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HOMILIAS PARA O

PRÓXIMO DOMINGO


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sábado, 30 de julho de 2011

A MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES

 

HOMILIAS PARA O

 PRÓXIMO DOMINGO

31 DE JULHO – 2011

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Comentários – Prof. Fernando

Introdução

Evangelho - Mt 14,13-21

 


"Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão..." Jesus multiplicou os pães porque Ele tinha poder para fazer isto, e também por que tinha compaixão dos pobres e oprimidos, dos doentes que não contavam com um bom serviço de assistência médico-hospitalar, e condições dignas de higiene.

"E os que haviam comido eram mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças."
            No tempo de Jesus, não se contavam as mulheres as crianças, ou seja, elas eram desvalorizadas socialmente. Eram desprezadas, discriminadas, assim como o era os pobres, os estrangeiros, e as viúvas, o os samaritanos.  E essa discriminação partia daqueles que se mostravam como puros, santos e seguidores da Lei de Moisés.

            E nós? Como tratamos ou consideramos as nossas mulheres? Será que depositamos total confiança nelas quando estão na direção de um ônibus? Confiamos na mulher quando se trata de uma médica?

Já ouvi um amigo dizer: Vai lavar roupa, mulher!  Ao ver um comercial de televisão, que mostrava uma arquiteta. Conheço uma professora que só vai ao dentista, e nunca vai à dentista. Pois não "confia no seu taco", diz ela. Também fiquei sabendo que o filho de um empresário muito rico encheu os dois tanques: O do carro com gasolina podium, e o dele, com vodka. E saiu na madrugada pisando fundo e acidentou-se, obtendo hematoma no crânio.  O pai que estava viajando, ao receber a triste notícia, ficou muito irritado ao saber que o seu filho estava internado, sob os cuidados de uma médica neurologista.  Tinha que ser uma médica? Com tantos médicos amigos da família? Bradou ele pelo telefone! Percebeu a discriminação e a falta de confiança na capacidade da mulher como profissional?

            Quanto às crianças, podemos dizer que nos nossos dias elas não são discriminadas como nos tempos de Jesus. Porém sofrem de outros males ou pecados sociais, por nossa culpa, nossa tão grande culpa.

Quantas crianças que têm de pedir esmola para o sustento dos pais? Quantas crianças que são usadas para pedir esmolas para alguns adultos malandros, preguiçosos e mal intencionados? Quantas crianças que são usadas para cometer crimes por causa da impunidade garantida pelo Estatuto do Menor e do adolescente?  Quantas crianças que se prostituem por um prato de comida por esse mundo afora?   Quantas crianças que deveriam estar na escola e não estão, ou porque moram longe da escola, ou por que não existem escolas, ou porque mesmo tendo escola elas têm de trabalhar logo cedo? 

É aí que ouvimos dizer nos tempos de eleições: O lugar de criança é na escola. O lugar de bandido é na cadeia e o lugar do cidadão trabalhador é em casa ou na rua.  São apenas promessas. Pois continuamos vivendo encarcerados em nossas próprias casas por grades, cercas elétricas, portões altos, cães, alarmes, câmeras, seguranças, enquanto que os bandidos, muitas vezes crianças, estão soltos, barbarizando as vidas de quem precisa se aventurar nas ruas em busca do seu sustento. Eles estão soltos e nós estamos enjaulados. Ainda mais agora com essa lei que foi aprovada, a qual irá colocar mais bandidos soltos nas ruas. Sinceramente, por isso não esperávamos que fosse acontecer nunca. Lamentável decisão com relação à segurança social. Está da hora de fazermos umas passeatas exigindo a revogação dessa lei, pois a nossa vida poderá se tornar um verdadeiro inferno, mais do que já está. Pois mesmo com todo esse aparato de segurança moderna, as nossas residências são invadidas freqüentemente.

            Ainda bem que contamos com a proteção de Deus. Jesus nos disse para não nos preocuparmos com o dia de amanhã, mais, porém Ele também nos disse para sermos prudentes como as serpentes, e para que não enfrentássemos os malvados. Com isso entendemos que devemos depositar total confiança em Deus, rezar bastante principalmente nas horas difíceis da vida, porém é nosso dever não nos expor ao perigo, evitar as ocasiões de perigo, assim como temos o direito à proteção pública.

Que Deus nos proteja hoje de todos os males passados presente e futuros: de assaltos, seqüestros, estupros, do pecado e de toda violência. Amém.

Bom domingo, Sal.

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 Agradeçamos a vida á Deus e a Ele oferecer em favor do irmão.

                                        Neste Evangelho Jesus nos dá uma grande lição de solidariedade humana, quando rejeitou a idéia dos Seus discípulos para que "despedisse as multidões". Quantas vezes nós queremos nos ver livres dos problemas e também "despedimos" as pessoas porque elas são empecilhos à nossa missão, à nossa caminhada. As pessoas vêm famintas, precisando da nossa ajuda e nós fazemos vista grossa às suas dificuldades, achando que não somos capazes de ajudá-las porque temos muito pouco tempo ou mesmo porque nos achamos pequenos e limitados. Jesus diz hoje á nós também: "Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer! " O Senhor nos manda sentar para que possamos parar e refletir sobre a nossa vida, partilhando e dividindo com as outras pessoas os nossos planos e sonhos.

                               Tudo isso, dentro da perspectiva de Deus e à luz da Sua Palavra e dos Seus ensinamentos. Hoje também, como ontem, há muita relva, isto é, espaço, ocasião, oportunidade para que, reunidos, nós possamos descobrir os nossos dons, talentos, aptidões, riquezas e bens espirituais, que são os nossos cinco pães e dois peixes. Ao tomar os pães e os peixes nas mãos e dar graças ao Pai, Jesus nos deu o exemplo de como poderemos fazer aumentar os nossos talentos. Trazemos primeiramente, a vida para agradecer a Deus e a Ele oferecer em favor do irmão.

                       Além disso, temos a doar saúde, paz, alegria, juventude e a nossa capacidade de olhar, de sorrir, de cantar, de amar, de sonhar e de desejar. Mesmo que na nossa vida seja noite e estejamos caminhando no deserto Deus abençoa a nossa iniciativa de ajudar a quem precisa de nós. Reflitamos: – Você também tem propensão a eliminar da sua frente aquelas pessoas que lhe "dão trabalho"? – Do que você dispõe para alimentar a multidão que procura pão? – A quem Jesus manda hoje você oferecer o pão da Palavra? – Você tem sentado com as pessoas para partilhar a sua vida? – Você tem colocado nas mãos do Senhor os seus talentos e os seus dons? – Mesmo que esteja vivendo algum momento de deserto veja se há alguém perto precisando de você!

Amém.

Abraço carinhoso da professora

Maria Regina

 

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Domingo – 31/07/2011                                     Gilberto Silva

 

Mt 14, 13-21

 

...vendo Jesus essa numerosa multidão, moveu-se de compaixão por ela....

 

 

Caríssimos irmãos e irmãs,

 

 

Primeiramente não nos compete o julgamento sobre Herodes, se foi por medo, covardia e ou mesmo falta de consciência, que ele para cumprir a sua palavra, veio a matar e livrar-se daquele incômodo que representava João Batista ao seu reinado. Exatamente, ele, João que tantas vezes o orientava e advertia sobre os seus desmandos e mal tratos, numa tentativa de fazê-lo buscar a conversão de seus pecados.

Mesmo tendo ciência de que poderia haver uma rebelião, pois quando se mata um pastor, se dispersa as ovelhas e elas podem partir para cima daquele que a assusta, Herodes não titubeou ao entregar a cabeça de João em uma bandeja, afim de obedecer aos seus desejos carnais.

Ao ser noticiado da morte do seu primo, João Batista – o profeta, Jesus sentiu uma profunda dor por esta perda tão singular, pois foi ele, João, o primeiro a manifestar a presença do Filho de Deus na Terra ainda no ventre de sua mãe, Isabel.

Foi ele também, que ia a frente de Jesus preparando e aplainando o caminho, advertindo a todos para um processo de conversão e a chegada do Reino dos Céus, batizando a todos que se arrependiam dos seus pecados. Justamente por causa destes batismos, que adquiriu o nome de Batista, cumprindo-se a escritura.

Jesus ainda sentindo esta perda, viu a multidão e comoveu-se com ela, pois a mesma acabava de perder o seu profeta, o primeiro do novo testamento. Assim mesmo, com o coração dilacerado pela dor, sentiu a compaixão por eles e saiu a curar todos os seus enfermos e fragilizados irmãos, ali mesmo, à beira do mar.

Caríssimos, irmãos e irmãs, o amor de Jesus por nós, pessoas frágeis e pecadoras, é insondável. Os discípulos embora preocupados, pois era tarde e não havia víveres disponíveis para todos, alerta ao Senhor para que Ele dispersasse a multidão. Haviam se esquecido que estavam na presença do Deus vivo, o Messias. Não se recordavam do primeiro sinal de Jesus, nas Bodas de Canaã, onde Ele transformou a água em vinho, multiplicando-a em várias talhas de 100 litros cada.

Então respondem ao Senhor que para alimentá-los havia tão somente, 5 pães e 2 peixes.

Para Jesus, tudo é possível, pois Ele é o Deus do infinito. Jesus não os pergunta o quanto havia de alimento ou quanto eram todos os comensais naquela multidão. Ele transforma tudo o que abençoa.

E nós somos um povo abençoado por Ele, não é verdade? Portanto, o mínimo exigido de nós é FÉ. Se a temos, pelas bênçãos de Jesus, multiplicar-se-á nossas esperanças, alegrias e todos os sortilégios.

Quando recebemos o Pão eucarístico, o Corpo e Sangue do Cordeiro, estamos também recebendo o seu DNA espiritual. Por isso necessitamos buscá-Lo continuamente em nossas missas, especialmente as de domingo, como a de hoje.

 

Que o Corpo e Sangue de Cristo seja o nosso sustento.

 

Gilberto Silva



                      Gilberto Silva
      "Meu Senhor e meu Deus, refúgio e fortaleza"

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Vós mesmos dai-lhes de comer - Sal

Ano A - Dia: 31/07/2011

Mt 14,13-21

            Jesus teve compaixão daquela gente sofrida, e curou a todos que pediam o seu socorro.  Será que temos compaixão daqueles que nos pedem?  Daqueles que não tem onde morar, o que comer, o que vestir, e o pior, onde fazer suas excreções e tomar um banho como o fazemos diariamente?

            A semana passada presenciei de dentro do ônibus, uma cena muito triste e desumana. Parado no sinal vermelho, o ônibus estava diante de uma farmácia, onde se encontravam três rapazes e uma mulher. Eles tinham receitas nas mãos e pediam ajuda para comprar remédio para as pessoas que  passavam na calçada.  De repente vinha  dois homens conversando, e foram abordados pelos pedintes, os quais se colocaram repentinamente na sua frente. Os dois homens reagiram apressadamente, de forma agressiva. Acho que pensaram que se tratava de um assalto, pelo visual dos rapazes, e deram uma porção de socos e pontapés neles, gritando: Vagabundos! Parasitas! Vão trabalhar!

            O ônibus começou a andar, e eu gritei de lá de dentro para eles: Vocês acabaram de bater em Jesus!  Um deles me chamou para apanhar também! O outro me fez um gesto que eu não posso falar aqui.  Mas o importante é que eu tive a oportunidade de falar-lhes a verdade, a qual eles não perceberam ou não entenderam nada. Mas umas quatro pessoas do ônibus concordaram comigo. Um dos homens do ônibus até pediu para o motorista abrir a porta que ele ia descer. Acho que iria bater naqueles dois. Porém, o motorista não abriu a porta, pois já havia acelerando.   

            Jesus teve compaixão porque Ele era a bondade infinita. Assim Ele tem compaixão de nós, sabe que somos fracos, pecadores, muitos de nós são até  viciados, atentados, pressionados pelas necessidades, e portanto coagidos acometer certos pecados. 

            Precisamos imitar Jesus sendo mais humanos e tendo compaixão dos nossos irmãos que sofrem. Ajudando-os em suas dificuldades, principalmente aqueles que são deficientes físicos e mentais. Pois não sabemos do dia de amanhã. Não sabemos se estaremos em situação igual ou semelhante a deles.

No Evangelho de hoje, Jesus, além de dar mais uma demonstração do seu infinito poder, nos ensina a sermos caridosos e termos compaixão dos que sofrem, e também nos ensina a não desperdiçar, recomendando aos discípulos que recolhessem as sobras, ao contrário do que faz o mundo de hoje, que para incentivar o consumo, nos incita a usar os produtos descartáveis e em seguida jogar fora.

Sal.

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O milagre da partilha dos bens e do amor de Deus

As leituras de hoje testemunham o amor de Deus e a esperança de um mundo novo. O profeta Isaías, de um lado, e Paulo, do outro, são unânimes em testemunhar o amor de Deus. Quem tem fome vai comer sem pagar. Em Cristo Jesus nada nos separará do amor de Deus. Ele, o Filho de Deus, passa pelo mundo curando os abatidos pelo desânimo e pelo sofrimento, ensinando a partilha, a divisão dos bens. Multiplicar cinco pães e dois peixes, mais do que um ato mágico, é sinal evidente de que, onde há partilha, ninguém passa necessidade.

1ª leitura (Is. 55,1-3)

Vinde comer sem pagar!

A primeira leitura de hoje faz parte dos capítulos 40 a 55 do livro de Isaías, também chamado de Segundo Isaías, por se tratar de um profeta diferente daquele dos capítulos 1 a 39. Sendo grande teólogo e poeta, o Segundo Isaías atuou, aproximadamente, entre 553 e 539 a.C., época do declínio do império neo-babilônico e do surgimento da Pérsia como nova potência (cf. Faria, 2006, p. 68-69). As lideranças do povo de Deus viviam exiladas na Babilônia, atual Iraque. Sabedor das dificuldades, o Segundo Isaías alimentava no povo a esperança de um novo tempo. A sua solução, profetizava, está em Ciro, rei da Pérsia, que seria o instrumento de Deus para libertar o seu povo (45,1-8; 48,12-15) da dominação babilônica. Babilônia cairia (46). Os pagãos iriam se converter ao Senhor (42,1-4.6; 45,1-16.20-25; 49,6; 55,3-5). Jerusalém seria libertada (52,1-12).

Em meio a forte onda de pessimismo, crise de fé e de esperança entre os exilados (40,27; 49,14), o Segundo Isaías torna-se o "cantor do retorno do exílio", do "novo êxodo". Ele fundamentou sua esperança no retorno à terra da promessa. O seu projeto era real. Ciro seria a salvação do povo. Sonhar com um "novo tempo" era preciso (55). Essa era a promessa de Deus (43,13; 41,10; 44,6; 48,12). E foi nesse contexto que ele sonhou alto: "Todos que tendes sede, vinde à água. Vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; comprai, sem dinheiro e sem pagar, vinho e leite" (v. 1). Imagine gente faminta, sofrendo de exílio, e alguém gritando essas palavras na rua. Parece irreal, mas foram essas palavras que alimentaram a esperança no povo exilado. Não tardou muito e a libertação chegou. O povo voltou para a sua pátria, Israel, e recomeçou a vida com novos projetos. O sonho alimentou a esperança que os manteve no caminho, na aliança, outrora feita com a casa de Davi.

