). Cumpre sua missão oferecendo-se a si mesmo como vítima inocente, para expiar os pecados do povo. Por sua obediência e amor, Deus o exaltará e glorificará; e, com os irmãos salvos, ele louvará o Senhor num sacrifício (banquete) de ação de graças (salmo responsorial) aberto a todos.
Jesus escolhe uma pobreza radical
Na encarnação, Jesus fez sua a pobreza radical do homem perante Deus (2ª leitura). Coerente com esta escolha, apoiou-se na palavra do Pai, que nas Escrituras e nos acontecimentos lhe indica o caminho para cumprir sua missão; não se subtraiu à condição do homem pecador, ao sofrimento que provém do egoísmo, nem aos limites da natureza humana, entre os quais, antes de tudo, a morte. Um homem como todos, um pobre em poder de todos; assim o mostra o sucinto e objetivo relato dos evangelistas (evangelho). Vemo-lo como uma vitima da intolerância e da injustiça, um amotinador ou, quando muito, um sacrificado pelos seus por um falaz cálculo político. Mas isto não bastaria para dele fazer um salvador. O que resgata a sua morte, o que a transfigura - para ele e para nós - é o imenso peso de amor com que faz dom da vida, para libertar-nos da violência e do ódio, do fanatismo e do medo, do orgulho e da auto-suficiência; para tornar-nos - como ele - disponíveis a Deus e aos outros, capazes de amar e perdoar, de ter confiança e reconstruir, de crer no homem ultrapassando as aparências e as deformações.
A Igreja esta com Jesus crucificado
Só assim a Igreja oferece hoje o sacrifício espiritual agradável ao Pai; quando, reconhecendo-se pecadora e sempre necessitada de salvação, apresenta não os próprios méritos e sucessos, mas a lembrança viva da sua Cabeça crucificada, do Filho bem-amado, de cuja morte e ressurreição recebe luz e força para ser fiel a sua missão. Aceitando com alegria o sofrimento que completa a paixão de seu Senhor e Mestre, a Igreja pode oferecer o sacrifício eucarístico, como voz dos pobres, dos humilhados, dos desafortunados e dos oprimidos, anunciando a esperança da libertação. E pode fazê-lo com tanto mais verdade, quanto mais houver escolhido não os caminhos do poder, do sucesso e do bem-estar, mas o da coragem para repelir a injustiça e compartilhar plenamente da sorte dos humildes.
Mas, sejamos objetivos, imparciais e concretos; isto nos toca pessoalmente; a Igreja somos também nós. Enquanto temos facilidade em ver as culpas ou as fraquezas dos outros, não estamos nós corrompidos pelos mesmos males? Pensamos talvez que acusando os outros nos desculpamos a nós mesmos? Nesse caso, são Paulo nos diria que somos "indesculpáveis" (Rm 2,1).
Aspectos simbólicos e celebrativos do domingo de ramos
1. Equipe de liturgia: é muito importante que a equipe de liturgia prepare antecipadamente a celebração, de forma a evitar improvisos ou remendos de última hora. As tarefas devem estar devidamente distribuídas. Quem for escolhido para a função de comentarista precisa estar por dentro de todas as partes da celebração e do seu sentido profundo.
2. Tudo preparado: estejam devidamente preparados os diversos elementos que serão utilizados durante toda a celebração: ramos, água benta, cruz, turíbulo, incenso, missal, água, vinho...