Evangelho (Mt 14,13-21)

Comei partilhando o que tendes e encontrareis a felicidade!

O nexo da primeira leitura com o evangelho é evidente. Jesus, tendo sido informado da morte de João Batista, seu primo e precursor, vai rezar num lugar deserto. As multidões o seguem. Movido de compaixão por elas, ele cura os doentes. O povo não quer ir embora. Os discípulos demonstram preocupação com a fome do povo. Jesus ordena dar-lhes de comer. Mas como, se eles tinham somente cinco pães e dois peixes? Jesus, então, fez a multidão se assentar na grama e abençoou os pães e peixes, que se transformaram em tantos outros e alimentaram 5 mil homens, sem contar mulheres e crianças. E ainda sobraram 12 cestos de pedaços.

Como na primeira leitura, o povo está desanimado e sem rumo. Jesus torna-se a luz que aponta o caminho. Como Ciro, da Pérsia, ele não é rei, mas é o salvador dos pobres e famintos.

Caso tomemos as palavras do evangelho e as leiamos de modo simplista, haveremos de entender que se trata de uma multiplicação fabulosa de Jesus. Não é bem assim. O profeta Eliseu também havia feito o mesmo (Rs 4,42-44). A narrativa tem dois sentidos.

a) Sentido simbólico. O texto fala de 5 pães, 2 peixes, 12 cestos e 5 mil homens. O número 5 lembra a Torá, os cinco primeiros livros da Bíblia, que devem ser seguidos por todo judeu. Por analogia se fala em 5 mil homens, os reais seguidores da Lei. Mulheres e crianças não eram consideradas. O peixe lembra a presença salvadora de Jesus. Mais tarde, ele tornar-se-ia o símbolo dos cristãos diante da perseguição romana. Por onde passavam, eles desenhavam um peixe, cujo nome em grego, IXTUS, como um acróstico, forma as iniciais de Iesùs Xristòs Theòu Uiòs Soteèr, que significa "Jesus Cristo Filho de Deus Salvador". O número 12 adquiriu destaque entre os judeus em virtude da divisão do ano em 12 meses e simboliza a totalidade ou plenitude, assim como as 12 tribos do povo eleito, Israel-Palestina, e o povo dos cristãos, os 12 apóstolos (cf. Faria, 2010c, p. 56-57). Jesus vai para o deserto, lugar da passagem e da organização do povo que vinha do Egito, depois de mais de 400 anos de opressão. No evangelho, o povo sofrido vem das cidades, lugar da exploração social e dos banquetes dos grandes, como o de Herodes, ocasião em que a cabeça de João Batista foi pedida. O povo senta-se na grama. Sentar na visão bíblica é sinal de soberania e poder. Daí o substantivo cátedra, catedrático e catedral. O pão distribuído recorda o maná que alimentou o povo no deserto e, mais tarde, a eucaristia como corpo real de Cristo (Mt 14,19; 26,26; 1Cor 11,23).

b) Sentido real. A multiplicação dos pães quer nos ensinar que, se partilhamos, ninguém mais vai ter necessidade. Nisso reside o milagre. A comunidade é chamada a não ficar parada, mas ir além. Deus não quer a pobreza, mas a igualdade social. Um dos grandes males que assolam o ser humano é o desejo incontrolável de ter para guardar e ostentar o poder da posse. A felicidade não está no ter, mas no ser e nas relações. O livro do Eclesiastes nos ensina que felicidade é comer e beber, desfrutando do produto do próprio trabalho (3,13).

2 leitura (Rm. 8,35.37-39)

Quem nos separará do amor de Deus

Se nas duas leituras anteriores foram ressaltadas situações de dificuldades enfrentadas por uma comunidade exilada e outra oprimida em sua própria terra pelos romanos, ambas sofrendo de fome e dificuldades econômicas, esta leitura parte de uma experiência pessoal de Paulo, que, após tudo sofrer para testemunhar a sua fé em Jesus ressuscitado, pergunta retoricamente: "Quem nos separará do amor de Cristo?" (v. 35). E é ele mesmo quem responde: nada. Nem fome, morte, perseguição, espada, principados etc. Nada nos separará do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor (v. 39). A salvação é um dom gratuito de Deus para a humanidade. Ademais, Paulo acrescenta o substantivo espada aos muitos outros fatores elencados por ele em outros escritos (1Ts. 3,7; 1Cor. 12,7-10; Fl. 1,12-14. 19-25; 2,17; Cl. 1,24) para demonstrar a adesão a Cristo. A espada romana é a mesma que, mais tarde, lhe decepará a cabeça, fazendo-o mártir em Roma pelo testemunho da fé em Cristo. Por ironia, trata-se de uma carta dirigida aos romanos. Outro detalhe importante nos fatores elencados por Paulo é a crença de muitos em entidades do além, em poderes que podem influenciar nossa vida. Muitos seguiam esse caminho. Paulo se diz convencido de que nada disso nos pode afastar do amor salvador e misericordioso de Deus.

PISTAS PARA REFLEXÃO

1. Demonstrar para a comunidade os sentidos simbólico e real da multiplicação dos pães. Não se trata de simples milagre ou mágica realizada por Jesus. E nem mesmo de um milagre mágico religioso que muitas Igrejas saem pregando, iludindo o povo com a multiplicação de seu dinheiro. Não se trata de uma teologia da prosperidade econômica em nome de Deus. Muito pelo contrário, trata-se do milagre da distribuição e da partilha dos bens da criação, redistribuição de renda etc.

2. Chamar a atenção da comunidade para o fato de a eucaristia ser o sinal dessa presença real de partilha do pão e da vida do Ressuscitado, Jesus de Nazaré. No entanto, a comunidade, assim como a multidão do evangelho e o povo do deserto, não pode ficar parada após o comer nem esperar que outros manás caiam do céu. É preciso caminhar sempre.

frei Jacir de Freitas Faria, ofm

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O Dom do Pão

Significativamente, depois da abundância da palavra de Cristo na pregação, o evangelho de Mt e a liturgia nos confrontam com a fartura de comida, na multiplicação dos pães. A 1ª leitura traz o convite de Deus para nos saciarmos com o dom de sua instrução, na Lei e no culto verdadeiro, dom que não exige dinheiro para comprar como exigem as idolatrias do mundo.

Neste sentido, na multiplicação dos pães segundo Mt (evangelho), não é a façanha de Jesus que está no centro da atenção, mas sua própria pessoa: ele é o Messias e Enviado do Pai. Depois de sua farta pregação na campanha da Galiléia (Mt. 5-13), terminada por uma inquietante nota a respeito do juízo (Mt. 13,49s), defrontamo-nos como mistério da incredulidade em várias formas: na pátria de Jesus (13,53-58) e na figura de Herodes, intrigado por Jesus, julgando-o João Batista redivivo (Mt 14,1-2) – pois o tinha mandado executar (14,3-12).

Diante dessa incredulidade, Jesus muda de área, vai para o deserto (14,13), o lugar preferido para Deus encontrar sua gente. Aí afluem as multidões de pobres e humildes, os prediletos do Reino, e o Enviado de Deus é movido por compaixão ("graça", hésed, a qualidade divina por excelência; Mt 14,14) e cura todos os seus enfermos. Quando, ao entardecer, chega a hora da refeição, Jesus realiza o que a 1ª leitura prefigurou: o banquete que não exige riqueza. Aos discípulos, que querem mandar a turma embora, ele diz que eles mesmos lhes dêem de comer - implicando-os assim, misteriosamente, na sua missão (como ele já fizera quando os chamou, cf. Mt. 10 1; 11° dom. do T.C.): nas suas mãos, enquanto distribuem, multiplica-se a humilde comida de uns pãezinhos e peixes até uma fartura messiânica.

A "compaixão", a cura do povo, o deserto, a semelhança com o alimento que Deus aí deu aos antigos israelitas, o convite de Is 55 para ver nisto uma nova aliança: eis alguns elementos que caracterizam esta cena como uma manifestação messiânica de Jesus. Para os cristãos imbuídos do espírito da liturgia é uma prefiguração da Ceia da Nova Aliança.

As orações da presente liturgia, como também o canto da comunhão, sublinham o significado escatológico: a alimentação que recebemos aqui é recriação para a vida eterna. O salmo responsorial sublinha o carinho de Deus, que alimenta suas criaturas.

A 2ª leitura é a conclusão da primeira parte de Rm: a exposição sobre a salvação pela graça de Deus e a fé em Jesus Cristo. Paulo termina sua exposição por uma efusiva proclamação de fé e confiança na obra de Deus em Jesus Cristo. Se Deus é conosco (pois nos deu seu próprio Filho), quem será contra nós, quem nos condenará (Rm. 8,31-34)? "Quem nos separará do amor de Cristo?", inicia a leitura de hoje (Rm. 8,35).

"Amor de Cristo" significa o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo (8,39), portanto, um amor que vence o mundo (8,37; cf. 1Jo 5, 1-5). Não se trata de amor sentimental. Paulo trata de expressar o mesmo que escreve João: "Nós acreditamos no amor" (1Jo 4,16). Paulo está polemizando com os que situam a salvação em outras coisas que não o amor de Deus manifestado em Jesus Cristo: o legalismo farisaico, a cultura helenística e tantos outros pretensos caminhos da salvação.

Não, exclama Paulo com paixão: o que nos salvou é o amor que Deus nos mostrou em Jesus Cristo (cf. Rm 5,1-l1), e este amor, não o largamos, ou melhor, ele não nos larga! Pois esse amor não é "criatura" (falta no elenco das criaturas nos v. 38-39a, que inclui até os anjos), mas graça de Deus mesmo.

Assim, a liturgia de hoje nos convida a ler no sinal do pão uma revelação da "compaixão", do terno amor de Deus para conosco, que se revelou plenamente no dom de seu filho, do qual o pão também se tomou o sinal sacramental.

Para a práxis, uma sugestão a respeito do sentido messiânico (realização escatológica da vontade de Deus) do "multiplicar o pão": enfrentar o problema da fome, no espírito de Cristo (portanto, não por cálculo político mas por verdadeira "com-paixão"). Isso será certamente um sinal da presença de Deus e de seu Reino.

Johan Konings "Liturgia dominical"

1. O texto de hoje inicia dizendo que "quando soube da morte de João Batista, Jesus partiu e foi de barca para um lugar deserto e afastado" (v. 13a). Essa informação é importante porque associa o que virá ao que precedeu.

2. Vejamos o episódio anterior (Mt. 14,1-12). Herodes, no dia do seu aniversário, celebra um banquete com seus oficiais. O banquete de Herodes é um banquete de morte.

2.1. É o banquete dos poderosos (Herodes personifica o poder tirano) que buscam ter vida matando a esperança do povo, João Batista (cf. v. 5: "o povo considerava João Batista um profeta").

2.2. O banquete de Herodes e seus oficiais demonstra o que os poderosos entendem por vida e como garantem a vida para si.

2.3. A corte de Herodes é o lugar onde se decreta (por pressões, jogos de interesse e convenções), a morte das esperanças populares.

3. Diante disso Jesus se retira a um lugar deserto. A menção do deserto evoca o êxodo, onde nasceu a sociedade alternativa. A partir do deserto, Jesus irá inaugurar o mundo novo, dando vida ao povo (em vez de sufocá-la e eliminá-la). Vendo Jesus partir de barco, o povo sai das cidades e o segue por terra (v. 13b). Essa alusão à saída das cidades completa a idéia do êxodo: o povo se livra das cidades, onde impera o domínio de Herodes e de seu sistema explorador.

4. Encontro de Jesus com o povo: ao ver o povo, ele se compadece (=sofrer com quem sofre). Essa reação contrasta com a de Herodes que mata João Batista (esperança do povo). Jesus não tira a vida, antes a defende, curando os que estavam doentes (v. 14): gesto de devolver esperança e vida ao povo.

5. O tempo passou, entardeceu… e os discípulos sugerem que Jesus despeça o povo para ir comprar comida nos povoados (v. 15). Comprar significa voltar àquela sociedade que explorava o povo com suas leis econômicas, conservando-o na miséria e dependência. Jesus quer quebrar esse sistema de dependência. E diz: "eles não precisam ir embora. Vocês mesmos lhes dêem de comer!" (v. 16). Ao "comprar" se contrapõe o "dar". Esta é uma das idéias revolucionárias de Jesus e de quem segue o Mestre: encontrar formas alternativas capazes de quebrar os mecanismos de dependência das estruturas iníquas que mantêm o povo submisso e algemado.

6. Reação dos discípulos: "só temos aqui cinco pães e dois peixes" (v. 17). O v. 21 salienta a desproporção ao dizer que havia ali mais ou menos cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças (5 + 2= 7 x 5 mil!).

7. Jesus ordena que lhe tragam os pães e os peixes, e manda o povo sentar-se no chão para comer (v. 19a). Sentar para a refeição era gesto de pessoas livres. A partir desse momento o povo não será mais dependente e submisso. Jesus pega os cinco pães e os dois peixes – ergue os olhos ao céu – e pronuncia a bênção (v. 19b). Ele agradece a Deus o pão. Com esse gesto reconhece que o pão é dom de Deus, desvinculando-o das mãos dos poderosos e detentores do monopólio dos bens de primeira necessidade.

8. O alimento entra, assim, na esfera da gratuidade. Deus o concede gratuitamente e partilhá-lo é prolongar a gratuidade e generosidade divinas. Com isso o pão é libertado do "egoísmo humano", deixando de ser objeto de lucro e exploração para se tornar gesto de partilha e fraternidade, gesto gratuito por excelência. A gratuidade vem de Deus, por Jesus, e se prolonga na ação de partilha dos discípulos, que põem tudo à disposição (v. 19c).

9. O texto afirma que todos comeram e ficaram satisfeitos (v. 20a). Cumpre-se assim a bem-aventurança: "felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados" (5,6). Mais ainda! As sobras, doze cestos (número que recorda as doze tribos de Israel, isto é, todo o povo) estão a indicar que o verdadeiro milagre é a partilha, capaz de saciar um povo inteiro. O amor – traduzido na partilha de tudo – garante a abundância dos bens capaz de suprimir as desigualdades de uma sociedade injusta e gananciosa.

10. Podemos, assim, entender porque Jesus rejeitou a tentação de fazer um milagre num passe de mágica (cf. tentação de Jesus em Mt. 4,3). A solução para o problema da fome não está num milagre (econômico ou religioso), pois Jesus rejeitou esse tipo de solução, essa tentação. O verdadeiro milagre é o da distribuição e da partilha dos bens da criação. Esse "milagre" não é difícil nem impossível, pois os pobres e Jesus já o estão realizando.

11. O texto é também uma tênue referência eucarística (v. 19) enquanto gesto gratuito de Deus, enquanto refeição de um povo livre e libertado, capaz de saciar a todos. Lida dentro do contexto de hoje, a Eucaristia reveste-se da força do alimento libertador. Cabe perguntar: não é hora de redescobrir a Eucaristia como Memorial da libertação para uma nova sociedade, baseada na partilha e na solidariedade (e não vê-la como um simples rito)?

1ª leitura: Is. 55,1–3

12. Situação do povo. O povo está exilado na Babilônia (atual Iraque). Sua situação (conforme v. 1) é de carência absoluta (sede); de plena dependência econômica (sem dinheiro); de total ausência de bens básicos. É um povo que passa fome, que luta pela sobrevivência, sem condições de satisfazer as mínimas necessidades básicas. Enquanto isso, as elites vão estrangulando a população, mantendo e aumentando sua dependência.

13. Um profeta anônimo (o segundo Isaías) sai às ruas e imitando os vendedores ambulantes de água, cereais, vinho e leite, convoca o povo faminto, apresentando-lhe uma grande novidade (profeta da esperança de um novo tempo). Venham matar a sede, comprar sem ter dinheiro, comer sem pagar, beber vinho e leite à vontade! É o convite para os pobres ao banquete da vida e da abundância.

14. É o convite a se desfazer do jugo da dependência e submissão, a experimentar a gratuidade da libertação do fardo econômico dos poderosos exploradores. Continuar na dependência é gastar dinheiro com aquilo que não alimenta e desperdiçar o salário com alimento que não mata a fome (v. 2a).

15. QUEM é que oferece esse banquete da vida e da abundância, banquete gratuito, reservado aos pobres, sedentos, famintos e explorados? É Javé, que, por meio do profeta, suscita a memória da Aliança selada com Davi, o rei que favoreceu a vida em abundância para o povo (3b). Javé vai renovar os bons tempos de fartura porque seu pacto com o povo é uma Aliança eterna. Essa Aliança levará o povo de volta a seu país, "terra onde corre leite e mel", restabelecendo-o no seu chão, em paz e segurança.

16. O banquete é bem mais que simples refeição abundante de um só dia, depois do qual o povo voltará a amargar a fome, a sede e o exílio. É o banquete da vida em liberdade, da terra repartida, da moradia garantida, da saúde, da paz e bem-estar.

17. Com qual convicção o Segundo Isaías afirma isso? Ele tem coragem de proclamar essa boa notícia baseado em duas experiências: a do povo que sofre e clama e a experiência de Javé, o Deus da Aliança, o Deus libertador, que não fecha os ouvidos aos clamores do povo por vida e liberdade. Convidando o povo a escutar e prestar atenção (isto é, a fazer memória do Deus que liberta e salva), o profeta tem certeza de que a libertação não tardará, que a vida irá renascer: "Prestem muita atenção, e então vocês poderão comer bem, saborear pratos deliciosos e bem preparados! Escutem e venham a mim! Queiram ouvir-me e vocês terão a vida! (v. 2b).

18. A solução da situação do povo no exílio veio com Ciro, rei da Pérsia, que foi o instrumento de Deus para libertar o seu povo (45,1-8; 48,12-15) da dominação babilônica. Em meio a forte onda de pessimismo, crise de fé e de esperança entre os exilados (40,27; 49,14), o grande teólogo e profeta (o Segundo Isaías) torna-se o proclama- dor e cantor do novo êxodo. Ele fundamenta sua esperança no retorno à terra da promessa. Sonhar com "um novo tempo" era preciso (55). Essa era a promessa de Deus (43,13; 41,10; 44,6; 48,12).

19. Imagine proclamar a um povo faminto e exilado gritando pelas ruas um novo tempo. Parece irreal, mas foram essas palavras que alimentaram a esperança no povo exilado. Não tardou muito e a libertação chegou. O povo voltou à sua terra, Israel, e recomeçou a vida. O sonho alimentou a esperança que o manteve no caminho, na Aliança, outrora feita com a casa de Davi.

2ª leitura: Rm. 8,35.37–39

20. Desde o 15º domingo comum temos lido o capítulo 8 de Romanos. Paulo nos apresentou os dois princípios básicos para a vida do cristão: o Espírito que comunica a vida (vv. 1-13) e a filiação divina do cristão (vv. 14-30). Os demais versículos 31-39 são um hino ao amor de Deus manifestado na morte-ressurreição de Jesus e no fato de, mediante o evangelho e o batismo, adotar-nos como filhos seus.

21. Os versículos de hoje pertencem a esse hino. Eles nos comunicam a certeza de que o amor de Deus por nós é indestrutível, e preparam o cristão ao testemunho desse amor em meio à sociedade que hostiliza os seguidores de Jesus.

22. O texto pergunta: "quem nos separará do amor de Cristo?" (v. 35). Segue uma série de obstáculos (ou conseqüências) para quem se compromete com o projeto de Deus. São os mais variados modos com que a sociedade injusta persegue Paulo e os cristãos: tribulação, angústia, perseguição, fome, nudez, perigo, espada (v. 35b).

23. Há um crescendo que vai da tribulação ao perigo fatal, a morte pela espada.
- A primeira etapa (tribulação, angústia, perseguição) marca grande parte das viagens de Paulo. O anúncio do Evangelho acarretou-lhe sistematicamente perseguições por causa da Palavra.

- A segunda (fome, nudez) revela a situação de Paulo nas constantes prisões que enfrentou.

- A terceira (perigo, espada) aponta para a consciência do fim trágico: cedo ou tarde seu sangue será derramado.

24. Paulo escreve aos Romanos durante a terceira viagem, em Corinto, quando já se considerava prisioneiro do Senhor (2Cor. 11,23-28 traz um elenco maior de perigos que enfrentou).

25. Possuir o Espírito e ser filho de Deus acarreta uma luta constante. Ser cristão é estar em pleno campo de batalha, mas com consciência e atitude de vitorioso: "em tudo isso somos mais que vencedores (literalmente super vencedores), graças Àquele que nos amou" (v. 37). Não se trata de uma vitória futura e distante, mas de ser já vencedor em meio aos conflitos presentes e futuros. A razão disso é o amor de Deus que, em Cristo morto e ressuscitado, venceu definitivamente o poder hostil e injusto.

26. Os vv. 38-39 descrevem a consciência do cristão diante das forças hostis: a certeza de que nada nos poderá separar do amor de Deus. … nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os poderes celestiais, nem o presente, nem o futuro, nem as forças cósmicas, nem a altura, nem a profundidade, nem outra criatura qualquer…

- Vida-morte são dois extremos, e isso mostra que o amor tem força para vencer a morte e renovar a vida para sempre.

- Anjos e soberanias são categorias superiores: nenhuma força superior é capaz de vencer o amor presente.

- Presente-futuro são categorias temporais: não conseguirão anular esse amor.

- Forças, altura e profundidade são energias cósmicas misteriosas e hostis à pessoa: não poderão resistir diante do amor.

27. Paulo conclui: nada nem ninguém poderá nos separar do amor de Deus por nós, presente e manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor! (v. 39b).

R e f l e t i n d o

1. Multiplicar cinco pães e dois peixes, – mais do que um ato mágico – é o sinal evidente de que onde há partilha ninguém passa necessidade.

2. Jesus, ao saber da morte de João Batista, convida os discípulos e vai rezar num lugar deserto. Mas as multidões o seguem. Movido de compaixão por elas, ele cura os doentes. Já se faz tarde e o povo não quer ir embora. Os discípulos se preocupam com a fome do povo… mas não tem nenhuma solução, a não ser mandar embora (… e essa não era e nunca foi solução!).

3. Certamente o evangelista descreve o lugar afastado e deserto para recordar a saída dos hebreus do Egito para o deserto, a caminho da liberdade e da vida. Da mesma forma que o Senhor tirou os hebreus da dominação e opressão egípcia e os alimentou no deserto com o maná, assim agora, Jesus atrai o povo faminto explorado pelo Império Romano, por Herodes e a elite sacerdotal, para aí celebrar o banquete da vida e da abundância de alimento para todos (… enquanto isso, Herodes promove e celebra o banquete da morte).

4. Jesus não se esquiva da situação de fome do povo, ele toma os cinco pães e os dois peixes e, como pai de uma grande família que senta para partilhar os bens da vida, reza a bênção que todo chefe de família pronunciava antes da refeição. É um agradecimento pelo alimento destinado a ser partilhado entre todos, pois assim está previsto no projeto do Pai. Jesus não agradece aos discípulos, e sim Àquele que destinou o alimento para todos. Aos discípulos cabe a distribuição. De Jesus devem aprender outra maneira de entender e viver a vida a partir da ternura da acolhida.

5. Na multiplicação dos pães, Jesus envolveu os discípulos em sua atuação: são eles que devem dar de comer à multidão. Seu lanche é insuficiente, mas enquanto o repartem, Jesus faz com que seja até mais do que suficiente: "dai-lhes vós mesmos de comer…" Não devemos aguardar até que o pão caia do céu. Devemos começar a repartir o que temos (economia da partilha versus economia do monopólio e da capitalização). Assim falaremos do Reino através de nossas ações.

6. No Pai nosso, rezamos pedindo o "pão de cada dia". Tudo é dom de Deus, também essa coisa mais elementar. O amor de Deus seria questionável, se Deus não nos desse o necessário para viver. … Mas quem deve distribuir é a gente, somos nós. Nosso empenho pelo pão cotidiano de todos dá credibilidade ao Reino de Deus (no qual acreditamos e com o qual nos comprometemos).

7. A liturgia de hoje nos convida a ler no sinal do pão uma revelação da "compaixão", do amor terno, da ternura de Deus para conosco, que se revelou plenamente no dom de seu Filho, do qual o pão também se tornou o sinal sacramental.

8. Partir o pão sobre o altar, oferecer o cálice, são gestos simples e proféticos, mas não podem mais passar despercebidos ao exercício da nossa solidariedade. Se o pão da Eucaristia não nos remeter ao prato vazio dos necessitados, poderemos estar ainda celebrando indignamente a Ceia do Senhor.

9. Partilhar o alimento deveria ser sempre, para nós, um ato eucarístico. Sempre que partilhamos aquilo que garante a vida para todos, estamos de alguma forma, fazendo um gesto eucarístico. De acordo com Paulo, não seria escandaloso partilhar apenas o pão eucarístico sem partilhar "o pão nosso de cada dia"?

10. Se a Igreja prega a Palavra, cabe-lhe também realizar gestos proféticos. Existem muitos famintos para que se justifique um novo "sinal do pão", que realize por um exemplo material (concreto), algo do Reino anunciado por Jesus. Não podemos falar do amor de Deus, se não realizamos a justiça material (e vital) para a multidão, assim como "Jesus dela teve compaixão". A fome de Deus será sempre o mais importante, mas a fome do pão é o mais urgente. O pão material não é o dom último, mas é o "aperitivo do Reino". (… Por isso devemos cuidar que ele tenha o gostinho do Reino e não só o simples gosto material).

11. Deus tem uma proposta de liberdade e vida para todos os oprimidos de todos os tempos (I leit. e ev.), convidando-os a sair do exílio e da dependência dos que vivem a explorar o povo. Essa proposta nasce e cresce na partilha dos bens da criação. Quando partilhamos esses bens – terra, moradia, saúde, educação, comida – é possível saciar a todos e ainda sobrar. Quem toma consciência disso e age para esse fim torna-se profeta da esperança (I leit.) e missionário do mundo novo, enfrentando com consciência de vitorioso os obstáculos inerentes à vida (2ª leit.).

12. A Eucaristia, nesse sentido, é o memorial da vida nova inaugurada por Jesus. Celebrá-la é tomar consciência disso, fazendo tudo o que for possível para construir uma sociedade justa, fraterna e igualitária. Caberia talvez uma pergunta: qual a boa notícia que anunciamos aos milhares de pobres que freqüentam nossas celebrações? Como fazer (e o que fazer) para não frustrar suas esperanças?

13. Para completar podemos ver o sentido simbólico no texto.

O texto fala de 5 pães, 2 peixes, 12 cestos e 5 mil homens.

O número 5 lembra a Torá, a Lei, os cinco primeiros livros da Bíblia, que devem ser seguidos por todo judeu. Por analogia se fala em 5 mil homens, os reais seguidores da Lei.

O peixe lembra a presença salvadora de Jesus. Mais tarde tornar-se-ia símbolo dos cristãos na perseguição romana. A palavra peixe (em grego IXTUS) , como um acróstico, forma as iniciais de Iesùs Xristòs Theoù Uiòs Soteèr, que significa "Jesus Cristo Filho de Deus Salvador".

O número 12 (os doze meses do ano e as 12 tribos do povo eleito) simboliza a totalidade ou plenitude.

14. Propor algumas interrogações parecem pertinentes (será que são?):

14.1. Estamos tão habituados a falar de multiplicação dos pães que até nos esquecemos de partilhar o mesmo?

14.2. Hoje em dia é possível realizar o milagre dos pães? Ou isso sugere um sonho ingênuo? Não parece estranho (… e muito!) falar em partilhar em vez de comprar?

14.3. Por que Jesus, – em vez de agradecer aos donos dos peixes e dos pães e aos seus seguidores, – agradeceu a Deus? Quantas vezes em nossas igrejas agradecem-se aos homens do dinheiro e do poder por sua colaboração?
E por que não se agradece aos pobres e despossuídos? … Estaria isso de acordo com o jeito do Reino de Jesus Cristo?

14.4. Será que temos experiências de partilha em nossa vida para recordar? O que sentimos e o que aprendemos quando "alguma vez" (… quase por acaso… ) partilhamos? E isso já faz muito tempo?

14.5. Nossa comunidade ainda se serve da desculpa que só Jesus podia realizar o banquete da vida?

14.6. Por que a injustiça só produz o banquete da morte? Ainda hoje há banquetes de morte?

14.7. Nossa comunidade, alguma vez, já incomodou a sociedade e as autoridades ao sair em defesa dos pobres e excluídos?

14.8. Por que a grande maioria da população mundial vive na miséria e até morre de fome?

Nós acreditamos no amor. 1Jo 4,16

O amor de Deus manifestado em Jesus Cristo. Rm. 8, 39

O amor que nos salvou é o amor que Deus nos mostrou no seu Filho Jesus. Rm. 8, 37

prof. Ângelo Vitório Zambon

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Graça é justamente o que necessitamos

Jesus sente pena das pessoas que o seguem. Compadece-se deles. Atende os enfermos e dá de comer à multidão. Certamente não lhes oferece um suculento banquete. Apenas pão e pescado, mas todos ficam satisfeitos e ainda sobra. Uma vez mais o Evangelho nos apresenta Jesus oferecendo àqueles que o seguem vida, e vida plena. E o que é mais Importante, oferecendo-a gratuitamente.