3. Cor vermelha: desde o início da celebração, o sacerdote usa paramentos de cor vermelha, que indica paixão do Senhor. Aliás, este domingo é denominado Domingo de Ramos da Paixão do Senhor;
4. Ramos verdes: são sinal de alegria pela vitória de Cristo. Em geral utilizam-se galhos de oliveira e palmeiras, mas nada impede que se usem ramos de outras plantas ou mesmo plantas medicinais. Muitas pessoas guardam os ramos bentos em casa e os queimam como proteção contra raios e tempestades, mas os ramos nos devem recordar, principalmente, nosso compromisso com o projeto de Jesus;
5. Procissão: significa ato de avançar. É o caminhar da pessoa rumo a Deus. Nessa celebração, as pessoas se unem e, com ramos nas mãos, louvam e aclamam Jesus em sinal de reconhecimento e gratidão pelas maravilhas que ele realiza em favor do seu povo. A assembléia se mostra solidária com a sorte do Redentor e se dispõe a seguir seus passos. Para formar a procissão, se for usado o incenso, em primeiro lugar posiciona-se o turiferário, em seguida a cruz, que pode estar enfeita com ramos bentos, depois o sacerdote e os ministros, finalmente a assembléia;
6. Narração da Paixão: os leitões se preparem bem e leiam com dignidade e concentração. Desse modo, o relato do drama da Paixão favorecerá a participação contemplativa e orante da assembléia. Distribuam-se as várias partes: do narrador, do povo e de Cristo (esta é reservada de preferência ao sacerdote). Eventualmente pode haver outro leitor que fala a parte de algum discípulo (por exemplo, Pedro) ou mesmo Pilatos.
7. Cantos apropriados: a primeira parte da celebração deve levar a assembléia a recorda a entrada de Jesus em Jerusalém, por isso o conteúdo dos cânticos é de aclamação a Cristo Rei. Os cantos para a procissão com ramos geralmente contêm a aclamação Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor! Podem-se usar cantos populares, mantendo sempre o caráter de júbilo, ligados à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Por isso, não é o momento para cânticos a nossa Senhora ou ao Espírito Santo.
Semana Santa, Preparar e Celebrar, Pe. Luiz Miguel Duarte, Paulus2004
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DOMINGO DE RAMOS
No Domingo de Ramos comemoramos a entrada triunfal de Cristo na cidade santa, para ai consumar plenamente a sua páscoa de morte e ressurreição, tornando-a trono do Senhor. Usamos ramos, para relembrar os acontecimentos, mas não devemos valorizá-los mais do que o mistério que expressam: a realeza messiânica de Jesus.
Sim, Jesus é Rei, e em sua entrada triunfal revela-nos também o tipo de realeza que possui. Ao montar um jumento, dá maior ênfase à paz do que à humildade. Como poderia enfrentar uma guerra o rei que monta um jumento e não um cavalo?
A escolha de um jumento nunca montado anteriormente, faz-nos lembrar das vacas escolhidas para puxar a Arca da Aliança (1 Sm 6,7). Jesus torna-se a própria Arca, presença pessoal de Iahweh entre o povo eleito, Aliança perfeita entre Deus e a humanidade.
O relato detalhado das instruções dadas por Jesus sobre como encontrar o animal e de como essas instruções foram cumpridas, revelam para nós a presciência divina e a autoridade messiânica de Jesus.
Os louvores dos discípulos lembram o canto angelical do nascimento de Jesus (Lc 2,14), confirmando a profecia feita então.
A resposta de Jesus aos fariseus que o interpelam evidencia que chegou a hora da proclamação de sua plena identidade e missão. O plano de Deus será revelado, ainda que as pedras tenham que fazer isso.
Cecilia
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DOMINGOS DE RAMOS
BENDITO O QUE VEM EM NOME DO SENHOR!
A Semana Santa começa no Domingo de Ramos dia em que aconteceu:
· Entrada Triunfal de Jesus a Jerusalém;
· Jesus entrou na cidade montado em um jumento;
· Jesus é saudado como um rei -- com os Ramos;
· Jesus é Rei;
A Semana Santa merece ser vivida em clima de oração pessoal, esforço de conversão e maior dedicação fraterna. Do Domingo de Ramos até a Quinta-feira santa, completamos o grande retiro quaresmal. Com a Missa da Ceia do Senhor na Quinta-feira à tarde, iniciamos o Tríduo pascal da morte e ressurreição do Senhor. O cume de todas as celebrações é a vigília pascal na noite de sábado, madrugada de domingo. Essa Vigília se desdobra na alegria do Domingo da Ressurreição e nos cinqüenta dias do Tempo pascal, o Pentecostes sagrado, que é considerado como que um único e grande domingo.
As celebrações devem ser bem preparadas, e tanto seu conteúdo como sua forma merecem todo o zelo. Não podem ser meros espetáculos litúrgicos destinados a nos comover. Não são também apenas reuniões catequéticas feitas para instruir ou para conscientizar as pessoas. Não são comemorações nostálgicas de acontecimentos ocorridos vinte séculos atrás. Cada celebração se situa como memorial do Senhor, o que é uma retomada da lembrança dos fatos antigos da salvação para viver e aplicar a eficácia atual que eles têm. É uma realização da Igreja convocada para atualizar permanentemente a Páscoa do Senhor, nos sinais litúrgicos e principalmente no compromisso de construção do Reino de Deus...
(Do livro Semana Santa — Anos A,B,C,Paulus, São Paulo, 4ª ed., 1998, pp. 5-6).
É a semana e que vamos relembrar o sofrimento de Jesus por nós, e comemorar a ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, o qual ao passar da morte para a vida, além de nos deixar mais uma prova da sua divindade, nos sugere que também nós devemos nascer de novo, e passar da morte para a vida, numa ressurreição pessoal. Morrer para tudo aquilo que nos afasta de Deus, e viver para uma vida sintonizada com Deus através dos ensinamentos de Jesus, fazendo a vontade do Pai, firmes no nosso compromisso de construção de um mundo melhor, através da nossa missão de evangelizadores na nossa casa, na nossa paróquia, nas escolas e também pelo mundo, usando os recursos tecnológicos da Internet.
Sal
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Cristo vai ao encontro da morte
com liberdade de filho
A oferta de sacrifícios a Deus parece constituir, em todos os povos, a expressão mais significativa do senso religioso do homem. Despojando-se de tudo o que lhe pertence por conquista ou pelo trabalho, o homem reconhece que tudo pertence a Deus e lho restitui em agradecimento. E quando uma parte do que foi sacrificado é comida pelos ofertantes, então se estabelece uma comunhão simbólica entre Deus e os comensais, uma participação da mesma vida.
Na Bíblia, as tradições sacerdotais nos dão a conhecer uma legislação complexa, que poderia facilmente assumir valor autônomo e, portanto, formalista, esquecendo o significado da ação cultual em relação à salvação integral do homem. Os profetas lembram freqüentemente que Deus só aceita as ofertas e sacrifícios se são acompanhados de uma atitude interior de humildade, de oferta espiritual de si mesmo, de reconhecimento da própria e radical pobreza e da necessidade de uma libertação que nós sozinhos não podemos obter, mas podemos invocar e esperar de Deus.
O servo de Javé
A pobreza é, pois, o sacrifício espiritual, isto é, a realidade profunda de toda oferta e imolação de animais e de coisas em honra de Deus. Esta é a atitude dos "pobres de Javé", e especialmente do "Servo de Javé"; este, tanto no sentido individual como no corporativo. Enviado para salvar seu povo (a humanidade), é obrigado a suportar perseguições e ultrajes; aceita-os, entretanto, com paciência e mansidão, sabendo que Deus o salvará (1ª leitura e salmo responsorial). Cumpre sua missão oferecendo-se a si mesmo como vítima inocente, para expiar os pecados do povo. Por sua obediência e amor, Deus o exaltará e glorificará; e, com os irmãos salvos, ele louvará o Senhor num sacrifício (banquete) de ação de graças (salmo responsorial) aberto a todos.
Jesus escolhe uma pobreza radical
Na encarnação, Jesus fez sua a pobreza radical do homem perante Deus (2ª leitura). Coerente com esta escolha, apoiou-se na palavra do Pai, que nas Escrituras e nos acontecimentos lhe indica o caminho para cumprir sua missão; não se subtraiu à condição do homem pecador, ao sofrimento que provém do egoísmo, nem aos limites da natureza humana, entre os quais, antes de tudo, a morte. Um homem como todos, um pobre em poder de todos; assim o mostra o sucinto e objetivo relato dos evangelistas (evangelho). Vemo-lo como uma vitima da intolerância e da injustiça, um amotinador ou, quando muito, um sacrificado pelos seus por um falaz cálculo político. Mas isto não bastaria para dele fazer um salvador. O que resgata a sua morte, o que a transfigura - para ele e para nós - é o imenso peso de amor com que faz dom da vida, para libertar-nos da violência e do ódio, do fanatismo e do medo, do orgulho e da auto-suficiência; para tornar-nos - como ele - disponíveis a Deus e aos outros, capazes de amar e perdoar, de ter confiança e reconstruir, de crer no homem ultrapassando as aparências e as deformações.