Nisso Jesus se diferencia dos comerciantes do nosso mundo. Eles nada oferecem de graça. Tudo tem um preço, até mesmo quando a publicidade nos fala de brindes. Esses brindes nunca são gratuitos, nos os pagamos e muito bem. Esta é a primeira grande diferença entre o que nos oferece a nossa sociedade e aquilo que Jesus nos proporciona. O que Jesus nos oferece é sempre gratuito. Além disso, há outra diferença. Jesus nos oferece justamente aquilo de que necessitamos. Todos nós sabemos das grandes somas de dinheiro que gastamos inutilmente. Todos: os indivíduos, as famílias e a sociedade de urna maneira geral. Não podemos nos eximir dizendo que apenas os ricos fazem isso. De maneira sincera devemos aceitar que todos nós o fazemos. Apesar dos nossos poucos recursos, de fato não sabemos aproveitar e acabamos por gastar em coisas que não produzem fartura nem nos fazem sentir mais felizes e mais vivos.

Jesus nos indica onde devemos encontrar aquilo de que necessitamos para sermos felizes e, além disso, de maneira gratuita. Jesus se situa no oposto da nossa sociedade. Nela não apenas pagamos por tudo, mas, também acabamos comprando aquilo que não nos falta, mas o que outros querem que compremos. Por preços baratos, ou nem tanto, nos são oferecidos produtos que prometem felicidade. O que não nos dizem é que, uma vez usado o produto, retornaremos à mesma situação – ou pior – em que nos encontrávamos antes de adquiri-lo.

Jesus nos coloca diante do que é mais importante para nós. Não é necessário comprá-lo porque já o temos. Quando aprendermos a sentir com nossos irmãos e irmãs, a compartilharmos com eles o que possuímos então nossa vida se elevará e descobriremos a alegria do amor. O Reino se fará presente entre nós. Porque a felicidade não está em ter muitas coisas, mas sim na relação e no encontro prazeroso com os outros.

Seria bom refletir sobre a felicidade. Onde penso que se encontra a felicidade? Acredito que os bens materiais são o único meio necessário para alcançar a felicidade? Não seria mais acertado dizer que a encontro no amor e no relacionamento? Não me convida Jesus a participar da família de Deus? Não é exatamente nesse lugar que sou totalmente feliz?

Victor Hugo Oliveira

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Multiplicação dos pães

O Evangelho de hoje mostra Jesus num dos momentos em que se compadece do povo faminto e sedento, defende a vida e cura os que estão doentes.

O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes rememora a passagem em que Deus alimenta o Seu povo com o maná no deserto no Antigo Testamento. Aqui, Jesus, cumprindo plenamente as promessas de Deus, reúne e alimenta a multidão sofredora, realizando os sinais de um novo modo de vida que anuncia a Boa Notícia.

Compadecido daquela gente faminta que O acompanha e, ao ser indagado sobre como resolver o problema da fome, Jesus traz o desafio para a sua própria comunidade e transfere para Seus discípulos a responsabilidade de alimentar todo o povo: "Vocês é que têm de lhes dar de comer", referindo-se à responsabilidade que os cristãos têm com relação à comunidade Igreja, sobretudo no que diz respeito à partilha e à solidariedade.

Sentar para a refeição era comum para as pessoas livres, por isso Jesus pede para que todos se sentem, mostrando que Ele veio para libertar o homem de todo tipo de opressão.

Jesus pega os cinco pães e os dois peixes, ergue os olhos ao céu e pronuncia a bênção. Com esse gesto, Ele reconhece que o pão é dom de Deus e, sendo assim, o alimento entra na concepção da gratuidade, porque Deus o concede gratuitamente, e partilhá-lo é prolongar essa gratuidade e generosidade divinas. A gratuidade vem de Deus, por Jesus, e dá continuidade na ação de partilha dos discípulos, que devem por tudo o que têm à disposição da comunidade.

O número cinco para os judeus significa a Palavra de Deus, porque se refere ao Pentateuco, os cinco primeiros livros da Bíblia; e o número dois remete à lembrança das duas tábuas da Lei que são os dez mandamentos que Deus deu para Moisés apresentar ao povo de Israel. Por isso, os cinco pães e os dois peixes do Evangelho têm um significado muito bonito que quer dizer: todo aquele que ouve a Palavra de Deus e a segue, e obedece aos seus mandamentos, não têm fome, porque Deus se faz presente na sua vida.

Ser cristão é mais do que fazer oração, é também ter ação, saber partir e repartir.

Em uma comunidade onde há tantos famintos, a fome de Deus é muito importante e deve ser saciada, sem que fique de lado a fome de pão que é urgente.

O relato possui também um tom litúrgico quando relembra o momento da instituição da Eucaristia: "ao anoitecer"; "pronunciou a benção"; "o partiu e o deu aos seus discípulos".

A Eucaristia é o Sacramento que memoriza a presença de Jesus, lembrando continuamente a missão que os cristãos são chamados.

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Dêem-lhes de comer!

A ordem dada aos discípulos - "Dêem-lhes de comer!" - pode ter-lhes soado como uma ironia. Havia condições de saciar uma multidão, reunida num lugar deserto para escutar Jesus? Não seria mais lógico despedi-la para que pudesse comprar alimentos nas aldeias vizinhas?

A ordem do Mestre parecia impossível de ser executada. Contudo, começou a ser superada, quando os discípulos apresentaram a quantidade de alimento disponível: cinco pães e dois peixes. Bastou-lhes colocá-los à disposição de todos, para que ninguém voltasse para casa faminto.

Assim aconteceu! Num gesto quase litúrgico, Jesus tomou os pães e os peixes, ergueu os olhos para os céus, abençoou-os, partiu-os, deu-os aos discípulos e estes, à multidão. A pequena porção de alimento começou a ser condividida. E todos comeram até à saciedade. E mais, sobraram doze cestos cheios, apesar da enorme quantidade de gente. Este episódio contém um claro ensinamento. O problema da fome resolve-se com a partilha. Se tivessem ido às aldeias, quem tivesse dinheiro e fosse mais esperto, fartar-se-ia. Quanto aos pobres e os menos ágeis ficariam em desvantagem, permanecendo famintos.

Esta situação é incompatível com o Reino, cujo projeto de fraternidade supera todo tipo de desigualdade.

padre Jaldemir Vitório

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Ao multiplicar os pães e os peixes, Jesus revela o amor de Deus, seu Pai, para conosco. Deus não quer que seus filhos passem fome. Ele não os criou para isso. Ele os criou e providenciou tudo o que seria necessário para o seu bem-estar. Se isso não acontece é porque alguém interfere nos planos de Deus.

Por isso Jesus diz aos seus seguidores mais próximos, os que estarão à frente da sua Igreja: "Dai-lhes vós mesmos de comer". Que a Igreja de Jesus mostre ao mundo o amor de Deus para com suas criaturas e trabalhe para que haja justiça e não falte o pão de cada dia para ninguém, trabalhe para que ninguém pegue só para si o pão que Deus deu para todos.

Quando Deus nos orienta pelo profeta Isaías a não gastarmos dinheiro com aquilo que não é pão, Ele se refere ao pão que revigora o corpo e ao pão que revigora todo o ser humano. A palavra do profeta à luz da revelação de Jesus Cristo aponta para o Senhor que é o Pão da Vida. A menção da Aliança com Davi e a promessa de um pacto eterno se confirma em Jesus Cristo. N'Ele a Aliança se torna real e eterna. Davi, como escreve São Pedro, morreu e está sepultado. O descendente de Davi morreu e ressuscitou, e vive para sempre. Nisso conhecemos o amor de Deus.

Mt. 14,13-21 – Com cinco pães e dois peixes, Jesus alimenta a multidão que o seguia. Depois da morte de João Batista, Jesus tinha se retirado para um lugar deserto e afastado. Ele queria ficar sozinho com alguns discípulos ou, por prudência, era melhor não aparecer muito naquele momento. Sua hora ainda não tinha chegado. O fato é que muita gente foi atrás d'Ele. Jesus teve pena daquele povo e curou os que estavam doentes. Como já fosse tarde, os discípulos aconselharam Jesus a mandar o povo embora para que pudesse comprar comida enquanto havia tempo.

A resposta de Jesus faz a gente pensar. Ele disse aos discípulos: "Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer". Jesus estava se referindo ao trabalho que eles deveriam fazer distribuindo os pães e os peixes que iam ser multiplicados naquele momento, ou estava dizendo que os discípulos deviam providenciar alimento para toda aquela gente! Eles mostraram a Jesus o que tinham: cinco pães e dois peixes. Então com aqueles pães e peixes Jesus alimentou 5 mil homens, mais as mulheres, mais as crianças, e ainda sobraram 12 cestos cheios.

Is. 55,1-3 – No livro do profeta Isaías, Deus chama aqueles que têm fome e sede para virem comer e beber de graça. Ele chama os que não têm dinheiro para comprar sem pagar, e aconselha aos que têm dinheiro a não desperdiçar com o que não traz satisfação. Que gastem com o pão e fortaleçam o corpo. Isso é dito em relação à Aliança que Deus fez com o rei Davi em favor de seu povo, Aliança que Deus mantém fielmente.

Sl. 144 (145) – O Deus bondoso e compassivo não deixa faltar nada às suas criaturas. Ele lhes dá o alimento no tempo certo e sacia todo ser vivo com fartura, porque Ele é bom e justo.

Rm. 8,35.37-39 – Em Jesus Cristo, Deus manifesta o seu amor por nós. Tudo o que Jesus fez enquanto estava nesta terra revelou o coração de Deus e sua bondade. Por isso nada pode nos separar do amor de Cristo.

cônego Celso Pedro da Silva

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A benção liberta também o coração

Esta narrativa da partilha dos pães entre Jesus, seus discípulos, e a multidão, é encontrada nos quatro evangelistas. Contudo Marcos e Mateus apresentam a narrativa de uma segunda partilha, bastante semelhante, como que em reprise desta primeira, porém diferenciando-se na medida em que a primeira acontece na Galiléia e a segunda em território exclusivo de gentios, fora da Galiléia. João Batista, que com seu anúncio do Reino de justiça atraia a si as multidões, foi preso e executado por Herodes, no que teve o apoio dos chefes religiosos das sinagogas e do Templo de Jerusalém. Eles temiam João por seu anúncio libertador, conclamando à prática da justiça, e pela sua grande acolhida entre as multidões. Jesus percebe que ele próprio também é passível de sofrer o mesmo processo repressivo. Assim retira-se para um lugar isolado com seus discípulos, indo de barco através do lago da Galiléia (chamado Mar da Galiléia). As multidões sabendo da partida de Jesus seguiram a pé, pela margem do lago acompanhando-o. Quando Jesus desembarca já encontra a multidão e vendo sua carência e suas necessidades, tem compaixão dela, curando os doentes. A presença dos doentes entre as multidões exprime uma situação de exclusão social, que favorece o surgimento e a proliferação das doenças. É muito expressiva a compaixão que invade Jesus diante destas multidões. A menção das curas sugere o empenho de Jesus em promover a vida entre estas multidões excluídas. Ao entardecer, os discípulos percebem as necessidades das multidões e sugerem que sejam enviadas para comprar comida. Jesus, porém, apresenta-lhes outra solução: "Vós mesmos dai-lhes de comer". Os discípulos alegam, então, que têm apenas alguns pães e alguns peixes. Jesus pede que sejam trazidos e, em seguida, são abençoados e partidos por Jesus. Os discípulos os distribuem. O gesto toca os corações dos demais, que traziam reservadamente seu alimento. Eles também partilham e todos são satisfeitos. A partilha é o gesto concreto do amor. O amor é contagioso e transforma a comunidade. A visão messiânica, a partir do Primeiro Testamento, deu origem à interpretação desta passagem como um espantoso milagre pelo qual os pães são multiplicados. Se o objetivo de Jesus fosse o de praticar gestos espantosos, então maior efeito teria se transformasse as pedras em pães, o que ele rejeitou na tentação que lhe foi feita em seguida ao recebimento do batismo por João Batista. Na partilha se dá a abolição de uma sociedade escrava do mercado pela implantação da nova sociedade livre, justa e fraterna (cf. primeira leitura). A benção de Jesus sobre os pães e peixes que os discípulos lhe trazem significa redirecionar a Deus aquilo que é de Deus. Significa desvincular os bens da posse excludente para libertar o dom de Deus em sua criação colocando-o ao alcance de todos. A benção liberta também o coração e a generosidade leva à partilha e à saciedade de todos. A sobra indica a eficiência da generosidade. A partilha é a expressão do amor de Jesus. Nada nos separa deste amor que se manifesta, hoje, nas pessoas e comunidades que buscam a justiça e constroem a fraternidade.

José Raimundo Oliva

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A MULTIPLICAÇÃO  DOS PÃES

 

Hoje o Evangelho nos apresenta Jesus como a plenitude da compaixão de Deus no nosso meio. Multiplicando os pães, ele realiza de modo pleno aquilo que Moisés e Elias, os mesmos personagens da Transfiguração, representantes da Lei e dos Profetas, já haviam realizado: Moisés deu de comer ao povo no deserto; Elias sustentou com alimento a viúva de Sarepta durante todo o tempo da seca em Israel. Ora, Jesus é aquele que nos alimenta em plenitude, é o Messias prometido a Israel e à humanidade. Como o Bom Pastor, de que fala o Salmo, ele faz seu rebanho descansar na relva mais fresca e lhe prepara uma mesa. Seu alimento não se reduz ao pão. Primeiro nos alimenta porque sente compaixão de nós, de nossa pobreza e indigência: "Viu uma grande multidão. Encheu-se de compaixão por eles e curou os que estavam doentes". Mais do que de pão, é de amor, de ternura e compaixão que o Senhor nos alimenta! Alimenta-nos também com sua Palavra de vida eterna: vê a multidão cansada e abatida como ovelhas sem pastor e ensina-lhe, fala do Reino até o entardecer... Olhando o nosso Salvador, vemos cumprir-se nele o convite tão terno, tão comovente do Deus de Israel: "Ó vós todos que estais com sede, vinda às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, cinde comprar sem dinheiro, e alimentai-vos bem, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga!'

Que belo convite! Num mundo no qual tudo é pago, tudo gira em torno do lucro, tudo tem a preocupação do retorno econômico e do interesse (até nas seitas por aí a fora, o dízimo é a chave de entrada no céu), o Senhor se revela graciosamente! Quem dera, o mundo compreendesse esse amor apaixonado de Deus que se manifesta em Jesus! Quem dera se reconhecesse faminto e sedento! Quem dera se deixasse interpelar: "Por que gastar dinheiro com outra coisa que não o pão, desperdiçar o salário senão com satisfação completa? Ouvi-me com atenção e alimentai-vos bem! Inclinai vosso ouvido e vinde a mim, ouvi e tereis vida!" Infelizmente, o nosso é um mundo cansado, mas também auto-suficiente, prepotente, que pensa poder sozinho, do seu modo se saciar e viver de verdade! Também nós, nas nossas pobrezas, tanta vez fugimos do Senhor, ao invés de correr para ele, nosso Poço, nossa Água, nosso Pão, nosso Refrigério!