A Igreja esta com Jesus crucificado
Só assim a Igreja oferece hoje o sacrifício espiritual agradável ao Pai; quando, reconhecendo-se pecadora e sempre necessitada de salvação, apresenta não os próprios méritos e sucessos, mas a lembrança viva da sua Cabeça crucificada, do Filho bem-amado, de cuja morte e ressurreição recebe luz e força para ser fiel a sua missão. Aceitando com alegria o sofrimento que completa a paixão de seu Senhor e Mestre, a Igreja pode oferecer o sacrifício eucarístico, como voz dos pobres, dos humilhados, dos desafortunados e dos oprimidos, anunciando a esperança da libertação. E pode fazê-lo com tanto mais verdade, quanto mais houver escolhido não os caminhos do poder, do sucesso e do bem-estar, mas o da coragem para repelir a injustiça e compartilhar plenamente da sorte dos humildes.
Mas, sejamos objetivos, imparciais e concretos; isto nos toca pessoalmente; a Igreja somos também nós. Enquanto temos facilidade em ver as culpas ou as fraquezas dos outros, não estamos nós corrompidos pelos mesmos males? Pensamos talvez que acusando os outros nos desculpamos a nós mesmos? Nesse caso, são Paulo nos diria que somos "indesculpáveis" (Rm 2,1).
Aspectos simbólicos e celebrativos do domingo de ramos
1. Equipe de liturgia: é muito importante que a equipe de liturgia prepare antecipadamente a celebração, de forma a evitar improvisos ou remendos de última hora. As tarefas devem estar devidamente distribuídas. Quem for escolhido para a função de comentarista precisa estar por dentro de todas as partes da celebração e do seu sentido profundo.
2. Tudo preparado: estejam devidamente preparados os diversos elementos que serão utilizados durante toda a celebração: ramos, água benta, cruz, turíbulo, incenso, missal, água, vinho...
3. Cor vermelha: desde o início da celebração, o sacerdote usa paramentos de cor vermelha, que indica paixão do Senhor. Aliás, este domingo é denominado Domingo de Ramos da Paixão do Senhor;
4. Ramos verdes: são sinal de alegria pela vitória de Cristo. Em geral utilizam-se galhos de oliveira e palmeiras, mas nada impede que se usem ramos de outras plantas ou mesmo plantas medicinais. Muitas pessoas guardam os ramos bentos em casa e os queimam como proteção contra raios e tempestades, mas os ramos nos devem recordar, principalmente, nosso compromisso com o projeto de Jesus;
5. Procissão: significa ato de avançar. É o caminhar da pessoa rumo a Deus. Nessa celebração, as pessoas se unem e, com ramos nas mãos, louvam e aclamam Jesus em sinal de reconhecimento e gratidão pelas maravilhas que ele realiza em favor do seu povo. A assembléia se mostra solidária com a sorte do Redentor e se dispõe a seguir seus passos. Para formar a procissão, se for usado o incenso, em primeiro lugar posiciona-se o turiferário, em seguida a cruz, que pode estar enfeita com ramos bentos, depois o sacerdote e os ministros, finalmente a assembléia;
6. Narração da Paixão: os leitões se preparem bem e leiam com dignidade e concentração. Desse modo, o relato do drama da Paixão favorecerá a participação contemplativa e orante da assembléia. Distribuam-se as várias partes: do narrador, do povo e de Cristo (esta é reservada de preferência ao sacerdote). Eventualmente pode haver outro leitor que fala a parte de algum discípulo (por exemplo, Pedro) ou mesmo Pilatos.
7. Cantos apropriados: a primeira parte da celebração deve levar a assembléia a recorda a entrada de Jesus em Jerusalém, por isso o conteúdo dos cânticos é de aclamação a Cristo Rei. Os cantos para a procissão com ramos geralmente contêm a aclamação Hosana nas alturas! Bendito o que vem em nome do Senhor! Podem-se usar cantos populares, mantendo sempre o caráter de júbilo, ligados à entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Por isso, não é o momento para cânticos a nossa Senhora ou ao Espírito Santo.
Semana Santa, Preparar e Celebrar, Pe. Luiz Miguel Duarte, Paulus 2004
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DOMINGO DE RAMOS
“Saudemos com hosanas o Filho de Davi! Bendito o que nos vem em nome do Senhor! Jesus, rei de Israel, hosana nas alturas!” (Mt 21,9)
Meus irmãos e minhas irmãs,
O último domingo da Quaresma, chamado Domingo da Paixão, nos introduz no mistério grandioso da chamada Semana das Dores de Nossa Senhora. A liturgia resumia bem o que deveríamos retirar como síntese do grande retiro quaresmal: CONHECER, SOFRER E VIVER JESUS CRISTO. Conhecer e aderir a nossa fé em Jesus Cristo. Sofrer como Jesus sofreu por nós, um sofrimento incruento, que foi até o grande final de ter que morrer na cruz pela Salvação de todo o gênero humano. E, mais do que tudo isso, conhecendo e sofrendo, todos somos convidados a viver em Jesus Cristo com a vitória do pecado, com a vitória da morte, anunciando a ressurreição com a vida eterna em Deus Trindade.
Meus irmãos,
A leitura da entrada de Jesus em Jerusalém e da Paixão segundo o evangelista Marcos, neste ano, enseja-nos a meditação da cristologia deste Evangelista. Jesus é mais do que o Filho de Davi. Ele é o filho querido de Deus, o “servo” que, em obediência ao incansável amor do Pai para com os homens, dá sua vida, realizando em plenitude o que prefigurou o servo fiel em Isaías 52-53, no tempo do exílio. Mas, como Filho de Deus, ele é também o Filho do Homem, portador de plenos poderes escatológicos.
A condenação de Jesus sob falsas alegações religiosas e políticas significa o primeiro passo para a sua vinda gloriosa e o juízo sobre o mundo, anunciando imediatamente antes da sua paixão. É a dispersão, prelúdio da reunião do rebanho pelo pastor de todos os tempos, depois da ressurreição, início do tempo final, prelúdio da vinda definitiva.
O domingo de hoje abre solenemente as festividades da Semana Santa ou, aqui em Minas, chamada de Semana Maior dos Mistérios do Senhor Jesus. Uma semana em que a sagrada liturgia católica vive na maior profundidade possível à paixão, morte e ressurreição do nosso Salvador.
A semana culmina com a Páscoa, que quer dizer passagem. Passagem da morte para a vida eterna. Embora celebrando a paixão e morte, nossos olhos estão fixos na ressurreição do Autor da Vida, como Pedro chamou a Jesus.
A missa de hoje tem dois momentos. Um inicial em que são bentos os ramos, compondo a bênção e a procissão solene com os ramos. A leitura desse primeiro momento (Mc 11,1-10) conta sobre a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Nesse ano se lê o Evangelho de Marcos. A procissão nos recorda a vitória de Jesus sobre a morte e a nossa vitória sobre a maldade e a destruição eterna. As palmas lembram que renasceram sobre a maldade e a destruição eterna. As palmas lembram que renasceram acordadas pelo sangue derramado pelo Senhor Jesus. A mesma lembrança nos devem trazer as palmas bentas, quando colocadas na cabeceira de nossa cama ou na sala de estar, ou sob o madeiro de nossos crucifixos.
Meus irmãos e Minhas irmãs,
O texto da Paixão narrado por Marcos (Mc 14,1-15,47), no segundo momento desta celebração, é o mais antigo relato deste episódio. O evangelista coloca que Jesus está plenamente consciente de sua morte, entretanto, não comentando detalhes e pormenores. Marcos quer narrar o desfecho final: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus”. Na frase do centurião romano está todo o dogma de nossa fé católica e apostólica: “Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1).
As duas naturezas de Jesus não se separam no agir, a ponto de devermos dizer que o Cristo-Deus-Homem padeceu a morte na cruz; o Cristo-Homem-Deus nos salvou. Por isso, “ver-me-eis assentado à direita do poder de Deus, vindo sobre as nuvens do céu” (Mc 14,62). Assentar-se à direita e vir sobre as nuvens são expressões bíblicas que afirmam que Jesus tem poderes divinos, permanece como Deus, presente e ativo no mundo, único juiz de todas as criaturas.