Mas, nós, cristãos, sabemos que em Cristo Jesus encontra-se a vida, encontra-se o verdadeiro caminho, a verdadeira vida do mundo! É isso que São Paulo exprime com palavras comoventes: "Quem nos separará do amor de Cristo? Tribulação? Angústia? Perseguição? Fome? Nudez? Perigo? Espada? Em tudo isso somos mais que vencedores, graças àquele que nos amou!" É por essa experiência do amor tão terno e presente de Jesus na nossa vida que somos cristãos! Deixemo-nos saciar pelo Senhor e experimentaremos que "nem a morte, nem a vida, nem o presente nem o futuro, nem outra criatura qualquer, será capaz de nos separar do amor de Deus por nós, manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor!"

Caríssimos, a verdadeira Boa-Nova para o mundo atual é esta: o amor terno e próximo de Deus, manifestado em Jesus Cristo! Mas, atenção: somente poderemos ser testemunhas de tal amor se nós mesmos nos deixarmos tocar e envolver pela ternura do Cristo! Atendamos, portanto, ao seu convite de ir gratuitamente a ele, apesar de nossas pobrezas! Deixemos que ele nos alimenta e sacie de vida e de paz!

Não esqueçamos também que, sobretudo na Eucaristia essa vida, essa alimento, essa paz vêm a nós! Neste Ano Eucarístico, sintamo-nos convidados pela Igreja a recobrar nossa devoção e piedade eucarísticas. Primeiro pela participação consciente e piedosa da Santa Missa todos os domingos. Mas, também pela adoração ao Santíssimo Sacramento. Aí o Senhor Jesus nos espera para nos falar ao coração e encher-nos da sua paz. Estejamos atentos a alguns aspectos desse carinho pela presença eucarística de Cristo. Eis alguns pontos para nossa meditação: (1) como está minha participação na Missa? (2) Tenho consciência do que é a Missa? Compreendo que ela é o sacrifício de Cristo tornado presente no Altar para vida nossa e do mundo inteiro? (3) Tenho respeito pela presença de Cristo na Eucaristia? Quando entro na Igreja, dobro meu joelho ante o Santíssimo? Detenho-me em adoração ou fico conversando e disperso? (4) Tenho reservado alguns minutos durante a semana para uma visita ao Santíssimo Sacramento, para falar-lhe em espírito e verdade, como um amigo ao outro amigo?

Eis, meus caros! Procuramos vida e realização em tantas bobagens! A Vida, a Realização, é Jesus que se dá a nós no Altar e por nós espera no sacrário! Saibamos valorizar esse Dom tão grande: "Ó vós todos que estais com sede, vinda às águas; vós que não tendes dinheiro, apressai-vos, vinde e comei, cinde comprar sem dinheiro, e alimentai-vos bem, tomar vinho e leite, sem nenhuma paga!' Que o Senhor nos dê a graça de aceitar seu convite! Amém.

dom Henrique Soares da Costa

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Dêem-lhes de comer!

A ordem dada aos discípulos - "Dêem-lhes de comer!" - pode ter-lhes soado como uma ironia. Havia condições de saciar uma multidão, reunida num lugar deserto para escutar Jesus? Não seria mais lógico despedi-la para que pudesse comprar alimentos nas aldeias vizinhas?
A ordem do Mestre parecia impossível de ser executada. Contudo, começou a ser superada, quando os discípulos apresentaram a quantidade de alimento disponível: cinco pães e dois peixes. Bastou-lhes colocá-los à disposição de todos, para que ninguém voltasse para casa faminto.

Assim aconteceu! Num gesto quase litúrgico, Jesus tomou os pães e os peixes, ergueu os olhos para os céus, abençoou-os, partiu-os, deu-os aos discípulos e estes, à multidão. A pequena porção de alimento começou a ser condividida. E todos comeram até à saciedade. E mais, sobraram doze cestos cheios, apesar da enorme quantidade de gente.

Este episódio contém um claro ensinamento. O problema da fome resolve-se com a partilha. Se tivessem ido às aldeias, quem tivesse dinheiro e fosse mais esperto, fartar-se-ia. Quanto aos pobres e os menos ágeis ficariam em desvantagem, permanecendo famintos.
Esta situação é incompatível com o Reino, cujo projeto de fraternidade supera todo tipo de desigualdade.

A liturgia do 18º domingo do tempo comum apresenta-nos o convite que Deus nos faz para nos sentarmos à mesa que Ele próprio preparou, e onde nos oferece gratuitamente o alimento que sacia a nossa fome de vida, de felicidade, de eternidade.

Na primeira leitura, Deus convida o seu Povo a deixar a terra da escravidão e a dirigir-se ao encontro da terra da liberdade – a Jerusalém nova da justiça, do amor e da paz. Aí, Deus saciará definitivamente a fome do seu Povo e oferecer-lhe-á gratuitamente a vida em abundância, a felicidade sem fim.

O Evangelho apresenta-nos Jesus, o novo Moisés, cuja missão é realizar a libertação do seu Povo. No contexto de uma refeição, Jesus mostra aos seus discípulos que é preciso acolher o pão que Deus oferece e reparti-lo com todos os homens. É dessa forma que os membros da comunidade do Reino fugirão da escravidão do egoísmo e alcançarão a liberdade do amor.

A segunda leitura é um hino ao amor de Deus pelos homens. É esse amor – do qual nenhum poder hostil nos pode afastar – que explica porque é que Deus enviou ao mundo o seu próprio Filho, a fim de nos convidar para o banquete da vida eterna.

1ª Leitura – Is. 55,1-3 - AMBIENTE

Em 597 a.C., no reinado de Joaquin, os babilônios derrotaram os exércitos de Judá, conquistaram Jerusalém e deportaram para a Babilônia uma primeira leva de exilados, escolhidos de entre a classe dirigente de Judá. No entanto, esse primeiro grupo de exilados acreditava que o Exílio não estava para durar e que rapidamente poderiam regressar à sua terra. O profeta Jeremias, no entanto, desfez essas falsas esperanças, anunciando aos exilados que o desterro iria prolongar-se e convidando-os a refazer a sua vida na Babilônia ("edificai casas e habitai-as; plantai pomares e comei os seus frutos. Casai, gerai filhos e filhas, casai os vossos filhos e filhas, para que tenham filhos e filhas. Multiplicai-vos, em vez de diminuir. Procurai o bem do país para onde vos exilei e rogai por ele ao Senhor, porque só tereis a lucrar com a sua prosperidade" – Jr. 29,5-7). Aos poucos, estes exilados acabaram por se adaptar à situação e por lançar as bases para uma permanência prolongada na Babilônia.

Em 586 a.C. deu-se uma nova catástrofe para o Povo de Deus: Jerusalém foi de novo conquistada pelos babilônios e completamente arrasada… Os que tinham escapado à primeira deportação foram levados cativos para a Babilônia e juntaram-se aos seus irmãos exilados.

Os tempos do Exílio foram tempos de desolação e de sofrimento… Todas as referências tinham caído; Jerusalém, a cidade santa, estava reduzida a um montão de ruínas; à frustração pela humilhação nacional, juntavam-se as dúvidas religiosas: Jahwéh será o Deus libertador, como anunciava a teologia e a catequese de Israel – ou será um "bluff", incapaz de proteger o seu Povo? Para alguns dos exilados já nada importava, pois o quadro de referência que dava segurança ao Povo tinha sido completamente subvertido. Enquanto que alguns continuavam a sonhar com a libertação e o regresso, muitos outros deixaram de sonhar e lançaram as bases materiais para se enraizarem definitivamente na Babilônia.

O Exílio prolongou-se até 539 a.C., quando Ciro, rei dos Persas, tomou a Babilônia e deu aos exilados a possibilidade de retornarem à sua terra de origem.

É no contexto do Exílio que aparece o Deutero-Isaías, um profeta anônimo cuja mensagem nos é oferecida nos capítulos 40-55 do Livro de Isaías. O profeta esforça-se por "consolar" os exilados, anunciando-lhes a libertação iminente, o regresso à Terra (cf. Is. 40-48) e a reconstrução de Jerusalém (cf. Is. 49-55).

O texto que nos é proposto como primeira leitura apresenta-nos as últimas palavras do "livro da consolação". Depois de um oráculo que anuncia a restauração de Jerusalém (cf. Is 54,11-17), o Deutero-Isaías procura dar aos exilados razões para regressarem à cidade santa.

MENSAGEM

O profeta convida os exilados a cumprirem um novo êxodo, deixando a terra da escravidão e dirigindo-se ao encontro da terra da liberdade – a Jerusalém nova que Deus vai reconstruir para o seu Povo. Aí, Judá redescobrirá o Deus libertador, que derrama sobre o seu Povo – gratuita e abundantemente – a justiça, a prosperidade, a abundância, a paz sem fim. O profeta representa esse quadro de salvação através da imagem de um "banquete": em Jerusalém, à volta da mesa de Deus, esse Povo sofredor, desolado, carente, faminto, encontrará trigo, "vinho", "leite" e "manjares suculentos" (v. 1).

Será fácil, depois de mais de quarenta anos de Exílio, deixar a relativa segurança da Babilônia, enfrentar uma terra devastada e começar tudo de novo? É claro que não. Muitos exilados, correspondendo às palavras do profeta Jeremias (cf. Jr. 29), construíram as suas casas, refizeram as suas vidas, lançaram as suas raízes no solo babilônico e consolidaram existências tranqüilas e cômodas. A referência ao gastar "o dinheiro naquilo que não alimenta" e "o trabalho naquilo que não sacia" parece dizer respeito ao fato de muitos exilados pretenderem continuar na Babilônia, em lugar de arriscarem o regresso a uma terra desolada e, aparentemente, sem futuro (v. 2).

O profeta adverte: é preciso ter a coragem de arriscar, de se desinstalar, de partir ao encontro do sonho. Àqueles que forem capazes de sair dos seus esquemas para abrirem o coração ao seu dom, Deus vai oferecer, de forma gratuita e incondicional, a vida em abundância, a felicidade infinita.

Mais: a esses que estão dispostos a deixar as suas certezas e seguranças para partir ao encontro do seu chamamento, Deus oferecerá uma aliança eterna (v. 3), que nada nem ninguém poderão romper.

Quem aceitar esse dom que Deus oferece encontrará aí a água que mata a sua sede de vida e o alimento que sacia a sua fome de felicidade. Viverá uma relação nova com Deus e integrará, em definitivo, a comunidade do Povo de Deus.

ATUALIZAÇÃO

• Antes de mais, a leitura que nos é proposta revela o "coração" de Deus: o seu amor, o seu cuidado, a sua preocupação com a situação de um Povo atolado na miséria, no sofrimento, na desolação. Deus não fica, nunca, indiferente à sorte dos seus filhos; mas está continuamente atento às suas necessidades, à sua fome de vida, à sua sede de felicidade. Os crentes podem estar seguros de que, à mesa desse banquete onde Deus os reúne, encontram o alimento que os sacia, a mão que os apóia, a palavra que lhes dá ânimo, o coração que os ama. A reflexão deste texto convida-nos, antes de mais, a descobrir este Deus providente, amoroso e dedicado e a colocar toda a nossa existência nas suas mãos. A reflexão deste texto convida-nos também a sermos testemunhas deste Deus no meio dos nossos irmãos: os pobres, os famintos, os desesperados têm de encontrar nos nossos gestos e palavras esse "coração" amoroso de Deus que os apóia, que lhes dá esperança, que os ajuda a recuperar a dignidade e o gosto pela vida, que lhes mata a fome e a sede de justiça, de fraternidade, de amor e de paz.

• Se é verdade que Deus não cessa de nos oferecer a salvação, também é verdade que nós, os homens, nem sempre acolhemos a oferta que Deus nos faz. Muitas vezes escolhemos caminhos de egoísmo e de auto-suficiência, à margem do "banquete" de Deus. Na leitura que nos foi proposta, há um apelo a não gastar o dinheiro naquilo que não alimenta e o trabalho naquilo que não sacia. Corresponde a um convite a não nos deixarmos seduzir por falsas miragens de felicidade (os bens materiais, a ilusão do poder, os aplausos e a consideração dos outros homens) e a não gastarmos a vida a beber em fontes que não matam a nossa sede de vida plena e verdadeira. Como é que eu me situo face a isto? De que é que eu sinto "fome"? Como é que eu procuro saciá-la? Eu também sou dos que gastam o tempo, as forças e as oportunidades a correr atrás de ilusões, de valores efêmeros, de miragens? Quais são as verdadeiras fontes de vida em que eu devo apostar de forma incondicional?

• Para acolher os dons que Deus oferece, é preciso desinstalar-se, abandonar os esquemas de comodismo e de preguiça que impedem que no coração haja lugar para a novidade de Deus e para os desafios que ele lança. Estou disponível para deixar cair os meus preconceitos, seguranças, esquemas organizados, egoísmos, e para me deixar questionar por Deus e pelas suas propostas?

2ª Leitura – Rm. 8,35.37-39 - AMBIENTE

O texto que nos é hoje proposto como segunda leitura conclui a reflexão de Paulo sobre a questão da salvação.

Há já alguns domingos que temos vindo a acompanhar o desenvolvimento das idéias de Paulo sobre esta questão: toda a humanidade vive mergulhada numa realidade de pecado (cf. Rm. 1,18-3,20); mas a bondade de Deus oferece a todos os homens, de forma gratuita e incondicional, a salvação (cf. 3,21-4,25). Essa salvação chega ao homem através de Jesus Cristo (cf. Rm. 5,1-7,25). O Espírito Santo é que dá ao homem a força para acolher esse dom (cf. Rm. 8,1-39), para renunciar à vida do egoísmo e do pecado (a vida "segundo a carne") e para ascender a uma nova situação – a situação de "filho de Deus" (vida "segundo o Espírito").

Acolher a salvação que Deus oferece, identificar-se com Jesus e percorrer com Ele o caminho do amor a Deus e da entrega aos irmãos (vida "segundo o Espírito") não é, no entanto, um caminho fácil, de triunfos e de êxitos humanos; mas é um caminho que é preciso percorrer, tantas vezes na dor, no sofrimento e na renúncia, enfrentando as forças da morte, da opressão, do egoísmo e da injustiça.

Apesar das barreiras que é necessário vencer, das nuvens ameaçadoras e dos mil desafios que, dia a dia, se põem ao crente que segue o caminho de Jesus, o cristão pode e deve confiar no êxito final. Porquê?

É a esta questão que Paulo procura responder nestes versículos que nos são hoje propostos.

MENSAGEM

 "Se Deus é por nós, quem será contra nós"? – pergunta Paulo no início da perícope (Rm. 8,31). A verdade é que nada pode derrotar aquele que é objeto do amor imenso e imortal de Deus – amor manifestado nesse movimento que levou Cristo até à entrega total da vida para nos colocar na rota da salvação e da vida plena.