Meus irmãos,
Marcos coloca em relevo todos os passos de Jesus e a manifestação da glória de Deus. Cristo agonizante luta com vontade lúcida, abandonado por todos os amigos. É a convergência de todos os corações, anunciando a liberdade plena, julgado pelos romanos e judeus, é o juiz supremo. Pura contradição aos olhos humanos, o que nos leva a refletir: “apresentando-se como simples homem, humilhou-se, fez-se obediente até a morte e morte de cruz.. Por isso Deus o exaltou e deu-lhe um nome acima de todo nome... e diante dele dobrem-se todos os joelhos” (Fl 2,6-11).
Hoje nós devemos refletir sobre o protagonismo de Judas Iscariotes e de Simão Pedro. O primeiro porque entregou Jesus e o segundo, constituído Pedra angular de nossa Igreja, o renegou por três vezes. Judas e Pedro representam as atitudes dos homens e mulheres de dois mil anos atrás e de hoje. Ambos eram apóstolos, tomavam refeição na mesma mesa com Jesus, companheiros de três anos de profícua caminhada. Tudo igualzinho a nós outros. Ambos experimentaram do poder milagroso de Jesus. Na verdade, traímos como Judas e renegamos como Pedro e muitas vezes não conseguimos explicar para nós mesmos as nossas traições. Como não conseguimos explicar o comportamento de Judas e a fraqueza de Pedro.
Não saberia dizer qual dos dois traiu o divino Mestre de maneira mais infame. Judas traiu por decepção e ganância; Pedro, por medo e por orgulho. Cada um de nós traz dentro de nosso coração essas quatro más qualidades: decepção, ganância, medo e orgulho. A diferença está nas lágrimas de arrependimento e na conversão sincera.
Outro protagonista da Paixão de Nosso Senhor é Pôncio Pilatos. Homem frio, calculista, que odiava os judeus, muito dado à violência e à tortura, porém reconhece a inocência de Jesus, mas lava as suas mãos, mandando açoitar Jesus e soltar Barrabás. Político, agiu como os políticos, da pior política.
Quantas e quantas vezes acontecem gestos semelhantes! Para defender a própria carreira, a própria posição, sacrificamos a justiça. A mesma injustiça de Pilatos é repetida a todos os momentos pelos políticos e pelos homens simples. Assim, todos estamos ativos na crucificação do Senhor. Como Pilatos ou como os Apóstolos: ausentes.
Meus irmãos,
Hoje é um domingo em que poderíamos chamá-lo de domingo de Jesus pobre e sofredor. Este domingo é o dia especial da fraternidade, dentro da Campanha da CNBB, sobretudo porque hoje fazemos a Coleta da Fraternidade. Esse é o gesto mais simples que podemos fazer hoje, como um ato de solidariedade para com os milhares de vítimas da violência atendidas pelos mais diversos serviços da Igreja, principalmente os trabalhos assistenciais desenvolvidos pelas nossas comunidades, paróquias, Dioceses, a fim de resgatar a dignidade e promover os que vivem a realidade da violência e da insegurança, em todos os níveis, sendo chamados pelo Cristo: “Levanta-te, vem para o meio!” (Mc 3,3).
O dinheiro dessa coleta nacional ampliará e deverá melhorar muito o atendimento a esses nossos irmãos, injustamente condenados à exclusão da violência, do ódio, do medo, da insegurança, do fechamento em vistas da violência reinante, enfim, a uma cruz pesada que lhes roubam a alegria de chegar ao termo da vida com um mínimo de dignidade. A eles Cristo também se faz solidário e nos apela, hoje, a sairmos do comodismo e nos convertermos a uma nova prática, baseada no serviço, no despojamento de nós mesmos, no dom do amor sem reservas.
Está aberta, pois, a semana da conversão e da mudança de vida. O Código de Direito Canônico determina que a forma ordinária de confissão é a confissão auricular, ou seja, a confissão pessoal. Por isso, cada um faça o máximo de procurar a reconciliação com Deus e com a comunidade com um bom exame de consciência e uma perfeita confissão. Enfim, vivamos a paixão para cantar as alegrias da ressurreição. Amém!
Por: Padre Wagner Augusto Portugal
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