O crente tem de estar certo de que Deus o ama e que lhe reserva a vida em plenitude, a felicidade total, a comunhão plena com Ele. Dessa forma, pode escolher, com tranqüilidade e serenidade o caminho de Jesus – caminho de dom, de entrega da vida, de amor até às últimas conseqüências… Pode, como Jesus, lutar objetivamente contra o egoísmo, a injustiça, a opressão, o pecado; pode gastar a vida nessa luta, sem temer o aniquilamento ou o fracasso; pode enfrentar a perseguição, a angústia, os perigos, as armadilhas montadas pelos homens, com a certeza de que nada o pode vencer ou destruir… E, no final do caminho, espera-o essa vida plena de felicidade sem fim, que Deus oferece àqueles que aceitam a sua proposta de amor e caminham nela.

Nos dois últimos versículos do texto que nos é proposto (vs. 38-39), Paulo enumera uma série de forças que, na época, se julgavam mais ou menos hostis ao homem. Não devemos, contudo, tomar essas expressões como uma descrição detalhada daquilo que, para Paulo, era o mundo sobrenatural. Devemos ver nessa lista, apenas uma forma retórica de sugerir que nada – nem sequer esses poderes que os antigos acreditavam que hostilizavam o homem – será capaz de separar o cristão do amor de Deus, manifestado em Jesus Cristo.

ATUALIZAÇÃO

• Para Paulo, há uma constatação incrível, que não cessa de o espantar (e que temos repetidamente encontrado nos textos da Carta aos Romanos lidos nos últimos domingos): Deus ama-nos com um amor profundo, total, radical, que nada nem ninguém consegue apagar ou eliminar. Esse amor veio ao nosso encontro em Jesus Cristo, atingiu a nossa existência e transformou-a, capacitando-nos para caminharmos ao encontro da vida eterna. Ora, antes de mais, é esta descoberta que Paulo nos convida a fazer… Nos momentos de crise, de desilusão, de perseguição, de orfandade, quando parece que o mundo está todo contra nós e que não entende a nossa luta e o nosso compromisso, a Palavra de Deus grita: "não tenhais medo; Deus ama-vos".

• Descobrir esse amor dá-nos a coragem necessária para enfrentar a vida com serenidade, com tranqüilidade e com o coração cheio de paz. O crente é aquele homem ou mulher que não tem medo de nada porque está consciente de que Deus o ama e que lhe oferece, aconteça o que acontecer, a vida em plenitude. Pode, portanto, entregar a sua vida como dom, correr riscos na luta pela paz e pela justiça, enfrentar os poderes da opressão e da morte, porque confia no Deus que o ama e que o salva.

Evangelho – Mt. 14,13-21 - AMBIENTE

No capítulo 13 do Evangelho segundo Mateus, começa uma longa secção que poderíamos intitular "instrução sobre o Reino" (cf. Mt. 13,1-17,27).

Na primeira parte desta secção (cf. Mt. 13,1-52), Jesus apresentou em parábolas a realidade do Reino (como vimos, aliás, nos domingos anteriores). Como é que os interlocutores de Jesus reagiram, frente a essa apresentação viva, popular, interpeladora, questionante? Aderiram à proposta de Jesus?

A resposta a esta questão vai ser dada na segunda secção da "instrução sobre o Reino" (cf. Mt. 13,53-17,27). De uma forma geral, a comunidade judaica responde negativamente ao desafio apresentado por Jesus. Quer os nazarenos (cf. Mt 13,53-58), quer Herodes (cf. Mt. 14,1-12), quer os escribas, quer os fariseus, quer os saduceus (cf. Mt. 15,1-9; 16,1-4. 5-12) recusam embarcar na aventura do Reino. Diante dessa recusa, Jesus volta-Se, cada vez mais decisivamente, para o pequeno grupo dos seus seguidores – os discípulos. Esse pequeno grupo vai-se definindo cada vez mais como a comunidade do Messias, que acolhe as propostas de Jesus e aceita o Reino. As multidões continuam a seguir Jesus; mas, cada vez mais, é aos discípulos que Jesus Se dirige e a quem destina a sua "instrução".

O texto que nos é proposto neste domingo situa-nos no âmbito de uma refeição. O "banquete" é, para os semitas, o momento do encontro, da fraternidade, em que os convivas estabelecem entre si laços de familiaridade e de comunhão. É, portanto, símbolo desse mundo novo que há-de vir e no qual todos os homens se sentarão à mesa de Deus para celebrar a fraternidade, a igualdade e a felicidade sem fim. Torna-se, pois, um símbolo privilegiado desse Reino para o qual Jesus veio convidar os homens.

MENSAGEM

Na introdução ao episódio de hoje, Mateus anota que Jesus se retirou para o deserto, seguido por uma "grande multidão"; e que, impressionado pela fome de vida de toda essa gente, Se encheu "de compaixão e curou os seus doentes" (vs. 13-14).

Provavelmente, Mateus quer sugerir, com esta referência, que Jesus é um novo Moisés, cuja missão é libertar o seu Povo da escravidão, a fim de conduzi-lo à terra da liberdade e da vida plena. Como é que vai fazê-lo? Conduzindo-o ao deserto…

O deserto é, para Israel, o tempo e o espaço do encontro com Deus; aí, Israel aprendeu a despir-se das suas seguranças humanas, das suas certezas, da sua auto-suficiência, para descobrir que cada passo em direção à liberdade, cada pedaço de pão caído do céu, cada gota de água que brota de um rochedo, é um "milagre" que é preciso agradecer ao amor de Deus. Tudo é um dom de Deus, que o Povo deve acolher com o coração agradecido. O deserto é ainda o lugar e o tempo da partilha, da igualdade, em que cada membro do Povo conta com a solidariedade do resto da comunidade, onde não há egoísmo, injustiça, prepotência, açambarcamento dos bens que pertencem a todos, e em que todos dão as mãos para superar as dificuldades da caminhada (no deserto, quem é egoísta, auto-suficiente e não aceita contar com os outros, está condenado à morte).

É esta experiência que Jesus vai convidar os discípulos a fazer. Vai ensinar-lhes – com uma lição concreta – que tudo é um dom que deve ser agradecido ao amor de Deus; e vai ensinar-lhes também que os dons de Deus são para ser partilhados, colocados ao serviço dos irmãos. É deste processo libertador – que conduz do egoísmo ao amor – que vai nascer a comunidade do Reino.

A história da multiplicação dos pães apresenta todas as características de uma lição, destinada a demonstrar como é que deve viver quem quer aderir ao Reino.

O primeiro momento desse processo pedagógico destinado a formar os membros do Reino tem a ver com a constatação da fome do mundo e com a responsabilização da comunidade do Reino nesse problema… Quando os discípulos Lhe pedem que mande a multidão embora, para que ela encontre comida (lavando as mãos face à situação de necessidade em que a multidão está), Jesus pede-lhes: "dai-lhes vós de comer" (v. 16). Ensina-lhes, dessa forma, que têm uma responsabilidade inalienável face a esse desafio que o mundo dos pobres todos os dias grita… Depois disto, nunca um discípulo de Jesus poderá dizer que não tem nada a ver com a fome, com a miséria, com as necessidades dos mais desfavorecidos. Qualquer irmão necessitado – de pão, de alegria, de apoio, de esperança – é da responsabilidade dos discípulos de Jesus. A dinâmica do Reino passa pela solidariedade que torna todos os cristãos responsáveis pelas necessidades dos pobres.

No segundo momento deste processo pedagógico, Jesus ensina como dar resposta a este desafio. Começa por pedir aos discípulos que façam a listagem dos bens disponíveis; depois, toma os "cinco pães e dois peixes", recita a bênção e manda repartir por todos os presentes… E todos comeram até ficarem saciados.

A lição é clara: diante do apelo dos pobres, a comunidade do Reino tem de aprender a partilhar. "Cinco pães e dois peixes" significam totalidade ("sete"): é na partilha da totalidade do que se tem que se responde à carência dos irmãos. É uma totalidade fracionada e diversificada mas que, posta ao serviço dos irmãos, sacia a fome do mundo. A comunidade do Reino é, portanto, não só uma comunidade que se sente responsável pela fome dos irmãos, mas também uma comunidade de coração aberto, disposta a repartir tudo o que tem… É uma comunidade que venceu a escravidão do egoísmo, para fazer a experiência da partilha que sacia e que torna todos os homens irmãos.

No terceiro momento deste processo pedagógico, Jesus dá a razão para a partilha. "Tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu e recitou a bênção" (v. 19). A "bênção" é uma fórmula de ação de graças, na qual se agradece a Deus pelos seus dons. Isso significa, em concreto, reconhecer que algo que se possui é um dom recebido de Deus… Para quem? Para um único homem ou para uma única família? Mas Deus não é o Pai de todos, que se preocupa com todos e que a todos ama da mesma forma? Portanto, "pronunciar a bênção" é reconhecer que determinado dom veio de Deus e que pertence a todos os filhos de Deus. Aquele que recebeu esse dom não é o seu dono; mas é apenas um administrador a quem Deus confiou determinado dom, para que o pusesse ao serviço dos irmãos com a mesma gratuidade com que o recebeu. À comunidade do Reino é proposto que aprenda a considerar os bens postos à sua disposição como dons de Deus Pai, colocando-os livremente ao serviço de todos.

Jesus é aqui apresentado como o novo Moisés, cuja missão é realizar a libertação do seu Povo e oferecer-lhe a vida em abundância. Como é que Ele o faz? Criando a comunidade do Reino – isto é, uma comunidade de homens novos, que reconhecem que tudo o que têm é um dom de Deus, destinado a ser partilhado com os outros irmãos.

ATUALIZAÇÃO

• Antes de mais, o texto convida-nos a refletir sobre a preocupação de Deus em oferecer a todos os homens a vida em abundância. Ele convida todos os homens para o "banquete" do Reino… Aos desclassificados e proscritos que vivem à margem da vida e da história, aos que têm fome de amor e de justiça, aos que vivem atolados no desespero, aos que têm permanentemente os olhos toldados por lágrimas de tristeza, aos que o mundo condena e marginaliza, aos que não têm pão na mesa nem paz no coração, Deus diz: "quero oferecer-te essa plenitude de vida que os homens teus irmãos te negam. Tu também estás convidado para a mesa do Reino".

• A nossa responsabilidade de seguidores de Jesus compromete-nos com a "fome" do mundo. Nenhum cristão pode dizer que não tem culpa pelo fato de 80 por cento da humanidade ser obrigada a viver com 20 por cento dos recursos disponíveis… Nenhum cristão pode "lavar as mãos" quando se gastam em armas e extravagâncias recursos que deviam estar ao serviço da saúde, da educação, da habitação, da construção de redes de saneamento básico… Nenhum cristão pode dormir tranqüilo quando tantos homens e mulheres, depois de uma vida de trabalho, recebem pensões miseráveis que mal dão para pagar os medicamentos, enquanto se gastam quantias exorbitantes em obras de fachada que só servem para satisfazer o ego dos donos do mundo… Nós temos responsabilidades na forma como o mundo se constrói… Que podemos fazer para que o nosso mundo seja alicerçado sobre outros valores?

• É preciso criarmos a consciência de que os bens criados por Deus pertencem a todos os homens e não a um grupo restrito de privilegiados. O Vaticano II afirma: "Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para uso de todos os povos; de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos (…). Sejam quais forem as formas de propriedade, conforme as legítimas instituições dos povos e segundo as diferentes e mutáveis circunstâncias, deve-se sempre atender a este destino universal dos bens. Por esta razão, quem usa desses bens temporais, não deve considerar as coisas exteriores que legitimamente possui só como próprias, mas também como comuns, no sentido de que possam beneficiar não só a si, mas também os outros. De resto, todos têm o direito de ter uma parte de bens suficientes para si e suas famílias" (Gaudium et Spes, 69). Como me situo face aos bens? Vejo os bens que Deus me concedeu como "meus, muito meus e só meus", ou como dons que Deus depositou nas minhas mãos para eu administrar e partilhar, mas que pertencem a todos os homens?

• O problema da fome no mundo não se resolve recorrendo a programas de assistência social, de "rendimento mínimo garantido" ou de outros esquemas de "caridadezinha"; mas resolve-se recorrendo a uma verdadeira revolução das mentalidades, que leve os homens a interiorizar a lógica de partilha. Os bens que Deus colocou à disposição dos seus filhos não podem ser açambarcados por alguns; pertencem a todos os homens e devem ser postos ao serviço de todos. É preciso quebrar a lógica do capitalismo, a lógica egoísta do lucro (mesmo quando ela reparte alguns trocos pelos miseráveis para aliviar a consciência dos exploradores), e substituí-la pela lógica do dom, da partilha, do amor. Sem isto, nenhuma mudança social criará, de verdade, um mundo mais justo e mais fraterno.

• A narração que hoje nos é proposta tem um inegável contexto eucarístico (as palavras "ergueu os olhos ao céu e recitou a bênção, partiu os pães e deu-os aos discípulos" levam-nos à fórmula que usamos sempre que celebramos a Eucaristia). Na verdade, sentar-se à mesa com Jesus e receber o pão que Ele oferece (Eucaristia) é comprometer-se com a dinâmica do Reino e é assumir a lógica da partilha, do amor, do serviço. Celebrar a Eucaristia obriga-nos a lutar contra as desigualdades, os sistemas de exploração, os esquemas de açambarcamento dos bens, os esbanjamentos, a procura de bens supérfluos… Quando celebramos a Eucaristia e nos comprometemos com uma lógica de partilha e de dom, estamos a tornar Jesus presente no mundo e a fazer com que o Reino seja uma realidade viva na história dos homens.

P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho

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JESUS MULTIPLICA OS PÃES

"Meu Deus, vinde libertar-me, apressai-vos, Senhor, em socorrer-me. Vós sois o meu socorro e o meu libertador, Senhor, não tardeis mais." (cf. Sl. 69,2.6).

Jesus nos convida hoje a repartir o pão da palavra e o pão do alimento diário, nesta nossa peregrinação rumo ao Reino das Bem-aventuranças.

A primeira leitura, retirada do profeta Isaías 55,1-3, traz o convite do Senhor Deus para o banquete messiânico, oferecido aos que não têm dinheiro para comprar. Essa leitura faz-nos, ainda, entender melhor o sentido da Multiplicação dos Pães segundo o Evangelho hodierno (cf. Mt. 14,13-21). Isaías apresenta o convite para o banquete messiânico. Is. 55 é a conclusão do "Segundo Isaías"- as profecias da escola de Isaías durante o exílio babilônico. O povo no Exílio é representado como faminto e sedento – as carências daquele outro exílio, o êxodo do Egito, ao qual o Exílio muitas vezes é assemelhado. Mas é fome e sede do Deus vivo e próximo – falta-lhes o Templo. Estão no perigo de se contentar com um sucedâneo: os deuses da Babilônia. Mas nenhum ídolo, pago com ouro ou prata, pode aliviar a sede do Deus vivo.

Chegamos hoje no centro do "discurso eclesial" pronunciado por Nosso Senhor Jesus Cristo. O Divino Mestre reparte o pão entre os seus. Essa seria uma missão fundamental da santa Igreja Católica, como tão bem vem demonstrada a ação evangelizadora da Igreja no Brasil, desde que lançou o mutirão para a superação da miséria e da fome, inspirando-nos permanentemente a repartir o pão nosso de cada dia, particularmente, entre os excluídos da sociedade individualista dos dias atuais.

O pão e a carne eram os alimentos comuns do povo e da região de Jesus. Eram o nosso arroz com feijão, feito de tantas maneiras e com tanto carinho pelas mães e cozinheiras deste abençoado País.

Naquele tempo, a maioria do povo comia pão de cevada. O pão de trigo era luxo. Os pães eram grandes, achatados e quase sempre com um buraco ao centro, que permitia pendurá-los em varas, como se penduram, no Sul do Brasil, as roscas de polvilho.

Ao escolher o pão como matéria do sacramental central do Novo Testamento, Jesus escolheu o alimento mais comum e encontradiço entre o povo. Mas também o alimento mais rico de significados sociais e espirituais. "Comer o pão com alguém" significava fazer com ele uma aliança. Daí a exclamação de um convidado a um banquete, numa parábola de Jesus: "Feliz aquele que come o pão no Reino de Deus", isto é, feliz aquele que participa da aliança com Deus, da amizade, da intimidade de Deus!

Antes da última Ceia, Jesus se dissera o "pão descido do céu", o "pão da vida" e ensinara a seus Apóstolos a pedir o pão a Deus, isto é, pedir-lhe o sustento do corpo e do espírito, pedir-lhe a amizade e a presença benfazeja.

Ao meditarmos a Multiplicação dos Pães podemos concluí-lo, também, como uma prefiguração da eucaristia. Foi um milagre estupendo multiplicar cinco pães e dois peixes de tal forma que fossem alimentados mais de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças, narra-nos o Evangelista. Jesus o fez por misericórdia; teve pena daquele povo que viera de longe para ouvi-Lo.

A instituição da Sagrada Eucaristia também foi por misericórdia. "Eis que estarei convosco todos os dias, até a consumação dos tempos" (cf. Mt. 28,20). Sim, alimentando a todos que o seguem, que o ouvem, presente no Sacramento do Altar, no sacramento de Amor, renovando sua imolação para resgatar-nos dos grilhões do pecado. Isso para, como nos ensina o Doutor Angélico, por meio de Seu corpo glorioso, de Seu sangue adorável, unidos à Sua alma e divindade, prepararmo-nos para o banquete mais augusto e mais substancial que jamais houve.

É o Divino Amigo que nos assegura que "se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos" (cf. Jo 6,53). É Nosso Senhor, ainda, quem teria dito a Santo Agostinho: "Quando me recebes, não és tu que me mudas e me fazer viver por ti, mas sou eu que te mudo e te faço viver por mim".

Na Segunda Leitura de hoje, Romanos 8, 35.37-39, a exposição sobre a salvação pela graça de Deus e a fé em Jesus Cristo é evidenciada e compreendemos bem essa manifestação ao santo Bispo de Hipona. Paulo, o apóstolo das gentes, termina sua exposição com uma efusiva proclamação de fé e confiança na obra de Deus em Jesus Cristo. "Se Deus é conosco quem será contra nós? Quem nos condenará? Quem nos separará do amor de Cristo?" Nada nos pode separar do amor de Cristo. Todos precisamos de redenção, diz são Paulo, e ela nos é dada em Cristo, que nos introduz na vida do Espírito. Ao fim desta secção, seu pensamento se torna efusivo, proclamando a certeza de vencer os poderes que poderiam desfazer a obra; não o poderão! Esta certeza não vem de raciocínios ou provas escriturísticas; ela é a convicção de quem já a experimenta. A experiência da fé é mais forte que o que se costuma chamar a realidade.

A liturgia de hoje nos convida a ler no sinal do pão uma revelação da compaixão, do terno amor de Deus para conosco, que se revelou piedosamente no dom de seu Filho, do qual o pão também se tornou o sinal sacramental.

Padre Luís Brochain, um dos discípulos de santo Afonso de Ligório, atenta-nos que, na eucaristia, "Jesus nos comunica então a sua própria vida; o seu espírito transfunde-se em nós e nos dirige em todos os caminhos; a sua imaginativa cura a nossa da sua dissipação habitual ao recolhimento; a sua santa vontade enobrece os nossos sentimentos, purifica os nossos afetos e eleva os nossos desejos acima do mundo criado; ajuda-nos a fugir das menores infidelidades e a nos exercer em todas as virtudes".

Num arroubo de contemplação, são Ruperto nos diz que, desta forma, pela eucaristia, "nós nos tornamos pela graça o que Jesus é pela natureza, isto é, santos e agradáveis a Deus". Conscientizemo-nos disso, então, e procuremos nossa santificação por meio da prática dos sacramentos, principalmente participando com freqüência, devidamente preparados, da sagrada comunhão. Desta forma, além de nos unirmos intimamente com Jesus, seremos também como frascos de fragrância que esparzir o olor das virtudes, com nossa conduta, em nossa convivência familiar, na comunidade, no trabalho, como lídimos cristãos. Assim, estaremos partilhando o Pão da Palavra, orientados e alimentados pelos Evangelhos, indicando o caminho do Pão Eucarístico a tantos que se encontram desnorteados neste mundo de tantas opções, de muitos atrativos, de inúmeras seduções...

A participação no pão da vida se manifesta traduzindo-se necessariamente na vontade firme de tentar tudo a fim de que os famintos sejam saciados, os que têm sede possam beber, os que estão nus possam vestir-se. A participação na ceia eucarística se torna, para o cristão, fonte de um esforço de promoção humana no qual todos e cada um sejam reconhecidos em sua dignidade fundamental de pessoas, no sentido de uma só grande família.

Que todos nós saibamos partilhar o pão, como partilhamos a nossa fé, que é comunitária. Absolutamente nada impede que Deus nos ame, a não ser que nós também não amemos. Amor é partilha. Partilha é acolhimento, é estar com, é fazer refeição com o irmão.

Que este imenso país continental, tão rico de comida, mas tão pobre de partilha, seja evangelizado para que o pobre tenha comida e, mais do que comida, dignidade, para que todos aprendam a repartir os dons e os bens, a exemplo de Jesus que todos os dias é oferecido em favor de nossas vidas e de nossa salvação.

padre Wagner Augusto Portugal

 

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"CINCO PÃES E DOIS PEIXINHOS..." Diac. José da Cruz

Confesso que quando reflito este evangelho, conhecido como da multiplicação dos pães, fico intrigado com algo bem simples: o milagre poderia ser muito mais espetacular, se Jesus tivesse mandado as pessoas sentarem-se em grupos, e depois, ao fazer o ritual da benção, os pães e os peixinhos, aparecessem como em um passe de mágica, na mão das pessoas, surgindo do nada. Mas neste milagre há uma palavra chave, de significado muito profundo, trata-se do milagre da multiplicação... Deus criou tudo do nada, diz o livro do Gênesis, mas quando se trata do pão, ele faz questão de multiplicar.

Alguém cedeu o seu lanche, fazendo parceria com Jesus, no ato prodigioso! Mateus nos dá a entender que esse alimento pertencia aos próprios discípulos "Só temos aqui, cinco pães e dois peixes". A fome da multidão é muito maior do aquilo que podemos dar, será sempre assim, o que temos para dar é muito pouco, para resolver o problema da família, da comunidade, os problemas sociais, a violência, as drogas, o desamparo aos idosos, as crianças pobres, as tristezas do outro, a depressão do irmão, suas angústias e desgraças, doenças e mortes, a idade avançada, diante de tudo isso, a gente até se comove, mas justificamos com aquele pensamento tão nefasto: Sinto muito, nada posso fazer!

Por que dizemos isso, em tantas situações da nossa vida, diante de um irmão que sofre, que chora, que se desespera? Porque não confiamos no que temos, por acharmos muito pouco, vamos ter de nos separar, vou ter de abortar, vou ter de me omitir, vou ter que ficar quieto, nos sentimos impotentes, sem força alguma para mudar a situação, se tivéssemos muito, se tivéssemos poder, se fóssemos respeitados, se estivéssemos no comando, seu fossemos ricos, ah! Tudo seria diferente... Daríamos um jeito nessa situação, resolvendo o problema.

Mas,como nada somos ,e ainda termos tão pouco, é melhor ficar no velho e conhecido "cada um por si, Deus por todos", queremos sempre despedir as pessoas para que cada uma se vire do seu jeito. É o comodismo e o egoísmo, que domina este mundo da nossa modernidade onde o espírito consumista afirma que, somente quem tem muito, consome muito, pode realizar sonhos e projetos de vida. Jesus desmonta este esquema mesquinho e centralizador, que concentra a riqueza material, nas mãos de uma minoria.

Dái-lhes vós mesmos de comer, eles não precisam ir embora! Após a oração de graças e a benção, começa a ocorrer o milagre: os discípulos começam a distribuir aquele pouco que têm, às multidões. Nos projetos e empreendimentos humanos, quem mais tem é que decide o que fazer só quem tem muito, poderá fazer grandes coisas, no projeto de Jesus a palavra de ordem é partilhar, mesmo que seja o pouco, acreditando que esse pouco, para o próximo vai ser muito.

O milagre, portanto, não está na quantia de pães e peixes, mas no gesto de partilhar, acreditando que naquele momento, o pouco que eu posso dar ou fazer, é exatamente tudo o que o meu próximo precisa. Nesse sentido, os cinco pães e dois peixinhos desse evangelho, pode ser um simples sorriso, dado a quem está triste, um abraço, um beijo ou um aperto de mão, em quem está sofrendo alguma dor, uma mão no ombro de quem está desanimado, uma palavrinha de consolo a quem chora, uma palavra de coragem a quem perdeu a vontade de viver. E pronto, está feito o milagre!

"Você não sabe como foi importante para mim, a sua presença, o seu gesto, naquela hora!" Todos nós já escutamos esta frase, entretanto o que demos ou fizemos foi tão pouco e parecia tão insignificante. Chegamos ao ponto chave da reflexão, quando acreditarmos na força do nosso "pouco", iremos conseguir mudanças prodigiosas na família, na comunidade e na sociedade, mas não precisa ficar cobrando para que o outro faça a sua parte, um gesto de partilha já é por si suficiente, para promover grandes mudanças, para transformar a miséria em fartura, pois quando dizemos – eu já fiz a minha parte, espero que cada um faça a sua, estamos nos colocando acima das outras pessoas e, portanto no direito de cobrar, e se seguíssemos essas lógica, ditada pelo orgulho e a prepotência, estaríamos perdidos diante de Jesus, que nos ama sempre com um amor sem medidas, sem nunca nos cobrar.

Dos pedaços que sobraram encheram-se doze cestos, e a multidão ficou saciada, o projeto de Jesus de Nazaré parecia tão pouco e ridículo diante da grandeza do Messianismo, sonhado e esperado pelos seus compatriotas, entretanto, a graça que nasceu da Salvação, libertou não só a Israel, mas a todas as nações da terra. Há alguém faminto ao seu lado, de uma fome que vai bem além do estomago vazio, ofereça o seu "pouquinho" com alegria, e creia nesse milagre!

José da Cruz é Diácono Permanente
Da Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim
e-mail
cruzsm@uol.com.br

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"DISTRIBUIU-OS AOS QUE ESTAVAM SENTADOS, TANTO QUANTO QUERIAM" – Nancy

Jesus sempre esteve preocupado com as necessidades do povo e, principalmente, com as questões da fome, tanto do pão material quanto espiritual.

Os sinais operados por Jesus eram visíveis ao povo que testemunhava as curas e libertações realizadas diante de seus próprios olhos. Imaginem, portanto, o que fora naquele tempo a multiplicação do pão e do peixe, saciando a fome de uma multidão faminta! E ainda sobrando para uma outra multidão de necessitados...   saciando a fome de uma multidam vis>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>>

O evangelista João narra a travessia de Jesus para o outro lado, ou seja, para o lugar onde a necessidade do povo era premente. Não dava para permanecer num só lugar, pois o projeto de Deus tinha de ser anunciado, praticado e propalado aos quatro ventos – missão do Mestre e dos seus discípulos.

Jesus já era considerado Profeta pelo povo. Povo simples, humilde, perseverante na fé e excluído socialmente. Povo que sentia e professava a fé no Messias, enviado pelo Pai, para a salvação dos homens.

O mundo de hoje, à semelhança de mais de dois mil anos, continua carente de coisas essenciais, como acreditar num mundo melhor, instaurar a equidade social, investir em projetos sociais que resgatem a dignidade do homem, ser missionário na comunidade, encampar uma campanha em prol da melhoria de um bairro...

O desânimo ronda os nossos arredores e os nossos irmãos, que sempre esperam por um herói, de carne e osso, para salvar a pátria. Ainda não compreenderam que a salvação está em Jesus – vivo e ressuscitado em nosso meio. Basta só e apenas acreditar nos sinais que aí estão!

Pensemos irmãos e irmãs: que sinais continuam a ser visíveis ao povo, em especial aos cristãos nesta contemporaneidade? Acreditamos que a multiplicação se realiza ainda em nossos dias? Como podemos contribuir com a multiplicação do pão e do peixe ao nosso próximo, que tem acesso apenas às migalhas?

Se abrirmos bem olhos da nossa alma, escancarando-os, perceberemos ao nosso redor a carência de apoio, de afeto, de aconselhamento, de orientação, de vestimenta, de informação, de iniciativa, de cura, de comprometimento das pessoas. Ou de nós mesmos? E tudo isso poderia ser multiplicado com tão pouco... Apenas a dedicação e disponibilidade de cada cristão que consegue enxergar Jesus Cristo no irmão drogado, prisioneiro, maltrapilho, faminto, alcoólatra, estendendo a mão e servindo.

Precisamos como Jesus e os discípulos, subir ao monte, nos distanciar de tudo e de todos, entrando em oração meditativa com o Pai do Céu. Assim podemos nos reabastecer da energia divina, nos fortalecer na fé, nos esvaziarmos de nós mesmos e nos preenchermos do Espírito Santo de Deus.

Levantemos os olhos para Deus, buscando a compreensão do alto, entrando em sintonia com Jesus, respondendo como André, diante das adversidades e dificuldades: "Está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes." Apenas isso para alguns; tudo isso para alguns outros! E a multiplicação, pela força da fé, aconteceria.

Queridos irmãos, que alicerçados em Cristo, nosso Salvador, possamos multiplicar os dons a serviço do próximo, recolhendo as sobras de todas as benesses ceifadas em honra e glória ao Senhor.

Amém! Aleluia!

Abraços fraternos, com carinho. Na paz do Senhor!

Nancy – professora

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"Dar  Graças  à Deus sempre"

                                          O milagre da multiplicação dos pães e dos peixes nos revela o poder que Deus possui sobre as dificuldades da nossa vida e como Ele age quando colocamos sob o Seu olhar as nossas necessidades e as  carências das pessoas com quem convivemos. Jesus nos ensina a pedir a bênção do Pai para os poucos recursos que possuímos e desejamos que sejam multiplicados, na certeza de que já fomos atendidos.

                                        Assim foi que Ele tomou os pães e depois, os peixes, dando graças a Deus e distribuindo àqueles que estavam sentados à espera da Sua providencia. Tudo quanto nós colocarmos sob o olhar amoroso do Pai, confiando na Sua Misericórdia, com o coração agradecido, com o intuito de partilhar, também irá florescer em nossas mãos. Jesus nos ensina também a termos para com os mais necessitados um olhar zeloso que enxerga as suas deficiências. Jesus aproveitava todas as oportunidades para instruir os seus discípulos e para dar testemunho da bondade e do poder amoroso do Pai.

                                          Por isso, Ele os punha à prova a fim de medir a generosidade daqueles que caminhavam com Ele. Assim, foi que  ao avistar a multidão vindo ao Seu encontro, Ele lembrou-se de que eles deveriam estar com fome e precisavam alimentar-se.    Ele sabia que a multidão faminta não poderia apreender os mistérios do Pai e, ao mesmo tempo, exercitava os Seus discípulos a não se omitirem diante dos desafios e a se colocarem a mercê da providência do Pai. "Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?"   Jesus não se importou com os argumentos desanimados dos Seus discípulos e se valeu de um menino que trazia cinco pães e dois peixes.  Isto para nos ensinar que todos nós, mesmo os mais pequeninos, temos algo nas mãos  que pode ser colocado sob as bênçãos de Deus Pai e frutificar. São lições que hoje servem para a nossa vida: O que fazer com o pouco que temos? Como alimentar tanta gente, tendo tão pouco? O que fazer? O que pensar? Desistir? Resmungar? Murmurar?   Como ordenou aos apóstolos, Jesus hoje também nos ordena:   "Fazei sentar as pessoas!"  Quando nos assentamos e nos aquietamos, em família, em comunidade e colocamos o pouco que temos nas mãos de Deus, quando juntamos os nossos poucos dons e os oferecemos ao Senhor o milagre acontece.

                                   Cada um de nós tem seu papel no diálogo, na compreensão, na serenidade, na partilha do amor. Quando nós nos colocamos nas mãos do Pai e nos dispomos a partilhar o que temos, com amor, Ele multiplica suas graças de provisão e nunca nos faltará nada. Você tem colocado o pouco que possui sob a benção do Pai?  Você agradece antecipadamente a Deus pelo que ainda vai receber?Você tem vivido isto na sua família? Você já percebeu na sua casa o que cada um tem para oferecer? Vocês costumam sentar-se para fazer uma avaliação das suas possibilidades colocadas nas mãos de Deus?  

Amém

Abraço carinhoso

Maria Regina

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"A multiplicação dos pães e peixes" – Claudinei M. Oliveira

 

            A cidade de Jerusalém estava se preparando para celebrar a Páscoa. A festa na cidade  já não representava a libertação do povo do Egito. Passou a explorá-lo e dar lucro para os representantes locais retirando a vida plena da maioria. Jesus coloca a caminho mais uma vez para completar o quarto sinal no outro lado do mar da Galileia, onde o paganismo é completo. Mas Jesus não vai sozinho. Uma multidão o segue para acompanhar sua pregação. Logo a tática de Jesus deu certo. Deixou a cidade de Jerusalém "vazia", quebrando a tradição e vai comemorar a Páscoa com aqueles que realmente merecem. A aliança feita ainda no tempo de Javé, que suscitou nova vida para os explorados do Egito, libertados por Moisés, deve ser comemorada na simplicidade, na fé e no amor.

 

            Mostra-nos a preocupação do Mestre com seu povo. Jesus tem pena e se compadece das humilhações sofridas. Não quer ver seus irmãos sendo maltratados. Jesus quer o bem para com todos. Se preciso for fazer longa caminhada para possibilitar uma nova maneira de viver, longe das garras dos predadores de Jerusalém, que faça dentro das regras. Deixam  os lobos sozinhos  se matarem entre si. Pois o povo de Deus inspira cuidado e zelo. Jamais a violência e a exploração enganosa.

 

            A multiplicação dos pães e dos peixes que saciou a  multidão consta no projeto maior de Deus. Deus não quer o povo faminto ou vivendo de migalhas. Prova é a preocupação de Jesus com a sobrevivência dos seus irmãos. Para tanto, ao levantar os olhos e ver aquela multidão em sua frente no outro lado do mar da Galileia Jesus disse a Filipe: 'Onde vamos comprar pão para que eles possam comer?'  Com esta pergunta, Jesus insinua que a festa da Páscoa não deve ser um comércio. Por isso que testa seu discípulo em onde iremos comprar pães para saciar todo este povo. O comércio desenfreado maltrata os  pequenos que não dispõe de tantos recursos para adquirir as guloseimas. Mas a resposta a preocupação de Jesus veio com André, o irmão de Simão Pedro que disse: está aqui um menino com cinco pães de cevada e dois peixes. Mas o que é isso para tanta gente?' Não chegou a resolver o problema de Jesus, mas indicou algo mais real do que Filipe que teria dito a Jesus que nem duzentas moedas de prata bastariam para dar um pedaço de pão a cada um. Ou seja, teria que gastar muito para satisfazer a vontade de todos.

 

            André tem uma resposta mais para o povo. Pão cevado e peixe são alimentos baratos. Pode estar disponível para o povo a custo mais baixo. O importante naquele momento é livrar o mal da fome e fortalecê-lo para a caminhada. Então Jesus  ordenou que todos sentassem e repartiu os alimentos para aproximadamente cinco mil pessoas. E recolheu no final da festa vários cestos de pães e peixes para não haver desperdícios.

 

            Agora, através deste sinal tem como não amar e vivenciar este Deus justo e verdadeiro? Será que ainda não percebeu a missão de Jesus de levar vida alimentada para todos? Quando olhamos para o nosso mundo e percebendo milhões de famintos, abandonados e descuidados por nós mesmos, demonstramos o tamanho da ignorância de nossa parte. Não estamos preocupados com o Outro. Preocupamos com nós mesmos. Jesus fez ao contrário: preocupou-se com seus irmãos. Não fugiu ou ficou orando com os discípulos na montanha. Moisés subiu a montanha, rezava e voltava para executar o que Javé havia mandado. Jesus não. Permaneceu na montanha, rezando com os discípulos e cuidando de seu povo. Por isso que Deus é maior. Ele enxerga as causas do sofrimento do povo e cura definitivamente. Não deixa para depois e no momento oportuno. Assim, ao ver aquela multidão em sua frente, já sabia que deveria fazer algo. Nem precisou do faminto reclamar: Senhor, estamos com fome; ajude-nos a saciar a fome. Mas hoje os filhos de Deus implorar por comida e não são ouvidos. Quantas injustiças! Quantas maldades! Quanto desprezo!.

 

            Portanto, o ensinamento de Jesus é a partilha na comunidade. Junta-se o que está disponível e divide entre aqueles que necessitam. Está máxima insiste na liberdade do povo, contrariando a escravidão. Por isso o sentido da Páscoa é deixar de ser mero consumismo e passar a ser da partilha. Nada pode ser desperdiçado, tudo deve ser aproveitado. Que o Sagrado Coração de Jesus, nesta primeira sexta-feira do mês, continue nos inspirando para acolher os irmãos necessitados e motivando a dividir tudo aquilo que faz  bem a todos, para fortalecer na árdua caminhada rumo a libertação.  Amem!

 

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JESUS CRISTO – "O FERMENTO QUE FAZ CRESCER O PÃO" – Nancy

A multiplicação dos pães feita por Jesus Cristo diante de uma multidão carente e excluída, socialmente falando, e que o acompanhava há dias, fora uma atitude grandiosa de solidariedade e serviço aos irmãos necessitados.

 

Como inúmeros outros milagres realizados pelo Mestre, a multiplicação dos pães muito tem a nos dizer, e nos ensinar. Poderíamos até pensar que a fome maior, além da alimentícia, seria a fome das palavras oriundas da boca de Deus, através de seu Filho – Jesus Cristo. Afinal, diz o evangelista: "Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus." (Mateus 4,4)

 

Somos também multiplicadores: da própria vida, quando abrigamos um feto em nosso ventre; das atividades de uma empresa ao assumirmos um setor de chefia; ao levarmos a Palavra de Deus quando abraçamos o Ministério da Palavra, ou proclamamos as Sagradas Escrituras em nossa paróquia ou comunidade. Somos verdadeiros multiplicadores quando imitamos os gestos e atitudes de Jesus: matando a sede, saciando a fome, cuidando, agasalhando, hospedando, acolhendo, aconselhando, curando, libertando!

Somos multiplicadores quando nos doamos como fermento na messe do Senhor, fazendo uso dos dons concedidos por Ele e colocando-os à disponibilidade e serviço aos irmãos, multiplicando as benesses no Reino de Deus.

Pensemos na multiplicação dos pães feita por Jesus: que qualidade imensa de nutrientes continha! Saciou a todos, e muitos cestos ainda restaram, que foram recolhidos.

Caros irmãos: quão importante é a qualidade daquilo que multiplicamos em nosso cotidiano. Não adianta uma quantidade enorme se não conseguirmos sustentar a fome – biológica e espiritual – do nosso próximo.

Vejam que exemplo de aprendizagem, acerca da qualidade, teve este padre recém-ordenado que fora fazer a sua primeira missa no interior.

Um padre recentemente ordenado ia rezar sua primeira missa numa igreja do interior, mas ninguém apareceu à missa, a não ser um vaqueiro.

O padre mostrou-se relutante em iniciar a cerimônia.

O vaqueiro então disse: "Não posso dizer o que o senhor deve fazer, sou apenas um vaqueiro. Mas se eu fosse alimentar vacas e somente uma aparecesse, eu seria um estúpido se não desse de comer a ela."

O padre agradeceu e começou a celebrar a missa fazendo antes um longo sermão.

Quando terminou, o padre perguntou se ele havia gostado. A resposta foi: "Não sei muita coisa sobre sermões. Sou apenas um vaqueiro; mas se eu fosse alimentar minhas vacas e só uma aparecesse, eu seria um estúpido se desse a ela a comida toda." (Do livro Pais e Filhos, do Dr. Haim Ginott, trad. Flávio Costa, edições Bloch, 1968).     

Pois bem, assim ocorre também conosco. Muitas vezes pensamos na multiplicação no sentido de quantidade – também necessária, mas não apenas!

Fazer bem, multiplicar com qualidade os dons de Deus em cada um de nós, é a nossa missão para que possamos ser o fermento necessário e profícuo na vida dos nossos irmãos. E com humildade, aprendendo com as pessoas mais simples como fazia Jesus Cristo.

Lembremos que até o simples vaqueiro, pleno de sabedoria, fala, ensina, espelha e mostra a todos nós a presença de Deus em sua vida e em sua profissão. Amém! 

Nancy - professora

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MULTIPLICAÇÃO DOS PÃES - EUCARISTIA

 

Estamos celebrando o "Ano da Eucaristia". Oficialmente nos recordam com diversos iniciativas. É uma oportunidade especial que nos permite contemplar o que para tantos cristãos é "semanal" e para não poucos de nos é "diário".

Dizer Eucaristia é dizer "Aliança nova e eterna". Hoje a palavra aliança ficou "interessante". Nós é falado de "aliança das civilizações" para esboçar um novo modelo de política mundial. Em algumas nações se fala de "alianças sociais" para referir-se a modelos diferente de coexistência entre pessoas dentro da sociedade. Também se fala de "aliança do mal". Na aliança são amarradas relações entre os diferentes. Se estabelecem compromissos de solidariedade, de mútua ajuda e defesa. Se fala também de nossos "aliados" quando se declara uma guerra ou se planeja uma defesa coletiva. Os seres humanos e nossas coletividades necessitam de "alianças."

Chamamos a Eucaristia, "sacramento da nova Aliança". É a Aliança que Deus sonhou com a humanidade deste tempos ancestrais. Não é falado da Aliança de Deus com Noé na qual se comprometeu em não enviar um novo dilúvio e não destruir a terra. Nos falam também da Aliança do Sinaí, com a qual Deus propôs dez cláusulas e prometeu a vida, a boa ventura, a terra sagrada, se fossem fiéis. Os profetas entendiam a Aliança como Aliança de Amor e representavam a Deus como o Esposo apaixonado e traído, e o Povo como a Esposa comprometida e tantas vezes infiel e prostituída.

Jesus, principalmente na última Ceia, quis inaugurar a nova Aliança, eterna, definitiva. Queria apresentar a oferta do Deus que ama sempre sem nenhuma condição, para sempre, do Deus que continuará sendo fiel embora nós sejamos infiéis. É ofereceu o vinho da nova Aliança e o Pão da Aliança eterna. Naquele momento, Deus estava comprometido com a comunidade Cristã e com a humanidade "para sempre". Se trata do "matrimônio eucarístico" de Jesus com sua Igreja. Nunca a abandonará. Nunca se divorciará dela. Embora ela seja infiel, ele permanecerá fiel, porque o Esposo não pode recusar a si mesmo.

Aproximar-se da celebração da Aliança, a cada domingo, a cada dia, é como aproximar-se do Fogo, do Amor que não se rompe. É aprender fidelidade e perseverança a pesar de todos os pesares. Receber a Eucaristia é estreitar laços, fazer-se mais um com quem nos entregou sua Vida.

Quem está em aliança com Jesus, o que pode temer? Quem será capaz de separa-lo do Amor do Senhor? Os batizados levam o selo indelével da Aliança. Quando Deus nos olha, nos contempla, se lembra de sua santa Aliança e nos protege, nos perdoa, sonha conosco, nos ama.

Podemos entender que somos "os filhos e as filhas da Aliança". Devemos cair em conta do presente que nós é oferecido a cada dia.

Alguns países estão orgulhosos das suas alianças com os poderosos da terra. Alguns personagens da sociedade, estão orgulhoso das alianças com o dinheiro, com o sexo e com o poder. Nós confiamos no Senhor. Com Ele nossa Aliança é inigualável. Nosso Aliado é sempre fiel, sempre nos protegerá, cuidará de nosso caminho. Nossa sorte está em suas mãos, nada temos que temer!

O ano da Eucaristia nos convida a renovar dia a dia, semana a semana, nossa aliança divina. De tal modo que cada Eucaristia estreite nossas relações cada vez mais. Cada "encontro" se torne fogo, incendeie... A aliança pode chegar ao inimaginável: o que os olhos nunca viram, nem o ouvido ouviu... É o que Deus Abbá tem reservado para os que o amam.

José Cristo Rey Garcia Parede

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